GRAU DE CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE O PROTOCOLO DE SEPSE NAS UTI’S E NAS UNIDADES DE EMERGÊNCIA DO CARIRI, CEARÁ, BRASIL. Woneska Rodrigues RESUMO Pinheiro, Kamille Rodrigues Freire Lopes, Marko Introdução: Uma das enfermidades mais comuns que acometem os pacientes de Akerman, Hermes Melo cuidados intensivos é a sepse, que consiste em uma manifestação clínica severa, decorrente da presença de um agente infeccioso, instalado na corrente sanguínea do Teixeira Batista, Gabriel paciente. O estudo a respeito da realização da aplicabilidade do protocolo de sepse torna- Pereira Bernardo, Lorena se de grande valia para que haja uma reflexão sobre a execução dos pacotes de Pereira Bernardo, Ruth ressuscitação e dos pacotes de manutenção para tratamento da sepse nos serviços Figueiredo Araujo. destinados a cuidados de pacientes críticos, atentando também para a importância do conhecimento do profissional a respeito das manifestações clínicas expressas pelo paciente. Objetivo: Verificar o grau de conhecimento do protocolo de sepse pelos profissionais do serviço de UTI e setor de emergência público do município de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha- CE. Método: Foi realizada uma pesquisa observacional, de caráter descritivo e natureza quantitativa através de questionários, com profissionais intensivistas e emergencistas atuantes nos serviços de UTI - Adulto e nas unidades de 1 Estácio FMJ, Juazeiro do Norte, Ce, Brazil. 2 HMSVP, Barbalha, Ce , Brazil. emergência públicos do interior do Cariri cearense especificadamente do complexo Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha). Resultados: Foram avaliados 40 profissionais, em que 67,5% responderam de forma correta quais os sinais da sepse, 30% responderam incorretamente quais os parâmetros necessários para acompanhamento do paciente com sepse. Conclusão: Há um déficit no conhecimento dos profissionais de saúde acerca dos protocolos de sepse. Por se tratar de uma patologia que gera altos índices de mortalidade, deve-se haver mais ainda uma compreensão dos profissionais de saúde que atuam em unidades de terapia intensiva e emergência para que haja reflexões sobre a importância do manuseio adequado dos pacotes de ressuscitação e manutenção. Palavras-chave: Sepse. Unidades de Terapia Intensiva. Serviços Médicos de Emergência. 1 Autor correspondente Hermes Melo Teixeira Batista [email protected] INTRODUÇÃO A pesquisa torna-se relevante devido o número substancial da incidência de sepse no Brasil e seus efeitos deletérios para o paciente acometido e a saúde pública, tendo-se a necessidade de estudos sobre o assunto em questão que façam emergir reflexões sobre a prevenção e tratamento desta patologia, desta forma incentivar os profissionais atuantes na assistência direta a saúde a se atualizarem sobre a realização adequada dos protocolos, prevenindo também a ocorrência de infecções durante os procedimentos realizados na UTI. Esse estudo visa contribuir para o campo profissional, onde irá oportunizar conhecimentos oferecidos sobre as raízes das práticas abordadas, elaborando novas estratégias de conhecimento, para a realização da assistência ao paciente séptico, e para a comunidade leiga a respeito do tema e suas interfaces. A sepse apresenta-se em número de proporções substancial nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s), estima-se uma incidência de 23% a 27% de ocorrência de sepse e choque séptico no Brasil.¹ Atualmente a sepse é a principal causa de morte nas UTI’s, e nos serviços de atendimento a emergência, representando uma das principais causas de mortalidade hospitalar tardia, superando o infarto do miocárdio e o câncer. Na sua forma mais grave (choque séptico) tem uma alta mortalidade ultrapassando 60% dos casos atendidos no Brasil, tendo uma média mundial em torno de 37%. Segundo um levantamento feito pelo estudo mundial conhecido como Progress, a mortalidade da sepse no Brasil é maior que a de países como a Índia e a Argentina.