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XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
Universidade Federal de Alagoas
Maceió, 23 a 27 de maio de 2011
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E MERCADO CONSUMIDOR
Determinação da zona de conforto térmico de ovinos da raça Santa Inês1
Antônio Eustáquio Filho2, Sônia Martins Teodoro3, Rogério Mendes Murta2,5, Paulo Eduardo
Ferreira dos Santos2, Marcos Welber Ribeiro da Silva2,4, Sinvaldo Oliveira de Souza6, Marcelo
Ferreira Rocha7, Fábio Lino dos Santos7
1
Parte da Dissertação de Mestrado do Primeiro Autor, financiada pela FAPESB
Doutorando do Programa de Pós-graduação da UESB – Itapetinga-BA. e-mail: [email protected]
3
Professora do Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais – UESB – Itapetinga-BA
4
Zootecnista, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA – Itambé-BA
5
Professor do IFNMG – Campus Salinas-MG
6
Graduando do Curso de Zootecnia da UESB – Itapetinga-BA
7
Alunos do Curso Técnico em Agropecuária do IFNMG – Campus Salinas-MG
2
Resumo: Objetivou-se estabelecer a zona de conforto térmico para ovinos da raça Santa Inês por meio da
comparação de diversas opções de temperatura em câmara bioclimática. O experimento teve duração de
71 dias e foi conduzido no Centro de Estudos Bioclimáticos da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia. Foram utilizadas 7 borregas por tratamento. Os tratamentos foram às faixas de temperatura de 10,
15, 20, 25, 30, 35 e 40°C, considerou como repetição os três dias de exposição às faixas de temperaturas
e utilizou-se 5 dias de intervalo entre as faixas. O delineamento experimental foi o inteiramente
casualizado, no esquema de medidas repetidas. Os dados meteorológicos coletados foram: temperatura
de bulbo seco, temperatura de bulbo úmido e temperatura de globo negro e os parâmetros fisiológicos
analisados foram, freqüência respiratória, freqüência cardíaca e temperatura retal. Os testes utilizados
foram o de Benezra e o de Benezra modificado. Os registros do teste de adaptabilidade de Benezra,
coeficiente de adaptabilidade 1 e 2 nos mostra que os animais submetidos às temperaturas de 10, 15, 20 e
25°C mostraram altamente adaptados. De acordo os testes de adaptabilidade a faixa de temperatura que
melhor representa a zona de conforto térmico para ovinos é a de 25°C.
Palavras–chave: bioclimatologia, borregas, câmara climática
Determination of thermal comfort zone of Santa Inês sheep
Abstract: This study aimed to establish the thermal comfort zone for Santa Ines sheep through the
comparison of different options in temperature in climate chamber. The experiment lasted 71 days and
was conducted in Bioclimatic Studies Center at the State University of Southwest of Bahia. 7 lambs were
used per treatment. The treatments at temperature ranges of 10, 15, 20, 25, 30, 35 and 40°C, considered
as repeating the three days of exposure to temperature ranges and used a 5-day interval between
tracks. The experimental design was completely randomized in the scheme of repeated
measurements. Meteorological data collected were: dry bulb temperature, wet bulb temperature and
black globe temperature and physiological parameters were analyzed, respiratory rate, heart rate and
rectal temperature. The tests used were of the Benezra Benezra and modified. Records test of adaptability
Benezra, coefficient of adaptability 1 and 2 shows that animals subjected to temperatures of 10, 15, 20
and 25°C showed highly adapted. According adaptability tests the temperature range that best represents
the thermal comfort zone for sheep is 25°C.
Keywords: bioclimatology, climatic chamber, lambs
Introdução
O Brasil possui a grande maioria de seu território, cerca de dois terços, situada na faixa tropical.
Nessa região do planeta, a temperatura média do ar situa-se em geral acima dos 20°C, sendo que a
temperatura máxima, nas horas mais quentes do dia, apresenta-se acima de 30°C por grande parte do ano,
muitas vezes atingindo a faixa entre 35 e 38°C. Em climas tropicais e subtropicais, os valores de
temperatura e umidade relativa do ar são restritivos ao desenvolvimento, à produção e à reprodução dos
animais.
A adaptabilidade do animal pode ser medida ou avaliada pela habilidade que tem de se ajustar às
condições ambientais adversas, com mínima perda no desempenho e conservando alta taxa reprodutiva,
resistência às doenças e baixo índice de mortalidade.
