estágio único versus estágio múltiplo de incubação de - EVZ

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS
ESTÁGIO ÚNICO VERSUS ESTÁGIO MÚLTIPLO DE INCUBAÇÃO
DE OVOS FÉRTEIS PARA PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE
Mariana Alves Mesquita
Orientador: Prof. Dr. Emmanuel Arnhold
GOIÂNIA
2011
ii
MARIANA ALVES MESQUITA
ESTÁGIO ÚNICO VS ESTÁGIO MÚLTIPLO DE INCUBAÇÃO DE
OVOS FÉRTEIS PARA PRODUÇÃO DE FRANGOS DE CORTE
Seminário apresentado junto à
Disciplina Seminários Aplicados do
Programa de Pós-Graduação em
Ciência Animal da Escola de
Veterinária da Universidade Federal
de Goiás.
Nível: Mestrado
Área de Concentração:
Produção Animal
Linha de pesquisa:
Manejo e avaliação do sistema de produção
Orientador:
Prof. Dr. Emmanuel Arnhold – UFG
Comitê de Orientação:
Prof.ª Dr.ª Elisabeth Gonzales – UFG
Prof.ª Dr.ª Nadja Susana Mogyca Leandro - UFG
GOIÂNIA
2011
iii
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO..................................................................................
1
2
REVISÃO DA LITERATURA............................................................
4
2.1
O desenvolvimento embrionário.......................................................
4
2.2
Estocagem de ovos incubáveis........................................................
5
2.3
Requisitos físicos para a incubação artificial....................................
6
2.3.1 Temperatura.....................................................................................
7
2.3.2 Umidade Relativa.............................................................................
8
2.3.3 Trocas gasosas................................................................................
10
2.3.4 Viragem dos ovos.............................................................................
11
2.4
Estágio único vs estágio múliplo......................................................
11
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................
22
REFERÊNCIAS..........................................................................................
23
iv
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01
Temperatura da máquina durante incubação de ovos
em estágio único (-) e estágio múltiplo (-)......................... 13
FIGURA 02
Percentual de eclodibilidade em máquina de estágio
único e estágio múltiplo.................................................... 15
FIGURA 03
Percentual de mortalidade embrionária nas fases inicial,
intermediária e final de incubadoras de estágio único e
estágio múltiplo................................................................. 16
FIGURA 04
Resultados Zootécnicos (Peso aos 7 dias) de pintos
nascidos em sistema estágio múltiplo e estágio único..... 17
FIGURA 05
Ganho de peso de machos e fêmeas Ross 708 aos 56
dias de idade segundo o sistema de incubação............... 19
v
LISTA DE TABELAS
TABELA 01
TABELA 02
TABELA 03
TABELA 04
Análise comparativa do desenvolvimento de órgãos
internos de embriões incubados em situação de estágio
Múltiplo e estágio Único ......................................................
Resultados zootécnicos de aves incubadas em estágio
único e estágio múltiplo e criadas a 2.700 metros de
altitude..................................................................................
17
18
Parâmetros de qualidade de perna de frangos de corte
aos 56 dias de idade submetidos a 2 tipos diferentes de
sistemas de incubação........................................................
20
Percentual de frangos de corte de cada categoria de gait
score aos 56 dias de idade submetidos a 2 tipos
diferentes de sistemas de incubação..................................
20
1 INTRODUÇÃO
O
mercado
avícola
obteve
nas
últimas
décadas
uma
posição
extremamente representativa dentro das atividades agroindustriais do Brasil. A
cadeia produtiva da avicultura possui uma trajetória marcada por constantes
evoluções técnicas condicionadas pela elevada articulação entre os diferentes elos
que compõem esse complexo agroindustrial. Com isso, gradativamente efetivou-se a
conquista dos mercados interno e externo superando os diversos concorrentes na
oferta de proteína animal.
A produção brasileira de carne de frango no ano de 2010 foi estimada em
12,230 milhões de toneladas, representando um crescimento de 11,38% em relação
ao ano de 2009, quando foram produzidas 10,980 milhões de toneladas. Esse
crescimento foi impulsionado pelo aumento de consumo da carne de frango no
mercado interno e pela expansão das exportações. Esse desempenho fez com que
o Brasil se tornasse o terceiro maior produtor mundial, abaixo apenas da China cuja
produção de 2010 foi de 12,550 milhões de toneladas e Estado Unidos com uma
produção de 16,648 milhões de toneladas (UBABEF, 2010).
A produção industrial de pintos de corte é um dos setores de fundamental
importância no cenário da avicultura moderna. A incubação de ovos para produção
de frangos de corte é a origem da cadeia de produção sendo, portanto, de
fundamental importância para a rentabilidade final de todo segmento. Dessa forma,
o estudo e aprimoramento desse processo são imprescindíveis para a continuidade
do desenvolvimento setorial.
Nos
últimos
anos
a
avicultura
de
corte
nacional
aumentou
significativamente sua produção de pintos de um dia. No ano de 2010, a produção
alcançou aproximadamente seis bilhões de cabeças, crescimento de 7,9% sobre o
ano de 2009 (APINCO, 2011).
O processo produtivo do incubatório é descrito por BOERJAN (2006a)
como a entrada de ovos incubáveis e subseqüente transformação biológica desses
ovos em pintos de um dia, sendo necessário para isso fornecer condições ótimas de
manejo. O autor ainda reforça que as condições ambientais relacionadas ao manejo
interferem diretamente no desenvolvimento do embrião e na qualidade do produto
final.
