SERVIÇO SOCIAL E A TEOR SERVIÇO SOCIAL E A TEORIA DA COMPLEXIDADE: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL? Naiara Gaspar de Holanda Lima1 Hudson Andrey Corera da Costa2 RESUMO O artigo tem como objetivo principal, trazer a discussão acerca da teoria da complexidade no Serviço Social, abordando suas principais contribuições, no intuito de somar na formação profissional dos discentes. Será exposto na discussão da Gênese do Serviço Social, Os fundamentos filosóficos do Serviço Social e uma breve contribuição da teoria da complexidade no Serviço Social. A discussão torna-se pertinente, porque em tempos em que as problemáticas sociais estão cada vez mais agravadas, é necessário que o profissional tenha outras possibilidades de intervenção, a teoria deve estar sempre relacionada a prática, o trabalho profissional do assistente social não deve ser executado aquém da luz teórica, existe entre teoria e prática uma relação intrínseca. Desta forma, será exposto de que maneira a teoria da complexidade soma ao serviço social, assim como as demais teorias existentes no curso de serviço social e que são estudadas na formação profissional, sendo parte do arcabouço teórico metodológico da formação. PALAVRAS-CHAVES: Serviço Social, Teoria da Complexidade, Fundamentos Filosóficos Serviço Social. 1 Bacharel em Serviço Social (ESBAM, 2014), Mestranda do Programa de Pós Graduação em Serviço social e Sustentabilidade na Amazônia- PPGSS na Universidade Federal do Amazonas- UFAM. 2 Bacharel em Serviço social (Dom Bosco, 2006), Especialista em Gestão e Elaboração de Políticas Públicas (UNINORTE, 2009), Mestrando do Programa de Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia-PPGSS da Universidade Federal do Amazonas- UFAM, Assistente Social no Projeto Ame a Vida- Manaus/Am. 1 INTRODUÇÃO Analisando o contexto no qual se originou a categoria profissional Serviço social, pode-se perceber o quanto a mesma no decorrer de sua construção, sofreu influências de diversas vertentes teóricas, sendo as principais, o positivismo, a fenomenologia e a que fundamenta a maior parte da prática dos assistentes sociais, o marxismo. Essas vertentes são apresentadas e estudadas no decorrer da formação profissional em Serviço Social, aos discentes, futuros assistentes sociais, sendo assim, são parte do arcabouço teórico-metodológico do Serviço Social. O serviço Social é uma profissão legalmente reconhecida pela Lei de Regulamentação nº 8662/93 e também pelo seu código de Ética Profissional, cujo mesmo é a bússola que deve nortear a prática profissional do assistente social, diante dos indivíduos sociais, do seu espaço sócio ocupacional e das diversas demandas apresentadas em seu cotidiano profissional. Diante dos vários cenários pelos quais a profissão já se deparou, o principal propósito é a discussão acerca da teoria da complexidade como ferramenta que pode contribuir para o Serviço Social, olhando por diversos pontos de vista acerca das diversas problemáticas sociais, que cotidianamente são apresentadas aos assistentes sociais em seus espaços sócio ocupacionais. DESENVOLVIMENTO 1.1 A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL O Serviço Social surge em um contexto de emergência da questão social com a chegada do capitalismo, a princípio pautado em ações de cunho assistencialista, benemérito e filantrópico realizados principalmente pela Igreja Católica, que buscava recuperar sua representatividade ao unir-se ao Estado e a Burguesia, para atender as mais diversas expressões da questão social. Nesse momento a igreja católica teve importante papel, principalmente no que se refere a um dos primeiros marcos filosóficos do Serviço Social, o neotomismo, baseado nas doutrinas da igreja católica, doutrinas que subsidiaram a prática profissional do assistente social na perspectiva assistencialista, mas principalmente moralista, estabelecendo-se o processo de recristianização da Igreja Católica (AGUIAR, 2011). A trajetória do Serviço Social foi marcada por diversas mudanças na sua prática profissional, mudanças essas que aconteceram quando a profissão aproximou-se de 2 diferentes vertentes teóricas, quais sejam: