Álcool, drogas e problemas psiquiátricos: uma combinação perigosa

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Álcool, drogas e problemas psiquiátricos: uma
combinação perigosa
Pessoas com histórico de doenças emocionais na
família tem mais um motivo para evitar essas
substâncias
POR ESPECIALISTA - PUBLICADO EM 05/12/2013
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ESCRITO POR:Pérsio Gomes de Deus
Psiquiatria
ESPECIALISTA MINHA VIDA
Atualmente a dependência química se constitui num
grave problema de saúde pública, com sérias
consequências para o futuro dos jovens e sociedade
em todo o mundo. Existe uma porcentagem
significativa de adolescentes abusando ilegalmente
de drogas, tabaco e álcool. Um cada quatro alunos do
ensino médio tem usado uma droga ilegal pelo menos
uma vez durante ao mês, enquanto cerca de 12% dos
alunos da oitava série usaram mais de uma droga ao
mesmo tempo no mesmo período.
O pesquisador norte-americano McCaffrey argumenta
que, embora a maconha seja a droga mais
frequentemente usada, o aumento das taxas de
heroína, cocaína e alucinógenos são de particular
preocupação devido à natureza mortal destas
substâncias. Ele também afirma que milhões de
adolescentes fumam e bebem regularmente, fatores de
risco para uso de drogas. McCaffrey era o diretor do
Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas
durante a administração do presidente Bill Clinton.
O problema, é que muitas vezes o uso dessas
substâncias pode estar relacionado à incidência de
doenças psiquiátricas. No DSM-IV (Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação
Norte-Americana de Psiquiatria) que engloba o abuso e
a
dependência
a
substâncias,
encontra-se
frequentemente
a
associação
de
substâncias
psicoativas a outras patologias psiquiátricas. Assim
diante de um paciente com uso de drogas, seja
dependência ou uso abusivo, deve-se sempre
investigar a existência de outra doença psíquica; como
causa ou como consequência.
Trabalhos científicos têm mostrado uma elevada
incidência de 13% da associação de doença mental
com uso abusivo de substâncias. Observações
inversas também ocorrem, pois em clínicas
especializadas no atendimento ao dependente químico
a associação com transtornos mentais também é maior
em relação à população geral. Na esquizofrenia e
no transtorno bipolar, em quase metade dos pacientes
aparece a associação com abuso ou dependência de
substâncias psicoativas.
Quem nasceu primeiro?
Mas é o uso de drogas pode desencadear quadros
psiquiátricos ou quadros psiquiátricos desencadeiam o
uso de drogas?
Um dos modelos científicos que tenta explicar esta
associação entre o uso de substâncias psicoativas e os
distúrbios psíquicos seria uma pré-disposição para a
doença mental. Neste caso a droga apenas
desencadearia e agravaria os sintomas mentais
adormecidos, como já citamos anteriormente.
O segundo modelo mostra que essa associação se dá
em função do indivíduo que apresenta algum distúrbio
psíquico e busca na droga um alívio ou espécie de
"automedicação". Ela aliviaria os sintomas de
sua ansiedade, depressão, angústia, medo e outros
sintomas desta ordem. Existem mais modelos, mas
estes dois são os mais facilmente compreendidos.
Uma explicação mais simples é que as substâncias
psicoativas atuam justamente na neurotransmissão do
cérebro. Todo nosso trabalho mental: pensamentos,
sentimentos, ideias, comportamentos são devido à
presença de substâncias no cérebro que são
chamados de neurotransmissores (como serotonina,
adrenalina, noradrenalina, dopamina entre outros). O
aumento destas substâncias no cérebro pode produzir
aceleração, euforia, insônia; e ao contrário a
diminuição delas causa letargia, fadiga, depressão. As
substâncias psicoativas (drogas) agem justamente
nesse mecanismo, e com os neurotransmissores
alterados podemos ir de um estado de euforia até um
estado de psicose (ouvir vozes, ter alucinações) ou em
polo contrário, de um simples estado de lentificação
mental até a depressão profunda.
