O PAC do governo Lula e o processo de dependência e exploração da economia brasileira. Cristiano Silva∗ Introdução O lançamento do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento do governo Lula despertou um debate no seio dos setores organizados da sociedade brasileira. Muitos textos já foram publicados. Os setores burgueses, com algumas ressalvas, dedicaram-se a defender o Plano. No campo da classe trabalhadora as conclusões são variadas: uns afirmam ser a recuperação do papel do Estado na linha desenvolvimentista, outros negam e defendem ser o aprofundamento do neoliberalismo no país. O texto que segue é uma contribuição ao debate. A obra de Marx fornece ensinamentos sobre como analisar o processo político das sociedades. Entende-se que para compreender a dinâmica da política de Estado em determinado momento histórico torna-se fundamental levar em consideração as verdadeiras condições estruturais da sociedade em questão. Não se trata de uma forma esquemática adequada a todas as sociedades e a todos os acontecimentos políticos, mas de um método complexo que possibilita captar a rica totalidade do processo social e suas influências na superestrutura. Qualquer análise sobre o PAC não pode ser limitada aos fatos superestruturais. O capitalismo mundial vive a sua época imperialista. O processo da economia política é marcado por relações internacionais de dependência e exploração comandadas pelos grandes capitalistas e seus governos. Então como entender as verdadeiras razões motivadoras do PAC, um plano de tal magnitude, apresentado no contexto da internacionalização do capital, sem antes recuperar e compreender o movimento atual do imperialismo? Esse é o nosso ponto de partida neste trabalho. ∗ Economista. Membro do ILAESE – Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos. 1 1. A fase imperialista e as condições estruturais da economia brasileira. No campo marxista há uma ampla literatura sobre a época imperialista do capitalismo. O trabalho mais discutido sem dúvida é o de Lênin, denominado “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”. A lição básica é que os grandes capitalistas e seus governos procuram dominar os países semicoloniais e coloniais. A economia brasileira é essencialmente semicolonial. Ao longo de sua história os interesses do grande capital monopolista vêm comandando o sentido do desenvolvimento nacional. A extração de riquezas através de mecanismos tais como a dívida, remessa de lucros, relações comerciais dependentes, sempre predominou em nosso país e atualmente é crescente. Na fase inicial do processo de industrialização da economia brasileira coube ao Estado a formação de muitos setores produtivos. A forma intervencionista do Estado alimentou esperanças sobre as possibilidades de um desenvolvimento nacional sem rompimentos, porém, ao final, descobriuse que as relações imperialistas ainda determinavam o sentido do processo socioeconômico. De acordo com alguns estudos divulgados nos últimos anos parece predominar uma expansão do processo de internacionalização do capital. Os grandes capitalistas imperialistas buscam ampliar o controle sobre as riquezas nacionais, inclusive a brasileira. De que modo? Essencialmente centralizando as forças produtivas antes controladas pelo Estado e capitais privados nacionais. No Brasil, sob o governo de FHC e agora o de LULA, a economia vem sendo adaptada ao projeto de acumulação internacional do capital. Nota-se um processo combinado entre medidas que visam permitir a centralização dos grandes capitalistas, que resulta em desnacionalização de muitos setores econômicos, com outras dedicadas a aumentar a competitividade externa do grande capital, via favorecimentos às exportações de capitais e mercadorias. Esse é o sentido do processo de liberalização que favorece o capital, das remessas de lucros, da expansão comercial externa do país, e 2 mais recentemente da busca de reformas institucionais ligadas ao trabalho, tal como a reforma trabalhista. È preciso entender que são medidas diversas, que não mudam somente as formas superestruturais da sociedade brasileira, em outras palavras, mais ou