O PROFESSOR E A INDISCIPLINA ESCOLAR: MUDANDO O FOCO Cloves Amorim ( Curso de Psicologia – PUCPR) RESUMO As causas da indisciplina estão longe de serem consensuais, isto se deve não somente pela complexidade do tema e à marcante ausência de pesquisas que contribuam para a compreensão do problema, mas principalmente à multiplicidade de perspectivas que o tema encerra. O objetivo desta pesquisa foi identificar que conceitos e causasse desvelam no discurso de professores do Ensino Fundamental de uma Rede Municipal, bem como apontar a possibilidade de releitura de tema tão caro ao cotidiano da escola e ao processo Ensino-aprendizagem. Participaram 208 e professores, que na ocasião cursavam um módulo sobre Indisciplina Escolar num projeto de educação permanente. Foi solicitado a cada professor que respondesse a duas perguntas, sem se identificar, e entregar ao pesquisador. A primeira pergunta era: o que é indisciplina? E a Segunda: Como lidar com esse comportamento dos alunos. As três causas mais freqüentes foram: 1) Falta de limites e imaturidade; 2) Ter origem em famílias desestruturadas e os estilos parentais e 3) A influência da mídia, especialmente a televisão. Quanto a forma de lidar: 1) Coerção e punição; 2) Encaminhar para outro tomar decisões ( Diretor ou Orientador) e 3) Ter pulso firme e conversar. Observou-se que sempre a causa está localizada no aluno, ou em sua família e condição social; Um parcela muito pequena ( 08,0 %) identificou que a relação professor aluno ou a cultura da escola poderia ser causa e raramente se compreendeu a indisciplina com um sintoma de disfuncionalidade . Palavras-Chave: Indisciplina escolar; relação professor-aluno, punição e relação de poder. 1981 Introdução A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fossem a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não explusá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, prepando-as em vez disto com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (Hanna Arendt, 1972) O objetivo desta comunicação é buscar alternativas e estratégias para subsidiar a reflexão sobre o manejo da indisciplina em classe, onde o professor é um líder democrático, tem autoridade e o processo de ensino aprendizagem encontra êxito. Alunos e professores podem ser parceiros na construção do conhecimento, olhando para a mesma direção, sem antagonismos ou quedas de braço. Em síntese, é possível desenvolver relações interpessoais satisfatória para alunos e professores, sem medo, coerção ou autoritarismo. Apesar da ampla literatura, continuamos a nos deparar com dificuldades na hora de manejar a indisciplina em sala de aula; fazendo com que alguns de nós, professores, nos sintamos fracassados, impotentes e desanimados com a profissão. Não sendo raro ter afetado nosso autoconceito e nossa auto-estima, causando em nós desânimo e propensão ao abandono. O marco teórico desta pesquisa se inscreve na Psicologia da Educação. E esta em termos gerais apresenta três finalidades: 1)Proporcionar modelos explicativos dos processos de mudança, 2) contribuir para o planejamento de situações educativas eficazes e3) Ajudar na resolução de problemas educativos concretos. Esta pesquisa está alocada na finalidade de número 3. . Entretanto, é preciso ter presente as recomendações e observações de CHARLOT (2002) ao afirmar que um modelo de pesquisa educacional não serve para entender as relações entre a pesquisa e o dia-a-dia da sala de aula e justifica com três razões: 1) A pesquisa se ocupa de certos aspectos do ensino, e o ensino é um ato global e contextualizado. Assim, nunca a pesquisa pode abranger a totalidade da situação educacional. 2) A pesquisa faz análise, é analítica e o ensino visa metas, objetivos, tem uma 1982 dimensão política, axiológica; o ensino está tentando realizar o que deve ser. E 3) Ser professor é defrontar-se incessantemente com a necessidade de decidir imediatamente no dia-a-dia da sala de aula. Uma coisa está acontecendo na sala de aula e o professor tem que decidir sem ter tempo suficiente para refletir. A pesquisa não pode dar inteligibilidade a todas as mínimas ações da vida do professor na sala de aula. Ninguém tem o direito de dizer ao professor o que ele deve fazer na sala de aula e conclui, “O papel da pesquisa é forjar instrumentos, ferramentas para melhor entender o que está acontecendo na sala de aula, é criar inteligibilidade para melhor entender o que está acontecendo ali. Depois, o professor vai se virar, no dia-a-dia, na situação contextualizada em que estiver vivendo.”