16 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 COMÉRCIO DE ANTIDEPRESSIVOS POR FARMÁCIAS MAGISTRAIS COMMERCE OF FOR ANTIDEPRESSANTS COMPOUNDING PHARMACIES GAIGHER, Nayara Lu Fontanella1; DUARTE, Letícia²; ARFUX, Cláudia² Resumo A presente pesquisa objetivou verificar o levantamento de dados acerca da venda de antidepressivos em duas farmácias magistrais na cidade de Dourados/MS, através dos registros informatizados da farmácia, sendo observados os princípios ativos mais vendidos, as dosagens dos medicamentos, quais as formas de apresentação mais utilizadas, a concordância das dosagens dos medicamentos manipulados com aqueles industrializados. Foram avaliados 645 registros informatizados de antidepressivos. Foi verificada a prevalência de fluoxetina nas fórmulas, seguidos de bupropiona, citalopram, amitriptilina, paroxetina, entre outros. Os benzodiazepínicos (alprazolan, lorazepan, clonazepan e bromazepan) foram encontrados em 52 registros, risperidona em 13, flufenazina em 6, e flunarizina em 7 registros. Os resultados obtidos demonstram que cloridrato de fluoxetina é o antidepressivo mais manipulado, e também nota-se o grande número de associações entre as substâncias. Nota-se que os medicamentos antidepressivos manipulados não encontram similares entre os medicamentos industrializados, com relação à associação entre as substâncias, e ao preço praticado pelas farmácias magistrais, que são mais baixos se comparados aos medicamentos de referência encontrados no mercado, onde as formulações apresentam maiores ou menores quantidades de princípio ativo, diferentes dos comercializados pelas indústrias, o que confirmaria a procura, pelas farmácias de manipulação, por pessoas que necessitam de formulações diferentes daquelas que já existem no mercado. Palavras-chave: antidepressivos, farmácias magistrais, manipulação. Abstract This study aimed to verify the survey data on the sales of antidepressants in two pharmacies in the town of Golden / MS, through the study of computerized files, observed the active bestseller, the drug doses, which most used forms of presentation, the correlation of dosages of drugs handled with industrialized ones. We evaluated 645 compiled registers antidepressants. We verified the prevalence of fluoxetine in the formulas, followed bupropion, citalopram, amitriptyline, paroxetine, sertraline, among others. Benzodiazepines (alprazolan, lorazepam, clonazepam and bromazepan) were found in 52 registers, gabapentin in 12, 13 risperidone, fluphenazine on 6, 7 and flunarizine in handling orders. The results demonstrate that the antidepressant fluoxetine is more manipulated, and also notes the large number of associations between substances. Note that antidepressant medications are not handled similar between manufactured drugs, with respect to the association between the substances, and the price charged by pharmacies, which are lower when compared to reference drugs found in the market, where the formulations exhibit larger or smaller amounts of active ingredient, marketed by the different industries, which confirmed the demand, by compounding pharmacies, for people who require different formulations of those that already exist in the market. Keywords: antidepressants, pharmacies, manipulation. 1 Discente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande dourados, Dourados/MS. [email protected] ² Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados/MS. [email protected] ²Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados/MS. [email protected] GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia 17 Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 industrializados, podendo ser de referência, similares ou genéricos. Introdução Atualmente nota-se um incremento no consumo de antidepressivos no mundo e também no Brasil, impulsionados pelas doenças da modernidade, como a depressão. Entretanto, verifica-se que esses medicamentos, além da sua aplicação em quadros de depressão, também são utilizados para amenizar ou tratar diversas formas de desconfortos emocionais, podendo atuar numa gama de prescrições irracionais, entre eles o