menos Estado na economia, mas que avança na construção de uma estrutura social dominada pelos interesses dos grandes capitalistas. Neste contexto, qual o verdadeiro sentido do PAC? Como procuraremos demonstrar mais a frente trata-se de mais um plano para aprofundar a dependência e aumentar a extração de riquezas do país. 2 – As principais medidas do PAC Podemos organizar o conjunto das medidas do PAC em torno dos seguintes objetivos: 1)aumentar o volume de investimentos em setores da chamada infra-estrutura; 2)Incentivar o investimento do capital privado mediante aumento da oferta de crédito; 3) “Remover obstáculos ao crescimento”, neste caso, leia-se promover mudanças nas leis a fim de favorecer o capital em detrimento das condições de vida da classe trabalhadora. 2.1 - Investimentos em infra-estrutura Conforme a proposta oficial do governo Lula, prevê-se um volume de investimentos na ordem de 503 bilhões de reais para o período de 2007 a 2010, nas seguintes áreas: (A) Transportes (58,3 bilhões): Está previsto a expansão do sistema de ferrovias, aeroportos, hidrovias, rodovias, portos, etc. Não se pretende aqui detalhar informações sobre as obras, porém, cabe destacar que elas têm por objetivo principal melhorar o escoamento das mercadorias controladas por grandes empresas residentes na economia brasileira. 3 (B) Energia (274 bilhões): Investimentos voltados para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, gás, energia renováveis... Neste campo, grande parte dos aportes serão realizados pela empresa estatal Petrobras S/A. (C) “Infra-estrutura social urbana” (171 bilhões): Nesta área busca favorecer o investimento privado. Importante notar que essas medidas permitirão a expansão do capital privado em setores antes controlados pelo Estado. (D) PPI - Projeto Piloto de Investimentos (52 bilhões): Volume de recursos a ser destinado principalmente para empreendimentos que reservam retorno financeiro, como por exemplo, as estradas através de pedágios... Em linhas gerais, conclui-se que as obras nos setores da infraestrutura previstas no PAC têm por finalidade principal reduzir os custos e acelerar o processo de circulação das mercadorias controladas por grandes empresas residentes no país, ou seja, atende a exigência dos grandes empresários que estão em busca de circular suas mercadorias de forma mais competitiva. E aprofunda o neoliberalismo, isto porque transfere ao capital privado a possibilidade de comercializar serviços básicos da sociedade, tais como: saneamento, habitação, transportes (estradas, metrô) etc. 2.2 – “Crédito e financiamento” E o dinheiro necessário para as obras? Conforme dados oficiais, grande parte tem origem na empresa estatal Petrobrás S/A, outra será concedida por instituições financeiras do Estado na forma de empréstimos. A seguir algumas medidas previstas: A) O tesouro nacional concederá empréstimo de R$ 5,2 bilhões à Caixa Econômica Federal (CEF) que vai emprestar para obras em saneamento básico e habitação popular. 4 B) Criação de um fundo de investimento em infra-estrutura com recursos do FGTS. Terá um aporte inicial de R$ 5 bilhões, mas poderá alcançar a 80% do patrimônio líquido do FGTS. Em suma, transfere o dinheiro do trabalhador para capitalizar as empresas que pretendem investir e lucrar com obras de infra-estrutura previstas no PAC. C) O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social vai reduzir o custo financeiro de seus empréstimos para obras em infraestrutura. Para tanto, prevê-se redução da TJLP (Taxa de juros de longo prazo) para 6,5%, e redução do “spread” do BNDES para financiamento em setores da infra-estrutura. Para financiar as obras, prevê-se a utilização das instituições financeiras do Estado, CEF e BNDES, por exemplo, para oferecer crédito barato ao capital privado. Aqui se apresentam dois instrumentos de extração de nossas riquezas. O dinheiro apropriado pelo Estado é concedido a um preço mais baixo para que o capitalista possa investir nas obras do setor de infra-estrutura. Além disso, incentiva-se a centralização pelo capital privado de serviços antes controlados pelo Estado. È o mesmo sentido das privatizações. 