² Em virtude dos números alarmantes, em relação a incidência de sepse, para controle da mesma surgiu a campanha mundial, Surviving Sepsis Campaign, lançada por três grandes sociedades (Sociedades Americana e Europeia de Terapia Intensiva e o International Sepsis Forum), o que foi um fator contribuinte para melhorias no atendimento a esses casos.³ A campanha tinha como objetivo reduzir a mortalidade em 25% em cinco anos, portanto, idealizaram um protocolo, à beira-leito, baseado nas melhores evidências científicas disponíveis. Sobretudo, um dos principais componentes da Campanha é o desenvolvimento de diretrizes para o tratamento da sepse grave. Essas diretrizes foram desenvolvidas em 2004, no entanto, em 2007 foi publicada a atualização dessas recomendações.³ Deve-se executar o protocolo para sepse, visando a padronização das condutas adequadas preconizadas pela SSC (Surviving Sepsis Campaign). Este protocolo visa uma série de medidas como iniciar a coleta do lactato, administração de antibióticos, dentre outras medidas essenciais para a recuperação do indivíduo acometido por sepse. O protocolo de sepse requer medidas padronizadas, fazendo-se necessário supervisão constante dos resultados obtidos, pois o lactato sérico quando apresenta-se em altos índices é um forte indicativo de hipóxia tecidual, antes de iniciar o antibiótico, é necessário realizar a hemocultura e outras culturas, após a coleta, inicia a antibioticoterapia em cerca de 6 horas, quando o lactato apresentar-se elevado, deve-se realizar reposição volêmica, podendo ocorrer também a presença de hipotensão, utiliza fármacos vasopressores para reestabilizar a PAM (Pressão Arterial Média), e mantê-la acima de 65 mmHg.4 MÉTODO Foi realizada uma pesquisa observacional, de caráter descritivo e natureza quantitativa, com profissionais intensivistas e emergencistas atuantes nos serviços de UTI - Adulto e nas unidades de emergência públicos do interior do Cariri cearense especificadamente do complexo Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha). O Crato é um município brasileiro localizado no interior do estado do Ceará, no extremo-Sul do estado e na microrregião do Cariri, fazendo parte da região metropolitana caririense. Possui como algumas de suas redes hospitalares os hospitais: Hospital Maternidade São Francisco de Assis e Hospital São Raimundo. O Hospital e Maternidade São Francisco de Assis é um hospital geral, o qual dispõe de 351 funcionários e 132 leitos sendo 06 de UTI.5 No entanto o Hospital São Raimundo está situado no centro da cidade e possui dentre as suas especialidades os cuidados intensivos, tendo 05 leitos destinados à UTI e cuidados emergenciais, atendendo aos serviços público e privado. A cidade de Juazeiro do Norte é um município brasileiro localizado no interior do estado do Ceará na região metropolitana do Cariri. Reside nesta cidade um hospital terciário da rede estadual da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA). O Hospital Regional do Cariri assiste a população dos 44 municípios da macrorregião do Cariri, que contempla as regiões de saúde de Juazeiro, Crato, Brejo Santo, Iguatu e Icó.5 Trata-se de um hospital que atende exclusivamente a clientela do Sistema Único de Saúde (SUS). Oferece à população 219 leitos, distribuídos nas clínicas médicas, cirúrgica e traumatológica, Unidade de Cuidados Especiais, UTI adulto e Unidade de AVC-isquêmico. 