Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia Mecânica Grupo de Análise e Projeto Mecânico Introdução à Dinâmica de Rotores Prof. José Carlos Pereira Florianópolis, janeiro de 2005 SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 4 Modelo massa/mola ................................................................................................... 5 Movimento de um sistema rotativo .......................................................................... 7 Análise do modelo Jeffcott rotor ............................................................................ 10 Significado físico das soluções. soluções.............................................................................. 12 Três formas de reduzir a amplitude do giro síncrono .......................................... 13 Algumas definições sobre amortecimento ............................................................ 14 Efeito de mancais flexíveis ..................................................................................... 14 Instabilidade em rotores. rotores.......................................................................................... 18 Efeito da anisotropia dos mancais no amortecimento ......................................... 19 2 - EQUAÇÕES DE ENERGIA DOS ELEMENTOS DE ROTOR .................................. 23 2.1 - Energia cinética do disco. disco................................................................................ 23 2.1 - Energia de deformação do eixo em flexão .................................................... 25 2.3 - Energia de deformação do eixo devido a uma força axial ........................... 30 2.4 – Mancais ............................................................................................................ 31 2.5 – Equações de movimento do rotor ................................................................. 32 3 – MÉTODO DE RAYLEIGH-RITZ .............................................................................. 33 3.1 – Rotor isotrópico bi-apoiado ........................................................................... 33 3.1.1 – Diagrama de Campbell para rotores isotrópicos................................... 34 3.1.2 – Resposta do rotor a um desbalanceamento .......................................... 37 3.1.3 – Diagrama de Campbell do rotor com uma força axial........................... 43 3.1.4 – Resposta do rotor à uma força assíncrona............................................ 47 3.1.5 – Resposta do rotor à uma força fixa no espaço...................................... 49 3.2 – Rotor anisotrópico bi-apoiado ....................................................................... 53 3.3 – Efeito dos termos de acoplamento nos mancais ......................................... 59 3.4 – Efeito do amortecimento dos mancais ......................................................... 63 3.5 – Efeito do amortecimento interno ................................................................... 66 3.3 – Rotor isotrópico em balanço ......................................................................... 71 4 – RESPOSTA TRANSIENTE DO ROTOR ................................................................. 78 4.1 – Equações e soluções. soluções...................................................................................... 78 4.2 – Exemplos de aplicação. aplicação................................................................................... 82 Rotor isotrópico ....................................................................................................... 82 Rotor anisotrópico ................................................................................................... 85 4.3 – Fadiga em eixos de rotores. rotores............................................................................ 89 5 – BALANCEAMENTO EM ROTORES. ROTORES....................................................................... 94 5.1 – Introdução ....................................................................................................... 94 5.2 – Princípio básico do balanceamento .............................................................. 94 5.3 – Método dos Coeficientes de Influência ......................................................... 96 6 – MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS APLICADO À DINÂMICA DE ROTORES .................................................................................................................................... 108 5.1 – Matrizes de um elemento de disco .............................................................. 109 5.2 – Matrizes de um elemento de eixo ................................................................ 110 5.3 – Matrizes de rigidez e de amortecimento dos mancais. mancais............................... 115 5.4 – Efeito de uma massa desbalanceadora ...................................................... 116 5.5 – Equações de movimento do rotor ............................................................... 118 5.6 – Propriedades dos modos ............................................................................. 121 5.7 – Técnica de montagem das matrizes globais .............................................. 123 5.8 – Exemplos de aplicação. aplicação................................................................................. 124 Rotor bi-apoiado – caso 1 ..................................................................................... 124 Rotor bi-apoiado – caso 2 ..................................................................................... 125 Rotor bi-apoiado – caso 3 ..................................................................................... 126 Rotor em balanço – caso 1. 1.................................................................................... 127 Rotor em balanço – caso 2. 2.................................................................................... 128 Rotor em balanço – caso 3. 3.................................................................................... 129 6 – ANEXOS ............................................................................................................... 131 6.1 – Vibrações forçadas (Jeffcott rotor) ............................................................. 131 6.2 – Vibrações livres (Jeffcott rotor) ................................................................... 139 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 143 4 Introdução à Dinâmica de Rotores 1 - INTRODUÇÃO As mais comuns máquinas rotativas, também denominadas de rotores, podem ser turbo-compressores, turbinas de aviões, turbinas à vapor para a produção de energia elétrica, etc. A grande capacidade dos rotores de gerar energia mecânica vem da alta velocidade a qual seus eixos são submetidos. Associado à essa alta velocidade estão altas cargas devido a inércia de seus componentes e potenciais problemas de vibração e instabilidade dos rotores. A previsão do comportamento de rotores através de modelos matemáticos é relativamente bem sucedida quando comparado com medições experimentais. No entanto, a intuição humana pode muitas vezes levar à conclusões incorretas, como por exemplo, a massa desbalanceadora permanecerá internamente à órbita realizada pelo eixo do rotor em altas velocidades, assim como o aumento do amortecimento pode causar instabilidade também em altas velocidades. Em análises do comportamento dinâmico de rotores, os estudos mais freqüentemente realizados são: o Previsão das velocidades críticas: Velocidades nas quais a vibração devido ao desbalanceamento do rotor é máxima; o Modificações de projeto de forma a alterar as velocidades críticas: Quando é necessário alterar a velocidade de operação do rotor, modificações no projeto do rotor são necessárias para alterar as velocidades críticas; o Prever as freqüências naturais das vibrações torsionais: Quando vários eixos estão acoplados (por exemplo, caixa de engrenagens) e estes eixos são excitados pelas pulsações do motor durante o start-up; o Calcular as massas de correção e suas localizações a partir de dados de vibração: Balanceamento de rotores; o Prever as amplitudes de vibração causadas pelo desbalanceamento do rotor; o Prever as freqüências de vibração nas instabilidades dinâmicas: Nem sempre simples de ser alcançado, haja visto que nem todas as forças desestabilizadoras são conhecidas; o Modificações de projeto para eliminar instabilidades dinâmicas. Introdução à Dinâmica de Rotores 5 Modelo massa/mola O modelo mais simples para análise de vibração de rotores é o modelo massa/mola, com somente um grau de liberdade, no qual a massa é considerada rígida, Figura 1.1c. A primeira velocidade crítica de um sistema rotor/mancais pode ser aproximado por um modelo massa/mola, da forma: N1 = 60 k 2π m (1.1) rpm Z m (a) Y KB KB Z (b) EI EI Y m F(t) = mω2u senωt (c) Z(t) m t k = 2KB ou 48EI/ 3 Figura 1.1 – Modelo rígido e flexível de rotor modelados como massa/mola 6 Introdução à Dinâmica de Rotores onde k é a rigidez efetiva do rotor para o primeiro modo e m é a massa efetiva. Para um rotor que é relativamente rígido comparado à rigidez do mancal, a massa efetiva é a massa do disco e do eixo, e a rigidez efetiva é a rigidez de todos os mancais trabalhando em paralelo, Figura 1.1a. Para um rotor que é relativamente flexível comparado à rigidez do mancal, a rigidez efetiva é determinada pela rigidez em flexão do eixo. Neste caso somente uma porção da massa do eixo contribui para a massa efetiva no modelo, já que a massa do rotor próxima dos mancais quase não participa do movimento de vibração, Figura 1.1b. Deve ser enfatizado que este modelo simples não pode ser utilizado em análises mais complexas de dinâmica de rotores, já que neste modelo se executa um movimento em uma única direção, enquanto que, um rotor executa movimentos em duas direções ortogonais X e Z, formando uma órbita de diferentes forma. A forma da órbita depende das amplitudes e das fases entre os movimentos em X e Z, Figura 1.2a. Z X t Z m t . k X (a) (b) Z Z α X X (c) (d) Figura 1.2 – Combinações dos movimentos em X e Z produzindo órbitas: (b) circular, (c) eliptica e (d) translacional Introdução à Dinâmica de Rotores 7 Um modelo mais elaborado para evidenciar o surgimento das velocidades críticas em rotores consiste de um disco rígido desbalanceado montado sobre um eixo flexível e mancais rígidos, Figura 1.3. Este modelo de rotor chamado de Jeffcott rotor, explica como a amplitude se torna máxima na velocidade crítica e porque a massa desbalanceadora se movimenta internamente à órbita do rotor. Massa desbalanceadora Disco rígido Eixo elástico Mancal rígido /2 Figura 1.3 – Modelo Jeffcott rotor Movimento de um sistema rotativo Um sistema rotativo, que ser pode composto basicamente de um eixo, um disco e mancais, realiza dois movimentos rotativos superpostos: rotação em torno de si próprio (rotação própria ou spin) e rotação do eixo defletido em torno de sua configuração não defletida (precessão ou whirl). A órbita que realiza o centro geométrico pode ter uma trajetória no mesmo sentido que a rotação própria do rotor, movimento caracterizado como precessão direta (forward whirl), ou ter sentido oposto, caracterizado como precessão retrógrada ou inversa (backward whirl), Figura 1.4. Os problemas mais destrutivos em máquinas rotativas ocorrem quando as precessões são inversas. 8 Introdução à Dinâmica de Rotores Z Z rotação do rotor X X sentido da órbita sentido da órbita (b) precessão inversa (a) precessão direta Figura 1.4 – Movimentos de precessão (a) direta (forward) e (b) inversa (backward) Os movimentos de precessão podem também ser sincronizados com a rotação do rotor ou não. Normalmente, as precessões síncronas ocorrem devido ao desbalanceamento de um rotor, no entanto, nem todas as precessões são síncronas. Para o entendimento deste comportamento do rotor, considere a Figura 1.5 na qual é mostrado a precessão do rotor a partir da vista de uma de suas extremidades. O elemento hachurado representa uma massa desbalanceadora. Na Figura 1.5a, a taxa i de variação do ângulo φ ( φ ) é a velocidade de precessão. Se o ângulo β, entre o vetor força de excitação (U) e o vetor velocidade de precessão (V) (ou resposta), permanecer constante, a velocidade de precessão e a rotação do eixo (Ω) são as mesmas i (precessão síncrona). Na Figura 1.5b, a taxa de variação do ângulo β ( β ) é a velocidade de rotação do rotor, relativa ao vetor velocidade de precessão V. Portanto, a i i i velocidade do rotor é a soma de Ω = β+ φ . Neste caso, a velocidade da precessão φ e a velocidade do rotor Ω não são as mesmas (precessão não síncrona). Introdução à Dinâmica de Rotores 9 O motivo pelo qual as precessões inversas são destrutivas vem do fato deste movimento altenar as tensões normais na seção transversal do eixo, podendo levá-lo a falha por fadiga. As Figuras 1.6 e 1.7 ilustram a evolução das tensões na seção transversal ao longo de uma trajetória orbital em diferentes situações. V Z φ i Z V φ=Ω i β φ U X X i eixo disco β (a) (b) Figura 1.5 – (a) Precessão síncrona e (b) precessão não síncrona A' A' i A' A φ = −Ω A A A' A' i - A φ=Ω A (a) precessão direta A' Ω A i Ω = φ+ β i + (b) precessão inversa Figura 1.6 – (a) Precessão direta e (b) precessão inversa (ambos síncronos) Ω 10 Introdução à Dinâmica de Rotores A A' ΩA φ=− 2 i A' A' Ω A' A i φ= Ω 2 A A' (a) precessão direta Ω A' A A (b) precessão inversa Figura 1.7 – (a) Precessão direta e (b) precessão inversa (ambos não síncronos) Análise do modelo Jeffcott rotor A Figura 1.8 apresenta a vista de uma das extremidades do modelo Jeffcott rotor realizando uma precessão. O centro de massa está em M. O ponto C localiza o centro geométrico do disco. O deslocamento estático do desbalanceamento é d = CM e a deflexão do eixo do rotor devido as cargas dinâmicas é r = OC . A força de gravidade é considerada desprezível comparada às forças dinâmicas. O eixo do rotor é considerado ter rigidez k, o disco tem massa m, o amortecimento viscoso do conjunto é c e a velocidade de rotação do rotor é Ω. As equações diferenciais que fornecem o movimento do centro disco em coordenadas cartesianas X e Z são da forma : ii i ii i m X + c X + kX = mΩ2d senΩt 2 mZ + c Z + kZ = mΩ d cosΩt (1.2) Introdução à Dinâmica de Rotores 11 A solução da eq. (1.2) para a precessão síncrona é1: X= Z= Ω 2d (k / m − Ω ) 2 2 + ( cΩ / m ) sen(Ωt − β) 2 Ω 2d (k / m − Ω ) 2 2 + ( cΩ / m ) cΩ β = tan−1 m k / m − Ω2 ( ) cos(Ωt − β) 2 (1.3) Da Figura 1.8, conclue-se que a deflexão do eixo do rotor é: r = X2 + Z 2 = Ω2 d (k / m − Ω ) 2 2 + ( cΩ / m ) (1.4) 2 Z φ β M X d r C O Figura 1.8 – Jeffcott rotor realizando uma precessão 1 A determinação das equações diferenciais de movimento se encontram em anexo 12 Introdução à Dinâmica de Rotores Significado físico das soluções A Figura 1.9a mostra como a amplitude da precessão síncrona aumenta com a aproximação da velocidade crítica, e após a passagem pela velocidade crítica, diminui e se aproxima assintoticamente do deslocamento estático d do desbalanceamento nas velocidades supercríticas (acima das velocidades críticas). Desta forma, em altas velocidades, a amplitude em precessão síncrona pode ser pequena com o balanceamento do rotor. Amplitude do giro síncrono r pequeno amortecimento grande amortecimento d k Velocidade do eixo Ω m (a) Ângulo de fase β 180° grande amortecimento 90° Velocidade do eixo Ω pequeno amortecimento 0° k m (b) Figura 1.9 – Resposta à um desbalanceamento do Jeffcott rotor Introdução à Dinâmica de Rotores 13 Em velocidades próximas da velocidade crítica, pode ser visto que o parâmetro mais importante para a redução da amplitude é o amortecimento. A Figura 1.9a também fornece a definição de velocidade crítica: velocidade na qual a resposta síncrona devido ao desbalanceamento é máxima. A Figura 1.9b explica a razão pela qual a amplitude se aproxima assintoticamente do deslocamento estático d do desbalanceamento. Quando a velocidade crítica é atravessada, o ângulo β passa por 90° e se