emagrecimento (GOULART, 2006). Diante dessa característica e de acordo com a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Marisa Helena César Coral, tem sido cada vez maior o número de pacientes atendidos com problemas por causa do uso indevido de formulações. Na maior parte das vezes, os medicamentos emagrecedores, misturam antidepressivos, diuréticos e hormônios da tireóide. Tendo como resultado dessa salada de princípios ativos complicações no coração, na tireóide e no sistema nervoso (AGÊNCIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2005). Diante do exposto, o presente estudo justiça-se ao verificar o levantamento de dados acerca da venda de antidepressivos na cidade de Dourados/MS, através da pesquisa em registros informatizados de duas farmácias magistrais do município de dourados/MS, sendo que nestes arquivos só é possível a visualização do principio ativo e da dosagem, não tendo acesso as informações referentes ao paciente, como nome, endereço, ou quaisquer dados pessoais, desta maneira, a pesquisa não precisou ser enviada à Comissão de Ética em Pesquisa (CEP). Os estudos dos arquivos possibilitaram observar os princípios ativos mais vendidos, as dosagens dos medicamentos, quais as formas de apresentação mais utilizadas, a concordância das dosagens dos medicamentos manipulados com aqueles industrializados e ainda realizar comparação de preços entre os medicamentos manipulados e os Depressão e Antidepressivos A depressão constitui um dos mais comuns distúrbios afetivos, definidos como distúrbios do humor, podendo variar sua gravidade. Em todo o mundo é considerada grande causa de incapacidade e morte prematura. Seus sintomas se dividem em emocionais (infelicidade, apatia, pessimismo, baixa auto-estima, sentimento de culpa, inadequação e sentimento de feiúra, indecisão, perda d motivação) e biológicos (retardo do pensamento da ação, perda de libido, distúrbio do sono e perda de apetite). Seu tratamento pode ser realizado por tipos de fármacos antidepressivos (RANG et al., 2007). As classes de antidepressivos, mais comumente comercializados estão os chamados de inibidores de captação de serotonina, por serem mais seguros e mais bem tolerados. Tendo a fluoxetina como seu representante mais ilustre, sendo atualmente o medicamento antidepressivo mais prescrito no Brasil e no mundo, havendo indícios de que possa atuar na promoção de perda de peso durante vários meses após o início da terapia (RANG et al., 2007). Esta característica poderia constituir um dos fatores que impulsionaram o consumo elevado. Estudos de Maggioni et al. (2008) apesar de não demonstrarem para que tipos de problemas foram prescritos, demonstraram que na amostra estudada, foi encontrada uma média de consumo de antidepressivos de 9,13%, que quando comparados com outros estudos, sugerem um consumo abusivo destes medicamentos. Este tipo de achado sugere a possiblidade deste fenômeno estar ocorrendo em outras localidades, o que é preocupante com relação ao uso irracional de medicamentos. Peixoto (2008) coloca que em resposta ao aumento da obesidade na população em geral, certos tratamentos farmacológicos vêm se tornando cada vez GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 mais comuns, entre eles, a fluoxetina e a sertralina (antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina - ISRS), sendo essas drogas citadas pelo Consenso Latino Americano de Obesidade e pelo Consenso Brasileiro de Diabetes, como substâncias que intervém de maneira coadjuvante ao tratamento da obesidade. Farmácias Magistrais As farmácias magistrais ou farmácias de manipulação se apresentam como possibilidade de manipulação de formulações de medicamentos criadas pelo próprio medico para cada paciente. Seriam fórmulas individualizadas que supostamente atenderiam as necessidades de saúde de cada paciente. Porém diante desta possibilidade podem ocorrem misturas de medicamentos como os citados anteriormente, banalizando o uso de antidepressivos (CARLINI et al., 2009). São vários os motivos e preocupações que levam os usuários a procurar as farmácias magistrais entre elas: não poder utilizar medicamentos especializados (pacientes alérgicos a componentes como os corantes, ou sensibilidades ao veículo), em casos onde a dosagem adequada não está disponível na forma especializada do medicamento, nos casos de crianças e pessoas idosas que geralmente necessitam de uma dosagem menor que a de um adulto concomitante com a não existência deste medicamento na forma especializada, pessoas nas faixas etárias que têm dificuldade para engolir comprimidos ou cápsulas, crianças que se recusam a engolir medicação, mesmo na forma líquida, se o gosto for ruim, o farmacêutico magistral pode preparar o medicamento com um sabor que seja atrativo como: chocolate, framboesa, cereja entre outros (OKUYAMA; MORO, 2010). Mesmo com a existência de inúmeros medicamentos especializados e oficinais, são frequentes as invenções de fórmulas por estabelecimentos de manipulação, ou advindas da prescrição, às 18 vezes até com a utilização de substâncias cuja composição é mantida em segredo. Tais medicamentos muitas vezes são na verdade associações de princípios ativos sem racionalidade e de elevado risco, como por exemplo, as chamadas fórmulas emagrecedoras, contendo uma combinação variável de substâncias, como: hormônios tireoidianos, laxantes, diuréticos e anfetaminas, entre outros, enquadradas como de controle especial em nossa legislação, por suas propriedades psicoativas (AGÊNCIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2005). Materiais e Métodos A pesquisa quantitativa de estudo longitudinal possibilitou a quantificação das medicações manipuladas em duas farmácias magistrais do município de Dourados/MS. Ambas localizadas na área central da cidade. Os dados foram recolhidos através de banco de dados da referida farmácia, onde foram verificados registros informatizados, em base de dados no computador do escritório da referida farmácia, em ambiente reservado, após autorização do proprietário da mesma, foram pesquisados, 645 arquivos referentes ao mês de julho de 2012, não sendo possível a visualização de informações referentes ao paciente, ou seja, nenhum dado pessoal como nome, endereço, ou outro. Desta maneira, a pesquisa não precisou ser enviada ao CEP, não sendo colhidos ou verificados dados pessoais, que pudessem identificar os clientes que solicitaram as medicações ou os médicos solicitantes. Os dados foram analisados por porcentagem, e expostos em forma de gráficos. Para maior agilidade na observação deste trabalho os princípios ativos como cloridrato de fluoxetina, cloridrato de sertralina, serão tratados apenas pelo último nome, ou seja, fluoxetina, sertralina, paroxetina entre outros. Resultados e Discussão GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 Foram avaliados 645 registros, onde se observou a presença de medicamentos antidepressivos, sendo 214 na primeira farmácia e 431 na segunda. Foram encontradas 25 substâncias diferentes, apresentadas isoladas na fórmula ou em associação entre 1, 2, 3 ou 4 substâncias na mesma formulação. Um número de 184 registros trazia cloridrato de fluoxetina como componente da fórmula, sendo manipulada isolada ou em associação com 1 outro componente, ou em fórmula associada a outras três substâncias (Bupropiona / Naltrexona / Topiramato) em diversas concentrações. A fluoxetina foi a substância mais encontrada nos registros, seguida de bupropiona (103), citalopram (97), amitriptilina (80), paroxetina (74), sertralina (72), entre outros. Os benzodiazepínicos (alprazolan, lorazepan, clonazepan e bromazepan) foram encontrados em 52 registros, gabapentina em 12, risperidona em 13, flufenazina em 6, e flunarizina em 7 registros. A Figura 1 demonstra as substâncias mais encontradas nos registros, de antidepressivos, expressas em porcentagem do total de registros estudados. Nota-se que a fluoxetina apareceu em 28,52% dos registros, dados como este também foram observados por Campigotto et al. (2008), em seu estudo sobre risco de interações entre fármacos antidepressivos e associados prescritos a pacientes adultos. O estudo verificou que de um total de 48 fármacos antidepressivos prescritos, o mais freqüente foi a fluoxetina (n = 11), constituindo 22,9%. Os estudos de Istilli et al. (2010) também observaram a fluoxetina como o medicamento antidepressivo mais utilizado, porém foi estudado uma população específica, entre estudantes de enfermagem. Andrade et al. (2004) em seu estudo sobre prescrição e dispensação das substâncias de controle especial, segundo a lista C1 da Portaria n.