Caso Clínico Osteotomia unilateral da maxila: técnicas e relato de casos clínicos Pedro Luis Scattaregi*, Mariana dos Santos Fernandes-Lopes*, Alex Casati Lopes**, Mario Cappellette***, Danilo Furquim Siqueira**** RESUMO A correção da relação transversal é uma das prioridades dentro da Ortodontia. Uma das causas da deficiência transversal é a atresia maxilar, que pode ou não estar acompanhada de uma mordida cruzada posterior. Possui etiologia multifatorial e deve ser diagnosticada e tratada em estágios precoces. Após a completa maturidade esquelética, a expansão rápida da maxila assistida cirurgicamente (ERMAC) constitui uma boa opção para a correção de mordidas cruzadas unilaterais e bilaterais em pacientes adultos. Desse modo, o presente estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura da ERMAC para a correção da atresia maxilar unilateral e apresentar dois casos clínicos para ilustrar o recurso. PALAVRAS-CHAVE: Expansão maxilar. Cirurgia maxilofacial. Mordida cruzada. * ** *** **** 38 Mestrando do programa de pós-graduação – área de concentração Ortodontia – da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial pela FAMOSP - ABO – ABC. Professor do Sindicato dos Odontologistas do Estado de São Paulo (SOESP) e Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial - ABO/SP. Doutor em Ortodontia pela FOB-USP. Professor do programa de pós-graduação em Odontologia (Mestrado) - área de concentração em Ortodontia – da UMESP. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 Pedro Luis Scattaregi, Mariana dos Santos Fernandes-Lopes, Alex Casati Lopes, Mario Cappellette, Danilo Furquim Siqueira INTRODUÇÃO A atresia maxilar é uma alteração do crescimento no sentido transversal que gera modificações funcionais e oclusais e pode comprometer a harmonia e a estética facial13,22,28,29,30. Tem como causa fatores de desenvolvimento, congênitos, traumáticos e iatrogênicos5, além de genéticos e ambientais8. Os mais comuns são a obstrução das vias aéreas superiores (respiração bucal); os hábitos de sucção de lábios, chupeta ou dedo; interposição de língua e deglutição atípica17,20,30. Como conseqüência, pode acarretar formato ogival da abóbada palatina e apresentar mordidas cruzadas posteriores unilaterais ou bilaterais, esqueléticas ou dentárias ou combinações entre os tipos16. A deficiência transversal da maxila pode estar associada às discrepâncias esqueléticas sagitais e verticais. Quando acompanhadas de discrepâncias ântero-posteriores, ou seja, nos casos de Classe II e III de Angle, a atresia maxilar pode não se mostrar evidente e um diagnóstico diferencial deve ser realizado, com a manipulação dos modelos de gesso. Esse diagnóstico diferencial indica se a atresia maxilar é real ou relativa10,18. Do ponto de vista terapêutico, é muito importante diferenciar a mordida cruzada posterior unilateral verdadeira da mordida cruzada posterior unilateral funcional, uma vez que envolve terapias diferentes. A mordida cruzada unilateral verdadeira exige uma expansão unilateral do arco dentário superior, enquanto a mordida cruzada funcional exige a expansão simétrica (bilateral). Cerca de 90% das mordidas cruzadas posteriores em crianças podem ser atribuídas às interferências cuspídeas na área dos caninos29, ou seja, são funcionais. Com o propósito de normalizar a deficiência transversal da maxila, a expansão rápida da maxila (ERM), descrita por Angell2, em 1860, é um recurso clínico incorporado integralmente na mecânica ortodôntica moderna, independentemente da técnica empregada. A prova disso está no grande número de aparelhos divulgados na literatura e na diversidade de tamanhos e desenhos dos parafusos para expansão encontrada no mercado7,11,14,20. A ERM atua ortopedicamente, resolvendo a deficiência transversal da maxila e favorecendo, em alguns casos, a mecânica ortodôntica sem extrações12,28. Quando há maturidade esquelética, é necessário o auxílio cirúrgico para diminuir as áreas de resistência à expansão5,9,13,19,21,24,26,27. As