aproxima de 180° nas velocidades supercríticas. Assim, para altas velocidades, o centro de massa M gira internamente à órbita realizada pelo disco, e o centro do disco C gira em torno do centro de massa M com uma amplitude igual ao deslocamento estático d do desbalanceamento. Este fenômeno é chamado de inversão da velocidade crítica. Observa-se que o centro de massa M se mantém externamente a órbita realizada pelo disco nas baixas velocidades Ω < k m , e o desbalanceamento está defasado de 90° do vetor V na velocidade crítica não amortecida ( k m ). Três formas de reduzir a amplitude do giro síncrono Da observação da Figura 1.9, pode-se concluir que as três formas de reduzir a amplitude do giro síncrono são: (1) balancear o rotor (minimizando a massa M), (2) alterar a velocidade de rotação do rotor Ω (distante da velocidade crítica) e (3) adicionar amortecimento no sistema rotor/mancais. Balancear o rotor é a forma mais direta de resolver o problema, já que isto ataca o problema na sua fonte. A segunda opção pode ser alterar a velocidade de operação do rotor ou alterar a velocidade crítica, modificando a rigidez dos mancais. Se o rotor deve atravessar uma velocidade crítica e isto não pode ser evitado, então a forma mais efetiva de reduzir a amplitude é adicionando amortecimento em mancais flexíveis ou utilizando mancais com filme de óleo. 14 Introdução à Dinâmica de Rotores Algumas definições sobre amortecimento É muito comum quantificar o amortecimento presente em rotores em termos de porcentagem do amortecimento crítico ccr. O coeficiente de amortecimento crítico é o valor requerido de amortecimento para suprimir completamente qualquer vibração no sistema. Assim a relação de amortecimento é ξ = c / c cr . Para o modelo Jeffcott rotor, o coeficiente de amortecimento crítico é c cr = 2 km e é assumido ser concentrado no centro do disco. Introduzindo o coeficiente de amortecimento crítico na eq. (1.3) e após na eq. (1.4), a amplitude do giro síncrono em ω = k m é r= d 2ξ e a velocidade crítica é ω2 (1 − ξ2 ) . O fator 1 é as vezes referido como fator de amplificação ou Q factor 2ξ do sistema rotor/mancais. Colocando a eq. (1.4) em uma forma adimensional temos: ( ) ( ) ( 2 Ω r ω = 2 d 2 Ω Ω 1 − ω + 2ξ ω ) (1.5) 2 Efeito de mancais flexíveis A forma dos modos como o rotor irá vibrar é determinada pela distribuição da massa e da rigidez ao longo do mesmo, assim como da rigidez dos mancais. Os três primeiros modos, associados com as três mais baixas freqüências naturais de um eixo uniforme, muda com o aumento da rigidez dos mancais (ver Figura 1.10). Note que para baixa rigidez do mancal (K ≈ 0), os dois primeiros modos causam uma flexão no eixo do rotor quase desprezível. Nestes dois primeiros modos, o eixo do rotor permanece rígido (modo de corpo rígido) e percorre uma trajetória cilíndrica no primeiro modo e cônica no segundo. Introdução à Dinâmica de Rotores 15 Se a velocidade do rotor é acrescida, o terceiro modo será atingido, causando flexão no eixo do rotor, Figura 1.10. Se a rigidez dos mancais é muito baixa, este modo é praticamente o modo livre-livre. Para rotores com mancais hidrodinâmicos, o amortecimento pode ser suficiente para fazer desaparecer um ou os dois modos de corpo rígido. K K 3° modo 2° modo 1° modo K≈0 Valor intermediário de K K→∞ Figura 1.10 – Forma dos modos de vibração em função da rigidez dos mancais É desejável em qualquer máquina rotativa que os mancais sejam mais flexíveis que o eixo do rotor. Os motivos para isso são: o A baixa rigidez dos mancais reduz a transmissão das cargas dinâmicas para a sua fundação, prolongando a vida útil dos mancais e reduzindo as vibrações estruturais; o A baixa rigidez dos mancais permite que o amortecimento, em mancais hidrodinâmicos ou com amortecedores ditos externos, opere com maior eficiência, atenuando a amplitude do rotor nas velocidades críticas. O primeiro motivo pode ser explicado utilizando um rotor curto de rigidez k = 2 KB e amortecimento c = 2 CB. A deflexão r = OC é a deflexão de todo o rotor e não mais 16 Introdução à Dinâmica de Rotores somente do disco. CB m KB CB KB CB KB KB CB Figura 1.11 – Rotor curto amortecido por mancais flexíveis Considerando que a força transmitida pelo mancal é a resultante da força devido a rigidez (proporcional ao deslocamento) e a força devido ao amortecimento (proporcional à velocidade tangencial), temos que: ( força devido a rigidez ) Fc = CB Ω r ( força devido ao amortecimento ) Fk = K B r Ft = Fk2 + Fc2 = r K B2 + ( CBΩ ) (1.6) 2 Utilizando a eq. (1.4), a expressão da força transmitida é: 1 Ft = mΩ2d 2 ( ( 2KB ) 2 + ( 2CBΩ ) 2K B − mΩ2 ) 2 2 + ( 2CBΩ ) 2 (1.7) Considere que, se o mancal fosse rígido, a força no mancal fosse dada por : F∞ = 1 mΩ2d 2 (1.8) Introdução à Dinâmica de Rotores 17 Pode ser demonstrado através de um exemplo simples que, para um rotor de massa m = 10 kg, com um deslocamento estático d = 0,001 m e operando em uma alta velocidade, como por exemplo Ω = 5000 rpm = 5000 2π rad / s , a força transmitida pode 60 ser intolerável, da ordem de 1370 N. Portanto, a relação entre a força transmitida Ft e a força transmitida considerando o mancal rígido F∞ é: Ft = F∞ 1 + ( 2ξΩ / ω) (1+ ( 2ξΩ / ω) ) 2 2 2 + ( 2ξΩ / ω) (1.9) 2 onde a velocidade crítica não amortecida é ω = k amortecimento é ξ = c / c cr = 2CB 2 km = CB mω m = 2 KB m e a relação de . Observa-se na Figura 1.12 que : o A transmissibilidade tem o mesmo valor para qualquer amortecimento na velocidade de rotação Ω* = 2 ω ; o O amortecimento nos mancais aumenta a força transmitida nas altas velocidades (Ω > Ω ) , onde o efeito da flexibilidade dos mancais é favorável; * o O amortecimento nos mancais pode ser necessário para manter a força transmitida dentro de limites aceitáveis na passagem pela velocidade crítica ; o Baixa rigidez de mancal não é um fator incondicional, já que um valor impropriamente escolhido pode produzir forças dinâmicas superiores quando considerado o mancal rígido, eq. (1.8). 18 Introdução à Dinâmica de Rotores Ft F∞ 3 pequeno amortecimento 2 Ω = Ω* grande amortecimento 1 1 2 Ω ω Figura 1.12 – Transmissibilidade vs. relação de velocidade do rotor Através da comparação da Figura 1.12 com a Figura 1.9, pode-se concluir que o efeito do amortecimento sobre a força transmitida é diferente do efeito do amortecimento sobre a amplitude de vibração. Enquanto que, o efeito do amortecimento sobre a amplitude de vibração é favorável ao longo de toda a faixa de rotações, o efeito do amortecimento sobre a força transmitida é favorável somente para Ω < 2 ω. Instabilidade em rotores A instabilidade em máquinas rotativas é normalmente produzida por forças que são tangenciais à órbita de giro do rotor, chamadas de forças desestabilizadoras, agindo no mesmo sentido do movimento instantâneo. Se a intensidade da força desestabilizadora é proporcional a velocidade instantânea da órbita, esta força é classificada como uma força de amortecimento negativa. Se a intensidade da força é proporcional ao deslocamento do rotor (raio instantâneo da órbita), ela é classificada como força de rigidez de acoplamento. O termo acoplamento vem do fato de um deslocamento na direção X produzir uma força na direção Z, e vice-versa, Figura 1.13. A força tangencial Fφ é a força resultante das componentes FX e FZ. A instabilidade Introdução à Dinâmica de Rotores 19 pode também ser causada por forças axiais compressivas, menos freqüentes em rotores. Z φ Fφ FZ = KZXX C FX = -KXZZ X KXZ > 0 KZX < 0 O Figura 1.13 – Representação das forças de acoplamento (desestabilizadoras) Efeito da anisotropia dos mancais no amortecimento Um mancal é dito anisotrópico ou assimétrico quando os coeficientes de rigidez nas direções X e Z são diferentes, KXX ≠ KZZ (ver Figura 1.14). KZZ CZZ KXZ CXZ Z KXX CXX X KZX CZX Figura 1.14 – Rotor com mancais anisotrópicos – KXX ≠ KZZ 20 Introdução à Dinâmica de Rotores Vários estudos já comprovaram a relação entre o amortecimento interno2 do material e a taxa de deformação a qual ele é submetido. Assim considerando, a tensão normal à seção transversal do eixo do rotor pode ser colocada da forma (ver figura 1.15): i σ = E ε + ηv E ε (1.10) onde E é o módulo de elasticidade do material do eixo, ηv é o fator de amortecimento i viscoso do material do eixo, e ε é a taxa de deformação normal à face. Tensão normal compressiva M Tensão normal trativa Figura 1.15 – Distribuição da tensão normal à seção transversal do eixo do rotor Em um desses estudos, foi observado que o amortecimento interno em um sistema rotativo não afeta a resposta ao desbalanceamento em rotores com mancais 2 O amortecimento interno é inerente ao material do eixo do rotor, enquanto que, o amortecimento externo é devido aos mancais. Introdução à Dinâmica de Rotores 21 isotrópicos (KXX = KZZ), ao contrário do que acontece com mancais anisotrópicos (KXX ≠ KZZ). Se os mancais são isotrópicos, o eixo do rotor defletirá e girará em torno do eixo neutro na velocidade de rotação Ω, seguindo uma órbita circular. Ou seja, a forma de deflexão do eixo permanece inalterada durante o movimento. Portanto, em um eixo i movimento de precessão síncrona (Ω = φ) e órbita circular, as deformações não variam durante o movimento de precessão, Figura 1.16a. Conseqüentemente, o amortecimento interno, inerente ao material, não afeta o estado de tensão na seção transversal do eixo do rotor. Porém, se o rotor está apoiado sobre mancais anisotrópicos, a órbita do movimento de precessão é elíptica, fazendo com que as deformações variem proporcionamente à diferença entre os eixos da elipse, Figura 1.16b. Neste caso, o amortecimento interno do eixo pode afetar consideravelmente o estado de tensão na seção transversal do eixo do rotor. Uma forma do amortecimento interno afetar a resposta de um rotor com i mancais isotrópicos é através de uma excitação assíncrona (Ω ≠ φ) . Neste caso, apesar do rotor movimentar seguindo uma órbita circular, as deformações na seção transversal do eixo irão variar na medida que este gira, pois a velocidade de precessão é diferente da velocidade de rotação do rotor, Figura 1.16c. 22 Introdução à Dinâmica de Rotores A' A' A A i φ=Ω Ω A' A (a) A' A A' A A' A' A A i φ= i φ=Ω A A' Ω Ω 2 A A' Ω (c) (b) Figura 1.16 – Evolução da tensão normal na seção transversal do eixo de um rotor: (a) precessão síncrona e mancais isotrópicos; (b) precessão síncrona e mancais i anisotrópicos; (c) precessão sub-síncrona ( φ = Ω ) e mancais isotrópicos. 2 Introdução à Dinâmica de Rotores 23 2 - EQUAÇÕES DE ENERGIA DOS ELEMENTOS DE ROTOR Este capítulo tem por objetivo avaliar o comportamento dinâmico de rotores partindo de um modelo mais complexo do que o modelo Jeffcott rotor (ou de Laval). De forma a facilitar a compreensão e evitar um número excessivo de equações, será considerado um rotor com um eixo e somente um disco e dois mancais. Para a obtenção das equações de movimento de rotores, é considerado somente a energia cinética do disco, sendo a energia cinética do eixo considerada desprezível com relação a energia cinética do disco. O disco é considerado rígido, logo a energia de deformação é devido somente ao eixo e o efeito das forças dos mancais é introduzido através do conceito de trabalhos virtuais. A equação de movimento do rotor é obtida aplicando-se a equação de Lagrange sobre as energias cinética do disco e de deformação do eixo, Lalanne et al, 1998. 2.1 - Energia cinética do disco Da Figura 2.1, pode-se deduzir o vetor velocidade instantânea de rotação do disco no sistema de coordenadas de referência (x, y, z) como sendo, Vance, 1988. i i i ω = ψ Z + θ x' + φ y onde Z , x ' e y (2.1) são vetores unitários. Os eixos (X, Y, Z) formam o sistema de coordenadas fixo (ou inercial), os eixos (x’, y’, z’) formam um sistema de coordenadas intermediário e os eixos (x, y, z) formam o sistema de coordenadas fixo no disco (ou de referência). Observa-se que a ordem das rotações deve ser: (1) ψ em torno de Z, (2) θ em torno de x’ e (3) φ em torno de y, já que a rotação do rotor Ω é em torno do eixo i instantâneo y. A velocidade angular do disco é φ e as componentes do vetor velocidade instantânea ω no sistema de coordenadas de referência é: 24 ωx ωy ωz Introdução à Dinâmica de Rotores i i − ψ cos θ sen φ + θ cos φ i i = φ + ψ sen θ i i ψ cos θ cos φ + θ sen φ (2.2) Z z’ i ψ θ Ω φ i Z θ z X X y ψ ψ i θ x’ w φ φ=Ω y’ Y Y u x Figura 2.1- Sistema de coordenadas de referência para um disco em um eixo flexível A energia cinética do disco pode ser expressa por: 1 TD = MD 2 2 i 2 1 i 2 2 2 u + w + 2 IDz ωz + IDy ωy + IDz ωz ( ) (2.3) onde u e w são coordenadas nas direções x e z do centro de inércia do disco, MD é a massa do disco de densidade volumétrica ρ e, IDx, IDy e IDz são momentos de inércia de massa do disco com relação ao sistema de coordenadas de referência, Figura 2.2. Introdução à Dinâmica de Rotores 25 z dm x x ∆ z y Figura 2.2- Momentos de inércia de massa do disco no sistema de referência IDx = ∫ z2 ρ dV , V IDz = ∫ x 2 ρ dV , IDy = ∫ ∆2 ρ dV V V Considerando que os ângulos θ e ψ são pequenos, que a velocidade de rotação i é φ = Ω e a simetria do disco, IDx = IDz, segue que, a partir da eq. (2.3): TD = 1 MD 2 i2 i 2 1 u + w + IDx 2 i i2 i 2 1 θ + ψ + I Ω ψ θ + IDy Ω2 Dy 2 (2.4) Os deslocamentos transversais u, w e as rotações θ e ψ são as coordenadas ditas generalizadas. 2.1 - Energia de deformação do eixo em flexão A expressão geral para a energia de deformação é: U= 1 σ ε dV 2 V∫ (2.5) 26 Introdução à Dinâmica de Rotores onde, dentro do regime elástico linear, a relação dada pela Lei de Hooke é, σ = E ε : O campo de deslocamento de um ponto qualquer sobre o eixo é definido como sendo (ver Figuras 2.3 e 2.4): u = uo w = wo v = vo − x (2.6) ∂u ∂w −z ∂y ∂y onde os deslocamentos uo, wo e vo são os deslocamentos de um ponto situado no eixo neutro da seção transversal do eixo. A partir do campo de deslocamento definido pela eq. (2.6), as deformações lineares são tais que: ∂u = εx o ∂x ∂w εz = = εz o ∂z ∂v ∂ 2u ∂2w εy = = εy o − x 2 − z 2 ∂y ∂y ∂y εx = (2.7) θ Mx (positivo) θ = ∂w/∂y (positivo) z wo x P y, vo configuração não deformada (a) configuração deformada Introdução à Dinâmica de Rotores 27 ψ Mz (negativo) P ψ =–∂u/∂y (negativo) x z uo configuração deformada y, vo configuração não deformada (b) Figura 2.3 – Campo de deslocamentos de um ponto do eixo – (a) Plano zy (b) Plano xy Desprezando as deformações normais à espessura do eixo, εx0 e εz0, e a deformação de membrana εy0, somente as deformações de flexão ∂ 2u ∂2w 2 , −z 2 são consideradas. Assim, a expressão de tensão normal na −x ∂y ∂y direção y é da forma: ∂ 2u ∂2w σy = E εy = E − x 2 − z 2 ∂y ∂y (2.8) Sabe-se que a relação entre curvatura e momento fletor é da forma: ∂ 2 w Mx = ∂y 2 E Ix M ∂ 2u =− z 2 E Iz ∂y ⇒ ⇒ ∂θ Mx = ∂y E Ix ∂ψ Mz = ∂y E Iz (2.9) 28 Introdução à Dinâmica de Rotores Substituindo as eqs. (2.9) na eq. (2.8), tem-se uma nova expressão de tensão normal: σy = x Mz M −z x Iz Ix (2.10) As deformações são medidas sobre o sistema de coordenadas de referência i colocado no centro do eixo que gira a uma velocidade de rotação de φ = Ω . Para efeito de distinção, são denotados u* e w* como sendo componentes do deslocamento do centro do eixo no sistema de coordenadas de referência, Figure 2.4. A passagem para o sistema de coordenadas global (ou inercial), onde as componentes do deslocamento são u e w, é feita pela relação: u* = − w sen Ω t + u cos Ω t w* = w cos Ω t + u sen Ω t (2.11) onde Ωt é o ângulo entre o sistema de coordenadas de referência (x, y, z) e o sistema de coordenadas global (X, Y, Z) medido num instante t. Z z z Ωt P x X x w* w z u u* x Figure 2.4 – Campo de deslocamento de um ponto P na seção transversal do eixo Introdução à Dinâmica de Rotores 29 Assim, a deformação longitudinal medida na direção y pode ser escrita sob a forma: εy = − x ∂ 2u * ∂2w * z − ∂y 2 ∂y 2 (2.12) Substituindo a expressão de deformação, eq. (2.12), na expressão de energia de deformação, eq. (2.1), obtém-se a expressão final de energia de deformação do eixo