CURSO DE REDAÇÃO - PROF. MARCO ANTÔNIO MENDONÇA 07/08/2015 Intolerância O Brasil virou o país do fanatismo? Seja na mesa do bar, nas redes sociais ou na sala de casa, os brasileiros estão cada vez mais rachados por causa de sua adesão cega em assuntos como esporte, religião, consumo e, principalmente, política. Entenda por que as pessoas deixaram de debater ideias, como a ciência explica esse fenômeno e como essas rixas podem ser ruins para o Brasil (06/05/2015 - Nathan Fernandes e Thiago Tanji) 2014, CURITIBA: Segundo pesquisas, apenas 7% das pessoas que fazem parte de uma torcida organizada participam de conflitos violentos no futebol (Foto: Heuler Andrey/ AGIF) As eleições presidenciais acabaram em outubro, com a legítima eleição da presidente Dilma Rousseff. Desde o começo do ano, à medida que cada vez mais pessoas aprenderam a escrever “impeachment”, a reação dos partidários de ambos os lados ganhou contornos ainda mais radicais. Em meados de março, duas manifestações tomaram conta das ruas das principais cidades brasileiras: uma a favor do governo, e a outra, maior em número, contra. Os protestos não registraram confusões, mas foram palco de cenas preocupantes: faixas com a suástica nazista pedindo a volta da ditadura militar em plena avenida Paulista, pessoas hostilizando jornalistas ideologicamente contrários ao movimento e acusações de golpismo para quem é contra o governo. Durante os pronunciamentos da presidente e de dois de seus ministros na televisão, milhares de pessoas saíram na janela de casa para promover um panelaço – o barulho foi tão alto que abafou qualquer possibilidade de ao menos tentar ouvir o que diziam. Nada contra manifestações, é claro. O problema é que, ao ignorar opiniões contrárias, as pessoas tendem a aderir cegamente a uma posição, doutrina ou sistema e a caminhar numa direção perigosa: a do fanatismo. Há alguns anos a ciência tenta explicar por que, afinal, é tão fácil alinhar-se a um conjunto de pessoas que encontrou um Judas particular e culpá-lo por todo o caos do universo. Uma prova disso é o paradigma dos grupos mínimos, elaborado nos anos 1970 pelo psicólogo Henri Tajfel, da Universidade de Bristol, na Inglaterra. Ao serem aleatoriamente agrupados de acordo com critérios irrelevantes, como o pintor favorito, os participantes do experimento criaram forte ligação entre aqueles que dividiam a mesma turma, exaltando suas qualidades e hostilizando os rivais. Ao final do experimento, formou-se o “nós contra eles” – será que alguém aí ouviu algo parecido com isso no que ficou convencionado chamar de protestos de março? Ainda no século 19, o pensador francês Gustave le Bon já havia atentado para o comportamento bizarro das pessoas ao se unirem em grupos, formando uma espécie de mentalidade única irracional – ou o que o escritor Nelson Rodrigues chamaria de “unanimidade burra”. Na obra Psicologia das multidões (WMF Martins Fontes), de 1895, Le Bon escreveu: “Nas grandes multidões, acumula-se a estupidez, em vez da inteligência. Na mentalidade coletiva, as aptidões intelectuais dos indivíduos e, consequentemente, suas personalidades se enfraquecem”. É como se, ao se unir aos seus pares, as pessoas deixassem de usar a razão e passassem a deixar a emoção tomar conta, tornando-se presas fáceis de manipuladores. Segundo o historiador Jaime Pinsky, autor do livro Faces do fanatismo (Ed. Contexto), o grande perigo das devoções extremas é a convicção inabalável. “A certeza da verdade do fanático não é resultante de uma reflexão ou de uma dedução intelectual”, diz o escritor. A isso se junta o experimento do psicólogo Philip Zimbardo, da Universidade Stanford. Há mais de 40 anos, ele resolveu simular o comportamento dentro de uma prisão, atribuindo aleatoriamente o papel de “guardas” e “prisioneiros” a