Roteiro para Ensino de Reportagem Escrita

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Roteiro para Ensino de Reportagem Escrita
Neste roteiro, o gênero reportagem será abordado sob duas perspectivas: por um lado
como objeto de ensino na escola; por outro, como instrumento de ação comunicativa do
aluno que dele se apropria. Ele está subdivido em três partes, como se segue.
Primeira parte: Estudo do gênero reportagem
a) A proposta é que, no início do trabalho, os alunos se envolvam em três
importantes ações de aprendizagem:

Exploração, em meios impressos ou digitais, de pelo menos um jornal e uma
revista de atualidades para conhecer sua organização e identificar os diferentes gêneros
que os compõem.

Leitura de algumas reportagens para entrar em contato com o gênero, fazer
uma ligeira aproximação de seus temas, composição e estilo, além de discutir sobre sua
finalidade e público leitor.

Análise de reportagens, com a finalidade de identificar as questões de pesquisa
que nortearam sua produção.
Como você viu, a sugestão é que se faça, em um segundo momento, uma simulação das
condições de produção da esfera na qual a reportagem tem origem, a jornalística. A simulação
é importante porque favorece a percepção dos processos de produção do gênero em questão.
Nessa situação simulada, os alunos tomarão o lugar do jornalista e, após percorrer um
caminho de aprendizagem ativa, produzirão uma reportagem que será publicada e lida pelos
colegas da escola. Durante o processo, o professor assumirá o lugar do editor do jornal.
Muitas coisas devem ser realizadas pelos alunos antes da produção escrita da reportagem.
Como parte da simulação, ao tomar o lugar do repórter, eles precisam:

selecionar um tema de interesse de seus possíveis leitores, mas também de
interesse próprio;

elaborar questões de pesquisa bem definidas para orientar a busca de informações;

elencar possíveis entrevistados que podem depor ou falar a respeito do tema;

definir as fontes documentais que serão pesquisadas (livros impressos ou fontes
virtuais: enciclopédias, artigos especializados, sites de órgãos públicos como IBGE,
por exemplo) para que possam ter domínio sobre o assunto;

definir previamente os locais que precisarão ser visitados e fotografados, nos quais
depoimentos e entrevistas poderão ser coletados e registrados;

realizar a investigação;

selecionar, organizar e apurar os dados obtidos, verificando se as informações são
verídicas e confiáveis por meio do confronto entre elas.
É preciso lembrar que as entrevistas devem ser preparadas previamente e conduzidas de
modo que produzam as informações necessárias para a escrita da reportagem. Na entrevista,
há um conjunto de perguntas sobre o tema. Elas não podem ser quaisquer perguntas, mas as
que provoquem o entrevistado a falar sobre o assunto de interesse. Devem estar ligadas às
questões de pesquisa. O entrevistado tem que ser alguém que passou por uma experiência
relacionada ao tema ou alguma autoridade no assunto.
Segunda Parte: a escrita da reportagem
Com todo o material de pesquisa em mãos, os alunos planejarão sua escrita.
a) Quanto às informações, deve fornecer ao leitor:

os antecedentes do tema que está sendo abordado;

as circunstâncias atuais do assunto;

suas possíveis derivações.
b) Quanto à organização, ter um esquema de título e subtítulos é uma boa medida. Isso
ajuda a orientar o desenvolvimento da produção escrita e a organizar a utilização do
material pesquisado. Os subtítulos podem referir-se às diferentes questões que dirigiram
a pesquisa.
c) A reportagem traz, de forma integrada, citações de documentos, depoimentos e
reflexões, descrições, referências a acontecimentos concretos. Assim, o aluno precisa:

quando houver depoimentos de entrevistados, decidir pelo uso do discurso
direto ou indireto, marcando-o adequadamente;

se necessário, utilizar linguagem oral típica dos entrevistados, sem adequá-la à
norma padrão;

citar corretamente as fontes de pesquisa;

manter isenção em relação à posição dos entrevistados;

usar elementos coesivos para manter frases e parágrafos convenientemente
unidos.
d) A reportagem, em geral, também apresenta ao leitor fotos, gráficos, boxes, sendo
importante pensar onde irão entrar.
e) O aluno jornalista, também precisa optar pelo tom da sua reportagem. Há duas
possibilidades:
 Se a escolha for por um tom mais expositivo, o aluno (ou grupo de
alunos)deve usar linguagem objetiva. Muitas vezes, a reportagem expositiva
assemelha-se a uma notícia ampliada. Na reportagem “Pobreza causa trabalho
infantil”, já publicada anteriormente em nosso blog, podemos observar
elementos da abordagem expositiva. O tom dessa abordagem é dado pela
predominância da terceira pessoa, pela economia no uso de adjetivos e
advérbios, pelo uso de relações causais comprovadas por dados de pesquisa
científica.

Se a reportagem for escrita com a intenção de envolver
emocionalmente o leitor, o aluno jornalista pode construí-la de uma forma
mais literária, desde que os fatos, acontecimentos, sejam respeitados. Nesse
caso, o jornalista utiliza um tom narrativo no qual se percebe: tensão,
condensação e uso de linguagem expressiva, revelando um modo mais
subjetivo de captação do real. Na reportagem “O rei da mata Atlântica”,
podemos observar alguns desses elementos: a tensão (própria da narrativa,
por exemplo, de um conto) entre a ideologia do progresso, vivida pela cidade,
e a de preservação do ambiente, defendida pelo senhor Feliciano; a
condensação do tempo transcorrido – mais de 50 anos - em poucos
parágrafos; o uso de uma linguagem expressiva “Caratinga era uma fronteira
onde desembarcava gente de todo lado; terra selvagem onde muitas vezes as
disputas eram decididas a bala.”.
Parte Final: revisão da escrita e publicação da reportagem
Como todo autor, os alunos precisam rever sua produção para melhorá-la, verificando se o
texto:
a) traz os elementos do gênero reportagem já indicados;
b) articula suas partes, ou seja, se a coesão entre diferentes partes e elementos
menores e maiores foi estabelecida, lembrando que elementos “menores” são
frases ou parágrafos, e elementos “maiores”, a parte introdutória, o
desenvolvimento e a conclusão;
c) está correto do ponto de vista gramatical e ortográfico.
Ao rever seus textos, é importante que identifiquem os pontos em que as reportagens
podem ser melhoradas e reescrevam o que for necessário. Também é importante explicar aos
alunos que não se trata de escrever um novo texto, mas de intervir no que já está escrito.
Para isso, é possível deslocar partes, eliminar palavras ou trechos ou substituí-los por
outros, e completar o texto com novas informações. Depois disso, tem início a revisão do
ponto de vista gramatical e ortográfico, dando conclusão ao trabalho com o gênero.
Eliana Gagliardi
São Paulo, 21 de fevereiro de 2016.
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