2 A cidade de Barbalha é um município brasileiro do estado do Ceará que se situa na região metropolitana do cariri, Mesorregião do Sul Cearense. Tem-se neste município o Hospital e Maternidade Santo Antônio, possui 114 leitos, sendo 8 leitos de UTI, é um hospital beneficente sem fins lucrativos. Em Barbalha também reside o Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, onde atua de forma beneficente sem fins lucrativos e possui 186 leitos, sendo 33 leitos de UTI e 8 deles de UTI adulto. Contendo neste município também o Hospital do Coração do Cariri (HCC), que atende especialidades em cardiologia, com atendimento particular e pelo SUS.5 A coleta foi realizada no período de agosto a setembro do ano de 2015, tendo como população os enfermeiros, médicos e/ou residentes de medicina que atuarem nos serviços de UTI- Adulto e emergência dos hospitais públicos do município de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, que obedecerem aos seguintes critérios de inclusão: a. Ser enfermeiro, médico e/ou residente de medicina atuante na UTI’s- Adulto e/ou emergência; b. Aceitarem participar voluntariamente da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo de Consentimento Pós- Esclarecido (TCPE). Não comporá a amostra os profissionais que não desejarem participar da pesquisa em questão ou os que se sentirem constrangidos com a realização das indagações feitas sobre o assunto estudado, não ser enfermeiro, médico e residente de medicina. A coleta foi realizada por meio de um questionário previamente estruturado, que segue uma ordem de perguntas, que devem ser respondidas sem a presença do entrevistador, deixando o entrevistado mais livre para responder as perguntas abordadas. Os dados obtidos foram agrupados, tabulados e analisados através do programa Excel (.xlsx), e a interpretação dos mesmos foi realizada após sua coleta e organização. Seguindo a resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, a pesquisa garantiu aos participantes ou representantes um esclarecimento sobre os procedimentos que foram adotados durante a realização da pesquisa, e sobre os possíveis riscos e benefícios. O objetivo principal da avaliação ética dos projetos de pesquisa, é a garantia dos princípios básicos, autonomia, não-maleficência, beneficência, justiça e equidade, dentre outros, visando assegurar os direitos e deveres dos participantes da pesquisa. Onde o mesmo, foi encaminhado para a plataforma Brasil, sendo submetido ao comitê de Ética em pesquisa em seres humanos da Faculdade de Ciências aplicadas Doutor Leão Sampaio (FALS). RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa foi realizada com profissionais intensivistas e emergencistas atuantes nos serviços de UTI- Adulto e nas unidades de emergência públicos do interior do Cariri cearense especificadamente do complexo Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha). Foram avaliados 40 profissionais, com tempo de formado de até 06 anos, média de 2,7 anos (desvio padrão de 1,56 anos). A seguir serão apresentadas as informações descritivas na tabela 1. Tabela 1: Distribuição dos participantes em relação à cargo, setor de atuação, tempo de formado e curso de pósgraduação. Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Ceará,, 2015. VARIÁVEIS Cargo CATEGORIAS Enfermeiro Médico Setor de atuação Tempo formado % 24 60,0 4 10,0 Residente de medicina 12 30,0 Emergência 23 57,5 UTI 20 50,0 Emergência + UTI 3 7,5 10 á 13 anos 2 5,0 6 á 9 anos 10 25,0 2 á 5 anos 27 67,5 Menos de 1 ano Curso de pós- graduação N Sim 3 1 2,5 25 62,5 Apenas uma especialização 19 47,5 Duas especializações 6 15,0 - Gestão em saúde 1 2,5 - Urgência e emergência 20 50,0 - UTI 7 17,5 - Transplante de órgãos 1 2,5 - PSF 2 5,0 Fonte: Pesquisa direta, 2015. Os resultados apresentados na tabela 1 demonstram os dados sócios demográficos e profissionais dos entrevistados, onde observamos que participaram da pesquisa 40 profissionais de saúde sendo estes enfermeiros, médicos e residentes de medicina. Ao avaliarmos por cargo, participaram 60,0% (24) enfermeiros, 30,0 % (12) residentes de medicina e 10,0 % (04) médicos. O setor de atuação escolhido foi a UTI e a emergência, sendo que participaram 50,0% (20) profissionais da UTI e 57,5 % (23) profissionais dos setores de emergência, sendo que houve profissionais que atuavam nas duas áreas dando um percentual de 7,0 % (03), por tanto, os valores mencionados em cada setor tanto na emergência