O cenário da estrutiocultura e o caso de uma cooperativa

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O CENÁRIO DA ESTRUTIOCULTURA E O CASO DE UMA COOPERATIVA DE
PRODUTORES NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
[email protected]
Apresentação Oral-Evolução e estrutura da agropecuária no Brasil
FERNANDA SCHARNBERG BRANDÃO; ROBERTA DALLA PORTA GRÜNDLING;
JOÃO GUILHERME DAL BELO LEITE; BIBIANA PADILHA GARCIA.
UFRGS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.
O cenário da estrutiocultura e o caso de uma cooperativa de produtores
no estado do Rio Grande do Sul
Grupo de Pesquisa: Evolução e estrutura da agropecuária no Brasil
Resumo
O artigo trata do cenário da estrutiocultura no contexto internacional, nacional e regional,
discutindo mais especificamente o caso de uma cooperativa de produtores e criadores de
avestruz no estado do Rio Grande do Sul (CPARS). Apesar do desempenho promissor da
atividade nacional e internacionalmente, aquecido principalmente pelo aumento da
demanda no mercado europeu, o estudo demonstrou que para a CPARS a situação é
diferenciada. Assim, por meio de visitas técnicas e questionários enviados aos cooperados
foi possível identificar alguns entraves na atividade, relacionados principalmente a
comercialização dos produtos, e que podem ser condicionantes ao desempenho
insatisfatório da estrutiocultura regional.
Palavras-chaves: estrutiocultura, cenário Mundial, Brasil, Rio Grande do Sul, cooperativa.
Abstract
This article aims to analyze international, national and regional scenarios concerning
ostrich activity. We present the case about a cooperative of ostrich producers located at Rio
Grande do Sul /Brazil. Despite activity promising performance, especially considering
European market, this study shows that cooperative case is different. Therefore, we did
technical visits, sent questionnaires to cooperated and could identify some troubles in the
activity, mainly concerning ostrich products commercialization. This fact could determine
regional activity performance.
Key Words: Ostrich, World`s scenarios, Brazil, Rio Grande do Sul, cooperative.
1. INTRODUÇÃO
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Começa-se por definir o objeto deste estudo. O termo "estrutiocultura" vem do
latim struthio e significa “avestruz” e cultura é o mesmo que “criação” (WIKIPÉDIA,
2007). Enquanto atividade comercial é participante da cadeia da avicultura (AVE
WORLD, 2007), e tem se expandido ultimamente no agronegócio brasileiro e riograndense
de maneira significativa.
O avestruz (Struthio camelus), ave pertencente ao grupo das ratitas, tem ganhado
destaque como importante alternativa no setor de agropecuária, considerando seu grande
potencial para exploração racional como fonte de produtos como carne, couro, plumas e
outros (HUCHZERMEYER, 2000; CARRER & KORNFELD, 1999).
A exploração da estrutiocultura começou a partir do interesse por plumas. No
mundo, isto se sucedeu em meados do século XIX. Todavia, apenas nos fins do século XX
foi que a atividade despertou no Brasil, já com cunho comercial, hoje em dia adentrando
definitivamente em sua fase de industrialização (AVEWORLD, 2007).
Trata-se, neste trabalho, com vistas no promissor potencial do setor, de enfocar a
forma de organização de produtores mais encontrada dentro da conjuntura exposta da
estrutiocultura, qual seja, a cooperativa. Realizou-se, assim, um estudo de caso na
Cooperativa de Avestruz do Rio Grande do Sul, que abrange a região onde está situado o
Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (CEPAN) da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
Diante do exposto, os objetivos do presente artigo são apresentar o panorama do
cenário internacional e brasileiro da estrutiocultura e suas origens, bem como ilustrar a
organização da atividade no estado do Rio Grande do Sul e apresentar um estudo de caso
em uma cooperativa de criadores e produtores de avestruz do estado. O artigo é composto
por esta introdução (1), sendo apresentados na seqüência o método (2), o cenário da
estrutiocultura (3), bem como o caso da cooperativa de criadores de avestruzes (4) e as
considerações finais (5).
2. MÉTODO
Foi realizada visita técnica em duas propriedades de criadores de avestruz e na
cooperativa de criadores, localizadas em Porto Alegre/RS. As atividades integram a
disciplina de Tópicos Especiais em Agronegócios do Programa de Pós-Graduação em
Agronegócios e ocorreram em 4 de maio de 2007.