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Maceió, 23 a 27 de maio de 2011
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E MERCADO CONSUMIDOR
Considerando que a atividade pecuária é de custo elevado, o setor produtivo deve buscar
alternativas de menor custo, como a construção e/ou adaptação das instalações zootecnicas para que
garantam o maior conforto dos animais e conseqüente aumento na produtividade, sendo necessário a
determinação da adaptabilidade dos pequenos ruminantes, oriundos de clima tropical, ao ambiente.
Portanto, objetiva-se determinar a zona de conforto térmico de borregas da raça Santa Inês em
câmara bioclimática.
Material e Métodos
O experimento com duração de 71 dias foi conduzido no Centro de Estudos Bioclimáticos
(CEBIO) da UESB – Campus Juvino Oliveira localizado no município de Itapetinga-BA.
Foram utilizadas 7 borregas deslanadas da raça Santa Inês, com peso inicial médio de 43,35 ± 4,9
kg, pelagem negra e idade média de 18 meses. Foi empregado um período pré-experimental de 15 dias a
fim de adaptar os animais as baias e dieta.
Os animais foram distribuídos aleatoriamente nos tratamentos, em esquema 7 x 7 (animais x
tratamento), com três repetições (dias de exposição) e cinco dias de intervalos entre cada tratamento, a
fim de eliminar possível efeito residual de tratamento. Os tratamentos em que os animais foram
submetidos são as faixas de temperaturas de 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40°C.
Para todos os tratamentos, adotou-se como metodologia a exposição contínua, a cada faixa de
temperatura, durante oito horas consecutivas diárias. Findo este intervalo de tempo a câmara climática
era ajustada para um ambiente preconizado como de conforto com temperatura de 25ºC e umidade
relativa de 65%, repetindo-se este manejo experimental durante três dias seguidos.
A umidade relativa do ar no ambiente climatizado foi fixada, para todos os tratamentos, em 65%,
com desvio médio de ± 8%. Os dados climáticos foram coletados de forma contínua, ao longo do período
experimental, com uso da Datalogger Campbell Scientific Inc. CR23X, na câmara bioclimática.
Os animais foram alocados nos dias de coletas experimentais, no interior da câmara climática, em
baias individuais. O manejo experimental consistia na entrada dos animais, dentro da câmara climática na
tarde anterior ao início de cada tratamento. No início da manhã de cada dia experimental a câmara
climática era ajustada para a faixa ambiental desejada. Entre cada tratamento, durante cinco dias, os
animais foram mantidos sob temperatura ambiente, em baia coletiva.
Os animais foram alimentados com Capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.), cortado e
picado diariamente, ajustado para 10% de sobras e concentrado na proporção de 1% do peso vivo.
Os parâmetros fisiológicos analisados foram: freqüência respiratória (FR), freqüência cardíaca
(FC) e temperatura retal (TR). A freqüência respiratória foi realizada pela observação dos movimentos
laterais do flanco, com auxilio do estetoscópio, durante 15 segundos e multiplicada por quatro para
cálculo da FR/min. A freqüência cardíaca foi realizada com auxílio de estetoscópio onde se contou o
número de batimentos cardíacos em 15 segundos e multiplicando-se o mesmo por quatro para cálculo da
FC/min. A temperatura retal foi mensurada mediante termômetro clínico digital humano.
Diariamente antes do início da exposição a cada tratamento eram coletadas as respostas
fisiológicas de cada animal, após esse procedimento o ambiente térmico era ajustado para o tratamento
programado.
As variáveis, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e temperatura retal foram analisadas
individualmente nos horários de: 06:00 às 07:00 (medida de referência tomada no ambiente térmico de
25ºC e 65% de UR), 09 às 10:00, 13:00 às 14:00 e de 16:00 às 17:00 horas, durante três dias
consecutivos.
Foram calculados os testes de Benezra, e Benezra modificado, acrescentando-se a freqüência
cardíaca. Para realização dos testes foi utilizado como referência o valor médio de temperatura retal de
38,1°C ± 0,2 obtida na coleta 1 deste experimento.
