MARTA PEREIRA COELHO DEPRESSÃO NA PESSOA DIABÉTICA: DESVELANDO O INIMIGO OCULTO BELO HORIZONTE 2005 MARTA PEREIRA COELHO DEPRESSÃO NA PESSOA DIABÉTICA: DESVELANDO O INIMIGO OCULTO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Área de concentração: Enfermagem. ORIENTADORA: PROF Drª TÂNIA C. M. CHIANCA CO ORIENTADORA: PROF Drª SÔNIA Mª SOARES BELO HORIZONTE 2005 Coelho, Marta Pereira. Depressão na pessoa diabética: desvelando o inimigo oculto/ Marta Pereira Coelho. - Belo Horizonte: UFMG, 2005. 163 f. : il. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem, 2005. 1.Diabetes : Depressão. 2. Depressão : Diabetes. 3. Hipoglicemia : Aspectos psicológicos. I. Título. CDU 616.379-008.64 Ficha catalográfica elaborada por: Eliana N. Hipólito – Bibliotecária CRB – 6/2075 Dissertação defendida em 04 de março de 2005, pela banca examinadora constituída pelas professoras: Prof. Drª Tânia Couto Machado Chianca - Orientadora Prof. Drª Maria Lúcia Zanetti ________________________________ Prof. Drª Paula Cambraia de Mendonça Viana “É m elhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É m elhor tentar em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. E u prefiro na chuva cam inhar, que em dias tristes em casa m e esconder. Prefiro ser feliz, em bora louco, que em conform idade viver”. Martin Luther King D E D ICA TÓ R IA S Aos meus pais, Osvaldo e Mica, por me ajudarem com suas histórias de vida a traçar a minha história de vida e por serem pessoas com quem eu sempre pude contar, o meu amor e o meu muito obrigada. A meus queridos filhos, razão de minha vida, Letícia, Larissa e Bernardo pela paciência, compreensão, estímulo, apoio e amor constantes em todos os momentos. A você, Avary, onde estiver, pelo incentivo enquanto presente e por plantar em meu coração a esperança de poder contribuir com o portador de diabetes, fazendo-me crer que eu sou capaz e principalmente por me fazer acreditar que a vida é via de mão dupla. Aos colaboradores deste estudo, pela doçura expressa em nossa convivência e sucesso de minha carreira, dando-me a oportunidade de crescimento profissional e pessoal, o meu respeito e afeto. A G R A D E CIM E N TO S A Deus, Senhor de todas as coisas, obrigada pelo caminho, verdade e vida... A querida orientadora Prof. Drª Tânia Couto Chianca pela compreensão, dinamismo, competência e oportunidade de convívio. A querida amiga e co-orientadora Prof. Drª Sônia Maria Soares, pelo exemplo de conhecimento, equilíbrio, calma e segurança transmitida através de suas palavras ternas de incentivo que tornaram minha caminhada mais tranqüila e serena. Aos professores e colegas de mestrado em especial a Mônica e Yara pela convivência, alegria e estímulo. A minha mãe, porto seguro de minha caminhada, sábia e mestra maior, que me fez através do resgate do inglês, encontrar minha auto confiança de forma precisa. Aos queridos filhos, Letícia pelo alento e por entender cada lágrima derramada nos momentos de sufoco, Larissa que reviveu tudo comigo nas digitações e a você Bernardo que contribuiu tanto nos bastidores dando-me segurança para seguir em frente. A minha irmã Marize, pela amizade e solidariedade nas suas contribuições preciosas. Aos amigos, Sinval Miranda e Cristiane pela colaboração na minha estadia fora do lar, e ainda a Ló, Nati e Cássia, pelo aconchego e carinho, fazendo com que a ausência dos entes queridos fosse menos sofrida. A amiga e companheira Ana Carolina pela escuta, acolhimento, incentivo e bom senso nos conselhos preciosos. Introdução 8 ____________________________________________________________________________ A direção da Unimed de Governador Valadares pela oportunidade e confiança depositada, permitindo este estudo e a convivência com os pacientes do Serviço de Medicina Preventiva. A Univale (Universidade do Vale do Rio Doce) e a direção da FACS através da diretora e amiga Mylene Lucca, pela confiança em mim depositada. A César Rubem Medina (in memorian) que na sua escuta contribuiu para importantes mudanças na minha história de vida. Aos professores e funcionários da EEUFMG/UFMG, em especial ao Jaílton, pela atenção e disponibilidade. Aos queridos alunos do Curso de Graduação de Enfermagem da Univale, pela paciência nas minhas ausências e compreensão por meu empreendimento na busca do saber. A querida amiga Prof. Drª Claudia Jamal e Prof. Drª Cyntia Furst Leroy pelas barras seguradas em atividades da coordenação do curso em minhas ausências. A companheira de jornada Andressa Masieiro pelo apoio na escuta dos diabéticos. A amiga incondicional Maria Luiza Muniz do Valle pelas trocas de experiências, pelos empurrões no meu cuidar (dura com ternura), para que pudesse buscar a qualidade de vida destas pessoas... Aos queridos incentivadores e amigos Vasco e Tânia, Franck e Igor pelo carinho e apoio constante a mim dados no acolhimento fazendo-me sentir sempre em casa. A todos os amigos e familiares que contribuíram com vibrações positivas e torceram por mim. SU M Á R IO Listas de abreviaturas e siglas Resumo Abstract Capítulo 1- Introdução----------------------------------------------------------------------1.1- Minha trajetória e inquietações-------------------------------------------1.2-O interesse pelo tema--------------------------------------------------------- 14 14 16 1.3- Objetivo geral------------------------------------------------------------------1.4- Objetivos específicos---------------------------------------------------------Capítulo 2- Conhecendo o inimigo------------------------------------------------------2.1- A depressão------------------------------------------------------------------2.1.1- Uma visão geral da depressão-------------------------------------2.1.2- Principais aspectos históricos e epidemiológicos-------------- 26 26 28 28 28 31 Capítulo 3- A trajetória metodológica--------------------------------------------------3.1- O referencial teórico-metodológico--------------------------------------3.2- Conhecendo a história oral------------------------------------------------3.3- A história oral como método de pesquisa------------------------------3.4- O local e os sujeitos de pesquisa----------------------------------------3.5- O método da coleta de dados---------------------------------------------3.6- Tratamento e análise dos dados-----------------------------------------3.7- Aspectos éticos da pesquisa----------------------------------------------- 44 44 46 47 56 58 59 62 Capítulo 4- Desvelando a depressão nos diabéticos-----------------------------4.1- Caracterização dos colaboradores---------------------------------------4.2- Apresentação dos colaboradores----------------------------------------4.3- A experiência da depressão no diabético------------------------------4.3.1- Condições de vida da pessoa diabética influenciando no aparecimento da depressão-------------------------------------------------4.3.1.1- O Medo das complicações crônicas-----------------------4.3.1.2- Lidando com a cronicidade do Diabetes Mellitus------4.3.2- Identificação da depressão-----------------------------------------4.3.3- O Significado da depressão para o diabético------------------4.3.3.1- Fatores relacionados à depressão para o diabético---4.3.3.2- Mecanismos de enfrentamento da depressão----------- 65 65 68 91 94 95 97 102 106 106 114 Capítulo 5 – Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem------- 134 Referências Bibliográficas------------------------------------------------------------------ 