MOVIMENTAÇÃO DENTÁRIA ORTODÔNTICA NAS ALTERAÇÕES SISTÊMICAS CAUSADAS PELA OSTEOPOROSE DENTAL ORTHODONTIC MOVEMENT IN SYSTEMIC CHANGES CAUSED BY OSTEOPOROSIS Sérgio Spezzia1 RESUMO A osteoporose é uma doença osteometabólica caracterizada por perda de massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo com consequente fragilidade óssea e maior suscetibilidade à fraturas. Na osteoporose predomina atividade osteoclástica e reabsorção óssea. A taxa de movimento dentário depende da atividade de reabsorção e remodelação óssea no lado de compressão do ligamento periodontal, portanto alterações na remodelação óssea induzidas por fatores sistêmicos, como as que ocorrem nas doenças do metabolismo ósseo, mais especificamente na osteoporose, afetam a movimentação dentária por meio do envolvimento com o osso alveolar. O objetivo deste artigo foi o de analisar como procede a movimentação ortodôntica, concomitantemente à presença de osteoporose instalada. Ficou evidenciado que o conhecimento global dos princípios básicos da movimentação ortodôntica induzida e dos mecanismos de influência dos medicamentos sobre o tratamento ortodôntico, bem como as condições sistêmicas e locais, são imprescindíveis ao ortodontista. Concluiu-se que o ortodontista deve ter conhecimento do quadro sistêmico de seus pacientes, como nos casos em que estes encontram-se afligidos por osteoporose, deve-se ter noção de quando será possível ou não intervir e que estando a doença mantida sob controle, pode-se alcançar os mesmos resultados e benefícios estéticos e funcionais obtidos em pacientes normais, possibilitando de certa forma, melhora da qualidade de vida do paciente. UNITERMOS: Osteoporose; Movimentação Dentária; Remodelação Óssea; Reabsorção Óssea. INTRODUÇÃO A movimentação dentária ortodôntica consiste na movimentação da coroa e das raízes localizadas no alvéolo ósseo. Essa mov imentação pode desenvolver-se sob forma de movimentação pendular ou sob movimentação corporal. O modo de aplicação da força, a quantidade, duração e direção pode ser mesclada de diferentes formas, obedecendo sempre o planejamento feito pelo ortodontista, indo de encontro a escolha do aparelho ortodôntico a ser usado. Em muitasocasiõesdescuida-se do conceito biológico, levando em consideração apenas o conceito mecânico1. Segundo Graber et al.1 (2012), a consciência do tecido é um pré-requisito vital da mecânica ortodôntica. Deve-se ter, pois uma ideia clara sobre os perigos do uso dos aparatos sem respeito ao meio biológico em que se trabalha. Sempre que possível, deve-se preferir aparatos que exerçam forças suaves e usar técnicas que efetuem o menor movimento possível nos dentes, ou em diversos grupos de dentes. Não se deve duvidar que os movimentos ortodônticos fazem-se em tecidos vivos, o que deve prevalecer primeiramente, vindo depois os parâmetros mecânicos. A taxa de movimento dentário depende da atividade de reabsorção óssea e remodelação óssea no lado de compressão do ligamento periodontal, portanto, alterações na remodelação óssea induzidas por fatores sistêmicos; doenças do metabolismo ósseo, como a osteoporose; idade, ou o uso de fármacos (bisfosfonatos), afetam a movimentação dentária por meio do envolvimento com o osso alveolar. Para o sucesso da movimentação ortodôntica, faz-se necessário um exame clínico e radiográfico e uma anam nese bem reali zados, que trarão informações importantes, colaborando na delimitação da atuação do profissional2. 1 Cirurgião Dentista. Especialista em Saúde da Mulher no Climatério pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Especialista em Adolescência para Equipe Multidisciplinar e em Gestão em Saúde pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP). Especialista em Gestão Pública pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Mestrando em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria pela EPM/UNIFESP. Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 55-60, Julho/Dezembro, 2015 55 O objetivo deste artigo foi o de analisar como procede a movimentação ortodôntica, concomitantemente à presença de osteoporose instalada. MATERIAL E MÉTODO Realizou-se uma revisão de literatura, efetuando busca nas bases de dados bibliográficas: PubMED, LILACS. Foram considerados válidos artigos publicados nos idiomas inglês e português. No PubMED utilizaram-se os descritores: “osteoporosis”, “orthodontic movement” e no LILACS: “osteoporose”, “movimentação ortodôntica”. Os critérios de inclusão lev aram em consideração estudos que abordavam alterações sistêmicas causadas pela osteoporose, bem como a relação que existe entre essa doença óssea e a movimentação dentária ortodôntica. Os critérios de exclusão consideraram como não pertencentes a pesquisa bibliográfica, artigos que tinham conteúdo voltado também para outras alterações sistêmicas, que não a osteoporose e que podiam ter relação com a movimentação ortodôntica. Foram encontrados no PubMED 36 artigos, dos quais 12 foram excluídos por não se enquadrarem aos critérios de inclusão adotados. Na base LILACS encontrou-se apenas 7 artigos e todos foram aproveitados. RESULTADOS Por intermédio de leitura seletiva e analítica dos estudos levantados foram selecionados os pontos com os principais elementos de argumentação teórica, envolvendo o contexto em pesquisa. A análise realizada procurou delinear uma base conceitual de tal maneira que pudesse ser transcrita, complementando-se entre si, de modo a permitir consultas futuras bastante especificadas acerca deste conteúdo. Algumas das principais considerações obtidas nos artigos consultados estão descritas na sequência. Os mov imentos dentários de rotação, translação, intrusão e extrusão quando corretamente realizados, levando-se em consideração os aspectos biológicos com uma adequada mecânica e um planejamento satisf atório são perf eitamente justificáveis, tendo como principal objetivo atender às necessidades imediatas de pacientes portadores de anomalias de posição dentária. Denomina-se de força ortodôntica aquela força que é capaz de produzir movimento dentário sem prejuízo para o dente e para as estruturas de suporte. Sob o ponto de vista da aplicação de força, existem zonas para intervenção ortodôntica, sendo elas: zona de pressão (oposta ao lado de aplicação da força, onde ocorre reabsorção) e zona de tensão (do lado da aplicação da força, onde há aposição óssea) 1,2. Para que o dente possa ser movimentado sem ressalvas, existe necessidade de se aplicar força tal que seja capaz de realizar o movimento preterido sem ocasionar, concomitantemente riscos indesejáveis para os tecidos dentários, periodonto e para o tecido ósseo. Quando a força é aplicada ao dente, deve-se analisar o que ocorre nos tecidos dentários durante sua ação contactante, pode-se traçar parâmetros acerca de qual é a carga necessária para ser usada, se contínua ou intermitente, bem como se pode definir qual deve ser a direção da aplicação de força a ser traçada para que se mostre eficaz. A habilidade desempenhada ao se realizar mov iment os ortodônticos est á int imamente relacionada aos conhecimentos sobre teoria mecânica, bem como está intrinsecada a resposta dos tecidos bucais à aplicação de força e as observações clínicas baseadas no conhecimento acumulado de biomecânica1,2. Os modelos matemáticos de forças, assim como as demonstrações histológicas de mudanças celulares devem ser controladas pela experiência clínica, já que existem variáveis ainda desconhecidas em termos e que são pertinentes ao movimento dentário. Segundo Isaac Newton, todo corpo permanece em estado de repouso ou de movimento uniforme em linha reta, a menos que seja obrigado a mudar esse estado pelas forças impostas sobre ele. Força é a ação de um corpo sobre outro, sob forma de tração ou empuxão. Possuindo magnitude, direção e um ponto de aplicação. Existem f orças contínuas, dissipantes, intermitentes e funcionais. Os movimentos dentários ocorrem e são denominados, conforme a direção da aplicação da força, podendo ser: inclinação, translação, rotação, intrusão, extrusão, torque1,2. A movimentação dentária pela aplicação de forças ortodônticas é o