ECONOMIA DOMINGO, 8 de maio de 2005 Dólar em queda assombra exportadores Cotação da moeda em R$ 2,462 na sexta-feira levou os empresários a suspender as operações à espera de mudanças nos próximos dias Heron Vidal ssustador para os exportadores, o fortaleciA mento do real frente ao dólar não é uma ocorrência cambial exclusiva da conjuntura econômica do Brasil. Portanto, a solução do problema, responsável pela queda da renda das exportações não será resolvido com intervenções eventuais ou diárias de compra da moeda norte-americana pelo Banco Central. A estratégia apenas queimaria reservas. A crise de desvalorização do dólar é mundial e a sua inversão é de competência da fonte dos desajustes: os Estados Unidos. Essa avaliação, do diretor da Corretora Geral, Ivanor Torres, tem a concordância de exportadores, mas ela sugere um desfecho demorado. No planejamento dos contratos dos exportadores, o dólar comercial (venda) a R$ 2,4620 – cotação da última sexta-feira – é uma surpresa desanimadora. “Esperávamos, no mínimo, para esta época do ano, uma cotação mínima de R$ 3,00”, afirma o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Ricardo Wirth. Para o industrial, o governo comemora politicamente a marca de 100 bilhões de dólares de faturamento das exportaALAN BASTOS / ESPECIAL / CP MEMÓRIA apreensão”, registra o diretor Corporatições durante o ano passado. “As indúsvo da Marcopolo, Valter Gomes Pinto. A trias não podem rasgar seus contratos receita das vendas em dólares está em com os importadores, por isso, se chegou baixa e as matérias-primas, como o aos 100 bilhões de dólares”, explica. plástico, têm cotação no mercado interSegundo Wirth, vários exportadores nacional acima da variação do dólar, localizados no Vale do Sinos suspendeafirma Pinto. “Não podemos prever naram as suas operações – ou fecharam no da, não sabemos como será o câmbio aguardo de mudanças. Os custos interem agosto, setembro”, observa ele. nos de produção no setor calçadista conEntre os casos diferenciados, sem fortinuam elevados devido à âncora finante impacto direto do câmbio atual, a ceira da taxa Selic, de 19,5% ao ano, o juBraskem – maior grupo petroquímico ro mais alto do mundo. As demissões no da América Latina com 29,5% de consetor coureiro-calçadista estão sendo inetrole da Copesul no Pólo de Triunfo – se vitáveis. Em dólares, as exportações do beneficia por ser dolarizada nas comprimeiro quadrimestre do ano trouxeram pras. Da sua produção de petroquími579 milhões de dólares, 8% acima do cos, o grupo exporta 23%. Ganha ao admesmo período de 2004. Transformada quirir matérias-primas em dólar (em Empresários precisam cumprir contratos, sob pena de perderem negócios em reais essa receita, porém, é inferior. baixa) e ganha na exportação com proNo quadrimestre inicial do último ano, a moeda 180 milhões de dólares, basicamente em carroce- dutos cotados pelo mercado (sempre acima do dos EUA valia R$ 3,00. As fábricas do Rio Grande rias de ônibus para mais de 30 países, grande dólar), diz o vice-presidente de Relações Institudo Sul respondem por 70% do saldo exportador. parte deles do Oriente Médio. “Temos contratos cionais, Alexandrino de Alencar. Em 2004, a Com 52% de suas vendas voltadas para o para cumprir. Se os abandonarmos, os concor- Braskem exportou 710 milhões de dólares e, apemercado internacional, a Marcopolo exportou rentes assumem o nosso lugar. O momento é de nas no 1º trimestre deste ano, 260 milhões. RICARDO GIUSTI / CP MEMÓRIA Ajuste das contas públicas norte-americanas pode acarretar forte desvalorização Estoques mundiais podem virar moedas podres Se a alternativa para o ajuste das contas públicas norteamericanas (é a causa da debilidade mundial do dólar) for uma forte desvalorização, todos os estoques da moeda em poder do mundo, incluindo as reservas cambiais, podem virar moeda podre. “Em tese, ocorreria uma grande crise econômica global e os EUA não quebrariam. Reduziriam seus custos