142 Anexos-------------------------------------------------------------------------------------------- 156 Lista de abreviaturas DM - Diabetes Mellitus UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais SUS - Sistema Único de Saúde OPAS - Organização Panamericana de Saúde FID - Federação Internacional de Diabetes ANAD - Associação Nacional de Diabetes FENAD - Federação Nacional de Apoio ao Diabético SMS - Secretaria Municipal de Saúde UNIMED - Cooperativa de Trabalho Médico NANDA - North American Nursing Diagnoses Association DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders MS - Ministério da Saúde GV - Governador Valadares LER - Lesão por Esforço Repetitivo AVC - Acidente Vascular Cerebral RESUMO Depressão na pessoa diabética: desvelando o inimigo oculto A depressão ocorre em portadores de DM sendo freqüentemente velada e confundida por profissionais de saúde e pelos próprios pacientes com sensações de angústia, tristeza e melancolia. Estudos mostram que a depressão pode determinar maior dificuldade de enfrentamento da doença. Este estudo teve como objetivo compreender como o portador de Diabetes Mellitus vivencia a depressão e a identifica Realizada em diabéticos tipo 2 em uso de insulina e na faixa etária acima de 50 anos acompanhados no programa do serviço de medicina preventiva da UNIMED GV (Cooperativa de Trabalho Medico de Governador Valadares), bem como descrever os sinais e sintomas da depressão relacionando-a ao DM e a vida cotidiana além de identificar os recursos de enfrentamento utilizados pelos diabéticos depressivos. O referencial teórico metodológico utilizado foi a história oral temática, proposta por Meihy. Os dados provenientes de 13 entrevistas foram analisados e os conceitos que imergiram favoreceram a identificação de três temas centrais: condições de vida da pessoa diabética influenciando na depressão, identificação da depressão e o significado da depressão para o diabético. Os sinais e sintomas de depressão apontados pelos diabéticos foram tensão, falta de apetite, irritabilidade, medo das complicações e outras. Os colaboradores identificaram a depressão com mudanças percebidas no comportamento, nervosismo, melancolia, angústia, choro sem motivo aparente, perda de interesse e de apetite, cansaço. Dificuldade de concentração, insônia e pensamento de morte. A depressão descrita por eles esteve relacionada a sentimentos de isolamento, problemas financeiros e com seus conjugues. O profissional enfermeiro precisa ser treinado a perceber e intervir precocemente no diagnóstico de depressão, elaborar plano de cuidados efetivos e adesão ao tratamento do diabetes e da depressão através de programas educativos e no emprego das mais variadas alternativas terapêuticas PALAVRAS-CHAVE: Diabetes Mellitus tipo 2, Depressão, Enfrentamento ABSTRACT Depression in diabetc people – caring the occult enemy Depression occurs in Diabetes Mellitus (DM) patients, being often attended and confounded by healthy workers and by patients themselves, with sensations of annoyance, sadness and melancholy. Studies show that depression can determine major difficult in coping the disease. The aim of this study was to undersand how the DM-type 2 patient can exist in depression and to identify it, achieved in patients using insulin, being over fifty years old, attende by the program Preventive Medicine Service – Unimed G.V. (Medical work Co-Operative of Governador Valadares), to decribe conveniently signals and symptoms of depression, relating it to DM and the daily life, as well as to identify the cope aids use by depressive diabetics. The methodological and theoretical reference use, was the oral thematic history proposed by Meihy. Data which came from thirteen interviews were analysed an the conceits which appeared held up the identification of three central themes: life condition of diabetic people influencing in depression, depression identification and the meaning of depression for diabetic patient. Signals and symptoms of depression pointed by diabetics were: tension, inappetence, irritableness, to be afraid of complications and others. The helpmates recognized depression with changes perceived in the behaviour, nervousness, melancholy, narrowness, crying without an apparent reason, loss of interest and appetite, tiredness, difficulty to concentrate, insomnia and thoughts about death. Depression described by them was related with lonesomeness feelings, familiar and financial and conjugal problems. The nurse must be trained to perceive and interview early in the depression treatment, through educative programs and in the employment of the most various therepeutical alternatives. Dey words: Diabetes Mellitus type 2 – Depression – Coping Introdução 13 ____________________________________________________________________________ CA PÍTU LO 1 Introdução 14 ____________________________________________________________________________ Introdução “Eu amo tudo que foi, tudo o que já não é, a dor que já não me dói” Fernando Pessoa 1.1 Minha trajetória e inquietações Durante minha vida profissional desenvolvi a maioria das ações assistenciais e de ensino na área de enfermagem sempre voltadas para pessoas portadoras de doenças crônico-degenerativas. No início de minha vida profissional prestei assistência a portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus em uma unidade básica de saúde da rede pública da Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares - Minas Gerais. Minhas primeiras reações ao cuidar dessas pessoas foram de inconformismo e de tristeza por achar que não valia a pena viver daquela maneira, debilitados, dependentes de cuidados. Percebia ser o portador de doença crônica alguém que necessitava aceitar várias restrições que a enfermidade lhe impunha; dependia sempre de outras pessoas, era vigiado, cobrado e não possuía muitas perspectivas para retornar à sua condição anterior de vida. Com o passar do tempo, fui me acostumando com as dificuldades e procurando encontrar maneiras de ajudar essas pessoas. Na minha prática diária sempre me dediquei ao cuidado de enfermagem na área da saúde coletiva. Nos últimos doze anos ingressei no serviço de saúde pública do município de Governador Valadares e pude acompanhar usuários portadores de diversas patologias crônico-degenerativas, em especial o Diabetes Mellitus (DM). Introdução 15 ____________________________________________________________________________ Muito me chamou a atenção nos atendimentos individuais e em grupo de portadores de DM, tanto do tipo 1 como do tipo 2, em muito deles, o desânimo, a melancolia, a tristeza; sentimentos comuns percebidos em todos eles. No final do ano de 1999, recebi convite da direção da Cooperativa Médica de Governador Valadares (UNIMED), que contava com um número cada vez maior de associados com problemas de diabetes, para desenvolver um trabalho junto a essa comunidade. Assim, surgiu a oportunidade de elaborar e apresentar o projeto “Conviver com o Diabetes”, aprovado imediatamente, visto que o número das internações por diabetes representava um custo considerável para a empresa. Contratada como enfermeira do programa, iniciei o trabalho no Serviço de Medicina Preventiva. Recebi do Setor de Controle, Avaliação e Auditoria o registro das internações onerosas e reincidentes por DM. Por meio do cadastro dos conveniados, portadores de DM, iniciei o agendamento das consultas individuais e em grupo