º 344/98 – SVS/MS em farmácias de manipulação, em Ribeirão Preto/SP, nota-se também evidenciou uma prevalência da fluoxetina nas prescrições, 19 constituindo 68,8% das substâncias da Lista C1, seguidos por prescrições de amitriptilina (12,5%), paroxetina (4%), sertralina (3,6%) e nortriptilina (3,1%). Kit et al. (2012) estudou a prescrição de várias classes de medicamentos em obesos, com sobrepeso e peso normal, evidenciando que muitos desses usam classes de medicamentos como os antihipertensivos. Assim nota-se a importância de pesquisas na área já que muitas classes de antidepressivos podem apresentar interações medicamentosas perigosas com estas classes de medicamentos. Estudos como o de Scolaro e Mella (2007) demonstra o uso de antidepressivos por estudantes de ensino superior, dos 104 indivíduos estudados, 8,65% relataram uso de algum medicamento antidepressivo, sendo 77,78% do sexo feminino, todas relataram usar Inibidor Seletivo da Recaptação de Serotonina (ISRS), sendo que 66,67% (6) utilizam Fluoxetina, 22,22% Paroxetina e 11,11% Citalopram. Segundo Rang et al. (2007) os medicamentos antidepressivos utilizados no tratamento desse distúrbio estão divididos nas seguintes categorias: inibidores nãoseletivos (noradrenalina / serotonina) da captação, estes incluem os antidepressivos tricíclicos (por exemplo: imipramina, amitriptilina) e antidepressivos mais recentes (venlafaxina e a duloxetina); inibidores seletivos da recaptura da serotonina (IRCs) (por exemplo: fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina); inibidores seletivos da captação da noradrenalina (norepinefrina) (por exemplo: maprotilina e reboxetina). Rang et al (2007) cita que dentre as categorias de antidepressivos a mais comercializada, é a de inibidores seletivos da captura de serotonina, sendo a fluoxetina seu representante mais ilustre. É o grupo de antidepressivos mais comumente prescritos (RANG et al., 2007). Possuem menor probabilidade de causar efeitos colaterais anticolinérgicos e são menos perigosos na super-dosagem. GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 20 Fluoxetina 28,52% Bupropiona 15,96% Citalopram 15,03% Sertralina 12,71% Paroxetina 11,62% Amitriptilina 11,16% Naltrexona 8,37% Nortriptilina 4,96% Topiramato 3,72% Trazodona 2,79% Mirtazapina 2,17% Doxepina 1,70% Clomipramina 1,39% Venlafaxin 1,39% Escitalopam 1,24% Imipramina 0,93% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% Figura 1 – Substâncias encontradas nos registros informatizados Além do tratamento isolado da depressão, agentes farmacológicos de ação central com mecanismo serotoninérgico como a fenfluramina e dexfenfluramina, e agentes antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina, como a fluoxetina, a sertralina e a fluvoxamina levam ao aumento da saciedade. A fluoxetina e a sertralina são úteis em pacientes obesos com humor depressivo, no tratamento de pacientes com síndrome do comer compulsivo e em pacientes com bulimia nervosa (MORENO et al., 1999). Os antidepressivos, como a imipramina, amitriptilina, venlafaxina, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, maprotilina fazem parte da Lista C, de medicamentos sujeitos a Receita de Controle Especial em duas vias, a prescrição tem validade por 30 dias e a quantidade máxima de medicamento por receita deve corresponder a 60 dias de tratamento (AGÊNCIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2007). Cole (2009) afirma através de informações de outros estudos que a GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 fluoxetina e a sertralina podem ser úteis em pacientes com obesidade que apresentam humor depressivo, também no tratamento de pacientes com síndrome compulsiva de comer e em pacientes com bulimia nervosa. Já a sibutramina, que é um agente serotoninérgico e noradrenérgico, têm sua