( p.91). Sabemos que muitos são os cenários que compõe as salas de aulas, diferentes modelos de gestão, tempo de experiência e tipo de formação dos professores, políticas públicas, projetos pedagógicos, realidades sócio-econômicas e culturais dos alunos e muitas outras variáveis intervenientes no cotidiano da sala de aula. Nesta pesquisa como se compreende os fenômenos de disciplina e de indisciplina? Disciplina e Indisciplina Dispomos de boas referências para definir ou conceituar disciplina escolar ou indisciplina ( FARIAS, 1979; GARCIA, 2001; NOFFS, 1989;REBELO,2002; VASCONCELLOS, 2000; VINHA,2000) e obras organizadas por DÁNTOLA, (1985) e por AQUINO (1996). Nesse amplo arsenal teórico se destaca, pela atualidade e complexidade de análises a obra de GOTZENS (2003) cujo título é “ A disciplina escolar: prevenção e intervenção nos problemas de comportamento” Obediência cega, silêncio, alienação podem ser frutos de um clima hostil, ameaçador e antidialógico. VASCONCELLOS (2000) afirma que o conceito de disciplina associado à obediência está muito presente no cotidiano da escola. Não é raro que um(a) professor(a) ao se sentir desrespeitado ou desacatado solicite à direção da escola que tome providências enérgicas e que não “passe a mão na cabeça do aluno”. Muitas vezes esse desgastante confronto é um sintoma de que algo deveria ser conduzido de forma diferente. Outros docentes, sentindo-se impotentes para conseguir um clima adequado na sala de aula 1983 ameaçam com a famosa frase ”vou considerar matéria dada” e vai “cair na prova”. Para não cedermos à tentação de abuso de poder vale a pena consultar MORETTO (2002) na sua preciosa obra “Prova: momento privilegiado de estudo, não um acerto de contas”. Em oposição a estratégias de punição e coerção, que geram fuga, esquiva e mágoa, VASCONCELLOS (2000) propõe o desenvolvimento da autonomia e da solidariedade. Explicita que almejamos uma disciplina consciente e interativa, marcada pela participação, pelo respeito, pela responsabilidade, pela construção do conhecimento e pela formação da Cidadania. A escola constitui um dos microcosmos que os alunos habitam, mas existem outros que contam em sua vida: família, vizinhos e amigos. Também não podemos esquecer a mídia, os meios de comunicação, como nos alerta AMORIM e KRUZINSKI (2003) A cultura da violência e da indisciplina instala-se em nossos lares pela tela da televisão Pelos jornas que compramos pela manhã na banca da esquina, pelos comentários sobre os políticos e sobre os ladrões e assassinos de nosso país. Esta cultura perpetuada pelos meios de comunicação acaba sendo assimilada pelas crianças e adolescentes, tida como aceitável, praticável e reproduzida em sala de aula sob a forma de indisciplina. O conceito de disciplina esboçado por Campestrin e Vandresen (1997) é aceito por nós, como amplo e coerente, “Disciplina significa então uma capacidade organizativa de procedimentos, atitudes, métodos e comportamentos necessários no processo de construção do conhecimento, pois permite ao sujeito uma orientação coerente na consecução de objetivos”. E por conseguinte, fruto de moralidade autônoma, construída na interação, através de percepções e emoções e de experiências pessoais. Trata-se de um locus de controle interno e não de fuga , de medo, de evitação de punição, mas um comportamento desejado pelo sujeito. A disciplina é exigência intrínseca e fundamental ao ato pedagógico. Concordamos com GUIMARÃES ( 1982) que inicia seu artigo afirmando que o conceito de disciplina pertence ao grupo daqueles conceitos básicos para a educação, capaz de desempenhar um papel diretivo na prática pedagógica. Conclui o autor Um ensino que não promove a disciplina abdicou de ser formador, renunciou à tarefa de Preparar o aluno para as possibilidades maiores da vida intelectual; no fundo, satisfaz-se com a mediocridade do constante repetir. Esse ensino pauta-se pelo fácil, pelo degradante psicologismo de tudo facilitar, porque, em última análise, não sabe o que significa aprender e compreender. 