7 Eutanásia percepção de graduandos em enfermagem

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relatos de pesquisa
EUTANÁSIA: percepção de
graduandos em enfermagem
Edinete Bezerra Ferreira*
Milena Nunes Alves de Sousa**
RESUMO
Introdução: apesar de vir acontecendo desde os
primórdios da humanidade, a eutanásia continua
sendo, na atualidade, um assunto polêmico e doloroso
para a família, para a sociedade, e para os profissionais
de saúde, já que é uma prática que busca pôr fim à
vida do ser humano em situação de terminalidade e
sofrimento extremo. Objetivo: identificar a percepção
de concluintes de enfermagem de uma Instituição de
Ensino Superior do sertão da Paraíba acerca da
eutanásia. Metodologia: trata-se de um estudo do tipo
exploratório, de abordagem qualitativa, cuja amostra foi
composta por vinte e oito estudantes concluintes do
Curso de Enfermagem, com idade entre vinte e um e
trinta e oito anos, os quais responderam a um
questionário com questões semiestruturadas, sendo
utilizada a técnica de análise de conteúdo proposta por
Bardin para análise e discussão dos achados.
Resultados: verificaram-se as diversas concepções
dos participantes sobre a eutanásia, bem como, os
diferentes posicionamentos que surgiram por meio dos
conhecimentos adquiridos ao longo da formação
acadêmica. Conclusão: considerando-se que a
eutanásia permanece sendo um tema bastante
polêmico, evidenciou-se que necessita de maiores
discussões durante a graduação, principalmente,
porque se trata de paciente em estado terminal.
Palavras-chave: Eutanásia. Percepção. Enfermagem.
*Enfermeira
graduada
pela
Faculdade Santa Maria, Cajazeiras,
Paraíba,
Brasil.
E-mail:
[email protected]
**Turismóloga, Administradora e
Enfermeira. Docente FIP e FSM.
Especialista em Gestão e Análise
Ambiental e em Saúde da Família.
Mestre em Ciências da Saúde.
Doutoranda pelo Programa Strictu
Sensu em Promoção de Saúde pela
UNIFRAN-SP.
E-mail:
[email protected]
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda um
não somente as ciências jurídicas, mas
tema complexo, arraigado de problemas
diversas áreas do conhecimento no seu
de ordem moral, religiosa e social, qual
âmbito geral.
seja a eutanásia. Esta é uma temática
complexa, abrangente, que contempla
A
prática
da
eutanásia
vem
acontecendo desde os primórdios da
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
201
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
humanidade até a atualidade, porém,
de homicídio privilegiado, ou seja, aquele
ainda se trata de um assunto polêmico
cometido por motivo de relevante valor
para os envolvidos, seja para o paciente,
moral,
a família, a sociedade, bem como para os
decorrência de interesse particular e, por
profissionais de saúde, afinal, trata-se de
isso, é causa de atenuação da pena inicial
morte, independentemente da forma como
prevista para o crime. No direito brasileiro,
esta acontecerá.
a eutanásia caracteriza homicídio, pois é
A
eutanásia,
portanto,
é
uma
quer
dizer,
cometido
em
conduta típica, ilícita e culpável, mesmo
prática que busca pôr fim à vida de
que
pessoas
consentimento ou até implorado pela
enfermas,
em
situação
de
terminalidade e sofrimento extremo no
que
diz
respeito
à
saúde
e,
o
paciente
tenha
dado
seu
medida.
Como afirmam Costa, Oselka e
consequentemente, à vida, uma vez que
Garrafa
estes estão interligados.
tratamento e a eliminação da dor, e
(1998),
a
ética
acolhe
o
A vida é o bem mais precioso de
recusa a morte direta e proporcional do
toda a sociedade. Sem ela, valores
portador da dor. Quando se condena a
morais, éticos, religiosos e tudo o que se
eutanásia, não é o controle da dor, nem a
conhece não existiria, pois o próprio ser
defesa da dignidade da pessoa humana
humano estaria extinto. A temática a
doente que se condena, mas sim, quando
respeito da vida é vasta e traz em si uma
matam a pessoa a fim de matar sua dor.
dinâmica sempre revestida de muita
Para um comportamento se caracterizar
complexidade
Alguns
como eutanásia é importante que a
significados quanto à prática que se põe
motivação e a intenção visem a beneficiar
fim a vida foram tomados durante o
o doente. Apressar o óbito do doente,
passar do tempo até os dias atuais. A
motivado por compaixão e com a intenção
vida, portanto, não é uma liberdade, mas
de reduzir seu sofrimento como o alívio da
um direito para quem a deseja e uma
dor e a criação de estruturas de apoio que
obrigação para quem não a quer.
melhorem o bem-estar do doente, seria
e
seriedade.
Conforme o entendimento de Nalini
(2009) a eutanásia vem sendo entendida,
eutanásia, e não estaríamos diante de
uma postura eticamente louvável.
nos tribunais brasileiros, como hipótese
202
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
Embora não seja um assunto novo,
lidam, no dia a dia, no âmbito de suas
haja vista sua execução que já vem
práticas assistenciais, quando formados, e
ocorrendo
da
no quadro ampliado das disciplinas que
humanidade, a temática é mais do que
cursam ao longo de suas trajetórias no
atual, recebendo e merecendo a atenção
ensino
de
estas
balizam suas formas de conhecer e
pesquisadoras, acadêmicos ou indivíduos
perceber o ser humano em seu momento
comuns. E se forem consideradas as
de adoecimento e limitações, além das
inovações tecnológicas e as descobertas
situações limítrofes em que questões
na área da medicina, o debate e as
éticas estão em jogo e requerem dos
discussões sobre a vida e a morte não
mesmos
cessarão jamais (TEIXEIRA, 2005).
humano, simultaneamente.
muitas
desde
os
primórdios
pessoas,
sejam
Percebe-se assim, a complexidade
e
controvérsia
em
torno
do
A
superior,
um
como
aquelas
posicionamento
partir
destas
que
ético
e
considerações,
tema,
surgiu a seguinte questão de pesquisa:
constituído de diferentes visões sobre o
qual a percepção de concluintes de
como, o quando, o porquê e em quem
enfermagem de uma Instituição de Ensino
deve ou pode ser praticada. Representa
Superior do sertão da Paraíba acerca da
um desafio acadêmico compreendê-lo e
eutanásia?
uma necessidade pesquisá-lo enquanto
Parte-se do pressuposto de que a
fenômeno para os estudos nas áreas da
eutanásia é um assunto que não figura
saúde, religiosa, ética e jurídica, seja
como central nas discussões acerca da
como um enfoque mais teórico ou mais
formação em enfermagem, cuja visão
prático, tanto na questão conceitual,
ainda está muito vinculada às práticas
quanto de sua aceitação e entendimento.
curativas
No caso específico do que se
que
estabelecimentos
ocorrem
nos
de saúde. Logo, a
pretende com este estudo, busca-se focar
percepção acerca do humano, como tal é
o tema no âmbito de estudantes de
secundarizada,
enfermagem, cuja formação requer esta
formação são colocadas em torno do
compreensão e uma noção ampliada dos
fazer e não pensar/fazer. É sobre esse
valores que envolvem a doença e a vida.
fazer que mais residem os interesses da
São estes elementos centrais os quais
maioria dos estudantes, como o resultado
pois
as
ênfases
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
de
203
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
de uma formação e práticas ainda muito
propiciar
centradas no adoecimento por si.
possibilitando,
qualidade
às
discussões
posteriormente,
e
uma
Conforme Biondo, Silva e Secco
assistência mais humanizada, afinal, é
(2009, p. 614) “é indiscutível a importância
basilar desenvolver um senso crítico e
de
reflexivo
o
enfermeiro
conhecimento
dos
ter
o
conceitos
devido
de
[...]
eutanásia”. Portanto, o estudo reveste-se
sobre
a
eutanásia
e
suas
implicações na futura prática profissional
enquanto enfermeiros.
de relevância, haja vista, compreender os
Assim
sendo,
objetivou-se
posicionamentos de futuros profissionais
identificar a percepção de concluintes de
frente à eutanásia, avaliando como está
enfermagem de uma Instituição de Ensino
sendo
Superior do Sertão da Paraíba acerca da
arquitetado
o
processo
de
formação, se humanístico ou não. No
Eutanásia.
mais, a partir dos dados, será possível
repensar
conexos
como
temas
como
discutidos,
a
servindo
polêmicos
bioética
de
têm
alerta
e
2 PERCURSO METODOLÓGICO
sido
para
Tratou-se
de
um
estudo
mudanças na forma de conceber o
exploratório, de abordagem qualitativa. O
conhecimento sobre a temática outrora
espaço e os sujeitos participantes desta
mencionada; afinal, os profissionais da
investigação foram selecionados devido à
saúde devem ser favoráveis à vida, jamais
importância do contexto de trabalho que
à morte.
os
Figueiredo,
Machado e Porto
envolverá.