semanalmente (dinâmicas, vivências, oficinas terapêuticas). O serviço contava, no início de 2000, com cerca de 120 (cento e vinte) conveniados cadastrados em acompanhamento e a maioria destes mantinham os níveis glicêmicos normais. A depressão dessas pessoas acompanhadas por mim era percebida em quase todas elas, às vezes na primeira consulta e, muitas vezes nas subseqüentes. Alguns dos pacientes eram agendados em intervalos de consulta menores devido ao fato de se apresentarem calados, tristes, arredios e depressivos, inclusive em acompanhamento médico. Nessa mesma época reencontrei, após vinte e cinco anos, um parente muito próximo em fase terminal de DM, portador da doença há vinte anos. Passei a conviver com essa pessoa tão especial em todos os sentidos, experimentando, como companheira e familiar, todas as fases deste percurso e as marcas deixadas pela doença, observando, mais uma vez, que o diabético convive Introdução 16 ____________________________________________________________________________ com limitações, tratamento e situações de controle que poderiam deprimi-lo e influenciar na sua qualidade de vida e na de seus familiares. Fui compreendendo melhor a necessidade e a importância do acompanhamento desses clientes, por meio de atividades educativas e sociais, assim como a percepção da depressão, como profissional da enfermagem para acompanhamento e educação deles próprios e daqueles que com eles convivem e participam desta condição de vida. Hoje, mesmo sem a presença física deste ente querido, percebo que a convivência e sensibilização trazida para mim depois do contato com esta experiência contribuíram na escolha e definição do tema desta pesquisa. Enquanto enfermeira assistencial entendia a importância de considerar os sentimentos dos pacientes, no entanto, sempre observei que colegas preocupavamse preponderantemente com a assistência nos atendimentos de problemas relativos a aspectos fisiológicos e biológicos. Os conflitos emocionais eram na maioria esquecidos, sendo lembrados somente quando a doença mental ou sofrimento psíquico estavam instalados. Minha compreensão com relação à assistência às pessoas, sempre foi de forma holística. Sempre considerei e visualizei o indivíduo com um ser integral, chegando à compreensão de que as doenças tanto físicas quanto emocionais merecem atenção, pois todas implicam sofrimento. 1.2- O interesse pelo tema A palavra depressão, na linguagem coloquial é utilizada para designar tanto um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome ou uma doença, constituindo-se em níveis diferenciados relativos ao contexto psicossocial. A tristeza constitui-se numa resposta humana universal às situações de Introdução 17 ____________________________________________________________________________ perda, derrota, desapontamento e outras adversidades (LUSTMAN, 1997). Como sintoma clínico, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre os quais: demência, esquizofrenia, alcoolismo e outras doenças. Pode ainda ocorrer como resposta à situação estressante ou a circunstâncias sociais e econômicas diversas (LUSTMAN, 1997). Como síndrome, a depressão inclui não apenas alterações de humor (tristeza, irritabilidade, incapacidade de sentir prazer, apatia), mas também vários aspectos incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas, tais como alterações do sono, apetite (ZAUSZNIEWSKI, 2001). Além disso, presença de sintomas psiquiátricos associados a uma doença orgânica pode ter um efeito devastador sobre a saúde física do indivíduo. A depressão é uma patologia mental muito freqüente na população sendo, em geral, incapacitante e nos casos mais graves, impossibilitando a pessoa de realizar suas funções habituais, inclusive cuidar de si mesma. É potencialmente letal, enquanto envolve risco de suicídio que, em alguns casos graves, o custo pode ser muito alto, tanto para o paciente e sua família como para a comunidade. A baixa produtividade das pessoas afetadas e as ausências do trabalho representam perdas importantes (OPAS/OMS, 1999) e pode resultar em muitos dias de desabilitação e em 12 vezes mais recidiva do que doenças crônicas do coração, hipertensão arterial, diabetes e dores lombares (WILLIANS et al; 1999). A depressão é uma patologia clínica de origem psiquiátrica e que não foi ainda aceita como diagnóstico de enfermagem pela North American Nursing Diagnoses Association (NANDA). Em 1982, Marjory Gordon propôs um diagnóstico de enfermagem de reação depressiva situacional e a definiu como diminuição aguda na auto-estima ou relacionada a sinal de baixa estima sensação de auto competência (MAAS et. al, 2001) Introdução 18 ____________________________________________________________________________ Trabalhos têm sido conduzidos na enfermagem no sentido de incorporar as respostas do cliente à síndrome ou doença de depressão (THOMAS, SANJER e WHITNEY, 1986; ZANSZWIEWSKKY, 2001). Esta deve ser vista como uma doença ou patologia, mas deve ser também considerada como caracterização por um grupo de reações das pessoas aos fatos da vida, agravadas muitas vezes por doenças crônico-degenerativas debilitantes como é o caso do DM. Vários pesquisadores na enfermagem têm recomendado que a NANDA desenvolva o diagnóstico de enfermagem de depressão baseado nos critérios estabelecidos no DSM-IV (Diagnoses and Statistical Manual of Mental Disorders ) (MAAS et al.; 2001). Há vários anos tenho observado, como enfermeira, o aumento de clientes relatando sintomatologia sugestiva de depressão, recorrendo aos serviços da rede básica de saúde e nas diferentes clínicas e ambulatórios públicos e/ou privados. Assim, enquanto profissional, presencio no cotidiano a falta de atendimento ao portador de depressão, principalmente os portadores de doenças crônicodegenerativas, neste caso o diabético. Quando este é atendido, é geralmente acompanhado precariamente, não recebendo atenção adequada e eficaz especialmente no que se refere ao atendimento médico e de enfermagem, sendo considerado um chato, insistente, resistente pelos profissionais. Muitas vezes, o cliente entra num serviço seja público ou privado e sai sem o diagnóstico de depressão e sem tratamento adequado. Como essa situação é freqüente no cotidiano dos enfermeiros, vislumbramos a importância e a necessidade de cuidados e atenção especial, direcionados a pacientes diabéticos com sinais e sintomas de depressão. A prevalência e a incidência do DM vem aumentando de forma assustadora e quase epidêmica, conforme as declarações da Organização Mundial Introdução 19 ____________________________________________________________________________ da Saúde (OMS) e da Federação Internacional de Diabetes (FID, MS, 2002). Tem contribuído para tal fato a atenção que a doença desperta, tanto nos meios da saúde privada quanto no de saúde pública, aumentando o diagnóstico precoce dos casos, que há poucos anos atrás era feito apenas após o aparecimento de uma ou mais complicações graves, muitas vezes irreversíveis. O diabetes tem sua prevalência no Brasil e na maioria dos países acima de 20% da população cuja faixa etária está acima dos 60 anos, chegando em países do Oriente Médio a ultrapassar os 30% (OMS, 2002). Esta imensa porcentagem na população mundial de portadores de diabetes leva a um impacto enorme na saúde pública e nos sistemas de assistência médica, nos hospitais, nos planejamentos de custos no setor de saúde de todos os governos, chagando a consumir