1984 Em oposição ao conceito de disciplina, lidamos com a indisciplina, compreendida como desarmonia, barulho excessivo, conversas paralelas que impedem que o professor seja ouvido, descontrole, falta de atenção, algazarra, condutas de confronto e falta de respeito e civilidade no trato com colegas ou professores, desobediência às regras consideradas necessárias para se obter um clima favorável à aprendizagem. SILVA (1998), numa reflexão publicada sob a forma de artigo, com título de “Possíveis incompletudes e equívocos dos discursos sobre a questão da disciplina” se propõe ao exame das relações entre disciplina escolar, educação e transformação social. E chegou à proposição de que a prática educacional que tenciona contribuir para a transformação social é inseparável do exercício inequívoco e consciente da disciplina. Parece que ampliar o foco de análise, ir além do comportamento do aluno e olhar ao seu redor, olhar apara o organização escola pode oferecer pistas e subsídios para compreensão do complexo fenômeno da indisciplina ( AMORIM, 2004). Causas da indisciplina Provavelmente as causas da indisciplina sejam tantas quantas forem os sujeitos em que gostaríamos de compreender sua conduta. Aqui destacamos a concepção de Educação. 1)Concepção de Educação, de ensino e de escola. A disciplina será definida em função de muitos critérios, mas seguramente o modelo de gestão, determinante do clima e da cultura escolar, e consequentemente da compreensão do ensino/aprendizagem e da escola, demandarão condutas do corpo discente e docente. Segundo Rebelo (2002) O papel da disciplina na “educação bancária” é fundamental para o sucesso da aprendizagem do aluno. Imposta pelo professor, a disciplina, de acordo com essa concepção, originária do século XVIII, tem a função de aprisionamento e de controle do homem. A obediência e o silêncio dos alunos são aspectos importantes para garantir que os conteúdos determinados pela cultura dominante sejam transmitidos pelo professor sem interferências internas. E a responsabilidade é apenas do aluno. Bem, se retornarmos no tempo, bem antes do século XVII, ao período grego, vamos encontrar uma definição feliz de escola, sua concepção era “descanso” ou “lazer”. Significava o que se fazia durante o lazer, isto é, conversar. Depois passou a significar o lugar onde se conversava e, quando a conversa tornou-se formal, passou a designar o lugar 1985 para as aulas e discussões. No mesmo capítulo em que SKINNER procedeu ao esclarecimento etimológico de escola, ele fala que no futuro os alunos irão à escola não porque serão punidos por faltarem, mas porque se sentirão atraídos por ela.( SKINNER, 1991). Esta escola produzida quotidianamente por uma gestão participativa, democrática e eficaz ( SAVIANI, 1991;HORA, 1994; LÜCK, 1998, FERREIRA, 2000 ), que na compreensão de LIBÂNEO ( 1998) assegura a todos a formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação autônoma , crítica e construtiva com a cultura em suas vária manifestações. Que atenda às exigências de uma sociedade comunicacional, informática e globalizada. Enfim uma escola que seja espaço de integração e síntese. Seguramente contribuirá para uma releitura do tradicional conceito de disciplina e estará sintonizada com os quatro pilares da atividade humana propostos pela UNESCO: saber, saber fazer, saber ser e saber conviver. A entrada na escola é um momento mágico, nas palavras de VALLE (2001), é um momento de encantamento, Tal encantamento faz sentido, uma vez que a escola é um local para o desvelamento, para o descobrimento e a construção do mundo. Desvelar, descobrir, construir são ações próximas do fantástico, do sublime, pois pela ação, o oculto se mostra, o escondido aparece, e a matéria dispersa se agrupa num constructo magnífico. Prossegue o autor, O espaço escola, como afirmamos, por sua própria natureza, encanta ao permitir que o homem aproxime-se de si mesmo, descubra o outro, desvende a natureza e se posicione frente aos seus limites. (VALLE, 2001, p.34) Portanto, parece haver acordo entre pesquisadores, que uma das causas da indisciplina possa ser o próprio ambiente escolar, monótono, sem autoridade, sem criatividade, distante da realidade dos alunos, excessivamente rígido e principalmente pela cultura ( SNYDERS, 1993; SILVA e TUNES, 1999; CANDAU, 2000 Vasconcellos (2001) propõe algumas sugestões para escola e entre elas destaca explicitar o seu projeto (projeto pedagógico), construir uma postura comum entre os educadores ( acreditamos que seja essencial essa providência, na medida em que extingue ou minimiza os rótulos de “bruxa”, “cruel”, que de deseja “ferrar” o aluno. E também porque as regras claras e consentidas no coletivo geram prazer ao serem cumpridas, basta olharmos para os jogos com regras, ninguém quer ser “café-com-leite”, todos querem 1986 participar ativamente, de verdade) e também um auto-questionamento institucional. POSTIC, citado pelo mesmo autor afirma que: ...