Assim
sendo,
foi
desenvolvido na Faculdade Santa Maria
(1995) e Santos (1996) enfatizam que a
(FSM),
enfermagem, na prática, não sabe lidar
Cajazeiras – PB, pois a referida Instituição
com
o
de Ensino Superior (IES) oferece cursos
compromisso profissional tem como ideal
na área de saúde e, especialmente, no
a preservação da vida. Deste modo, os
campo da Enfermagem.
dados
situação
de
podem
já
que
no
município
de
realçar a
A população alvo do estudo foi
seriedade e importância em se dar maior
composta por 50 concluintes do curso de
atenção por parte das instituições de
enfermagem
graduação para esta temática, visando a
integrado o estudo 28 concluintes que
204
encontrados
morte,
localizada
da
referida
IES,
tendo
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
aceitaram
participar
da
pesquisa,
relativos
às
condições
assinando o Termo de Consentimento
produção/recepção,
Livre e Esclarecido (TCLE), ou seja, 56%
das mensagens (BARDIN, 2004).
do universo, já que os demais recusaramse a participar, não assinando o TCLE.
um
questionário
inferidas
Uma das características que define
a análise de conteúdo é a busca de
Deste modo, o estudo teve como
instrumento
variáveis
de
validado
entendimento da comunicação entre as
pessoas, apoiando-se no conhecimento e
mediante teste piloto. E a coleta de dados
reconhecimento
foi realiza posteriormente após aprovação
mensagens. Esta análise não aborda
pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da
apenas “o que se diz”, mas “o que se quis
FSM,
dizer” com tal manifestação.
CAAE
Ressalta-se
03959912.4.0000.5180.
que
os
dados
do
conteúdo
das
foram
coletados nos meses de abril e maio de
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2012, sendo o questionário aplicado
individualmente, em dia, local e horário
conveniente
para
o
participante.
A
pesquisa
contemplou
duas
Na
etapas, a primeira, relacionada ao perfil
ocasião, os sujeitos foram informados
sóciodemográfico dos participantes e, a
sobre a pesquisa, seu propósito e seus
segunda,
objetivos, sendo deles a decisão pela
relacionados com o objeto de estudo.
participação livre, sem qualquer ônus ou
Entre
risco.
enfermagem os quais aceitaram participar
os
correspondeu
28
alunos
aos
dados
concluintes
de
Os dados foram analisados de
da pesquisa, foi possível visualizar que os
forma qualitativa e foram submetidos à
participantes caracterizam-se da seguinte
técnica de análise de conteúdo como
maneira.
forma de organização dos dados, a qual é
Tabela 1 – Perfil social e demográfico dos
concluintes do curso de enfermagem
FAIXA ETÁRIA
f
%
21-30 anos
24
85,7
31-38 anos
04
14,3
SEXO
f
%
Feminino
23
82,1
Masculino
05
17,9
RELIGIÃO
f
%
Católica
24
85,7
Protestante
01
3,6
Espírita
01
3,6
um conjunto de técnicas de análise das
comunicações que visa a procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo
das
mensagens,
obtendo
indicadores quantitativos ou não, que
permitam a influência de conhecimentos
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
205
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
Nenhuma
02
TOTAL
28
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
que podem gerar uma importante riqueza
7,1
100
nos depoimentos, visto que as opiniões
com relação ao assunto proposto, neste
Nota-se, a partir da tabela, que a
trabalho, são construídas a partir de
maioria dos estudantes possuíam idade
diversos elementos da vida particular de
entre 21-38 anos. Contudo, a faixa etária
cada um, enquanto ser humano e futuros
predominante
profissionais de saúde.
foi
correspondendo
de
a
21-30
85,7%
anos,
(n=24),
Contudo, no decorrer de suas
indicando que em breve pode haver uma
vidas,
quantidade bem elevada de enfermeiros
passar por momentos traumáticos, em
adultos jovens.
que eles irão ter que tentar se colocar no
No
que
predomínio
se
para
o
refere
ao
feminino
sexo,
(82,1%;
n=23). Como se pode observar, existe
uma
grande
diferença
entre
enquanto
enfermeiros
poderão
lugar do paciente e da sua família, para
poder decidir a melhor forma de cuidar.
Após
a
elucidação
dos
dados
os
iniciais, buscou-se enfatizar as questões
participantes, mostrando que, ainda hoje,
que contemplaram a temática Eutanásia.
a enfermagem continua um processo de
Este momento foi iniciado a partir do
trabalho exercido por mulheres, como
questionamento: o que você, concluinte
vem sendo ao longo da história da
do curso de enfermagem, entende por
profissão.
eutanásia? A partir desta, diferentes
No que diz respeito a religião, os
participantes da pesquisa declaram-se
católicos (85,7%; n=24), protestante e
espírita (3,6%; n=1, cada) e 7,1% (n=2)
alegaram não possuir nenhuma religião
em especial.
Como se pode observar há uma
significativa diferenciação entre a idade e
o
sexo
dos
mesmos,
além
de
se
declararem de distintas religiões. Tais
diferenças são de grande valia, uma vez
206
concepções foram apresentadas.
Tabela 2 - Definição sobre a eutanásia
CATEGORIAS
f
Visa a abreviar a vida de um
11
paciente em estágio terminal
06
É o ato de apressar a morte
06
de um doente incurável
03
Morte programada, assistida e
02
controlada
Cessação da vida, com o
consentimento do paciente ou
da família
Poder de decidir a vida, por
meio das mãos do próprio
homem
TOTAL
28
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
%
39,2
21,5
21,5
10,7
7,1
100
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
possibilidades
terapêuticas
de
recuperação”. (A 4)
“... consiste em abreviar a vida de um
paciente
em
estagio
terminal,
acabando de uma vez por todas com
o seu sofrimento”. (A 20)
“... é uma maneira de finalizar o
sofrimento de um paciente em estágio
terminal abreviando os seus últimos
dias de vida”. (A 21)
Alguns compreendem, parcialmente, o conceito de eutanásia, uma vez que
foi elaborado de forma incompleta; outros
realmente
entendem
o
significado,
definindo-a de acordo com a literatura.
Assim sendo, notou-se que a maioria dos
depoimentos evidenciaram as percepções
Como se pode observar, a maioria
dos mesmos conexas com a definição de
eutanásia apresentada por Horta (1999),
quando afirma, ser esta uma conduta para
produzir a morte em paciente incurável e
em estágio terminal, antecipando-lhe a
morte, antes que ela venha de forma
natural, com a intenção de eliminar a dor.
De forma geral, todos os alunos
participantes veem a eutanásia como
sendo uma conduta que seria utilizada
para minimizar o sofrimento de um
paciente em estágio terminal, a partir da
dos participantes vê a eutanásia como
uma medida utilizada para abreviar a vida
de uma determinada pessoa que se
encontra
em
Visa a abreviar a vida de um
paciente em estágio terminal
Nesta categoria foram incluídas as
que
os
ou
terminal, alegando ser uma forma de
aliviar o sofrimento físico deste paciente.
Diante destas respostas, percebeu-se
que, mesmo sendo um tema pouco ou
quase não discutido durante a academia,
de certa forma, há uma compreensão
precisa
por
parte
destes
futuros
preparados para lidar unicamente com a
vida, que é um bem inviolável.
