título do resumo

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IMPLICAÇÕES ENTRE A FILOSOFIA E A APRENDIZAGEM DO
PENSAMENTO FILOSÓFICO
Ingrid Françyélle Amantino (bolsista Fundação Araucária/PROIC)
[email protected]
Orientador Prof. Dr. Américo Grisotto [email protected]
Universidade Estadual de Londrina/Centro de Letras e Ciências
humanas/Departamento Filosofia
Área e sub-área do conhecimento: Ciências Humanas/Filosofia
Palavras-chave: Ensino de Filosofia. Gilles Deleuze. Félix Guattari.
Resumo
Através de pesquisa teórica o presente trabalho traz algumas questões
referentes à filosofia e seu ensino. Pauta-se em expoentes atuais que
deslocam o pensamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari para o plano da
educação e especificamente ao ensino de filosofia. Existe na produção
conceitual de Deleuze e Guattari, no livro O que é a filosofia?, a ideia de que a
filosofia tem uma atividade específica, sendo a criação de conceitos que
culmina em uma pedagogia do conceito. Os conceitos precisam ser criados
para serem recriados, coadaptados enquanto atividades da filosofia. Por detrás
dos conceitos existem os problemas que são os propulsores da criação de
conceitos. Problema aqui é entendido em caráter intensivo, surge quando o
filósofo é afetado por alguma realidade, movendo toda criação que ganha
consistência pelo conceito. Um ensino ativo de filosofia trabalharia com
conceitos tendo a intensão de suscitar problemas possibilitando a recriação de
conceitos ou até mesmo, por ventura, em criação de conceitos.
Introdução e objetivo
A filosofia é vista por Deleuze e Guattari como uma atividade inventiva que
concerne principalmente em duas ações: traçar um plano de imanência e criar
conceitos através dos personagens conceituais. Eles opõem essa ideia da
filosofia como criadora de conceitos à contemplação, que seria uma atitude
passiva frente ao conhecimento, à reflexão, que não seria o específico da
filosofia e à comunicação, que buscaria o consenso e não o conceito. O plano
de imanência coexiste com o conceito, ele instaura uma imagem do
pensamento, que é pré-filosófico, pois só é com a criação de conceitos que
aparece o filosófico. Os personagens conceituais são fundamentais para a
criação, sendo uma possibilidade interior ao pensamento filosófico. Os autores
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pensam também a arte e a ciência conjuntamente com a filosofia como
criadoras. Mas estas não estão para um mesmo plano de criação. A arte
estabelece um plano de composição, a ciência um plano de referência ou
coordenação e a filosofia um plano de imanência. Mesmo assim elas
estabelecem relações, podem funcionar como intercessoras uma das outras
em sentido transversal. A filosofia cria no seu próprio âmbito, mas pode ser
atravessada por elementos de toda parte, o mesmo para a ciência e a arte.
Muitas são as ideias comuns a respeito da prática dos filósofos e a
respeito da importância da filosofia, assim como de seu ensino e o objetivo é
situar uma postura de ensino delimitando esses pontos indo de encontro
primeiramente com elementos da filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari.
Procedimentos metodológicos
A realização do trabalho teve como principal fonte teórica o livro O que é a
filosofia? de Gilles Deleuze e Félix Guattari e também o livro de Deleuze,
Conversações, além de produções sobre filosofia e ensino que utilizam o
pensamento destes filósofos, como leituras e citações de textos e livros,
geralmente com envolvimento de Sílvio Gallo, que desloca Deleuze e Guattari
para o plano da produção filosófica.
Resultados e discussão
Como práticas de ensino de filosofia dominantes podemos caracterizar
algumas posturas: a aula de filosofia tomada como a reprodução de sua
história; como desenvolvimento de habilidades especiais; como discussão e
reflexão de temas; como interlocução entre as disciplinas; como fomento da
criticidade; filosofia em sala como construção de uma formação cidadã. O caso
é que não está contida nestas posturas uma caracterização específica da
atividade filosófica. E o que é interessante no pensamento de Gilles Deleuze e
Félix Guattari, é que a filosofia possui uma especificidade consistindo na
criação de conceitos. Platão teria precisado criar o conceito de ideia para dizer
que eles, os conceitos, já estão dados, ou seja, as ideias, a serem somente
relembradas. Quando um filósofo coloca conceitos, que é uma construção
criativa dele, passa a existir algo que não existia antes e que constitui uma
espécie de pensamento, que é conceitual.
