DERMOIDE EM UM CANINO - Relato de Caso

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DERMOIDE EM UM CANINO - Relato de Caso
CENTENARO, Vanessa Bridi1 ; SILVEIRA, Rafaela Prestes da2; POZZER, Clarice
Bachinski3; BAUMHARDT, Raquel4; AMARAL, Anne Santos do5
Palavras-Chave: Coristoma ocular. Anormalidades oculares. Córnea.
Introdução
Dermoide ocular é uma massa congênita benigna ectodérmica e de origem
mesodérmica que geralmente afeta a região límbica lateral, mas também pode envolver a
córnea, esclera, conjuntiva, pálpebras, ou membrana nictitante1. São malformações
coristomais que envolvem tecidos oculares e perioculares7.
Nos seres humanos, dermoides límbicos representam o mais comum tumor ocular
benigno na faixa etária pediátrica5. Dermoides também têm sido relatados em muitos animais
domésticos, incluindo caninos, equinos, bovinos, ovinos, suínos, felinos3, coelhos9,10 e
cobaias11.
Dermoides de córnea foram classificados em três tipos gerais: o primeiro tipo é
dermoide límbico ou epibulbar, que é o mais frequente e a forma menos grave, e ocorre mais
comumente no limbo temporal; o segundo tipo é um dermoide grande cobrindo toda ou quase
a totalidade da córnea, que pode se estender profundamente no estroma, mas preserva a
membrana de Descemet e o endotélio corneano; o terceiro tipo de dermoide envolve todo o
segmento anterior4.
Ceratectomia superficial é o tratamento de escolha para a remoção de dermoides que
envolvem a córnea. O transplante de tecidos é uma das cirurgias de apoio para a reconstrução
da superfície ocular. A excisão de um dermoide sobre a córnea normalmente deixa um defeito
na córnea que requer um processo de tratamento como quaisquer outras ulcerações na
córnea2,8.
1
Graduanda em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, RS.
[email protected]
2
Graduanda em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, RS.
[email protected]
3
Residente da área Clínica Médica na Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, RS. [email protected]
4
Mestranda da Pós Graduação em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais na Universidade Federal de Santa
Maria, UFSM, RS. [email protected]
5
Professora Adjunta Doutora em Clínica Médica de Pequenos Animais na Universidade Federal de Santa Maria,
UFSM, RS. [email protected]
Metodologia
Foi atendido no Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal de Santa
Maria (HVU-UFSM) um canino, de quatro meses de idade, fêmea, da raça Shih Tzu. Foi
relatada a presença de pelos no centro do globo ocular há dois meses. O animal recebera
tratamento com colírio de tobramicina, porém não houve melhora do quadro clínico. Ao
exame físico não foram observadas outras alterações.
No exame oftalmológico, o olho direito revelou presença de uma placa elevada com
projeção de pelos no canto temporal do olho; os pelos cresciam em direção ao canto medial,
recobrindo a córnea. Foi prescrito o uso de lubrificante ocular à base de poliacrílico por trinta
dias e retorno para agendamento da cirurgia após a conclusão do protocolo vacinal mínimo.
No retorno, o teste da fluoresceína revelou presença de ulceração corneal superficial
associada aos pelos (Fig. 1), sendo prescrito colírio à base de tobramicina a cada 4 horas por
uma semana, até a realização da cirurgia. Não foram observadas alterações no olho esquerdo.
Figura 1 – Dermoide localizado no canto temporal do olho direito de um canino Shih Tzu, quatro
meses de idade, com pelos se estendendo sobre a superfície corneana. Observa-se a retenção de
fluoresceína em uma úlcera de córnea localizada abaixo dos pelos.
O dermoide, que invadia as camadas superficiais do estroma corneano, limbo e
conjuntiva, foi removido por ceratectomia lamelar, formando-se um defeito corneal (Fig. 2A).
Após a remoção do dermoide, foi realizado um flap de terceira pálpebra (Fig. 2B) e a lesão
tratada como úlcera corneal profunda. O animal recebeu alta com a prescrição de sulfato de
atropina uma vez ao dia (SID) durante três dias, tobramicina oftálmica a cada seis horas
A
B
(QID) e lubrificante ocular à base de hipromelose QID por duas semanas.
Figura 2 – Defeito produzido sobre a córnea e a conjuntiva após a exérese cirúrgica do dermoide (A),
que foi recoberto com um flap de terceira pálpebra (B).
Após duas semanas, o flap de terceira pálpebra foi removido, observando-se a
cicatrização da lesão e formação de cicatriz. Foi prescrita a aplicação de colírio a base de
dexametasona 0,1% para retração da cicatriz.
Resultados e Discussões
Em animais, dermoides oculares ocorrem na conjuntiva, pálpebras ou córnea.
Dermoide conjuntival pode ser encontrado em qualquer lugar da conjuntiva e pode invadir a
córnea, estando associado a uma variedade de sinais clínicos. Estes crescimentos muitas vezes
são diagnosticados quando são notados pelos longos característicos no globo e estão
presentes, concomitantemente, irritação conjuntival com ceratite e blefarospasmo. Na maioria
dos casos, essas complicações são leves e resolvem-se com a remoção do dermoide9.
Entretanto, no paciente atendido no HVU-UFSM, houve ulceração corneal como
consequência do trauma produzido pelo contato dos pelos com a córnea.
As opções cirúrgicas vão desde a excisão simples e ceratectomia lamelar superficial
até ceratoplastia com enxerto córneo6. No paciente descrito neste relato, a ceratectomia
lamelar com cicatrização do defeito por segunda intenção foi suficiente para o manejo
adequado do dermoide.
Conclusão
Dermoide ocular deve ser considerado como diagnóstico diferencial para anormalidades
na córnea de caninos. Este tipo de alteração congênita pode ser notada em animais jovens, e a
presença de pelos no globo ocular poderá prejudicar a visão do animal e mesmo levar à
formação de úlcera de córnea. A remoção cirúrgica é o tratamento de escolha e o tipo de
cirurgia depende da profundidade e dimensão da lesão.
Referências
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