2
A evolução da ciência avícola promoveu um encurtamento do período
total de produção de frangos de corte promovendo uma mudança acentuada na
proporção do tempo que o processo de incubação representa no período total entre
o início e o final de todo o ciclo de produção, que é de aproximadamente 64 dias.
Atualmente, o processo de incubatório representa 34% de todo o ciclo de produção
das aves. Sendo assim, o desempenho final de frangos de corte está diretamente
relacionado com os resultados obtidos na primeira semana pós-eclosão que, por sua
vez, depende da qualidade do desenvolvimento embrionário obtida durante o
processo de incubação.
Em virtude da intensificação da produção animal, da dinâmica dos
processos produtivos e das exigências impostas pelo mercado internacional, a
avicultura brasileira enfrenta um desafio constante que é a redução de perdas.
Analisando os maiores estados produtores de pintos de corte o custo
médio de produção é de aproximadamente R$ 0,80 por pinto. Baseando-se nesses
dados, a redução de perdas de até 1% com mortalidades, refugagem ou descartes
provocados por ambientes inadequados ou manejo incorreto poderiam ter gerado no
ano de 2010 um aumento de R$ 48.000.000,00 para a produção brasileira
(CAMARGO, 2011).
O incremento de 1% de pintos vendáveis poderiam ter gerado
aproximadamente 57 milhões de frangos de corte (5% de mortalidade) com 2,3 Kg
de peso vivo correspondendo a cerca 1,60 Kg de carne por ave. Sabe-se que em
julho do ano de 2010 a cotação no mercado do quilo de carne frango abatido foi de
R$ 2,19 (APINCO, 2011). Sendo assim, a avicultura de corte nacional obteria um
acréscimo de aproximadamente R$199.728.000,00.
As indústrias responsáveis pela incubação de ovos de frangos de corte
buscam constantemente maneiras para aumentar sua produtividade através do
aumento da eclodibilidade e melhora da qualidade e uniformidade dos pintos de um
dia. Uma possível solução para aprimorar esses resultados seria a mudança do
sistema de incubação em estágio múltiplo para a incubação em estágio único.
No sistema tradicional de incubação em estágio múltiplo uma mesma
máquina
de
incubação
comporta
embriões
em
diferentes
estágios
de
desenvolvimento. Em contrapartida, na incubação em estágio único a máquina é
carregada a cada ciclo comportando embriões em um mesmo estágio de
desenvolvimento. A presença de uma única idade cronológica dentro da máquina de
3
incubação possivelmente proporciona ao modelo de estágio único vantagens em
relação ao estágio múltiplo.
Dessa forma, objetivou-se com este seminário realizar uma revisão da
literatura sobre as principais diferenças existentes entre os sistemas de incubação
em estágio único e estágio múltiplo.
4
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 O desenvolvimento embrionário
O desenvolvimento embrionário se inicia aproximadamente três horas
após a fecundação no interior do oviduto da ave. O zigoto passa por sucessivas
divisões celulares, através de um processo de clivagem, originando os blastômeros.
A partir dessa etapa o embrião é referido como mórula. A clivagem continua até
formar um pequeno disco denominado de blastodisco e finaliza com a formação de
uma cavidade, a blastocele. Neste momento, o desenvolvimento embrionário entra
para o estágio de blástula e o blastodisco passa a ser denominado de blastoderma,
sendo formado de diversas células organizadas em uma espessa camada. Em
seguida, o blastoderma começa a se diferenciar em duas camadas germinativas,
iniciando a fase de gastrulação (GONZALES & CESARIO, 2003).
A gastrulação é o momento mais importante desde a fecundação e é
caracterizado principalmente, pelo início da transição de uma estrutura bidimensional (2D) para uma estrutura tri-dimensional (3D), sendo a formação do eixo
central do embrião o fenômeno mais importante, pois a partir daí terá início a linha
primitiva e a formação dos somitos, os quais originarão os órgãos da ave até a fase
adulta (BOERJAN, 2006a).
Durante a gastrulação três camadas de células se estabelecem:
endoderma, ectoderma e mesoderma. A camada de células denominada endoderma
origina o sistema respiratório, órgãos secretores e também contribuem para a
formação de várias partes do trato gastrintestinal. A ectoderma é a base principal
para a formação da pele, bico, cloaca, olhos e sistema nervoso. E a mesoderma é a
camada a partir da qual se originam os ossos, o sistema circulatório, excretório e os
órgãos reprodutores (GONZALES & CESARIO, 2003).
No momento da postura o blastoderma está em fase de pré-gástrula ou
gástrula e caso seja fornecido condições físicas ideais para que o processo de
incubação se inicie, o embrião passará por três fases distintas. Inicialmente ocorre a
diferenciação celular em que as células se tornam especializadas e inicia-se a
formação dos órgãos vitais do embrião.
Posteriormente, cada grupo celular
específico diferenciado inicia uma sequência de multiplicação e crescimento que
leva a formação de tecidos e órgãos. Uma vez que tecidos e órgãos vitais estejam
5
formados, tem início a maturação dos mesmos e o estabelecimento de suas funções
(DECUYPERE & MICHELS, 1992).