estudantes. No entanto, o que deveria seguir por duas semanas durou apenas seis dias. Ninguém ali era Meryl Streep, mas os participantes do estudo interpretaram tão bem seus papéis que os “guardas” se revelaram verdadeiros sádicos, humilhando e causando traumas 1936, BERLIM: alemães realizam a típica saudação entre os “prisioneiros”. “Em grupo somos capazes de realizar ações que individualmente nazista para receber o líder Adolf Hitler durante os não seríamos”, diz Ligia Mendonça, participante do convênio do laboratório de jogos olímpicos realizados na cidade (Foto: psicopatologia clínica e psicanálise da Universidade de Toulouse. Bettmann/CORBIS) Além de inspirar o filme The Stanford PrisonExperiment (“O experimento da prisão de Stanford”, em tradução livre), lançado em janeiro nos Estados Unidos, o estudo de Zimbardo também ajudou na formulação da teoria da identidade social, dos psicólogos John Turner e Henri Tajfel – o mesmo dos grupos mínimos. Segundo a ideia, quanto mais inserido em um conjunto, mais o participante acata seus valores. “Quando uma pessoa pertence convictamente a um grupo, ela adquire uma identidade social: valores, objetivos, memórias etc. Essa identidade contrapõe o participante aos que não fazem parte do seu grupo”, diz o psicólogo Geraldo José de Paiva, da Universidade de São Paulo. Seja um cicloativista que vê um inimigo em qualquer objeto de quatro rodas, um extremista religioso que não concorda com a linha editorial de um jornal francês e mata os responsáveis, um torcedor de um time que não consegue conviver com alguém vestindo a camisa do time adversário ou um fã da Apple que olha com desdém para qualquer aparelho Android, a não aceitação de ideias diferentes e a cegueira causada pela crença absoluta em “verdades reveladas” ainda insistem em aparecer nas mais diferentes esferas da sociedade, ameaçando a liberdade e o conceito básico de democracia. O TRIUNFO DA BARBÁRIE Como explicar que a nação de Johann Wolfgang Goethe, Ludwig van Beethoven e Albert Einstein também tenha se tornado o local onde se realizou uma das maiores atrocidades da história? Para especialistas, o fenômeno nazista na Alemanha vai além da ideia de um aparente surto psicótico coletivo. “Um líder carismático como Hitler, que promete felicidade a qualquer preço, passa a ser uma figura sedutora para uma massa desacreditada que vive o desemprego, a fome e a escassez de alimentos”, afirma Ana Maria Dietrich, professora do programa de pósgraduação da Universidade Federal do ABC. “Em momentos de crise, tende-se a eleger um líder e também a escolher bodes expiatórios.” Quando Hitler chegou ao poder, em 1933, a Alemanha passava por um momento de instabilidade política e econômica: as lembranças da derrota na Primeira Guerra Mundial ainda eram muito recentes e se refletiam em diferentes problemas, como desemprego, inflação e fragilidade do sistema político. A ascensão de um líder capaz de resgatar o sentimento de orgulho alemão e conclamar a revanche pelas humilhações sofridas no conflito mundial teve alta aceitação entre as massas. Só faltava encontrar um inimigo comum e responsabilizá-lo. Spoiler para quem não viveu na Terra nos últimos 80 anos: os judeus foram os escolhidos, assim como outras minorias, como negros e homossexuais. Para dar conta das aspirações nazistas, criou-se uma verdadeira indústria da morte, comandada por homens como Adolf Eichmann, que foi capturado em Buenos Aires em 1960. No livro Eichmann em Jerusalém (Companhia das Letras), a filósofa política Hannah Arendt conta a história do julgamento do oficial, e o descreve não como um “maníaco assassino”, mas como um burocrata a serviço do partido, que tinha obrigação de obedecer ordens. Quem disser que este é o conceito do termo “banalidade do mal”, cunhado pela