importância no tratamento da obesidade por agir na inibição da recaptação de noradrenalina e serotonina, que leva a redução de peso por diminuição da ingestão de alimentos (aumento da saciedade) e por aumento da atividade termogênica. A utilização destes fármacos para tratamento de obesidade se generalizou, passando, principalmente, a fluoxetina a ser utilizado juntamente com outras formulações no tratamento da obesidade. Devido a essas aplicações é que a fluoxetina figura como um dos antidepressivos mais vendidos no mundo. Porém alguns estudos como o de Dickerson e Carek (2000) não evidenciou perda de peso em pessoas que utilizaram fluoxetina quando comparadas ao placebo, em tratamentos inferiores a 12 semanas, porém demonstrou uma variação maior de perda de peso em tratamentos superior a 20 semanas. Apesar das pesquisas verificarem certa eficácia da utilização da fluoxetina nos tratamentos de obesidade, Epling (2003) salienta que nos Estados Unidos a substância não é aprovada pela FDA (Food and Drug Administration) para estes fins. Os tratamentos medicamentosos para obesidade muitas vezes tem efeitos satisfatórios, porém quando suspensos, a obesidade aparece novamente, devido a reincidência de obesidade nos tratamentos de perda de peso, Goldstein et al. (1993) estudou o tratamento com fluoxetina 60mg/dia, evidenciando que a fluoxetina foi efetiva por longo período na perda de peso, se mostrando segura e bem tolerada. Em 24 registros verificou-se a associação de 4 tipos de substâncias antidepressivos, Fluoxetina / Bupropiona / Naltrexona / Topiramato, em diferentes miligramas. Também foram observadas associações entre Bupropiona / Naltrexona 21 em 30 fórmulas, entre várias substâncias em diferentes dosagens, fluoxetina / bupropiona, fluoxetina / amitriptilina, sertralina / trazodona, entre outras. Sobre a associação entre Bupropiona e Naltrexona, o estudo de Greenway (2010) com 1742 pacientes adultos, para perda de peso nos casos de sobrepeso e obesidade, demonstrou que a combinação das duas drogas de maneira sustentada, pode ser uma opção terapêutica útil para o tratamento da obesidade. A interação entre diferentes classes de medicamentos oferece risco à saúde, e sobremaneira nos obesos, já que podem estar associadas condições como hipertensão, diabetes e ainda outras. Ou ainda o individuo obeso fazer uso de outros medicamentos, o que potencializa ainda mais a problemática do uso de antidepressivos para perda de peso nesta população, Mancini (2011) critica a proibição de alguns medicamentos como a sibutramina, e coloca que outras medicações possuem interações medicamentosas bem mais perigosas, entre elas a bupropiona que pode elevar a frequência cardíaca e a pressão arterial, especialmente quando associada a sistemas de nicotina transdérmicos, que é uma prática bastante comum. Mancini (2011) continua expondo que a semelhança de mecanismo de ação entre a sibutramina e a venlafaxina (outro antidepressivo) é notável (ambas aumentam a recaptação de serotonina e noradrenalina), e a venlafaxina também pode aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial. Estas, no entanto, são vendidas com simples retenção de receita especial. Porém para Halpern (2010), fica óbvia a possibilidade de associação de medicamentos no tratamento de obesidade, ele acredita que essa possibilidade de associação entre as substâncias, “é um passo a mais a ser dado e a ser aceito pela comunidade no tratamento desta doença tão complexa que é a obesidade”, e antes de falarmos sobre associação de medicamentos antiobesidade, devemos lembrar-nos dos GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 medicamentos atualmente disponíveis no mercado e que podem ajudar a tratar o paciente obeso, que não apresentam indicação constante na bula, mas que podem eventualmente ser utilizados, entre elas a fluoxetina e sertralina, bupropiona, topiramato, naltrexona (útil apenas quando associada). Halpern (2010) se refere às associações, respaldando-se em ensaios clínicos bem conduzidos, como o da bupropiona de ação prolongada e Naltrexona. Para o autor esta associação baseia-se no fato de que a bupropiona estimula