Para a consolidação das três etapas descritas acima, todo o processo de
desenvolvimento embrionário é dependente de reações bioquímicas, no qual ocorre
transformação de substrato em energia. O embrião utiliza principalmente o substrato
da gema para realização dessas conversões energéticas e sua composição permite
que os processos bioquímicos principais se resumam, em condições normais, à
transformação de lipídeos em energia (ATP), para que todos os outros processos
sejam realizados com eficiência pelo embrião. Todas as reações necessárias para o
desenvolvimento
embrionário
são
dependentes
de
fatores
físicos,
como
temperatura, umidade relativa e trocas gasosas, sendo a temperatura o parâmetro
mais importante. Todos os outros fatores físicos são secundários e atuam
sinergicamente com a temperatura (CALIL, 2007).
2.2 Estocagem de ovos incubáveis
Após a postura, os ovos férteis podem ser estocados por alguns dias sob
condições apropriadas sem perder a viabilidade e eclodibilidade (BOLELI, 2003).
O armazenamento dos ovos férteis é uma prática necessária nos
incubatórios, pois evita a mistura de ovos de diferentes lotes, idades, ou de lotes
com status sanitário duvidoso, além de permitir incubar uma maior quantidade de
ovos por vez (SCHMIDT et al., 2002).
Para assegurar o correto armazenamento dos ovos deve-se levar em
consideração o período de estocagem e principalmente, condições adequadas de
temperatura e umidade. (WILSON, 2002).
Após a postura, o ovo, que estava submetido a uma temperatura no corpo
da ave entre 40 e 41ºC, sofre um resfriamento. Essa queda de temperatura se deve
ao fato do embrião nas fases iniciais de desenvolvimento sofrerem influência direta
da temperatura do ambiente. Nos casos em que a temperatura ambiente for abaixo
de 24ºC o desenvolvimento embrionário é paralisado. Essa temperatura capaz de
paralisar o desenvolvimento do embrião é denominada zero fisiológico e é a
temperatura abaixo da qual os ovos devem ser mantidos durante o período de
estocagem (GONZALES & CESARIO, 2003).
6
Existem, entretanto, diversos estudos e algumas discordâncias entre os
autores com relação à temperatura ótima a ser utilizada durante o armazenamento
dos ovos.
Segundo CARTWRIGHT (2001), a temperatura de estocagem não deve
ser maior que 22ºC e menor que 8ºC e a umidade relativa deve ficar na faixa de 70 a
80%. SCHMIDT et al. (2002) afirmam existir uma relação direta entre tempo e
temperatura de estocagem sendo que para períodos curtos, os benefícios são
maiores em temperaturas relativamente altas (19 a 22ºC), enquanto que para
períodos superiores a 5 dias os benefícios são maiores a temperaturas mais baixas
ao redor de 16ºC.
Além da temperatura, a umidade da sala de armazenamento também é
considerada um ponto crítico. Para SCHMIDT et al. (2002) a umidade da sala de
estocagem deve estar entre 70 e 85%, para ajudar no controle da evaporação.
O tempo de armazenamento está diretamente relacionado com a taxa de
eclosão. Recomenda-se que o tempo de armazenamento seja de 2 a 4 dias.
Períodos longos de estocagem ocasionam aumento no período de incubação e
afetam negativamente a qualidade dos pintos de um dia e também o desempenho
dos mesmos na primeira semana de criação (TONA et al., 2003).
PEDROSO et al. (2006) estudaram o efeito do período de estocagem de
ovos de codornas e encontraram que os ovos armazenados durante seis dias
apresentaram cerca de 48,76% de mortalidade embrionária, valor bem superior aos
ovos estocados por três dias, que apresentaram 23,83% de mortalidade.
SCHMIDT et al. (2002) citam que ovos estocados por períodos curtos (2 a
4 dias) não requerem manejo especial, entretanto, para períodos mais longos é
necessária a utilização do sistema de viragem, idêntico ao da máquina de
incubação.
2.3 Requisitos físicos para a incubação artificial
A principal meta do incubatório é transformar biologicamente ovos férteis
em pintos de um dia no volume, prazo e qualidade desejados, minimizando a
incidência de anormalidades e contaminação, de forma a atender às necessidades e
expectativas da produção avícola, ao menor custo. Entretanto, a tecnologia de
7
incubação não foi desenvolvida no mesmo ritmo de áreas como nutrição, sanidade,
manejo e ambiência. Nos últimos anos é que fatores relacionados à incubação foram
reconhecidos como essenciais para o bom desempenho da ave (TONA et al., 2003).
As máquinas de incubação artificial devem proporcionar controle de
temperatura, umidade relativa e fluxo constante de O2 e CO2. Desvios desses fatores
em relação aos respectivos valores ótimos para a espécie ou linhagem e a duração
dos mesmos podem inviabilizar o desenvolvimento embrionário, resultando em um
aumento da mortalidade do embrião e conseqüentemente a diminuição da
eclodibilidade (PIAIA, 2005).
2.3.1 Temperatura
A temperatura é um dos fatores físicos que determinam o sucesso da
incubação. Conseqüentemente, é essencial determinar uma temperatura que
promova uma eclodibilidade mais elevada, garantindo a qualidade da incubação
(NAKAGE et al., 2002).
Durante a primeira metade do período de incubação, a taxa metabólica
embrionária é baixíssima, a temperatura do ovo é menor que a da incubadora, e o
embrião ganha calor da incubadora. Na segunda metade, a produção de calor
metabólico pelo embrião aumenta, ficando a temperatura do ovo acima da
temperatura da incubadora, ou seja, o ovo perde calor (PIAIA, 2005).