em flexão: 1 U= E 2 ∫ V 2 ∂ 2u * ∂2w * − x − z dV ∂y 2 ∂y 2 (2.13) Desenvolvendo a eq. (2.13), temos: 1 U= E 2 x2 V ∫ 2 ∂ 2u * 2 2 +z ∂y 2 ∂2w * ∂ 2u * ∂ 2 w * dV + 2 x z 2 2 2 ∂ ∂ ∂ y y y (2.14) As integrais da eq. (2.14) podem ser separadas em um integral na seção transversal A e outra ao longo do comprimento L do eixo: L L 2 2 ∂ 2u * ∂2w * 1 2 2 U = E x dx dz 2 dy + z dx dz dy + 2 ∂y ∂y 2 A 0 A 0 L ∂ 2u * ∂ 2 w * dy + x z dx dz 2 2 ∂y ∂y A 0 ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ (2.15) 30 Introdução à Dinâmica de Rotores As integrais ∫ x 2 dx dz = Iz e A ∫ z2 dx dz = Ix são os momentos inércia de seção A com relação aos eixos z e x, e a integral ∫ x z dx dz = 0 , já que os eixos x e z são eixos A principais de inércia. Como Iz = Ix = I para o caso de um eixo simétrico, temos que a energia de deformação do eixo em flexão é da forma: L ∂ 2u* 2 ∂ 2 w * 2 1 U= EI 2 + dy 2 ∂y ∂y 2 0 ∫ (2.16) Substituindo a eq. (2.11) na eq. (2.16), pode-se determinar a equação de energia de deformação no sistema de coordenadas global: 1 U= EI 2 L ∫ 0 ∂ 2u 2 ∂ 2 w 2 + dy ∂y 2 ∂y 2 (2.17) 2.3 - Energia de deformação do eixo devido a uma força axial Considere que o rotor está submetido à uma força axial Fo sobre a seção transversal A do eixo. A energia de deformação devido a esta força é da forma: U= ∫ Fo ε dV A (2.18) V As deformações são como aquelas obtidas na eq. (2.7), com exceção dos termos não lineares, que são agora adicionados. Introdução à Dinâmica de Rotores 31 ∂u = εx o ∂x ∂w εz = = εz o ∂z εx = (2.19) 2 1 ∂w ∂v ∂ 2u ∂ 2 w 1 ∂u εy = = εy o − x 2 − z 2 + + 2 ∂y 2 ∂y ∂y ∂y ∂y 2 Desprezando novamente as deformações normais à espessura do eixo, εxo e εzo, e a deformação de membrana εyo, e substituindo a eq. (2.19) na eq. (2.18), obtémse a expressão de energia de deformação devido a momentos fletores e à uma força axial no eixo: F U= o A ∫ V 2 2 ∂ 2u ∂ 2 w 1 ∂u 1 ∂w − x 2 − z 2 + + dV 2 ∂y 2 ∂y ∂y ∂y (2.20) 2.4 – Mancais A influência da rigidez e do amortecimento viscoso dos mancais no comportamento do rotor é considerada a partir do trabalho virtual das forças atuando no eixo (ver Figura 1.13). δW = −k xxu δu − k xz w δu − k zz w δw − k zxu δw i i i i − c xx u δu − c xz w δu − c zz w δw − c zx u δw (2.21) ou : δW = Fu δu + Fw δu (2.22) onde, Fu e Fw são as componentes das forças generalizadas, colocadas da forma: 32 Introdução à Dinâmica de Rotores Fu k xx = − Fw k zx k xz u c xx − k zz w c zx i c xz u c zz i w (2.23) onde o sinal negativo significa que as forças nos mancais são no sentido contrário aos i i deslocamentos u e w e às velocidades u e w . 2.5 – Equações de movimento do rotor As eqs. (2.4), (2.17), (2.20) e (2.22) associadas à um método analítico do tipo Rayleigh-Ritz ou à um método numérico, permitem determinar as equações de movimento do rotor a partir da aplicação da equação de Lagrange, Lalanne et al. (1998). d ∂T ∂T ∂U ∂D + + = Fpi − dt ∂pi ∂pi ∂pi ∂pi (2.24) onde T é a energia cinética, U é a energia de deformação, D é uma energia dissipativa e Fpi são forças generalizadas correspondentes as coordenadas generalizadas pi (u, w, θ e ψ). Introdução à Dinâmica de Rotores 33 3 – MÉTODO DE RAYLEIGH-RITZ O método de Rayleigh-Ritz é utilizado para a determinação das n freqüências naturais mais baixas de um sistema, a partir de uma hipótese razoável do deslocamento dos pontos da estrutura. Logo: p1 u = ( γ1, , γ n ) p n (3.1) onde u é o vetor deslocamento, γi são funções deslocamento que devem verificar as condições cinemáticas ou as condições de contorno e pi são novas variáveis em função do tempo. 3.1 – Rotor isotrópico bi-apoiado Como exemplo de utilização do método de Rayleigh-Ritz, determine a evolução da primeira freqüência natural em função da velocidade de rotação Ω de um rotor simplesmente apoiado como apresentado na Figure 3.1. O mancal é considerado rígido, não tendo portanto influência nas equações de movimento do rotor. z L/3 2L/3 y 2° modo x 1° modo Ω Figura 3.1 – Rotor simplesmente apoiado3 3 Para fins de simplificação, o sistema de coordenadas inercial (X, Y, Z) será substituído por (x, y, z). 34 Introdução à Dinâmica de Rotores Uma hipótese razoável do deslocamento em flexão do rotor para esta configuração pode ser da forma: mπy p1(t) L m πy w(y,t) = sen p2 (t) L u(y,t) = sen (3.2) Estas hipóteses de deslocamento verificam as condições de contorno do problema para y = 0 e y = L onde u = w = 0. O parâmetro m representa o número do modo em flexão a ser analisado. Neste caso, todas as análises serão realizadas considerando somente o 1° modo em flexão, logo m = 1. As rotações de seção são determinadas fazendo (ver Figura 2.3): θ(y,t) = ∂w π πy p2 = cos L ∂y L ∂u π πy p1 ψ(y,t) = − = − cos L L ∂y (3.3) 3.1.1 – Diagrama de Campbell para rotores isotrópicos Introduzindo as eq. (3.2) e (3.3) na eq. (2.4), a energia cinética do disco é dada por: 2 2 i 2 i 2 1 π π πy i 2 πy 2 πy TD = MD sin + IDx cos p1 + p2 − IDy Ω cos2 p1 p2 2 L L L L L (3.4) Substituindo a eq. (3.2) na eq. (2.17), a energia de deformação do eixo é dada da forma: Introdução à Dinâmica de Rotores L 4 1 π 2 2 2 πy U= EI sen dy p1 + p2 2 L L 0 ∫ ( 35 ) (3.5) Da aplicação da equação de Lagrange, eq. (2.24), nas eqs. (3.4) e (3.5), temos: ii i ii i m p1− a Ω p2 + k p1 = 0 (3.6) m p2 + a Ω p1+ k p2 = 0 2 2 3 π π π π 2 π.y 2 π.y 2 π.y com: m = MD sin + IDx L cos L , a = IDy L cos L , k = EI L 2 . L As eqs. (3.6) representam as equações de movimento do rotor. Observa-se que i i estas equações são acopladas pelos termos a Ω p2 e − a Ω p1 . Estes termos representam o efeito Giroscópico (ou efeito Coriolis) do disco e são função sua inércia rotacional IDY e de sua posição y no eixo. Observa-se que, se o disco estiver posicionado no centro do eixo, y = L/2, este efeito é nulo. A solução para a eq. (3.6) pode ser da forma: p1(t) = P1 est p2 (t) = P2 est (3.7) onde s = ± j ω(Ω) são as freqüências naturais em flexão para cada rotação Ω do rotor. Substituindo as eqs. (3.7) nas eqs (3.6), obtém-se as expressões: m s2P1 est − a Ω s P2 est + k P1 est = 0 m s2P2 est + a Ω s P1 est + k P2 est = 0 (3.8) 36 Introdução à Dinâmica de Rotores que colocadas em forma matricial, e considerando que est ≠ 0, são: ( m s2 + k aΩs ) ( −a Ω s P 1 = 0 2 m s + k P2 (3.9) ) A solução não trivial, P1 ≠ 0 e P2 ≠ 0, é determinada fazendo o determinante da matriz igual a zero. Fazendo isto, obtêm-se a equação característica (ou polinômio característico) do rotor onde as raízes são as freqüências naturais: 2k a2 2 2 k 2 s + + 2Ω s + 2 =0 m m m 4 (3.10) A expressão para a primeira raiz, correspondente a primeira freqüência ω1 é : 2 s12 k k a2 a2 k2 2 2 Ω Ω = − + − + − 2 2 2 m 2m m 2m m (3.11) onde s1 = ± jω1. E, a expressão para a segunda raiz, correspondente a segunda freqüência ω2 é : 2 s22 k k a2 a2 k2 2 2 Ω Ω = − + + + − 2 2 2 m 2m m 2m m (3.12) onde s2 = ± jω2. Como exemplo de aplicação, considere a rotor com a configuração mostrada na Figura 3.1, com os seguintes dados; disco rígido: IDx = 0,1225 kg.m2, IDy = 0,2450 kg.m2, MD = 7,85 kg; eixo: L = 0,4 m, I = 0,49 10-9 m4, E = 2 10 11 N/m2. Como o disco situa-se a y = L/3 da origem do sistema inercial, m = 7,7766 e a = 3,7782, e k = 74578,8. A Figura 3.2 apresenta a curva de evolução das freqüências naturais em função Introdução à Dinâmica de Rotores 37 da rotação do rotor Ω, eqs. (3.11) e (3.12), também chamada de Diagrama de Campbell. A curva tracejada representa a evolução da freqüência ω1 associada ao movimento de precessão inversa (backward) e a curva contínua representa a evolução da freqüência ω2 associada ao movimento de precessão direta (forward). 60 Frequencia (Hz) 50 40 30 Forward Backward 20 10 0 0 20 40 60 80 Velocidade de rotação (rps) 100 Figure 3.2 – Diagrama de Campbell para o rotor isotrópico 3.1.2 – Resposta do rotor a um desbalanceamento A velocidade crítica do rotor é determinada em função da força de excitação. Para isto, suponha uma massa md = 0,001 kg situada em uma posição M sobre o disco a uma distância d = 0,05 m do centro, a qual provocará um desbalanceamento do rotor (ver Figura 3.3). O vetor posição M da massa desbalanceadora md medido no sistema de coordenadas inercial, conforme mostra a Figura 3.4, é: 38 Introdução à Dinâmica de Rotores L u( 3 ,t) + d senΩt OM = cons tan te L w( ,t) + d cosΩt 3 (3.13) z L/3 2L/3 md d y x Ω Figura 3.3 – Massa desbalanceadora md no disco Z Ωt M C w d X u O Figura 3.4 – Movimento de precessão do disco excitado por uma massa md Considerando que a aproximação por Rayleigh-Ritz do deslocamento de um ponto qualquer do rotor é da forma dada pela eq. (3.2), a eq. (3.13) se transforma em: Introdução à Dinâmica de Rotores π sen 3 p1 + d senΩt 0,866 p1 + d sen Ωt OM = cons tan te cons tan te = 0,866 p + d cos Ωt π 2 sen p2 + d cosΩt 3 39 (3.14) A energia cinética da massa md é: 1 Tm = md 2 dOM dt 2 (3.15) Substituindo a eq. (3.14) na eq. (3.15) temos: i2 i md Tm = 0,75 p1 + 1,732 d Ωcos Ωt p1 + d2Ω2 cos2 Ωt + 2 0,75 p2 − 1,732 d Ω sen Ωt p2 + d2Ω2 sen2 Ωt i2 (3.16) i Aplicando as equações de Lagrange na eq. (3.16) tem-se : d ∂Tm − dt i ∂ p1 d ∂Tm − dt i ∂ p2 ii ∂Tm = 0,75 md p1 − 0,866 md d Ω2 s enΩt ∂p1 (3.17) ii ∂Tm = 0,75 md p2 − 0,866 md d Ω2 cosΩt ∂p2 Introduzindo as eqs. (3.17) na eq. (3.6), e considerando que a massa desbalanceadora md é muito inferior a massa do disco (0,001 << 7,85), os termos ii ii 0,75 md p1 e 0, 75 md p2 podem ser desprezados. Logo: 40 Introdução à Dinâmica de Rotores ii i ii i m p1 − a Ω p2 + k p1 = 0,866 md d Ω2 senΩt (3.18) m p2 + a Ω p1 + k p2 = 0,866 md d Ω2 cosΩt Em regime permanente, a solução para as equações diferenciais acima são: p1 = P1 senΩt p2 = P2 cosΩt (3.19) Substituindo as eqs. (3.19) nas eqs. (3.18), e eliminado os termos em sen Ωt e cos Ωt temos: −m P1Ω2 + a P2Ω2 + k P1 = 0,866 md d Ω2 −m P2Ω2 + a P1Ω2 + k P2 = 0,866 md d Ω2 (3.20) Subtraindo uma equação da outra na eq. (3.20) chega-se a P1 = P2. Logo: P1 = P2 = 0,866 md d Ω2 k + (a − m) Ω2 (3.21) Observa-se pela eq. (3.21) que a órbita percorrida pelo eixo do rotor é circular, P1 = P2. Na velocidade crítica, as amplitudes P1 e P2 teoricamente se tornam infinitas, o que corresponde a anular o denominador da eq. (3.21). Ωc = k m−a (3.22) A velocidade crítica, é o ponto onde a velocidade de rotação se iguala a freqüência natural do rotor, Ωc = ω = 136,6 rad/s = 21,7 hz. A resposta em freqüência (função da velocidade de rotação do rotor) de um ponto qualquer ao longo do comprimento do rotor é determinada a partir da eq. (3.2), onde p1 e p2 são dados pela eq. (3.8): Introdução à Dinâmica de Rotores u(y,t) = sen 41 πy 0,866 md d Ω2 senΩt L k + (a − m) Ω2 (3.23) πy 0,866 md d Ω2 w(y,t) = sen cosΩt L k + (a − m) Ω2 Como exemplo de aplicação, deseja-se determinar o deslocamento do centro do disco, y = L/3. Na Figura 3.6 é traçado a resultante das componentes do deslocamento, R = u2 + w 2 . 100 1.0E-3 90 1.0E-4 80 1.0E-5 60 velocidade crítica 50 1.0E-6 40 Amplitude (M) Frequencia (Hz) 70 1.0E-7 30 Forward Backward 20 Resposta em Freqüência 10 1.0E-8 Freqüência = rotação 0 1.0E-9 0 20 40 60 80 Velocidade de rotação (rps) 100 Figure 3.5 – Diagrama de Campbell e deslocamento do centro do disco O sentido do movimento de precessão do rotor é de bastante interesse no estudo do seu comportamento dinâmico, uma vez que os problemas de fadiga em eixos de rotores ocorrem nos movimentos de precessão não síncronos. Para isso, considere a Figura 3.6, onde C é o centro do eixo e V é a velocidade tangente à órbita do centro do eixo. Assim podemos colocar os vetores, posição do centro do rotor ( r ) e velocidade tangencial ( V ) da seguinte forma (lembrando que, em uma excitação síncrona, do tipo 42 Introdução à Dinâmica de Rotores massa desbalanceadora, a freqüência do movimento de precessão é igual a velocidade de rotação do eixo, ω = Ω): P1 senΩt . i r= 0. j P2 cosΩt . k P1 ΩcosΩt . i d r V= 0. j = dt −P2 ΩsenΩt . k (3.24) Z Ω ω=Ω C P2 cos Ωt V r k̂ X P1 sen Ωt î O Figura 3.6 – Sentido do movimento de precessão do rotor O produto vetorial r ∧ V fornece o sentido do movimento de precessão, ˆ ˆi ∧ kˆ = − ˆj, ˆj ∧ kˆ = ˆi : lembrando que: ˆi ∧ ˆj = k, 0.i r ∧ V = P1 P2 Ω . j 0.k (3.25) Então, se o produto P1P2 > 0, a precessão é direta (forward), e se o produto Introdução à Dinâmica de Rotores 43 P1P2 < 0, a precessão é inversa (backward). Como P1 = P2, eq. (3.35), conclui-se que, um rotor isotrópico excitado por uma massa desbalanceadora precessiona sempre em sentido forward. 3.1.3 – Diagrama de Campbell do rotor com uma força axial Substituindo as hipóteses de deslocamento, eq. (2.7), na eq. (2.20) e separando a integral de volume em uma integral na seção transversal A e outra ao longo do comprimento L do eixo, temos: F U= o A L ∫∫ A 0 2 2 π 2 1 π 1 π πy πy πy sen ( x p1 + z p2 ) + cos p1 + cos p2 dxdzdy L 2L L 2L L L (3.26) L A primeira integral ∫∫ A 0 π 2 πy sen ( x p1 + z p2 ) dxdzdy é nula quando feita L L sobre toda a seção transversal, Figura 3.7: z x x ϕ z ∆ de = 2 re Figura 3.7 – Seção transversal do eixo do rotor onde: x = ∆ sen ϕ, y = ∆ cos ϕ, dxdz = dA = ∆ dϕ d∆ 44 Introdução à Dinâmica de Rotores Substituindo as expressões de x, y e dxdy na segunda integral, temos: re 2 π L ∫∫∫ 0 0 0 π 2 πy ( sen ϕ p1 + cos ϕ p2 ) δ2 dδ dϕ dy sen L L (3.27) Resolvendo a integral sobre a área, observa-se que os limites de integração em ϕ se anulam, anulando assim a integral: r L 3 e 2 2π δ π L ( − cos ϕ p1 + sen ϕ p2 ) 0 3 0 ∫ sen πy dy L (3.28) 0 A expressão final de energia de deformação para uma força axial aplicada no eixo é: U= Fo A L ∫∫ A 0 2 2 1 π 1π πy πy cos p cos p + 1 2 dxdzdy L 2 L L 2 L (3.29) 2πy πy 1 + cos L , tem-se: Resolvendo esta integral, e sabendo que cos = L 2 2 U= Fo π2 2 p1 + p22 4L ( ) (3.30) Aplicando as equações de Lagrange, eq. (2.24), e introduzindo os termos resultantes nas eqs. (3.6), temos: Introdução à Dinâmica de Rotores ii i F π2 m p1 − a Ω p2 + o + k p1 = 0 2L F π2 m p2 + a Ω p1+ o + k p2 = 0 2L ii i 45 (3.31) Supondo uma força axial de Fo = 1.000 N, o Diagrama de Campbell é da forma como apresentado pela Figura 3.8. Considerando que o rotor sujeito a força axial Fo é excitado por uma massa desbalanceadora md como visto anteriormente, as equações de movimento do rotor são: ii i F π2 m p1− a Ω p2 + o + k p1 = 0,866 md d Ω2 senΩt 2L F π2 m p2 + a Ω p1+ o + k p2 = 0,866 md d Ω2 cosΩt 2L ii i (3.32) A solução das eqs. (3.32) em regime permanente, é da forma apresentada pela eq. (3.19). Eliminado os termos em sen Ωt e cos Ωt temos: Fo π2 −m P1Ω + a P2Ω + + k P1 = 0,866 md d Ω2 2L 2 2 Fo π2 −m P2Ω + a P1Ω + + k P2 = 0,866 md d Ω2 2L 2 (3.33) 2 Sabendo-se que P1 = P2, temos que: 0,866 md d Ω2 P1 = P2 = Fo π2 + k + (a − m) Ω2 2L (3.34) 46 Introdução à Dinâmica de Rotores Novamente, a órbita realizada pelo eixo do rotor é circular, P1 = P2. Na velocidade crítica, as amplitudes P1 e P2 se tornam infinitas, o que corresponde a anular o denominador da eq. (3.34). Fo π2 + k 2L Ωc = m−a (3.35) Assim, a velocidade crítica para um rotor sujeito à uma força axial Fo = 1.000 N é Ωr = 147,4 rad/s = 23,5 ciclos/s = 23,5 hz. A resposta em freqüência (função da velocidade de rotação do rotor) de um ponto qualquer ao longo do comprimento do rotor devido a uma força axial, é também determinada a partir da eq. (3.2) e da eq. (3.34): u(y,t) = sen 0,866 md d Ω2 πy senΩt L Fo π2 2 + k + (a − m) Ω 2 L 0,866 md d Ω2 πy w(y,t) = sen cosΩt L Fo π2 + k + (a − m) Ω2 2 L (3.36) Na Figura 3.8, é traçado a resultante do deslocamento do centro do disco quando o rotor está sujeito à uma força axial Fo = 1.000 N. Comparando com a amplitude do centro do disco na velocidade crítica sem força axial, Figura 3.5, a amplitude neste caso é muito superior. Isto vem do fato da aplicação de uma força axial de tração, que aumentou a rigidez do eixo, e conseqüentemente a amplitude de vibração quando da passagem pela velocidade crítica. Introdução à Dinâmica de Rotores 47 100 1E-3 90 1E-4 80 1E-5 60 velocidade crítica 50 1E-6 40 30 Amplitude (m) Frequencia (Hz) 70 1E-7 Forward Backward 20 Resposta em freqüência 1E-8 Freqüência = rotação 10 0 1E-9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figure 3.8 – Deslocamento do centro do disco, Fo = 1.000 N Como P1 = P2, o sentido do movimento de precessão do rotor é forward. 