a proopiomelanocortina (POMC), que é cindida em MSH (um potente anorético) e em β endorfina, que por sua vez auto-inibe a secreção do POMC. A adição de naltrexona à formula inibe esta inibição, permitindo que mais POMC esteja presente no hipotálamo. Esta associação, que recebeu o nome de Contrave, apresenta boa eficácia, um perfil de segurança bem aceitável (GREENWAY et al., 2010) e aguarda decisão do FDA para ser aprovada nos Estados Unidos. Estas associações entre medicamentos são utilizadas para tratamento de depressões refratárias. A mirtazapina, de acordo com as observações em outros estudos por Souza (2012), foi considerada como o único antidepressivo com demonstração controlada de seu uso em combinação, exerce ação antidepressiva por meio do bloqueio de receptores alfa2 adrenérgicos pré-sinápticos, tanto em neurônios noradrenérgicos quanto serotoninérgicos e também bloqueia receptores pós-sinápticos 5-HT2A (responsáveis pela insônia e disfunção sexual) e 5-HT3 (responsável pela náusea) quando estimulados pelo aumento da serotonina na fenda sináptica. Souza (2012) através da observação de outros estudos confirmou essa indicação, afirmando que essa molécula é muito interessante para a combinação com inibidores de recaptura, pois pode aumentar a resposta antidepressiva tanto da inibição de recaptura de serotonina quanto da 22 inibição de recaptura de noradrenalina, potencializando ainda a inervação recíproca serotoninérgica / noradrenérgica. Afirmou também, que do ponto de vista de interações medicamentosas essa combinação é bastante segura. Dentro da mesma concepção, preconizou a combinação de venlafaxina e mirtazapina, batizada como “California Rocket Fuel” (Combustível de Foguetes da Califórnia), uma medida heróica para o tratamento de depressão refratária. Outros autores usaram a combinação de citalopram ou escitalopram e bupropiona-sr com resultados positivos nessas situações. Experiências positivas também foram constadas com outras combinações, entre as quais utilizando a sertralina e bupropiona ou venlafaxina e bupropiona (SOUZA, 2012). Com relação terapia combinada, que usa de uma combinação de duas drogas com mecanismos de ação distintos com o intuito de promoverem efeito sinérgico na redução do peso corporal, Faria (2010) inclui as associações de bupropiona / naltrexona, bupropiona / zonisamida, fentermina / topiramato e pramlintide / metreleptina. Nota-se que Faria (2010) se refere a terapia combinada como associação de duas substâncias, mas o que se nota é a possibilidade de associação de mais de duas substâncias. Soares (2010) explica essas associações, se referindo ao desenvolvimento da Psiquiatria e seu conseqüente refinamento diagnóstico, transformaram polifarmacoterapia não numa exceção, mas sim em regra no tratamento dos transtornos mentais, onde êxito no tratamento dos diversos transtornos, especialmente quando resistentes à abordagem com um único medicamento, também justificam a politerapia. Estudos como o de Greenway (2010) colocam que a associação de muitas substâncias é comum, na prática das farmácias de manipulação, porém podem ser prejudiciais a saúde se usadas indiscriminadamente. GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 Esta idéia foi reforçada por Peixoto et al. (2008) em seu estudo de revisão sobre o uso de antidepressivos na perda de peso de pessoas com depressão, em seu estudo concluiu-se que há poucos estudos randomizados, controlados, duplo-cegos e de poder suficiente que relacionem os efeitos das drogas antidepressivas com alterações no peso corporal em pessoas com depressão, e ainda que as alterações no peso corporal, em pacientes tratados com antidepressivos, possuem influência multifatorial, estando relacionadas à melhora da doença, aos efeitos colaterais da droga ou induzidas pela própria sintomatologia da doença. 