três áreas principais de resistência na face são as nasomaxilar, pterigomaxilar e zigomático-maxilar5. O primeiro a descrever uma expansão rápida da maxila assistida cirurgicamente (ERMAC) foi Brown9, em 1938. Nessa época, o autor imaginava que, separando a sutura palatina mediana, ele estaria ajudando na mecânica de expansão da maxila. Essa técnica ganhou destaque no final do século passado, com a evolução da cirurgia ortognática e o interesse estético dos pacientes adultos pelo tratamento ortodôntico. Alguns tipos de osteotomias foram descritos na literatura1,3,4,15,23,26, com o objetivo de diminuir a resistência óssea. Desde osteotomias laterais da maxila mais conservadoras a extensões mais abrangentes até a abertura piriforme (anterior) e a região pterigomaxilar (posterior) e abertura da sutura palatina mediana. Devido ao fato da atresia maxilar unilateral apresentar uma baixa incidência e verificarmos poucos autores discorrendo sobre a cirurgia unilateral10,25, o presente estudo descreveu dois casos clínicos que ilustram o recurso terapêutico utilizado. CASO CLÍNICO 1 Paciente adulta proveniente da Clínica da Associação Brasileira de Odontologia – São Paulo, gênero feminino, com 22 anos de idade, que apresentava assimetria facial, padrão de crescimento horizontal e perfil facial convexo (Fig. 1). No exame intrabucal, pode-se observar uma má oclusão de Classe II, divisão 1, de Angle, trespasse horizontal aumentado, mordida cruzada unilateral direita, protrusão dos incisivos superiores e inferiores e não coincidência das linhas médias dentárias superior e inferior, sendo que esta última encontrava-se desviada para a direita (Fig. 2). A radiografia panorâmica mostra a presença de todos os dentes, com exceção dos terceiros molares inferiores direito e esquerdo e superior direito, e do terceiro molar superior esquerdo, que estava incluso (Fig. 3A). A radiografia cefalométrica lateral comprova a protrusão e vestibularização dos incisivos superiores e inferiores, além da retrusão mandibular e ligeira protrusão maxilar (Fig. 3B, Tab. 1). Em norma frontal, apresenta uma assimetria decorrente do cruzamento da mordida do lado direito, que também pode ser observada na radiografia oclusal (Fig. 4). Na análise dos modelos em norma lateral, fica claro o aumento do trespasse horizontal (Fig. 5). Em uma visão oclusal, nota-se a assimetria do arco superior, que apresenta diâmetros transversais reduzidos, quando comparado com o arco inferior (Fig. 6). Mediante a avaliação dos exames complementares, estabelecemos um plano de tratamento ortodôntico/cirúrgico em duas fases. A primeira fase foi a realização da expansão rápida da maxila assistida cirurgicamente e a segunda fase destinada à correção sagital cirúrgica. Para a realização da ERMAC, confeccionou-se o expansor maxilar tipo Hyrax, com o parafuso expansor (Dentaurum, Ispringen/ Alemanha) com capacidade para 13mm de expansão. Foram utilizados quatro dentes de ancoragem, sendo os dois primeiros molares e dois primeiros pré-molares. Os fios ortodônticos de 1,2mm de diâmetro fizeram as conexões entre as bandas nas superfícies vestibular e palatina. Utilizou-se solda de prata na união entre os Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 39 Osteotomia unilateral da maxila: técnicas e relato de casos clínicos FIGURA 1 - Fotografias extrabucais iniciais de perfil e frontal. FIGURA 2 - Fotografias intrabucais iniciais: direita, frontal e esquerda. TABELA 1 - Valores cefalométricos iniciais. A B FIGURA 3 - A) Radiografia panorâmica e B) telerradiografia lateral iniciais. 