Universidade Federal do Paraná Engenharia Ambiental Saneamento Ambiental I Aulas 24 – Tratamento de Esgotos – parte I Profª Heloise G. Knapik 1 Tratamento de Esgotos • PRINCÍPIOS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • TIPOS DE SISTEMAS PARA TRATAMENTO DE ESGOTOS • FOSSA SÉPTICA • TRATAMENTO PRELIMINAR • TRATAMENTO PRIMÁRIO • TRATAMENTO SECUNDÁRIO • TRATAMENTO TERCIÁRIO • TRATAMENTO DA FASE SÓLIDA - LODO PRINCÍPIOS FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS DO TRATAMENTO 3 Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS FÍSICOS DE REMOÇÃO • Sedimentação: operação física de separação de partículas sólidas com densidade superior à do líquido circundante • Ação da força da gravidade • Formação do lodo, resultando no efluente clarificado Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS FÍSICOS DE REMOÇÃO Principais aplicações: • Tratamento preliminar: remoção de areia (sedimentação de partículas inorgânicas de maiores dimensões) – caixa de areia • Tratamento primário: decantação primária (sedimentação dos sólidos em suspensão no esgoto bruto) - tanques convencionais com remoção frequente do lodo, fossas sépticas Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS FÍSICOS DE REMOÇÃO Principais aplicações: • Tratamento secundário: decantação final (remoção dos sólidos biológicos) – decantadores secundários nos sistemas de lodos ativados, decantadores finais nos sistemas de filtros biológicos, decantadores finais nos sistemas de reatores anaeróbios de manta de lodo, lagoas de sedimentação, após lagoas aeradas de mistura completa • Tratamento físico-químico: sedimentação após precipitação química – polimento de efluentes de tratamento secundário, remoção química de nutrientes, tratamento físico-químico (coagulação química) de despejos domésticos e, principalmente, industriais Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento TIPOS DE SEDIMENTAÇÃO Sedimentação Discreta: as partículas sedimentam-se, mantendo a sua identidade (não se aglutinam). Preserva-se as propriedades físicas como forma, tamanho e densidade Exemplo de aplicação: • Caixa de areia t=0 t=1 t=2 Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento TIPOS DE SEDIMENTAÇÃO Sedimentação Floculenta: As partículas se aglomeram a medida que se sedimentam. Alteram-se as características com o aumento e formação dos flocos. Exemplo de aplicação: • Decantadores primários, parte superior dos decantadores secundários, flocos químicos no tratamento físico-químico t=0 t=1 t=2 Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento TIPOS DE SEDIMENTAÇÃO Sedimentação Zonal: quando há grande concentração de sólidos, pode-se formar uma massa única de partículas que se sedimentam em zonas ou blocos. Exemplo de aplicação: • Decantadores secundários t=0 t=1 t=2 Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento TIPOS DE SEDIMENTAÇÃO Sedimentação por Compressão: quando há grande concentração de sólidos. Ocorre devido ao próprio peso das partículas sendo constantemente adicionadas. Exemplo de aplicação: • Fundo de decantadores secundários, adensadores por gravidade t=0 t=1 t=2 Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS QUÍMICOS DE REMOÇÃO • Remoção ou estabilização dos esgotos sanitários via reações químicas • Processo aditivo em conjunto com os processos físicos e biológicos de tratamento de esgotos • Objetivo de aumentar a eficiência ou acelerar os processos envolvidos Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS QUÍMICOS DE REMOÇÃO Processo Aplicação Precipitação química Remoção de fósforo (adição de cálcio, alumínio ou ferro) e aumento da eficiência de remoção de sólidos suspensos (coagulação) Adsorção Remoção de organismos (adição de carbono ativado) Desinfecção Remoção de organismos patogênicos com uso de cloro, bromo, ozônio, luz ultravioleta. Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • Oxidação da matéria orgânica carbonácea e, eventualmente, da matéria orgânica nitrogenada • Oxidação da matéria orgânica carbonácea: constitui-se no principal objetivo de todos os processos de tratamento de esgotos a nível secundário • Oxidação da matéria orgânica nitrogenada: nitrificação (lodos ativados) Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • Matéria orgânica carbonácea: • Inerte → solúvel ou insolúvel: não sofre decomposição • Biodegradável → rapidamente ou lentamente biodegradável Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • Matéria orgânica nitrogenada: • Inorgânica → amônia (livre ou inonizada) – já na coleta e interceptação tem início as reações de hidrólise e amonificação • Orgânica → inerte, biodegradável, solúvel e particulada Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • Progressão temporal da oxidação da matéria orgânica (aeróbia): Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • Progressão temporal da oxidação da matéria orgânica (aeróbia): • Etapa inicial: predominância da síntese (anabolismo) → A MO é utilizada pelos microrganismos para suas atividades de crescimento e obtenção de energia – resulta no consumo de OD e aumento da população • Etapa subsequente: predominância da respiração endógena → Quando remove-se a MO, há abundância de microrganismos e escassez de substrato – a fonte de alimento passa a ser o próprio protoplasma celular (mecanismos de auto-oxidação) Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • Progressão temporal do crescimento bacteriano: Princípios físicos, químicos e biológicos de tratamento PRINCÍPIOS BIOLÓGICOS DE REMOÇÃO • Progressão temporal do crescimento bacteriano: • Fase de retardo → Período de adaptação enzimática das bactérias ao novo substrato • Fase de crescimento exponencial → As células adaptadas se dividem a uma taxa constante devido a um excesso de substrato no meio • Fase estacionária → O alimento principia a ficar escasso no meio. Taxa de crescimento bacteriano é igual à taxa de mortandade. • Fase de declínio ou mortandade → Diminui a disponibilidade de substrato – respiração endógena (utilizam seu próprio protoplasma como fonte de substrato) Oxidação (perdeu elétrons) Agende oxidante Redução (ganhou elétrons) Característica Catabolismo oxidativo (Respiração) Catabolismo fermentativo (fermentação) Doador de elétrons Matéria orgânica Matéria orgânica oxidada Aceptor de elétrons Externo: composto inorgânico (oxigênio, nitrato ou sulfato) Interno: matéria orgânica reduzida Número de produtos finais resultantes da matéria orgânica Um (CO2) No mínimo dois (CO2 e CH4) Forma do carbono no produto final Carbono inorgânico oxidado (CO2) Carbono inorgânico oxidado (CO2) e carbono orgânico reduzido (CH4) Estado de oxidação do carbono no produto final 4+ (CO2) 4+ (CO2) 4- (CH4) Principais rotas de decomposição: H2 O O2 Com O2 Sem O2 CO2 Respiração/ oxidação da MO Aeróbio Matéria Orgânica: CxHyOz Anóxico NO-3 N2 Com NO-3 Sem NO-3 CO2 Desnitrificação Anaeróbio H2S SO-24 CO2 Redução de Sulfatos CO2 CH4 CO2 Metanogênese Aceptores de elétrons nas reações de oxidação em tratamento de esgotos Condições Aceptor de elétrons Forma do aceptor após a reação Aeróbias Oxigênio (O2) H2O Metabolismo aeróbio Nitrato (NO3-) Nitrogênio gasoso (N2) Redução de nitratos (desnitrificação) Sulfato (SO42-) Sulfeto (H2S) Redução de sulfatos (dessulfatação) Dióxido de carbono (CO2) Metano (CH4) Metanogênese Anóxicas Anaeróbias Processo Principais rotas de decomposição: Nitrogênio e tratamento de esgotos o Processos convencionais: • Não removem adequadamente (rota mais energética envolve a remoção carbonácea) • Parte do nitrogênio é removido com o lodo – rico para estudos de compostagem quando livre de patógenos • A nitrificação ocorre comumente no sistema de lodos ativados por aeração prolongada – mas não remove o nitrogênio (apenas conversão a outra forma) Para completa remoção: desnitrificação – retorno do Nitrogênio para a atmosfera na forma de N2 Nitrogênio e tratamento de esgotos o Ocorrendo desnitrificação: • Há uma economia de oxigênio (estabilização da matéria orgânica na ausência de oxigênio dissolvido) • Ocorre o consumo de H+, gerando uma economia de alcalinidade e no aumento da capacidade tampão do meio • Prejudica a sedimentação (nos decantadores secundários em sistemas de lodos ativados) – gás N2 Necessidade de unidades específicas para essa remoção do nitrogênio – tratamento terciário Nitrogênio como indicador de poluição • Nitrogênio orgânico: faz parte das moléculas de proteínas (vegetais ou animais). A sua presença nas águas é característico de poluição recente por esgoto bruto. • Nitrogênio amoniacal: é aquele que já sofreu decomposição pelos microrganismos heterotróficos. Também é característico de poluição relativamente recente (não foi completamente oxidado). • Nitrito: forma intermediária, de curta duração após a oxidação da amônia (NH3) pelas bactérias nitrossomonas. • Nitrato: forma oxidada a partir dos nitritos pelas bactérias (nitrobacter). É característico de poluição mais antiga. TIPOS DE SISTEMAS PARA TRATAMENTO DE ESGOTOS 27 