é preciso mudar a relação educativa mas isso não se alcançará sem mudar a instituição escolar (...) ...só uma revisão das estruturas institucionais permitiria uma mudança na relação pedagógica. ( POSTI, citado em VASCONCLLOS, 2001) Essa mudança institucional, além de fatores políticos, culturais, históricos, sociais, econômicos e principalmente de poder ( amplamente analisado por GODINHO, 1995 e por GUIMARÀES, 1985), precisa considerar que freqüentemente se utiliza os mecanismos de coerção para se obter condutas desejadas. A coerção é utilizada para persuadir o comportamento dos outros. Também está presente na sala de aula com efeitos desastrosos, porque a ansiedade e o medo decorrentes dessa maneira de ensinar levam à evasão e a comportamentos de depredação de tudo o que representa a escola. (VIECILI e MEDEIROS,2002). Disciplina Escolar e as habilidades do professor. Uma vez identificada a concepção de Educação, de ensino e de escola, é preciso lembrar que o agente social que organiza e protagoniza o fazer pedagógico é a figura do professor. Mesmo com diferentes cenários, a ele é solicitado competências e habilidades no manejo da classe, por isso, seu comportamento é fundamental no cotidiano escolar. Considerando a importância de interações educativas em sala de aula, para uma efetiva construção social do conhecimento e ressaltando o papel do professor enquanto participante, condutor e mediador dessas interações, defende-se que a competência profissional do professor requer também um repertório altamente diferenciado de habilidades interpessoais que inclui, entre outros aspectos, a percepção das demandas imediatas do contexto escolar, flexibilidade para mudanças na atuação, de acordo com essas demandas, bem como habilidade de produzir conflitos sócio-cognitivos entre os alunos e reagir positivamente às tentativas de solução destes conflitos por parte dos mesmos. ( Del Prette e Del Prette, 1998, p.13) A maior parte da aprendizagem humana ocorre no contexto social. O relacionamento interpessoal constitui-se na condição “sine qua non “ da educação e até mesmo e até mesmo da existência humana, portanto, só pode ser visto como fator inerente e integrante do processo educativo. O relacionamento interpessoal é considerado tanto um fator determinante de motivação e interesse dos alunos pelas aulas e pela escola, quanto fator de 1987 formação da personalidade do aluno, da promoção de seu desenvolvimento como pessoa e até mesmo de sua saúde mental. O processo educativo, por sua natureza, objetivos e significados, envolve necessariamente o relacionamento interpessoal, tanto como processo de socialização, quanto como condição quase indispensável para as diversas formas de aprendizagem. ( LÜCK e CARNEIRO, 1982). O objetivo desta pesquisa foi identificar o discurso de professores do ensino fundamental acerca do fenômeno da indisciplina, suas prováveis causas e como administrála em sala de aula? MÉTODO Participantes: Participaram desta pesquisa 208 professores, oriundos de escolas municipais urbanas e rurais, e até de salas de aula multiseriadas. O tempo de Magistério variou de 03 meses a 37 anos, 18 participantes do sexo masculino e 190 do sexo feminino. O nível de instrução vaiava de “Curso Magistério” até Cursos de Especialização. Procedimento: Antes de iniciar as atividades do módulo “Indisciplina Escolar”, o professores foram convidados, a responderem individualmente e sem se identificar, por escrito a duas perguntas. A participação era livre e todos aceitaram. A primeira pergunta era: 1) O que é indisciplina? E a Segunda: Como lidar com esse comportamento? Resultados e Discussão Quando solicitados a definir indisciplina, cerca de 70% dos participantes informaram que indisciplina é falta de limite cuja origem está na imaturidade. 