Silva
em
vegetativo
profissionais de enfermagem que foram
antecipação de sua morte.
respostas
estágio
participantes
relataram que, a eutanásia visa a abreviar
a vida de um paciente em estágio
terminal, como expresso nas seguintes
(1982)
concorda
com
a
opinião dos alunos participantes, quando
afirma que, a eutanásia é uma medida
que visa a abreviar a vida de quem está,
irremediavelmente, condenado por uma
doença que lhe causa um sofrimento
insuportável; entretanto, o consentimento
falas:
“Eutanásia visa abreviar a vida de um
determinado indivíduo em estágio
terminal
e
que
não
possui
do
enfermo
é
essencial.
Deve
ser
necessário que fique claro não bastar
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
207
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
que, a doença seja incurável e dolorosa e
As
respostas
inseridas,
nesta
que tão pouco o sentimento de piedade
categoria, foram aquelas em que os
de
do
participantes ressaltaram que a eutanásia
sofrimento alheio esteja presente. Faz-se
é o ato de apressar a morte de doente
importante que o doente consinta, e peça,
incurável, como nas seguintes falas:
quem
pratica
o
ato
diante
querendo morrer, para que se tenha a
“Acredito que eutanásia, seja o ato de
apressar a morte de um doente
incurável que está em um leito de
hospital, para que esse não sinta
mais a dor”. (A 5)
“[...] .é a antecipação da sua morte,
ou seja, é o ato de tirar a vida de um
enfermo incurável, acabando com a
sua dor física.” (A 10)
“Sem dúvida, a eutanásia é uma
forma de apressar a morte de um
doente incurável, para que ele não
sinta mais dores”. (A 12)
eutanásia.
Sabe-se que o paciente mesmo
diante de um sofrimento insuportável por
causa da doença, se ele for tratado com
compreensão
afetiva
e
respeito,
no
domicílio ou em ambiente hospitalar, é
conduzido a uma morte digna, sem que
seja preciso ofertar-lhe a eutanásia. Assim
sendo, deve-se refletir para o fato de que
Apesar
das
considerações
a vida humana não é apenas um conjunto
apresentadas a respeito do que venha ser
de elementos materiais. Ela é o bem
a eutanásia, sabe-se que é um crime
maior que alguém pode possuir; logo,
contra a vida humana. Mesmo que o
todos têm o mesmo direito à vida.
doente
esteja,
irremediavelmente,
Continuar ou não a viver, deve ser
condenado à morte próxima e em um
consequência do direito e da liberdade
prolongado sofrimento, a eutanásia é
que
sempre,
o
homem
possui,
já
que,
em
qualquer
hipótese
um
apesar
dos
subjetivamente, ele tem o poder de decidir
homicídio.
as situações que o cercam da melhor
rigores da lei, ainda é vista, na prática,
maneira que lhe convier, pois a liberdade
como um homicídio piedoso ou morte por
individual é algo sagrado, desde que ela
compaixão
seja usada de maneira a não ser a de ferir
condenado por praticá-la.
os direitos alheios (MARTIN, 1993).
É o ato de apressar a morte de
um doente incurável
Infelizmente,
e,
raramente,
alguém
é
O paciente, mesmo em estado
vegetativo, não é um ser inerte, destituído
de percepção, embora muitas vezes seja
incapaz de comunicar-se verbalmente, por
208
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
Nesta categoria foram incluídas as
apresentar alterações da consciência ou
mesmo
por
estar
intubado
ou
respostas
em
que
os
participantes
traqueostomizado. Ainda assim, ele tem
consideraram que a eutanásia é um tipo
todo o direito de ser visto como pessoa
de
humana
controlada, como visto a seguir:
que
necessita
de
atenção,
morte
programada,
assistida
e
humanização.
Para
promoção
Vila
de
e
Rossi
ações
que
(2002),
a
visam
à
“Eu defino a eutanásia como sendo
uma morte programada, assistida e
controlada”. (A 7)
“Vejo a eutanásia como uma forma de
matar um enfermo incurável de
maneira programada, controlada e
assistida, por um especialista que
deseja dar um fim ao seu sofrimento,
antecipando a morte”. (A 18)
“... é a prática pela qual se mata um
enfermo
incurável
de
maneira
assistida e controlada”. (A 25)
humanização do paciente crítico possui
um
grande
desafio
comportamentos,
que
uma
vez
é
mudar
que
o
comportamento humano é modificado
apenas com motivação própria. Para
humanizar é preciso, antes de tudo,
Alguns participantes definiram a
humanizar-se. O cuidado da enfermagem,
com certeza, é um dos itens mais difíceis
de ser implementado. Em decorrência da
rotina diária e complexa que envolve o
trabalho, os membros da equipe de
enfermagem
esquecem
de
tocar
e
conversar com o ser humano que está à
sua frente. Waldow (2001) complementa,
afirmando, que ao realizar uma atividade
técnica, sem estar presente de corpo,
mente e espírito, o profissional não está
realmente cuidando, mas, sim, realizando
um procedimento.
eutanásia como sendo uma prática de
programar a morte de uma determinada
pessoa, para que ela ocorra de forma
controlada e assistida “suicídio assistido”,
ou seja, como sendo uma forma de
apressar a morte de um doente incurável,
sem que este sinta dor ou sofrimento.
Porém, não significa que se pode tirar a
vida
de
outra
pessoa.
Diante
das
assertivas, indaga-se: se este doente
fosse da minha família, vou permitiria que
fosse feita a prática da eutanásia ou
lutaria até o fim pela sua vida?
Morte programada, assistida e
controlada
O
correto
independentemente
é
das
que,
concepções
instauradas, a eutanásia é uma prática
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
209
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
ilícita no país, visto que não se pode
consentimento da família, como expresso
decidir em tirar a vida de ninguém, mesmo
nas falas seguintes:
“Eutanásia é a cessação da vida,
para minimizar o sofrimento de um
corpo com o consentimento da
família”. (A 9)
“... define-se por apressar a morte de
um doente incurável, sem que ele
sinta dor; é praticada por um médico
com o consentimento do paciente ou
da sua família”. (A 28)
considerando o seu estado geral de
saúde ou de terminalidade.
Kipper (1999) salienta que, mesmo
quando a morte é considerada iminente,
os cuidados comumente devidos a uma
pessoa
doente
legitimamente
não
podem
a
Aceitar o princípio da eutanásia é
intenção de programar a sua morte,
assumir o risco de se equivocar sobre o
alegando acabar com o seu sofrimento
sentido de tal pedido. Sem dúvida, a
físico. O emprego de analgésicos para
chamada
aliviar os sofrimentos do moribundo, ainda
distinguida do simples pedido de ajuda,
que com o risco de abreviar seus dias,
de atenção, de respeito pelos seus
pode
a
direitos, de um tratamento mais eficaz, e
dignidade humana se a morte não é
não deve ser confundida com um simples
desejada nem como fim nem como meio,
grito de socorro; não se iguala, tampouco,
mas somente prevista e tolerada como
à procura de alívio por parte da família, de
inevitável.
paliativos
próximos ou de terceiros em geral,
constituem uma forma privilegiada de
incomodados pela visão do sofrimento
caridade desinteressada. Por esta razão,
alheio.
ser,
interrompidos,
moralmente,
Os
com
ser
conforme
cuidados
para
a
morte
deve
ser
Quando a família ou até mesmo o
devem ser encorajados.
paciente pede ao médico para interromper
Cessação
da
consentimento
do
vida,
com
o
todo o tratamento ou pede que lhe
paciente
ou
da
administre algo para encurtar a vida, o
família
mais importante seria discutir o problema,
a fim de que ambos encontrem juntos
Nesta categoria foram reunidas as
respostas
participantes
acredita-se que, nem o paciente e nem
relataram que, a eutanásia é a forma de
tão pouco a sua família solicitam mais
cessação da vida de uma pessoa, com o
uma medida letal como esta, pois este
210
em
que
os
uma solução. A partir deste contato,
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
pedido pode acontecer devido a não
período final da doença é prolongado, os
aproximação do profissional de saúde
próprios familiares acabam se esgotando
médico ou enfermeiro, com os envolvidos
por causa das semanas de vigília ao pé
família/enfermo; muitas vezes, por não ter
do leito, estimulando os pedidos para o
preparação psicológica para determinada
abreviamento da situação.
situação
ou
até
mesmo
por
não
Poder de decidir a vida, por meio
aproximar-se do paciente, olhar apenas
das mãos do próprio homem
para a sua patologia.