A criação de conceitos estaria sempre relacionada ao traçado de um
plano de imanência por intermédio de personagens conceituais. Os
personagens conceituais mergulham no caos que os interpela e emitem linhas
de fuga. Operam, assim, movimentos que descrevem o plano de imanência do
autor, participam da formação dos seus conceitos. O plano de imanência não é
um conceito e nem pode ser pensado, mas ele significa o que é pensar de
acordo com cada plano constituído, sempre pré-filosófico em relação ao
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filosófico, que é a criação de conceitos. O plano de imanência é o horizonte
que os conceitos irão povoar. A filosofia não seria um plano de imanência onde
tudo se juntaria, mas constituída por planos distintos.
Os conceitos existem a partir de acontecimentos, problemas. Pensar não
é simplesmente ter/intuir algo. Ocorre pelo que nos confronta em uma dada
realidade e pelo que externamos conceitualmente em resposta a um
determinado acontecimento. E os conceitos são criados para problemas que
mudam necessariamente. Por este motivo, a filosofia e seu ensino são vistos
sob a perspectiva da resistência e a filosofia, neste caso, é pura contingência,
pela qual mudam os planos de imanência, ou uma realidade no pensamento,
que se apropria de contextos. Nessa visão, é de grande importância a
experiência. O problema seria algo que mobilizaria o sujeito, mas não é da
ordem do subjetivo e sim do que é objetivo. Para o problema existir seria
preciso um encontro - um acontecimento -, ou seja, o sujeito deparando-se com
algo que o faria pensar, que o forçaria a pensar. O pensamento não seria,
neste sentido, algo natural, necessitaria desse encontro problemático que se
põe diante do sujeito, que o afetaria. Não se pode ter o aprendizado como
declarado quando diferenciamos este da coleção de informações e sim quando
o colocamos em movimento no próprio pensamento. A história da filosofia deve
ser recorrente no sentido da possibilidade de sua atualidade, no que pode
afetar os alunos, seja na apreensão dos problemas por detrás dos conceitos,
seja fazendo com que os próprios alunos formulem seus problemas. O
tratamento em relação à história da filosofia deve produzir semelhança, mas
não na ótica de que se reporte ao já escrito, sendo que o que convém é o
sentido atual, a atualização dos conceitos e dos problemas. Os conceitos de
uma obra, subordinados a um problema, ou mesmo problemas, são razões dos
conceitos e não estão, aí, dados por completo, há muito que não é dito numa
obra, mas que, de alguma forma, está presente na obra se atualizados e são
necessários muitos movimentos nesta descoberta, agitações para dar valor a
uma determinada filosofia. Uma pedagogia do conceito.
Para um ensino de filosofia ativo em nossas escolas, Gallo (2014) traz
um pensamento de Rancière, em que podemos distinguir três tipos de mestres:
o “explicador”, o “livro aberto” e o “ignorante”. O explicador é aquele que
determina ao aprendiz o que ele deve saber, não dá lugar para que o próprio
pensamento do aprendiz flua, não dá tempo e lugar para a possibilidade do
pensamento como encontro com os signos e com a criação. O mestre livro
aberto é como um sábio que se coloca à disposição do aprendiz para
responder-lhe o que deseja saber e neste caso não se estaria aprendendo com
o professor, mas o próprio professor. Apesar disso, assinala-se que, neste
caso, o aprendiz pode transcender esse professor. Por fim, o mestre ignorante,
que mais do que responder e atender aos anseios de respostas do aprendiz, é
aquele que se põe no mesmo lugar que o estudante, e busca transmitir a este
um sentimento de ignorância, de modo que aposte muito mais nos problemas
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do que nas soluções, sentimento este que entendemos que tem dado
movimento à filosofia desde seus primórdios. A lógica da ignorância pode ser
comparada a “pedagogia do conceito” de que Deleuze e Guattari (1992) nos
fala.
Conclusão
Conclui-se que o professor de filosofia deve também ser filósofo, comparado ao
mestre ignorante. Um educador que permite aos aprendizes educarem o
próprio pensamento. A filosofia estaria ligada nos dias de hoje com a
insatisfação frente à realidade, problemas que surgem. Podendo ser sintetizada
na definição de Deleuze e Guattari, como a criação de conceitos, sendo estes
acontecimentos, que são experiências de pensamento. A prática do professor
de filosofia deve ser pensada no sentido de propiciar essas experiências e o
significado da filosofia existe quando ela se mantém ativa, na imanência do
pensamento com elementos que extravasam o sujeito/aprendiz quando tomado
por problemas, podendo ser de qualquer parte, impelindo-o à superação de si
através da criação conceitual.
Agradecimentos
Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Américo Grisotto por ter me confiado
possibilidade de realizar este trabalho de iniciação científica, pela paciência e
auxílio. Agradeço à Fundação Araucária pelo incentivo e oportunidade.
Referências
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução de Bento
Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
DELEUZE, Gilles. Filosofia (Os intercessores) In: DELEUZE, Conversações.
Tradução de Peter Pál Pelbart. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
GALLO, Sílvio. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino
médio. Campinas: Papirus Editora, 2012.
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