cerca de 15 a 25% do total dos recursos destinados à saúde (MS, 2001). O impacto também se verifica pó ser a principal doença crônica que contribui com cerca de 40% da morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares, principais doenças que afetam o mundo de hoje. Assim sendo, podemos dizer que o Diabetes Melittus é a principal doença de base presente em pacientes internados devido a infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, tromboses e gangrenas de membros inferiores. Por Diabetes Melittus foram internados pelo SUS mais de 122 mil pessoas, deste total 6,4 mil já morreram (MS,2001). Se o diabetes não for controlado o paciente pode ter sua expectativa de vida reduzida em até 07 anos. O controle sistemático das taxas glicêmicas pode reduzir os riscos de complicações em até 70% ( MS, 2000). Portanto, o DM trata-se hoje em dia de um dos principais temas de saúde pública no Brasil, devendo ser Introdução 20 ____________________________________________________________________________ objeto de estudo nas várias vertentes do conhecimento epidemiológico, sociológico, psicológico, antropológico, entre outros. Dos portadores de diabetes tipo 2, 23% não se submeteram a nenhum tipo de tratamento, 29% tentam controlar a doença apenas com dieta, 41% recorrem à medicação oral e 7% usam insulina (MS, 2001). Por falta de interesse do próprio indivíduo em detectar precocemente esta doença, esse contingente poderia ser quatro vezes maior (MS, 2001). Se no presente temos 150 milhões de portadores de DM em todo o mundo, a previsão feita pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela FID (Federação Internacional de Diabetes) é de que no ano 2025 haverá cerca de 300 milhões de pessoas com diabetes (MS, 2002). Importantes medidas devem e terão que ser tomadas por todos os profissionais de saúde, governo e autoridades de Saúde, entidades, indústrias farmacêuticas e principalmente em guias e diretrizes a serem seguidas por essas entidades para o efetivo controle de diabetes (MS, 2001). No Brasil há 10 milhões de diabéticos, dos quais 90% são portadores do diabetes tipo 2, versão da doença muito associada ao hábitos da vida moderna. Metade deste contingente não sabe que está doente e cerca de outros 5 milhões de brasileiros já se encontram num estágio conhecido como tolerância reduzida à glicose, ou seja, se não se cuidarem poderão desenvolver a doença (MALERBI, 1998). O DM é uma síndrome complexa de etiologia múltipla que afeta múltiplos órgãos e sistemas decorrentes de defeitos na secreção e ou ação da insulina, caracterizada por hiperglicemia crônica e distúrbio no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas (ANDERSON, 2001). É difícil elaborar uma definição dessa patologia, pois ela engloba um espectro de condições, cujo sintoma mais comum é a hiperglicemia. Introdução 21 ____________________________________________________________________________ Até pouco tempo, o diabetes era considerado uma enfermidade isolada, mas atualmente tem sido identificada como uma doença composta de um grupo heterogêneo de transtornos, conseqüência secundária de predisposições genéticas e fatores precipitantes (WHITE et al, 1996). Clinicamente, os pacientes com diabetes podem apresentar um ou mais destes sintomas: poliúria, polidipsia, perda de peso, polifagia, visão embaraçada, prurido, aumento da susceptibilidade a infecções. Conseqüências agudas podem acompanhar o diabetes, como cetoacidose metabólico ou síndrome hiperosmolar (ANDERSON, 2001). O paciente diabético pode apresentar complicações tardias como retinopatia, com potencial perda da visão; nefropatia que pode evoluir para falência renal; neuropatia periférica, com risco de úlceras nos pés, podendo levar a amputação dos gastrointestinais, membros; genito nefropatia urinários, autonômica, cardiovasculares causando e disfunções sintomas sexuais (PINCINATO, 2003). Essas complicações comprometem a produtividade, qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos, além de envolver altos custos no seu tratamento e das suas complicações. Dentre as doenças crônico–degenerativas, o DM pode ser considerado uma das mais comuns em nossa sociedade. Os portadores de diabetes e seus familiares deverão adaptar-se a várias mudanças, obrigando-os a encararem algumas perdas tais como na capacidade física, no trabalho, no campo financeiro, nos relacionamentos sociais, entre outras, o que os leva a se sentirem ameaçados quanto à aparência individual e à própria vida. Mas, de modo geral, o paciente aprende a conviver com sua enfermidade (BARBOSA, 1993). Na área da enfermagem, os estudos sobre o portador de DM contam com vasta literatura tanto nacional, quanto internacional. A maioria deles aborda Introdução 22 ____________________________________________________________________________ questões como o autocuidado e a educação em saúde da pessoa diabética (ALCÂNTARA e GONÇALVES, 1985; COSTA e LIMA, 1998; ZANETTI, 1990; SILVA, 1992; TAKAHASHI. et. al., 1993; PADILHA et al, 1994; GONZALEZ, 1994; THIES, 1999) entre outros. Tais trabalhos enfatizam as avaliações feitas por profissionais de saúde e outros estudos voltam-se para a experiência da pessoa em conviver com o diabetes. Foram encontrados também diversos estudos que discutem o impacto da doença crônica na família e o enfrentamento subjacente. Anderson e Cols (2001) concluíram que o DM praticamente duplica o risco de depressão; um em cada trës diabéticos tem depressão; a prevalência da depressão varia sistematicamente em função do instrumento e da amostra utilizada; mulheres diabéticas apresentam maior risco de depressão e não houve diferença na prevalência de depressão entre o DM tipo 1 e tipo 2 . Aspectos psiquiátricos relacionados ao DM já foram descritos há pelo menos um século (MAUDSLEY,1899) e podem influenciar o curso desta doença. Mais especificamente, segundo o autor citado, sintomas depressivos poderiam prejudicar a adesão ao tratamento, piorar o controle metabólico e aumentar o risco de complicações do DM. A depressão pode apresentar alterações neuropsíquicas e hormonais que teriam efeitos hiperglicemiantes e poderiam acarretar distúrbios no metabolismo glicêmico. As sobreposições de alterações fisiopatológicas de ambas as condições poderia explicar a ocorrência freqüente de sintomas depressivos em pacientes diabéticos (LEEDMOM, 1991). Em minha experiência profissional observei o aumento considerável de pacientes relatando sintomatologia sugestiva de depressão, recorrendo aos serviços de saúde da rede básica e nas diferentes clínicas e ambulatórios. Introdução 23 ____________________________________________________________________________ Mesmo com a reforma psiquiátrica e as novas políticas de saúde mental, as doenças psiquiátricas não recebem a devida atenção e espaço nos programas de saúde pública e privada, principalmente no aspecto de promoção à saúde mental. Isso não é diferente no que se refere à assistência de enfermagem em saúde mental que parece não se preocupar com a doença mental e com a assistência de enfermagem ao indivíduo em sofrimento psíquico. A precariedade ou ausência de serviços de atenção à saúde mental envolve fatores políticos, econômicos, sociais, organizacionais, comorbidade e outros. O enfermeiro geralmente é, ou deveria ser, o profissional que primeiramente entra em contato com o cliente e a depressão é uma doença muito freqüente na população em geral. Os conhecimentos das funções