40 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 variável ideal paciente variável ideal paciente SNA 82º 85º 1.1 131º 126º SNB 80º 76º 1.NA 22º 30º ANB 2º 9º 1-NA 4mm 8mm NS.Gn 67º 65º 1.NB 25º 31º NS.GoMe 32º 28º 1-NB 4mm 6mm Pedro Luis Scattaregi, Mariana dos Santos Fernandes-Lopes, Alex Casati Lopes, Mario Cappellette, Danilo Furquim Siqueira FIGURA 4 - Telerradiografia frontal e radiografia oclusal superior iniciais. FIGURA 5 - Modelos iniciais: vistas lateral direita, frontal e lateral esquerda. FIGURA 6 - Vista oclusal dos modelos iniciais. fios e as bandas e entre as bandas e os parafusos. A instalação foi realizada uma semana antes da realização da cirurgia, após prévia separação com elástico, e com a utilização de cimento à base de ionômero de vidro (Fig. 7, 8). O procedimento cirúrgico caracterizou-se por utilizar anestesia local (6 tubetes de mepivacaína com vacoconstritor levonordefrina - 1:20.000) com sedação (Dormonid 20mg) uma hora antes da cirurgia. Duas pequenas incisões foram realizadas: uma anterior, na abertura piriforme, medialmente, e outra posterior, até o limite póstero-lateral do pilar zigomático-maxilar, unilateralmente. Com uma broca esférica, foi realizada uma osteotomia de maxila tipo Le Fort I5,22,27, caracterizada pela abordagem da sutura pterigopalatina associada à osteotomia sagital mediana da maxila (Fig. 9, 10) com irrigação contínua com solução salina, aspiração e proteção da mucosa. O dispositivo expansor foi então ativado, de forma que os maxilares fossem expandidos cerca de 1,5mm (6/4 volta), notandose, como sinal clínico, a presença do diastema interincisivos (Fig. 11, 12). Foi realizado o fechamento por planos das incisões com Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 41 Osteotomia unilateral da maxila: técnicas e relato de casos clínicos FIGURA 7 - Fotografias intrabucais após instalação do Hyrax: direita, frontal e esquerda. A FIGURA 8 - Disjuntor Hyrax – vista oclusal. FIGURA 9 - Osteotomia lateral da maxila. FIGURA 10 - Osteotomia da sutura palatina mediana. FIGURA 11 - Diastema interincisivos no primeiro pós-operatório. 42 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 B Pedro Luis Scattaregi, Mariana dos Santos Fernandes-Lopes, Alex Casati Lopes, Mario Cappellette, Danilo Furquim Siqueira FIGURA 12 - Vista oclusal do disjuntor Hyrax e do diastema interincisivos. pontos simples de Poly Vicryl 4-0 (Ethicon, São José dos Campos, Brasil). A prescrição pré e pós-operatória incluiu a administração de antibioticoterapia profilática, utilização de antiinflamatórios nãohormonais e analgesia com dipirona, quando necessário. Após 48h da cirurgia, o parafuso expansor foi ativado 1mm ao dia (4/4 volta) durante 10 dias, totalizando 11,5mm de expansão final (Fig. 13). Observou-se a presença de um grande diastema interincisivos, a correção da mordida cruzada unilateral direita e não demonstrou, clinicamente, alteração do lado não-operado, que funcionou como ancoragem. O expansor foi mantido por seis meses como contenção e neste período houve o fechamento do diastema interincisivos (Fig. 14). Após a remoção do expansor, FIGURA 13 - Diastema interincisivos após o término da ativação do disjuntor. A B C FIGURA 14 - Radiografia oclusal evidenciando a separação da sutura platina mediana e vista oclusal do disjuntor Hyrax usado como contenção durante 6 meses, com fechamento do diastema interincisivos. o tratamento ortodôntico prosseguiu com a montagem de braquetes Edgewise para a realização do alinhamento e nivelamento, visando o preparo ortodôntico para a futura correção cirúrgica da Classe II de Angle (Fig. 15). FIGURA 15 - Vista oclusal superior após a remoção do disjuntor Hyrax e início do nivelamento. CASO CLÍNICO 2 Paciente adulto proveniente da Clínica da Associação Brasileira de Odontologia – Regional ABC, gênero masculino, com 17 anos de idade, que apresentava assimetria facial, padrão de crescimento horizontal e perfil facial reto (Fig. 16). Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 43 Osteotomia unilateral da maxila: técnicas e relato de casos clínicos FIGURA 16 - Fotografias extrabucais iniciais de perfil e frontal. FIGURA 17 - Fotografias intrabucais iniciais: direita, frontal e esquerda. TABELA 2 - Valores cefalométricos iniciais. variável A B FIGURA 18 - A) Radiografia panorâmica e B) telerradiografia lateral iniciais. 