3.1.4 – Resposta do rotor à uma força assíncrona Considere agora, o rotor sendo excitado por forças assíncronas do tipo Fo sen µΩt e Fo cos µΩt atuando no disco do rotor. Este caso pode ocorrer em rotores coaxiais e as forças assíncronas podem surgir devido ao desbalanceamento de um rotor secundário, Lalanne et al. (1998). O trabalho virtual devido a força assíncrona é: δW = Fo sen µ Ωt δu + Fo cos µ Ωt δw (3.37) onde δu e δw são os deslocamentos virtuais devidos à uma força assíncrona e µ ≠ 1. Substituindo os deslocamentos da eq. (3.2) na eq. (3.37), as forças generalizadas Fp1 e Fp2 aplicadas em uma posição qualquer do rotor principal são: 48 Introdução à Dinâmica de Rotores πy Fo sen µ Ωt = F sen µ Ωt L πy Fp2 = sen Fo cos µ Ωt = Fcos µ Ωt L Fp1 = sen (3.38) Introduzindo a eq. (3.38) na eq. (3.6), obtém-se as equações de movimento do rotor sujeito à uma força assíncrona: ii i ii i m p1 − a Ω p2 + k p1 = F sen µ Ωt (3.39) m p2 + a Ω p1 + k p2 = F cos µ Ωt onde m = 7,7766; a = 3,7782 e k = 74578,8. Em regime permanente, a solução das equações diferenciais acima são: p1 = P1 sen µ Ωt (3.40) p2 = P2 cos µ Ωt Substituindo a eq. (3.40) na eq. (3.39), temos: P1 = P2 = ( F ) aµ − m µ 2 Ω 2 + k (3.41) Aqui novamente, a órbita do eixo do rotor é circular, P1 = P2. Na velocidade crítica Ωc do rotor, as amplitudes P1 e P2 se tornam infinitas, logo da eq. (3.41): Ωc = k 2 m η − aη (3.42) Observa-se que para µ = 1, a velocidade crítica é a mesma obtida no caso de Introdução à Dinâmica de Rotores 49 um desbalanceamento, Ωc = 136,6 rad/s = 21,7 ciclos/s = 21,7 hz. Como P1 = P2, o sentido a precessão é também forward. 3.1.5 – Resposta do rotor à uma força fixa no espaço Considere agora, o rotor sendo excitado por uma força assíncrona do tipo F sen ωt atuando no disco do rotor principal. Este caso pode acontecer quando o rotor é acoplado a um rotor secundário que gira a uma velocidade ω e a força de excitação surge devido a um desbalanceamento no rotor secundário, Figure 3.9, ou excitando o rotor através de um mancal colocado numa posição y qualquer ao longo do eixo do rotor. ω Rotor secundário x z L/3 2L/3 Rotor principal Ω y Figura 3.9 – Rotor simplesmente apoiado acoplado Supondo que há uma força de excitação atuando na direção x, o trabalho virtual devido a esta força é: δW = Fo sen ωt δu (3.43) onde δu é o deslocamento virtual devido a uma força assíncrona. Substituindo os deslocamentos da eq. (3.2) na eq. (3.43), a força generalizada Fp1 aplicada num ponto qualquer do rotor principal é: 50 Introdução à Dinâmica de Rotores Fp1 = sen πy Fo sen ωt L (3.44) Fp2 = 0 Introduzindo a eq. (3.44) na eq. (3.6), obtém-se as equações de movimento do rotor sujeito à uma força assíncrona: ii i ii i m p1− a Ω p2 + k p1 = F sen ωt (3.45) m p2 + a Ω p1+ k p2 = 0 onde m = 7,7766, a = 3,7782 e k = 74578,8. Em regime permanente, a solução para as equações diferenciais acima são: p1 = P1 sen ωt (3.46) p2 = P2 cos ωt Substituindo a eq. (3.46) na eq. (3.45), e resolvendo o sistema temos: ( k − mω ) P = (k − mω ) − (aΩω) 2 1 P2 = 2 ( 2 2 (3.47) − ( aΩω) k − mω2 ) 2 − ( aΩω) F 2 F Pela eq. (3.47), observa-se que a trajetória do eixo do rotor não é mais circular, mas sim elíptica, P1 ≠ P2. Na velocidade crítica, as amplitudes P1 e P2 se tornam infinitas, logo da eq. (3.47): ( k − mω ) 2 2 − ( aΩω) = 0 2 (3.48) Introdução à Dinâmica de Rotores 51 ou : 2k a2 2 2 k 2 ω4 − + 2Ω ω + 2 =0 m m m (3.49) A eq. (3.49) é semelhante a eq. (3.10), onde as raízes da equação são as velocidades críticas, em função da velocidade do rotor, dadas por: 2 ω12 k k a2 2 a2 2 k2 = + − + − Ω Ω 2 2 2 m 2m m 2m m 2 (3.50) k k a a k 2 2 ω22 = + + + Ω Ω − 2 2 2 m 2m m 2m m 2 2 2 Diferentemente dos casos anteriores, desbalanceamento e força assíncrona, no caso de uma força fixa no espaço, em um mesmo modo de vibração, podem ocorrer duas velocidades críticas. Este comportamento é freqüentemente utilizado para reproduzir experimentalmente o Diagrama de Campbell do rotor. A resposta em freqüência de um ponto qualquer ao longo do comprimento do rotor devido a uma força fixa no espaço, é também determinada a partir da eq. (3.2) e da eq. (3.47): ( ) k − mω2 πy u(y,t) = sen F sen ωt L k − mω2 2 − ( aΩω)2 ( ) − ( aΩω) πy w(y,t) = sen Fcos ωt L k − mω2 2 − ( aΩω)2 ( (3.51) ) A Figura 3.10 apresenta as duas freqüências naturais na rotação do rotor em Ω = 80 rps. Uma comparação com a Figura 3.5 mostra que estas freqüências são ω1 ≅ 6 Hz e ω2 ≅ 42 Hz. 52 Introdução à Dinâmica de Rotores Amplitude (m) 1E-4 1E-5 1E-6 Forward Backward 15,59 1E-7 0 10 20 30 40 Frequencia (Hz) 50 60 Figure 3.10 – Deslocamento do centro do disco, Ω = 80 rps O sentido do movimento de precessão é determinado da seguinte forma: P1P2 > 0 (Forward) e P1P2 < 0 (Backward). Das eqs. (3.47), o produto P1P2 fornece: ( ) 2 − ( aΩω ) PP 1 2 = k − mω (3.52) ou: 2 PP 1 2 = −k + mω (3.53) Observa-se na eq. (3.53) que, como k é >> m, para pequenos valores de ω, a equação é negativa, assim, a precessão é Backward, e para grandes valores de ω, a equação é positiva, sendo a precessão portanto Forward. A mudança de sinal ocorre quando a eq. (3.53) for nula, o que ocorre para ω = 15,59 hz, considerando que m = 7,7766 e k = 74578,8. Introdução à Dinâmica de Rotores 53 3.2 – Rotor anisotrópico bi-apoiado No estudo do comportamento de rotores anisotrópicos, serão considerados mancais flexíveis, com Kxx = 10 104 N/m e Kzz = 20 104 N/m, Figura 3.11. Os termos de amortecimento Cxx, Czz e os termos de acoplamento Kxz, Kzx, Cxz e Czx são considerados nulos. z L/3 2L/3 y Kxx x kzz Kxx o 1 modo kzz Figura 3.11 – Rotor com mancais flexíveis e anisotrópicos Uma hipótese razoável do deslocamento em flexão do rotor para esta configuração pode ser da forma: u(y,t) = 1 mπy 1 + sen p1(t) 2 L 1 mπy w(y,t) = 1 + sen p2 (t) 2 L (3.54) Estas hipóteses de deslocamento verificam as condições de contorno do problema para y = 0 e y = L onde u ≠ 0 e w ≠ 0. Os deslocamentos uo e wo são função das rigidezes kxx e kzz nos apoios e podem ser considerados unitários para a determinação de freqüências e modos de vibração. O parâmetro m representa o número do modo em flexão a ser analisado. Todas as análises serão realizadas considerando somente o 1° modo em flexão, logo m = 1. A partir da eq. (3.54), observa-se que as rotações de seção e a energia de deformação do eixo têm as mesmas expressões que as dadas pela eq. (3.3) e (3.5) respectivamente. 54 Introdução à Dinâmica de Rotores Introduzindo as eq. (3.54) e (3.3) na eq. (2.4), a energia cinética do disco é dada por: 1 M TD = D 2 4 2 2 2 i 2 i 2 i πy π π 2 πy 2 πy + + + − 1 sin I cos p p I Ω cos p Dx 2 Dy 1 1 p2 L L L L L (3.55) Substituindo as eqs. (3.54) na eq. (2.22), a expressão que fornece o trabalho virtual devido a flexibilidade dos mancais é: δW = −k xx π0 1 π0 π0 π0 1 1 1 1 + sen p1 δ 1 + sen p1 − k zz 1 + sen p2 δ 1 + sen p2 2 L 2 L 2 L 2 L − k xx πL 1 πL πL πL 1 1 1 1 + sen p1 δ 1 + sen p1 − k zz 1 + sen p2 δ 1 + sen p2 2 L 2 L 2 L 2 L (3.56) Logo, a eq. (3.56) se resume em: δW = − 1 1 k xx p1 δp1 − k zz p2 δp2 2 2 (3.57) Assim, as forças generalizadas Fp1 e Fp2 são: Fp1 = −5 104 p1 Fp2 = −10 104 p2 (3.58) Considerando a eq. (3.6), e a equação de Lagrange eq. (2.18), as equações de movimento para o rotor anisotrópico são: Introdução à Dinâmica de Rotores ii i i i 55 m p1 − a Ω p2 + k p1 = −5 104 p1 (3.59) m p2 + a Ω p1 + k p2 = −10 104 p2 ou: ii i ii i m p1− a Ω p2 + k1 p1 = 0 (3.60) m p2 + a Ω p1+ k 2 p2 = 0 M onde, m = D 4 2 2 πy π 4 4 2 πy 1 + sin L + IDx L cos L , k1 = k + 5 10 e k2 = k + 10 10 . As constantes a e k são as mesmas apresentadas na eq. (3.6). A solução para a eq. (3.60) é também da forma apresentada pela eq. (3.7), que quando substituída na eq. (3.58) fornece a seguinte equação matricial: ( m s 2 + k1 aΩs ) P1 = 0 m s2 + k 2 P2 −a Ω s ( (3.61) ) O polinômio característico obtido na procura da solução não trivial é: k1 k 2 a 2 2 2 k1 k 2 s + + + 2Ω s + =0 m m m m m 4 (3.62) A expressão para a primeira raiz, correspondente a primeira freqüência ω1 é : 2 s12 k k1 k 2 k k1 k 2 a2 a2 2 2 Ω Ω = − 1 + 2 + − + + − 2 2 mm 2m 2m 2m 2m 2m 2m (3.63) 56 Introdução à Dinâmica de Rotores onde s1 = ± j ω1. E, a expressão para a segunda raiz, correspondente a segunda freqüência ω2 é : 2 s22 k k1 k 2 k k1 k 2 a2 a2 2 2 Ω Ω = − 1 + 2 + + + + − 2 2 mm 2m 2m 2m 2m 2m 2m (3.64) onde s2 = ± j ω2. Considerando o eixo e o disco do rotor da Figura 3.11 tendo as mesmas propriedades que o rotor da Figura 3.1, chega-se a m = 8,7226, a = 3,7782, k1 = 124578,8 e k2 = 174578,8, o Diagrama de Campbell para o rotor anisotrópico é como apresentado pela Figura 3.12. A resposta a um desbalanceamento em um rotor anisotrópico é analisada considerando o deslocamento da massa desbalanceadora da forma: L π u u( ,t) = r senΩt + d senΩt = o (1 + sen ) + d sen Ωt 3 3 2 L π w w( ,t) = r cosΩt + dcosΩt = o (1 + sen ) + d cos Ωt 3 3 2 (3.65) Usando o mesmo procedimento usado nas eqs. (3.15), (3.16) e (3.17), as equações de movimento em um rotor anisotrópico são da forma: ii i ii i m p1 − a Ω p2 + k1 p1 = 0,933 md d Ω2 senΩt 2 m p2 + a Ω p1 + k 2 p2 = 0,933 md d Ω cosΩt A substituição da solução, eqs. (3.19), nas eqs. (3.66) resulta em: (3.66) Introdução à Dinâmica de Rotores 57 (k − (m + a ) Ω ) 0,933 m d Ω P = (k − mΩ )(k − mΩ ) − a Ω (k − (m + a ) Ω ) 0,933 m d Ω P = (k − mΩ )(k − mΩ ) − a Ω (3.67) 2 2 1 2 1 d 2 2 2 2 1 2 2 1 d 2 2 2 2 4 2 4 Observa-se pela eq. (3.67) que a órbita percorrida pelo eixo do rotor é elíptica, P1 ≠ P2. Na velocidade crítica, as amplitudes P1 e P2 teoricamente se tornam infinitas, o que corresponde a anular o denominador da eq. (3.67). Rearranjando a eq. (3.67), o polinômio, cujas raízes são as velocidades críticas do rotor, é: (m 2 ) − a 2 Ω4 − m (k1 + k 2 ) Ω2 + k1k 2 = 0 (3.68) A primeira velocidade crítica, onde a velocidade de rotação se iguala a freqüência natural do rotor, é Ωc1 = ω = 106,8 rad/s = 17,0 hz e a segunda velocidade crítica é Ωc2 = ω = 175,9 rad/s = 28,0 hz. 100 1.0E-1 Backward 90 Forward 1.0E-2 Resposta em frequencia 80 Frequencia = rotacao 1.0E-3 1.0E-4 60 50 1.0E-5 40 1.0E-6 30 velocidades críticas 20 1.0E-7 1.0E-8 10 28 17 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 1.0E-9 90 100 Amplitude (m) Frequencia (Hz) 70 58 Introdução à Dinâmica de Rotores Figure 3.12 – Diagrama de Campbell e deslocamento do eixo de um rotor anisotrópico Da observação da Figura 3.12, pelo fato da amplitude ser maior, conclui-se que a segunda velocidade crítica, correspondente ao movimento de precessão forward, é a que apresenta maior perigo. O sentido do movimento de precessão é determinado pelo sinal do produto P1P2, logo: ( )( 2 PP k 2 − (m + a ) Ω2 1 2 = k1 − ( m + a ) Ω ) (3.69) Como k1 < k2: Ω< k1 m+a P1 > P2 Ω= k1 m+a P1 ≠ 0 k1 < Ω < ω1 m+a P1 > P2 k2 ω1 < Ω < m+a P1 < P2 Ω= k2 m+a P1 = 0 Ω> k2 m+a P1 < P2 Forward e P2 = 0 Backward (3.70) Backward e P2 ≠ 0 Forward As eqs. (3.70) podem ser melhor interpretadas com as Figuras 3.13 e 3.14. P2 P1 P2 P1 P2 + P1 P2 P1 Forward 0 - P2 Backward k1 m+a P2 - + P1 P1 Forward Backward ω1 k2 m+a Ω ω2 Introdução à Dinâmica de Rotores 59 Figure 3.13 – Órbita do centro do eixo em um rotor anisotrópico 1.0E-1 1.0E-2 1.0E-4 1.0E-5 1.0E-6 1.0E-7 1.0E-8 Forward 15,9 1.0E-9 0 10 Backward Amplitude (m) 1.0E-3 Forward 18,8 20 30 40 Velocidade de rotação (rps) 50 Figure 3.14 – Sentido da precessão do centro do eixo de um rotor anisotrópico 3.3 – Efeito dos termos de acoplamento nos mancais No estudo do comportamento de rotores com termos de acoplamento nos mancais, as propriedades consideradas são: Kxx = 2,5 104 N/m, Kzz = 5 104 N/m, Kxz = Kzx = 4 103 N/m. Os termos de amortecimento Cxx, Czz, Cxz e Czx são neste caso considerados nulos. 60 Introdução à Dinâmica de Rotores Considerando o procedimento utilizado no item 3.2 para a obtenção das rigidezes nos mancais, as forças generalizadas Fp1 e Fp2 são: Fp1 = −5 104 p1 − 8 103 p2 Fp2 = −10 104 p2 + 8 103 p1 (3.71) As equações de movimento para o rotor nesta configuração são então da forma: ii i ii i m p1 − a Ω p2 + k1 p1 + k12 p2 = 0 (3.72) m p2 + a Ω p1 + k 2 p2 + k 21 p1 = 0 onde k1 = k + 5 104, k2 = k + 10 104, k12 = 8 103 e k21 = - 8 103. Para fins de simplificação de notação, será considerado k = k1. A eq. (3.72) pode também ser colocada de uma forma matricial: ii i m 0 p1 0 −aΩ p1 k1 k12 p1 + =0 0 m ii + aΩ 0 i k 21 k 2 p2 p 2 p2 (3.73) A solução da eq. (3.73) é também a eq. (3.7), que pode ser também colocada de uma forma vetorial: p1 P1 st = e p2 P2 (3.74) ou de forma compacta: p = P est A eq. (3.75) pode também ser colocada de forma compacta: (3.75) Introdução à Dinâmica de Rotores ii 61 i M p+ Cp + K p = 0 (3.76) onde M é a matriz de massa, C é a matriz giroscópica e de amortecimento e K é a matriz de rigidez do sistema. Substituindo a eq. (3.75) na eq. (3.76), o sistema de equações a ser resolvido pode ser colocado da forma: 0 MP M 0 P −K −C sP = s 0 M sP (3.77) A eq. (3.77), colocada desta forma é um problema de autovalor-autovetor do tipo [ A ] {X} = s [B] {X} , onde s representa os autovalores e {X} seus autovetores correspondentes. Os autovalores são complexos do tipo s = λ ± jω, onde um valor positivo de λ indica um aumento exponencial da amplitude do rotor, tornando-o instável, logo para λ < 0: rotor estável e λ > 0: rotor instável. A variável ω representa as freqüências naturais do rotor. Vale ressaltar que o sistema de equações dado pela eq. (3.76) é de ordem 2, enquanto o sistema de equações dado pela eq. (3.77) é de ordem 4. As equações de movimento do rotor quando submetido à um desbalanceamento, levando em consideração os termos de acoplamento são da forma: ii i ii i m p1 − a Ω p2 + k1 p1 + k12 p2 = 0,866 md d Ω2 senΩt (3.78) 2 m p2 + a Ω p1 + k 2 p2 + k 21 p1 = 0,866 md d Ω cosΩt Em regime permanente, a solução das equações diferenciais acima são: p1 = P1 senΩt + Q1 cosΩt p2 = P2 senΩt + Q2 cosΩt (3.79) 62 Introdução à Dinâmica de Rotores Substituindo a eq. (3.79) na eq. (3.78), e isolando os termos em senΩt e cosΩt, o sistema a ser resolvido se colocada da forma: k1 − mΩ2 0 k 21 2 aΩ 0 k12 k1 − mΩ2 −aΩ2 −aΩ2 k 2 − mΩ2 k 21 0 P m* dΩ2 1 k12 Q1 0 P = 0 0 2 * 2 k 2 − mΩ2 Q2 m dΩ aΩ2 (3.80) Com a resolução do sistema, obtém-se P1, Q1, P2 e Q2, que quando substituídos em (3.79) fornecem p1 e p2, e que conseqüentemente, quando substituídos em (3.54) fornecem a resposta em freqüência de um ponto qualquer ao longo do comprimento do rotor. Logo: u(y,t) = πy 1 1 + sen (P1 senΩt + Q1 cosΩt ) 2 L 1 πy w(y,t) = 1 + sen (P2 senΩt + Q2 cosΩt ) 2 L (3.81) Como exemplo de aplicação, deseja-se traçar o Diagrama de Campbell e determinar o deslocamento do centro do disco, y = L/3, considerando m = 8,7226, a = 3,7782, k1 = 124578,8, k2 = 174578,8, k12 = 8 103 e k21 = - 8 103, conforme mostra a Figura 3.15. Da resolução da eq. (3.77) para cada velocidade Ω, observa-se que a parte real dos autovalores λ é sempre positiva, o que faz com que o rotor esteja em uma situação de instabilidade. Introdução à Dinâmica de Rotores 100 63 1.0E-1 90 1.0E-2 80 1.0E-3 1.0E-4 60 instável 50 1.0E-5 40 1.0E-6 Amplitude (m) Frequencia (Hz) 70 30 1.0E-7 20 1.0E-8 10 0,0 0 1.0E-9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figura 3.15 – Diagrama de Campbell e deslocamento do centro do disco 3.4 – Efeito do amortecimento dos mancais Considere um rotor com propriedades de mancais do tipo: Kxx = 2,5 104 N/m, Kzz = 5 104 N/m, Kxz = Kzx = 0, Cxx = 0,5.102 N/m/s, Czz = 1.102 N/m/s e Cxz = 0 e Czx = 0 (ver Figura 1.13). Substituindo as derivadas no tempo das eqs. (3.54) na eq. (2.22), obtém-se a expressão que fornece o trabalho virtual. Logo, as forças generalizadas Fp1 e Fp2 são: i Fp1 = −5. 104 p1 − 1. 102 p1 4 2 i Fp2 = −10. 10 p2 − 2. 