Para cumprir os objetivos do artigo, primeiramente foi feita uma revisão
bibliográfica acerca do tema, visando apresentar os cenários internacional, brasileiro e do
estado do Rio Grande do Sul e situar a estrutiocultura nesses contextos, correspondendo a
seção 3 do presente trabalho. A fim de apresentar o perfil dos criadores cooperados, foi
elaborado um questionário (anexo ao final do artigo) estruturado de onze perguntas
fechadas e uma aberta e enviado via correio eletrônico aos trinta e dois integrantes da
cooperativa. Deste total obteve-se o retorno de treze questionários, sendo que a partir das
suas respostas serão apresentadas as características mais relevantes dos cooperados e de
suas propriedades.
3. A ESTRUTIOCULTURA
2
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Nesta seção são apresentados os cenários internacional, nacional e regional no qual
se insere a estrutiocultura.
3.1 Cenário internacional
O termo estrutiocultura, que designa a atividade de criação racional de avestruzes,
origina-se do gênero Struthio a que pertence esta ave. A estrutiocultura moderna nasceu do
interesse que a sociedade do final do século XX e início deste tinha pelas plumas. As
plumas, de origem norte-africana, árabe e palestina, eram destinadas principalmente ao
comércio inglês e francês, para a produção de adornos de vestimentas e chapéus femininos.
Quando o número de avestruzes foi drasticamente reduzido devido à exploração
extrativista, iniciou-se um programa de domesticação e criação destes animais na Ásia,
América do Norte e América do Sul, e ainda por poucos fazendeiros na África do Sul, por
volta de 1850. Somente em 1853, a criação de avestruzes como atividade agropecuária
tornou-se viável, com a introdução de sistemas de cercas e da cultura de alfafa na África do
Sul, em 1860 (CARRER et al, 2004).
Em 1913, as plumas de avestruzes representavam o quarto item da lista de
exportações da África do Sul, após o ouro, diamante e lã. Ao final dos anos 20, houve
desaquecimento da demanda para o mercado de plumas, resultado dos efeitos sócioeconômicos da Primeira Guerra Mundial e do advento do carro a motor, acompanhado de
campanhas ecológicas que se colocavam contra o uso de plumas.
A crise no setor acentuou-se com a Segunda Guerra Mundial, fazendo com que os
rebanhos, que estavam em início de multiplicação e em processo de melhoramento, fossem
abatidos ou simplesmente devolvidos à sua condição natural, nas savanas africanas, onde já
haviam sido introduzidos, através do intercâmbio que existia entre as colônias britânicas do
início do século.
Em maio de 1945 foi fundada uma cooperativa, a ´Klein Karoo`, por 120 criadores,
na África do Sul, na região denominada de ´Little Karoo` e, atualmente, é a maior do
mundo. Esta retomada foi extremamente cautelosa e pautada em aspectos técnicos de
produção e de comportamento de mercados. O primeiro abatedouro de avestruzes foi
construído em meados da década de 1960, em Oudtshoom - África do Sul, para a produção
de ´Billtong`, uma espécie de carne seca, e também carne fresca para abastecer a região ao
redor do centro criatório (CARRER et al, 2004).
Atualmente, o mercado mundial de carnes, couros e plumas de avestruzes
experimenta um ´boom`, principalmente em países da Europa, Japão e nos Estados Unidos.
De fato, os produtos como a carne e couro de avestruz apresentam-se como alternativa na
produção de bens de qualidade para a demanda internacional da agroindústria, com
mercado praticamente globalizado. Além disso, pelas suas propriedades sensoriais e
nutritivas, a carne de avestruz constitui-se em um produto alternativo ao mercado da carne
vermelha bovina. No Brasil, convive-se com a possibilidade de crescimento do consumo
de alimentos, principalmente, no segmento de carnes, pois para alguns produtos ainda não
se atingiu os níveis de consumo observados nos países desenvolvidos (CARRER et al,
2004).
Nos Estados Unidos a criação comercial de avestruzes iniciou-se nos anos 1980.