como na UTI, englobam esses profissionais que atuam nos dois setores. A caracterização por tempo de formado nos deu dados de menos de 01 ano á 13 anos de formado, sendo 2,5% (01) menos de 01 ano; 67,5% (27) de 02 a 05 anos; 25,0% (10) de 06 a 09 anos e 5,0 % (02) de 10 á 13 anos. Ao serem indagados se possuíam curso de pós- graduação 62,5 % (25) afirmaram serem especialistas, 47,5 % (19) possuem apenas uma especialização, 15,0 % (06) possuem duas especializações, aos mesmos foi perguntado qual curso escolheram para se especializar e dentre eles foi relatado: gestão em saúde 2,5% (01), urgência e emergência 50,0% (20), UTI 17,5% (07), transplante de órgãos 2,5% (01) e PSF 5,0% (02). O tempo de formado varia com cada grupo de pessoa tendo como amostra profissionais que possuem de 1 ano de formado até 13 anos, esses dados nos fazem crer que as pessoas estão se formando cada vez mais jovens, e iniciando a sua carreira profissional logo após a graduação, os entrevistados foram questionados também sobre quais especializações possuíam, e se analisarmos o contexto como um todo, pode-se ver que eles terminaram a graduação e deram continuidade aos estudos através da pós graduação. No que diz respeito a este assunto Bermond6 diz que, após a conclusão da graduação é crescente o interesse pela continuidade dos estudos, no qual essa modalidade de estudos vem tomando importantes proporções, pois, a procura por pós-graduação, mestrado e doutorado, cresce cada vez mais, esta procura aumenta por conta da combinação de diversos fatores econômicos e culturais, sendo que a demanda nos setores públicos e privados aumentam cada vez mais, hoje em dia a população tem mais facilidade para aprimorar os seus conhecimentos, há maiores disponibilidades de cursos de pós-graduação á nível de especializações acadêmicas, exigências no mercado de trabalho e interesse e motivação pessoal tendo em vista que somente a graduação não é considerada como critério fundamental para uma seleção. Observamos na tabela 1, que a pósgraduação em urgência e emergência e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se destacam. CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS SOBRE A SEPSE. 4 Gráfico 1: Conhecimento dos profissionais participantes do estudo, sobre os sinais de sepse. Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha- CE, 2015. 67,5% 7,5% 10,0% A B 15,0% C D (Certa) Fonte: Pesquisa direta, 2015. Neste momento do estudo indagou-se aos participantes da pesquisa sobre os sinais de sepse apresentados pelo paciente. No questionário, oportunizou-se o participante a responder através das alternativas contidas no questionário, sendo que somente uma alternativa era a considerada mais adequada correspondendo à alternativa D que continha os sinais de sepse considerados pelo Instituto Latino Americano da Sepse- ILAS, Observando o gráfico 1 verifica-se que a maioria dos participantes optou pela letra D que continha a seguinte resposta: Sepse caracteriza a presença de dois ou mais critérios da Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS) (taquicardia (>90 batimentos/min), taquipneia (>20 respirações/min), hipertermia de >38º ou hipotermia de <35,5ºC e contagem de células brancas de >12.000 ou <4.000 células/mm 3 ou mais de 10% de bastonetes), associado a um foco infeccioso. Reinhart, Daniels, Machado7 apontam que, para que o paciente seja diagnosticado com sepse, seguindo o que o Instituto Latino Americano da Sepse- ILAS preconiza, ele deve apresentar os sinais da Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS) que são taquicardia (>90 batimentos/min), taquipneia (>20 respirações/min), hipertermia de >38º ou hipotermia de <35,5ºC e contagem de células brancas de >12.000 ou < 4.000 células/mm3 ou mais de 10% de bastonetes, associado a um foco infeccioso comprovado. Os autores supracitados enfatizam que os profissionais falham por não saberem detectar os sinais desta síndrome expressos pelos