23 Através da observação dos registros, nota-se que os medicamentos antidepressivos manipulados não encontram similares entre os medicamentos industrializados, com relação à associação entre as substâncias, e ao preço praticado pelas farmácias magistrais, que são mais baixos se comparados aos medicamentos de referência encontrados no mercado. Não existe necessidade de abranger a pesquisa de comparação de preços, para verificar que os medicamentos manipulados apresentam preços reduzidos se comparados aos demais, bastam a comparação de algumas substâncias para comprovação. Tabela 1 – Comparação entre preços de diferentes antidepressivos de referência, similares ou genéricos e medicamentos manipulados (orçada em uma farmácia de manipulação da cidade de Dourados/MS*) nas mesmas concentrações e com mesma quantidade de cápsulas. Nome Comercial/Laboratório/ Número de cápsulas Preço (R$) Concentração Fluxene (10mg)/Eurofarma 14 R$ 13,85 Fluxene (20mg)/Eurofarma 14 R$ 26,51 Fluoxetina (10mg)/Manipulada 14 R$ 09,90 Fluoxetina (20mg)/Manipulada 14 R$ 12,90 Bup (Bupropiona)/Eurofarma (150mg) 30 R$ 70,53 Bupropiona (150mg)/Manipulada 30 R$ 22,50 Citalopram (Genérico)/Eurofarma (20mg) 28 R$ 77,36 Citalopram (20mg)/Manipulada 28 R$ 27,40 Sertralin (Sertralina)/Neo Química (50mg) 28 R$ 72,15 Sertralina (50mg)/Manipulada 28 R$ 19,20 * O orçamento foi realizado no mês de setembro de 2012, e realizado por telefone. Ao analisar o quadro acima verificamos a grande diferença de preços entre os medicamentos de referência e as formulações, o que facilita a aquisição desses medicamentos, e uso prolongado. Não é possível comparar os preços de formulações com várias substâncias já que não existem similares no mercado, por exemplo, medicamentos com Bupropiona / Naltrexona / Topiramato, associados. Nota-se que as formulações apresentam maiores ou menores quantidades de princípio ativo, diferentes dos comercializados pelas indústrias, o que confirmaria a procura, pelas farmácias de manipulação, por pessoas que necessitam de formulações diferentes daquelas que já existem no mercado. Apesar do uso indiscriminado para tratamento da obesidade, nota-se também a crescente utilização de formulações em casos refratários de depressão, porém destaca imprecisão quando trata-se de casos mais complexos de tratamento (BUENO, 2011). Esta condição é devida a diversificada gama de problemas, além da falta de consensos nos tratamentos, estas duas condições favorecem a utilização das mais diversas formulações e associações. GAIGHER, Nayara Lu Fontanella; DUARTE, Letícia; ARFUX, Cláudia Interbio v.7 n.1 2013 - ISSN 1981-3775 24 para uso Humano em Farmácias. D.O.U. Brasília, DF, 2007. Conclusão Apesar das mobilizações das entidades de classe farmacêutica e ANVISA no sentido de educação voltada a esclarecimentos quando a automedicação, uso racional de medicamentos, proibição de manipulação e associação de substâncias que inibem apetite e antidepressivos, essas medidas em muito são ineficazes, já que o número de obesos é cada vez maior. Porém é sabido que muitas das formulações não são prescritas por psiquiatras, assim entende-se que possuem outras indicações, mesmo que clandestinas, entre elas o tratamento da obesidade, porém maiores estudos devem ser realizados para demonstrar os efeitos das associações entre 2,3 ou até mesmo quatro substâncias antidepressivas, como as encontradas no presente estudo, e suas aplicações. Ao buscar referências sobre essas associações notou-se escassez de estudos, mesmo internacionais, cabendo destacar além da responsabilidade do farmacêutico pela manipulação, também a responsabilidade do médico que realiza as prescrições, que deverá ter bastante critério nas indicações desse tipo de associação. O controle sobre esse tipo de medicação deverá ser bem mais criterioso, já que se sabe que estas formulações muitas vezes deixam de serem empregadas nos casos de depressão e são destinadas ao tratamento da obesidade. Além dos fatores já mencionados, existe também a facilidade de compra desses medicamentos antidepressivos nas farmácias de manipulação já que os valores são bem mais acessíveis, quando comparados aos medicamentos de referência. Referências Bibliográficas AGÊNCIA DE VIGILÂNCIA Boletim informativo ANVISA: segura. n. 56, 2005. SANITÁRIA. manipulação AGÊNCIA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. RDC no. 67, de 08 de outubro de 2007. 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