Hoje países como Austrália e Israel são também reconhecidos como grandes e tradicionais
criadores. A criação comercial norte-americana do avestruz teve início na década de 1980,
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pela aquisição de animais de países vizinhos à África do Sul. A produção de avestruz na
Austrália e em Israel também se destaca na produção mundial, assim como em alguns
países da Europa: Espanha, Itália e França. A China, importadora dos produtos da
estrutiocultura da África do Sul, Estados Unidos e Austrália, tem incentivado oficialmente
a criação chinesa das aves, visando o mercado interno e o internacional, devido ao alto
valor agregado do couro e da carne do avestruz, abrindo-se novo pólo da estrutiocultura
mundial (BIANCO, 2006).
A África do Sul é o maior país produtor de avestruz, porém o consumo maior se
encontra estabelecido nos países da Europa, que dobrou o consumo de carne de avestruz
nos últimos tempos, decorrente dos problemas sanitários enfrentados pelo país, mas a
indústria do avestruz não estava preparada para atender essa demanda.
A Alemanha é o principal mercado da carne de avestruz no mundo. Desde o inicio
do século 20, uma fazenda na cidade de Hamburgo importou e aclimatou mais de cem
avestruzes. Outras fazendas pioneiras se estabeleceram na Itália e no sul da França.
Aproximadamente 80% da carne da África do Sul, Israel e Austrália seguem para a
Alemanha. A maior parte das importações é intermediada pela Bélgica e Holanda.
Quanto à produção, o país possui pequenos criadores que vendem a produção
diretamente ao consumidor final. A situação da França é muito semelhante a da Alemanha.
Na Itália, o consumo é maior na região norte do país, e maior parte da carne é importada da
África do Sul, Bélgica e Inglaterra. Em Portugal, encontra-se a carne em todos os grandes
supermercados e em muitos restaurantes. O consumo nesse país aumentou 40 vezes em 10
anos sendo que em Lisboa, 4% da população consome a carne. Devido a esse fator,
encontra-se o produto com um valor menor em relação aos demais países Europeus, devido
a grande quantidade importada da África do Sul. A Espanha especializou-se na produção
de avestruz, sendo o maior produtor da União Européia. É possível encontrar a carne em
lojas atacadistas. Na Inglaterra, o consumo se acentua em datas especiais, como natal,
sendo suprida por importações da África do Sul. Na Grécia, Dinamarca e países
escandinavos a carne de avestruz é vendida principalmente em restaurantes e lojas das
próprias fazendas, sendo a produção interna pequena e a demanda é atendida por
importações provenientes da Bélgica, Itália e Espanha. A Europa hoje constitui em grande
compradora de couro e carne de avestruz, é o maior mercado estratégico para os
fornecedores. A demanda pela carne, indicada pelo consumo europeu, foi de 9.940
toneladas em 1999, 12.920 em 2000 e 16.800 em 2001.
Na Figura 1, é apresentado o volume de exportação de carne de avestruz para os
principais países. No ano de 2003 estimativas realizadas para o rebanho mundial de
avestruzes apontavam o Brasil em lugar de destaque no ranking mundial, assumindo o
quinto posto em termos de maior produtor, com um rebanho atual de 120.000 cabeças. À
frente do Brasil encontram-se a África do Sul (1.000.000 de cabeças), Estados Unidos
(300.000 cabeças), União Européia (200.000 cabeças) e China (150.000 cabeças). Segundo
o relatório da União Brasileira de Avicultura - UBA (2005/2006) o número de aves
alojadas no país aumentou cerca de 90% no período, e suas perspectivas são de que caso
tal progressão se perpetue em poucos anos o Brasil poderá possuir o maior rebanho de
avestruzes do mundo.
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Figura 1. Exportações de carne de avestruz para os principais países no mercado internacional.
Fonte: Bianco (2006).
A tendência mundial de exportação de carne de avestruz indica que a África do Sul
é líder absoluta no mercado europeu. No começo do século XXI a África do Sul possuía
750 produtores registrados de avestruzes, preparados para exportação. A indústria do
avestruz gerou nesse país em 2001, uma receita de R$ 630 milhões. Por motivos religiosos,
em Israel não se come carne de avestruz. No entanto, o próprio governo israelense
incentivou a produção para a venda de subprodutos ao mercado internacional. A produção
de avestruzes nos Estados Unidos encontrou obstáculos para a colocação dos seus
subprodutos. A produção de aves aumentou bastante enquanto os produtos não eram
colocados no mercado, com a dificuldade acrescida de não existirem frigoríficos próximos
à produção das aves. Isso gerou um quadro de abandono dessa produção, persistindo no
mercado poucas empresas. Mediante o exposto, existe um grande potencial para a carne de
avestruz brasileira no mercado Europeu. Para atender a demanda e intensificá-la é preciso
superar alguns desafios, como por exemplo: freqüência na oferta, padronização dos cortes,
constância nos preços, qualidade do produto, marketing dirigido, e é preciso atingir o
padrão de qualidade exigido pelo país importador.