10 p2 (3.82) 64 Introdução à Dinâmica de Rotores Considerando a eq. (3.6), e a equação de Lagrange eq. (2.18), as equações de movimento para o rotor com amortecimento externo são: ii i ii i i m p1 − a Ω p2 + k p1 = −5 104 p1 − 2 102 p1 5 2 (3.83) i m p2 + a Ω p1 + k p2 = −5 10 p1 − 4 10 p2 ou : ii i i ii i i m p1− a Ω p2 + c1 p1+ k1 p1 = 0 (3.84) m p2 + a Ω p1+ c 2 p2 + k 2 p2 = 0 onde c1 = 1.102 e c2 = 2.102. A eq. (3.84) pode ser colocada de uma forma matricial: ii i m 0 p1 c1 −aΩ p1 k1 0 p1 0 m ii + aΩ c i + 0 k p = 0 p 2 2 2 2 p2 (3.85) A eq. (3.85) pode também ser colocada na forma da eq. (3.74). A solução representa os autovalores e seus autovetores associados. As equações de movimento do rotor quando submetido à um desbalanceamento, levando em consideração o amortecimento externo é do tipo: ii i i ii i i m p1 − a Ω p2 + c1 p1 + k1 p1 = 0,933 md d Ω2 senΩt 2 m p2 + a Ω p1 + c 2 p2 + k 2 p2 = 0,933 md d Ω cosΩt (3.86) Introdução à Dinâmica de Rotores 65 Em regime permanente, a solução para as equações diferenciais acima é também dada pela eq. (3.75), que quando substituída na eq. (3.86), e isolando os termos em senΩt e cosΩt, o sistema a ser resolvido se coloca da forma: k1 − mΩ2 0 aΩ2 P1 m*dΩ2 −c1Ω −aΩ2 k1 − mΩ2 0 c1Ω Q1 0 P = 0 2 2 − − − 0 aΩ k mΩ c Ω 2 2 2 Q2 m*dΩ2 2 aΩ2 0 c 2Ω k 2 − mΩ (3.87) Com a resolução do sistema, obtém-se P1, Q1, P2 e Q2, que quando substituídos em (3.76) fornecem p1 e p2, e que conseqüentemente, quando substituídos em (3.54) fornecem a resposta em freqüência de um ponto qualquer ao longo do comprimento do rotor (ver eq. (3.81)). Como exemplo de aplicação, deseja-se traçar o Diagrama de Campbell e determinar o deslocamento do centro do disco, y = L/3, considerando m = 8,7226, a = 3,7782, k1 = 124578,8, k2 = 174578,8, c1 = 100 e c2 = 200, conforme mostra a Figura 3.16. 66 Introdução à Dinâmica de Rotores 100 1.0E-1 Backward 90 80 Resposta em frequencia 1.0E-3 1.0E-4 60 50 1.0E-5 40 1.0E-6 Amplitude (m) Frequencia = rotacao 70 Frequencia (Hz) 1.0E-2 Forward 30 1.0E-7 20 velocidades críticas 10 0 1.0E-8 1.0E-9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figure 3.16 – Diagrama de Campbell e deslocamento do centro do disco Comparando a Figura 3.16 com a Figura 3.12, verifica-se que houve uma leve alteração no Diagrama de Campbell, no entanto, houve uma redução bastante sensível na amplitude de vibração do eixo. 3.5 – Efeito do amortecimento interno O efeito do amortecimento interno em uma estrutura, inerente ao seu material, é considerado matematicamente da seguinte forma: i σ = E ε + ηE ε (3.88) Introdução à Dinâmica de Rotores 67 onde η e ε são o fator de amortecimento interno viscoso e a taxa de deformação, respectivamente. Substituindo a eq. (3.88) na eq. (2.5), tem-se: U= i E 2 ε + η ε ε dV ∫ 2 V (3.89) A taxa de deformação calculada no sistema de coordenadas de referência, segundo a eq. (2.7), pode ser colocada da forma: i ε = −x 2 i * 2 i ∂ u ∂ w* − z ∂y 2 ∂y 2 (3.90) i i * onde u e w * são as velocidades de um ponto arbitrário da seção transversal do eixo nas direções x e z do sistema de referência, respectivamente. Considerando a eq. (2.11), estas velocidade são: i i i i i i u* = u cosΩt − w senΩt − Ω u senΩt − Ω w cosΩt (3.91) w * = u senΩt + w cosΩt + Ω u cosΩt − Ω w s enΩt Substituindo as eq. (3.90) na eq. (3.89), temos: 1 U= E 2 ∫ V + 1 ηE 2 2 ∂ 2u * ∂2w * − − x z dV 2 2 y y ∂ ∂ ∫ V i i 2 2 ∂ 2u * u* w* ∂ ∂ ∂ 2w * −x −z −z −x dV ∂y 2 ∂y 2 ∂y 2 ∂y 2 e, substituindo as eq. (2.11) e (3.91) na eq. (3.92), temos: (3.92) 68 Introdução à Dinâmica de Rotores L 1 U = EI 2 ∂ 2u 2 ∂ 2 w 2 1 2 + 2 dy + η E I 2 ∂y ∂y ∫ 0 L + ∫ 1 ηEI 2 0 L ∫ 0 i 2 2 i 2 2 u u w w ∂ ∂ ∂ ∂ + dy ∂y 2 ∂y 2 ∂y 2 ∂y 2 (3.93) ∂ 2u ∂ 2 w ∂ 2 w ∂ 2u − + Ω Ω 2 2 2 2 dy ∂y ∂y ∂y ∂y Substituindo a eq. (3.2) na eq. (3.93), a energia de deformação do eixo considerando o amortecimento interno é: L 4 1 π 2 2 2 πy U = EI sen dy p1 + p2 + 2 L L 0 ∫ ( ) L 4 i 1 i π 2 πy + ηEI sen dy p1 p1+ p2 p2 2 L L 0 ∫ (3.94) L 4 π 1 2 πy + ηEI sen dy ( −Ω p1 p2 + Ω p2 p1 ) 2 L L 0 ∫ Aplicando as equação de Lagrange, (2.18), nas eq. (3.4) e, considerando agora o amortecimento interno do eixo na expressão de energia de deformação, eq. (3.94), a equação de movimento do rotor é da forma: ii i i ii i i m p1− a Ω p2 + η k p1+ k1 p1 − η k Ω p2 = 0 m p2 + a Ω p1+ η k p2 + k 2 p2 + η k Ω p1 = 0 A eq. (3.95) pode também ser colocada de uma forma matricial: (3.95) Introdução à Dinâmica de Rotores 69 ii i −η k Ω p1 m 0 p1 η k −aΩ p1 k1 =0 0 m ii + aΩ η k i + η k Ω k 2 p2 p p 2 2 (3.96) A eq. (3.96) pode também ser colocada na forma da eq. (3.74). A solução representa os autovalores e seus autovetores associados. Como exemplo de aplicação, deseja-se traçar o Diagrama de Campbell e determinar o deslocamento do centro do disco, y = L/3, considerando m = 7,7766, a = 3,7782, k1 = 124578,8, k2 = 174578,7, k = 74578,8. As Figuras 3.17, 3.18 e 3.19 ilustram o efeito do amortecimento interno com os respectivos valores: η = 0,005, η = 0,05 e η = 0,5. 100 Backward 90 Forward 80 Resposta em frequencia 1.0E-1 1.0E-2 1.0E-3 instável 1.0E-4 60 50 1.0E-5 40 1.0E-6 Amplitude (m) Frequencia (Hz) 70 30 1.0E-7 20 1.0E-8 10 27,0 0 1.0E-9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figura 3.17 – Diagrama de Campbell e deslocamento do centro do disco (η = 0,005) 70 Introdução à Dinâmica de Rotores 100 1.0E-1 Backward 90 Forward 80 1.0E-2 Resposta em frequencia 1.0E-3 instável 1.0E-4 60 50 1.0E-5 40 1.0E-6 Amplitude (m) Frequencia (Hz) 70 30 1.0E-7 20 1.0E-8 10 29,0 0 1.0E-9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figura 3.18 – Diagrama de Campbell e deslocamento do centro do disco (η = 0,05) 100 1.0E-1 Backward Forward 80 Resposta em frequencia Frequencia (Hz) 70 instável 60 50 1.0E-2 1.0E-3 1.0E-4 1.0E-5 40 1.0E-6 Amplitude (m) 90 30 1.0E-7 20 1.0E-8 10 28,0 0 1.0E-9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figura 3.19 – Diagrama de Campbell e deslocamento do centro do disco (η = 0,5) Introdução à Dinâmica de Rotores 71 Observa-se pelas Figuras 3.17, 3.18 e 3.19 que com o aumento do amortecimento, o modo de vibração backward tender a desaparecer e que a instabilidade inicia a partir da segunda velocidade crítica. No exemplo a seguir, é considerado um rotor com as seguintes propriedades: m = 7,7766, a = 3,7782, k1 = 124578,8, k2 = 174578,7, k = 74578,8 e η = 0,5. Além do amortecimento interno, será introduzido amortecimento externo nos mancais com c1 = 25 e c2 = 50, conforme mostra a Figura 3.20. A comparação entre as Figuras 3.20 e 3.19 mostra que a introdução de amortecimento externo nos mancais faz com que a instabilidade do rotor se dê em velocidades maiores que a segunda velocidade crítica (90,0 rps). 100 1.0E-1 Backward 90 1.0E-2 Forward 80 Resposta em frequencia 1.0E-3 1.0E-4 60 instável 50 1.0E-5 40 1.0E-6 Amplitude (m) Frequencia (Hz) 70 30 1.0E-7 20 1.0E-8 10 90,0 0 1.0E-9 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figura 3.20 – Diagrama de Campbell e deslocamento do centro do disco 3.3 – Rotor isotrópico em balanço O método de Rayleigh-Ritz, permite também prever o comportamento de 72 Introdução à Dinâmica de Rotores rotores em balanço como mostra a Figura 3.21 a partir de uma aproximação do campo de deslocamento no primeiro modo de vibração da forma como apresentado pela eq. (3.97). Os mancais são inicialmente considerados rígidos, não tendo influência nas equações de movimento do rotor. z L/2 L/2 y x 1° modo Ω Figura 3.21 – Rotor isotrópico em balanço 2 y y u(y,t) = − 2 p1(t) L L 2 y y w(y,t) = − 2 p2 (t) L L (3.97) Estas hipóteses de deslocamento verificam as condições de contorno do problema para y = 0 e y = L/2 onde u = w = 0. As rotações de seção são determinadas fazendo (ver Figura 2.3): y ∂w 1 = − 4 2 p1 ∂y L L ∂u y 1 ψ(y,t) = − = − − 4 2 p2 ∂y L L θ(y,t) = (3.98) As equações de movimento do rotor são obtidas a partir das energia cinética do disco energia de deformação do eixo. Assim, introduzindo as eq. (3.97) e (3.98) na eq. (2.4), a energia cinética do disco é dada por: Introdução à Dinâmica de Rotores 73 2 2 2 2 2 i 2 y 1 y i y i y 1 1 TD = MD − 2 + IDx − 4 2 p1 + p2 − IDy Ω − 4 2 p2 p1 2 L L L L L L (3.99) Como o disco está situado a y = L, a expressão de energia cinética do disco é da forma: TD = 2 i 2 1 9 i 9 i M I p p + + − IDy Ω 2 p2 p1 D Dx 2 1 2 2 L L (3.100) Substituindo a eq. (3.97) na eq. (2.17), a energia de deformação do eixo é dada da forma: 2 L 4 1 U = E I 2 dy p12 + p22 2 L 0 ∫ ( ) (3.101) Da aplicação da equação de Lagrange, eq. (2.24), nas eqs. (3.99) e (3.101), temos: ii i ii i m p1− a Ω p2 + k p1 = 0 (3.102) m p2 + a Ω p1+ k p2 = 0 com: m = MD + IDx 9 2 L , a = IDy 9 2 L ,k= 16 EI L3 . O procedimento de resolução da eq. (3.102) é o mesmo apresentado anteriormente, não necessitando de maiores comentários. 74 Introdução à Dinâmica de Rotores Como exemplo de aplicação, considere a rotor com a configuração mostrada na Figura 3.21, com os seguintes dados; disco rígido: IDx = 0,1225 kg.m2, IDy = 0,2450 kg.m2, MD = 7,85 kg; eixo: L = 0,4 m, I = 0,49 10-9 m4, E = 2 10 11 N/m2. Substituindo estes dados nas equações acima tem-se: m = 14,74 e a = 13,78 e k = 24500. A Figura 3.22 apresenta o Diagrama de Campbell e a resposta em freqüência considerando uma massa desbalanceadora, md = 0,001 kg, colocada sobre o disco a uma distância de 0,05 m do centro. Comparando o rotor na configuração bi-apoiado com a configuração em balanço, verifica-se uma redução na freqüência com o rotor parado (ω(Ω=0) = 15,5 hz contra ω(Ω=0) = 6,5 hz), enquanto que a velocidade crítica aumentou (Ωc = 21,7 hz contra Ωc = 25,4 hz). Observa-se que o efeito giroscópico é neste caso muito mais acentuado (a = 3,7782 contra a = 13,78). 1.00E-1 Backward 90 Forward Resposta em frequencia 80 Frequencia = rotacao Frequencia (Hz) 70 60 1.00E-2 1.00E-3 1.00E-4 50 1.00E-5 40 velocidade crítica 30 Amplitude (m) 100 1.00E-6 20 1.00E-7 10 0 1.00E-8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figure 3.22 – Diagrama de Campbell e resposta em freqüência para o rotor isotrópico em balanço Pelo método de Rayleigh-Ritz, é possível verificar a influência de uma massa distribuída entre y = L/8 e y = 3L/8 como mostra a Figura 3.23. O efeito desta massa no Introdução à Dinâmica de Rotores 75 comportamento do rotor pode ser considerado de duas formas: a) concentrando toda a massa em y = L/4 e b) concentrando 1/3 da massa em y = L/8, y = L/4 e y = 3L/8. z L/2 L/2 x y Mc L/8 Ω 3L/8 Figura 3.23 – Rotor isotrópico em balanço a) Concentrando Mc em y = L/4: A energia cinética da massa nesta situação é: 1 TD = Mc 2 2 1 1 − 2 4 4 2 i i p1 + p2 2 2 (3.103) Logo a massa efetiva da massa distribuída é mc = 0,015625 Mc. E a massa efetiva de todo o conjunto girante é m = MD + IDx 9 L2 + 0,015625Mc . A energia de deformação da massa distribuída pode ser calculada da forma: 2 3L / 8 1 4 U= EI dy p12 + p22 2 2 L L/8 ∫ ( ) (3.104) Logo a rigidez efetiva da massa distribuída é k c = todo o conjunto girante é k = 16EI 3 L + 4EIc L3 4EIc L3 . E a rigidez efetiva de . A Figura 3.24 mostra o comportamento do 76 Introdução à Dinâmica de Rotores rotor para uma massa distribuída com: Mc = 6 kg, E = 2 10 11 N/m2 e Ic = 7,36 10-9 m4, para esta situação, onde m = 14,83, a = 13,78 e k = 116538,84. A velocidade crítica para esta situação é (ver eq. (3.22)) Ωc = 53,02 hz. 100 1.00E-1 90 1.00E-2 velocidade crítica Frequencia (Hz) 70 1.00E-3 60 1.00E-4 50 1.00E-5 40 Backward 30 1.00E-6 Forward 20 Resposta em frequencia Frequencia = rotacao 10 Amplitude (m) 80 0 1.00E-7 1.00E-8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Velocidade de rotação (rps) 90 100 Figure 3.24 – Diagrama de Campbell e resposta em freqüência para o rotor isotrópico em balanço com massa distribuída b) Concentrando 1/3 da massa em y = L/8, y = L/4 e y = 3L/8: A energia cinética da massa nesta situação é: 1 M TD = c 2 3 2 2 2 2 2 1 M 1 M 3 1 1 3 − 2 + c − 2 + c − 2 3 4 3 8 8 4 8 8 2 i i + p p 1 2 2 2 (3.105) Logo a massa efetiva da massa distribuída é mc = 0,0111075 Mc. E a massa efetiva de todo o conjunto girante é m = MD + IDx 9 L2 + 0,011075Mc . Considerando a Introdução à Dinâmica de Rotores 77 mesma massa acima têm-se que: m = 14,81, a = 13,78 e k = 116538,84. A velocidade crítica para esta situação é (ver eq. (3.22)) Ωc = 53,53 hz. 78 Introdução à Dinâmica de Rotores 4 – RESPOSTA TRANSIENTE DO ROTOR O presente capítulo avalia o comportamento dinâmico de rotores em função do tempo a partir da definição do campo de deslocamentos definido pelo método de Rayleigh-Ritz. 4.1 – Equações e soluções A expressão de energia cinética de um disco, considerando agora a velocidade i i de rotação do rotor como função do tempo φ = φ (t) é colocada da forma (ver eq. (2.4)): TD = 1 MD 2 i2 i 2 1 u + w + IDx 2 i i i2 i2 i 2 1 θ + ψ + ψ θ φ + φ I I Dy Dy 2 (4.1) Introduzindo as eq. (3.2) e (3.3) na eq. (4.1), a energia cinética do disco é: 2 2 i i 2 i 2 1 π π πy i 2 πy 2 πy TD = MD sin + IDx cos p1 + p2 − IDy cos2 p1 p2 φ 2 L L L L L (4.2) A aplicação das equações de Lagrange, eq. (2.24) na eq. (4.2) fornece: 2 2 i i ii ii d ∂TD ∂TD π π 2 πy 2 πy 2 πy M sin I cos p I cos p p − = + − φ + φ D 2 L Dx L L 1 Dy L L 2 dt i ∂p1 p ∂ 1 2 i i ii π 2 d ∂TD ∂TD π 2 πy 2 πy 2 πy + M sin I cos p I cos − = + p1 φ D Dx 2 Dy dt i ∂p2 L L L L L ∂ p2 (4.3) A expressão de energia de deformação do eixo é (ver eq. (3.5)) : Introdução à Dinâmica de Rotores L 4 1 π 2 2 2 πy U= EI sen dy p1 + p2 2 L L 0 ∫ ( 79 ) (4.4) A aplicação das equações de Lagrange, eq. (2.24) na eq. (4.2) fornece: 4 L ∂U π πy = E I ∫ sen2 dy p1 ∂p1 L 0 L L ∂U π πy = E I ∫ sen2 dy p2 ∂p2 L 0 L 4 (4.5) A expressão de energia cinética de uma massa desbalanceadora, considerando que φ = Ωt é (ver eq. (3.15)) : m Tm = d 2 2 2 i i i i 0,866 p1 + d φ cos φ + 0,866 p2 − d φ senφ (4.6) Desenvolvendo a eq. (4.6), tem-se: Tm = md 2 i2 i i i2 i i i2 2 0,75 p1 + 1,732 d cos φ p1 φ+ 0,75 p2 − 1,732 d senφ p2 φ+ d φ (4.7) Aplicando as equações de Lagrange na eq. (4.7): ii i2 ii d ∂Tm ∂Tm − = + φ φ − φ 0,75 m p 0,866 m d cos senφ d 1 d i ∂p1 dt ∂ p1 ii i2 ii d ∂Tm ∂Tm 0,75 m p 0,866 m d sen cos − = − φ φ + φ φ d 2 d dt i ∂p2 ∂ p2 (4.8) 80 Introdução à Dinâmica de Rotores Considerando que a massa desbalanceadora é muito inferior a massa do disco ii ii (md << MD), os termos 0, 75 md p1 e 0, 75 md p2 podem ser desprezados. Logo as equações de movimento do rotor considerando a velocidade do rotor função do tempo são colocadas da forma: ii ii i i m p1 − a φ p2 + φ p2 + k p1 = 0,866 md i2 ii d φ cos φ − φ senφ i2 ii m p2 + a φ p1 + k p2 = −0,866 md d φ senφ + φ cos φ ii (4.9) i i A eq. (4.9) pode também ser colocada de uma forma matricial: i i ii m 0 p1 0 −a φ p1 k i + 1 0 m ii + i p a φ 0 p2 0 2 i2 ii 0,866 m d φ cos φ − φ sen φ d ii p −a φ 1 = 2 i ii k 2 p2 −0,866 md d φ senφ + φ cos φ (4.10) Colocando a eq. (4.10) de forma compacta : ii i M p(t) + C(t) p(t) + K(t) p(t) = F(t) (4.11) A eq. (4.11) deve ser resolvida a cada instante t, ou seja: ii i M p(t + ∆t) + C(t + ∆t) p(t + ∆t) + K(t + ∆t) p(t + ∆t) = F(t + ∆t) (4.12) É comum usar o método de Newmark para resolver a eq. (4.11) onde considerase que as velocidades e os deslocamentos no instante (t+∆t) são da forma: Introdução à Dinâmica de Rotores 81 ii ∆t ii p(t) + p(t + ∆t) 2 (4.13) i i p(t + ∆t) = p(t) + e: ∆t 2 p(t + ∆t) = p(t) + p(t) ∆t + 4 i ii ii p(t) p(t + + ∆t) (4.14) A eq. (4.14) pode ser colocada como: ii i ii 4 p(t + ∆t) = p(t + ∆t) − p(t) − p(t) ∆t 2 − p(t) ∆t (4.15) Substituindo a eq. (4.15) na eq. (4.13) resulta em: i p(t + ∆t) = i 2 [p(t + ∆t) − p(t)] − p(t) ∆t (4.16) Substituindo as eqs. (4.15) e (4.16) na eq. (4.12) e rearranjando os termos: 4M 2 2 + C(t + ∆t) + K(t + ∆t) p(t + ∆t) = F(t + ∆t) ∆t ∆t ii 4M 2 4M i + 2 + C(t + ∆t) p(t) + + C(t + ∆t) p(t) + Mp(t) ∆t ∆t ∆t (4.17) A solução da eq. (4.17) fornece p(t + ∆t) , e as eqs. (4.15) e (4.16) fornecem ii i respectivamente, p(t + ∆t) e p( t + ∆t) . O procedimento se inicia em t0 = 0 com as i ii condições iniciais p(0) e p(0) conhecidas. A aceleração p(0) é facilmente obtida i ii introduzindo as quantidades p(0), p(0) e p(0) na eq. (4.11). No primeiro passo ∆t, a eq. (4.17) é colocada da forma: ii 4M 2 2 + C(∆t) + K(∆t) p(∆t) = F(∆t) + Mp(t) ∆t ∆t (4.18) 82 Introdução à Dinâmica de Rotores i ii Assim, p(∆t) é obtido e, p( ∆t) e p(∆t) são obtidos das eqs. (4.16) e (4.15) respectivamente. 