686 DA MÚSICA, DE MIL PLATÔS: A INTERCESSÃO ENTRE FILOSOFIA E MÚSICA EM DELEUZE E GUATTARI Henrique Rocha de Souza Lima [email protected] Mestre em Estética e Filosofia da Arte Universidade Federal de Ouro Preto Palavras-chave: Deleuze, Música, Ritornelo, Escuta. Tendo como pano de fundo uma elaboração conceitual peculiar a respeito das noções de tempo e obra de arte, a produção filosófica de Gilles Deleuze e Félix Guattari desenvolve uma relação muito específica entre filosofia e música. É notável o modo segundo o qual estes autores se apropriam do pensamento expresso nos escritos de compositores como Edgard Varèse, Pierre Boulez, Olivier Messiaen e John Cage, bem como do pensamento expresso nas próprias obras musicais destes compositores e nas de tantos outros. Livros como Mil Platôs e O que é a Filosofia? apresentam seus conceitos filosóficos por meio de uma simbiose com o pensamento e com acontecimento musical, abrangendo uma gama de referências que envolve desde a música ocidental desenvolvida entre os séculos XVI a XIX e a música de massa do século XX até tradições musicais nãoocidentais, incluindo os contextos da improvisação e da música em situações ritualísticas. Levando em consideração os múltiplos pontos de contato entre esta produção filosófica e a música, pode-se perceber uma relação consideravelmente diversa das que foram produzidas por outros autores da tradição do pensamento ocidental, de Platão a Lévi-Strauss. Um dos traços distintivos desta produção reside na elaboração de dois conceitos em especial: o de individuação e o de ritornelo. Como síntese de meu trabalho de dissertação de mestrado, intitulado Da música, de Mil Platôs: a intercessão entre filosofia e música em Deleuze e Guattari, esta comunicação se propõe a expor os traços distintivos que fazem com que esta produção filosófica coloque em ato um modo singular de relação entre filosofia e arte. Sendo ao mesmo tempo nutrida de pensamento produzido em música e produzindo conceitos para se pensar o acontecimento musical em sua complexidade, a filosofia de Deleuze e Guattari nos leva a pensar nos modos pelos quais uma filosofia produz seus próprios conceitos, seu próprio conteúdo e sua própria expressão, por meio de interfaces que ela estabelece com a estética e com o pensamento em arte, ao mesmo tempo em que ela projeta no horizonte do pensamento novas imagens de Pensamento, Tempo, Obra de arte, Silêncio e Escuta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 687 BOULEZ, P. A Música Hoje, São Paulo, Perspectiva: 1981. Trad. Reginaldo de Carvalho e Mary Amazonas Leite de Barros. BOULEZ, P. & CAGE, J. Correspondance. Paris, Christian Bourgois Éditeur, 1991. CAGE, J. Silence: Lectures and Writings. University Press, 1961, Middletown, USA. DELEUZE, G. Critique et clinique, Paris, Minuit, 1993. _______. Différence et répétition, Paris, PUF, 1968. _______. La philosophie critique de Kant, Paris, PUF, 1963. DELEUZE, G & GUATTARI, F. Mille Plateaux, Paris, Minuit, 1980. ______.Qu’est-ce que la philosophie?, Paris, Minuit, 1991. VARÈSE, E. Novos instrumentos e nova música, in: MENEZES, F. Música eletroacústica: história e estéticas. São Paulo: Edusp, 1996.