3.2 Cenário brasileiro
Recentemente, a estrutiocultura, produção de avestruzes para fins comerciais, tem
crescido de forma considerável enquanto segmento do agronegócio brasileiro, inserida na
cadeia produtiva avícola.
A Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil (ACAB) tem uma perspectiva
bem otimista:
Com um plantel em formação, de cerca de 200 mil aves distribuídas em
várias regiões do país, estima-se que sua plena industrialização, deva ocorrer
nos próximos 3 anos. O Brasil já mostra, através da experiência de seus
criadores, que a estrutiocultura é uma ótima opção econômica, pois o país
oferece boas características naturais tais como: clima, alimentos, mão-de-obra e
infra-estrutura pecuária de fácil adaptação (ACAB, 2007).
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No país, suas origens não remontam muitos anos. A constituição do rebanho
nacional foi inaugurada pela importação de reprodutores e matrizes de origem americana e
dos países do sul da África, em 1995. A qualidade genética de tais animais, todavia, teria
sido questionada, chegando a ser suposta a possibilidade de serem descartes dos rebanhos
dos exportadores. Não obstante, a importação dos animais só perdurou até fins de 1997,
sendo interrompida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
sob justificativa de proteção sanitária (BIANCO, 2006). Estudos apontam que,
provavelmente, os avestruzes importados teriam trazido parasitas (FACCINI et al, 2006).
Além disso, o avestruz enquanto ave exótica e por razão de ser incipiente a sua
criação no país, não existe muito conhecimento acerca das doenças que acometem esses
animais e que possam ter relevância econômica (PAIXAO et al, 2004). Está a cargo do
MAPA e das Secretarias da Agricultura e Meio Ambiente a regulamentação da criação de
avestruzes no país (ACAB, 2007), os próprios órgãos governamentais aos quais incumbiria
a elaboração de um programa de prevenção e controle das enfermidades nas condições
brasileiras, necessidade que se constata emergente (JAENISCH et al, 2005).
Os produtores brasileiros de avestruz têm se organizado em associações e
cooperativas, a fim de obter, de um modo geral, um compartilhamento do desenvolvimento
de tecnologias de produção, estratégias de marketing e de comercialização (BIANCO,
2006).
A Associação dos Criadores de Avestruzes do Brasil (ACAB), criada em novembro
de 1996 é o ente de maior representatividade dentro do país. Está sediada em São Paulo
(SP) e filiada à entidade maior do setor avícola, qual seja, a União Brasileira de Avicultura
(UBA).
O número de associados hoje, em todo o território nacional, aproxima-se de
trezentos, entre os quais as próprias Associações Regionais e Estaduais, como apresentado
no Quadro 1, o que representa 85% da produção brasileira (ACAB, 2007).
Quadro 1 – Associações brasileiras relacionadas à estrutiocultura
ASSOCIAÇÃO
Associação de Criadores de
Avestruz do Brasil
Associação Brasileira de
Estrutiocultura
Associação dos Empreendedores
Paulistas da Estrutiocultura
Associação dos Criadores de
Avestruz do Estado de São Paulo
Associação dos Empreendedores
Cearenses da Estrutiocultura
Associação de Estrutiocultura do
Ceará
Associação dos Criadores de
Avestruz do Ceará
Associação dos Criadores de
Avestruz do Paraná
Associação Baiana de Criadores
de Avestruz
Associação dos Criadores de
ACAB
SIGLA
ÁREA DE ABRANGÊNCIA/UF
Brasil
ABRE
Brasil
AEPE
São Paulo
ACAESP
São Paulo
AECE
Ceará
ASTRUCE
Ceará
ACACE
Ceará
AACP
Paraná
ABCAV
Bahia
ACAMS
Mato Grosso do Sul
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Avestruz do Mato Grosso do Sul
Associação de Criadores de
ACARS
Avestruz do Rio Grande do Sul
Associação dos Criadores de
ACAERJ
Avestruz do Estado do Rio de
Janeiro
Associação dos Criadores de
ACAMIG
Avestruz de Minas Gerais
Associação dos Criadores de
ACAVI
Avestruz do Vale do Itajaí
Associação Catarinense dos
ACCA
Criadores
Associação dos Criadores de
ACRIAGO
Avestruz de Goiás
Fonte: Adaptado de BIANCO (2006, p. 34-35).