Martin (1993) concorda com o
pensamento,
quando
afirma
que
As
a
respostas
inseridas,
nesta
formação do médico moderno é voltada
categoria, foram aquelas em que os
quase que totalmente para diagnosticar e
participantes ressaltaram que a eutanásia
curar as doenças, com pouco ou nenhum
é o poder de decidir a vida, por meio das
preparo no campo psicológico para lidar
mãos do próprio ser humano, como visto
com o emocional. Portanto, quando está
a seguir:
diante de um paciente sem perspectivas
“Eutanásia é a abreviação dos
sofrimentos físicos de um ser
humano, ou seja, é o poder de decidir
a vida através das mãos do próprio
homem”. (A 23)
“A eutanásia é a morte do outro. É o
poder de decidir a vida do ser
humano, por meio das mãos do
próprio homem”. (A 24)
de tratamento, desenganado da vida, a
sensação de impotência toma conta do
profissional, que não sabendo mais o que
fazer, pois não foi preparado para isso,
tende, na maioria das vezes, a abandonar
progressivamente o doente, dispensandolhe visitas rápidas e com menos interesse.
A eutanásia trata-se de um ato
Hennezel (2001) aponta que muitos
intencional, mesmo que utilizada para o
familiares
acabam
pedindo
que
se
“bem”,
na
tentativa
de
alívio
do
apresse a morte do paciente, porque não
sofrimento. Trata-se de crime contra a
aguentam ver seu sofrimento. O fim da
vida
vida
o
profissional tem o direito de decidir qual
paciente pode se tornar um estranho para
ou como vai ser o fim de um determinado
si mesmo, e para aqueles que lhe são
paciente. Ele tem sim, a obrigação de
mais próximos. Por outro lado, quando o
lutar até o fim pela vida daquele enfermo
pode
ser
muito
assustador:
humana.
Portanto,
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
nenhum
211
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
que
não
pediu
para
estar
naquela
discriminação econômica, social, política,
determinada situação, nem tão pouco,
étnica,
pediu para que o profissional escolhesse
(1982) em sintonia com o que diz o
aquela profissão. Kipper (1999) afirma
Código
que ninguém pode decidir pelo fim da vida
afirma
do outro, porque a morte é a última
protegido pela Constituição Federal deve
possibilidade que o homem pode realizar
ser assegurado pelo Estado em sua dupla
como ato, ou seja, o ato de morrer. Pois
acepção, ou seja, o direito de permanecer
ao morrer, o homem conclui sua história,
vivo e o direito de ter a vida digna quanto
encerra a sua história de vida, que não
à subsistência.
pode mais ser mudada, mas somente
contada por outras pessoas.
ideológica
ou
Deontológico
ainda
que,
Dando
questionamentos,
religiosa.
do
o
Silva
Enfermeiro,
direito
à
vida
continuidade
aos
outro
foi:
pergunta
Mesmo que um paciente esteja
como futuro profissional de enfermagem
vivendo momento angustiante, de dores
você deve ter consciência de que irá
ou mesmo vegetativo em um leito de UTI,
enfrentar situações difíceis, com relação a
o
o
pacientes em estado de vida terminal. Se
enfermeiro, deve cuidar dele com muito
por acaso um paciente ou familiar lhe
respeito, zelo e atenção, oferecendo-lhe
solicitasse o desligamento dos aparelhos
todos os cuidados paliativos existentes
que o mantém vivo, alegando ser a única
para que possa aliviar o seu sofrimento,
forma de acabar com o seu sofrimento,
sem que seja preciso interromper a sua
qual seria a sua reação? Por quê?
vida.
Tabela 3 – Considerações quanto ao paciente ou
familiar solicitar o desligamento dos aparelhos que
o mantém vivo
CATEGORIAS
f
%
Não atenderia ao pedido, porque se 18 64,3
Deus deu a vida só ele pode tirá-la
03 10,7
Não faria, porque são contra aos 05 17,9
meus princípios cristãos
02 7,1
Não faria, porque a eutanásia não
acaba com o sofrimento e sim com a
vida
Atenderia sim ao pedido, por não ter
sentido prolongar o sofrimento
TOTAL
28 100
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
profissional,
principalmente
Afinal, a vida humana é inviolável,
uma vez que o Código Deontológico do
Enfermeiro (1998) diz que toda pessoa
tem direito à vida, durante todo o ciclo
vital, independentemente dos momentos
ou dos estágios em que se encontra;
sendo atribuído à vida de qualquer
pessoa igual valor, devendo o cuidado à
pessoa
212
ser
isento
de
qualquer
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
Analisando
as
respostas,
encontrou-se a existência das seguintes
categorias:
Não atenderia ao pedido, porque
se Deus deu a vida só ele pode tirá-la
“Jamais aceitaria. Porque todos nós
temos direito à vida de forma digna e
humana e que por mais que
estejamos
debilitados
ou
em
sofrimento merecemos uma morte
natural, respeitando a vontade e a
hora de Deus. Só Ele é quem pode
tirá-la”. (A 25)
Como se pode observar, a maioria
dos participantes do estudo afirma não
Nesta categoria foram inclusas as
respostas em que os alunos afirmam não
atender ao pedido de um paciente ou
familiar para desligar um parelho que o
mantém vivo/à prática da eutanásia,
alegando ser a única forma de acabar
com o seu sofrimento, por acreditarem
que se Deus nos deu a vida, somente Ele
é quem deve tirá-la, como mostra, a
seguir os relatos:
“Eu não atenderia ao pedido deles.
Pois para mim só quem tem o direito
de tirar a vida de alguém é Deus,
visto que é Ele quem nos concede a
mesma”. (A 1)
“Falaria que eu não poderia fazer
uma coisa dessas, e tentaria
convencê-lo a mudar de opinião.
Porque o único que pode retirar a
vida, para livrar alguém do sofrimento
é Deus”. (A 14)
“Diante da situação não teria
autonomia para desligar o aparelho
praticando assim a eutanásia. Porque
não podemos decidir o fim da vida de
uma outra pessoa. Só Deus pode
fazer isso”. (A 20)
“Reagiria com ranquilidade, sendo
que não praticaria a eutanásia.
Porque devemos aceitar as coisas
como elas são e se instalam em
nossas vidas. Somente Deus tem o
poder de decidir como vai ser a nossa
morte”. (A 15)
aceitar a ideia de uma determinada
pessoa lhe solicitar a eutanásia, como
sendo a única forma de acabar com o
sofrimento. E o motivo principal da não
aceitação é por acreditarem que ninguém
tem o direito de decidir ou acabar com a
vida do seu semelhante. Somente Deus
tem este poder, visto que foi Ele quem
concedeu a mesma. Infelizmente existem
pessoas que querem assumir o papel do
criador que, lamentavelmente, acabam
praticando certos comportamentos de um
assassino, alegando estar acabando com
o sofrimento daquele enfermo.
A morte é uma ocorrência natural.
Às vezes, Deus permite que uma pessoa
sofra por muito tempo antes que sua
morte ocorra; outras vezes, o sofrimento
da pessoa é encurtado. Ninguém gosta de
sofrer. Mas, isso não faz com que seja
correto determinar que uma pessoa esteja
pronta para morrer. Muitas vezes os
propósitos de Deus são revelados por
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
213
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
meio do sofrimento de uma pessoa. Ele
pedido, visto que a prática da eutanásia
dá propósito à vida até o seu fim. Só Deus
“tirar a vida de um ser humano” é contra
sabe o que é melhor, e sua hora, até
os seus princípios cristãos, como as
mesmo para a morte, é perfeita.
seguintes falas:
“Não aceitaria. Porque são contra aos
meus
princípios
cristãos.