autora, ganha pontos no vestibular da vida. “Vemos o ser humano que já perdeu todos os laços de solidariedade. Isolado e sem consciência de classe ou de família, ele se torna um número na massa e é capaz de perpetrar as maiores atrocidades como quem carimba um papel”, afirma Ana Maria Dietrich. O extremismo político não respeita as contradições do jogo democrático e rejeita a ideia de saber lidar com o outro. “No caso do nazismo, a lei de que só o líder tinha razão e os judeus eram os culpados de todas as mazelas fazia que as reflexões sobre os problemas perdessem o sentido”, completa. Apesar de parecerem historicamente distantes, algumas das premissas totalitárias do episódio ainda não foram completamente resolvidas pela sociedade. “O argumento racional faz parte do gênero humano, e o debate entre ideias diferentes é importante para que as coisas se esclareçam”, diz Jaime Pinsky. “Mas o limiar disso está na racionalidade: quando passa a ter dogmas, você extrapola a racionalidade e se torna um fanático.” Qualquer semelhança com o extremismo de discursos entre “coxinhas” e “petralhas” observado nos últimos meses não é mera coincidência. O racha entre militantes do PT e do PSDB teve início antes mesmo das eleições do ano passado, marcadas por discussões intermináveis nas redes sociais, com o fim até de certas amizades. Este ano, essas discussões entre pessoas pró e contra o governo ganharam um novo palco: as ruas. No dia 15 de março, manifestações tomaram conta de 153 cidades do Brasil. Independentemente do lado, o que se vê em alguns casos é o ódio tomar o lugar do debate: como se gritar “Dilma vagabunda” ou desqualificar uma manifestação por causa da classe social de quem participa fosse argumento. Como lembrou o filósofo Vladimir Safatle em sua coluna do jornal Folha de S.Paulo, o discurso de conciliação não funciona na política porque é exatamente ela que coloca as contradições à mostra. Para ele, a “rachadura” do Brasil sempre existiu, com a ajuda da concentração de renda, da disparidade regional e de preconceitos. “Essa polaridade apenas permitiu que a divisão se expressasse”, escreveu ele. FÉ CONTRA FOGO A psicologia ajuda a entender por que grupos como o Estado Islâmico, o BokoHaram e a Al-Qaeda são tão implacáveis com aqueles que consideram infiéis. Ao coordenar as primeiras pesquisas com homens-bomba frustrados (que não explodiram por problemas técnicos ou por terem sido pegos pela polícia), o psicólogo Ariel Merari, da Universidade de Tel-Aviv, constatou que os principais fatores que motivavam os terroristas a tirar o pino de uma granada não eram a religião nem o desejo de vingança, mas sim a vontade de ser admirado pelo grupo, compensando sua falta de habilidade social. Ou seja, corresponder às expectativas do meio é um fator mais dominante que a ideologia. “Eles eram jovens fracos e dependentes, não o tipo de pessoa ideológica”, afirmou Merari a GALILEU. Para a tristeza dos conservadores, o islamismo não detém o monopólio do fundamentalismo religioso. Em maior ou menor grau, grande parte das religiões já ultrapassou a linha do extremismo. Como lembra a professora Maria de Lourdes Corrêa Lima, do departamento de teologia da PUC-Rio, o conceito do fundamentalismo tem início no século 20, quando a American BibleLeague lançou em 12 volumes a obra The Fundamentals: a TestimonytotheTruth (“Os pontos fundamentais: um testemunho para a fé”, em tradução livre). A ideia era defender os cristãos das ameaças do liberalismo e do modernismo, que iam de encontro a suas convicções. “O fundamentalismo se baseia numa visão dualista, segundo a qual tudo o que não está de acordo com o que o grupo defende é considerado mau. Não entram mais em jogo nem a reflexão nem a tolerância, mas somente a afirmação categórica de certos princípios”, explica