Rio Grande do Sul
Rio de Janeiro
Minas Gerais
Santa Catarina
Santa Catarina
Goiás
A seguir, o Quadro 2 mostra as cooperativas dos criadores de avestruz por unidade
da federação. Em destaque no mesmo está a Cooperativa de Avestruz do Rio Grande do
Sul (CPARS), que é abordada na próxima seção deste trabalho.
Quadro 2 - Cooperativas brasileiras de criação de avestruz
COOPERATIVA
Cooperativa de Criação de
Avestruz de São Paulo
Cooperativa Nipo Brasileira de
Criadores de Avestruz
Cooperativa de Criadores de
Avestruz do Nordeste
Cooperativa de Avestruz Portal
do Pantanal
Cooperativa dos Criadores de
African Black do Brasil
Cooperativa Paranaense de
Avestruz
Cooperativa dos Produtores de
Avestruz da Bahia
Cooperativa de Empreendedores
da Pecuária do Avestruz
Cooperativa dos Criadores de
Avestruz e Emas do Estado de
São Paulo
Cooperativa dos Criadores de
Avestruz do Planalto Central
Cooperativa de Estrutiocultores
do Paraná
Cooperativa dos Criadores do
Avestruz do Mato Grosso
Cooperativa dos Criadores de
Avestruz da Amazônia
Cooperativa Cearense dos
Criadores de Avestruz
Cooperativa de Avestruz do Rio
SIGLA
ÁREA DE ABRANGÊNCIA/UF
COOPERAVESTRUZ
São Paulo
COONTRUZ
Paraná
COOVESTRUZ
Paraíba
COOAVESTRUZ
Mato Grosso do Sul
COOPERTRUZ
Minas Gerais
COPATRUZ
Paraná
COOPSTRUTHIO
Bahia
CEPA
Brasil
CEAESP
São Paulo
COCAPLAC
Distrito Federal
ESTRUTHIOPAR
Paraná
COCAMAT
Mato Grosso
COAVEZON
Rondônia
COCECAL
Ceará
CPARS
Rio Grande do Sul
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Grande do Sul
Cooperativa dos Criadores de
COOCRAM
Avestruz
Fonte: Adaptado de BIANCO (2006, p. 34-35).
Rondônia
3.3 A estrutiocultura no Rio Grande do Sul
No contexto específico do Rio Grande do Sul (RS) a estrutiocultura tem ganhado
relativa importância, considerando que essa exploração no estado é extremamente
recente. Em um breve histórico sobre a estrutiocultura no RS, segundo a Associação dos
Criadores de Avestruzes do RS (ACARS), em 1996 foi comprado o primeiro casal de
avestruzes por dois empresários sem o intuito da exploração comercial. No ano seguinte,
chegaram ao RS mais dois casais vindos de Cesarina, Goiás, nesse momento já buscando
a exploração da estrutiocultura visando comercialização. Para isso, orientações sobre
nutrição e manejo desses animais foram obtidas em São Paulo, onde a atividade já era
realizada há algum tempo. Primeiramente, os filhotes foram manejados em incubadoras
artesanais e somente depois de três meses foi profissionalizada a criação dos avestruzes.
Foi somente no final do ano de 2001, que se formou um grupo com poucos criadores de
avestruzes no RS, onde foi fundada a Associação dos Criadores de Avestruzes do RS
(ACARS) – atualmente já apresenta 39 associados. O objetivo dessa associação é a
divulgação do avestruz no estado e a inserção da estrutiocultura como um novo segmento
dentro do agronegócio.
A estrutiocultura se apresenta como uma atividade de diversificação de pequenas
propriedades rurais no RS. Entretanto, por se tratar de uma atividade relativamente
recente no estado são notórias as debilidades dessa exploração quanto à falta de
profissionalização no sentido de viabilizar economicamente essa atividade. Outro
agravante para comercialização é a dispersão dos pequenos produtores ao longo do
estado, o que traz dificuldades em termos da logística de todo processo. A seguir, são
apresentados no Quadro 3, os criadores associados à ACARS conforme sua distribuição
no estado do RS.