O ajuste da temperatura em incubadoras de estágio múltiplo deve ser de
37,8ºC e se a temperatura oscilar mais que 0,28ºC (0,5ºF) poderá causar problemas
de eclosão (CARTWRIGHT & POWERS, 2001).
LEANDRO et al. (2000) estudaram a incubabilidade e qualidade de pintos
de ovos de matrizes de frangos de corte submetidos a estresse de temperatura.
Nesse estudo os ovos obtidos de um lote de matrizes 42 semanas de idade foram
distribuídos em três incubadoras, reguladas para manter uma temperatura de 37,8ºC
(100,04ºF), umidade relativa de 60% e viragem mecânica a cada duas horas. Aos 16
dias de incubação (D16), aplicou-se uma temperatura de 104ºF (40ºC) em uma
incubadora e 89,6 ºF (32ºC) em outra durante cinco horas. Os embriões da terceira
máquina foram mantidos na temperatura padrão (37,8ºC). A alteração da
temperatura normal de incubação (37,8ºC), com resfriamento ou aquecimento por 5
8
horas no décimo sexto dia não foi suficiente para prejudicar a eclodibilidade e a
qualidade dos pintos, mas causou uma dilatação do período total de incubação. De
acordo com os resultados obtidos houve um aumento médio do tempo total de
incubação de 10 e 8 horas para frio e calor, respectivamente, indicando que mesmo
um breve período de variação da temperatura normal de incubação em um período
crítico de desenvolvimento é suficiente para terminar estresse nos embriões de
frangos de corte e prejudicar seu desenvolvimento.
THOMPSON et al. (1976), testando vários desvios de temperaturas (40,6;
43,3; 46,1 ou 48,9ºC) aos 16 dias de incubação, durante vários tempos de
exposição, verificaram que a manutenção por 24 horas de 40,6ºC não causou danos
à taxa de eclodibilidade, mas 6 horas a 43,3 ºC diminuiu a eclodibilidade, o que
tornou-se ainda mais severa a partir de 9 horas de exposição. A 46,1ºC durante 3
horas e 48,9ºC por 1 hora causaram 100% de mortalidade embrionária. Os mesmos
autores relataram que os pintos sobreviventes de ovos submetidos a elevadas
temperaturas eram fracos, com alta incidência de defeitos de pernas e andar
inseguro.
O estresse pelo frio também causa alterações de eclosão e qualidade das
aves. Estudos têm demonstrado que episódios breves de resfriamento dos ovos
durante a incubação não afetam a eclosão, o peso corporal ou a mortalidade
embrionária (LANCASTER & JONES, 1988). Entretanto, ovos resfriados durante
longos intervalos de tempo apresentam danos no peso dos pintos e em outros
parâmetros de incubação. SUAREZ et al. (1996) indicaram que embriões de ovos
resfriados (temperatura de 24ºC e duração do estresse de 12 a 96 horas) perderam
mais peso, tiveram incubação mais longa e maior mortalidade embrionária, quando
comparados aos obtidos de ovos não resfriados.
2.3.2 Umidade Relativa
A umidade relativa é outro fator importante para a incubação e
eclodibilidade. Diferentemente da temperatura, a umidade relativa pode ter maior
amplitude na sua variação, entretanto, é recomenda-se que esteja entre 50% e 60%
(BOLELI, 2003).
9
Um ovo perde de 11 a 13% de peso durante a incubação. Em situações
em que a umidade relativa encontra-se baixa observa-se uma perda excessiva de
peso atrasando a eclosão. A situação inversa, em casos de alta umidade, os
embriões tendem a eclodir precocemente com o aspecto molhado e pegajoso,
chegando até em alguns casos extremos a eclodir sem alcançarem o pleno
desenvolvimento (PEEBLES et al.; 2001).
Entretanto, observa-se que a perda de água não é uma variável
independente, mas um constituinte do embrião que é influenciado por fatores como
temperatura, movimentos iônicos, concentração protéica, porosidade da casca, além
de ser produto do metabolismo energético. Por sua vez a perda de água é
influenciada pela temperatura do ovo, bem como o processo de eclosão. A perda de
água dos ovos para o ambiente também irá influenciar os movimentos de água
dentro do ovo e isso é um processo fisiológico complexo, que ocorre por via passiva
e ativa envolvendo diferentes compartimentos (DECUYPERE et al., 2003).
A perda de água não é a mesma em todo o período de incubação. Ela é
mais rápida nos três primeiros dias de incubação, após esta fase será mais lenta e
volta a incrementar entre o 15º e o 18º dia de incubação. A rápida perda de água
nos primeiros dias de incubação é necessária devido à falta do completo
desenvolvimento sanguíneo, sendo preciso à eliminação de água pela casca, à
medida que se degrada o albúmen; isso permite a entrada de ar na câmara e
propicia oxigênio para o desenvolvimento do embrião (ALDA, 2003).
BRUZUAL et al. (2000) estudaram o efeito da umidade relativa durante os
últimos cinco dias de incubação sobre a performance dos pintos, utilizaram-se até o
décimo sexto dia de incubação UR 53% e temperatura de 37,5ºC, sendo que após
esse período variaram-se as condições em três níveis, 43, 53 e 63%UR. Os autores
concluíram que a eclodibilidade foi aumentada utilizando 53%UR em relação aos
outros dois experimentos. No experimento onde UR=43% a eclodibilidade foi 87,2%,
enquanto no realizado a UR=63% a eclodibilidade foi igual a 87,5%. No ensaio com
UR=53% o valor relatado foi de 89,2%.