3. Mudanças nas leis a serviço da acumulação internacional do capital. As medidas do PAC anunciadas como “formas de destravar o crescimento”, na verdade, representam mudanças nas leis com o objetivo de ampliar a liberalização para o capital e aumentar as formas de exploração sobre os trabalhadores brasileiros. Elas estão divididas do seguinte modo: A) “Marco regulatório”: Visa, sobretudo, ampliar a liberalização para o capital. O marco institucional que se pretende busca essencialmente alterar a competência dos órgãos públicos de estabelecer limites aos investimentos do capital privado. Serve como exemplo o projeto da Super-Receita que, dentre várias 5 coisas, desautoriza o papel fiscalizador de órgãos do Estado nas relações de trabalho. Outro exemplo são as mudanças previstas nas leis ambientais, cujo objetivo é derrubar barreiras ao capital, mesmo que isso represente danos às condições naturais de nosso país. B) Desonerar as empresas de tributos: O PAC prevê uma forte desoneração tributária aos investimentos programados. Dentre algumas medidas pretende-se a suspensão da cobrança de PIS/Confins para investimentos em infra-estrutura, e do IRPF para o caso de fundos de investimentos com tal finalidade. Essas medidas fornecem enormes privilégios ao capitalista, tornando seus investimentos mais lucrativos. C) Ataque aos direitos dos trabalhadores: C.1- Correção salarial do funcionalismo: Prevê alteração na Lei de Responsabilidade Fiscal para definir que o gasto com o funcionalismo não poderá exceder a 1,5% de aumento real, pelos próximos dez anos. Um grande ataque ao nível de rendimento dos funcionários do Estado. C. 2 - Política de correção do salário mínimo: Define que nós próximos quatro anos a correção será baseada na inflação mais a variação real do PIB de dois anos atrás. Considerando o percentual de crescimento do PIB brasileiro dos últimos anos e as perspectivas futuras, pode-se concluir que a correção salarial ficará muito aquém das verdadeiras necessidades da classe trabalhadora brasileira. C.3 - Criação do Fórum Nacional da Previdência Social: Será composto por governo, empresários e centrais sindicais que apóiam o plano. A criação do “Fórum Nacional da Previdência Social” tem por finalidade preparar uma proposta de reforma do sistema de previdência social cujo objetivo estratégico é aprofundar o processo de privatização da previdência pública no país. 6 C. 4 - Lei da previdência complementar: Pretende dar continuidade a reforma da previdência iniciada em 2003. Essencialmente estimular o negócio da previdência privada. 3. As posições sobre o PAC 3.1 - “O PAC sinaliza que o governo LULA quer retomar o papel do Estado como promotor do crescimento e desenvolvimento do país”? Esse é o caso da CUT, PT e seus aliados. Esse setor reserva alguns comentários sobre as medidas ligadas aos trabalhadores, mas no geral aprovam e autorizam o plano. A posição central é que o PAC irá possibilitar a retomada do papel do Estado como condutor e promotor do crescimento econômico e desenvolvimento do país, através de investimentos estratégicos. Portanto, para esse setor, um plano com aspectos positivos porque procura combater a ciranda financeira que atualmente comanda a destinação da renda apropriada pelo Estado. Em suma, chegou à hora de mais produção e menos atividades especulativas. Não é verdade. Primeiro, é fácil perceber que o PAC não possibilitará aumento do controle do Estado sobre alguns setores porque as medidas incentivam o que podemos chamar de “privatização dos serviços de infraestrutura do país”. Em segundo lugar, é preciso notar que as medidas do PAC avançam no desmonte de todo arcabouço institucional em torno do trabalho, conquistado ao longo da história. È o caso da lei do Super Simples, da Super Receita, da Reforma da Previdência, do fundo envolvendo o FGTS, das formas de reajuste do funcionalismo e do salário mínimo, enfim. Nem tampouco vai significar uma redução nos pagamentos das dívidas, isto porque, grosso modo, as condições de financiamento da dívida pública estão consumindo grande parte da renda apropriada pelo Estado, portanto, a receita gerada