positivismo, fenomenologia, marxismo, estas posteriores ao neotomismo, cujos princípios mostravam os primeiros distanciamento da doutrina cristã predominante. Na perspectiva da Igreja Católica e sob influência da Ação Católica foi desenvolvido em 1932 um curso com a juventude católica feminina, com duração de pouco mais de um mês, ministrado por Mademoiselle Cristine de Hemptine, presidente da Juventude Católica Feminina, cujos conteúdos desse curso eram assuntos sobre a doutrina social da igreja e sobre a Ação Católica. Em São Paulo, assim como no Rio de Janeiro, a ação católica será também desenvolvida, e em 1932 nascerá o Centro de Estudos e Ação Social- CEAS. Pode-se perceber toda a movimentação da igreja em busca de uma organização para resgatar sua representatividade, e para a “cristianização dos indivíduos, da família e da sociedade” (AGUIAR, P 35, 2011). YAZBEK, contribui que: É por demais conhecida a relação entre a profissão e o ideário católico na gênese do Serviço Social brasileiro, no contexto de expansão e secularização do mundo capitalista. Relação que vai imprimir a profissão caráter de apostolado fundando em uma abordagem da “questão social” como problema moral e religioso e numa intervenção que prioriza a formação da família e do indivíduo para solução dos problemas e atendimentos de suas necessidades materiais, morais e sociais (2009, p. 145). Foi em 1936 que surge no Brasil a primeira Escola de Serviço Social em São Paulo, com o incentivo dos grupos que faziam parte da CEAS, posterior a esse momento na década de 1940 surgem diversas escolas de serviço social nas capitais do Estado, quando começa a acontecer o processo de institucionalização do serviço social no Brasil, sendo profissão devidamente reconhecida na relação da divisão social do trabalho, estando vinculada a grandes instituições assistenciais, estatais, paraestatais ou autárquicas (Iamamoto, 2006). As várias fases do Serviço Social acarretaram um vasto arcabouço teórico, contudo também determinada confusão entre os profissionais, que em busca de cientificidade, foram moldando suas práticas em ações funcionalistas e desenvolvimentistas, ações essas muito presentes nos diferentes Governos. (Aguiar, 2011). A partir de 1960 no Brasil no que se refere ao Serviço Social, começa uma ruptura com o neotomismo, começando a aparecer uma postura na visão dialética. Neste 3 momento parte da América Latina e o Brasil passam a vivenciar um novo momento tanto social quanto político, em face das demandas sociais cada vez mais expressas no seio das sociedades capitalistas, a profissão de serviço social passa a questionar suas intervenções ainda de cunho assistencialista filantrópico, e inicia uma busca pelo rompimento com o conhecido “serviço social tradicional”. Esse momento é marcado pelo que conhecemos de “Movimento de Reconceituação”, nesta perspectiva contribui Bonneti (2001), acerca do movimento de reconceituação, este marcou a primeira aproximação do serviço social com as teorias marxistas, onde tal aproximação trouxe uma gama de entendimentos por meio de práticas políticas de segmentos profissionais e estudantes. O serviço Social quando entra nesse movimento de reconceituação, ele passa a ser questionado enquanto profissão e os profissionais iniciam um processo de questionamento dos métodos, instrumentos e técnicas, em que pesem as influências das principais vertentes positivista, fenomenológica e marxista. Todavia, seja hoje a vertente marxista a principal na qual se apoia a prática profissional, deve-se reconhecer a contribuição das demais vertentes, principalmente no que se refere ao novo direcionamento hoje presenta na categoria profissional. 