PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS HOSPITALIZADAS1 BOEIRA, Giana2; MANFIO, Franciele2; SILVA, Ruth Maurer da²; IOP, Sandra²; PEDROTTI, Taís² 1 Trabalho de Pesquisa _UNIFRA Curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected]; [email protected] 2 RESUMO O presente trabalho tem como propósito discutir este tema considerando o alto índice de casos de desnutrição hospitalar em crianças, através de uma pesquisa de revisão bibliográfica. Os dados foram coletados durante o primeiro semestre de 2012. Utilizadando as seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online - SCIELO, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde - LILACS e Google Acadêmico. No Brasil houve um declínio na prevalência de desnutrição em crianças menores de cinco anos de idade, no entanto ainda continua sendo um problema de saúde pública. Doença multifatorial, resultante da inter-relação de diversos fatores, como pobreza, processos infecciosos e baixa ingestão calórica e protéica. Com os estudos conclui-se que o cuidado com a criança desnutrida não termina na hospitalização, devendo prosseguir em nível ambulatorial para prevenir que a criança seja hospitalizada novamente e assegurar a continuidade do desenvolvimento emocional, físico e mental da criança. Palavras-chave: Pediatria; Hospitalização; Estado nutricional; Desnutrição. 1. INTRODUÇÃO A infância é uma etapa fundamental no desenvolvimento humano, marcada pelas atividades físicas intensas, sendo que estas são necessárias para que a criança possa ir aos poucos explorando e conhecendo o ambiente a sua volta e assim, consequentemente, crescendo normalmente e aprimorando seu conhecimento sobre o mundo (OLIVEIRA; GABARRA; MARCON et al, 2009). Para que a criança possa percorrer esta etapa de sua vida sem prejuízos é necessário estar em condições adequadas de saúde. Porém, no decorrer de seu desenvolvimento, elas passam também por períodos de doenças, o que muitas vezes pode ser acompanhado de hospitalização (OLIVEIRA; GABARRA; MARCON et al,2009). A doença e a hospitalização são situações que ao serem vivenciadas pela criança são consideradas determinadoras de estresse e que podem fazer com que a criança fique emocionalmente traumatizada. Ao ser hospitalizada a criança encontra- se duplamente doente; além da patologia física, ela sofre de outra doença, a própria hospitalização (ANGELO; VIEIRA, 2010). 1 Devido às mudanças no cenário epidemiológico e na assistência à saúde da criança e do adolescente, os profissionais de saúde passaram evidenciar um aumento de pacientes portadores de enfermidades crônicas que necessitam de um atendimento especializado e em longo prazo. A desnutrição e a obesidade são dois distúrbios nutricionais decorrentes do atendimento inadequado das necessidades energéticas do organismo que acometem frequentemente a população infantil e que determinam graves consequências para a saúde desses indivíduos (SANABRIA; DIETZ; ACHUCARRO, 2000). A avaliação nutricional é um instrumento de fundamental importância para o diagnóstico de desnutrição e fatores de risco nutricional, sendo utilizada como ponto de partida para o tratamento dietoterápico. A antropometria destaca-se como forma de avaliação do estado nutricional por ser um procedimento de baixo custo e de grande praticidade para diagnosticar o estado nutricional, podendo ser aplicado por diferentes profissionais treinados (SILVA; MURA, 2011). A desnutrição condiciona crescimento e desenvolvimento deficientes, maior vulnerabilidade a doenças infecciosas, comprometimento de funções reprodutivas e redução da capacidade para realização de atividades. A prevalência da desnutrição no Brasil em crianças hospitalizadas vem sendo estudada de forma isolada nos grandes hospitais, principalmente universitários, abrangendo populações com doenças variadas (NEVES et al, 2006). Esta pesquisa foi desenvolvida por reconhecer à relevância dessa temática e a necessidade que os cursos de formação têm em desenvolver competências e habilidades necessárias a reflexão e transformação em prol da melhoria da qualidade de vida dessas crianças. Com isso, o presente trabalho tem como propósito discutir este tema considerando o alto índice de casos de desnutrição hospitalar em crianças, como foi verificado em achados na literatura, sendo relevante para conscientização da equipe multiprofissional quanto à importância da avaliação nutricional no período de hospitalização. 