PSICOLOGIA HOSPITALAR DEFINIÇÃO A Psicologia Hospitalar é uma das áreas de especialidade da Psicologia no Brasil, regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia no ano 2000. É o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento. Está voltada tanto para doenças com causas psicológicas, psico-somáticas, mas também aos aspectos psicológicos existentes em toda e qualquer doença. CARACTERÍSTICAS O trabalho no hospital é focal, centrado no sofrimento do adoecer e suas repercussões. Diferentemente do consultório, o trabalho pode ser interrompido ou adiado. Exige uma postura de apoiar o paciente e sua família após um diagnóstico grave ou realizar um trabalho psicológico em tempo muito mais curto do que o ideal. É preciso ter objetivos e instrumentais próprios, e que devem estar embasados numa filosofia de humanização, onde o psicólogo buscará fazer prevalecer os direitos humanos, respeitando o paciente, seus familiares, os colegas de trabalho, enfocando sempre uma forma de atendimento ou de procedimento que conduza a uma participação de todos, de um modo co-responsável. O psicólogo necessita ter uma formação acadêmica complementada por cursos de extensão, especialização, assim como experiências adquiridas por estágios. OBJETIVOS O objetivo principal do psicólogo hospitalar seria o atendimento global ao paciente, entendido como um todo provido de sentimentos, emoções, razão, dificuldades, sonhos, como também os seus aspectos espirituais; e o tratamento do sofrimento provocado pela hospitalização, que seriam as seqüelas e decorrências emocionais. (Alamy, 2007) São inúmeros os objetivos do trabalho do psicólogo hospitalar frente às diversas conseqüências dolorosas pelas quais passam o doente e todos aqueles que o circundam. Apontaremos aqueles, que talvez sejam os mais relevantes, que podem ser alcançados pelo atendimento psicológico: 1) Deixar que o doente expresse suas emoções (através da linguagem verbal e não verbal), ou seja, oferecer ao doente uma escuta diferenciada. 2) Permitir um ambiente onde o paciente possa descobrir como lidar de maneira satisfatória com suas limitações, impostas pela doença/hospitalização. 3) Ajudá-lo a dar um significado à sua doença dentro de seu contexto de vida. 4) Dar prioridade as questões emergenciais trazidas pelo paciente. 5) Dar suporte ao doente e à sua família, na internação ou no ambulatório. 6) Decodificar o não-dito avaliando as demandas: do paciente, do médico e de outros envolvidos. 7) Totalizar o paciente, sem fragmentá-lo à apenas um órgão doente. 8) Restabelecer “totalmente” ou preventivamente a sua saúde psíquica ao ponto de origem do desequilíbrio, ou seja, no momento do diagnostico medico ou da internação. Para que o papel do psicólogo tenha efeito, é essencial que seu trabalho não seja isolado, mas que seja realizado dentro de um contexto multi e interdisciplinar. É também extremamente relevante que o psicólogo reflita, repense, questione, centrando a atenção em si mesmo e depois no(s) outro(s), possibilitando uma mobilização conjunta com a equipe de trabalho. A vivência deste papel no dia-a-dia, é que vai favorecer o seu desenvolvimento e crescimento, gerando respostas espontâneas e criativas a partir da exploração de seu potencial interno na sua prática. REFERENCIAL TEÓRICO Psicanálise: A Psicanálise busca não se fechar em grupos e guetos, nem se organizar através da repetição de conceitos, significantes e aforismos. Insiste enquanto pratica e na análise própria enquanto “garantia” do lugar de analista. A medicina vai escutar o chamado respondendo também prontamente a este, porém sendo a dimensão do tempo do sujeito eliminada. Trata o corpo do doente dirigindo seus cuidados para os signos e sintomas do paciente. Diferentemente, a psicanálise, ao escutar o chamado na urgência subjetiva, vai articular a pressa exigida pela situação ao tempo do sujeito que precisará advir. Humanista: Uma determinada pessoa numa situação de hospitalização, mesmo sem negar a influencia