COPOM: Agosto/11: Surpresa total , “cavalo de pau de 360 graus”. E

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COPOM: Agosto/11: Surpresa total , “cavalo de pau de
360 graus”. E a reação dos mercados?
28. Em suma, o Copom reconhece um ambiente econômico em que prevalece
nível de incerteza crescente e acima do usual, e identifica riscos à
concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para
o valor central da meta. Desde a última reunião, no âmbito externo, as
evidências apontam moderação adicional no processo de recuperação em que
se encontram as economias do G3 e, em outra perspectiva, ainda revelam
influência ambígua sobre o comportamento da inflação doméstica. No âmbito
interno, ações macroprudencias e, principalmente, ações convencionais de
política monetária recentemente implementadas ainda terão seus efeitos
incorporados à dinâmica dos preços, processo que tende a se acentuar neste
semestre. Embora incertezas elevadas e crescentes que cercam o cenário
global e, em escala marcadamente menor, o cenário doméstico, não permitam
identificar com clareza o grau de perenidade de pressões inflacionárias
recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação mostra
sinais mais favoráveis.
29. Nesse contexto, avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para
a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa
Selic para 12,50% a.a., sem viés.
30. A demanda doméstica se apresenta robusta, em grande parte devido aos
efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão do
crédito. Além disso, em que pese iniciativas recentes apontarem contenção das
despesas do setor público no primeiro semestre, impulsos fiscais e creditícios
haviam sido aplicados na economia anteriormente, e ainda deverão contribuir
para a expansão da atividade e, consequentemente, para que o nível de
ociosidade dos fatores se mantenha em patamares baixos. Aos efeitos desses
estímulos, entretanto, contrapõem-se os efeitos da reversão de iniciativas
tomadas durante a crise financeira de 2008/2009, os das recentes ações
macroprudenciais e, principalmente, os das ações convencionais de política
monetária implementadas neste ano. Esses elementos e os desenvolvimentos
no âmbito fiscal e parafiscal são parte importante do contexto no qual decisões
futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a
convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas.
Não, esse não é o statement da reunião do COPOM de ontem. São os
parágrafos de 28 a 30 da última ata do COPOM de julho (o sublinhado em
alguns trechos são meus e mostram ainda uma preocupação com a
trajetória de inflação, mesmo após seguidas altas de juros) escrita a 45
dias (não meses...) atrás. O BC surpreendeu o Brasil e o mundo e cortou a
taxa básica de juros para 12% ao ano em seu encontro de agosto.
Desde lá, é verdade que houve alguma reprecificação de crescimento nas
economias desenvolvidas, movimento feito por todos os analistas a partir de
dados macroeconômicos decepcionantes nos EUA e Alemanha. O mundo
chegou a chacoalhar com uma nova rodada de desconfiança na solvência de
países da Europa cada vez mais importantes – Itália, por exemplo – e com o
rebaixamento dos EUA.
Porém, gradativamente, a situação foi se reequilibrando, pelo menos em
termos de expectativas dos agentes econômicos. Os preços de
commodities, apontados pelo BC e o Governo como o vilão da inflação em
2010 e 2011, que chegaram a cair, em média, 20% no auge da crise em
agosto, hoje voltaram para um nível perto de 5% de suas cotações máximas
recentes. Em uma coincidência paradoxal, a cotação do minério de ferro voltou
a bater a casa de US$ 180/tonelada exatamente ontem, mostrando que a
demanda mundial está longe de estar fraca. As bolsas, tanto no Brasil, como
no exterior, também recuperaram, em média, 15% de seus piores momentos.
O mercado interbancário nos EUA, outro grande sinalizador de crises, que viu o
spread entre as taxas de juros e a Libor de três meses disparar para inéditos
4,6% a.a. em out/08, teve um mês de agosto relativamente calmo,
considerando o ambiente (diferencial ao redor de 0,25% a.a.,, dentro da média
histórica).
Enfim, se considerarmos que o mercado reflete, em seu equilíbrio de preços, a
média das opiniões, a decisão e as expectativas do BC estão muito fora da
curva (o que não significa que ele não esteja certo!). Porém, me antecipando
aos críticos que duvidam da capacidade do mercado de prever alguma
coisa, é bom lembrar que o Banco Central da China, também pressionado
pela inflação e pertencente aos mesmos potenciais riscos do planeta
Terra, na última sexta-feira, ampliou a base incidente de compulsórios,
em uma continuada direção de aperto de política monetária, oposta do
caminho tomado pelo BC brasileiro.
Não que o cenário mundial não inspire grandes cuidados. Não que um
banco central não deva tomar uma atitude radical ou não possa “rasgar o
livro de formação de expectativas” em situações de emergência. Pode e
deve, essa é a sua obrigação, por sinal. O que está sendo discutida é a
lógica da argumentação do BC de que estamos inexoravelmente
caminhando para uma recessão mundial, com potencial efeitos nos
canais de crédito (a “la 2008”) e que isso tudo isso veio à tona nos
últimos 45 dias, obrigando a autoridade monetária a fazer um “cavalo de
pau de 360 graus”.