4.2 – Exemplos de aplicação Rotor isotrópico Considere um rotor isotrópico, onde por conveniência os eixos coordenados são colocados conforme apresentado pela Figura 4.1. Desta forma, os dados são os seguintes: disco rígido: IDy = IDz = 0,0081 kg.m2, IDx = 0,0162 kg.m2 e MD = 4 kg; eixo : L = 0,36 m, I = 0,49 10-9 m4, E = 2 1011 N/m2. O produto massa desbalanceadora colocada sobre o disco pela sua distância é md.d = 0,0001 kg.m. Vale ressaltar que o vetor rotação do rotor Ω é paralelo à direção x e evolui linearmente no tempo da forma: Ω = C0.t, sendo C0 a aceleração do rotor. y L/3 2L/3 x z Ω Figura 4.1 – Disco em y = L/3 O Diagrama de Campbell para o rotor em questão está apresentado na Figura 4.2. Introdução à Dinâmica de Rotores 83 Figura 4.2 – Diagrama de Campbell – rotor isotrópico A Figura 4.3 ilustra a resposta transiente medida na posição onde se encontra o disco sendo a aceleração C0 = 40 rad/s2 e o número de passos 1000 (time steps). Figura 4.3 – Resposta transiente com C0 = 40 rad/s2 – rotor isotrópico 84 Introdução à Dinâmica de Rotores A Figura 4.4 ilustra a resposta transiente medida na posição onde se encontra o disco com a aceleração C0 = 60 rad/s2 e o número de passos 1000 (time steps). Observa-se que com a aceleração de 60 rad/s2, as amplitudes do rotor são menores que com a aceleração de 40 rad/s2. Figura 4.4 – Resposta transiente com C0 = 60 rad/s2 – rotor isotrópico A Figura 4.5 apresenta a órbita do eixo do rotor no intervalo de tempo de 2,5 a 3 s. Pode-se observar que a órbita é circular e, de acordo com a direção do vetor rotação do rotor apresentado na Figura 4.1, o movimento de precessão é direto. Introdução à Dinâmica de Rotores 85 Figura 4.5 – Órbita circular de um rotor isotrópico Rotor anisotrópico Considere um rotor anisotrópico, conforme apresentado pela Figura 4.6 com os seguintes dados: disco rígido: IDy = IDz = 0,0225 kg.m2, IDx = 0,045 kg.m2 e MD = 4 kg; eixo: L = 0,36 m, I = 0,49 10-9 m4, E = 2 1011 N/m2 e rigidez dos mancais: kyy = 1.106 N/m e kzz = 1.108 N/m. O produto massa desbalanceadora colocada sobre o disco pela sua distância é md.d = 0,0001 kg.m. O vetor rotação do rotor Ω é também paralelo à direção x e evolui linearmente no tempo da forma: Ω = C0.t, sendo C0 a aceleração do rotor. y L/3 Kzz z Kyy 2L/3 Kzz x Kyy Ω Figura 4.6 – Rotor com mancais flexíveis e anisotrópicos O Diagrama de Campbell para o rotor em questão está apresentado na Figura 4.7. 86 Introdução à Dinâmica de Rotores Figura 4.7 – Diagrama de Campbell – rotor anisotrópico A Figura 4.8 ilustra a resposta transiente medida na posição onde se encontra o disco com a aceleração C0 = 60 rad/s2 e o número de passos 1000 (time steps). Figura 4.8 – Resposta transiente com C0 = 60 rad/s2 – rotor anisotrópico Introdução à Dinâmica de Rotores 87 A Figura 4.9 apresenta a órbita do eixo do rotor no intervalo de tempo de 2 a 2,5 s. Pode-se observar que a órbita não é mais circular e, de acordo com a direção do vetor rotação do rotor apresentado na Figura 4.6, o movimento de precessão é direto. t = 2,5 s Figura 4.9 – Órbita de um rotor anisotrópico (de 2 a 2,5 s) – precessão direta A Figura 4.10 apresenta a órbita do eixo do rotor no intervalo de tempo de 3 a 3.2 s. Pode-se observar que a órbita é não circular e, de acordo com a direção do vetor rotação do rotor apresentado na Figura 4.6, o movimento de precessão é inverso. A Figura 4.11 apresenta a órbita do eixo do rotor no intervalo de tempo de 4 a 4,5 s. Pode-se também observar que a órbita é não e, de acordo com a direção do vetor rotação do rotor apresentado na Figura 4.6, o movimento de precessão é direto. 88 Introdução à Dinâmica de Rotores t=3s Figura 4.10 – Órbita de um rotor anisotrópico (de 3 a 3,2 s) – precessão inversa t=4s Figura 4.11 – Órbita de um rotor anisotrópico (de 4 a 4,5 s) – precessão direta Introdução à Dinâmica de Rotores 89 4.3 – Fadiga em eixos de rotores No projeto de máquinas rotativas, devem ser considerados diferentes aspectos técnicos para o seu perfeito funcionamento. Um dos aspectos que devem ser considerados é a análise de tensões de seus componentes, mais particularmente de seu eixo. Em virtude das grandes amplitudes de vibração da máquina rotativa, e conseqüentemente da grande intensidade das tensões que atuam na seção transversal do eixo, é importante considerar neste contexto, a posição da velocidade de operação da máquina rotativa com relação à suas velocidades críticas, o sentido do movimento de precessão do eixo (direto ou inverso), o número de vezes que a máquina passa pelas velocidades críticas (nas acelerações e nas desacelerações), etc. Em função das características da máquina rotativa e da posição de sua velocidade de operação, as tensões atuantes na seção transversal do eixo poderiam exceder a resistência do material do eixo causando a sua falha. Em função do movimento de precessão do eixo e do número de vezes que a máquina acelera e desacelera, a falha no eixo poderia ocorrer por fadiga do material. Portanto, além dos aspectos dinâmicos que devem ser analisados no comportamento de uma máquina rotativa, é interessante proceder-se a uma análise de tensões, sobretudo ao que diz respeito à falha por fadiga. A falha por fadiga começa na borda da seção transversal em um ponto do eixo que apresenta descontinuidade de material (mudança de seção transversal, rasgo de chaveta, etc.). A ruptura se propaga no sentido diametral de forma lenta em boa parte da seção transversal até a ruptura rápida do eixo na sua última porção (ver Figuras 4.12 e 4.13). 90 Introdução à Dinâmica de Rotores Origem da fratura Zona de crescimento lento da fratura (marcas de praia) Zona de fratura instantânea (aspecto de fratura frágil) Figura 4.12 – Comportamento da fratura por fadiga na seção transversal do eixo Figura 4.13 – Seção transversal de um eixo exibindo falha por fadiga Contrariamente a resistência estática de um material obtida em ensaio de tração simples, a qual apresenta baixa dispersão nos resultados medidos, a resistência à fadiga de um material necessita de um número muito grande de ensaios e posteriormente de processamento estatístico. Esse é um dos motivos pelo qual o fenômeno de falha por fadiga não ser totalmente conhecido. Introdução à Dinâmica de Rotores 91 A Figura 4.14 apresenta um exemplo de curva de resistência à fadiga para um número finito de ciclos, também chamada de Diagrama S-N (Stress-Number of cyclos) com corpos-de-prova de um mesmo material. 5 4 3 Limite de resistência à fadiga Sn S (MPa) 2 100 1E+3 1E+4 1E+5 Ciclos, N 1E+6 1E+7 Figura 4.14 – Exemplo de Diagrama S-N A experiência mostra que para um número de ciclos menor que 103, a resistência à fadiga pode ser considerada como sendo a própria resistência estática do material. Uma pesquisa realizada usando uma grande quantidade de dados de testes de tração simples e testes rotativos de fadiga, mostra que há uma relação entre a resistência à fadiga e a resistência à tração, que para aços pode variar de 40 a 60% para uma resistência de até 400 MPa. Para valores maiores que 400 Mpa, o limite de resistência à fadiga fica em torno de 200 MPa. Por causa da dispersão nos valores do limite de resistência à fadiga, adota-se um limite médio de resistência à fadiga: 92 Introdução à Dinâmica de Rotores Sn' = 0,50 Sr para Sn' = 200 MPa para Sr ≤ 400 MPa Sr > 400 MPa (4.19) O limite de resistência a fadiga pode ser modificado por uma série de fatores: acabamento superficial (ka), dimensões da peça (kb), confiabilidade (kc), temperatura (kd), concentração de tensões (ke), efeitos diversos (kf), etc. Assim Sn = k a k b k c k d k e k f S'n (4.20) A evolução das tensões na seção transversal do eixo do rotor em função do tempo são determinadas da forma:4 ∂ 2u(t) ∂ 2 w(t) σ y (t) = E ε y (t) = E − x − z ∂y 2 ∂y 2 (4.21) Considerando os deslocamentos dados pela eq. (3.2) e a solução da equação diferencial de movimento do rotor quando submetido a uma força de excitação síncrona dada pela eq. (3.19), a eq. (4.21) pode ser colocada da forma: 2 πy πy π σ y (t) = E ε y (t) = E x sen p1(t) + z sen p2 (t) L L L (4.22) Colocando a eq. (4.22) de forma mais compacta: 2 π σ y (t) = E [ x u(y,t) + z w(y,t)] L 4 (4.23) Para manter a mesma simbologia usada no início do texto, a tensão normal à seção transversal do eixo será mantida σy e não S como na análise de falha por faiga. Introdução à Dinâmica de Rotores 93 onde y é a posição do ponto ao longo do comprimento do rotor, e x e z são as coordenadas do ponto na seção transversal do eixo onde se deseja obter o valor de tensão. Como exemplo de aplicação, considere o rotor isotrópico visto no item 4.2 acelerando a 60 rad/s2. A distribuição das tensões no tempo de 3,1s é conforme mostra a Figura 4.15 (ver Figura 4.4): Figura 4.15 – Distribuição das tensões normais em t = 3,1s Observa-se que a maior tensão situa-se no ponto ao longo do eixo onde está posicionado o disco e é de 63,5 MPa. Sem considerar a redução da resistência à fadiga por fatores diversos conforme apresentado pela eq. (4.20), o eixo desse rotor teria vida infinita, conforme mostra a Figura (4.14). 94 Introdução à Dinâmica de Rotores 5 – BALANCEAMENTO EM ROTORES 5.1 – Introdução Segundo a norma brasileira NBR8007/83, o desbalanceamento é aquela condição que existe em um rotor, quando forças e movimentos vibratórios são imprimidos em seus mancais, por forças centrífugas. Estas forças centrífugas surgem quando o centro de massa do rotor não coincide com o seu centro geométrico. Em função destas forças centrífugas, a amplitude de vibração em um rotor pode ultrapassar valores admissíveis por norma, podendo levar a máquina rotativa ao colapso. Para evitar ou diminuir as vibrações devido ás forças centrífugas, deve-se realizar o balanceamento da máquina que, segundo a norma brasileira NBR8008/83, o balanceamento é um procedimento que procura melhorar a distribuição de massa de um corpo, de modo que este gire em seus mancais sem forças de desbalanceamento. Antes de realizar o balanceamento em um rotor, é necessário inicialmente identificar se as vibrações têm origem no desbalanceamento ou se têm uma outra origem como por exemplo: o empenamento do eixo, desalinhamento entre seus componentes, folga nos mancais, trinca no eixo, etc. 5.2 – Princípio básico do balanceamento Em todos os métodos de balanceamento, o princípio básico do balanceamento é o de gerar esforços que compensem (anulem) o efeito das forças centrífugas geradas. A Figura 5.1 apresenta uma situação de um rotor operando a uma velocidade Ω, em uma órbita de raio r excitado por uma massa desbalanceadora, md, que gera uma força centrífuga Fc = mdrΩ2. Se existe somente uma massa única massa desbalanceadora, a compensação pode ser feita em um único plano, chamado de plano de compensação. Vale lembrar que, se a velocidade de operação do rotor Ω é menor que a primeira velocidade crítica do rotor ω1, a amplitude da órbita r e a força centrífuga estão em fase (β = 0°), e se a velocidade de operação do rotor Ω é maior que a primeira velocidade crítica do rotor ω1, a amplitude da órbita r e a força centrífuga estão Introdução à Dinâmica de Rotores 95 defasados (β = 180°) (ver Figura 1.8). Como normalmente o que se mede é a amplitude r, isto significa que, se Ω < ω1, a força restauradora Fr deve estar defasada de r de 180° e se Ω > ω1, a força restauradora Fr deve estar em fase com r. Fc = mdrΩ2 md r Ω Fr Plano de compensação Figura 5.1 – Efeito da força restauradora em um plano de compensação. Podem ocorrer situações onde a massa desbalanceadora gera um força centrífuga Fc = mdrΩ2 e um momento Mc = mdrΩ2 yd, conforme mostra a Figura 5.2. Z Fc Plano de compensação - 2 yd md r y1 Plano de compensação - 1 Fr 1 y2 Y Ω Fr 2 Figura 5.2 – Efeito das forças restauradoras em dois planos de compensação. Como nem sempre é possível identificar o plano onde atua a força centrífuga, para balancear o rotor nestas situações são necessários no mínimo dois planos de compensação de maneira que o equilíbrio de força e momento seja restabelecido: 96 Introdução à Dinâmica de Rotores Fc − Fr1 − Fr2 y 2 = 0 (5.1) Fc y d − Fr1 y1 + Fr 2 y 2 = 0 (5.2) Em função das características dos componentes dos rotores (eixo, disco, mancais, etc.), estes podem ser considerados rígidos ou flexíveis. De maneira geral, um rotor rígido é aquele que opera em uma velocidade em cujo modo de vibração o eixo se comporta como se fosse rígido (deformação somente dos mancais). Enquanto que, um rotor flexível é aquele que opera em uma velocidade em cujo modo de vibração o eixo se comporta como se fosse flexível (ver Figura 1.10). Existem vários métodos para o balanceamento de rotores, porém um dos mais utilizados é o Método dos Coeficientes de Influência. 5.3 – Método dos Coeficientes de Influência O Método dos Coeficientes de Influência é um dos métodos mais utilizados para o balanceamento de rotores rígidos e que pode também ser utilizado para o balanceamento de rotores flexíveis, Vance, J. M., 1988 e Seve, F., 2002. O Método dos Coeficientes de Influência é baseado nos seguintes conceitos: o campo de balanceamento requer geralmente a quantificação da resposta do eixo do rotor, da força aplicada e da relação entre elas expressa da forma: Re sposta = Força Re strição (5.3) No campo do balanceamento de rotores, a restrição na eq. (5.3) pode ser considerada como um parâmetro do tipo rigidez do rotor associado a uma deflexão (ou amplitude de vibração) devido a um desbalanceamento específico. Logo, a eq. (5.3) pode ser reescrita da forma: Vibração = Desbalanceamento Sensibilidade (5.4) Introdução à Dinâmica de Rotores 97 As variáveis da eq. (5.4) são quantidades vetoriais, contendo uma magnitude e uma direção. Se uma vibração inicial do rotor é descrita por um vetor A e o desbalanceamento é definido por um vetor U, então o vetor sensibilidade S do rotor a este balanceamento específico é da forma: → → A= U (5.5) → S O vetor sensibilidade S pode ser experimentalmente determinado pela adição de uma massa de calibração conhecida colocada em uma posição angular conhecida e medindo-se a amplitude de vibração do rotor. Assumindo que o novo vetor desbalanceamento devido a introdução da massa de calibração seja definido por W e o vetor amplitude de vibração resultante definido por B medido nas mesmas condições de operação quando medido o vetor vibração inicial A, a eq. (5.5) pode ser expandida como: → → B= → U+ W (5.6) → S Expandindo a eq. (5.6) e considerando a eq. (5.5) tem-se: → → B= U → → + S W → S → = A+ → W → (5.7) S ou: → → B− A = → W → S (5.8) 98 Introdução à Dinâmica de Rotores Logo, o vetor sensibilidade pode ser obtido: → W S = → → B − A → (5.9) Assim, o vetor desbalanceamento U, que em princípio é desconhecido, pode ser determinado por: → → → U = SxA (5.10) O procedimento para o balanceamento de um rotor considerando o Método dos Coeficientes de Influência pode ser exemplificado da seguinte forma: considere um rotor com dois mancais e um disco (plano de compensação). Dois sensores de vibração instalados em cada uma das extremidades medem as amplitudes de vibração (ver Figura 5.3). O centro geométrico do disco é C, o centro de massa é M e a origem do sistema de coordenadas é O. X Z 45° 45° X Z Vista do plano de compensação 45° 45° Z X M C≈O Figura 5.3 – Configuração de um rotor para o procedimento de balanceamento em um plano de compensação Introdução à Dinâmica de Rotores 99 A configuração deformada do rotor quando submetido a uma velocidade de operação Ω é da seguinte forma: U A θ=Ωt β X Z M C O Ω Figura 5.4 – Configuração deformada do rotor submetido a um desbalanceamento U A representação da evolução no tempo da vibração do rotor pode ser captada pelos sensores instalados em X e Z pode ser como ilustrado na Figura 5.5. X OC t Z OC Figura 5.5 – Evolução da amplitude de vibração captada pelos sensores em X e Z. 