10
2.3.3 Trocas gasosas
No primeiro período de desenvolvimento embrionário que se estende até
o décimo oitavo dia de incubação, a respiração ocorre por difusão através dos poros
na casca do ovo, provocada pela diferença de concentração entre o interior e
exterior dos ovos, capturando O2 e liberando CO2. No segundo período, que vai do
décimo oitavo ao vigésimo primeiro dia, a câmara de ar funciona de forma
semelhante aos alvéolos pulmonares dos mamíferos, ou seja, o embrião passa a
respirar a partir do ar contido na câmara, inflando os pulmões e os sacos aéreos
pela primeira vez (DECUYPERE et al., 2003).
A embriogênese é um processo fisiológico bastante sensível à hipóxia. A
distribuição de oxigênio dentro dos ovos é influenciada pelo suprimento de oxigênio
por difusão e pelo consumo de oxigênio pelos embriões. Sob temperaturas mais
elevadas de incubação o consumo de oxigênio aumenta mais rapidamente do que o
suprimento, o que provoca aumento da mortalidade (WOODS, 1999).
A adequada ventilação durante a embriogênese foi estudada por
MAXWELL et al. (1990), os quais demonstraram que pintos sujeitos à hipóxia
durante a incubação apresentaram lesões pulmonares e cardíacas precoces.
JAENISCH et al. (1997) constataram que após a suplementação com 2pp de
oxigênio, totalizando 23% molar de oxigênio durante a incubação de ovos, conferiu a
redução parcial no grau de lesões no pulmão e coração das aves.
MAULDIN (2003) afirma que aproximadamente 1.000 ovos requerem 4m³
de ar fresco por dia até o 18º dia de incubação. Sendo assim, uma incubadora com
capacidade de 40.000 ovos necessitaria 162m³ de ar fresco por dia, ou
aproximadamente 8 m³/h. Conseqüentemente, deve-se renovar o ar na incubadora
aproximadamente oito vezes em um dia ou uma vez a cada 3 horas. Esta taxa da
troca de ar é o mínimo requerido.
O CO2 é um composto natural de processos metabólicos durante o
desenvolvimento embrionário. A fração molar de dióxido de carbono (CO2) no ar
atmosférico é de aproximadamente 0,0314. Os níveis do dióxido de carbono
aumentam no ar dentro da incubadora quando há uma troca de ar insuficiente no
ambiente de incubação. Embriões mais novos têm um nível de tolerância mais baixo
ao CO2 do que os mais velhos. O nível de tolerância parece ser linear do primeiro
dia de incubação até o vigésimo primeiro dia. Durante os primeiros 4 dias, o nível de
11
tolerância ao CO2 está abaixo de 0,3%. Os níveis do dióxido de carbono acima de
0,5% reduzem a eclodibilidade, com reduções que podem chegar a 1,0%. A
mortalidade de todos os embriões ocorre em concentrações de 5,0% de CO2.
Quando os pintos eclodem o nível de tolerância no nascedouro é de
aproximadamente 0,75% de CO2 (MAULDIN, 2003).
2.3.4 Viragem dos ovos
A viragem ou alteração da posição do ovo durante a incubação tem alta
influência sobre a taxa de mortalidade do embrião. Um sistema adequado de
viragem dos ovos é fundamental para o bom desenvolvimento embrionário durante a
primeira metade da incubação. Na ausência de um sistema circulatório, nos
primeiros dias de incubação, a viragem dos ovos facilita a difusão dos gases pelo
albúmen e as trocas gasosas entre o embrião e o meio externo. Além disso, previne
a aderência do embrião à membrana interna da casca e promove o desenvolvimento
correto das membranas extraembrionárias (WILSON, 1991).
A viragem do ovo durante a incubação envolve diversos parâmetros como
a freqüência, o eixo em que o ovo é acondicionado na máquina como também o eixo
de viragem do mesmo, o ângulo de viragem, o plano de rotação e o estágio da
incubação em que é necessária a viragem dos ovos (WILSON, 1991) De acordo
com NEVES (2005) o procedimento de viragem deve ser feito 24 vezes ao dia, com
o ângulo entre 20º a 45º no plano horizontal. Na prática são utilizados 45º ± 5º a
cada hora.
2.4 Estágio único versus estágio múltiplo
Sabe-se que um desempenho satisfatório e um bom crescimento de
frangos de corte são diretamente influenciados por fatores relacionados ao processo
de incubação. Sendo assim, os incubatórios têm buscado se manter atualizados
com as últimas tecnologias disponíveis no mercado.
A incubação moderna está migrando do conceito de estágio múltiplo para
estágio único. Esse conceito já é realidade em alguns países, porém apenas cerca
12
de 10% dos incubatórios brasileiros adotaram esse novo modelo de incubação
(BOERJAN, 2006b).
O estágio único é a melhor escolha para as atuais linhagens que detêm
alto rendimento e metabolismo (BOERJAN, 2004). De acordo com CALIL (2007) os
equipamentos de incubação em estágio único são capazes de melhorar ainda mais
os resultados zootécnicos dos incubatórios, pois conseguem atender de forma mais
eficiente as necessidades fisiológicas do embrião moderno.
Os avanços genéticos resultaram em mudanças no metabolismo
embrionário, aumentando, principalmente, as taxas de calor metabólico produzidas.