resultado de uma resposta biológica à interferência no equilíbrio fisiológico do complexo dentofacial por aplicação de uma força externa3. Inicialmente ocorre a liberação de mediadores químicos em resposta ao estímulo mecânico, que deforma os tecidos paradentais, desencadeando o processo biológico de reabsorção óssea4. A transdução direta da força mecânica ortodôntica para a célula estressada é realizada através de mensageiros contidos no citoplasma3, levando à ativação de genes específicos e, consequente produção e liberação de várias citocinas, moléculas de sinalização bioquímicas locais e neuropeptídios para o meio extracelular5. Essas substâncias interagem direta ou indiretamente com a população de células paradentais nativas, promovendo adesão dos leucócitos circulantes às células endoteliais ativ adas, dilatação dos v asos sanguíneos e consequente extravasamento do plasma e migração, por diapedese, destas células para o compartimento extravascular. Essa fase dura de 24 horas a 2 dias em humanos3. Pode considerar-se duas classes diferentes de movimentos dentários: movimento fisiológico e movimento ortodôntico. Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 55-60, Julho/Dezembro, 2015 56 Um exemplo de movimento fisiológico é o que ocorre quando o tecido ósseo que está em constante reorganização, produz movimento no dente que suporta. O movimento mesial normal serve de exemplo sobre como agem forças ortodônticas suaves. O movimento normal dos dentes nesses casos, pode ser devido pressão do terceiro molar ao fazer erupção; por desgaste proximal e pelo cerramento característico dos arcos em forma de tijela, fazendo pressão sempre adiante. Durante o movimento mesial ocorrem fenômenos de reabsorção do osso adiante do dente e de aposição detrás dele. A reabsorção é feita pelos osteoclastos. A aposição óssea se faz em forma de lâminas concêntricas, que são depositadas por osteoblastos. Os osteoblastos depositam uma matriz orgânica conhecida como osso osteóide, que se calcifica depois, com depósito de sais calcáreos na matriz. Sabe-se que o tecido osteóide é mais resistente a reabsorção. Na realidade, é difícil que os fenômenos de reabsorção e aposição ósseas se produzam claramente delimitados, pois o dente sofre movimentos imperceptíveis em várias direções, e portanto podem encontrar-se unidos nas mesmas zonas, os osteoclastos e os osteoblastos. Durante o movimento dentário existem breves períodos de repouso, nos quais se forma matriz óssea e se reorientam as fibras da membrana periodontal. A maioria dos autores descreve um fulcro como um ponto imaginário em que se aplica a força. Ponto esse sobre o qual vai girar o dente. Quando se move um dente, produz-se zonas de tensão, pressão e deslizamento. A tensão é produzida do lado em que atua a força e se caracteriza por aposição óssea por ação dos osteoblastos. A pressão ocorre na zona contrária ao lado da aplicação da força com fenômenos de reabsorção óssea por ação dos osteoclastos1,2. O deslizamento é produzido por afronte da superfície radicular com as paredes do alvéolo. Existe em quase todos os movimentos, porém é maior na rotação, uma vez que nesse movimento há tensão e pressão. No deslizamento não há reação apreciável do osso alveolar e portanto, a adaptação a nova posição deve-se fazer na membrana periodontal com estiramento ou alargamento das fibras periodontais em direção igual a que atua a força, sendo esta a razão da tendência a recidiva que tem os movimentos de deslizamento das rotações1. Como consequência da pressão aparecem os osteoclastos no osso alveolar, produzindo uma reabsorção; no lado oposto, produz-se tensão com ação dos osteoblastos, produzindo tecido osteóide2. O osso é um tecido dinâmico e que se encontra em constante remodelação, mesmo se os processos de crescimento já tiverem cessado. A remodelação óssea constitui-se de um processo duplo, em que se verificam a remoção localizada de tecido ósseo e a aposição de novo tecido. Esse processo é complexo e requer a interação de diversas células, reguladas por uma variedade de fatores