com as importações”, avalia o economista Décio Pizzato. Acumulada em 1,2 trilhão de dólares nos últimos três anos, a dívida pública do “tio Sam” apenas em 2005 deverá crescer mais 427 bilhões de dólares, calcula. Dos 17 trilhões de dólares de títulos públicos emitidos pelo governo dos EUA, 2,4 trilhões estão fora do país divididos entre fundos de investimento e pensão (aposentadoria) da China, Japão e países europeus. Os demais 14,6 trilhões foram adquiridos pelos fundos de pensão de investidores americanos. A desvalorização produziria devastação muito pior à gerada pela renegocia- ção dos títulos da Argentina, cujos prejuízos se concentraram quantitativamente mais sobre os investidores italianos. Mas essa é uma teoria drástica. A tendência, diz Pizzato, é os países manterem a compra de títulos dos EUA e, ao mesmo tempo, negociarem desvalorização gradual do dólar com o governo americano. Assim, o trauma seria menor. Ao mesmo tempo, as nações buscariam reestruturar a economia mundial. Os EUA são os maiores importadores do mundo devido ao forte poder de compra da sua população e moeda. Por isso, o dólar depreciado não interessa também aos EUA. Causaria desabastecimento geral, a começar pelos calçados. O diretor da Corretora Geral, Ivanor Torres, acha que é inadiável uma reunião dos grandes bancos centrais do planeta com governo americano para a busca de uma saída racional. Desde o final de 2004 o dólar cai por causa da percepção das nações sobre a grave crise das contas públicas do país de George W. Bush. Polônia faz ofensiva no Sul do país externado durante o Fórum que aconteceSílvia Trovo O interesse da Polônia em negociar rá na cidade de Florianópolis e que deve com o Brasil, especialmente com a região receber representantes dos três estados Sul do país onde tem cerca de um milhão ddo Sul, inclusive seus respectivos goverde descendentes, vai ser reiterado a partir nadores. Essa semana, o embaixador da do dia 18, quando ocorre em Santa Cata- Polônia Krzysztof Jacek Hinz, esteve com rina o 1º Fórum Econômico Brasil-Polô- o governador Germano Rigotto especialnia. O evento terá a participação do vice- mente para convidá-lo para o evento. Maj afirma que o potencial de interministro de Economia e Trabalho daquele país Miroslaw Zielinski. Será um encontro câmbio entre as duas nações é forte e inde aproximação e de oportunidades, já teressante, mas mal explorado. Ele acreque a missão polonesa ao Brasil será inte- dita que a Polônia possa se tornar um grada por uma comitiva de empresários acesso do Brasil à União Européia onde interessados em firmar parcerias aqui. os produtos brasileiros podem ser muito Entre os setores da economia brasileira competitivos. O coordenador-chefe faz que interessam aos poloneses está o cal- questão de ressaltar que a Polônia investe çadista, tanto que há alguns dias, o con- financeiramente quando o assunto é atraselheiro-chefe do departamento Econômi- ção de investimentos. Até 2013, segundo co e Comercial da Embaixada da Polônia ele, o governo polonês dispõe de 90 biPiotr Maj, esteve pessoalmente em Novo lhoes de euros para investir em empresas. EMBAIXADA DA POLÔNIA / ESPECIAL / CP Hamburgo participando de uma feira de tecnologia para calçados, com o objetivo de conhecer o potencial produtivo do Brasil neste segmento. Maj destacou que a Polônia tem muito interesse no comércio bilateral com o Brasil, pensando inclusive em firmar joint-ventures com os brasileiros. Segundo ele, esse interesse será Gdansk, uma das cidades da Polônia mais poderosas economicamente NEGÓCIOS I — O maior parceiro comercial da Polônia é a Alemanha, com negócios bilaterais que chegam a 42 bilhões de dólares anuais. O montante envolve desde simples produtos a alta tecnologia. NEGÓCIOS II — Do Brasil, a Polônia tem negociado principalmente soja, milho e fumo. O intercâmbio entre os dois países rendeu 650 milhões de dólares no ano passado, segundo estatísticas polonesas. CORREIO DO POVO