ela. Vale lembrar que o fanatismo religioso já despertava o interesse de filósofos, como o inglês John Locke, no século 17, quando a reforma luterana esquentou o clima na Europa. Para Locke – ele próprio um religioso –, ao povo era necessário dar assistência moral, e não dogmas teológicos. Ele acreditava que representantes de religiões diferentes pudessem conviver em paz, e que garantir o respeito entre opiniões divergentes ficaria a cargo do Estado. Mas, para o filósofo, até a tolerância tinha limite. Por responder a um líder estrangeiro (o papa romano), os católicos, que já haviam usado os tribunais da Inquisição para queimar desafetos na fogueira, não deveriam ser contemplados com esse benefício, assim como os ateus. “Os que negam a existência de Deus não podem ser tolerados de modo algum”, afirmava ele. Não é preciso viajar no tempo para observar a ironia teológica. Parte da militância ligada a religiões no Brasil atravanca a ampliação de direitos individuais e questões de saúde pública, como a união civil homossexual e o aborto. Não foi à toa que, no início de março, um vídeo que mostra fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus uniformizados como militares, marchando e gritando frases de efeito assustou muita gente. Por parecer, de fato, um exército, não faltaram comparações com os registros de Leni Riefenstahl da ascensão do regime fascista. Não era para tanto. Segundo a Universal, a única atividade regular dos 4,3 mil jovens que compõem o projeto Guardiões do Altar é assistir a aulas que “estimulam o debate e a reflexão sobre aspectos do texto bíblico e do trabalho missionário”. Procurada por GALILEU, a Universal enviou um texto disponível no seu site e respondeu às perguntas solicitadas por e-mail com a pérola: “Se restarem dúvidas sobre o acima explicado [no texto], ficará claro que a pergunta não tem sentido”. “Eles acham que vocês são uma ameaça”, afirma Fábio Marton, autor de Ímpio: o evangelho de um ateu (Leya). Criado em um ambiente religioso, o jornalista foi pastor mirim e ajudou a exorcizar a própria mãe quando fazia parte de uma igreja pentecostal conhecida como Igreja Evangélica Exército Celestial. “Foram quatro anos de introspecção, até que notei uma coisa estranha em ser um robô de Cristo, uma auto aniquilação”, afirma. Para Marton, um ponto-chave para entender os evangélicos no Brasil é compreender sua relação com as religiões africanas. “Para os evangélicos, os orixás são demônios, eles acreditam mais nisso do que em Deus. Esse clima de batalha eles têm em comum com o fanatismo islâmico”, diz ele. Para o psicólogo Ariel Merari, apesar de certos tipos de pessoas serem mais fáceis de influenciar do que outros, os mecanismos de convencimento usados por algumas igrejas são semelhantes aos utilizados por muçulmanos extremistas – o que muda é a influência cultural e social. “São processos psicológicos universais que resultam da pressão ou da vontade de ser apreciado pelo grupo.” MORTE E PAIXÃO NO CAMPO Em 2013, Atlético Paranaense e Vasco disputavam uma partida decisiva pela última rodada do Campeonato Brasileiro. Se perdesse, a equipe carioca enfrentaria o segundo rebaixamento de sua história. Logo após o início do jogo, os olhos concentrados no campo voltaram-se para as arquibancadas. Torcedores organizados dos dois times, rivais de longa data, começaram uma briga que não conseguiu ser contida pelos seguranças da Arena Joinville. O placar final de 5 a 1 para o Atlético Paranaense foi mero detalhe frente à imagem de um pai vascaíno que protegia seu filho em meio ao combate. Apesar de os torcedores organizados estarem associados a atos de violência, suas origens são políticas. “As primeiras organizadas surgiram na década de 1960 e foram influenciadas pelo espírito da época, como um