44 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 ideal paciente variável ideal paciente SNA 82º 82º 1.1 131º 123º SNB 80º 81º 1.NA 22º 30º ANB 2º 1º 1-NA 4mm 7mm NS.Gn 67º 61º 1.NB 25º 26º NS.GoMe 32º 30º 1-NB 4mm 3,5mm Pedro Luis Scattaregi, Mariana dos Santos Fernandes-Lopes, Alex Casati Lopes, Mario Cappellette, Danilo Furquim Siqueira No exame intrabucal, pode-se observar uma má oclusão de Classe II, divisão 1, de Angle, subdivisão direita, trespasse horizontal normal, mordida cruzada unilateral direita, protrusão dos incisivos superiores e inferiores e não coincidência das linhas médias dentárias superior e inferior, sendo que esta última encontrava-se desviada para a direita (Fig. 17). A radiografia panorâmica mostra a presença de todos os dentes, inclusive dos terceiros molares superiores e inferiores direito e esquerdo, que estavam inclusos (Fig. 18A). A radiografia cefalométrica lateral comprova bom relacionamento entre as bases ósseas e uma protrusão e vestibularização dos incisivos superiores e inferiores (Fig. 18B, Tab. 2). Em norma frontal, apresenta uma assimetria decorrente do cruzamento da mordida do lado direito (Fig. 19). Na análise dos modelos, fica claro o bom trespasse horizontal e a má oclusão Classe II de Angle. Numa vista oclusal, nota-se a assimetria do arco superior, que apresenta diâmetros transversais reduzidos, quando comparado com o arco inferior (Fig. 20, 21). Mediante a avaliação dos exames complementares, estabelecemos um plano de tratamento ortodôntico/cirúrgico, com a expansão rápida da maxila assistida cirurgicamente unilateral direita e posterior alinhamento e nivelamento superior e inferior. Para a realização da expansão rápida da maxila, foi adotado o mesmo protocolo cirúrgico (Fig. 23, 24, 25) já descrito anteriormente no caso 1, diferindo apenas quanto à capacidade (11mm), marca do parafuso expansor (Leone Orthodontic Products, Sesto Fiorentino, Itália) (Fig. 22) e quantidade total de ativações do disjuntor Hyrax – que, nesse caso, foi de 10,5mm, sendo 1,5mm imediatamente após a cirurgia e 1mm ao dia (4/4 volta), durante 9 dias (Fig. 26, 27). Após a remoção do expansor, o tratamento ortodôntico prosseguiu com a instalação de braquetes da técnica Edgewise e foram realizados o alinhamento e o nivelamento, seguidos de mecânica de Classe II (elásticos intermaxilares e degraus distais), para a correção da Classe II do lado direito, arcos ideais para o ajuste dos torques, intercuspidação e contenção com placa de Hawley superior e 3 x 3 inferior para finalização do caso (Fig. 28-33, Tab. 3). FIGURA 19 - Telerradiografia frontal inicial. FIGURA 20 - Modelos iniciais: vistas lateral direita, frontal e lateral esquerda. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 45 Osteotomia unilateral da maxila: técnicas e relato de casos clínicos A B FIGURA 21 - Vistas oclusais dos modelos iniciais. A FIGURA 22 - Disjuntor Hyrax – vista oclusal. B FIGURA 23 - Incisões lateral e anterior da maxila. FIGURA 25 - Osteotomia da sutura palatina mediana. FIGURA 26 - Diastema interincisivos no primeiro pós-operatório. 46 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 FIGURA 24 - Osteotomia lateral da maxila. Pedro Luis Scattaregi, Mariana dos Santos Fernandes-Lopes, Alex Casati Lopes, Mario Cappellette, Danilo Furquim Siqueira FIGURA 27 - Vista oclusal do disjuntor Hyrax e radiografias periapicais que comprovam o diastema interincisivos após o término da ativação do disjuntor. FIGURA 28 - Fotografias extrabucais intermediárias de perfil e frontal. FIGURA 29 - Fotografias intrabucais após o nivelamento: direita, frontal e esquerda. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 47 Osteotomia unilateral da maxila: técnicas e relato de casos clínicos FIGURA 30 - Radiografia panorâmica - final de nivelamento. A B FIGURA 31 - Telerradiografia lateral e frontal - final de nivelamento. FIGURA 32 - Fotografias extrabucais de perfil, frontal e sorriso – término do tratamento. FIGURA 33 - Fotografias intrabucais ao término do tratamento: direita, frontal e esquerda. 