da redução de gastos nas áreas sociais certamente terá como destino o pagamento dos compromissos financeiros já programados e a rolagem da dívida, principalmente a interna, que 7 atualmente já ultrapassou a casa de R$ 1 trilhão de reais e consome bilhões na forma de juros todos os anos. Além disso, o argumento de que o PAC vai trazer crescimento econômico e melhores condições de vida à classe trabalhadora brasileira também é uma falácia. O PAC aprofunda as contradições inerentes às inversões de capitais. Sabe-se que o capital se valoriza mediante a extração da mais-valia dos trabalhadores. Esse é o conhecimento teórico e prático que acumulamos. O PAC cria formas de aumentar a exploração, uma vez que pretende reduzir a renda dos trabalhadores e avançar na retirada de direitos. Sendo assim, qualquer crescimento econômico será consolidado sobre bases de exploração maiores, o que certamente imporá péssimas condições de vida à classe trabalhadora brasileira. 3.2 – O PAC é um plano econômico que visa essencialmente garantir o pagamento da dívida pública? Alguns setores da esquerda política do país convergem para a idéia de que o PAC tem por objetivo principal reduzir gastos públicos nas áreas sociais a fim de garantir o pagamento das dívidas interna e externa. Em suma, é um plano para sustentar a ciranda financeira. Essa forma de análise é limitada porque não possibilita entender o processo na sua totalidade. É muito concentrada nas manifestações superestruturais do problema, não capta o movimento das relações estruturais da sociedade. Mesmo no que toca ao papel do Estado, não é correto analisar somente a sua movimentação financeira. A questão é mais ampla e carece levar em consideração aspectos da fase imperialista e as diversas formas de extração das riquezas nacionais. A dívida não é a única forma de extração da mais-valia produzida na economia brasileira, existem outras. O PAC reúne medidas que aprofundam as relações comerciais dependentes, as formas institucionais que liberalizam o movimento do capital, a exploração sobre a classe trabalhadora, enfim. O governo Lula, através do PAC, pretende promover mudanças nas condições estruturais da economia brasileira que servem para aprofundar a 8 dependência em benefício dos grandes capitalistas imperialistas. Essa totalidade deve ser analisada. Os argumentos que sustentam essa opinião são desenvolvidos nas linhas seguintes. 3.3 - O PAC e as mudanças nas condições estruturais a serviço do processo de acumulação internacional do grande capital A posição seguinte expressa um ponto de vista, não pretende esgotar o assunto, é uma contribuição ao debate. Antes de cuidar das questões inerentes ao PAC, julga-se importante recuperar algumas categorias do marxismo que, nos últimos anos, cumpre dizer, foram retiradas enquanto referencial teórico para análises das diversas organizações políticas da classe trabalhadora brasileira. O capitalismo, em sua dimensão mundial, chegou a um nível de desenvolvimento onde os grandes capitalistas passaram a exercer domínios sobre o processo produtivo de muitas sociedades. Esse é o traço comum a todos os países. Vivemos na fase monopolista do sistema, marcada por relações internacionais de caráter imperialista. Neste contexto, evidentemente, as distintas manifestações da realidade nacional não devem ser desprezadas, longe disso, mas para analisá-las e entende-las deve-se ao menos levar em consideração a rica totalidade do processo socioeconômico mundial. Esse deve ser o método dos marxistas, especialmente quando buscam analisar criticamente as relações da economia política na atualidade. As relações na época imperialista são contraditórias e expressam um processo de dependência e exploração. As formas de dominância e extração de riquezas entre os países são diversas. Quanto a primeira, pode variar desde o emprego de força militar, como no caso atual do Iraque, até o exercício das instituições democráticas, como se observa em países latinoamericanos. A forma de extração de riquezas depende em ultima instância da determinação histórica da sociedade dominada. No caso brasileiro, historicamente vem