químicos e mecânicos. A principal razão para remodelação óssea é a adequação funcional do tecido, que o capacita a responder ao estresse mecânico e as cargas mecânicas impostas ao osso como ocorre na movimentação dentária induzida5. O envelhecimento individual é afetado em alto grau por fatores genéticos, dieta, condição social e ocorrência de doenças relacionadas com a idade, como a osteoporose. O envelhecimento é um fenômeno mundial, que decorre principalmente da melhora da assistência médica da população e do declínio das taxas de mortal idade 6,7 . Doenças cardíacas, artrit es, osteoporose e doenças reumáticas degenerativas são cada vez mais comuns nesse período8. A osteoporose é uma doença osteometabólica caracterizada por perda de massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo com consequente fragilidade óssea e maior suscetibilidade a fraturas por fragilidade9. Existe uma classificação da osteoporose em osteoporose senil e osteoporose pós-menopausa. Por volta dos quarenta anos de idade, inicia-se um processo lento e progressivo de perda óssea, resultando eventualmente no desenvolvimento de osteoporose, caracterizando-se pela redução da densidade mineral óssea e perda do conteúdo mineral desse tecido, configurando a osteoporose senil8. Outra forma de manifestação da doença ocorre com a redução estrogênica típica do período pósmenopausa, que acomete as mulheres, fazendo com que se instale a osteoporose pós-menopausa. A densitometria óssea é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 1994, como padrão ouro para o diagnóstico de osteoporose e é o método mais utilizado. É realizada na coluna lombar e no fêmur proximal, permitindo diagnóstico precoce da doença, avaliação do risco de fratura e monitoração do tratamento. A OMS definiu como normalidade, em adultos, a densidade mineral óssea (DMO) entre zero e ± 1 desvio padrão (DP) em relação aos valores médios mensurados em indivíduos jovens saudáveis (T-score). Osteopenia é definida por densidade mineral óssea entre –1 e –2,5 DP, e osteoporose por T-score abaixo de –2,5 DP10. Várias doenças sistêmicas podem acometer o sistema estomatognático, acarretando o seu desequilíbrio ou mau funcionamento, dentre as quais, encontra-se a osteoporose. Nos ossos maxilares ocorre também osteopenia e osteoporose com perda da massa óssea do processo alveolar e do osso alveolar propriamente dito. Os efeitos da osteoporose na cavidade bucal são representados pela redução do rebordo alveolar; diminuição da massa e densidade óssea maxilar (principalmente com redução da densidade mineral Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 55-60, Julho/Dezembro, 2015 57 óssea da mandíbula e do côndilo) e edentulismo confirmado. São também relatadas, diminuição da espessura óssea cortical, representada pelo aumento da porosidade cortical da mandíbula, a medida que aumenta a idade, com afilamentos na mandíbula e reabsorção na cortical inferior, visíveis nas radiografias panorâmicas11,12; severa reabsorção do rebordo residual; redução do número de trabéculas ósseas e consequentemente do volume ósseo na região interradicular13; extensa reabsorção óssea alveolar pós-exodontia, além de alterações periodontais, configurando a presença desta doença óssea como indicador de risco que contribuiria para a progressão da doença periodontal14,15. O tratamento da osteoporose ocorre através de condutas de avaliação médica e comumente pelo uso de medicamentos chamados bisfosfonatos, devido sua eficácia comprovada10. Sabe-se que os dentes podem ser movidos em qualquer idade. Deve-se ressaltar que, quando a saúde física geral do paciente está debilitada, deve-se reavaliar a necessi dade do tratam ento ortodônti co, independentemente da idade. Entretanto, quando estas enfermidades estão controladas e o paciente está sob acompanhamento médico, não representam um obstáculo para a movimentação ortodôntica. O conhecimento global dos princípios básicos da movimentação ortodôntica induzida e dos mecanismos de influência dos medicamentos sobre o tratamento ortodôntico, bem