movimento de resistência e fiscalização dentro do futebol”, afirma Felipe Lopes, que defendeu tese de doutorado no Instituto de Psicologia da USP sobre o assunto. Mas, enquanto algumas torcidas se organizavam como 2013, JOINVILLE: no jogo entre atlético paranaense e vasco, as atenções deixaram o campo e se voltaram “fiscalizadoras”, o sentimento de militarização, reflexo da época, também crescia. para a violência nas arquibancadas (Foto: Pedro “Certos grupos eram organizados em ‘pelotões’, e seus dirigentes eram chamados de Kirillos/Agência O Globo) capitães. Essa se tornou uma face mais ligada à guerra, machista e militarizada, e a partir dos anos 1980 essas torcidas deixaram as páginas esportivas para ocupar as páginas policiais”, afirma o sociólogo Mauricio Murad, autor do livro Para entender a violência no futebol (Ed. Benvirá). A perda da força de instituições que eram fontes de identidade, como sindicatos e partidos, explica a escalada da violência. Isso fez que as torcidas acabassem se tornando um dos poucos espaços de reconhecimento social, ainda mais entre os jovens carentes de lazer e cultura. Nesse caso, a devoção pelo time de futebol se mistura à lealdade para com a torcida organizada. “O futebol é um dos maiores patrimônios da cultura coletiva brasileira e fruto de identidade social. Quando essa paixão excede os padrões de sociabilidade, isso se torna fanatismo, deixando de existir a diferença entre adversário e inimigo”, diz Murad. Segundo o pesquisador, o Brasil é o país mais violento do mundo em relação a conflitos entre organizadas: de 2012 a 2014, 71 mortes foram registradas por aqui. Ainda assim, apenas 7% dos torcedores que pertencem a um grupo uniformizado participam dos conflitos. “Quem rouba a bandeira de uma torcida rival, por exemplo, ganha reconhecimento”, diz Lopes. Outra explicação para a violência se deve a fatores mais racionais, como a disputa pelo poder no comando da própria organização, algo que acontece de maneira recorrente nas barras bravas, as torcidas argentinas. “Existe a venda de drogas e álcool, o apoio financeiro de dirigentes, o lucro com a revenda de ingressos... Então vemos mortes de pessoas mais velhas que estão implicadas numa disputa pelo poder”, afirma André Luiz Nery, autor de Violência no futebol: mortes de torcedores na Argentina e no Brasil (Ed. Multifoco). Seguindo os conceitos de Le Bon, Murad destaca a ideia do sentimento de invisibilidade no meio das massas como causa da violência. “Quando vemos torcedores dizendo que vão morrer pelo seu time e quando agridem outro torcedor, vemos esse lado irracional”, diz ele. Já para Felipe Lopes, é preciso tomar cuidado ao afirmar que as manifestações violentas estão ligadas ao comportamento das massas. “Se a massa é potencialmente violenta e irracional, você legitima a repressão”, ele afirma. “Mas isso não quer dizer que a pessoa não aja de modo mais intenso quando está em grupo: é esse contágio que faz o futebol ser tão interessante de ver de dentro do estádio.” SIMPATIA PELO CONSUMO Proporcionais ao aumento do tamanho do iPhone são as filas de consumidores ávidos por adquirir as novidades da Apple. As aglomerações já são uma atração aguardada não só por consumidores, mas também por empreendedores do acaso, que chegam a cobrar R$ 400 por um lugar na fila. Já para viabilizar o dinheiro necessário, a China é a mais inovadora. Em 2012, um jovem chinês de 17 anos transformou em realidade uma metáfora ao vender um rim para comprar um iPhone e um iPad. É claro que a euforia pela marca não se deve somente a seu charme irresistível – o marketing eficiente também tem seus méritos. A campanha de 2006 “I’m a Mac, I’m a PC” deixa evidente a diferença do perfil dos consumidores da companhia e aumenta o sentimento de pertencer a um grupo