15% apontaram a falta de estrutura familiar, apontando certo paternalismo do poder público, criando um espaço para os pais, desde a mais tenra idade, delegar a educação dos filhos a outrem; 5% informou que a televisão oferece quotidianamente modelos inadequados de conduta, valoriza o “errado” e a lei do “levar vantagem em tudo”. 10% das respostas foram pulverizadas, desde o fato de a mãe trabalhar fora e, portanto, ”carência afetiva e de aprendizagem familiar ”até o sub diagnóstico de síndromes como TDAH ( Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) 1988 Ao analisar estas respostas, segue-se em geral o protocolo de identificar no aluno as causas. Tanto Paggi e Guareschi( 2004) quanto Aquino ( 2003), já haviam apontado esse mecanismo de acusar e depositar no aluno a responsabilidade por sua conduta indisciplinada. Portanto a afirmativa de que os professores, salvo o “enfrentamento personalizado de alguns, a maioria dos educadores não sabe ao certo como administrar o ato indisciplinado, como geri-lo, já que muitas vezes não é capaz de compreendê-lo em sua complexidade, é fato ( AQUINO, 2003). Provavelmente a concepção bancária de educação que deseja uma postura de silêncio e obediência esteja subjacente a concepção de limite. Portanto, um aluno que conteste ou simplesmente apresente seu ponto de vista ou ainda não permaneça dentro da ordem estabelecida é considerado um indisciplinado. Outro mito é o pensamento simplista de que o aluno reproduz na escola os valores de casa. Sabemos que alguns alunos são crianças dóceis em casa, por medo ou coerção, e na escola são o oposto. Também é verdade que alguns alunos disciplinados, em casa são peraltas, não sendo incomum sermos procurados pelos pais e sermos alertados sobre a visão que os pais têm do comportamento de seu filho. Atribuir à televisão responsabilidade por modelar comportamentos inadequados tem sua parcela de verdade, mas temos que considerar que os pais apresentam maior influência. O cotidiano familiar pode oferecer ocasião para discutir os modelos da televisão e até mesmo analisá-los. Sendo assim, privar a criança de assistir televisão é pouco produtivo, o melhor seria monitorar o que é assistido e falar sobre, analisar, discutir e mostrar outras alternativas mais coerentes ou de acordo com os valores daquela família. Quanto a forma de manejar, parece que se cumpre o ditado, quando não se tem argumento, se tem gritos ou manifestação de poder. A primeira e a mais freqüente estratégia apresentada pelos professores foram a coerção e a punição. Uma professora escreveu: “no começo sou democrática, mas se não souberem aproveitar aplico métodos de “Ditadura” e me transformo em uma professora muito severa. Vocês podem escolher.” Outro professor disse que ameaça com vai cair na prova, eles logo param de conversar. Prova não deveria ser momento de acerto de contas e sim de verificar, de aferir aprendizagem. Mas funciona como elemento coercitivo.Outros professores afirmaram que encaminham para a Direção ou para a Orientação. Também é verdade que em contextos 1989 culturalmente mais sofisticados se encaminha para o Psicólogo, para o Psicopedagogo ou para o neurologista. Que pena alguns educadores renunciarem ao seu papel de líder e perderem a ocasião de ouvir o aluno, de usar empatia e descobrir o que aquele comportamento significa e que pedido se está fazendo. Conclui-se que a falta de repertório e a tradição eminentemente intelectual, com a primazia do império da razão tem acarretado prejuízos na relação professor aluno e muitas vezes abortando um processo que poderia ser contornado com um contrato ético, com a experiência de prazer e satisfação para ambos, professores e alunos – parceiros e companheiros de existência. Parece que ainda continuamos a colocar no aluno a responsabilidade da indisciplina, um novo olhar se faz necessário, mudar o foco e acreditar que somos responsáveis pelo clima e pela cultura educacional que gera alunos disciplinados ou não. Para isso é necessário aceitar a indisciplina como uma denúncia, um sintoma, porque alunos motivados, aprendentes e felizes com a escola aceitam uma autoridade delegada, compartilhada e todos sabem os seus scripts na cena pedagógica. Referências: AMORIM, C. e KRUZINSKI, S. As implicações sociais na construção da indisciplina. 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