Não
compete a nenhum de nós tirar a vida
de uma outra pessoa, mesmo que ela
esteja em sofrimento extremo, pois a
vida é sagrada”. (A 8)
“Eu não aceitaria. Porque são contra
aos meus princípios cristãos e
ninguém pode decidir como vai ser o
fim do outro”. (A 13)
“Eu não o faria. Porque são contra
aos meus princípios cristãos, e essa
alegação não é suficiente pra eu
optar pela morte do paciente, sendo
que a vida é um dom sagrado que
recebemos de Deus”. (A 4)
De acordo com Pinto e Silva
(2004), são muitos os argumentos contra
a eutanásia, desde os religiosos, éticos
até os políticos e sociais. Do ponto de
vista religioso, a Eutanásia é tida como
uma usurpação do direito à vida humana,
devendo ser um dom exclusivo reservado
ao “Criador”, ou seja, só Ele pode tirar a
vida de alguém. A Igreja, apesar de estar
consciente dos motivos que levam a um
doente a pedir para morrer, defende
Refletindo sobre essa categoria,
acima de tudo o caráter sagrado da vida,
percebeu-se que, os princípios cristãos
porque ela é considerada propriedade de
foram uma argumentação importantíssima
Deus, dada ao homem para administrá-la.
utilizados na tomada de decisão dos
É um valor absoluto que só a Deus
participantes da pesquisa, diante da ideia
pertence. O ser humano não tem nenhum
em apoiar ou não o pedido do paciente
direito sobre a vida própria e alheia. A
quanto
vida é um dom recebido, mas que fica à
percebido nas falas que, as crenças
disposição daquele que a recebe, com a
religiosas constituem forte influência na
tarefa de valorizá-la qualitativamente.
“não aceitação” da prática da eutanásia.
à
prática
da
eutanásia.
É
Sabe-se que, as pessoas se apegam na
Não faria, porque são contra aos
fé em Deus e acreditam que mesmo
diante de um sofrimento extremo, a vida
meus princípios cristãos
deve ser preservada, porque é um dom
Nesta
categoria
enquadram-se
ofertado por Ele, e nem até mesmo uma
que
situação de sofrimento intenso pela qual
mencionaram não ser de acordo com
passa alguém, não é motivo para praticar
relatos
214
dos
participantes
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
“Procuraria conversar com a família
sobre o assunto, explicando que a
eutanásia não vai acabar com o
sofrimento
daquele
determinado
enfermo e sim com a sua vida, e que
não seria uma conduta certa a ser
tomada diante de um ser vivo, onde a
vida e a humanização estão em
primeiro lugar, mesmo diante de tanto
sofrimento”. (A 22)
“Seria totalmente contra a este ato,
porque a eutanásia não acaba
nenhum sofrimento, ela acaba é com
a vida do enfermo”. (A 27)
“Eu não faria. Tentaria convencê-los
para que os mesmos tomassem uma
decisão contrária, pois a eutanásia
não vai acabar com o seu sofrimento,
e sim com a sua vida”. (A 3)
a eutanásia, posto que a ciência ainda
poderá, algum dia, eliminar a dor que
aflige essa pessoa, visto que a medicina
avança a cada dia sendo que dessa
forma, o que hoje é irreversível, amanhã
poderá não ser mais.
Nogueira (1995) considera a vida
humana como sendo sagrada, aliada à
limitação drástica da autonomia da ação
humana, proibindo assim a eutanásia,
visto que o médico serve como meio de
Deus para preservar a vida humana,
De acordo com os dados referentes
sendo que nem o paciente, nem os
médicos, nem os enfermeiros, nem os
familiares têm a faculdade de decidir ou
provocar a morte de uma pessoa, uma
vez que a vida humana é considerada
Santa, e tudo que se faz contra ela, faze-
à categoria apresentada, observou-se que
17,9% dos participantes relataram não
aceitar um pedido de eutanásia, pelo fato
de que em sua opinião, a mesma não
acaba
com
o
sofrimento
de
um
determinado paciente, e, sim, com a vida.
se contra Deus.
E diante destas afirmações, Carvalho
Não faria, porque a eutanásia
não acaba com o sofrimento e sim com
(2003) afirma que a eutanásia pode até
ser vista como um meio de acabar com o
sofrimento do paciente, mas na verdade
a vida
não é bem isso. Na eutanásia, elimina-se
Nesta
categoria
foram
selecionados os relatos em que os
participantes
afirmam
não
serem
coniventes com o pedido, porque a
eutanásia não acaba com o sofrimento,
sim com a vida, como nas seguintes falas:
a dor, eliminando o “dono” da dor, ou seja,
é uma violação contra a vida humana que
necessita
adequados,
de
de
respeito,
de
atenção,
e
cuidados
não
de
compaixão, achando que só porque uma
pessoa está sofrendo, você tem o direito
de decidir contra a vida da mesma.
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
215
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
Como
já
comentado,
ou da família em solicitar a prática da
anteriormente, a vida deve estar sempre
eutanásia, por acreditarem que não há
em primeiro lugar, e mesmo diante de um
sentido prolongar o sofrimento de uma
sofrimento profundo, não temos o direito
pessoa enfermo-incurável, como expresso
perante Deus de praticar a eutanásia em
nas seguintes falas:
um ser humano, mesmo este estando em
não só com as medicações, mas acima de
“Minha reação seria de apoio, pois
acredito que não tem sentido
prolongar o sofrimento do paciente
portador de uma patologia incurável,
onde sabemos que quanto mais
tempo o paciente permanecer vivo,
ele vai sofrer mais ainda”. (A 19)
“Neste caso, eu atenderia ao pedido
do paciente ou da sua família, pois
não concordo com a ideia de que um
determinado paciente tem que ficar
esperando a hora certa pra morrer,
mesmo estando em um estado
crítico”. (A 2)
tudo, vendo o paciente como um ser
Carvalho (2003) concorda com as
humano que necessita de atenção e de
falas acima, afirmando que a eutanásia
respeito, ou seja, que seja prestado um
significa proporcionar ou acelerar a morte
cuidado
de um ser humano, para pôr fim ao
estágio
terminal
e
apresentando
argumentações, afirmando a eutanásia
ser a única forma de aliviar o seu
sofrimento. É para isto que existem os
cuidados paliativos e acredita-se que a
enfermagem esteja altamente preparada
para a realização de tais procedimentos,
pacientes,
humanizado
a
todos
principalmente,
os
os
mais
críticos, colaborando assim com uma
morte mais tranquila e humanizada, em
sofrimento
de
alguém,
atingido
por
doença dolorosa e incurável.
Diante
destas
argumentações
vez de antecipar a sua morte por meio da
apresentadas pelos participantes, pode-se
eutanásia.
fazer a seguinte pergunta: será que o
pedido
Atenderia sim ao pedido, por não
morrer
por
parte
dos
envolvidos na situação, não poderia ser
também
ter sentido prolongar o sofrimento
para
uma
resposta
ao
olhar
de
impotência do profissional, que não sabe
Nesta categoria foram incluídas as
o que fazer na situação? Pois a rogação
dos
pode ser vista como um pedido de
participantes relataram que seriam de
atenção, uma afirmação de que é um ser
acordo com a argumentação do paciente
humano, que ainda está vivo. Às vezes, o
respostas
216
em
que
alguns
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
paciente está tão deformado que não se
sente mais vivo, nem é mais visto assim.
Não pede obrigatoriamente que se faça
algo, mas para que seja visto e ouvido
como ser humano digno de respeito,
atenção e de um cuidado humanizado.
De acordo com Pessini e Bertachini
(2006), o cuidar humanizado implica, por
parte do cuidador, a compreensão do
Tabela 4 - Percepção sobre a eutanásia ser
considerada como sendo a única forma de aliviar o
sofrimento de um paciente em estado terminal
CATEGORIAS
f
%
Não, pois existem os cuidados 18
64,3
paliativos
05
17,9
Não, porque não temos o direito 02
7,1
de tirar a vida do outro
03
10,7
Não, pois o profissional pode
prestar
apoio
psicológico
aliviando a dor
Sim, pois em muitos casos a vida
só é mantida a custa de
aparelhos
TOTAL
28
100
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
significado da vida, a capacidade de
perceber e compreender a si mesmo e o
outro.