pacientes, e por falta de conhecimento teórico sobre a mesma. Mundialmente a cada hora morrem cerca de 1.000 pessoas, e a cada dia, morrem por volta de 24 mil pessoas por sepse, sendo responsável por uma perda anual de mais de 8 milhões de vidas, portanto, qualquer falha na detecção precoce dessa doença pode levar o paciente a ter sérias consequências. A identificação precoce da sepse é, portanto, o passo mais importante para aumentar os efeitos positivos de um melhor tratamento, por isso, é de extrema valia a adoção de estratégias hospitalares abrangentes de triagem que permitam a identificação dos pacientes que estão hospitalizados e apresentam sepse em sua fase inicial, da mesma forma que ocorre com o Infarto Agudo do Miocárdio, o não rastreamento para que seja implementado o tratamento da sepse pode comprometer gravemente o prognóstico. Assim, deve-se exercer medidas preventivas como a implantação de protocolos para detecção e tratamento otimizado precoce, para que haja a diminuição das taxas de morbimortalidade, e de custo voltados ao tratamento da sepse e capacitação profissional através de cursos e palestras como meio de atualização dos conhecimentos dos profissionais.8 5 Gráfico 2: Conhecimentos dos profissionais sobre as medidas iniciais instituídas dentro das primeiras seis horas a partir da suspeita ou confirmação de sepse (pacote de ressuscitação). Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha- CE, 2015. Gasometria arterial 20,0% Ressuscitação hemodinâmica 22,5% Outras culturas 30,0% Vasopressores 35,0% Sinais vitais 45,0% Reposição volêmica 50,0% Lactato sérico 65,0% Hemocultura 65,0% Antibiótico 87,5% Fonte: Pesquisa direta, 2015. Ao perguntar aos entrevistados sobre quais medidas devem ser tomadas inicialmente quando o paciente apresenta sepse, que seria o pacote de ressuscitação realizado nas primeiras 6 horas de suspeita ou confirmação da sepse, os participantes do estudo elencaram condutas assumidas diante do paciente com SEPSE: antibiótico com 87,5% (35), hemocultura 65,0 % (26), lactato sérico 65,0% (26), reposição volêmica 50,0% (20), sinais vitais 45,0% (18), vasopressores 35,0% (14), outras culturas 30,0 (12), ressuscitação hemodinâmica 22,5 % (9) e gasometria arterial 20,0% (8). Foi observado que dentro das condutas, citadas pelos participantes do estudo, que a maioria faz parte do pacote de ressuscitação, no qual exige que as medidas sejam tomadas de forma conjunta em um tempo adequado. O Instituto Latino Americano da Sepse- ILAS (2015), preconiza em suas diretrizes que o pacote de ressuscitação deve conter: Uma ressuscitação inicial com reposição volêmica e vasopressores, colher lactato sérico, hemocultura e outras culturas, antibióticos por via endovenosa, controle do foco infeccioso. A gasometria mencionada no gráfico acima é utilizada em alguns protocolos institucionais, porém para a ILAS não é necessário ser instituída no pacote de ressuscitação. Salomão et al.9, menciona que o uso de antibióticos em paciente sépticos é indispensável para o tratamento da mesma, pois, ajuda no resultado prognóstico do paciente. Deve-se administrar o antibiótico adequado de acordo com o foco infeccioso, pois, pacientes que recebem antibióticos inadequados tem uma maior chance de ir á óbito. Outro aspecto levantando por Salomão et al.9, é que a terapia empírica de amplo espectro utilizada para combater o agente infeccioso deve ser utilizada precocemente para proporcionar uma melhor cobertura antimicrobiana, tendo como objetivo principal para a administração desses antimicrobianos o conhecimento sobre o foco primário da infecção, a suscetibilidade dos patógenos conforme o local onde se adquiriu a infecção (hospital ou comunidade), infecções prévias e o uso recente de antibióticos. Segundo as diretrizes do Instituto Latino Americano da Sepse- ILAS10, é de extrema 6 importância que o profissional investigue como o paciente adquiriu esta infecção se foi uma infecção comunitária