1.2 OS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS NO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO Adentrando a discussão das vertentes teóricas que perpassam os fundamentos filosóficos do Serviço Social em seus momentos iniciais, destaca-se o tomismo e o neotomismo, ambos alicerçados na doutrina social da Igreja católica, tendo princípios conservadores, de cunho moralistas, religioso, humanistas. A principal preocupação deste postulado filosófico baseado no pensamento de São Tomás de Aquino eram: noção de dignidade da pessoa humana; sua perfectibilidade; sua capacidade de desenvolver suas potencialidades; a natural sociabilidade do homem ser social e político; a compreensão da sociedade como união dos homens para realizar o bem comum. Este ideário filosófico da doutrina social da igreja católica, unificou-se ainda as ações de racionalismo higienistas, fortemente presente em partes da América Latina, na 4 Argentina e Chile, partindo principalmente da medicina, que preocupava-se em assegurar assistência pública aos indivíduos sociais. (AGUIAR, 2011). O que percebemos no âmbito da formação profissional dos assistentes sociais neste período, era a presença forte de postulados cristãos, bem como vocacional, tanto que um dos requisitos para que se fosse docente do curso de Serviço Social, era que assumisse a doutrina social católica, e que fossem católicos praticantes. Nesta perspectiva religiosa e vocacional de quem gostaria de ingressar a profissão de Serviço Social, a formação correspondia em 4 principais pontos, onde destacaremos dois: 1- A formação científica, que se dava por meio de disciplinas como a Sociologia, Psicologia e Biologia e também da Moral, e tinham como objetivo, propor o conhecimento exato do homem e da sociedade, de todos os problemas que dele se originam e neles se refletem. 2- A formação pessoal, nesta a escola devia preocupar-se com o desabrochar da personalidade integral do aluno, dando ao aluno uma formação moral sólida nos pilares cristãos. (AGUIAR, 2011). Sobre o positivismo e sua influência no Serviço Social, sabe-se que está passou a acontecer quando a profissão começa a questionar sua intervenção, nesse momento surge a preocupação do “o que” fazer e o “como” fazer, o que levou o Serviço Social a cair no metodismo, e na burocracia. A profissão passou a receber a influência do positivismo quando as técnicas norte americanas passaram a serem utilizadas na intervenção profissional, este momento marca a passagem do modelo franco belga para o americano. Aguiar(2011) colabora que o Serviço social, começou importando as técnicas do Serviço Social de caso, logo depois, Serviço Social de Grupo e Comunidade. Isso ocorreu no momento em que os assistentes sociais foram estudar em universidades americanas. Este momento é marcado ainda pelas influências da Sociologia e da Psicologia. O mesmo autor assinala ainda que” Com a vinda do Serviço Social Americano vem para o Serviço Social Brasileiro a perspectiva funcionalista. Essa perspectiva marca preponderantemente o Serviço Social no Brasil” (AGUIAR, 2011, P. 83). Há no positivismo o estudo dos fatos, em busca de estabelecer relações entre eles, contudo não há o estudo das causas dos fatos, uma vez que essa corrente filosófica acredita que os acontecimentos são regidos por leis invariáveis e mesmo pela própria natureza. Vieira (1987), colabora que no Serviço Social Brasileiro, a matriz positivista 5 ganha importante papel, principalmente para a sua legitimação, ampliando seus referenciais técnicos, há neste momento uma junção das doutrinas humanistas cristãs, do neotomismo, com o suporte técnico oferecido na teoria social positivista. Esse momento Iamamoto (1998), assinala de “arranjo teórico-doutrinário. É dentro do contexto da neutralidade, da imparcialidade entre o sujeito e o objeto preconizados pela teoria social positivista, que o Serviço Social conforma-se com sua função social atribuída pelo Estado e pelo empresariado de ajustamento social. Sobre a fenomenologia ciência que estuda as classificações e descrições dos fenômenos, esta teve como principal autor Husserl (1859-1938), exercendo grande influência na filosofia contemporânea, esta ciência se ocupa em estudar os fenômenos. É uma corrente de pensamento que não se interessa em colocar a historicidade dos fenômenos, considerada por muitos como a-histórica. A fenomenologia, não introduz transformações a realidade, mantendo-se sempre no conservadorismo, estuda a realidade, somente com o objetivo de descrevê-la ou apresenta-la tal como é, sem mudanças. Não aborda os conflitos de classes e muito menos as mudanças estruturais e conjunturais. (TONET, 1984). No Serviço Social, já