Predisposição genética
Existem diversos estudos atualmente evidenciando
que existe uma predisposição genética ao uso ou de
álcool ou de outras drogas. Da mesma forma que
nascemos
com
tendência
a
apresentarmos diabetes, hipertensão,
doenças
reumáticas; também apresentamos predisposição
genética para uso de drogas. E isto pode ser facilmente
pesquisado estudando-se os ancestrais familiares que
tinham alguma relação doentia com álcool ou outras
drogas.
Portanto quem tem histórico de problema psiquiátrico
na família não deve nem pensar em usar essas
substâncias. É querer "cutucar a onça com vara curta"
no dizer popular. Comunicado de outra forma,
podemos ter as tendências a diversas doenças
"adormecidas" dentro de nós: se nos colocarmos em
situações estressoras, as tendências "acordam" e se
manifestam como doenças.
Isto vale também para outras doenças: como exemplo
posso ter a tendência hereditária para diabetes, mas se
não estiver acima do peso, não fumar, não for
estressado, a tendência poderá não se manifestar
como doença. Da mesma forma na psiquiatria: posso
ter a tendência ao pânico, se usar uma substância essa
tendência pode se transformar e se manifestar em
doença, no caso a síndrome de pânico. Mais grave
ainda quando as tendências hereditárias são para as
doenças depressivas, para as psicoses.
Isso depende mais do tempo de uso ou da psique da
pessoa?
Essa pergunta é muito relevante: são importantes o
tempo de uso, a tendência ou pré-disposição à doença
mental, o tempo de uso da substância, a quantidade de
substância ingerida, a tolerância à substância química,
e ainda a qualidade usada.
Vamos abordar primeiro a tolerância, que é um
conceito que ainda não comentamos. Tolerância pode
ser definida como a maior ou menor resistência a
determinada substância. Usemos o álcool como
exemplo: há pessoas que com uma taça de champanhe
já se sentem alteradas, e outros podem beber várias
taças e não sentem os efeitos nocivos do álcool; isto é
válido para outras substâncias psicoativas também.
Outro fato importante é a qualidade da substância
ingerida, inalada ou injetada. Sabe-se que grande parte
das drogas é extremamente impura e misturada ou
refinada com produtos extremamente tóxicos e que
podem trazer risco de vida imediato. Tem-se noticiado
a ingestão inclusive de bebidas de origem duvidosa, e
que tem produzido acidentes fatais. Depois de
abordarmos estes dois fatores, vamos pensar em
tempo e quantidade de uso.
A predisposição à doença mental também é muito
importante não esquecer que a pessoa que possui a
tendência a distúrbio psíquico deve ficar longe de
qualquer tipo de substância psicoativa, ou de drogas.
Vamos abordar então o tempo de uso e a quantidade
de uso e iniciaremos novamente pelo exemplo da
ingestão de álcool. Ninguém fica alterado fazendo um
brinde com uma taça de vinho ou champanhe;
entretanto se a pessoa ingerir uma garrafa de vodca vai
certamente ficar embriagada - a quantidade de
substância ingerida é extremamente importante.
Igualmente relevante é o tempo de uso: o uso
esporádico de alguma substância não deverá trazer
maiores danos, mas o uso contínuo e por grande
período de tempo trará muitos danos ao organismo.
Novamente tomando o álcool como exemplo, ele causa
repercussões tanto físicas (cirrose, gastrite, câncer)
como psíquicas (prejuízo cognitivo, mnêmico,
alterações de comportamento e até a demência
alcoólica). O exemplo que demos em relação ao álcool
é de maneira geral válido para outras drogas.
Deve-se salientar que algumas drogas mesmo com
pequeno tempo de uso produzem danos irreparáveis como o crack, a heroína, a cocaína e drogas sintéticas,
como certos tipo de anfetaminas e de ácidos.
Resumindo: tudo se soma em prejuízo ao usuário de
droga: a predisposição a doenças psíquicas, a
tolerância, a qualidade da substância, a quantidade de
uso e o tempo de uso.
Agora que sabemos como o álcool e as drogas em
geral podem causar problemas, no meu próximo vamos
falar um pouco sobre como algumas dessas
substâncias específicas podem causar
danos
psiquiátricos nos pacientes.
Fonte www.minhavida.com.br
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