fisiológicas, biológicas e psicológicas do organismo proporcionam maior entendimento do processo saúde-doença dos indivíduos no seu contexto social. Existem dois fatores que parecem estar relacionados com a depressão no paciente diabético: a aceitação da doença e a incapacidade do paciente em lidar com as alterações que a doença impõe sobre alguns aspectos da vida cotidiana. A depressão é uma preocupação importante para os portadores de DM, podendo ser precipitada nos diferentes estágios da vida, quando a doença se manifesta (BAILEY, 1996; BLACK, 1999; TALBOT, 1999). Estudos apontam que em média, a depressão, em geral, tem início entre os 27 e 35 anos, afetando de 5 a 8% da população em algum período da vida (ROBINS, 1991), sendo duas vezes mais prevalente nas mulheres (CULBERTSON, 1997) e três vezes mais prevalente nos diabéticos (GAVARD et. al.;1993). A depressão é um distúrbio mental que tem conseqüências para o bom funcionamento físico e psicológico da pessoa. Os estudos têm estabelecido uma associação entre a presença de depressão e o controle glicêmico insatisfatório Introdução 24 ____________________________________________________________________________ (LUSTMAN, 1996), pouca adesão às mudanças nos hábitos de vida necessárias para o manejo do diabético, além de um risco aumentado para as complicações crônicas do DM (CARNEY et al.; 1994; CARNEY et al.; 1995). Mesmo pelas dificuldades inerentes de reconhecer a depressão e seus efeitos adversos nos pacientes com DM ou por falha de equipe de saúde ou do paciente, esta situação é diagnosticada e tratada em menos de um terço dos casos (LUSTMAN et al.; 1987). A presença de depressão no paciente portador de DM parece relacionarse a alterações no curso clínico da doença. Sintomas depressivos relacionam-se a um pior controle glicêmico, a um aumento e a uma maior gravidade das complicações clínicas, além de piora da qualidade de vida e comprometimento de aspectos sociais, econômicos e educacionais ligados ao DM (VAN TILBURG, 2001). Depressão não é só diagnosticada através de abatimento moral ou físico, tristeza, choro, desânimo, que, no caso do portador de diabetes, também podem surgir ao mesmo tempo na detecção da doença. A confirmação do diagnóstico de uma doença causa angústia, ansiedade, medo, negação, impotência, baixa autoestima. Rajala e Cols. (1997), em um estudo populacional sobre o tema, procuraram discutir se a relação entre DM e os sintomas depressivos têm base fisiopatológica ou psicossocial, sugerindo que os fatores psicossociais desempenhem um papel importante na ocorrência de sintomas depressivos no DM. Outros fatores parecem associar-se diretamente com a presença de sintomas depressivos no paciente diabético como o fato de ser solteiro poder ser responsável por uma menor capacidade de aceitar a doença e as modificações necessárias no estilo de vida (BLACK, 1999; ROY,2001; PEYROT, 1997; EATON, 1992; CONNELL, 1994). Já um menor nível de escolaridade dificulta o entendimento Introdução 25 ____________________________________________________________________________ das complicações de uma doença crônica e de seu tratamento (LUSTMAN, 1997; ROY, 2001; BLACK, 1999; PEYROT, 1997; CONNELL, 1994). Dificuldades financeiras também se mostram relacionadas, em menor grau, com a ocorrência de sintomas depressivos nos portadores de DM (ROY,2001). Além disso, estudos correlacionam a presença de sintomas depressivos a um pior controle glicêmico (VAM TILBURG et. al.; 2001; GRANDINETTI et al.; 2000). Considerando, pois, que a depressão é uma característica velada e confundida por muitos profissionais da área da saúde e pelos próprios portadores da patologia com angústia, tristeza, melancolia, e dificuldade de enfrentamento. Gostaríamos, assim, de aprofundar o conhecimento sobre a experiência social dessa enfermidade, buscando compreender a experiência de portadores de DM no que se refere especialmente à depressão sob sua ótica, a fim de contribuir para que a assistência seja integral, como preconizado nos Sistema Único de Saúde (SUS). A escassez de literatura com referência a depressão no portador de diabetes evidencia a necessidade de pesquisa. Compreender e desvelar a depressão nos portadores de DM é relevante para que se possa prestar assistência adequada e para que o diabético adquira a tão almejada qualidade de vida, conseguindo conviver com a patologia. 26 Introdução 26 ____________________________________________________________________________ 1.3- OBJETIVO GERAL - Compreender como o diabético vivencia a depressão. 1.4- OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Descrever os sinais e sintomas da depressão relacionando-a ao Diabetes Mellitus e a vida cotidiana; - Identificar os recursos de enfrentamento utilizados pelos diabéticos depressivos. Conhecendo o inimigo 27 ____________________________________________________________________________ CA PÍTU LO 2 Conhecendo o inimigo 28 ____________________________________________________________________________ Conhecendo o inim igo “Fito-me frente a frente. Conheço que estou louco”. Fernando Pessoa 2.1- A depressão 2.1.1- Uma visão geral De acordo com Aurélio (2000), a palavra depressão significa: ato de deprimir-se, debilitar; enfraquecer; causar angústia abater-se; sofrer; angustiar-se. Blakiston (1987) entende a depressão como queda ou redução da função. Em Psiquiatria seria tristeza extrema, melancolia ou abatimento que, ao contrário do pesar, são irreais e fora de proporção com qualquer causa alegada; pode ser um sintoma de algum transtorno psiquiátrico ou a manifestação primordial de urna reação psicótica depressiva ou de uma neurose. O termo depressão, na linguagem corrente, pode designar tanto um estado afetivo normal quanto um sintoma, uma síndrome e uma ou várias doenças. Pode referir-se a um sintoma, a uma síndrome e a uma entidade nosológica. A depressão enquanto sintoma pode estar associada aos quadros clínicos, tais como o transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo ou doenças clínicas, podendo ainda ocorrer como resposta a situações estressantes ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas. Enquanto síndrome inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta de capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas como sono e apetite (LAFER et al.; 2000 e LAKS,1999). Também consideram a Conhecendo o inimigo 29 ____________________________________________________________________________ depressão como uma síndrome que pode acompanhar doenças sistêmicas, neurológicas e/ou neuropsiquiátricas. Como um transtorno, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Kaplan e Sadock (1997) caracterizam a depressão, como um episódio patológico no qual existe perda de interesse ou prazer, distúrbios de sono e apetite, retardo motor, sentimento de inutilidade ou culpa, distúrbios cognitivos, diminuição da energia e pensamento de morte ou suicídio. Segundo Matheney e Topalis (1971), depressão é um estado de humor caracterizado por lentidão e retardo do processo ideativo e da atividade motora. Inicia-se com um quadro de lentidão geral associado a sensação de tristeza, melancolia, abatimento e perda da iniciativa. O paciente deprimido sofre de intenso sentimento de culpa, tem idéias depreciativas sobre si mesmo e falsas crenças que o levam a acusar-se de inúmeros delitos. Todas as pessoas passam por momentos nos quais se sentem tristes, sozinhas ou infelizes e uma pessoa