nos meados da década de 1970, no bojo do movimento de reconceituação, percebe-se uma aproximação de parte dos assistentes sociais da época, com a fenomenologia. Aguiar (2011), assinala que os sinais da fenomenologia já se encontravam na postura do Serviço Social mesmo no momento marcado pelo neotomismo e positivismo, contudo a partir de 70 a corrente passou a influenciar sobremaneira no Serviço Social Brasileiro através da Pontífica Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, que trazia através de Ana Augusta Almeida, uma postura fenomenológica. No documento de Sumaré, resultado do III Seminário de Teorização do Serviço Social Brasileiro, é explicitado pela primeira vez a presença da fenomenologia no Serviço Social Brasileiro. Tonet (1984), assinala que a fenomenologia introduz a visão existencial no trabalho social, proporcionando a aplicação da teoria psicossocial. Na fenomenologia, o Serviço Social se realiza através da intervenção social ou tratamento social. Como principal contribuição para o Serviço Social a fenomenologia traz o processo de ajuda psicossocial a partir dos princípios, diálogos, pessoa e transformação, finalidade primordial da intervenção do profissional. 6 Sobre o marxismo, foi a partir da década de 60 que o materialismo histórico dialético passa a influenciar o Serviço Social. Assumindo uma postura crítica os assistente sociais brasileiros passam a interpretar a sociedade com um novo olhar, um olhar crítico, analisando as contradições sociais, reconhecendo a existência de duas classes sociais antagônicas, burguesia e proletariado. É na efervescência do movimento de reconceituação em 1970 que esta postura crítica ganha força unindo-se a diversos movimentos sociais, que lutam por direitos dos mais diversos segmentos (IAMAMOTO, 2007). O movimento de reconceituação marca a primeira aproximação do Serviço Social com a teoria marxista, trazendo para a profissão uma gama de entendimento por meio de práticas políticas. Foi através da aproximação com o marxismo que os profissionais começam um processo de ruptura com o Serviço Social tradicional, levantando diversos questionamentos sobre sua prática e a quem os mesmos estavam servindo. Este momento é importantíssimo para a categoria, marcando o primeiro momento de estabelecimento de vínculos entre os profissionais e a classe trabalhadora. Somando-se a isso, este momento é marcado pelo engajamento dos profissionais nas lutas presentes nas duas classes sociais e sendo desencadeadas pelo entendimento de que a sociedade não é harmônica, tal como se preconizava no neotomismo, positivismo e mesmo na fenomenologia. Sobre o marxismo Paula (1995), assinala que o pensamento filosófico de Marx e Engels tornaram-se conhecidos em meados do século XIX, em meio a efervescência dos movimentos operários pela libertação econômica e política. Este momento é marcado pela forte luta do proletariado contra a exploração e opressão. O materialismo histórico dialético, de Marx e Engels, surge como uma nova interpretação do mundo, voltado para os interesses em defesa da classe trabalhadora. É o materialismo dialético, um método que parte da análise da realidade, onde tudo se desenvolve e se transforma. É contemplado por três leis básicas: lei da unidade e dos contrários; a lei da transição do quantitativo para o qualitativo e a lei da negação da negação. As influências desta corrente filosófica traz para o Serviço Social, de imediato, o entendimento de que a sociedade não é estática e nem a-histórica. Contribui ainda para que o Serviço social desenvolva sua dimensão crítica e política, não mais considerando a sociedade como um todo harmônico. 7 Netto (1995), assinala que o amadurecimento da profissão já na década de 80, contribui para que o Serviço Social dialogue com as verdadeiras obras de Marx, não mais interpretações, esse momento marca a apreensão do Serviço Social ao método marxista, proporcionando aos profissionais uma visão totalitária da sociedade e de tudo que dele faz parte, as contradições, a exploração, a alienação, a mais valia, que contribui para acumulação capitalista, a propriedade privada e a luta de classes, oriunda de todos esses processos. 