2. METODOLOGIA O presente trabalho consiste em uma revisão da literatura através da aplicação de estratégias científicas que têm por finalidade reunir e sintetizar publicações e realizar uma avaliação crítica das mesmas. A coleta de dados foi realizada durante o primeiro semestre de 2012. Foram utilizadas as seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library Online - SCIELO, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde - LILACS e Google Acadêmico. 2 Neste trabalho, optou-se pela inclusão de artigos apartir do ano 2000 e de autores nacionais e internacionais. Além disso, os mesmos deveriam abordar questões referentes ao estado nutricional de crianças hospitalizadas, após a leitura de todos os resumos previamente selecionados, alguns artigos não foram incluídos devido à dificuldade de acesso, pelo fato de não estarem disponíveis na íntegra nas bases pesquisadas. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A Organização Mundial da Saúde (OMS), tendo feito uma revisão de 67 estudos internacionais, mostrou que ao longo de cinco décadas (50 a 90) a mortalidade de crianças hospitalizadas com desnutrição grave não mudou, mantendo-se alta e, em alguns locais, chegando a 50%, sendo que esta recomenda que a taxa de mortalidade hospitalar dessas crianças não deve ultrapassar a 5%. No Brasil houve um declínio na prevalência de desnutrição em crianças menores de cinco anos de idade, no entanto ainda continua sendo um problema de saúde pública. É uma doença multifatorial, resultante da inter-relação de diversos fatores, como pobreza, processos infecciosos e baixa ingestão calórica e protéica (CRUZ, 2009). A avaliação do estado nutricional (EN) da criança no momento da admissão hospitalar é de extrema importância para se estabelecer metas e abordagem para a recuperação e ou manutenção do estado nutricional durante o período de internação. Medir o crescimento de uma criança é uma das maneiras mais eficientes de avaliar sua condição geral de saúde, possibilitando intervenções efetivas no sentido de restabelecer as condições ideais de saúde, evitando os danos provenientes de desnutrição (ROCHA; ROCHA; MARTINS, 2006). Infelizmente a avaliação nutricional da criança e o seu seguimento durante a internação não fazem parte da rotina praticada no atendimento hospitalar em nosso meio, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento dos agravos nutricionais (FERREIRA; FRANÇA, 2002). Em um estudo realizado com 203 crianças, com predominância do sexo masculino com idade média de 21,6±15,4 meses. As prevalências de desnutrição moderada e/ou grave (< -2 z escore) foram 18,7, 18,2 e 6,9% para os índices peso/idade, estatura/idade e peso/estatura, respectivamente, sendo então a ocorrência elevada de débito de peso para idade entre as crianças no momento da admissão (ROCHA; ROCHA; MARTINS, 2006). Durante a hospitalização, a perda ponderal teve relação significativa com o tempo de internação prolongada e com a doença que motivou a hospitalização. A ocorrência de mudança no padrão nutricional de crianças admitidas em condição de eutrofia nos leva a refletir sobre a necessidade de uma cultura de valorização do estado nutricional dos 3 pacientes hospitalizados, em particular a criança, pela sua maior vulnerabilidade nutricional (ROCHA; ROCHA; MARTINS, 2006). Já em outro estudo realizado no periodo de fevereiro a julho de 2001, com 52 crianças registradas no livro de entrada da clínica pediátrica do Hospital Universitário do estado de Alagoas, encontrou os seguintes resultados 71,2% das crianças estavam desnutridas por ocasião da internação. Houve uma redução da ordem de 15,2% na prevalência da desnutrição grave e de 6,5% na de desnutrição leve, porém, o número de casos de desnutrição moderada aumentou em 24,7%. No momento da alta hospitalar, a