O ambiente interno (tão bem descrito na ata de julho) é um agravante na
decisão do BC. Além do IPCA acumulado de 12 meses continuar
teimosamente acima do teto da meta de inflação, estamos indo para o segundo
ano consecutivo com o centro da meta estabelecida pelo CMN não sendo
cumprida e para um ano de 2012, que começa com um aumento de salário
mínimo superior a 13%, com as expectativas dos agentes acima de 4,5% para
o indicador referência. É fato que houve desaceleração recente na economia,
sobretudo na indústria, mas não em patamar que embase mudança de postura
tão radical do COPOM.
Enfim, o BC tomou um caminho sem volta. O curioso é que não dá nem
para torcer que ele esteja correto, o que significaria que 2012 poderia
repetir 2008, algo que ninguém deseja. Ironias à parte, a autoridade
monetária tomou um caminho sem volta. Será muito custoso para o país,
caso a decisão se confirme precipitada.
Começamos a semana com muita esperança. Passamos a escutar, de repente,
discursos do Executivo que sempre sonhamos, de mais “atenção ao aperto
fiscal para que possamos reduzir os juros”. Música para os ouvidos.
Obviamente, o anúncio de elevação de superávit primário em R$ 10 bilhões
(0,3% do PIB) para 2011, longe de ser algo fantástico, pelo menos provia
esperança em relação a uma mudança de postura. Quando ouvimos a
Presidenta Dilma falar na terça sobre a necessidade de se criar condições para
reduzir a estratosférica carga de impostos na economia brasileira, parecia que
algo no Brasil realmente estava mudando.
Sejamos, porém, justos. No statement do BC, a questão fiscal foi citada apenas
como um pequeno apêndice do racional muito pessimista em relação ao futuro
da economia mundial.
“A propósito, também aponta nessa direção a revisão do cenário para a política
fiscal.”
Resta esperar para ver os próximos passos do COPOM. O “cavalo de pau
de 360 graus” que foi dado compromete de certa forma o BC à
continuidade do processo de relaxamento da política monetária na
próxima reunião de outubro. A teoria é que “podemos estar diante de um
corte apenas, somente com o objetivo de ajustar a SELIC a um risco de
queda mais pronunciada da economia” carece de qualquer
fundamentação. É no mínimo presunçoso que alguém ache que exista tal
grau de precisão na política monetária, com uma ciência exata. Não há
dúvida que mais uma mudança de direção (incluindo a parada no
processo de queda) poderia ser bastante negativa.
Reação dos Mercados:
JUROS - O mercado de DI, conforme esperado, corrigiram preços de forma
abrupta, à espera de novos cortes nas taxas (precificação de mais duas
quedas de 0,5% ao ano). A resultante foi uma curva de juros mais
“empinada” que a observado antes da decisão, o que mostra uma elevação da
percepção de risco entre os agentes.
BOLSA - A reação do mercado de bolsa foi questionada por muitos: Como a
bolsa pode subir, se o mercado está questionando a decisão do BC? A
resposta é simples: A crítica está sendo respaldada pelos investidores de
bolsa, que amanheceram hoje com uma taxa SELIC mais baixa e uma direção
de afrouxamento na política monetária e com um cenário que não considerado
tão catastrófico. Se a Bolsa tivesse “comprado” as previsões do BC, as
cotações teriam caído, apesar dos juros mais baixos. Destaque para os
bancos, que sofreram muito com a crise externa e o aperto de juros do BC. E
para o setor imobiliário, muito menos pelas taxas mais baixas (no segmento já
existe subsídio), mas pela garantia de crédito farto. Porém, há algo que os
investidores parecem ter esquecido. Muito mais importante do que o nível de
taxas de juros, a inflação é um risco importante para um setor que “compra
terreno e constrói na frente e vende depois”. Em outras palavras, a aparente
boa notícia de hoje pode virar uma enorme frustração amanhã.
INFLAÇÃO: O mais relevante, porém, no pregão pós-COPOM, foi o
comportamento da inflação implícita nos títulos das NTN-Bs. Para 2012
fechado, o IPCA projetado saltou de 6,19% (ontem) para 6,42% a.a. hoje;
para o IPCA anualizado até maio/2013, a inflação estimada de 5,88% para
6,13% a.a.; e o IPCA fechado para 2014 saltou de 5,80% para 6,01% a.a. .
Essa reação mostra a desconfiança acerca dos resultados futuros da
decisão do COPOM.
Enfim, cabe esperar para vermos os próximos dados da economia brasileira e
mundial para medirmos até que ponto o BC acertou na polêmica decisão no
COPOM/Agosto.
Alexandre Póvoa
Economista e Gestor de Recursos – Valorando Consultoria
Autor do Livro “Mundo Financeiro – O Olhar de um Gestor”
(Editora Saraiva)
Email: [email protected]
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