1.3 BREVE CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA DA COMPLEXIDADE NO SERVIÇO SOCIAL. Adentrar a discussão da teoria da complexidade não é tarefa fácil de se executar, quiçá interrelacionar a mesma com o Serviço Social, profissão que categoricamente é resultado de construções e reconstruções em torno de sua prática profissional, interventiva hoje na perspectiva do direito principalmente daqueles que severamente são atingidos pela questão social, deste mundo globalizado. A intenção agora é clarificar como a teoria da complexidade de Edgar Morin, pode contribuir sobremaneira ao Serviço Social, possibilitando uma visão de dentro pra fora e de fora pra dentro, do todo e parte, do uno e do múltiplo. Assim, Roberto (2008), assinala que o movimento da história configurado e moldado, sobretudo, pelo modelo globalizante do neoliberalismo, traz à tona novos paradigmas, que precisam ser estudados. A autora atribui que a abertura para um novo pensar crítico é determinante para toda e qualquer profissão. A referida destaca que dentro desta concepção de novas teorias no âmbito do Serviço Social, encontra-se a Teoria da Complexidade, destacando-se as principais propostas de Anthony Giddens, Hanna Arendt, Jurgen Habermas, Boaventura Souza Santos e Edgar Morin. A principal questão ora reconhecida no pronunciar da autora citada é reconhecer as configurações e reconfigurações da questão social, oriundas das profundas transformações econômicas, Sociais e políticas, refletindo diretamente no Serviço Social, exigindo dos profissionais novas análises e novas alternativas para as novas demandas (ROBERTO, 2008). Os assistentes sociais, profissionais que atuam diretamente com a questão social e suas multifacetadas expressões, devem compreender que a diversidade humana é um 8 fato concreto e a subjetividade interfere no desenrolar do tecido social. A complexidade e diversidade étnica, racial, cultural, fazem parte do todo de uma sociedade. Para tanto, exige-se do profissional, a busca incessante de alcançar o ser humano em sua totalidade. Roberto (2008, p. 13) assinala, “Buscam-se hoje formas diferentes de intervenção que consigam alcançar o ser humano em sua totalidade- racional, emocional e material”. A relação com novos saberes possibilita a compreensão da totalidade que perpassa o ser humano. Do ponto de vista da complexidade, nada pode ser analisado isoladamente, a teoria da complexidade estimula e requer de nós uma ruptura e/ou desprendimento do cartesianismo, para adentrar na dinamicidade do todo e parte. Capra (1996) assinala que havendo a extinção de um ser do sistema ecológico dinâmico e vivo, isso pode significar um colapso de todo o ecossistema. Dessa forma compreendemos a interligação e interrelação de todas as coisas. Roberto (2008), assinala que não se pode ignorar a intrínseca relação entre todo e parte, uno e múltiplo, unidade e diversidade. Seguindo a linha de raciocínio de Capra (1996), Roberto(2008), nos conduz ao desprendimento da análise cartesiana das coisas, em que tudo deve ser estudado separadamente. Na complexidade a um redimensionamento na análise para macro, sem extinguir ou desprezar a micro. Trazendo as contribuições ora assinaladas, pode-se assim dizer que o homem é um ser cuja atitude unitária, atinge e compromete todos os demais homens, sendo assim não somos um ser cuja atitude, prejudique somente a nós mesmos. Ao refletirmos sobre a questão social percebemos que a mesma é fruto de um sistema excludente e desigual, que parte da ganância de outros homens, que ao monopolizarem os meios de produção, o poder e a riqueza produzida coletivamente, prejudicam e comprometem outras pessoas, ou seja, o tecido social sofre. A prática profissional do assistente social é regido por uma lei de regulamentação 8662/93, pelo código de Ética Profissional, que estabelece os princípios norteadores da sua prática sendo a bússola que orienta e subsidia os assistentes sociais em seus espaços sócio ocupacionais. Dentro deste contexto, soma-se ainda o projeto ético- político da profissão, cujo mesmo é regido majoritariamente pela teoria marxista, possibilitando um posicionamento crítico, ético, comprometido