ou nosocomial, e mais importante também identificar qual foco possui a infecção. Para cada foco e tipo de infecção a ILAS preconiza em sua diretriz o medicamento adequado a ser administrado. O antibiótico faz parte do pacote de ressuscitação, ele deve ser administrado na primeira hora do diagnóstico. A hemocultura e as outras culturas são necessárias para o pacote de ressuscitação, onde essas outras culturas são: exames de urina, de líquor, fezes, secreções e entre outros, de acordo com o foco em que o agente microbiano se encontra tendo como objetivo principal identificar quais comprometimentos sistêmicos o paciente possui, para diante disto iniciar os antibióticos de amplo espectros e as demais condutas.4 Outro aspecto levantado por Chaves, Lisboa, Filho4 é a coleta de lactato sérico, que deve ser realizada assim que surgir a suspeita de sepse, pois, seus valores irão servir como marcadores de hipóxia tecidual, por que o ácido lático é o produto final do metabolismo anaeróbio e seus níveis estão relacionados à disponibilidade de oxigênio. É considerado um marcador sensível e confiável. Westphal et al.11 afirma que ao se tratar de ressuscitação hemodinâmica, se torna um dos pontos considerados de extrema importância, pois permite que haja uma avalição sobre a resposta do paciente á medidas terapêuticas que estão sendo tomadas, dando abertura para que se possa ajustala quando necessário, ajudando assim a realização de uma conduta adequada evitando futuras iatrogenias. A ressuscitação hemodinâmica buscar atingir uma readequação da oferta de oxigênio aos tecidos para que não haja uma disfunção de múltiplos órgãos. Os demais critérios mencionados pelos profissionais foram avaliar sinais vitais, reposição volêmica, administrar vasopressores e coletar gasometria. A gasometria é utilizada em vários hospitais como protocolo institucional com o objetivo de avaliar os gases distribuídos no sangue. A reposição volêmica deve ser realizada quando o paciente apresentar hipotensão ou quando os níveis de lactato derem elevados.10 Gráfico 3: Conhecimento dos profissionais participantes do estudo, acerca do manejo correto do pacote de manutenção. Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha- CE, 2015. Pressão de pulso 10,0% Nível de consciência 10,0% Saturação 17,5% Gasometria arterial 17,5% Pressão Venosa Central- PVC 22,5% Vasopressores 30,0% Reposição volêmica 35,0% Sinais Vitais 37,5% Corticoide 50,0% Glicemia capilar 70,0% Ventilação Mecânica 70,0% Fonte: Pesquisa direta, 2015. 7 Conforme constatamos no gráfico 3, há respostas variadas, sobre quais condutas tomar no pacote de manutenção do protocolo de sepse. E eles responderam: ventilação mecânica 70,0% (28), glicemia capilar 70,0% (28), corticoide 50,0% (20), avaliar sinais vitais 37,5 % (15), reposição volêmica 35,0 % (14), vasopressores 30,0 % (12), avaliar PVC 22,5 % (9), colher gasometria 17,5 % (7), avaliar saturação 17,5 %, avaliar o nível de consciência 10,0 % (4), e a pressão de pulso 10,0 % (4). O Instituto Latino Americano da SepseILAS10 preconiza em suas diretrizes que o pacote de ressuscitação deve conter: Corticoide, glicemia capilar, estratégia de ventilação mecânica, vasopressores e realizar monitorização hemodinâmica. A ventilação mecânica é indicada pelo fato do paciente estar fazendo uso de vasopressores e a aferição por manguito não ser considerada fidedigna. Os vasopressores devem ser administrados quando ocorre hipotensão, onde o paciente irá apresentar a pressão arterial média abaixo de 65 mmHg mesmo após a infusão de volumes. Essa pressão arterial média não pode permanecer por períodos maiores que 30 a 40 minutos elevados.10 Segundo o autor supracitado, os vasopressores devem ser iniciados como sem falta no pacote de manutenção, podendo ser indicado antes da reposição volêmica, em casos em que a hipotensão põe em risco a vida do paciente, os vasopressores podem ser iniciados em vias periféricas, mas