que sofreu perda de um ente querido ou emprego pode sentir-se "deprimida", mas, na maioria das vezes, ela estará experimentando um sentimento normal e absolutamente compreensível. Sentir-se deprimido, nem sempre significa um processo patológico; às vezes, o paciente desconhece ser portador de tal doença, mas quem precisa saber identificar e encaminhar esse indivíduo é a equipe de saúde. Além disso, as formas moderadas de depressão podem apresentar-se mascaradas, pois o cliente procura ajuda profissional e traz como queixa principal, uma dor de cabeça persistente, uma dispepsia com falta de apetite, constipação, gosto ruim na boca (D'ANDREA, 1986). Por isso, o profissional que atende estes pacientes deve estar alerta. Conhecendo o inimigo 30 ____________________________________________________________________________ Lembramos diagnosticada e que tratada a depressão (a exemplo precocemente, também pode de outras doenças) ser resolvida mais rapidamente e não causar tantos prejuízos aos indivíduos acometidos, evitando, principalmente o suicídio nos indivíduos deprimidos. No entanto, consideramos que os profissionais de saúde, nos diferentes níveis de atenção, não estão preparados para prestar atenção à saúde mental dos indivíduos e, na maioria dos casos, para realizar diagnósticos de transtornos mentais, incluindo a depressão, embora seja tarefa da equipe de saúde reconhecer as manifestações de comportamento do cliente, estando ciente que a depressão pode ir de um grau leve até um grau profundo. É uma tarefa e um compromisso ético assistir o indivíduo deprimido com qualidade e eficiência. Os outros profissionais de saúde também precisam fazer este diagnóstico, portanto, a presente pesquisa focaliza a depressão do ponto de vista da responsabilidade profissional do enfermeiro. Este, por ser um dos profissionais da saúde que tem contato direto, prolongado e constante com os clientes dos serviços de saúde, está em posição de fazer o diagnóstico, identificando os sinais indicativos de depressão e o levantamento das possíveis dificuldades do seu portador. Sabendo o profissional que o tempo normalmente designado a uma consulta raras vezes é suficiente para permitir uma entrevista psicológica adequada, ao suspeitar de depressão no cliente, é aconselhável fazer uma entrevista mais extensa, assegurando que sua duração seja adequada para efetuar uma evolução diagnostica minuciosa (MONTGOMERY, 1997). Naturalmente é muito importante a maneira como se realiza a consulta de enfermagem. Para tanto, a atmosfera deve ser a mais relaxante possível, de tal modo que o paciente não se sinta amedrontado e tenha confiança, o profissional, Conhecendo o inimigo 31 ____________________________________________________________________________ por sua vez, deve estar alerta e ser sensível a pistas ocultas. É preciso uma atitude receptiva, disposição em escutar e uma observação acurada do comportamento e do conteúdo da comunicação do outro. 2.1. 2- Principais aspectos históricos e epidemiológicos Desde a antiguidade a depressão tem sido registrada a exemplo da história do Rei Saul que descreve uma síndrome depressiva, assim como aversão à comida, insônia, irritabilidade e inquietude. Os gregos acreditavam que as pessoas com temperamento melancólico, sob influência de Saturno, secretavam "bile negra" a qual enegrecia o humor influenciando o cérebro, dando início assim às teorias neurobiológicas dos transtornos do humor. No início do século XIX, Esquirol descreveu vários quadros delirantes de melancolia. Em 1882, o psiquiatra alemão Kari Kahibaum usou o termo "ciclotimia", descrevendo a mania e a depressão como estágios da mesma doença. No final do século XIX e início do século XX, os estudos desenvolvidos por Kraepelin tiveram contribuições fundamentais na caracterização dos quadros do humor como entidades nosológicas (KAPLAN e SADOCK,1997). Os autores acima referem que nessa época Neyer cunhou o termo psicobiologia dos transtornos mentais preferindo o termo depressão a melancolia por contemplar os aspectos biológicos. Na década de 40, foi demonstrada a eficácia do lítio no tratamento dos quadros de mania aguda. No final da década de 50, redobrou-se o interesse pelos aspectos biológicos dos transtornos mentais com a introdução da clorpromazina. Nessa mesma década, foram sintetizados os antidepressivos tricíclicos, tendo por base sua ação anticolinérgica. Durante duas décadas seguintes poucos avanços foram registrados e na década de 90 maior Conhecendo o inimigo 32 ____________________________________________________________________________ ênfase foi dada a mecanismos nucleares (moleculares) dos efeitos dos antidepressivos e atualmente pode ser observado é que os estudos etiológicos são direcionados para um modelo integrativo. A depressão é reconhecidamente um problema prioritário de saúde pública. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que em 1990 a depressão maior unipolar foi a principal causa de "anos vivido com incapacitação" em países desenvolvidos e que em 2020 será também a maior causa em mulheres e em países em desenvolvimento (CARDOSO e LUZ, 1999). Ela é apontada como uma das epidemias do século, aparecendo entre as primeiras colocadas. A Organização Mundial de Saúde afirma que 20% da população mundial um dia padecerá deste mal, pois a vida atribulada com as rápidas mudanças socioeconômicas das últimas décadas têm gerado no homem uma série de problemas e o aumento de doenças mentais parece ter relação com essas mudanças (PEREIRA, 1998). Como ainda não surgiu nenhum tratamento preventivo, médicos acreditam que vão aparecer cerca de dois milhões de novos deprimidos clínicos no mundo a cada ano, sendo que no Brasil serão mais de 10 milhões de indivíduos (CARDOSO e LUZ, 1999). Segundo o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), no período de abril/2000 - março/2001 tem-se a seguinte morbidade hospitalar em relação aos transtornos de humor (afetivos): 52 óbitos, 33,3 dias de média permanência, e 37.484 internações. De acordo com Cardoso e Luz (1999), a depressão é uma patologia muito comum e que rouba vida útil da população sendo superada apenas pelas doenças do coração. A depressão também é apontada como uma das epidemias do século, aparecendo entre as primeiras colocadas. A Organização Mundial de Saúde afirma que 20% da população mundial um dia padecerá deste mal. A vida atribulada, com Conhecendo o inimigo 33 ____________________________________________________________________________ as rápidas mudanças socioeconômicas das últimas décadas, tem gerado no homem uma série de problemas. O aumento de doenças mentais parece ter a ver com essas mudanças, conforme (PEREIRA, 1998). Segundo Katon e Sullivan (1990) muitas doenças físicas estão associadas à depressão, entre elas as desordens endócrinas (hipotireoidismo, hipertireoidismo, diabetes) e as desordens neurológicas (esclerose múltipla, doença de Parkinson, enxaqueca, epilepsia, encefalite, tumor cerebral). Em tomo de 31 a 50% da população brasileira apresenta durante a vida pelo menos um episódio de algum transtorno mental e cerca de 20 a 40% da população necessita, por conta desses transtornos, de algum tipo de ajuda profissional. São dados que indicam a grande importância social dos transtornos mentais (em especial a depressão), a necessidade de seu reconhecimento e também de assistência adequada (DALGALARRONDO, 2000). De acordo com Montgomery (1997), a depressão é um dos