e em defesa da classe 9 trabalhadora. Existem as demais vertentes já mencionadas, que formam o pluralismo do Serviço Social. Ressalta-se que a prática profissional do assistente social, não é e nem deve ser vista como estática, ainda que as expressões da questão social sejam as mesmas vivenciadas pelos indivíduos em outras localidades, a especificidade dessa vivência é diferenciada, ou seja, as expressões da questão social são vividas, experimentadas de maneira diferente por cada indivíduo e isso nos faz refletir a complexidade da mesma. Rodrigues (1998) contribui que a prática profissional representa o agir profissional na complexidade exposta na realidade do tecido social. Há na prática do assistente social uma heterogeneidade de relações- indivíduo- profissional, situações, valores e significados diferentes. Esta heterogeneidade do objeto do Serviço Socialquestão social e do sujeito- indivíduo social, explicita que não é possível tratar nenhuma situação sob olhares óbvios, como se fossem semelhantes. Podemos perceber que a complexidade está presente no Serviço Social em dois fortes momentos, sua relação com o objeto- questão social, e sua relação com o sujeito, inseridas em um contexto social de amplas contradições. Na complexidade de Edgar Morin, este parte principalmente de um princípio fundamental, não há mais verdade absoluta, esta vem se dissolvendo em meios as transformações societárias. O referido parte do princípio de que não há como pensar o cenário atual somente na sua objetividade, mas considerando a subjetividade das pessoas, cultura, religião, ética, princípios morais, escolhas. Edgar Morin, se coloca como crítico ferrenho de tudo que se impõem como certo e único. Os principais conceitos inerentes a teoria da complexidade de Edgar Morin, estabelecem-se em: ordem, desordem. ordem extrapola as idéias de estabilidade, rigidez, repetição e regularidade, unindo-se à idéia de interação, e imprescinde, recursivamente, da desordem, que comporta dois pólos: um objetivo e outro subjetivo. O objetivo é o pólo das agitações, dispersões, colisões, irregularidades e instabilidades, em suma, os ruídos e os erros. O pólo subjetivo é “... o da impredictibilidade ou da relativa indeterminabilidade. A desordem, para o espírito, traduz-se pela incerteza” (MORIN, 2000, p. 200). Pensar o Serviço Social dentro deste contexto, é refletir sobre as diversas expressões da questão social, sobre as mais variáveis problemáticas nas quais lidam os 10 assistentes sociais em seus espaços de trabalho cotidianamente. Não é uma tarefa fácil, mas é um convite em analisar os fenômenos a partir de um outro ponto de vista, ordem e desordem das coisas, a relação intrínseca das coisas, do todo, da parte, do uno e do múltiplo, nada está solto, tudo tem sua variável de contribuição, a objetividade e subjetividade perpassam o coletivo de uma sociedade. Uma questão polêmica que pode ser questionada, arrisco-me a dizer a situação dos adolescentes em conflito com a lei: Como explicar o envolvimento de um adolescente cuja família lhe oferece todo o conforto possível, escola, alimentação, moradia, bem estar, afeto e ainda assim o adolescente envolve-se com as drogas? Escolhe ainda ser autor de atos infracionais colocando em risco sua vida e de outras pessoas que ficam à mercê numa situação de assalto? Categoricamente parte-se do princípio de que o sistema capitalista é opressor, é explorador, de fato, há uma significativa concordância com esse fator gritante em nossa sociedade, mas não podemos culpabilizar o sistema por tudo, ainda que este possua parcela significativa nas problemáticas sociais. Penso que neste enunciado posto como ilustração de um questionamento meu, e arrisco-me a dizer de outras pessoas também, está presente fatores externos, diga-se assim o capitalismo e sua lógica consumista-individualista, mas soma-se muito os fatores internos do indivíduo, sua subjetividade, os fatores que o levam a se envolver em tal situação, ainda que esteja sendo provido de todas as suas necessidades básicas e direitos pela sua família. Rodrigues(2002) assinala que, a prática profissional é complexa. Essa complexidade é