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Quadro 3 – Distribuição no RS dos Criadores de Avestruz associados a ACARS
Cidade da Criação
Glorinha
Porto Alegre
Viamão
Bom Jesus
Gravataí
Herval
Taquari
Vera Cruz
Água Santa
Arroio dos Ratos
Barra do Ribeiro
Camaquã
Canoas
Estrela
Feliz
Montenegro
Nova Santa Rita
Palmares do Sul
Pântano Grande
Paraí
Pelotas
Rio Grande
Rio Pardo
Santa Cruz
Sta. Vitória Palmar
São Sebastião Caí
Total
Número cooperados
5
3
3
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
39
Fonte: Adaptado de ACARS, 2007.
A fim de desenvolver a criação e comercialização dos produtos de avestruzes no
RS, a ACARS percebeu a necessidade de cooperação dos criadores para garantir a
eficiência dessa exploração. Para isso, os produtores ligados à associação criaram a
Cooperativa de Produtores de Avestruz do RS (CPARS), onde atualmente 32 produtores
são cooperados.
Segundo dados da própria ACARS, atualmente, há cerca de 120 criadores de
avestruz no Estado, mas somente um terço deles são associados. A estrutiocultura no RS
ainda está em um processo de estruturação de sua cadeia produtiva. O plantel ainda é
pequeno, cerca de 5,5 mil cabeças, incluindo-se as matrizes, mas apesar disso é interesse
tanto para associação quanto para a cooperativa aumentar o número de produtores em
suas entidades para que, com uma escala maior de produção, consigam direcionar
recursos na organização da cadeia produtiva do avestruz e, conseqüentemente, na
fidelização dos clientes para seus produtos no mercado. Além disso, é necessário
desenvolver mecanismos a fim de melhor viabilizar a comercialização, o que é apontado
pelos criadores como um dos principais problemas.
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4. O CASO DE UMA COOPERATIVA NO RIO GRANDE DO SUL
Nesta seção é feita uma breve revisão acerca de cooperativas (item 4.1), bem como
é discutido o caso de uma cooperativa de produtores e criadores de avestruz do Rio Grande
do Sul.
4.1 Cooperativas
Cooperativa é uma espécie de organização da atividade econômica, tendo por
intenção a produção agrícola ou industrial, ou a circulação de bens ou de serviços,
constituída para o atendimento dos seus membros, não visando o lucro (DINIZ, 2005). Sua
regulamentação se dá pela Lei n. 5.764 de 1971, cujo artigo 4º, caput, dispõe que “as
cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de
natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados”
(BRASIL, 1998), complementada pelas disposições do Capítulo VII do Código Civil
Brasileiro, Lei n. 10.406, de 2002, e, vale anotar, algumas alterações foram realizadas pela
Lei n. 7.231, de 1984 (DINIZ, 2005).
Segundo Pinho (2004), cooperação é uma forma de processo social e pode ser
entendida como ação conjugada em que as pessoas se unem de modo mais ou menos
organizado para alcançar os mesmos objetivos. Sendo assim, a cooperativa pode ser
entendida como uma “empresa de serviço” cujo fim imediato é o atendimento das
necessidades econômicas de seus usuários, que a criam com seu próprio esforço e risco.
A autora acrescenta ainda que nas sociedades cooperativas existe “igualdade de
direitos e obrigações dos cooperados baseada, sobretudo, na norma estabelecida nas
assembléias-gerais de que cada associado tem direito a um voto (...) independente de sua
participação no capital social” (PINHO, 2004, p.121).
Segundo Perius (1983), que analisou a estrutura organizacional das cooperativas, o
ingresso do associado na organização é livre, bastando que tome a decisão de querer
cooperar, desde que isso traga benefícios que se resumem na maximização de remuneração
das atividades profissionais. A relação jurídica cooperativa é de natureza institucional,
porquanto se fundamenta na submissão a normas estatutárias, previamente estabelecidas.
Entretanto, nos últimos anos, observa-se que grande parte das cooperativas tem
estabelecido requisitos para o ingresso de associados, tais como especificação do produto a
ser recebido, quantidade, entre outras.