comprovando-se alguns instrumentos: 1) a dívida externa e a interna, segundo a qual se transfere a mais-valia produzida no 9 país aos capitalistas credores; 2) as relações comerciais externas dependentes que condicionam a produção nacional de acordo com os interesses das nações imperialistas; 3) as remessas de lucros ao exterior realizada pelo grande capital residente no país; 4) o controle sobre as forças produtivas dos países dependentes, especialmente o grau de exploração que se impõe aos trabalhadores a fim de aumentar a extração de mais-valia, enfim. De todo o exposto, cabe salientar que os grandes capitalistas imperialistas extraem o excedente econômico dos países dominados de diversas maneiras, não se limita a um instrumento. Outra questão importante é a compreensão sobre o verdadeiro papel do Estado capitalista. Antes de tudo ele representa a dominação da classe burguesa. No marco das relações sociais capitalistas, as variadas formas de regimes e governos servem para executar políticas favoráveis ao processo de acumulação do capital. O arsenal é amplo, reúne desde as pregações ideológicas incentivadas com o intuito de enganar que os interesses particulares da burguesia são interesses da nação, até as ações concretas que adaptam a estrutura social a serviço do lucro. Neste sentido, ora o Estado pode ter uma intervenção maior na economia, ora ser menos intervencionista, depende em última instância das condições socioeconômicas vigentes, mas a essência da coisa é o processo de dominação da classe burguesa. Portanto, não serve enxergar somente os acontecimentos localizados na superestrutura da sociedade analisada. Se pudéssemos definir numa frase: “não basta o céu, temos que olhar a terra”. A mesma analogia serve para o processo denominado neoliberalismo, por sinal muito discutido pelos setores da esquerda política. É importante saber que neoliberalismo não se resume as movimentações financeiras do Estado burguês, em outras palavras, reduzir gastos com políticas sociais para aumentar a transferência financeira aos capitalistas. Em síntese, o processo é constituído por um conjunto de políticas que visam gerar espaços de acumulação aos diversos setores da grande burguesia e assim sustentar a atual etapa da acumulação capitalista mundial. Com esse referencial vamos à análise do PAC. De nosso ponto de vista, não se trata de um plano feito exclusivamente para reduzir despesas financeiras do Estado e assim garantir os pagamentos das dívidas interna e 10 externa. No plano terrestre encontram-se outros problemas. Na verdade, é um plano econômico determinado pelo grande capital que carrega dois objetivos centrais: adaptar a economia brasileira a serviço do projeto de acumulação internacional e aprofundar as diversas formas de extração de riquezas nacionais, inclusive o mecanismo da dívida. As obras na área da infra-estrutura cumprem basicamente dois objetivos. Um deles é potencializar as relações comerciais externas de grandes empresas residentes na economia brasileira, ou seja, atende aos objetivos de acumulação internacional do grande capital. Há tempos a grande burguesia clama por obras para baratear o escoamento principalmente das exportações de suas mercadorias e o fornecimento de insumos importados de países vizinhos da América Latina. Somente por essa razão já é possível notar que os investimentos programados no PAC não têm por critério as aspirações da classe trabalhadora de nosso país. Ao invés de tais investimentos porque não se priorizou a reforma agrária e outros meios de fortalecer o mercado interno? Outro fato é que as obras na área da infra-estrutura servem para gerar espaços de acumulação ao capital privado, na medida em que possibilita investimentos em setores antes controlados pelo Estado. È o mesmo sentido das privatizações. Em função disso, amplia-se a comercialização dos serviços básicos da sociedade e a classe trabalhadora terá que comprá-los. 3.3.1 – Aumento da exploração sobre a classe trabalhadora... Por que o PAC prevê tantas leis que flexibilizam os direitos dos trabalhadores, inclusive o salário? É importante perceber que não se trata de uma lei