100 Introdução à Dinâmica de Rotores Após a introdução da massa de calibração M’ conhecida em uma posição angular conhecida, o desbalanceamento gerada por esta massa será W e a amplitude de vibração resultante será B, quando o rotor é submetido a mesma velocidade de operação Ω (ver Figura 5.6): U B θ=Ωt X Z M W M’ C O Ω Figura 5.6 – Configuração deformada do rotor devido a introdução da massa de calibração M’ A medição dos ângulos é feita a partir de uma referência e deve seguir uma convenção como, por exemplo, a apresentado na Figura 5.7: X Z 45° 0° 315° 90° 135° 270° 180° 225° Ω Figura 5.7 – Convenção de sinais para a medição dos ângulos Para fins de exemplificação do Método dos Coeficientes de Influência, Introdução à Dinâmica de Rotores 101 considere um rotor bi-apoiado de comprimento de 4,4958 m, diâmetro de 380 mm e massa total de 3158,08 kg (ver Figura 5.3). A primeira velocidade crítica deste rotor é ω1 = 1500 rpm e o rotor será balanceado na velocidade de Ω = 1650 rpm. A Figura 5.8 apresenta a seção transversal do eixo do rotor em uma posição deformada devido ao seu desbalanceamento inicial U, o qual deseja-se medir. O vetor → A representa o deslocamento medido devido ao desbalanceamento inicial U e → é A = 5,6µm∠322 . Z X A 322° β M C O U Ω Figura 5.8 – Vibração inicial devido ao desbalanceamento U Introduzindo uma massa de calibração M’ = 567 gramas a 40° de X, o → desbalanceamento adicional gerado pela massa de calibração é W = 567 gramas∠40 , conforme mostra a Figura 5.9. O deslocamento resultante da adição da massa de → calibração é B = 7,54µm∠226 . Recomenda-se por norma que a massa de calibração deve ser tal que a força centrífuga gerada por ela deve estar entre 5% e 15% do peso do rotor. Assim, o vetor sensibilidade é obtido com a eq. (5.9) e é da forma: → 567 gramas∠40 S= 7,54µm∠226 − 5,6µm∠322 (5.11) 102 Introdução à Dinâmica de Rotores W Z X 40° M’ O M U C Ω 226° B Figura 5.9 – Vibração com massa de calibração M’ Usando as regras de subtração e divisão de vetores (ver anexo 6.3), tem-se: → 567 gramas∠40 567 gramas S= ∠ 40 − 192 = 9,85 µm∠192 9,85 µm ( ) (5.12) Portanto, o vetor sensibilidade é da forma: → S = 57,56 gramas / µm∠208 (5.13) → O vetor desbalanceamento U pode ser determinado a partir da eq. (5.10): → → → { }{ U = S x A = 57,56 gramas / µm∠208 x 5,6 µm∠322 } (5.14) Usando as regras de multiplicação de vetores, tem-se que o desbalanceamento → inicial do rotor dado pelo vetor U é (ver Figura 5.10): → → → ( U = S x A = 57,56x5,6 gramas∠ 208 + 322 ) = 322gramas∠170 (5.15) Introdução à Dinâmica de Rotores 103 Z X A C M O Ω 170° U β=180° Figura 5.10 – Identificação de debalanceamento inicial U Conclusão: Como o rotor foi balanceado em uma velocidade Ω > ω1, a defasagem entre a resposta e a excitação é 180°. Logo, a força restauradora deverá ser tal que → Ur = 322gramas∠350 (ver Figura 5.11). Este efeito mode ser obtido adicionando uma massa de correção M’ de 322 gramas a 350° de X, ou retirando uma massa de 322 gramas a 170° de X. Z X Ur 350° M’ O C M Ω U Figura 5.11 – Localização da força restauradora Ur 104 Introdução à Dinâmica de Rotores O Método dos Coeficientes de Influência pode ser aplicado em dois ou mais planos de compensação (W1 e W2) (ver Figura 5.12). X Z 45° 45° W1 X W2 Z 45° 45° 1 2 Figura 5.12– Configuração de um rotor para o procedimento de balanceamento em dois planos de compensação No caso de dois planos de compensação a eq. (5.5) se torna: → A1 = → U1 → S11 → A2 = → U1 → S21 → U2 +→ S12 → U2 +→ S22 onde: → A1 = vetor vibração inicial medido no mancal 1, → A 2 = vetor vibração inicial medido no mancal 2, → U1 = vetor desbalanceamento no plano 1, → U2 = vetor desbalanceamento no plano 2, → S11 = vetor sensibilidade no mancal 1 devido a W1, (5.16) Introdução à Dinâmica de Rotores 105 → S12 = vetor sensibilidade no mancal 1 devido a W2, → S21 = vetor sensibilidade no mancal 2 devido a W1, → S22 = vetor sensibilidade no mancal 2 devido a W2. Devido a introdução de uma massa de calibração no plano 1 (W1), os novos vetores vibração são: → B11 = → → U1 + W 1 → S11 → B 21 = → → U1 + W 1 → S21 → U2 +→ S12 → (5.17) U2 +→ S22 onde: → W 1 = vetor desbalanceamento no plano 1, → B11 = vetor vibração medido no mancal 1 devido a W1, → B 21 = vetor vibração medido no mancal 2 devido a W1, e, retirando a massa de calibração do plano 1 (W1) e introduzindo a massa de calibração do plano 2 (W2), os novos vetores vibração são: → B12 = → U1 → → + → S11 → B 22 = U1 S21 onde: S12 → → → U2 + W 2 → + → U2 + W 2 → S22 (5.18) 106 Introdução à Dinâmica de Rotores → W 2 = vetor desbalanceamento no plano 2, → B12 = vetor vibração medido no mancal 1 devido a W2, → B 22 = vetor vibração medido no mancal 2 devido a W2, As eqs. (5.16), (5.17) e (5.18) podem ser arranjadas a obter as sensibilidades → S11 , → S12 , → S21 → e S22 . Substituindo as sensibilidades nas eqs. (5.16), os → → desbalanceamentos U1 e U2 podem ser determinados: → → → → S12 x A1 − S22 x A 2 → U1 = → → S12 − S22 → → S11 S21 → → → → S x A S x A − 2 1 21 11 → U2 = → → S21 − S11 → → S22 S12 (5.19) Em rotores flexíveis, o Método dos Coeficientes de Influência deve ser utilizado em conjunto com uma avaliação modal. A Figura 5.13 apresenta o efeito das massas de correção (balanceadoras) nos diferentes modos de vibração de um rotor flexível. Considerando que as massas de correção devem ser tais que as forças centrífugas por elas geradas devem anular a força centrífuga gerada pela massa desbalanceadora, as forças centrífugas geradas pelas massas de correção podem ser diferentes em função da velocidade de operação do rotor que excitará um ou outro modo de vibração. Tem sido demonstrado experimentalmente que, se somente dois planos de correção são usados, um rotor flexível pode ser balanceado em somente uma única velocidade, Vance, J. M. 1988. Kellenberger, W. 1972, considera que, o Introdução à Dinâmica de Rotores 107 número de planos de correção deveria ser igual ao número de velocidades críticas a serem atravessadas Massa desbalanceadora plano de compensação plano de compensação 1 1/2 1/2 Massas de correção 1° Modo 2° Modo Figura 5.13 – Distribuição das massas de correção em rotores flexíveis . 108 Introdução à Dinâmica de Rotores 6 – MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS APLICADO À DINÂMICA DE ROTORES O método dos elementos finitos aplicado à dinâmica de rotores é um método numérico que discretiza o rotor em ne elementos de eixo (e conseqüentemente nn nós) e nd elementos de disco. As equações de movimento de rotor discretizado, são obtidas aplicando as equações de Lagrange (ver eq. (5.1) ) sobre: a) a energia cinética dos discos (os discos são considerados rígidos), b) energia cinética e de energia de deformação dos elementos de eixo e, c) sobre a energia cinética das massas desbalanceadoras. As forças atuantes nos mancais são consideradas através do cálculo do trabalho virtual. A discretização do rotor faz com que a sua cinemática (deslocamentos, velocidades e acelerações) seja transferida para os seus nós através de suas coordenadas generalizadas, chamadas de graus de liberdade (gdl) (u, w, que são os deslocamentos transversais e, θ e ψ que são as inclinações de seção transversal). A Figura 5.1 apresenta um rotor genérico discretizado em ne elementos de eixo de comprimento , nd elementos de disco e mancais flexíveis. z nd ... ne Kxx x Kxx kzz y nn kzz Ω dy Figura 6.1 – Rotor discretizado em elementos de eixo e de disco A grande vantagem do método dos elementos finitos quando comparado ao método de Rayleigh-Ritz é que a aproximação do campo de deslocamento é polinomial ao longo de um elemento de eixo, o que faz com que a forma dos modos de vibração do rotor seja melhor representada, independente de sua configuração. Introdução à Dinâmica de Rotores 109 A equação de Lagrange aplicada sobre todas as formas de energia dos componentes do rotor é colocada da forma: d ∂T ∂T ∂U + = Fpi − dt ∂pi ∂pi ∂pi (5.1) onde T representa a energia cinética dos elementos de disco e de eixo do rotor e a energia cinética de uma massa desbalanceadora, U representa a energia de deformação do eixo, Fpi são as forças generalizadas oriundas dos mancais e pi são as coordenadas generalizadas. 5.1 – Matrizes de um elemento de disco As matrizes de um elemento de disco são obtidas a partir da formulação de sua energia cinética calculada da seguinte forma (ver eq. (2.3)): TD = 1 MD 2 i2 i 2 1 u + w + IDx 2 i i2 i 2 1 2 θ + ψ + IDy Ω ψ θ + IDy Ω 2 (5.2) Aplicando as equações de lagrange, eq. (5.1), sobre a eq. (5.2), obtêm-se as matrizes de massa e giroscópica (ou Coriolis) de um disco: 0 0 MD 0 0 M 0 0 d ∂TD ∂TD D − = 0 IDx 0 dt ∂δ ∂δ 0 0 0 IDx 0 matriz de massa ii u 0 0 0 0 ii 0 0 0 0 w ii + Ω 0 0 0 −I Dy θ 0 0 0 IDy ii ψ matriz de Coriolis i u i w i θ i ψ (5.3) 110 Introdução à Dinâmica de Rotores onde δ = ( u,w, θ, ψ ) é o vetor com as coordenadas generalizadas ou deslocamentos t nodais. 5.2 – Matrizes de um elemento de eixo As matrizes de um elemento de eixo são obtidas a partir da formulação de sua energia cinética e sua energia de deformação em flexão. A energia cinética de um elemento de eixo de densidade volumétrica ρ, área de seção transversal A e comprimento , a partir da aplicação da eq. (5.2) em um elemento de volume infinitesimal dV e comprimento dy, tem a forma: 2 2 i 2 i 2 i 1 i 1 i Ω2 2 2 TE = ∫ u + w ρ dV + ∫ θ + ψ z ρ dV + Ω ∫ ψ θ ∆ ρ dV + 2 V 2 V 2 V ∫ ∆ ρ dV 2 (5.4) V Expandindo as integrais da eq. (5.4), temos: TE = i2 i 2 ρ dA u + w d 2 A∫ ∫0 + i i2 i 2 Ω2 ρ ρ 2 2 θ + ψ + + ρ ψ θ + z dA dy Ω ∆ dA dy ∆2 dA ∫ dy ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ 2A 2 A 0 A 0 0 (5.5) o que resulta em: 2 2 i 2 i 2 i ρA i ρΙ i + + θ + ψ + ρ ψ θ dy + ρ I Ω2 TE = u w dy dy 2 IΩ ∫ ∫ ∫ 2 0 2 0 0 (5.6) A energia de deformação de um elemento de eixo de material E, momento de inércia de área I, área de seção transversal A, comprimento e força axial Fo aplicada sobre a seção transversal do elemento, tem a forma (ver (eq. 2.17) e eq. (2.20)): Introdução à Dinâmica de Rotores 1 U= EI 2 ∫ 0 ∂ 2u 2 ∂ 2 w 2 F dy + o + 2 ∂y 2 ∂y 2 111 ∫ 0 ∂u 2 ∂w 2 + dy ∂y ∂y (5.7) Um elemento de eixo é modelado como uma viga com 2 nós, que flexiona em dois planos ortogonais (x, y) e (z, y). Os eixos (x, y, z) formam o sistema de eixos local do elemento. A cada nó estão associados 4 gls de forma que o vetor deslocamento nodal do elemento é colocado da forma δ = ( u1,w1, θ1, ψ1,u2 ,w 2 , θ2 , ψ 2 ) t ou δu = ( u1, ψ1,u2 , ψ 2 ) e δw = ( w1, θ1,w 2 , θ2 ) . t t z ψ2 ψ1 u1 θ1 2 1 w1 θ2 u2 y w2 x Figura 5.2 – Graus de liberdade de um elemento de eixo O método dos elementos finitos define o campo de deslocamentos transversais dentro do elemento como sendo um polinômio de grau 3 e tem a forma : u(y,t) = N1 ( y ) δu(t) w(y,t) = N2 (y) δw(t) (5.8) As inclinações de seção estão relacionadas com os deslocamentos transversais por : 112 Introdução à Dinâmica de Rotores ∂w(y,t) ∂N2 (y) = δw(t) ∂y ∂y ∂N (y) ∂u(y,t) ψ(y,t) = − =− 1 δu(t) ∂y ∂y θ(y,t) = (5.9) onde N1(y) e N2(y) são funções de forma de um elemento de viga em flexão de EullerBernoulli: 3y 2 2y 3 2y 2 y 3 3y 2 2y 3 y 2 y 3 − 2; 2 − 3 ; − N1 ( y ) = 1 − 2 + 3 ; − y + L L L L L L L L (5.10) 3y 2 2y 3 2y 2 y 3 3y 2 2y 3 y 2 y 3 + 2 ; 2 − 3 ;− + N2 ( y ) = 1 − 2 + 3 ;y − L L L L L L L L Substituindo as eqs. (5.8) e (5.9) na eq. (5.6), a expressão de energia cinética de um elemento de eixo pode ser colocada da forma: TE = i i i i ρA t t ρΙ t t δ δ + δ δ u N N u w N N w dy + 1 1 2 2 ∫ 2 0 2 i i t i it dN1t dN1 i t dN2 dN2 δ δ + δ δ u u w w dy ∫ dy dy dy dy 0 dN1t dN2 + 2 ρ IΩ ∫ δ u δw dy + ρ I Ω2 dy dy 0 t (5.11) Substituindo as funções de forma, eqs. (5.10) e suas derivadas, na eq. (5.11) e integrando tem-se: i i i i i i i i i 1 1 1 1 1 TE = δ ut M1δ u + δ w t M2δ w + δ ut M3 δ u + δ w t M4 δ w + δ ut M5 δw + ρ I Ω2 2 2 2 2 2 (5.12) As matrizes M1 e M2 são matrizes clássicas de massa, M3 e M4 fornecem a influência da inércia rotacional de seção transversal, e M5 fornece o efeito giroscópico (ou de Coriolis) de um elemento de eixo. Introdução à Dinâmica de Rotores 113 Aplicando as equações de Lagrange na eq. (5.12), tem-se : ii i d ∂TE ∂TE − = + δ+ δ (M M ) C s dt ∂δ ∂δ (5.13) onde M e Mssão obtidas respectivamente de M1, M2 e M3, M4 e a matriz C é obtida de M5. u1 θ1 w1 ψ1 u2 θ2 w2 ψ2 0 −22L 54 0 0 13L u 156 0 1 − 156 22L 0 0 54 13L 0 w1 2 2 4L 0 0 13L −3L 0 θ1 2 2 ψ1 − − 4L 13L 0 0 3L ρ SL M= −22L u2 420 156 0 0 156 −22L 0 w2 sim. 4L2 0 θ2 4L2 ψ 2 u1 w1 θ1 ψ1 0 −3 36 0 36 3 0 4 2 0 4 2 ρI Ms = 30 sim. u2 w2 −36 0 −36 0 θ2 ψ2 0 3 −3 u 1 0 w 1 0 θ1 − 2 ψ1 3 u2 0 w2 0 θ2 4 2 ψ2 2 0 −3 − 3L 36 0 0 36 0 0 −3 4 2 (5.14) (5.15) 114 Introdução à Dinâmica de Rotores u1 w1 θ1 ψ1 −3 0 0 −36 0 0 −3 0 −4 2 ρ IΩ 0 C= 15 anti − sim. u2 w2 θ2 ψ2 0 36 −3 −36 0 0 −3 0 0 0 −3 − 0 −36 3 0 0 0 u 1 −3 w 1 2 θ 1 0 ψ1 0 u2 3 w2 −4 2 θ2 0 ψ 2 0 2 (5.16) Substituindo as eqs. (5.8) e (5.9) na eq. (5.7), a expressão de energia de deformação em flexão de um elemento de eixo pode ser colocada da forma: 2 t 2 EI t d2N1t d2N2 t d N2 d N2 u u w δ δ + δ δw dy ∫ 2 2 2 2 2 0 dy dy dy dy F dN1t dN1 dN2t dN2 + o ∫ δut δu + δw t δw dy 2 0 dy dy dy dy U= (5.17) Substituindo as funções de forma, eqs. (5.10) e suas derivadas, na eq. (5.17) e integrando tem-se: U= 1 t 1 1 1 δu K1 δu + δw t K 2 δw + δut K 3 δu + δw t K 4 δw 2 2 2 2 (5.18) As matrizes K1 e K2 são matrizes clássicas de rigidez, K3 e K4 são matrizes de rigidez devido a força axial Fo. O efeito do cisalhamento transverso em eixos cujo diâmetro têm a mesma ordem de grandeza que o comprimento é levado em conto através do seguinte fator: a= 12EI GA (5.19) Introdução à Dinâmica de Rotores 115 onde G é o módulo de cisalhamento. Aplicando as equações de Lagrange na eq. (5.18), tem-se : ∂U = K c + K Fo δ ∂δ ( ) (5.20) onde Kc e K Fo são obtidas respectivamente de K1, K2 e K3, K4.. u1 Kc = EI (1 + a) 3 u1 KFo w1 θ1 0 12 0 12 6 (4 + a) sim. w1 θ1 ψ1 0 −3 36 0 36 3 0 4 2 0 4 2 F = o 30 sim. 2 ψ1 u2 −6 0 −12 0 −12 0 0 (4 + a) 2 w2 0 −6 6 12 0 0 12 θ2 ψ2 0 6 −6 0 (2 − a) 0 0 −6 (4 + a) u2 w2 −36 0 −36 0 θ2 ψ2 0 3 −3 u 1 0 w 1 0 θ1 − 2 ψ1 3 u2 0 w2 0 θ2 4 2 ψ2 2 0 −3 − 3 36 0 0 36 0 0 −3 4 2 2 2 u 1 w1 θ 0 1 2 (2 − a) ψ1 (5.21) 6 u2 w2 0 0 θ2 (4 + a) 2 ψ 2 (5.22) 5.3 – Matrizes de rigidez e de amortecimento dos mancais A influência da rigidez e do amortecimento viscoso dos mancais no 116 Introdução à Dinâmica de Rotores comportamento em flexão do rotor é considerada a partir do trabalho virtual das forças atuando no eixo. As forças generalizadas são então colocadas da forma : i i Fu = −k xxu − k xz w − c xx u− c xz w i (5.23) i Fw = −k zz w − k zxu − c zz w − c zx u A eq. (5.23) pode ser colocada de uma forma matricial: Fu k xx = − Fw k zx k xz u c xx − k zz w c zx i c xz u c zz i w (5.24) A eq. (5.24) pode ser expandida de forma à introduzir os graus de liberdade relativos a inclinação de seção, θ e ψ. Fu k xx F k w zx = − F 0 θ 0 Fψ k xz k zz 0 0 0 0 0 0 0 u c xx 0 w c zx − 0 θ 0 0 ψ 0 c xz c zz 0 0 0 0 0 0 i u 0 i 0 w 0 i θ 0 i ψ (5.25) 5.4 – Efeito de uma massa desbalanceadora O efeito de uma massa desbalanceadora é introduzido nas equações de movimento do rotor através do cálculo de sua energia cinética. Considere então uma massa desbalanceadora de massa md, situada no ponto M distante d do centro geométrico do disco O, conforme mostra a Figura 4.3. Introdução à Dinâmica de Rotores 117 Z Ωt M C w d X u O Figura 4.3 – Deslocamento de uma massa desbalanceadora md A posição da massa desbalanceadora é data pelo vetor OM é então: u + d senΩt OM = cons tan te w + d cosΩt (5.26) Logo, o vetor velocidade instantânea da massa desbalanceadora é: V md i u+ dΩ cosΩt dOM = = 0 dt i w − dΩ senΩt (5.27) A expressão de energia cinética de uma massa desbalanceadora pode então ser colocada da forma: Tmd = 1 md Vm2 d 2 (5.28) 118 Introdução à Dinâmica de Rotores Substituindo a eq. (5.27) na eq. (5.28): Tmd 2 2 i 1 i = md u+ dΩ cosΩt + w − dΩ senΩt 2 (5.29) Desenvolvendo a eq. (5.29) tem-se : Tmd i i 2 i i2 1 = md u + 2u dΩ cosΩt + w − 2 w dΩ senΩt + Ω2 d2 2 (5.30) Aplicando as equações de Lagrange na eq. (5.30), tem-se : ii d ∂TE 2 m u = d − md dΩ senΩt i dt ∂u ii d ∂TE m w = − md dΩ2 cosΩt d dt i ∂w (5.31) Como uma massa desbalanceadora é desprezível quando comparada a massa ii ii dos outros componentes do rotor, os termos md u e md w podem ser desconsiderados. 