política, organizativa, interventiva. Abarca dificuldade, limites e o fato de que certas situações, contextos, circunstâncias, realidades não são confortáveis, conformáveis, domáveis, como geralmente gostaríamos que fossem. Dessa forma, a compreensão de que a prática profissional do assistente social é complexa implica aceitar colocar-se cotidianamente diante de desafios que não são simples de serem enfrentados. Assim, a autora acima citada cita Morin (1991). "pode-se dizer que há complexidade onde quer que se produza um emaranhamento de ações, de interações, de retroações (idem, p.77). Ao mesmo tempo, confrontamo-nos com proposições conflitantes, diferentes, que em princípio se excluem, portanto complexas, mas que precisam ser conjugadas. A complexidade está onde não se pode vencer uma contradição. Complexidade é "(...) um tecido (...) de 11 constituintes heterogêneos inseparavelmente associados (...)" e, deste ponto de vista, envolve a relação entre uno e múltiplo; é ainda, "o tecido de acontecimentos, ações interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomenal" e, deste ponto de vista, envolve a relação com a incerteza, a desordem, o acaso. (MORIN, 1991, P. idem, p.17-18). Como pensar o Serviço Social na complexidade? Para tanto assinala Roberto (2008, p.65)” O serviço social é uma profissão complexa, trabalha com uma diversidade de situações, com a perspectiva de um sujeito pluridimensional e são tantos os desdobramentos da questão social que é difícil contar com uma concepção que reúna a extensividade de sua prática.” Dessa forma o assistente social tem sua prática pautada na objetividade e subjetividade, trabalhando com a contraditoriedade permanente. O serviço Social é assim profissão que é parte e expressão do tecido social, do movimento da sociedade. Percebe-se determinada relação entre o marxismo e a teoria da complexidade, uma vez que o primeiro estabelece e leva em consideração uma análise não só quantitativa, mas também qualitativa dos fatos, levando em considerações o contexto e o cenário em que estão inseridos as pessoas. A segunda estabelece a interrelação de tudo, homem, natureza, sociedade, todos fazem parte do tecido social e principalmente o homem deve ser entendido em suas objetividades e subjetividades. Edgar Morin apesar de apreciador da teoria marxista, tece uma crítica não a Karl Marx, mas aos que se denominam marxistas ortodoxos, que colocam o marxismo como verdade absoluta, desprezando as demais teorias e suas contribuições e ferindo o princípio da ciência. Roberto (2008). Acredita-se que a principal contribuição da teoria da complexidade para o Serviço Social é para além de convidar os profissionais a saírem de suas zonas de conforto e adentrar a novos saberes, é também trabalhar com interdisciplinaridade, conversando com novas teorias, com novas ciências, para possibilitar uma leitura não mais cartesiana das coisas, de que cada um deve atuar dentro do seu quadrado. A intenção da teoria da complexidade não é substituir qualquer que seja a vertente teórica, ou fazê-la obsoleta, não, a contribuição é mesmo um convite para uma práxis, que leve em considerações os efeitos do capitalismo sobre o indivíduo, mas também a subjetividade de cada pessoa, no âmbitos de suas escolhas, de tudo quanto o faz um ser humano complexo. 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS. . Elucidou-se em primeiro momento sobre a gênese do Serviço Social, suas primeiras aparições na sociedade brasileira, não sendo possível abarcar todos os momentos que marcaram o Serviço Social Brasileiro. Posteriormente, adentrou-se aos fundamentos filosóficos do Serviço Social que perpassam ainda a categoria, sendo: neotomismo, positivismo, fenomenologia e marxismo. Buscou-se neste momento descrever sobre estas vertentes teóricas e suas contribuições na categoria, suas principais influências que teceram no decorrer da caminhada da categoria, o que ela é hoje. Por fim apresentou-se a teoria da complexidade e sua contribuição para o Serviço Social, no âmbito do ser “complexus” do qual fala Edgar Morin, ser dotado de subjetividades, ser de relação intrínseca com a natureza, com a sociedade, com o meio no qual está