48 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 Pedro Luis Scattaregi, Mariana dos Santos Fernandes-Lopes, Alex Casati Lopes, Mario Cappellette, Danilo Furquim Siqueira TABELA 3 - Cefalometria lateral intermediária. variável ideal paciente variável ideal paciente SNA 82º 81º 1.1 131º 118º SNB 80º 80º 1.NA 22º 33º ANB 2º 1º 1-NA 4mm 8mm NS.Gn 67º 63º 1.NB 25º 27º NS.GoMe 32º 30º 1-NB 4mm 5mm DISCUSSÃO O tratamento da atresia maxilar exige do ortodontista uma visão multidisciplinar, devido à complexidade de fatores etiológicos: congênitos, traumáticos, iatrogênicos, genéticos e ambientais (hábitos de sucção de lábios, bochechas, chupeta, dedo, interposição de língua e deglutição atípica)5,8,17,20,30, que podem manifestar-se isoladamente ou estar associados. A atresia maxilar pode apresentar como conseqüência a mordida cruzada uni ou bilateral, que estabelecerá condutas diferentes. Por esse motivo, o diagnóstico diferencial torna-se imprescindível no planejamento ortodôntico16. A ERM ortopédica é uma das condutas adotadas em pacientes com crescimento incompleto, enquanto, nos adultos, o procedimento adotado deverá ser a ERMAC, uni ou bilateral, devido à resistência e maturação óssea. A literatura é vasta nas técnicas cirúrgicas para diminuir a resistência do complexo nasomaxilar, pilares zigomáticos e região pterigopalatina nos casos de atresia bilateral. Entretanto, apresenta-se com restrições na abordagem unilateral, pois a etiologia é rara. Com o intuito de ilustrar este recurso, os casos clínicos apresentados mostraram um resultado final satisfatório. Entretanto, encontramos uma maior inclinação dentária do lado operado e maior expansão do arco na região de pré-molares no caso 2 (Fig. 26). Estes resultados foram concordantes com os estudos de Mossaz25, Byloff e Mossaz10, que concluíram que, na mordida cruzada unilateral, o lado operado apresentou duas vezes mais expansão esquelética, inclinação e recidiva que o não operado. CONCLUSÕES Pudemos observar e concluir, por meio dos casos clínicos, que a ERMAC unilateral é um recurso efetivo para a correção da mordida cruzada esquelética unilateral. Unilateral maxillary osteotomy: techniques and clinical reports Abstract The cross-sectional correction is one of the Orthodontic´s priorities. One of the causes of the cross-sectional deficiency is the maxillary constriction that can follow-up or not a posterior crossbite. It has a multifactorial etiology and must be diagnosed and treated in early age. After the skeletal maturity is completed, the rapid maxillary expansion surgically assisted (RMESA) is considered a good option for the correction of unilateral or bilateral crossbites in adult patients. This way, the present study aimed to review the literature concerning the RMESA for the correction of the unilateral maxillary constriction and to present two clinical cases to illustrate the resource. KEYWORDS: Maxillary expansion. Maxillofacial surgery. Crossbite. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 1 - fev./mar. 2009 49 Osteotomia unilateral da maxila: técnicas e relato de casos clínicos REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. ALPERN, M. C.; YUROSKO, J. J. Rapid palatal expansion in adults: with and without surgery. Angle Orthod., Appleton, v. 57, p. 245-263, 1987. ANGELL, E. C. Treatment of irregularity of the permanent or adult teeth. Dental Cosmos, Philadelphia, v. 1, p. 540-544, 1860. BAYS, R. A.; GRECO, J. M. Surgically assisted rapid palatal expansion: an outpatient technique with long-term stability. J. Oral Maxillofac. Surg., Philadelphia, v. 50, p. 110-113, Feb. 1992. BELL, W. H.; JACOBS, J. D. Surgical-orthodontic correction of horizontal maxillary deficiency. J. Oral Surg., Chicago, v. 37, p. 897-902, 1979. BETTS, N. J.; VANARSDALL, R. L.; BARBER, H. D.; BARBER, K. H.; FONSECA, R. J. Diagnosis and treatment of transverse maxillary deficiency. Int. J. Adult Orthodon. Orthognath. 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