processos patológicos que se apresenta com maior freqüência na atenção primária. Ao longo da vida ela aparece em 8 a 12% nos homens e de 20 a 26% nas mulheres e que 50% dos pacientes deprimidos buscam ajuda na atenção médica primária e permanecem sem ter diagnósticos adequados e, portanto, sem receber tratamento, o que repercute em excessiva carga de sofrimento, elevada morbidade e mortalidade e contínuo risco de suicídio. Estudos apontam que 20 % dos indivíduos com doenças graves crônicas (diabetes, câncer e doenças do coração) desenvolvem depressão. Com freqüência, os pacientes com depressão focalizam suas queixas sobre os componentes somáticos de seus quadros depressivos e miniminizam ou eventualmente negligenciam seus sintomas cognitivos e afetivos. Por outro lado freqüentemente a Conhecendo o inimigo 34 ____________________________________________________________________________ ocorrência de depressão com doenças médicas causa amplificação das queixas somáticas (BURVILL, 1995). Estes dados reforçam nossa opinião de que há necessidade de desenvolver ações dos profissionais da equipe de saúde (em especial, o enfermeiro) relativas a depressão em todos os níveis assistenciais de saúde pública ou privada. Willians et al.; (1999) referem que a depressão tem determinado maior custo/ benefício, resultando em muitos dias de desabilitação e em doze vezes mais recidivas do que doenças crônicas tal como doenças do coração, hipertensão e diabetes. O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos relatou um gasto anual de U$ 148 bilhões para os transtornos mentais (a depressão é a mais comum), U$ 128 bilhões para doenças do coração, e U$ 104 bilhões para produtividade ou U$ 3000 anual por pessoa/funcionário deprimido para o empregador (GREENBERG et al.;1993). Na literatura encontram-se os quadros mais comuns de depressão mencionados: transtorno depressivo maior, disritmia, depressão integrante do transtorno bipolar l e II depressão como parte da ciclotimia (WILLIANS et al., 1999; LAFER et al., 2000; DALGALARRONDO, 2000). As distinções entre os transtornos do humor, anteriormente reconhecidas na clinica foram verificadas e são oficialmente reconhecidas desde a quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mental (DSM-IV.1994). A depressão, como já foi dito, é conhecida atualmente como transtornos do humor, e os dois principais transtornos do humor são caracterizados como transtorno depressivo maior e o transtorno bipolar l. A maioria das pessoas, consideradas normais, experimentam uma ampla faixa de variação dos humores acompanhados por um repertório variado de Conhecendo o inimigo 35 ____________________________________________________________________________ expressões afetivas. Esses humores e afetos ocorrem sob o controle mais ou menos consciente da pessoa que os experimenta. Em razão disso, concordamos com Kaplan e Sadock (1997) quando dizem que os transtornos do humor constituem um grupo de condições clínicas caracterizadas pela perda deste senso de controle e idéias grandiosas. No humor deprimido (depressão) há perda de energia e de interesse, sentimentos de culpa, dificuldades para concentrar-se, perda do apetite e pensamentos sobre morte e suicídio. Outros sinais e sintomas de transtornos do humor incluem alterações nos níveis de atividade, capacidades cognitivas, linguagem e funções vegetativas (sono, apetite, atividade sexual e outros ritmos biológicos), comprometendo quase sempre o funcionamento interpessoal, social e ocupacional da pessoa. A literatura reconhece como fatores causais da depressão tanto os fatores biológicos, como os genéticos e os psicossociais. A neuroquímica, nos últimos 30 anos, é a área que vem recebendo maior destaque nas pesquisas sobre a fisiopatologia da depressão e apresentou importante progresso. Os principais sistemas envolvidos na fisiopatologia da depressão são os sistemas monoaminérgicos da noradrenalina, serotonina e dopamina (LAFER et a/, 2000). Alterações neuroquímicas são estudadas durante a fase ativa da doença (uni e bipolar), podendo representar apenas um "estado neuroquímico" alterado que não representaria um "verdadeiro traço neuroquímico" subjacente. KapczinskI et al.; (2000) revelam que os avanços colaboram na adequada identificação de casos e não-casos de transtornos de humor em estudos longitudinais. Alguns apontam anormalidades cerebrais como alterações volumétricas, metabólicas e de fluxo sanguíneo em pacientes com transtornos do humor. Porém, esses estudos têm limitações metodológicas (LAFER et a/, 2000), Conhecendo o inimigo 36 ____________________________________________________________________________ Existem aspectos genéticos e desde o século XIX, tem-se procurado demonstrar a existência de um componente genético para as depressões. Foram desenvolvidos estudos genético-epidemiológicos com famílias, gêmeos e adotados. Segundo Lafer et al.; (2000), estudos com gêmeos convergem para estimar a herdabilidade na depressão unipolar em torno de 40% e na depressão bipolar. Entretanto, uma das dificuldades centrais é a caracterização precisa do fenótipo (características observáveis num indivíduo), ao qual se pretende relacionar a uma determinada constituição genética ou fenótipo. Chamou a atenção, estudo relatado por KapczinskI et al.; (2000) no qual é assinalado a importância da intervenção precoce nos transtornos do humor. É a informação de que a indução de fatores dos genes de transcrição não ocorre apenas de imediato, mas que há uma série de efeitos de longo prazo em vários neuropeptídeos. O desenvolvimento dos estudos descritivos contribuiu não apenas para melhor compreensão da depressão, mas também para o seu tratamento (LAFER et al.; 2000). Ao tentar conhecer e compreender a depressão segundo os aspectos psicológicos envolvidos são apontadas algumas abordagens teóricas: - comportamental (utiliza técnicas de reforço positivo ou de ausência de reforço, de solução de problemas, do desamparo aprendido); - cognitiva (abordagem diretiva racional-emotivo utiliza técnicas de auto-instrução e de reestruturação cognitiva); interpessoal (não diretiva centra-se no aqui e no agora tendo como referência a comunicação); - construtivista (trabalha com base na reconstrução dos esquemas, dos pressupostos e das crenças básicas) (LAFER et al., 2000). Em geral, pacientes com depressão crônica lidam com o mundo através de operações concretas; a visão de si mesmos depende da visão dos outros; Conhecendo o inimigo 37 ____________________________________________________________________________ conseguem dialogar com os outros, mas não conseguem analisar simultaneamente a visão própria e da sociedade. Nesse sentido, as terapias comportamental-cognitiva e cognitiva adaptam-se bem. As terapias construtivistas são mais indicadas para pessoas que têm uma compreensão maior ou estão aptas a entender os diferentes sistemas e hierarquias que influenciam seu comportamento. Sob a perspectiva psicanalítica, a depressão é considerada um fenômeno psicopatológico de extrema complexidade e as respostas terapêuticas são, também, muito variadas; não permitindo uma base uniforme de observação, ou de expectativa (LAFER et al. 2000). Do ponto de vista psicanalítico, (sem negar o papel dos neurotransmissores) acredita-se que os processos depressivos estão associados a fantasias inconscientes ou fruto da significação atribuída inconscientemente às vivências emocionais, ou é o resultado final da