inserido e ser que é o sujeito da intervenção do assistente social. É dentro desta totalidade, apontada por Edgar Morin, emocional, racional e material que está composto o ser humano, e que está inserido o assistente social no âmbito da intervenção na garantia dos direitos sociais, no âmbito das expressões da questão social, o que impossibilita um olhar de obviedade, de semelhanças de uma vivência e outra, pois cada ser é um universo diferente. São essas diferenças ou diversidades que formam a complexidade da prática do assistente social .No âmbito da formação profissional há um tabu quanto a teoria da complexidade, tabu esse que deveria ser quebrado, pois como diz Varela “ o caminhar faz a trilha” e caminhar por novos saberes, não é cair no ecletismo tão temido na categoria profissional, é somar para a categoria profissional, possibilitando o fortalecimento ainda mais da sua criticidade, a partir da leitura macro e microssocial, englobando o sujeito em sua totalidade, sem tornar obsoleto a vertente teórica marxista, principal utilizada na categoria. Entendendo a complexidade, pode-se dizer que sua principal contribuição para o Serviço Social é para além de convidar os profissionais a saírem de suas zonas de conforto e adentrar a novos saberes, é também trabalhar com interdisciplinaridade, conversando com novas teorias, com novas ciências, para possibilitar uma leitura não mais cartesiana das coisas, de que cada um deve atuar dentro do seu quadrado. A intenção da teoria da complexidade não é substituir qualquer que seja a vertente teórica, 13 ou fazê-la obsoleta, não, a contribuição é mesmo um convite para uma práxis, que leve em considerações os efeitos do capitalismo sobre o indivíduo, mas também a subjetividade de cada pessoa, no âmbitos de suas escolhas, de tudo quanto o faz um ser humano complexo. 14 REFERÊNCIAS ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. In: SADER; GENTILLI (orgs.). Pósneoliberalismo – as políticas sociais e o Estado democrático. São Paulo: Paz e Terra, 1998. AGUIAR, A. G. Serviço social e filosofia: das origens a Araxá. 4. ed. São Paulo: Cortez; Unimep, 1989. ______. A Filosofa no currículo de Serviço Social. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, v. 15, p. 05-19, ago. 1984. BRANDÃO, R. C. C. O serviço social no Brasil: a reinstrumentalização necessária. 2006. 166 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, UNESP, Franca, 2006. CAPRA, F. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix: 1982. ________The Web of Life. New York: Anchor Book, 1996. IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 2006. __________Marilda Villela. O Serviço Social na cena contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2007. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005. _______A inteligência da complexidade. São Paulo: Periópolis, 2000. NETTO, J. P. Transformações societárias e Serviço Social. Notas para uma análise prospectiva da profissão no Brasil. Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, 1996 NETTO, J. P. Notas sobre marxismo e serviço social, suas relações no Brasil e a questão do ensino. Cadernos ABESS, São Paulo, v. 4, p. 76- 95, jul. 1995. ______. O serviço social e a tradição marxista. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, v. 30, p. 89-102, abr. 1989 PAULA. J. A. A. O Marxismo e seus rebatimentos no serviço social. Cadernos ABESS, São Paulo, v. 4, p. 64-75, jul. 1995. ROBERTO, Ana Carla Junqueira Meirelles. Teoria da Complexidade: Uma contribuição para o Serviço Social. São Paulo, 2008. RODRIGUES, M.L. Notas a respeito da competência profissional: uma reflexão para o Serviço Social. Revista Serviço Social e Realidade. Unesp- Franca- SP, v. 4 p. 91, 97, 1995. 15 ________ Prática Profissional: reinventando o espaço de microatuação. IN: Revista Serviço Social e Realidade. Unesp- Franca- SP, v. 6 p.91 a 104, 1998. TONET, I. Fundamentos filosóficos para nova proposta curricular do serviço social. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, v. 15, p. 20-29, ago. 1984. VIEIRA, A. C. S. Serviço social e positivismo. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, v. 24, p. 70-82, ago. 1987. 16