5.5 – Equações de movimento do rotor Após determinar todas as matrizes elementares dos componentes do rotor, é possível obter a equação diferencial de movimento do rotor da forma: ii i M δ+ C δ+ K δ = F(t) (5.32) Introdução à Dinâmica de Rotores 119 onde M é a matriz de massa global, C é a matriz de Coriolis global (mais a matriz de amortecimento), K a matriz de rigidez global e F(t) são as forças generalizadas deduzidas do trabalho virtual. A ordem das matrizes e dos vetores é função do número total de gdls do rotor (N). As freqüências naturais e os modos de vibração do rotor são determinados a partir do sistema de equações homogêneas obtidas do sistema não amortecido ou não giroscópico do tipo: ii M δ+ K δ = 0 (5.33) A solução da eq. (5.33) é do tipo: δ = φ e jωt (5.34) onde φ é a amplitude e ω é a freqüência natural. Substituindo a eq. (5.34) na eq. (5.33), temos: ( −ω 2 ) M+K φ = 0 (5.35) A eq. (5.35) consiste de um problema típico de autovalores-autovetores onde os autovalores são as freqüências naturais do rotor, ωi, e os autovetores são os modos de vibração associados às freqüências, φi. Como a solução trivial, φ = 0, não nos interessa, o determinante da matriz deve ser nulo. ( ) det −ω2 M + K = 0 (5.36) A partir da eq. (5.36) determina-se o polinômio característico do problema no qual as freqüências ωi são as raízes. Uma vez determinadas as freqüências ωi, os 120 Introdução à Dinâmica de Rotores modos de vibração φ i são determinados substituindo cada ωi na eq. (5.35). A resposta em regime permanente (resposta em freqüência) do rotor é obtida a partir da eq. (5.32). Como visto anteriormente no método de Rayleigh-Ritz, a resposta de um ponto pode ser obtida a partir de uma hipótese razoável do deslocamento do rotor. Fazendo uso do método dos elementos finitos, nesta hipótese é freqüentemente utilizado os modos de vibração φi, o qual é chamado de método Modal. Normalmente, o número total de gdls do rotor N é muito elevado, sendo considerados somente os n primeiros autovetores (n <<N). δ=φp (5.37) Substituindo a eq. (5.37) na eq. (5.32) e pré-multiplicando por φt, temos: φt M φ p + φt C φ p + φt K φ p = φt F(t) (5.38) As freqüências naturais em função da rotação do rotor, ω = ω(Ω), são obtidas resolvendo a equação homogênea: φt M φ p + φ t C φ p + φ t K φ p = 0 (5.39) A resposta em regime permanente, devido a um desbalanceamento é uma solução do tipo: p = P1 sen Ω t + P2 cos Ω t (5.40) e a resposta devido a uma força assíncrona é uma solução do tipo: p = P1 sen µ Ω t + P2 cos µ Ω t (5.41) Introdução à Dinâmica de Rotores 121 5.6 – Propriedades dos modos Considere a eq. (5.35) após a determinação da freqüência ωi e do modo de vibração φi. ωi2 M φi = K φi (5.42) A freqüência ωj e modo de vibração φj é uma outra solução do problema: ω2j M φ j = K φ j (5.43) Pré-multiplicando a eq. (5.42) por φjt e a eq. (5.43) por φit, tem-se: ωi2 φtj M φi = φtj K φi ω2j φit M φ j = φit K φ j (5.44) Como as matrizes M e K são simétricas, a igualdade existe: φit M φ j = φtj M φi φit K φ j = φtj K φi (5.45) Substituindo as eq. (5.45a) e (5.45b) na eq. (5.44b), tem-se: ω2j φtj M φi = φtj K φi (5.46) Subtraindo a eq. (5.46) da eq. (5.44a), temos: (ω 2 i ) − ω2j φtj M φi = 0 (5.47) 122 Introdução à Dinâmica de Rotores Como as freqüências naturais são diferentes, ωi ≠ ωj, com exceção dos modos de corpo rígido, ωi = ωj = 0: φtj M φi = 0 (5.48) e levando em consideração a eq. (5.44a): φtj K φi = 0 (5.49) Considere a eq. (5.42), pré-multiplicada desta vez por φit: ωi2 φit M φi = φit K φi (5.50) ou: ωi2 = φit K φi k i = φit M φi mi (5.51) onde ki e mi são a rigidez modal e a massa modal associadas ao modo ωi e φi. Da eq. (5.31), observa-se que a matriz Coriolis é anti-simétrica. Assim, da eq. (5.39), conclui-se que a matriz φtCφ não é diagonal como as matrizes φtMφ e φtKφ, o que corresponde ao não desacoplamento entre as n equações do sistema. Para a resposta em regime permanente, solução da eq. (5.38), deve então ser utilizado o método “pseudo-modal”. m1 0 0 0 0 mn p1 k1 + φt C φ p + pn 0 0 0 0 k n p1 f1(t) = pn fn (t) (5.52) Introdução à Dinâmica de Rotores 123 5.7 – Técnica de montagem das matrizes globais Considere o rotor visto anteriormente discretizado em três elementos de eixo (ou viga) de igual comprimento = L/3 (1, 2, e 3) e um elemento de disco (4), com quatro nós, Figura 4.4: 4 1 1 1 2 3 3 2 2 1 4 21 2 Figura 4.4 – Malha do rotor simplesmente apoiado No modelo acima, os nós de cada elemento de eixo ou de disco, estão relacionados aos nós do rotor segundo a tabela abaixo: Vetor deslocamento δ N° do elemento Tipo de elemento Nós do rotor 1 Viga 1–2 u1, w1, θ1, ψ1, u2, w2, θ2, ψ2 2 Viga 2–3 u2, w2, θ2, ψ2, u3, w3, θ3, ψ3 3 Viga 3–4 u3, w3, θ3, ψ3, u4, w4, θ4, ψ4 4 Disco 2 u2, w2, θ2, ψ2 As matrizes globais de massa, rigidez e de Coriolis são obtidas superpondo as matrizes elementares de acordo com a tabela acima. A seguir é mostrado a matriz de rigidez global após a superposição das matrizes de rigidez elementares dos elementos 1 e 2: 124 Introdução à Dinâmica de Rotores u1 w1 θ1 0 12 0 12 6L 4L2 EI K= L3 ψ1 u2 w2 θ2 −6L 0 ψ2 −12 0 0 6L 0 −12 6L 0 2 u3 θ3 w3 ψ3 u4 ... 0 0 −6L 2L 0 4L2 6L 0 0 2L2 12 + 12 0 0 6L − 6L −12 0 0 6L 12 + 12 −6L + 6L 0 0 −12 6L 0 4L2 + 4L2 0 0 −6L 2L2 0 6L 0 0 2L2 12 0 0 6L 12 −6L 0 2 0 2 2 4L + 4L sim. 4L 4L2 u1 w 1 θ1 ψ 1 u2 w2 θ2 ψ2 u3 w3 θ 3 ψ3 u 4 w4 θ4 ψ4 (5.55) 5.8 – Exemplos de aplicação Serão apresentados a seguir resultados obtidos pelo método dos elementos finitos de rotores com mancais isotrópicos em configurações diferentes: bi-apoiado e em balanço, conforme ilustram as figuras abaixo. As propriedades do eixo e do disco são as mesmas apresentadas nos exemplos anteriores. Rotor bi-apoiado – caso 1 z L/6 5L/6 y x Ω Figura 4.5 – Disco em y = L/6 Introdução à Dinâmica de Rotores 125 Figura 4.6 – Diagrama de Campbell e modos 1 e 2 para o disco em y = L/6 Rotor bi-apoiado – caso 2 z L/3 2L/3 y x Ω Figura 4.7 – Disco em y = L/3 126 Introdução à Dinâmica de Rotores Figura 4.8 – Diagrama de Campbell e modos 1 e 2 para o disco em y = L/3 Rotor bi-apoiado – caso 3 z L/2 L/2 y x Ω Figura 4.9 – Disco em y = L/2 Introdução à Dinâmica de Rotores 127 Figura 4.10 – Diagrama de Campbell e modos 1 e 2 para o disco em y = L/2 Rotor em balanço – caso 1 z 5L/6 L/6 y x Ω Figura 4.11 – Segundo apoio em y = L/6 128 Introdução à Dinâmica de Rotores Figura 4.12 – Diagrama de Campbell e modo 1 para o segundo apoio em y = L/6 Rotor em balanço – caso 2 z 2L/3 L/3 y x Ω Figura 4.13 – Segundo apoio em y = L/3 Introdução à Dinâmica de Rotores 129 Figura 4.14 – Diagrama de Campbell e modo 1 para o segundo apoio em y = L/3 Rotor em balanço – caso 3 z L/2 L/2 y x Ω Figura 4.15 – Segundo apoio em y = L/2 130 Introdução à Dinâmica de Rotores Figura 4.16 – Diagrama de Campbell e modo 1 para o segundo apoio em y = L/2 Introdução à Dinâmica de Rotores 131 6 – ANEXOS 6.1 – Vibrações forçadas (Jeffcott rotor) As equações diferenciais que descrevem o movimento do centro geométrico de um disco de massa m, acoplado a um eixo de rigidez k e o conjunto tendo um amortecimento viscoso c e velocidade de rotação Ω, são obtidas a partir da determinação da energia cinética do disco, energia de dissipação do conjunto e energia de deformação do eixo: A energia cinética do disco é da forma: i i 1 2 T = m Vx + Vz2 2 i (5.1) i onde Vx e Vz são as velocidades transversais nas direções X e Z do centro de massa M do disco e são da forma (ver Figura 5.1): i dVx d = r senφ + d sen ( φ + β ) dt dt i dVz d Vz = = r cos φ + d cos ( φ + β ) dt dt Vx = (5.2) Considerando as coordenadas do centro geométrico do disco como sendo X e Z e sabendo que para uma precessão genérica (não síncrona), i i d ( φ + β ) = φ+ β = Ω , as dt velocidades transversais são : i i i i Vx = X + d Ω cos ( φ + β ) Vz = Z − d Ω sen ( φ + β ) (5.3) 132 Introdução à Dinâmica de Rotores Z φ β M d r C d cos (φ+β) r cos φ X r sen φ d sen(φ+β) O Figura 5.1 – Jeffcott rotor realizando um movimento de precessão Logo, a expressão para a energia cinética do centro de massa do disco é: 2 2 1 i i T = m X+ d Ω cos ( φ + β ) + Z− d Ω sen ( φ + β ) 2 (5.4) A energia de dissipação do conjunto é da forma: D= i i 1 2 c X + Z2 2 (5.5) E, a energia de deformação do eixo é da forma: U= ( 1 k X 2 + Z2 2 ) (5.6) As equações de movimento são determinadas aplicando as equações de Lagrange sobre todas as formas de energia ou trabalho encontradas no sistema Introdução à Dinâmica de Rotores 133 rotativo: d ∂T ∂T ∂U ∂D − + + = Fpi dt i ∂pi ∂pi ∂pi ∂ pi (5.7) onde pi são as coordenadas generalizadas, X e Z, e Fpi são forças generalizadas. Desta forma: ii d ∂T i = m X − m d Ω2sen ( φ + β ) dt ∂X (5.8) ii d ∂T i = m Z − m d Ω2 cos ( φ + β ) dt ∂Z (5.9) ∂T =0 ∂X (5.10) ∂T =0 ∂Z (5.11) ∂U =k X ∂X (5.12) ∂U =kZ ∂Z (5.13) ∂D i i =cX (5.14) ∂X ∂D i i =cZ (5.15) ∂Z As forças generalizadas são nulas pois os mancais não são flexíveis. Somando as eqs. (5.8), (5.10), (5.12) e (5.14) e somando as eqs. (5.9), (5.11), (5.13) e (5.15), as equações diferencias que descrevem o movimento do centro geométrico do disco são: 134 Introdução à Dinâmica de Rotores ii i ii i m X + c X + kX = mΩ2d senΩt (5.16) mZ + c Z + kZ = mΩ2d cosΩt onde Ωt = ( φ + β ) As soluções das eqs. (5.16) podem ser colocadas da forma: X = r sen ( Ωt − β ) (5.17) Z = r cos (Ωt − β ) onde r é a amplitude da órbita do centro geométrico do disco. Observa-se que, na presença de amortecimento, os deslocamentos estão defasados (atrasados) de β com relação à força de excitação devido ao desbalanceamento. Desenvolvendo as eqs. (5.17), tem-se : X = r ( senΩt cos β − cosΩt senβ ) (5.18) Z = r ( cosΩt cos β + senΩt senβ ) Substituindo as eqs. (5.18) nas equações de movimento, (5.16), tem-se : −mΩ2 senΩt cos β + mΩ2 cosΩt senβ + 2 r [cΩ cosΩt cosβ + cΩ s enΩt senβ ] + = mΩ d s enΩt [k s enΩt cos β − k cosΩt senβ] −mΩ2 cosΩt cos β − mΩ2 senΩt senβ + 2 r [ −cΩ senΩt cosβ + cΩ cosΩt senβ ] + = mΩ d cosΩt [k cosΩt cos β + k senΩt senβ] (5.19) Igualando os termos em cosΩt e senΩt, as eqs. (5.19) se subdividem em : Introdução à Dinâmica de Rotores 135 { } r {mΩ senβ + cΩ cosβ − k senβ}cosΩt = 0 r {−mΩ cos β + cΩ senβ + k cos β}cosΩt = mΩ d cosΩt r {−mΩ senβ − cΩ cosβ + k senβ}senΩt = 0 r −mΩ2 cos β + cΩ senβ + k cos β senΩt = mΩ2d s enΩt 2 2 2 (5.20) 2 Observa-se que as eqs. (5.20a) e (5.20c) são iguais, assim como as eqs. (5.20b) e (5.20d) são também iguais. Como: r ≠ 0, senΩt ≠ 0 e cosΩt ≠ 0, da eq. (5.20b) ou (5.20d) tem-se que : senβ = ( cΩ −mΩ2 + k ) cosβ (5.21) ou : senβ cΩ = tan β = cosβ −mΩ2 + k ( (5.22) ) Substituindo a eq. (5.21) na eq. (5.20a) ou (5.20c) tem-se : cΩ 2 β r k − mΩ2 cos β + cΩ cos = mΩ d 2 k − mΩ ( ) ( ) (5.23) Rearranjando a eq. (5.23) : ( ) k − mΩ2 mΩ2d cos β = 2 r k − mΩ2 + c 2Ω2 ( ) Substituindo a eq. (5.24) na eq. (5.21) : (5.24) 136 Introdução à Dinâmica de Rotores mΩ2d cΩ senβ = 2 r k − mΩ2 + c 2Ω2 ( (5.25) ) Sabe-se que sen2β + cos 2 β = 1 , logo, das eqs. (5.24) e (5.25): 2 ( ) 2 2 2 k − mΩ2 cΩ mΩ d mΩ d + =1 2 2 2 2 2 2 2 2 r r k − mΩ k − mΩ +c Ω +c Ω ( ) ( ) (5.26) Rearranjando a eq. (5.26) : r= mΩ2d (k − mΩ ) 2 2 (5.27) 2 +c Ω 2 ou: r= Ω 2d (k / m − Ω ) 2 2 + ( cΩ / m ) (5.28) 2 Substituindo a eq. (5.28) nas eqs. (5.17) e considerando a eq. (5.22) tem-se: X= Z= Ω 2d (k / m − Ω ) 2 2 + ( cΩ / m ) 2 Ω 2d (k / m − Ω ) 2 2 + ( cΩ / m ) cΩ β = tan−1 m k / m − Ω2 ( ) 2 s en(Ωt − β) cos(Ωt − β) (5.29) Introdução à Dinâmica de Rotores 137 As eqs. (5.29) fornecem o movimento do centro geométrico do disco, chamado de precessão. Observa-se que, como as amplitudes de X e Z são iguais, a órbita é circular. Da Figura 5.1, conclue-se que a deflexão do eixo do rotor é: r = X2 + Z 2 = Ω2 d (k / m − Ω ) 2 2 + ( cΩ / m ) (5.30) 2 Como a massa do disco m > 0, a rigidez do eixo k > 0, o amorteimento do conjunto c > 0 e a distância do centro de massa ao centro geométrico d > 0, pode concluir das eqs. (5.24) e (5.25) que: Î Para Ω < senβ > 0 cos β > 0 sen β k m ⇒ π/2 0<β< π 2 β 0 cos β π sen β Î Para Ω > senβ > 0 cos β < 0 k m ⇒ π/2 π <β< π 2 β π 0 cos β Uma forma alternativa de descrever o movimento do rotor é utilizando uma formação complexa que fornece duas informações no mesmo instante: a posição do dentro geométrico C e o sentido da órbita. Assim: R(t) = Z(t) + j X(t) Desta forma, as eqs. (5.16) se reduzem em uma única equação : (5.31) 138 Introdução à Dinâmica de Rotores ii ii i i m (Z + j X) + c (Z + j X) + k ( Z + j X ) = mΩ2d ( cosΩt + j d senΩt ) (5.32) Substituindo a eq. (5.31) na eq. (5.32), tem-se : ii i m R + c R + k R = mΩ2d e jΩt (5.33) As soluções dadas pelas eq. (5.17), podem também ser colocadas da forma: R=r e( j Ωt −β ) (5.34) Substituindo a eq. (5.34) na eq. (5.33), a equação resultante é : ( −mΩ 2 ) + jΩc + k r e ( j Ωt −β ) = mΩ2d e jΩt (5.35) Logo : r= mΩ2d ( −mΩ 2 ) + k + j Ωc (5.36) Como apresentado pela eq. (5.34), a solução é complexa, portanto ela pode ser apresentada em termos de sua amplitude r e de sua fase β (ver Figura 5.2). Considerando o complexo conjugado da eq. (5.36), a amplitude e a fase são : r = mΩ2d (k − mΩ ) 2 2 + Ω 2c 2 Ωc β = tan−1 2 k − mΩ (5.37) Introdução à Dinâmica de Rotores 139 Observa-se que as eqs. (5.29) e (5.37) são equivalentes. real φ mΩ2d (k − mΩ ) 2 r 2 2 2 +Ω c cos φ imaginário mΩ2d ( k − mΩ2 ) 2 + Ω 2c 2 senφ Figura 5.2 – Representação da amplitude e da órbita no movimento de precessão 6.2 – Vibrações livres (Jeffcott rotor) Quando o sistema está vibrando livremente sem ser excitado por uma força, as eqs. (5.16), quando colocadas de uma forma complexa, são: ii i mR + cR + kR = 0 (5.38) onde a solução da eq. (5.38) para vibrações livres (sem força excitadora) é : R = r est = r ( cos st + j sen st ) (5.39) Substituindo a solução dada pela eq. (5.39) na eq. (5.38) para o problema de vibração livre tem-se: 140 Introdução à Dinâmica de Rotores m s2 + c s + k = 0 (5.40) As raízes do polinômio dado pela eq. (5.40) fornecem a solução do problema e são: s1,2 2 1 c 4k c = − ± − 2 m m m (5.41) O amortecimento crítico ccr, é definido como sendo o valor requerido para suprimir completamente qualquer vibração no sistema, é obtido quando: 2 4k c cr m − m =0 (5.42) Logo : c cr = 2 km (5.43) A relação entre o amortecimento do sistema pelo amortecimento crítico é: ξ= c c cr (5.44) Introduzindo a eq. (5.44) na eq. (5.30), temos : r= Ω 2d (k / m − Ω ) 2 2 + ( ξc crΩ / m ) 2 (5.45) Introdução à Dinâmica de Rotores 141 Quando a rotação do rotor for igual a freqüência natural do mesmo, Ω= k = ω , a amplitude será: m r= (k / m ) d 2 (k / m − k / m ) + ξ2 4kmk / m2 = d 2ξ (5.46) Introduzindo a eq. (5.44) na eq. (5.41), as raízes do polinômio podem ser colocadas da forma: s1,2 2 ξ2 km 1 ξ2 km 4k = − ± − m 2 m m ( s1,2 = −ξω ± ω − 1 − ξ2 ) s1,2 = −ξω ± jω 1 − ξ2 (5.47) (5.48) (5.49) A eq. (5.49) pode ser colocada de uma forma compacta : s1,2 = λ ± jωa (5.50) onde o fator λ determina a estabilidade do sistema rotativo (λ < 0, estável e λ > 0, instável) e ωa é a freqüência amortecida do sistema rotativo (ver Figura 5.3). 142 Introdução à Dinâmica de Rotores r eλt r T=2π/ωa eλt t t estável T=2π/ωa instável Figura 5.3 – Composição da resposta do rotor à uma excitação Substituindo as raízes do polinômio (5.49) na solução dada pela eq. (5.39), temos: R=r e 2 −ξω± jω 1−ξ t (5.51) Da eq. (5.51), observa-se que λ = – ξω, ou seja, nesta configuração, o rotor será sempre estável. Introdução à Dinâmica de Rotores 143 REFERÊNCIAS Lalanne, M. and Ferraris, G., Rotordynamics Prediction in Engineering, John Wiley & Sons, 1998. Vance, J. M., Rotordynamics of Turbomachinery, John Wiley & Sons, 1988. Childs, D. Turbomachines Rotordynamics, Phenomena, Modeling, & Analysis, John Wiley & Sons, 1993. 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