Humanizar
qualidade
à
o
relação
saúde/usuário,
ou
cuidar,
é
dar
profissional
seja,
acolher
da
as
angústias do ser humano diante da
Ao analisar as respostas de forma
analítica, foram encontradas as seguintes
categorias:
Não, pois existem os cuidados
paliativos
fragilidade de corpo, mente e espírito,
colocar-se sempre no lugar do paciente,
Nesta categoria enquadram-se as
realizando para o mesmo aquilo que
respostas
dos
participantes
que
gostaria de receber se por acaso fosse
mencionaram não concordar com a ideia
você quem estivesse naquela situação.
da eutanásia ser considerada como sendo
Também buscou-se saber sobre a
a única forma de aliviar o sofrimento de
opinião dos pesquisados quando ao fato
pacientes portadores de doenças em
da eutanásia ser considerada como sendo
estado
a única forma de aliviar o sofrimento de
existem os cuidados paliativos que devem
pacientes portadores de doenças em
ser aplicados nestes casos, como nos
estado
exemplos citados:
terminal.
questionamento,
A
os
partir
deste
terminal,
porque,
para
eles,
respondentes
deveriam justificar suas respostas.
“Não concordo, porque existem outras
formas para aliviar o sofrimento sem
que haja a prática da eutanásia,
podendo ser através de cuidados
paliativos que incluem o controle da
dor e o suporte emocional”. (A 2)
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
217
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
“Não concordo, porque deveriam
colocar em prática os métodos
paliativos que auxiliam na diminuição
do sofrimento”. (A 7)
“Não concordo, pois com os avanços
no campo da medicina, é comum
utilizar técnicas paliativas como forma
de amenizar as dores e o sofrimento
em pacientes terminais”. (A 11)
“Sou contra, porque há vários
métodos paliativos que podem ser
utilizados para aliviar o sofrimento
desses pacientes terminais, e a
eutanásia deve ser um método jamais
utilizado”. (A 21)
“Sou contra, pois existem muitas
outras maneiras de aliviar o
sofrimento dos pacientes em estágio
de vida terminal, entre eles os
cuidados paliativos”. (A 24)
“Não concordo. Acredito que os
cuidados paliativos sim, proporcionam
uma
morte
menos
dolorosa,
humanizada e respeitada”. (A 25)
Diante do exposto, percebeu-se
que
64,3%
dos
futuros
enfermeiros
acreditam que existem outras formas de
aliviar o sofrimento sem ser a realização
da eutanásia, evidenciando negação a
esta prática. E entre estes modos de
aliviar o sofrimento os mesmos, frisam a
medicina paliativa, ou seja, os cuidados
paliativos, cuidados estes que todos os
pacientes, independentemente do seu
estado de saúde, precisam receber de
forma humanizada, tornando os últimos
dias de vida dos mesmos dolorosos. Os
cuidados
paliativos
não
apressam
a
morte, não prolongam o sofrimento e nem
é sinônimo de eutanásia; pelo contrário,
preocupa-se em promover a arte de bem
morrer, tornando vivos, todos aqueles
momentos
que
garantindo
uma
restam
ao
paciente,
qualidade
de
vida
aceitável e confortável.
Na concepção do Brasil (2008), os
cuidados paliativos estão centrados no
cuidar que envolve postura ético/filosófica
por parte do enfermeiro, o que exige um
modelo
assistencial
com
dimensão
técnica e outras dimensões como a
emocional, espiritual e, ainda, a de
suporte
familiar,
sendo
de
suma
importância para pacientes que estão
vivenciando a terminalidade da vida, os
quais exigem um tratamento e um cuidado
especial
diante
da
fase
que
estão
vivendo. Neste sentido, Carvalho (2003)
afirma que a luta ou o cuidado pela vida
não deve apresentar egoísmo ou uma
obstinação insensata do viver. É preciso
reconhecer
possibilidades
ou
mesmo
limitações que fazem parte da realidade.
E para garantir o conforto necessário
enquanto há vida, quando a cura já não é
possível,
surge
como
elemento
fundamental o cuidado paliativo, termo
que denomina o cuidado também ao fim
da vida e que está, quase sempre,
associado ao conforto e ao alívio do
sofrimento.
218
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
É no cuidar que mais expressamos
como valor
absoluto,
que
deve ser
nossa solidariedade para com os outros, e
mantida a todo custo, nada poderá ser
toda relação terapêutica, enquanto tal,
feito para a sua abreviação, e deve-se
deveria se pautar por ele, especialmente
evitar a morte a todo custo. Todos têm
as ligadas ao final da vida.
direito a uma morte humana, pois ela é o
Não, porque não temos o direito
de tirar a vida do outro
último acontecimento importante da vida,
e ninguém pode privar-se dela. Assim
sendo, deve-se aliviar os sofrimentos do
Esta categoria reúne as respostas
enfermo,
prestando-lhe
em que os participantes da pesquisa
adequada,
de
relatam não aceitar a ideia da eutanásia
superar, humanamente, a última fase da
ser considerada como sendo a única
vida.
forma de aliviar o sofrimento de pacientes
portadores
de
doenças
em
tal
assistência
forma
que
possa
Para Cardoso (1986), nenhum ser
estado
humano pode decidir como vai ser o fim
terminal, porque, segundo os mesmos,
da vida do seu semelhante, mesmo que
não temos o direito de tirar a vida do
seja
outro, como expresso nos seguintes
sofrimento; a ele não é concebido este
depoimentos:
direito de decisão, porque a morte quando
“Não aceito, porque ninguém tem o
direito de interromper a vida de um
outro ser”. (A 6)
“Minha resposta será não, pois não
temos o direito de tirar a vida do
outro”. (A 12)
“Eu acho que não, porque ninguém
tem o direito de interromper a vida de
uma outra pessoa”. (A 10)
“Acho que não, pois ninguém tem o
direito de acabar com a vida do outro,
e eu, pessoalmente, acredito em
Deus, confio em sua misericórdia e
creio em milagres”. (A 28)
alguns dos entrevistados, se a vida é tida
a
intenção
de
aliviar
o
vem de forma natural, por si só, já importa
em acontecimento indolor, geralmente,
precedido
de
perda
gradual
de
consciência, que torna incapaz de criar
estímulos
afetivas.
dolorosos
A
morte
ou
deve
percepções
acontecer
naturalmente, quando os órgãos vitais
não mais resistirem à situação crítica do
enfermo.
Não, pois o profissional pode
Com base nestas considerações,
pode-se observar que na concepção de
com
prestar apoio psicológico aliviando a
dor
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
219
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
Nesta
categoria
mostramos
existencial
do
ser
humano.
Os
relatos dos participantes que afirmam ser
profissionais têm a responsabilidade de
contra
ser
incluí-la no mesmo grau de importância
considerada como sendo a única forma
das técnicas de intervenção, pois como
de aliviar o sofrimento de pacientes
informa Oliveira e Silva (2007), morrer é
portadores
estado
uma experiência total e na hora de morrer
terminal, alegando que, nestas situações,
o órgão afetado deixa de ser o item
o profissional além de oferecer uma
básico.
a
ideia
de
assistência
da
eutanásia
doenças
precisa
e
em
imediata,
ele
Considerando o fato de que o
também pode ofertar ao paciente apoio
paciente está próximo de morte inevitável,
psicológico, demonstrado por meio das
de modo que, medicamente, nada mais
seguintes falas:
há a ser feito, cabe ao psicólogo, neste
momento, a função limitada, porém de
“Não concordo, porque o profissional
além de oferecer uma assistência
precisa e imediata, ele também pode
ofertar ao paciente apoio psicológico,
amenizando assim o seu sofrimento”.