posteriormente devem ser administrados por via central. A droga de escolha é a noradrenalina. Em alguns casos pode ser administrado a dopamina, mas somente em doses acima de 5 μg/kg sendo restrito para pacientes que possuem baixo risco de arritmia associado á disfunção orgânica, sendo contraindicada a dopamina em doses dopaminérgicas. Este aspecto também é comentado por Boechat, Boechat12, ao ser citada a reposição volêmica, eles relatam que o seu uso é mais indicado no pacote de manutenção do que no pacote de ressuscitação, pois, alguns pacientes podem apresentar uma contra resposta a essa medida, podendo ser prejudicial ao mesmo. Faz-se necessário nesses casos o uso da avaliação do balanço hídrico, procurando mantê-lo o mais ajustado possível, ou seja, para evitar futuras complicações deve ser computado todo o fluido administrado em 24 horas. Gráfico 4: Comparação entre as respostas sobre ambos os pacotes. Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha- CE, 2015. Pacote de Ressuscitação Pacote de Manutenção 30,0% 22,5% 17,5% 15,0% 12,5% 10,0% 7,5% 7,5% 5,0% 5,0% 2,5% 11 10,0% 10,0% 10,0% 7,5% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 5,0% 1 0 2,5% 10 9 8 7 6 5 4 Fonte: Pesquisa direta, 2015. 8 3 2 De um modo geral ao avaliarmos os conhecimentos dos profissionais sobre ambos os pacotes, vemos que há falhas no conhecimento sobre o que compõem cada pacote (ressuscitação e manutenção), e ao mesmo tempo observamos que a conduta inicial (pacote de ressuscitação) é a que mais se destaca mostrando um pouco de falta de conhecimento no pacote de manutenção, ou seja, percebeu-se que por se tratar de algo mais falado eles sabem quais critérios adotar nas primeiras seis horas, porém, pode-se observar dúvidas em como agir nas próximas 24 horas (pacote de manutenção). Gráfico 5: Conhecimento dos profissionais participantes do estudo, sobre os parâmetros corretos durante o monitoramento do paciente com sepse. Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha- CE, 2015. 70,0% 15,0% 12,5% 2,5% A (Certa) B C D Fonte: Pesquisa direta, 2015. Neste momento do estudo questionou-se o participante da pesquisa sobre os valores dos parâmetros fisiológicos que devem ser mantidos quando o paciente possui sepse. O questionário proporcionou com que o entrevistado pudesse responder as questões através de alternativas que estão contidas no questionário, sendo a letra A correta. Observando o gráfico 5 verifica-se que a maioria dos participantes optou pela letra A que continha a seguinte resposta: Manter a PVC: 8-12 mmHg; PAM: ≥ 65 mmHg; diurese: ≥ 0,5 ml/ Kg/ h; saturação venosa O2: ≥ 70%, parâmetros esses que são preconizado pelas diretrizes do Instituto Latino Americano da Sepse-ILAS. Esses parâmetros devem ser mantidos após infusão de volume hídrico, o profissional deve ficar atento aos sinais expressos pelo paciente, pois, inúmeros acontecimentos podem ocorrem, como por exemplo, PAM abaixo de 65 mmmHg será indicado a administração de vasopressores mesmo que já tenha sido administrado reposição volêmica para otimizar o fluxo em busca de uma normalização, essa hipotensão é inapropriada para pacientes sépticos, portanto, a percepção precoce da utilização de vasopressores que não está tendo resposta a reposição volêmica, possibilita que o preparo e a infusão destes fármacos sejam mais rápidas.13 CONCLUSÃO A sepse é uma das doenças que mais acomete pacientes de leitos de UTI e emergência no quadro atual, é, portanto, considerada um problema de saúde pública. A sepse está sobressaindo-se mais que o câncer e o infarto agudo do miocárdio, no que diz respeito a causa de mortalidade entre a população. Esse aumento na incidência de pessoas com sepse contribui com o índice de mortalidade, aumento dos custos voltados para tratar a doença e índice de morbidade. Muitos profissionais trabalham há muito tempo na carreira, porém, pode-se observar que são poucos os que se atualizam e se aperfeiçoam em sua área, muitos