O coeficiente de adaptabilidade 1 (CA1) e coeficiente de adaptabilidade 2 (CA2) foram obtidos
utilizando as seguintes fórmulas, CA1 = TR/38,99 + FR/19 e CA2 = TR/38,99 + FR/19 + FC/75. Onde:
CA1 = Coeficiente de adaptabilidade 1; CA2 = Coeficiente de adaptabilidade 2; TR = Temperatura retal
observada, em °C; FR = Freqüência respiratória observada, em movimentos por minuto; 38,99 =
Temperatura retal média, considerada normal para ovinos; 19 = Freqüência respiratória média,
considerada normal para ovinos; FC = Freqüência cardíaca observada, em batimentos por minuto e 75 =
Freqüência cardíaca média, considerada normal para ovinos.
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O resultado obtido foi comparado com o padrão 2, considerado normal, que é observado quando
os parâmetros fisiológicos não se alteram em relação ao padrão. Portanto, quanto mais próximo do
padrão 2, mais adaptado o animal (ou raça) ao calor (MULLER, 1982).
Resultados e Discussão
Os registros do teste de adaptabilidade de Benezra, sendo o coeficiente de adaptabilidade 1 (CA1)
que analisa as mudanças na temperatura retal e na freqüência respiratória dos animais e o coeficiente de
adaptabilidade 2 (CA2) que analisa conjuntamente, mudanças na temperatura retal, freqüências
respiratória e cardíaca, estão descritos na Tabela 1.
O CA1 dos animais submetidos às temperaturas de 10, 15, 20 e 25°C mostraram altamente
adaptados, pois apresentaram CA1 igual ou bem próximos do valor padrão 2, sendo os animais dos
tratamentos de 30, 35 e 40°C, em ordem crescente, os menos adaptados. Entretanto, para o CA2, os
tratamentos em que os animais apresentaram maior adaptação em câmara bioclimática foram
seqüencialmente; 25, 20, 15, 10, 30, 35 e 40°C, demonstrando que a ação estressante de baixas
temperaturas e que a análise conjunta das diversas reações fisiológicas retrata melhor a sensibilidade dos
animais ao ambiente térmico.
Rocha et al. (2009) citaram em seu trabalho que o CA1 para caprinos da raça Azul foi de 3,06 ±
1,12, enquanto que para os caprinos da raça Saanen foi de 5,49 ± 1,51, relatando maior adaptação ao
clima quente para os caprinos da raça Azul. Quanto ao CA2, não se verificou alteração do resultado final,
confirmando a maior adaptabilidade do grupo racial Azul às condições em que o teste foi realizado.
Martins Junior et al. (2007) realizaram o teste de Benezra em caprinos das raças Boer e AngloNubiana, e encontraram valores de 2,49 e 3,03, respectivamente, relatando a maior rusticidade da raça
Boer em relação a Anglo-Nubiana.
Entretanto, os trabalhos com ovinos deslanados utilizando o teste de Benezra, ainda são
incipientes, necessitando de mais pesquisas para ratificar sua acurácia.
Tabela 1 Valores do teste de Benezra para o coeficiente de adaptabilidade 1 (CA1) e coeficiente de
adaptabilidade 2 (CA2) em câmara bioclimática.
Tratamentos
10°C
15°C
20°C
25°C
30°C
35°C
40°C
CA1
2,0
2,1
2,1
2,1
2,5
5,7
10,1
CA2
3,5
3,4
3,3
3,2
3,7
6,8
11,2
Conclusões
Segundo o teste de Benezra, o coeficiente de adaptabilidade 1 e 2 mostrou que às temperaturas de
10, 15, 20 e 25°C são adequados para criação de borregas da raça Santa Inês. Portanto, a zona de
conforto térmico para ovinos da raça Santa Inês é a de 25°C.
Literatura citada
MARTINS JÚNIOR, L.M.; COSTA, A.P.R.; AZEVEDO, D.M.M.R.; TURCO, S.H.N.; Adaptabilidade
de caprinos Boer e Anglo-Nubiana às condições climáticas do meio-norte do Brasil. Arch. Zootec.,
v.56, n.214, p.103-113, 2007.
MÜLLER, P.B. Bioclimatogia aplicada aos animais domésticos. 2.ed. Porto Alegre: Sulina, 1982.
157p.
ROCHA, R. R. C.; COSTA, A.P.R.; AZEVEDO, D.M.M.R. Adaptabilidade climática de caprinos
Saanen e Azul no Meio-Norte do Brasil. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.61, n.5, p.1165-1172,
2009.
3
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