como as condições sistêmicas e locais, são imprescindív eis ao ortodontista, pois além de possibilitar o conhecimento aprofundado da resposta de cada paciente ao tratamento, pode levar ao desenvolvimento de métodos para acelerar a movimentação dentária1. A idade não representa um fator que inviabiliza a realização do tratamento ortodôntico, entretanto, uma anamnese detalhada auxilia no planejamento do tratamento e na realização de uma mecânica simplificada, a fim de atingir o objetivo de cada paciente. O paciente idoso apresenta várias diferenças quando comparado ao jovem, mas, quando o tratamento estiver bem indicado e o paciente esclarecido e motivado, esse paciente se torna um ótimo colaborador e se espera resultados bastante satisfatórios. São fatores a serem observados: enfermidades sistêmicas av ançadas (osteoporose); uso de medicamentos; má condição de saúde bucal; quantidade de osso alveolar; falta de motivação do paciente e impossibilidade de obtenção de estabilidade oclusal após a terapia ortodôntica1,2. A quantidade de osso alveolar na região a ser movimentada ortodonticamente é um importante fator a ser observado e determina o tipo de movimento a ser realizado16,17. Nesse quesito, pode interferir a presença da osteoporose, o que pode restringir a quantia de osso presente, devido reabsorção aumentada. Os pacientes idosos, em condições normais, apresentam uma diminuição das cristas ósseas, característica do envelhecimento, que pode ser agravada pela presença de doenças periodontais ao longo da vida17. Nesse contexto, os dentes com pouco suporte ósseo são passíveis de muita inclinação, pois o seu centro de resistência encontra-se deslocado para apical e para a sua movimentação são necessárias f orças ext remam ente suav es. Consequentemente, os movimentos de corpo tornamse mais difíceis. A partir do uso dos bisfosfonatos para controlar a osteopenia/osteoporose, e com a divulgação midiática deste grupo de drogas, procuram-se as bases bi ológi cas e f armacocinéti cas para compreender se existiriam implicações de seu uso na prática clínica ortodôntica. Os trabalhos referentes à movimentação dentária induzida relacionada a animais e pacientes sob administração de bisfosfonatos, considerando fatores, como: o tipo de bisfosfonatos, a posologia, a via de administração, o tempo experimental e o modelo de movimentação dentária induzida, não afirmam e nem revelam qualquer evidência de que o uso destas drogas contra-indica o tratamento ortodôntico simultâneo. Não há suporte, metodologias, evidências e resultados que permitam esta afirmação18,19. DISCUSSÃO Na atualidade o acesso da população ao tratamento ortodôntico tem aumentado. Ocorre que se faz necessário proceder a correções dentoesquelét icas em pacientes i nclusos nesse contingente populacional e que tem alterações sistêmicas, como a osteoporose. Nesse contexto, exigem-se novos conhecimentos acerca dos efeitos destas alterações no tecido dentário e ósseo envolvidos na movimentação dentária. Muitos estudos tem objetivado esclarecer os mecanismos e as interferências que podem ocorrer. A osteoporose é uma doença que não tem cura e que deve ser mantida sob controle por avaliação médica, quando necessário administram-se também medicamentos, visando a estabilização do paciente. Deve haver, portanto, conscientização por parte de todos profissionais de saúde contactantes de que os pacientes portadores dessa doença óssea são detentores desse quadro. Nesse contexto, deve-se enquadrar também o ortodontista, que ao proceder a realização de suas condutas clínicas deve certificarse das condições médicas que o paciente em voga possui. Se preciso for, o ortodontista pode contactar o médico (reumatologista, geriatra, f isiatra) responsável pelo tratamento realizado10. Pela gravidade que essa doença óssea representa é conveniente que ocorra interceptação do seu curso natural o quanto antes para que se evitem Revista Odontológica de Araçatuba, v.36, n.2, p. 55-60, Julho/Dezembro, 2015 58 danos ou sequelas, como fraturas, o que pode ser dispendioso para o paciente