exclusivo. Nos anúncios, o usuário de Mac é retratado como um jovem descolado, 2014, HAMBURGO: As filas dos lançamentos da apple são uma atração à parte. a euforia para adquirir os aparelhos é tanta que, na china, um jovem vendeu o rim para comprar um iphone e um iPad (Foto: Axel Heimken/DPA/ZUMA Wire) enquanto os usuários de PC são burocratas engravatados. Num artigo para o site Live Science, Albert Muniz Jr., professor de marketing da Universidade DePaul, em Chicago, lembra que, nos anos 1980, os applemaníacos já buscavam se diferenciar. “Eles diziam que, naquela época, era evidente que o pessoal da IBM tinha um jeito: vestia terno e votava no presidente Reagan. Já o pessoal do Mac tinha outro: vestia jeans e não votava no Reagan.” Segundo Carlos Augusto Costa, diretor do laboratório de neuromarketing da FGV Projetos, 92% dos consumidores mudam de ideia na hora das compras. O desafio das marcas, portanto, é evitar que isso aconteça. Uma das formas mais tradicionais é a associação com os ‘trendsetters’, pessoas que ditam tendências. Ao vermos alguém renomado ou um ídolo usando determinada marca de desodorante, por exemplo, tendemos a querer copiar a ação. Culpa dos neurônios espelhos, que fazem que nossa percepção visual inicie um tipo de simulação interna dos atos dos outros. “Voltando um pouco às propagandas da Johnson & Johnson, por exemplo, as mães podiam não ter bebês tão bonitos como aqueles, mas poderiam fazer seus filhos usarem fraldas iguais; o mesmo raciocínio serve para as propagandas de cuecas, e assim por diante”, explica Costa. Isso funciona bem quando temos uma relação emocional acima da média com o produto. É por isso que para entender o sucesso de uma marca como a Apple é preciso conhecer os mecanismos da religião. Para Costa, as marcas que causam euforia têm símbolos fortes e pessoas inspiradoras que disseminam suas filosofias, como é o caso de Jesus Cristo na Igreja católica. “Nosso cérebro também gosta de uma novela. Como Buda, Maomé e Cristo, as marcas precisam criar envolvimento”, afirma ele. Nada que o messias Steve Jobs não tenha feito durante suas pregações. O CAMINHO DA TOLERÂNCIA A incapacidade de compreender opiniões diferentes é uma ameaça à democracia, mas existe uma forma de combater isso? “A liberdade deve ser sempre a maior possível, mas isso significa colocar certos limites para garantir os direitos e a integridade de outros”, afirma Ricardo Binsdi Napoli, professor de filosofia da Universidade Federal de Santa Maria e especialista em temas ligados à ética política. Para que isso seja possível, é necessário construir uma cultura de tolerância que passe por todos os elementos que compõem uma sociedade. “É a capacidade de se abster de intervir na opinião do outro, mesmo que se desaprove ou se tenha o poder para calá-la, cerceá-la ou até prendê-la”, diz o professor. A aceitação de valores diferentes é um exercício de autocrítica. Ela cria as condições necessárias para construir um diálogo positivo para o desenvolvimento de uma sociedade sem rachaduras, na qual a palavra “respeito” não seja apenas uma estampa de camiseta. Afinal, qual seria a graça do futebol se o rival fosse extinto? Conflitos nos fazem questionar e evoluir. Antes de xingar a mãe dos desafetos, talvez seja melhor iniciar um diálogo capaz de conter o maior número possível de opiniões. E isso inclui adicionar novamente aquele amigo excluído do seu Facebook durante as eleições e os protestos de março. Mais amor e menos ódio, por favor. A partir da leitura dos textos acima e das discussões em sala escreva uma dissertação argumentativa sobre o tema: “a intolerância é a face mais perversa da ignorância”. Seu texto deverá ter entre 25 e 30 linhas e ser escrito no padrão culto da língua portuguesa. Não se esqueça de dar um título ao texto.