(A 22)
“Não. Pois o profissional além de
administrar a terapia, pode prestar
apoio psicológico o que ameniza com
certeza o sofrimento, tanto do
paciente como da família”. (A 26)
importância extremamente abrangente, de
acolher os familiares e, principalmente, o
paciente
no
seu
momento
final,
resguardando ao máximo sua dignidade e
sua
integridade
como
ser
humano,
respeitando, assim, o que versa o Código
de Ética do psicólogo (SANTOS, 1992). É
a
importante esclarecer que, em nenhum
objetivo
instante, o psicólogo deve decidir pela
fundamental dos profissionais da saúde é
realização da eutanásia em determinado
tratar os enfermos, buscando restabelecer
paciente. A ele restaria, reiterar o respeito
a integridade perdida, ou seja, a busca
incondicional ao ser humano que se
pela
encontra diante dele, vivenciando seu
Estar
integridade
cura
da
enfermo
é
perder
saúde,
e
o
ocorre
quando
a
saúde,
entendida como o bem-estar biológico,
psicossocial e espiritual, é plenamente
restabelecida.
último ato de vida, qual seja, a morte.
Sim, pois em muitos casos a
vida só é mantida a custa de aparelhos
Cuidar do atendimento espiritual
dos pacientes é expandir-se na dimensão
220
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
Esta categoria reúne as respostas
Na maioria das vezes são os
em que os pesquisados mencionaram ser,
familiares que não conseguem deixar o
de acordo com a ideia de, a eutanásia ser
paciente partir e suplicam por mais
considerada como sendo a única forma
intervenções que lhes deem um mínimo
de aliviar o sofrimento de pacientes em
de esperança de que terão seus entes de
estado terminal, porque, segundo eles,
volta, ou por mais um tempo, que lhes
em muitos casos a vida é mantida à custa
permita trabalhar a ausência iminente
de aparelhos, como visto a seguir:
deles.
Segundo
“De certo modo sim, porque na
maioria das vezes os pacientes só
continuam
vivos,
devido
aos
aparelhos que estão ligados ao seu
corpo, prolongando cada vez mais o
sofrimento do paciente”. (A 4)
“É sim, uma forma de retirar o
sofrimento de alguém, pois em muitos
casos a vida só é mantida à custa de
aparelhos que agem assumindo as
funções do próprio paciente”. (A 9)
Pessini
e
Bertachini
(2006), o prolongamento artificial da vida
deve sempre ter prioridade sobre a cura
pelas razões mais óbvias: nunca existe
uma certeza de que nossas doenças
possam ser curadas ou que nossa morte
possa ser evitada. Eventualmente, elas
podem e devem triunfar. Nossas vitórias
seu
sobre a doença e a morte são sempre
percurso normal não significa abandonar
temporárias, mas nossas necessidades
o paciente. Dizer não ao prolongamento
de apoio, cuidado diante delas, são
artificial da vida, significa recusar os
sempre permanentes.
Deixar
a
morte
seguir
o
procedimentos que tentam até o último
Para finalizar, buscou-se identificar
momento uma reviravolta no quadro
a opinião dos concluintes do curso de
clínico, mesmo sabendo da sua evolução,
enfermagem
e oferecer um suporte de cuidados
eutanásia no Brasil, logo as categorias
paliativos, cuidados esses que não visam
emergidas encontram-se na tabela 5.
a combater a doença, mas sim aliviar a
Tabela 5 - Percepção sobre a legalização da
eutanásia no Brasil
CATEGORIAS
f
%
Não concordo, pois se for legalizada as pessoas 11 39,3
não vão mais ter morte natural
14 50,0
Não concordo, pois induziria muitos profissionais a
03 10,7
praticar em o assassinato
dor e dar um conforto possível para uma
morte digna. Em última instância, o
paciente estará sendo atendido por uma
equipe médica e não abandonado ao seu
destino.
sobre
a
legalização
da
Sou a favor, sendo que a decisão deve ser do
paciente ou da família
TOTAL
Fonte: Dados da Pesquisa (2013)
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
28
100
221
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
“Não sou de acordo com a
legalização da eutanásia em nosso
país, porque se por acaso isso
acontecer às pessoas não vão mais
ter direito uma morte de forma
natural”. (A 11)
Após a análise das respostas,
mostrou-se a existência das seguintes
categorias:
Não
concordo,
pois
se
for
legalizada as pessoas não vão mais ter
morte natural
Não
induziria
assassinato
relatos dos participantes que afirmam não
com
pois
muitos profissionais a praticarem o
Nesta categoria apresentam-se os
concordar
concordo,
a
legalização
da
eutanásia, no Brasil, porque se ela for
legalizada as pessoas não vão mais ter
direito a uma morte de forma natural,
como nos exemplos citados:
Nesta categoria são analisados os
resultados referentes aos alunos que
dizem não concordar com a legalização
da eutanásia, no Brasil, porque se por
acaso isso vier a acontecer, induzirá
muitos
profissionais
a
praticarem
o
assassinato, demonstrado nas seguintes
falas:
“Sou contra a legalização da
eutanásia, no Brasil, porque se isso
por acaso acontecer a maioria das
pessoas não vão mais poder ter uma
morte natural”. (A 1)
“Sou
completamente
contra
a
qualquer tipo de lei que venha
contribuir para que a vida seja
interrompida, não deixando com que
as pessoas tenham uma morte de
forma natural”. (A 5)
“Não concordo com a legalização da
eutanásia, no Brasil, porque se ela for
legalizada as pessoas não vão mais
ter a oportunidade de gozar de uma
morte naturalmente”. (A 2)
“A eutanásia não deve ser legalizada,
porque as pessoas precisam viver e
ter uma morte natural, conforme a
vontade de Deus e não a dos
homens”. ( A 14)
“Não concordo com a legalização da
eutanásia em nosso país, pelo
simples fato de que a morte deve
acontecer naturalmente”. (A 6)
222
“Não concordo, pois induziria muitos
profissionais a praticar o assassinato,
em ocasião que o caso poderia ser
reversível”. (A 26)
“Não concordo com a legalização da
eutanásia em nosso país, porque se
por acaso isso acontecesse, irá
induzir os profissionais a praticar
muitos outros crimes e será
acobertados por essa lei”. (A 16)
“Não sou de acordo com a
legalização da eutanásia em nosso
país, porque se ela for legalizada a
maioria dos profissionais da área da
saúde irão praticar, fazendo com que
os pacientes em estágio terminal
sejam mortos, acabando com o direito
que cada ser humano tem de lutar
pela vida”. (A 24)
“Sou contra a legalização da
eutanásia, porque se ela for
legalizada, em nosso país, vai acabar
virando moda e os profissionais vão
praticar muitos assassinatos só
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
porque sabem que estão sendo
acobertados por uma lei”. (A 11)
“Não sou favorável à legalização da
eutanásia, pelo simples fato de que
se a mesma for legalizada, ninguém
vai mais querer ter trabalho em
prestar assistência aos pacientes em
estado de vida terminal. Vão,
simplesmente, administrar alguma
droga para apagar de vez por toda
com a vida daquela pessoa indefesa”.
(A 3)
“Sou contra a legalização da
eutanásia no Brasil. Isso não pode e
não deve acontecer, para que a vida
não seja banalizada e muitos
assassinatos
não
venham
a
acontecer por meio das mãos dos
profissionais de saúde”. (A 4)
constituir até mesmo em uma espécie de
amparo para a prática de inúmeros
suicídios, e, porque não dizer, para a
ocorrência
também
de
homicídios
planejados, em que um paciente poderia
muito
bem
ser
induzido
à
morte,
sobretudo aquele detentor de alguma
herança ou para o comércio negro de
órgãos.
França (1999) nos alerta sobre três
grandes riscos que a legalização da
eutanásia pode acarretar: a possibilidade
Refletindo
sobre
as
duas
categorias acima citadas, percebeu-se a
grande preocupação que a maioria dos
participantes do estudo tem diante da
possível legalização da eutanásia no
Brasil, levando-os a terem diferentes
concepções com relação a este assunto,
visto que para eles, matar é crime, e
ninguém possui o poder de tirar a vida de
um ser humano, a não ser Deus.