Tipos de Tratamento Sistemas simples ou individuais: Fossas sépticas Processos Físicos Sistemas coletivos: Estações de Tratamento de Esgotos Processos Químicos Processos Biológicos Tipos de Tratamento • Tratamento preliminar (sólidos em suspensão grosseiros) • Tratamento primário (sólidos em suspensão sedimentáveis e parte da matéria orgânica) • Tratamento secundário (remoção de carga orgânica e eventualmente nutrientes) • Tratamento terciário (remoção de carga de nutrientes e poluentes específicos – metais pesados, tóxicos) • Tratamento e disposição final do lodo Processos Físicos Processos Químicos Processos Biológicos Tipos de Tratamento Escolha dos processos depende de uma série de fatores, tais como: • Abrangência do tratamento (isolado ou coletivo) • Eficiência de remoção requerida (função de padrões de lançamento, corpo receptor, enquadramento, reuso, etc) • Área disponível • Geração e disposição final de resíduos • Mão de obra para operação e respectiva qualificação • Monitoramento e controles operacionais requeridos • Recursos disponíveis Viabilidade técnica, econômica e ambiental FOSSA SÉPTICA 31 Tipos de Tratamento • Casos mais simples ou isolados: Fossa séptica - Sistemas individuais (residências ou condomínios isolados) - Função: permitir a sedimentação, armazenamento e digestão anaeróbia do lodo - Geração de gás CH4, CO2 e pequenas quantidades de H2S - Efluente poderá ser lançado em sumidouros, valas de infiltração, valas de filtração, filtros anaeróbios e fluxo ascendente e em corpos d’água receptores. - Diferentes configurações: câmara única, múltiplas câmaras, com diferentes alternativas construtivas e de configurações finais do destino do efluente. Fossa Séptica Fossa Séptica Fossa Séptica Fossa Séptica • Eficiência de tratamento • Para fossas sépticas bem construídas, com manutenção e operação adequadas: Parâmetro % de remoção DBO DQO Sólidos suspensos Óleos e graxas 40 a 60% 30 a 60% 50 a 70% 70 a 90% Fossa Séptica • Dimensionamento de fossa séptica • Volume total: somatório dos volumes de sedimentação, digestão e armazenamento de lodo 𝑉 = 1.000 + 𝑁(𝐶. 𝑇𝑑 + 𝑘. 𝐿𝑓 ) 𝑉 = volume útil (L) 𝑁 = número de contribuintes 𝐶 = contribuição de despejos (L/hab.dia) 𝑇𝑑 = tempo de detenção (dia) k = taxa de acumulação de lodo digerido (dia) 𝐿𝑓 = contribuição de lodo fresco (L/hab.dia) Fossa Séptica Fossa Séptica Fossa Séptica • Disposição e/ou tratamento final do efluente da FS • • • • • • • • Taxa de infiltração do esgoto no solo (permeabilidade do solo) Disponibilidade de espaço Inclinação do terreno Profundidade do lençol freático Natureza e profundidade do leito rochoso Variação do fluxo de esgoto Distância das águas superficiais e poços Usos de águas superficiais a jusante Destino final: Sumidouros Valas de infiltração Corpo d’água superficial Pré-Tratamento: Valas de filtração Filtro anaeróbio de fluxo ascendente Fossa Séptica • Limpeza e manutenção • Recomendação de limpeza anual • Mantém-se um residual de lodo (mínimo de 25 L) jcomo inóculo para facilitar a degradação da matéria orgânica • Pouco tempo de detenção na FS: principal mecanismo de decomposição é no lodo sedimentado (anaeróbio), e não na fração dissolvida Fossa Séptica • Disposição final do efluente (A) SUMIDOURO • Quando a taxa de absorção do solo for igual ou superior a 40 L/m².dia • Argilas arenosas e/ou siltosas • Construídos com fundo aberto e orifícios na lateral (preenchidos com pedra brita) • Distância mínima de poços: 20 m • Fundo do sumidouro deverá estar no mínimo 3 m acima do lençol freático Fossa Séptica • Disposição final do efluente (B) VALAS DE INFILTRAÇÃO • Quando a taxa de absorção do solo estiver entre 20 L/m².dia e 40 L/m².dia • Argilas pouco siltosas e/ou arenosas • Afastadas 7 m de árvores de grandes raízes • Distância mínima de poços: 20 m • Fundo do sumidouro deverá estar no mínimo 3 m acima do lençol freático • Extensão de 6 m por pessoa Fossa Séptica • Disposição final do efluente (C) VALAS DE FILTRAÇÃO • Quando a taxa de absorção do solo for menor que 20 L/m².dia • Rochas, argilas compactadas • Filtro biológico • Afastadas 7 m de árvores de grandes raízes, distância mínima de poços: 20 m • Profundidade na faixa de 1,2 a 1,5 m, largura de 0,5 m e comprimento máximo de 30 m (6 m por pessoa) • Remoção de DBO: 80 a 98% Fossa Séptica • Disposição final do efluente (D) FILTROS ANAERÓBIOS DE FLUXO ASCENDENTE • Tanque com fundo falso, com pedras ou outro material de enchimento • Remoção de DBO: 75 a 95% 𝑉 = 1,60. 𝑁. 𝐶. 𝑇𝑑