Esse fato interfere diretamente nas condições físicas que devem ser disponibilizadas
para o embrião durante o processo de incubação. Em estudo realizado por
BOERJAN (2006b) constatou-se que no 18º dia de incubação a produção de calor
metabólico, baseado no consumo de oxigênio, foi aproximadamente 20% maior em
uma linhagem moderna comparada a uma linhagem tradicional, comumente utilizada
em décadas passadas.
Na incubação em estágio múltiplo, uma mesma máquina é utilizada para
comportar embriões em diferentes estágios de desenvolvimento, normalmente três
ou seis lotes de ovos são incubados em diferentes dias do período de incubação.
Nesse sistema as cargas com embriões em desenvolvimento mais avançado cedem
calor aos embriões mais jovens, proporcionando um equilíbrio térmico dentro da
máquina (GONZALES, 2008).
Por outro lado, na incubação em estágio único a máquina é carregada
completamente a cada ciclo. Dessa forma todos os embriões contidos em uma
máquina, num determinado momento, estão no mesmo estágio de desenvolvimento
cronológico. Esse sistema possui um programa que permite alterações na
temperatura, ventilação e umidade, a fim de produzir a mais alta eclodibilidade e
qualidade dos pintos. À medida que prossegue a incubação, ao invés de se manter
uma temperatura única dentro da máquina de incubação, faz-se reajustes que
atendam as reais necessidades do embrião, medida através da temperatura da
casca (MOLENAAR et al., 2010).
As necessidades fisiológicas do embrião variam em função do seu estágio
de
desenvolvimento
sendo,
portanto,
a
manutenção
da
temperatura
de
desenvolvimento embrionário o fator mais importante durante o processo de
incubação. A temperatura embrionária é o que determina se haverá ou não
13
homeostase e desenvolvimento embrionário e, consequentemente, determinará os
resultados de incubação e influenciará positivamente nos resultados de campo do
frango (CALIL, 2009).
No sistema de estágio múltiplo, durante a primeira fase de incubação a
temperatura é programada para 100,04°F (37,8°C), permitindo pequenas variações
de acordo com a idade da matriz e com o tempo de estocagem dos ovos. Na
segunda fase de incubação é extremamente importante impedir que a temperatura
dos ovos ultrapasse 101°F (38,33°C) com o intuito de evitar uma mortalidade
embrionária na fase final. No estágio único, a presença de uma só idade nas
máquinas permite com que os embriões ganhem ou percam calor. Sendo assim, as
configurações de temperatura serão mais elevadas no início do processo de
incubação e progressivamente será diminuída a partir da metade até o final da
incubação, com o objetivo de manter a temperatura da casca do ovo constante e em
aproximadamente 100,04°F (37,8°C) (MOLENAAR et al., 2010).
As curvas de temperaturas das máquinas de estágio único e estágio
múltiplo durante o processo de incubação estão representadas na Figura 1.
FIGURA 1 – Temperatura da máquina durante incubação de ovos em estágio único
(-) e estágio múltiplo (-)
Fonte: Adaptado de METZER, 2009
A ventilação é um ponto crítico dentro do processo de incubação artificial.
Segundo CALIL (2009) os equipamentos de estágio múltiplo apresentam uma
demanda de ventilação bem maior do que os equipamentos de estagio único. Isso
14
ocorre porque a ventilação desempenha papéis diferentes nos dois modelos de
incubação. No sistema estágio múltiplo, a ventilação do incubatório participa
ativamente do sistema de refrigeração da máquina, ao passo que no sistema estágio
único, a ventilação funciona principalmente como agente de troca de gases (O2, CO2
e vapor de H2O), não como agente de troca térmica. Na realidade, o consumo de
oxigênio dos embriões é muito baixo, sendo até possível dizer que praticamente não
há necessidade de trocas gasosas até o final da primeira semana de incubação,
sendo o consumo aumentado gradativamente até o final do período. Portanto, como
a necessidade de oxigênio do embrião é baixa, fica evidente que os sistemas de
estágio múltiplo absorvem maior volume de ar para que esse desempenhe outros
papéis, que não o suprimento de gases. Essas funções extras estão principalmente
relacionadas à refrigeração dos ovos, uma vez que normalmente, esses
equipamentos de incubação em estágio múltiplo não têm sistema de refrigeração,
contando única e exclusivamente com o adequado condicionamento do ar, ou seja,
do sistema de ventilação.
GONZALES (2008) afirma que além de conservar a temperatura ótima do
embrião e ajustar as trocas gasosas para a adequada atividade metabólica, as
máquinas de estágio único permitem melhorar a condição sanitária da incubação,
manter constante a perda de umidade e, ainda, possibilita a revisão técnica da
máquina com uma periodicidade maior, minimizando as perdas de incubação por
quebra do equipamento no meio do período de desenvolvimento embrionário. É
importante ressaltar também que projetos com máquinas modernas apresentam
consumo de energia inferior aos equipamentos convencionais de estágio múltiplo,
resultando em menor custo de produção, item tão crítico atualmente nos
incubatórios.
Os incubatórios são uma importante via de multiplicação e disseminação
de salmonela e outras doenças. Temperatura e umidade adequada nos incubatórios,
juntamente com excesso de matéria orgânica cria condições perfeitas para o
crescimento de bactérias, vírus e fungos. Com a incubação em múltiplo estágio é
difícil manter o risco sob controle visto que as máquinas dificilmente são esvaziadas.