Este tipo de organização pode ser estruturado de diferentes maneiras: a estruturação
funcional, a estruturação representada pelas unidades estratégicas de negócios e a
estruturação por processos. A estruturação funcional é a mais comum, composta por: uma
assembléia-geral como órgão máximo de decisões; um conselho fiscal para cuidar da
execução orçamentária da cooperativa; um conselho de administração com atribuições de
proceder à gestão do empreendimento cooperativista; uma diretoria geral; e, gerência
financeira, de produção, marketing e recursos humanos (OLIVEIRA, 2001).
As cooperativas são orientadas por alguns princípios, por meio dos quais levam os
seus valores à prática, quais sejam: adesão voluntária e livre; gestão democrática e livre;
participação econômica dos membros; autonomia e independência; educação, formação e
informação; intercooperação; e interesse pela comunidade (OCB, 2005).
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Existem diversos tipos de cooperativas. Quanto à natureza de suas atividades, elas
podem ser classificadas nos ramos apresentados no Quadro 4. A cooperativa composta
pelos produtores de avestruz do Rio Grande do Sul integram o primeiro tipo, qual seja o
Agropecuário.
Quadro 4 - Classificação das sociedades cooperativas
TIPO
Agropecuário
Consumo
Crédito
Educacional
Especial
Habitacional
Infra-estrutura
Mineral
Produção
Saúde
Trabalho
DESCRIÇÃO
Composto pelas cooperativas de produtores rurais ou agropastoris e de pesca, cujos
meios de produção pertencem ao cooperante.
Composto pelas cooperativas dedicadas a compra em comum de artigos de consumo
para seus cooperantes.
Composto pelas cooperativas destinadas a promover a poupança e financiar necessidades
ou empreendimentos de seus cooperados.
Composto por cooperativas de professores, cooperativas de alunos de escola agrícola,
cooperativas de pais de alunos e cooperativas de atividades afins.
Composto pelas cooperativas constituídas por pessoas que precisam se tuteladas.
Composta pelas cooperativas destinadas à construção, à manutenção e à administração
de conjuntos habitacionais para o seu quadro social.
Composto pelas cooperativas cuja finalidade é atender, direta e prioritariamente, o
próprio quadro social com serviços de infra-estrutura.
Composto pelas cooperativas com a finalidade de pesquisar, extrair, lavrar,
industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais
Composto pelas cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos de bens e
mercadorias, sendo os meios de produção propriedade coletiva, através de pessoa
jurídica, e não propriedade individual do cooperante.
Composto pelas cooperativas que se dedicam a preservação e à recuperação da saúde
humana.
Composto pelas cooperativas de trabalhadores de qualquer categoria profissional, para
prestar serviço como autônomos, organizados num empreendimento próprio.
Composto pelas cooperativas que desenvolvem atividades na área de turismo e lazer.
Turismo
ou
Lazer
Fonte: PÉRIUS apud MAIA (2003).
O Quadro 5 apresenta o número de cooperativas por ramo de atividade com os
respectivos números de cooperados e de empregados. Observa-se que as cooperativas
agropecuárias existem em maior número que as demais, sendo 1.519 ao total no país, bem
como têm aproximadamente 940 mil cooperados e emprega aproximadamente 111 mil
pessoas.
Quadro 5 - Dados sobre as cooperativas brasileiras por ramo
Ramo
Agropecuário
Consumo
Crédito
Educacional
Especial
Habitacional
Infra-estrutura
Mineral
Produção
Saúde
Trabalho
Turismo ou Lazer
Cooperativas
1.519
158
1.115
303
7
314
172
34
113
878
2.024
12
Cooperados
940.482
1.920.311
1.439.644
98.970
2.083
104.908
575.256
48.830
9.559
261.871
311.856
396
Empregados
110.910
7.219
23.291
2.874
6
2.472
5.500
35
315
23.267
4.036
2
11
Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Transporte
Fonte: OCB (2005).
706
48.552
2.099
4.2 A cooperativa de criadores de avestruz do Rio Grande do Sul
A Cooperativa de Criadores e Produtores de Avestruz do Rio Grande do Sul
(CPARS) foi fundada em março de 2005, e está sediada atualmente no município de Porto
Alegre/RS.
Conforme o questionário enviado aos cooperados e já mencionado no método deste
trabalho, é possível apontar algumas características desses criadores. Em sua maioria são
sócio-fundadores, o que demonstra baixo ingresso de novos cooperados ao longo do
período de existência da cooperativa, sendo este fato reforçado pelo dado de que todos os
criadores estão na atividade num período igual ou superior a um ano.