prevalência de DEP era de 69,2%, apenas dois pontos percentuais abaixo da prevalência inicial (FERREIRA; FRANÇA, 2002). A prevalência de desnutrição e de seus fatores de risco na admissão hospitalar encontrada em crianças e adolescentes foi bastante expressiva. Esse achado é muito relevante, já que o diagnóstico do estado nutricional na admissão hospitalar, associado à identificação dos fatores de risco para a desnutrição, possibilita a priorização de ações para o grupo de maior risco, tendo em vista que o estado nutricional é um fator importante para recuperação do paciente. Os resultados obtidos sugerem que a atenção dietética prestada aos pacientes hospitalizados na clínica pediátrica do HU não está sendo efetiva no sentido de melhorar a condição nutricional das crianças ali internadas, independentemente do diagnóstico estabelecido e do período de hospitalização. (FERREIRA; FRANÇA, 2002). Segundo Oliveira et al (2005), em Campinas avaliou 125 crianças admitidas na enfermaria de infectologia pediátrica do Hospital São Paulo, com idade entre 6 e 36 meses de vida, teve como objetivo acompanhar as crianças bem como se tiveram manutenção ou melhora significativa do estado nutricional, evidenciando a necessidade do acompanhamento nutricional durante a hospitalização. Ressalta-se a importância da atuação em equipe multiprofissional para que haja melhor tratamento da criança hospitalizada. O risco nutricional relacionado ao diagnóstico apresentou-se em 55% dos pacientes avaliados, sugerindo uma possível associação entre a doença, o estado nutricional e a classificação de risco para desnutrição (OLIVEIRA et al, 2005). Foi realizado um estudo em Recife, Estado de Pernambuco, onde foram avaliadas 99 crianças hospitalizadas no período de maio de 1999 a maio de 2000, verificou-se que a maior parte das crianças tinha idade inferior a 6 meses, precárias condições de habitação e foi desmamada precocemente. Mais de um terço delas teve nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e evolução para o óbito (FALBO; ALVES, 2002). 5. CONCLUSÃO 4 Os resultados obtidos permitem concluir que houve um alto percentual de agravos nutricionais nas crianças avaliadas. Também mostrou que não ocorre anotação sistemática do estado nutricional na rotina de registro no prontuário e nem a adoção de medidas de terapia nutricional apropriadas para crianças com desnutrição. Salienta-se, assim, a importância de um diagnóstico do estado nutricional na admissão hospitalar, associado à identificação dos fatores de risco para a desnutrição, possibilitando a priorização de ações para o grupo de maior risco, tendo em vista que o estado nutricional é um fator importante para recuperação do paciente pediátrico. O cuidado com a criança desnutrida não termina na hospitalização, devendo prosseguir em nível ambulatorial para prevenir que a criança seja hospitalizada novamente e assegurar a continuidade do desenvolvimento emocional, físico e mental da criança. REFERÊNCIAS ANGELO, Thayane Silva de; VIEIRA, Maria Rita Rodrigues. Brinquedoteca hospitalar: da teoria à prática. Arq Ciênc Saúde; v.17, n.2, p:84-90;abr-jun, 2010. CRUZ, Luciane Beitler da et al. Estado nutricional e fatores de risco para desnutrição no atendimento nutricional pediátrico da admissão hospitalar. Rev HCPA. v.29,n.3, p194-199, 2009. FALBO, Ana Rodrigues; ALVES, João Guilherme Bezerra. 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ROCHA, Geila; ROCHA, Edmundo; MARTINS, Ceci. Hospitalização: efeito sobre o estado nutricional em crianças. J Pediatr . v.82, n.1, p:70-4, 2006. SANABRIA, Marta Cristina; DIETZ, Edith; ACHUCARRO, Carmen de varela. Evaluación nutricional de niños hospitalizados en un servicio de pediatría de referencia. rev. Pedriatría. v.17, n.1,p:16-23 janjun, 2000. SILVA, Sandra ; MURA, Joana D’ Arc P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. 2. ed. São Paulo, São Paulo: Roca, 2011. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Management of the child a serious infection or severe malnutrition: guidelines for care at the firts-referral level in developing countries. OMS. Unicef. p:162, 2000. 5