do passado em sua conduta e até mesmo em sua recuperação física, ainda assim não cometeremos erro ao afirmarmos que a situação de hospitalização será algo único enquanto vivência, não havendo a possibilidade de previsão anterior a sua própria ocorrência. O psicólogo tem como seus principais objetivos levar o paciente ao autoconhecimento, ao auto-crescimento e a cura de determinados sintomas para assim possibilitar uma nova reestruturação existencial quando do restabelecimento orgânico, ou numa reestruturação vital no caso de doenças crônicas. Comportamental O objetivo do trabalho do psicólogo na saúde é focal, tende a lidar com os comportamentos que mantêm a doença e promovem a saúde. O analista do comportamento estará diretamente lidando com as contingências em operação no ambiente institucional e também com regras que poderão governar o comportamento do cliente em seu ambiente natural, e que envolverão adesão ao tratamento, prevenção, controle de recaídas, etc. Um dos pontos cruciais desse processo é a sistematização do trabalho, o que envolve observação direta e registro de comportamentos e de sua relação com o ambiente. Para isso, o trabalho do psicólogo inclui entrevistas com o paciente, sua família e a equipe profissional, para obtenção de informações como história e hábitos de vida e mudanças ocorridas após o adoecimento, aplicação de escalas para avaliação do comportamento e observação direta do comportamento. Com base em dados obtidos com tais procedimentos, são planejadas as intervenções e construídas, ou escolhidas, as medidas que irão avaliar os resultados da intervenção. PRÁTICA A atuação do psicólogo é dirigida aos problemas psiocoafetivos oriundos da doença e/ou hospitalização; e nesta, também estão incluídos a família e o corpo médico. Alamy (2007) afirma que um organismo deprimido reage mais passivamente a um tratamento e esta “disfunção” poderá ser reativa, desequilibrando uma área social ou a área psicológica. Os atendimentos são voltados para os sintomas emergenciais da doença desencadeante, dos problemas psicoafetivos. Sua intervenção será na forma do paciente conhecer e vivenciar os problemas gerados pela patologia orgânica, pela hospitalização, pelos tratamentos e pela reabilitação, concebendo ao paciente uma assistência mais humanizada. Camon (1999) reforça que a formação do psicólogo é falha em relação aos subsídios que possam embasá-lo na pratica institucional. Essa formação acadêmica, sedimentada em outros modelos de atuação, não o provê com o instrumental teórico necessário para uma atuação nessa realidade. Apenas recentemente esta prática mereceu preocupação dos responsáveis pelos programas acadêmicos em Psicologia. As técnicas de atendimento variam de acordo com as necessidades do paciente e princípios do psicoterapeuta, indo desde uma escuta analítica até uma intervenção direta e auxiliar como: relaxamento, cartões desenhados, espelho, brinquedos, desenhos e outros mais... PÚBLICO ATENDIDO: Ao psicólogo hospitalar cabe o atendimento às pessoas que tenham alguma alteração orgânico-física, que seja responsável pelo desequilíbrio em uma das instâncias biopsico-social, quer estejam internadas no ambulatório ou ainda em consultórios. Cabe ressaltar que, como esse sofrimento vai além do doente, também a família e toda a equipe de trabalho hospitalar são consideradas demandas do trabalho do psicólogo hospitalar. “Tão importante quanto conhecer a doença que o homem tem, é conhecer o homem que tem a doença.” (Osler) REFERÊNCIAS: ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar. 2ªed. Belo Horizonte: Ed. Do autor, 2007. CAMOM, V.A.A.et al. Psicologia Hospitalar: teoria e prática. 2ªed. São Paulo: Pioneira, 1995. CAMPOS. T.C.P. Psicologia Hospitalar: a atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo: EPU, 1995. KERBAUY, Raquel Rodrigues (org). Comportamento e Saúde. Explorando alternativas. São Paulo: ARBytes editora, 1999. MOURA.M.D. Psicanálise e Hospital. 2ªed. Belo Horizonte: Revinter, 2000.