Não somente a limpeza e desinfecção são tarefas difíceis, mas o movimento
contínuo de ovos entrando e saindo da incubadora, aumenta enormemente o risco
de contaminação cruzada se a higiene dos ovos e a condensação não estiverem sob
controle. Entretanto, na incubação em estágio único, as portas não são abertas
15
constantemente para a introdução de novas cargas de ovos e entre cada incubação
as máquinas são limpas e desinfetadas (MEIJERHOF, 2008).
MAULDIN (2006) conduziu experimento com o intuito de comparar
diversos parâmetros de incubação obtidos de sistemas de incubação de estágio
único e estágio múltiplo e obteve como resultados melhor desempenho para a
maioria dos parâmetros nas máquinas de estágio único.
Na Figura 2 estão dispostos os resultados comparativos de eclodibilidade
entre as máquinas de estágio único e estágio múltiplo. Observa-se que no início do
experimento houve queda de eclodibilidade no sistema de estágio múltiplo. Segundo
o autor essa queda ocorreu devido a um problema de viragem dos ovos durante o
processo de incubação. Durante o período de junho houve uma queda brusca de
eclodibilidade no sistema de estágio único. Esta queda ocorreu devido a problemas
no sistema de refrigeração das máquinas. Em geral, pode-se concluir que as
máquinas de estágio único obtiveram desempenho superior na maioria dos períodos
estudados do que as incubadoras de estágio múltiplo.
FIGURA 2 – Percentual de eclodibilidade em máquina de estágio único e estágio
múltiplo
Fonte: Adaptado de MAULDIN, 2006
A Figura 3 revela os resultados comparativos de mortalidade embrionária
obtido de máquinas de estágio único e estágio múltiplo. Durante as três fases de
16
desenvolvimento embrionário (inicial, intermediário e final) as taxas de mortalidade
foram superiores nas máquinas de estágio múltiplo. Na fase inicial observa-se uma
mortalidade embrionária de 4,12% no estágio múltiplo contra 3,44% no estágio
único, sugerindo que as máquinas de estágio único proporcionam melhores
condições físicas durante o processo de incubação.
FIGURA 3 – Percentual de mortalidade embrionária nas fases inicial, intermediária e
final de incubadoras de estágio único e estágio múltiplo
Fonte: Adaptado de MAULDIN, 2006
CALIL (2009) também realizou diversos estudos em diferentes países
latino-americanos, utilizando-se ovos de linhagens atuais (Cobb e Ross). Os
resultados alcançados com incubação em estágio único foram consistentes e
refletiram índices positivos no percentual de nascimentos e também no desempenho
das aves no campo. Uma análise comparativa do desenvolvimento de embriões
incubados em sistema de estágio único e múltiplo foi realizado (Tabela 1). Os ovos
utilizados no experimento foram provenientes de um mesmo lote de reprodutoras
Cobb, com peso do ovo de 66g + 1g para ambos os grupos. As aves foram
necropsiadas e foram coletados saco da gema, coração, duodeno, juntamente com
o pâncreas, e o trato gastrintestinal completo. Os órgãos foram pesados em balança
digital e os resultados revelam que a gema residual dos pintos nascidos em estágio
único é 10% menor que a gema residual dos pintos nascidos em estágio múltiplo.
17
Essa diferença na utilização da gema para metabolizar tecido embrionário culmina
com um melhor desenvolvimento de órgãos internos, na ordem de 9% para coração
e duodeno e 4% para o trato Intestinal completo (do proventrículo até a cloaca) dos
pintos recém nascidos.
TABELA 1 – Análise comparativa do desenvolvimento de órgãos internos de
embriões incubados em situação de estágio múltiplo e estágio único
Gema Residual
% Coração
%Duodeno+Pâncreas
%Trato Intestinal
90%
109%
109%
104%
Fonte: Adaptado de CALIL, 2009
Os resultados zootécnicos de frangos de corte aos sete dias de idade e
com 5 semanas, respectivamente, oriundos de ovos incubados em sistema de
estágio único e estágio múltiplo estão descritos na Figura 4 e Tabela 2. Observa-se
valores superiores de peso e menor conversão alimentar para as aves oriundas de
ovos incubados em sistema de estágio único. Em relação à mortalidade (Tabela 4)
observa-se uma menor mortalidade das aves que foram incubadas em estágio
único.
FIGURA 4 - Resultados Zootécnicos (Peso aos 7 dias) de pintos nascidos em
sistema de estágio múltiplo e de estágio único
Fonte: Adaptado de CALIL, 2009
18
TABELA 2 - Resultados zootécnicos de aves incubadas em estágio único e estágio
múltiplo.
Estágio Múltiplo
Estágio Único
Diferença
Peso 5 semanas (g)
1.702
1.742
40
Conversão Alimentar
1.710
1.640
0,070
5,75
5,14
0,61
Corrigida (1.700g)
Mortalidade %
Fonte: Adaptado de CALIL, 2009
Problemas relacionados com o sistema locomotor das aves constituem
uma das principais causas de mortalidade tardia, condenação em abatedouros e
perda de bem estar das aves gerando grandes impactos sobre a produção avícola.
A origem dessas afecções podem ser mutações genéticas, desequilíbrios
nutricionais, doenças infecciosas ou estressores ambientais (SANOTRA et al.,
2001).