e causador de desconforto e sofrimento com a instalação de sintomatologia dolorosa20. Cada vez mais indivíduos pelo mundo, advindo do aumento da expectativa de vida vem manifestando características da doença. Muitos desconhecem que são portadores da doença e por vezes acabam sendo alertados acerca da suspeita diagnóstica no tratamento dentário durante a realização de consultas rotineiras, muitas vezes por intermédio da radiografia panorâmica, de uso muito comum e que permite visualizar radiograficamente, características clínicas da osteoporose no complexo ósseo maxilomandibular. Sempre que houver essa suspeita em âmbito odontológico, deve-se encaminhar o paciente para realização de confirmação médica do diagnóstico, que frequentemente é feito através da realização da densitometria óssea21,22. O papel do profissional de saúde bucal é auxiliar esses pacientes e orientá-los acerca da importância da confirmação desse diagnóstico, caso houver necessidade. Convém somar esforços para permitir que ocorra instituição de diagnóstico precoce para essa doença, pois caso contrário, pode haver acometimento por inúmeras sequelas e danos, que são manifestos se a doença por si só avançar sem que seja tratada23. A relação da osteoporose sistêmica com a osteoporose oral é um problema complexo, sendo motiv o de um grande número de pesquisas experimentais e clínicas24. São necessários, entretanto, maior número de trabalhos de pesquisa sobre a influência dos bisfosfonatos na movimentação dentária, tanto para ensaios de natureza clínica quanto para os experimentais. CONCLUSÃO Concluiu-se que o ortodontista deve ter conhecimento do quadro sistêmico de seus pacientes, como nos casos em que estes encontramse afligidos por osteoporose, deve-se ter noção de quando será possível ou não intervir e que estando a doença mantida sob controle, pode-se alcançar os mesmos resultados e benef ícios estéticos e f uncionais obtidos em pacientes normais, possibilitando de certa forma, melhora da qualidade de vida do paciente. ABSTRACT Ost eoporosis is a metabolic bone disease charact erized by loss of bone m ass and microarchitectural deterioration of bone tissue with consequent bone fragility and increased susceptibility to fractures. In osteoporosis predominant osteoclast activity and bone resorption. The tooth movement depends on the rate of resorption and bone remodeling activity in the compression side of the periodontal ligament, so changes in bone remodeling induced by systemic factors, such as occur in diseases of bone metabolism, specifically osteoporosis affect tooth movement by engaging with the alveolar bone. The objective of this paper was to analyze how proceeds orthodontic movement concurrently with the presence of osteoporosis installed. It was evident that the global knowledge of the basic principles of induced orthodontic movement and the mechanisms of influence of drugs on orthodontic treatment as well as systemic and local conditions, are essential to the orthodontist. It was concluded that the orthodontist must have knowledge of the systemic framework of their patients, as in cases where these are afflicted by osteoporosis, you should be aware of when it will be possible or not intervene and that the disease being brought under control, can achieve the same results and aesthetic and functional benefits in normal patients, allowing somewhat improve the patient’s quality of life. UNITERMS: Osteoporosis; Tooth Movement; Bone Remodeling; Bone Resorption. REFERÊNCIAS 1. Graber LW, Vanarsdal RL, Vig KWL. Ortodontia princípios e técnicas atuais - 5a. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. 2. Profitt WR, Fields Jr. HW, Sarver DM. Ortodontia Contemporânea. 4a. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 3. Krishnan V, Davidovitch Z. Cellular, molecular, and tissue-level reactions to orthodontic force. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2006; 129(4):469. e132. 4. Koyama Y, Mitsui N, Suzuki N, Yanagisawa M, Sanuki R, Isokawa K, et al. 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