também sabem como agir no primeiro momento em que atendem um paciente séptico, mas não sabem quais condutas tomar posteriormente. Sabemos que a sepse e o choque séptico podem acarretar hipotensão refratária ocasionando a morte precoce do paciente ou insuficiência múltipla de órgãos onde a morte tardia é esperada, sendo considerada esta síndrome um dos maiores desafios das UTI’s e das unidades de emergência hoje em dia, se tornando a identificação precoce desses sinais expressos pelo paciente um dos pontos primordiais para o controle do processo inflamatório agressivo que acomete os pacientes e evitando assim altas taxas de mortalidade. 9 REFERÊNCIAS 1 – Carvalho RH, Vieira JF, Gontijo Filho PP, Ribas RM. Sepse, sepse grave e choque séptico: aspectos clínicos, epidemiológicos e prognóstico em pacientes de Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário. Rev. da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2010; 43 (5): 591-593. 2- Dias MBGS, Krokoscz DVC, Moreno GGB, Furtado IS, Mattar Junior J, Laborda L et al. Diagnóstico e tratamento precoce da sepse grave no adulto. Rev. 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Estimativa do impacto econômico da implantação de um protocolo hospitalar para detecção e tratamento precoce da sepse grave em hospitais públicos e privados do Sul do Brasil. Rev Bras Ter Intensiva. 2010; 22(3):213-219. 9- Salomão R, Diament D, Rigatto O, Gomes B, Silva E, Carvalho NB, et al. Diretrizes para tratamento da sepse grave/choque séptico: abordagem do agente infeccioso – controle do foco infeccioso e tratamento antimicrobiano. Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(2):145-157. 10- Instituto Latino Americano da Sepse. Campanha de sobrevivência a sepse: protocolo clínico. Brasília, 2015. 11- Westphal GA, Silva E, Salomão R, Bernardo WM, Machado FR. Diretrizes para tratamento da sepse grave/choque séptico – ressuscitação hemodinâmica. Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(1):13-23. 12- Boechat AL, Boechat NO. Sepse: diagnóstico e tratamento. Rev Bras Clin Med. 2010;8(5):420-7. 13- Silva E. Sepse: um problema de todos. Rev Bras Ter Intensiva. 2011; 23(2):115-116. 10 ABSTRACT Introduction: One of the most common diseases affecting intensive care patients is sepsis, which consists of a severe clinical manifestation due to the presence of an infectious agent in the patient's bloodstream. The study on the realization of the applicability of the sepsis protocol is of great value for a reflection on the execution of the resuscitation packages and the maintenance packages for treatment of sepsis in the services destined to the care of critical patients, also considering To the importance of the professional's knowledge regarding the clinical manifestations expressed by the patient. Objective: To verify the degree of knowledge of the sepsis protocol by the professionals of the ICU service and public emergency sector of the city of Crato, Juazeiro do Norte and BarbalhaCE. Method: An observational, descriptive and quantitative nature study was carried out through questionnaires, with intensivist and emergency professionals working in the ICU - Adult services and in the public emergency units of the interior of Cariri Cearense specifically of the Crajubar complex (Crato, Juazeiro do North and Barbalha). Results: 40 professionals were evaluated, in which 67.5% correctly answered which signs of sepsis, 30% incorrectly answered which parameters were necessary to follow up the patient with sepsis. Conclusion: There is a shortfall in health professionals' knowledge about sepsis protocols. Because it is a pathology that generates high mortality rates, there should be a greater understanding of health professionals working in intensive care and emergency units to reflect on the importance of appropriate handling of resuscitation and maintenance packages. Keywords: Sepsis. Intensive Care Units. Emergency Medical Services. 11