Em
sintonia
com
os
direito
brasileiro,
a
eutanásia
caracteriza homicídio, pois é conduta
típica, ilícita e culpável, mesmo que o
paciente tenha dado seu consentimento
ou até implorado pela medida. Neste
sentido, de acordo com Almeida (2000),
se
legalizada,
a
eutanásia
profissional de saúde e o paciente. O
autor ainda afirma que abertas às portas
da legalização, passarão também as
piores intenções e as consequências mais
desastrosas. Além do mais, deve ser
mencionado o perigo que uma possível
institucionalização da eutanásia poderia
representar às pessoas mais fracas de um
determinado segmento social.
relatos
apresentados, Dodge (1999) afirma que
no
de erro, de abuso e o desgaste da relação
poderia
Noronha (1994, p. 29) também se
manifesta contrário à eutanásia, aduzindo
que: “a vida, ainda que dolorosa ou
sofredora, há de ser sempre respeitada. O
homem é coisa sagrada para outro
homem e a missão da ciência não é
exterminar, mas lutar contra o extermínio”.
No Brasil, segundo D’urso (2011), o
médico que de alguma forma concorrer
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
223
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
para
praticar
alguém,
muito bem analisada por aqueles que
medicina
decidem o futuro do nosso País, para que
proporciona recursos para prevenção das
não ocorra homicídio velado. Não se pode
doenças, promoção e recuperação da
usar a justiça para cometer injustiças,
saúde e acima de tudo dá esperança de
beneficiando pessoas que por motivos
cura aos doentes. Sendo assim, não há
particulares queiram se livrar do doente,
como buscar amparos para eutanásia
ou por não quererem a responsabilidade
dentro da ciência que existe para salvar
ou por se beneficiarem de herança. Seja
vidas e não para eliminá-las. De acordo
por piedade ou não, quem pratica a
com Kipper (1999, p. 63), sob todos os
eutanásia não deixa de ser culpado pelo
aspectos, a medicina deve prezar a vida,
seu ato.
cometerá
a
morte
homicídio.
em
A
e o médico deve cumprir os seus
ensinamentos
“O
médico
não
pode
Sou a favor, sendo que a decisão
deve ser do paciente ou da família
contribuir, direta ou indiretamente, para
apressar a morte do doente.” Artigo 57
Nesta categoria são evidenciados
os relatos dos participantes que afirmaram
Código de ética Médica.
A tutela jurídica da vida, como bem
ser a favor da legalização da eutanásia,
de supremo valor, exige que sejam
no Brasil, desde que ela seja decidida
afastadas a possibilidade de erro, de
pelo paciente ou pela família, como citado
abuso e a corrosão da confiança nos
a seguir:
cuidados médicos, quando se assume
uma conduta diante da eutanásia (SILVA,
1982). Menezes (1977) conclui, a partir do
exposto, a clara proteção do direito à vida
no nosso ordenado jurídico. Quer o
homicídio voluntário, o auxílio ao suicídio
ou
o
homicídio,
mesmo
que
por
compaixão ou a pedido da vítima, são
atos criminalmente punidos.
Frente a esta problemática, vale
salientar que a eutanásia precisa ser
224
“Em minha opinião já deveria ter sido
legalizada, pois evitaria prolongar o
sofrimento de tantas pessoas. Só que
esta decisão deverá ser tomada pelo
paciente ou pela sua família e não por
um profissional qualquer”. (A 19)
“Sou a favor da legalização da
eutanásia, sendo que, a decisão deve
ficar nas mãos do paciente e, na sua
ausência, da sua família, e não da
justiça ou de profissionais de saúde”.
(A 27)
“Apesar de ter pouco conhecimento
sobre a legalização da eutanásia, sou
favorável a sua legalização desde
que seja o paciente quem tome a
devida decisão”. (A 20)
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
Eutanásia: percepção de graduandos em enfermagem
Frente a esta problemática, vale
Com
apresentados
base
nos
relatos
pode-se
constatar
que
salientar que a questão é séria, polêmica
e
complexa,
e
se
por
acaso,
isto
existem os defensores da legalização da
acontecesse, traria mais problemas do
eutanásia
que soluções. Em uma sociedade de
no
Brasil,
tendo
como
argumentação central que ela deve ser
tantas
legalizada,
o
complexidade, instituir-se a prática da
consentimento do paciente ou da família.
eutanásia seria uma temeridade muito
Enquadra-se, neste contexto, a eutanásia
mais grave do que a implantação da pena
voluntária, que é realizada atendendo ao
de morte, já que esta depende da
pedido do paciente.
formalização de um processo legal, com
desde
que
seja
com
desigualdades,
de
tanta
De acordo com Segundo Cabette
acusação e defesa; enquanto a eutanásia
(2009), a eutanásia voluntária é quando a
dependeria apenas da vontade da pessoa
morte é provocada, atendendo a uma
suicida ou não, induzida ou não, de
vontade do paciente, ou seja, quando
eliminar a própria vida.
uma pessoa ajuda outra a acabar com a
sua vida. Mesmo que a pessoa já não
4 CONCLUSÃO
esteja em condições de afirmar o seu
desejo de morrer, a eutanásia pode ser
Debater questões sobre eutanásia
voluntária. Pode-se desejar que a própria
é difícil de uma maneira em geral, pois
vida acabe, no caso de se ver numa
trata-se de um tema complexo e que
situação em que, embora sofrendo de um
carrega
estado incurável e doloroso, a doença ou
influenciados
um acidente tenham tirado todas as
médicos, religiosos, culturais e também
capacidades racionais e já não seja capaz
jurídicos, os quais influenciam a opinião
de decidir entre a vida e a morte. Se,
dos profissionais da saúde, do dever ou
enquanto ainda capaz, tiver expressado o
não de manter um paciente terminal
desejo refletido de morrer quando numa
ligado a uma máquina, mesmo sabendo
situação como esta, então a pessoa que,
que já não tem mais possibilidade de
nas circunstâncias apropriadas, tira a vida
cura.
sentimentos
por
preceitos
diversos,
éticos,
de outra, atua com base no seu pedido.
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.6, n.2, p. 201-228, jul./dez. 2013
225
Edinete Bezerra Ferreira, Milena Nunes Alves de Sousa
Mesmo
deste
Os dados mostraram, ainda, que a
estudo, percebeu-se que os estudantes
eutanásia ‘supressão da vida’ é vista, em
concluintes do curso de enfermagem são
geral, como uma prática condenável e,
conscientes, teoricamente, do que é e
que
qual a importância de um conhecimento
enfermeiros, cujo compromisso é voltar-se
mais eficaz sobre a eutanásia; mesmo
sempre
não tendo a vivência prática diante de tal
prevenindo
doenças,
situação.
enfermos,
minimizando
Daí
assim,
a
a
partir
importância
de
ser
incluída, no currículo, uma disciplina que
não
atende
em
favor
a
da
formação
vida
humana,
cuidando
o
dos
dos
sofrimento,
preservando a vida.
contemple a forma correta na abordagem
de um paciente em fase terminal.
ABSTRACT
Background: Despite going to come since the beginnings of
humanity, euthanasia remains being, a controversial and painful for
the family, society and to health professionals, since it is a practice
that seeks to end the humany life in extreme suffering and terminally
situations. Subject: Identify the perception of nursing graduates of
na institution of higher education in the backlands of Paraiba about
euthanasia. Methodology: It is about na explorative study, in a
qualitative a pproach, whose sample consisted of twenty-light
students graduating in nursing, aged between twenty-one and thirtylight years, who answered a questionnaire with semistructured,
using the technique of content analysis proposed by Bardin for
analysis and discussion of descovered. Outcome: It can see
various point of views of participants aboit euthanasia, as well as the
different positions that emerged through the knowledge accquired,
through academic training. Conclusion: Considering that
euthanasia remains a very controversial issue, it is obvious that
requires further discussion during graduation, mainly because it is
terminally ill patient..
Keywords:
Euthanasia. Perception. Nursing.
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