Durante a fase de incubação o embrião pode sofrer estresse ambiental
causado, principalmente, por condições inadequadas de temperatura, umidade e
ventilação afetando diretamente o desenvolvimento de diversos tecidos, incluindo os
tecidos do sistema locomotor. Estudos recentes indicam que condições inadequadas
durante o processo de incubação podem aumentar a incidência de discondroplasia
tibial (YALÇIN, 2007) e atraso no desenvolvimento dos ossos em frangos de corte
(OVIEDO-RONDÓN et al., 2008).
OVIEDO-RONDÓN et al. (2009) realizaram experimento em incubatório
comercial utilizando dois sistemas de incubação artificial, o sistema de estágio único
e estágio múltiplo, com o intuito de avaliar qual modelo seria capaz de proporcionar
melhores condições para o desenvolvimento embrionário e consequentemente
reduzir os problemas de locomoção em frangos de corte. Os resultados encontrados
demonstraram que as condições oferecidas durante o processo de incubação
podem afetar o desenvolvimento dos ossos e gait score em frangos de corte.
Os resultados de ganho de peso de machos e fêmeas da linhagem
comercial Ross 708 aos 56 dias de idade incubados em estágio único e estágio
múltiplo estão apresentados na Figura 5. Observa-se que o sistema de incubação
influenciou no ganho de peso aos 56 dias de idade. As fêmeas oriundas de ovos
incubados em máquinas de estágio único foram mais pesadas do que as de estágio
19
múltiplo. Com relação aos machos, não houve diferença estatística entre os pesos
dos machos oriundos de ovos incubados em sistema de estágio único e estágio
múltiplo.
FIGURA 5 – Ganho de peso de machos e fêmeas Ross 708 aos 56 dias de idade
segundo o sistema de incubação
Fonte: Adaptado de OVIEDO-RONDÓN et al. (2009)
Na Tabela 3 foram descritos a qualidade de perna de frangos de corte
através do percentual de dedos e pernas tortas aos 56 dias de idade incubados em
estágio único e estágio múltiplo e na Tabela 4 estão retratados os percentuais de
cada categoria de gait score (escore de andadura) de frangos de corte aos 56 dias
de idade.
20
TABELA 3 – Parâmetros de qualidade de perna de frangos de corte aos 56 dias de
idade submetidos a 2 tipos diferentes de sistemas de incubação
Sistema de Incubação
Estágio Múltiplo
Sexo
Macho
Fêmea
Média
Macho
Fêmea
Média
Estágio Único
a,b
Dedos tortos
1,38a
0,13b
0,75
0,01b
0,00b
0,006
Pernas tortas
0,13
0,00
0,06
0,63
0,00
0,31
- Médias na mesma coluna, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P<0,05).
Fonte: Adaptado de OVIEDO-RONDÓN et al. (2009)
TABELA 4 – Percentual de frangos de corte de cada categoria de gait score aos 56
dias de idade submetidos a 2 tipos diferentes de sistemas de incubação
Sistema de
Incubação
Estágio Múltiplo
Estágio Único
a,b
Sexo
Macho
Fêmea
Média
Macho
Fêmea
Média
0
34,00
72,38
53,22b
48,88
77,98
63,38a
1
Gait score
2
50,75
23,63
37,19a
43,63
19,63
31,63b
12,25
2,63
7,44a
6,63
1,13
3,88b
3
4
5
2,00
0,75
1,38
0,63
0,38
0,50
0,50
0,00
0,25
0,25
0,38
0,31
0,00
0,00
0,00
0,00
0,13
0,06
- Médias na mesma coluna, com letras diferentes, são significativamente diferentes (P<0,05).
Fonte: Adaptado de OVIEDO-RONDÓN et al. (2009)
Nesse estudo os machos tiveram uma maior incidência de dedos tortos e
gait escore de 1 e 2 em relação as fêmeas (Tabelas 2 e 3). Segundo OVIEDORONDÓN et al. (2009) machos geralmente possuem ganho de peso final maior do
que as fêmeas aos 56 dias de idade e índices altos de crescimento foram
associados a maiores incidência de problemas esqueléticos.
A alta percentagem de dedos tortos (0,8 vs 0,1%) e gait score de 1 e 2
foram observados em frangos nascidos em máquina de estágio múltiplo (Tabelas 2 e
3), enquanto os frangos nascidos em máquina de estágio único obtiveram maior
percentual de gait score de 0 (63,4 vs 53,2%).
21
Pesquisadores indicaram que hipóxia e elevadas temperaturas durante os
últimos dias de incubação ou temperaturas baixas em outros períodos de incubação
afetam o desenvolvimento dos ossos (OVIEDO-RONDÓN et al., 2008). Portanto, é
interessante observar que a prevalência de deformação nos dedos foi maior nas
aves nascidas em máquina de estágio múltiplo,que geralmente oferecem maiores
temperaturas se comparada com os de estágio único.
O percentual de pernas tortas e de aves com problemas mais graves de
locomoção (gait score 4 ou 5) foram raramente encontrados durante o estudo e não
houve foram significativamente afetados pelas variáveis estudadas.
22
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca constante pelo aumento da rentabilidade por parte das empresas
os fazem ir em busca das inovações tecnológicas disponíveis no mercado.
O sistema de incubação de estágio único apresenta vantagens claras
sobre o sistema mais tradicional de incubação em estágio múltiplo, uma vez que
promove melhores resultados de eclodibilidade e desempenho zootécnico das aves.
Além disso, com o aumento da conscientização e exigências de higiene e
controle de doenças, a incubação de estágio único é o caminho a se seguir nos
sistemas modernos de produção de aves.
23
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