As propriedades dos cooperados estão localizadas nos municípios de Vera Cruz,
Montenegro, Sapiranga, Taquari, São Leopoldo, Pantano Grande, Novo Hamburgo,
Gravataí e Rio Grande. O tamanho médio das propriedades é bastante variável, sendo que
em muitos casos sua área total é utilizada para outras atividades além da estrutiocultura,
como pode ser visualizado na Tabela 1.
Tabela 1 - Área das propriedades (ha) dos criadores e produtores cooperados
Média
DP
Mínimo
Máximo
Área total
15,60
18,73
2
60
Área
destinada
a
estrutiocultura
6,20
4,92
1,5
20
Fonte: Resultados da pesquisa.
Os cooperados em sua maioria apresentam um elevado nível de instrução sendo que
a maioria possui o terceiro grau completo ou pós-graduação. No que diz respeito à
motivação para ingressar na atividade os cooperados responderam que visavam o
incremento de renda da propriedade, no entanto, quando questionados sobre sua
rentabilidade todos apontaram a mesma como sendo pouco rentável, assim não
correspondendo à sua expectativa inicial.
O número de animais nas propriedades é bastante variável, dependendo da idade e
do tipo ou classe, como matrizes e reprodutores. Assim constata-se inexistência de
homogeneidade e regularidade de oferta ao longo do tempo, sendo um exemplo disto o fato
que a amplitude de animais para o abate variou de zero a duzentos e trinta.
Os cooperados destacaram a comercialização e os custos da produção como sendo
os principais problemas da atividade. Da mesma forma apontam dentre as principais
dificuldades o acesso aos canais de comercialização e divulgação dos produtos.
Inesperadamente a aceitação do produto pelo consumidor foi classificada em terceiro lugar
pelos cooperados, o que revela uma preocupação como a comercialização, porém esta é
desconexa com o consumidor.
Os cooperados, em sua maioria, conheceram a CPARS por intermédio da ACARS e
pelo contato com outros produtores. Os integrantes, de modo geral, não estão plenamente
satisfeitos com o desempenho da cooperativa, fato esse que pode estar relacionado às
12
Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
dificuldades encontradas e às expectativas que tinham no momento em que ingressaram na
cooperativa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo que foi até então exposto neste trabalho, a estrutiocultura apresenta-se como
uma atividade promissora quando se analisa os cenários internacional e nacional. Um
indicativo disto é o fato de que o rebanho brasileiro de avestruzes está aumentando,
incentivado pelo aquecimento do mercado internacional, a rusticidade e a adaptação do
animal às condições brasileiras, o que estimula a sua criação.
No entanto, quando se refere ao RS, o contexto é diferenciado. No caso da CPARS
o desenvolvimento da atividade ainda é muito incipiente. Algumas deficiências que se
pode constatar diante dos resultados é o fato de que os cooperados avaliam a atividade
como sendo de baixa rentabilidade, frustrando suas expectativas de lucro que os motivaram
a ingressar na estrutiocultura.
Outro aspecto importante é a preocupação com o acesso aos canais de
comercialização, o que possui relevância superior do que a própria aceitação do produto
por parte do consumidor. Além disso, esses fatores não são avaliados de forma conjunta
pelos cooperados. Essa situação determinou a condição de que atualmente existe um
desequilíbrio no mercado, uma vez que há oferta de produtos derivados da estrutiocultura
que não possuem demanda correspondente. Tal fato é condicionante no recente
engajamento da cooperativa no fomento e divulgação dos produtos da atividade a fim de
estimular o consumo dos mesmos, bem como incrementar a renda dos cooperados,
evitando a saída destes da criação de avestruzes.
Assim, pelos resultados obtidos há fortes indícios de que a comercialização dos
produtos parece ser o maior entrave ao desenvolvimento da atividade no estado do RS.
Desta forma, se as ações praticadas pela cooperativa surtirem o efeito para o qual foram
adotadas é possível que a estrutiocultura no estado atinja os níveis de desenvolvimento dos
líderes do setor no país e no mundo.
No entanto, não é descartada a hipótese de que outras ações possam ser
implementadas a fim de alcançar os objetivos dos cooperados, o que exigiria uma
reavaliação das ações atuais, sua real eficiência e as perspectivas vislumbradas para o
futuro da cooperativa.
REFERÊNCIAS
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