específica, proposta em determinada conjuntura, a fim de retirar um direito específico. A questão é mais ampla. Aqui se pretende afirmar a tese que o PAC tem por objetivo criar condições para o aumento da exploração sobre a classe trabalhadora brasileira e assim gerar melhores condições para a acumulação internacional dos grandes capitalistas. Antes de tratar a questão, notemos o conhecimento teórico a respeito. Marx, em seu livro O Capital , na passagem que propõe uma reflexão sobre a lei geral da acumulação capitalista, procura demonstrar que o processo de 11 acumulação infere sobre as condições materiais das classes postas na sociedade capitalista. Na primeira parte do referido texto, ele trata das ações dos capitalistas contra a realidade objetiva da classe trabalhadora, como maneira de elevar a mais-valia. Os recursos são diversos, inclui desde a incorporação de novos meios de produção, como de técnicas, até os ataques às condições de emprego e rendimentos da força de trabalho. Sabe-se que atualmente as grandes empresas, mais conhecidas como “multinacionais” ou “transnacionais”, estão organizadas em diversos países do mundo. Cabe a seguinte pergunta: qual a diferença fundamental entre a composição orgânica da produção de uma grande empresa residente no país capitalista desenvolvido, EUA, por exemplo, e a composição orgânica da produção da mesma empresa organizada num país semicolonial? A diferença essencial é o que se paga pelo capital variável, ou seja, o custo de reprodução da força de trabalho. Nos países semicoloniais ele é menor. Essa é a razão fundamental de tantas inversões capitalistas para a China no presente momento. Naquele país, em função de uma série de elementos, promove-se um grau de exploração sobre os trabalhadores sem precedentes, o que possibilita altas taxas de lucros aos grandes capitalistas. É isso que o governo Lula, através do PAC, pretende concretizar no Brasil. Busca-se o caminho da China. Em suma, visa instalar condições estruturais favoráveis ao processo de acumulação internacional do grande capital. Esse é o sentido das leis contrárias aos trabalhadores, algumas contidas outras associadas ao PAC, tais como: Super Simples, Super Receita e a máxima Reforma Trabalhista. As mudanças nas condições de rendimento da classe trabalhadora previstas no PAC reforçam essa tese. As formas de correção salarial, tanto do salário mínimo como a do funcionalismo público, pressionam para uma tendência de queda no nível de renda do mercado de trabalho brasileiro. Além disso, é importante notar que elas não se limitam à área de infraestrutura e nem tem como prazo o período de execução do PAC. Conclui-se então que o governo Lula tem por objetivo modificar as condições estruturais de exploração da classe trabalhadora com o intuito de favorecer ainda mais a acumulação capitalista no Brasil, organizada a partir da estratégia de internacionalização do capital. 12 3.3.2 – O PAC aprofunda a dependência e exploração da economia brasileira. Portanto, define-se que o PAC é um plano que aprofunda a dependência e aumenta as formas de extração de riquezas do país em favor dos grandes capitalistas, condenando as possibilidades de desenvolvimento nacional. Isto porque provoca a redução dos gastos do Estado para fins sociais com o objetivo de garantir o mecanismo das dívidas. Mas não apenas. Também aprofunda a dominância do grande capital no processo produtivo da nossa economia, instalando relações comerciais dependentes. Busca consolidar um novo patamar de exploração da classe trabalhadora, onde o grande capital encontrará melhores condições para o PAC vai exercício da concorrência internacional e extração de lucros. Por tudo isso, não é verdade que o representar desenvolvimento socioeconômico ao país, este só virá através do rompimento com o imperialismo, a partir de uma estratégia revolucionária, que deve nortear a luta política da classe trabalhadora. E como toda a caminhada começa com o primeiro passo, precisamos ser contra o PAC, mas tendo a seguinte certeza: derrotar o governo Lula e a proposta do PAC é também derrotar as forças imperialistas presentes em nosso país. 13