dificuldade de elaboração, por parte do aparelho psíquico, da ansiedade depressiva. Quanto aos envolvidos na depressão reforça-se que acontecimentos vitais estressantes precedem, mais freqüentemente, os primeiros episódios de transtornos do humor do que episódios subseqüentes. O estresse que acompanha o primeiro episódio resultaria em alterações duradouras na biologia do cérebro com repercussão nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e sinalizadores intraneuronais (KAPLAN e SADOCK, 1997). Diversos relatos apontam a relação entre o funcionamento da família e o início e curso dos transtornos de humor, assim como o grau de psicopatologia na família pode afetar o índice de recuperação, o retomo dos sintomas e o ajuste pósrecuperaçâo do paciente. (LAFER et al., 2000). Conhecendo o inimigo 38 ____________________________________________________________________________ A vida moderna parece estar influindo no aparecimento e no curso de doenças depressivas. O mundo está mais exigente, ameaçador, competitivo e criador de grandes expectativas, mais violento e inseguro. Espera-se que cada indivíduo seja capaz de orientar-se e defender-se no ambiente em que vive.Observase o aumento de casos de cronicidade decorrentes de tratamento inadequado. Levam-se em conta, no diagnóstico médico da depressão, sintomas psíquicos; fisiológicos e evidências comportamentais. Montgomery (1997) sugere um guia diagnóstico no qual se obtém um grupo de sintomas cardinais e adicionais.Os principais sintomas cardinais são citados em vários esquemas diagnósticos são tristeza; falta de interesse; diminuição do apetite; menor duração do sono (insônia no início, na metade ou no final do sono); dificuldades para concentrar-se; cansaço; pessimismo; idéias suicidas. Os sintomas cardinais não devem ser considerados um grupo exclusivo, pois freqüentemente os pacientes deprimidos manifestam muitos outros sinais adicionais. Se os sintomas cardinais encontrarem-se encobertos, podem proporcionar pistas valiosas para estabelecer a natureza do transtorno. Nos sintomas adicionais encontramos características como ansiedade, irritabilidade, agitação ou enrijecimento psicomotor, hipersonia, moléstias e dores ou transtornos somáticos, aumento de apetite, insegurança, incapacidade para agir frente a uma situação e hipocondria que também devem ser considerados, mas para se estabelecer um diagnóstico confiável, devido à natureza sindromática da depressão, é necessária a presença de vários sintomas cardinais. Existem esquemas diagnósticos que definem critérios rigorosos para o diagnóstico da depressão (LAFER et al.; 2000). Alguns esquemas diagnósticos como o DSM-111R e C1D10 requerem a presença de cinco sintomas cardinais. Conhecendo o inimigo 39 ____________________________________________________________________________ Segundo Montgomery (1997), estes critérios podem ser rigorosos demais, excluindo um grande número de pacientes com depressão tratável. Desse modo, sugere-se que para estabelecer um provável diagnóstico devem estar presentes num mínimo de três (nos homens) ou quatro (nas mulheres) sintomas cardinais durante pelo menos duas semanas. Ainda para Montgomery (1997), estes critérios menos rigorosos podem ser justificados pela dificuldade que existe para detectar múltiplos sintomas. Além, do que, é sabido que os homens tendem a reportar menos sintomas que as mulheres, não obstante padecendo de uma depressão da mesma severidade. Convencionalmente fala-se em depressão quando estão presentes pelo menos cinco dos seguintes sintomas, por, pelo menos, duas semanas (CID-10, 1997; DSM IV-1994): humor depressivo, perda de interesse ou prazer (um destes dois ou ambos são obrigatórios), perda ou ganho de peso significativo, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada, indecisão ou capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se e pensamentos de morte recorrentes. A OPAS/OMS (1999) com base no CID -10 classifica como depressão grave (três sintomas típicos e quatro adicionais), moderada (dois sintomas típicos e três adicionais) e leve (dois sintomas típicos e dois adicionais - nenhum em grau acentuado) Segundo Lafer et al.; (2000), os sintomas no plano psíquico podem ser: • Humor depressivo. Sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa. O humor pode ser irritável ou "rabugento" em crianças e adolescentes. Alguns pacientes mostram-se antes "apáticos" do que tristes, referindo-se muitas vezes ao "sentimento da falta de sentimentos". Tudo parece Conhecendo o inimigo 40 ____________________________________________________________________________ vazio e sem graça; os pacientes costumam lidar com o sentimento de que tudo lhes parece fútil ou sem real importância. Com freqüência, o deprimido julga-se um peso para os familiares e amigos, muitas vezes invocando a morte para aliviar os que o assistem na doença. As idéias de suicídio são freqüentes e temíveis. Têm como motivações para o suicídio as distorções cognitivas (perceber quaisquer dificuldades como obstáculos definidos e intransponíveis; tendência a superestimar as perdas sofridas) e ainda o intenso desejo de pôr fim a um estado emocional extremamente penoso e tido como interminável. Alguns ainda buscam a morte como forma de expiar suas supostas culpas. Os pensamentos de suicídio vão desde o remoto desejo de estar simplesmente morto, até planos minuciosos de se matar (estabelecendo o modo, o momento e o lugar para o ato). Estes pensamentos de morte devem ser sistematicamente investigados, uma vez que essa conduta poderá prevenir atos suicidas, dando ensejo ao doente de se expressar a respeito (LAFER et al.; 2000). • Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades antes consideradas como agradáveis. Os deprimidos podem relatar que não se interessam mais pelos seus passatempos prediletos; as atividades sociais são freqüentemente negligenciadas e tudo lhes parece agora ter o peso de terríveis "obrigações". • Fadiga ou sensação de perda de energia. As pessoas deprimidas podem relatar fadiga persistente, mesmo sem esforço físico. As tarefas mais leves parecem exigir esforço substancial. Na execução das tarefas lentifica-se o tempo. DALGALARRONDO (2000), classifica a fadiga, cansaço fácil e constante (sente o corpo pesado como alterações da esfera instintiva e neurovegetativa). Conhecendo o inimigo 41 ____________________________________________________________________________ • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Pessoas relatam que agora parecem custar esforços intransponíveis, decisões antes quase automáticas. O paciente pode se demorar infindavelmente para terminar um simples relatório, pela incapacidade em escolher palavras adequadas. Pode estar notavelmente lentificando o curso do pensamento. Professores experientes, por exemplo, queixam-se de não conseguir preparar as aulas mais rotineiras, programadores de computador pedem para ser substituídos pela atual "incompetência". Em função da fatigabilidade e déficit de atenção, desinteresse generalizado, geralmente crianças e adolescentes têm queda em seus rendimentos escolares (LAFER et al., 2000). Os sintomas fisiológicos associados à depressão são descritos como alterações do sono (com mais freqüência a insônia, podendo ocorrer também a hipersonolência). A insônia mais típica é a intermediária (acordar no meio da noite, com dificuldades para voltar a conciliar o sono) ou terminal (acordar mais precocemente, pela manhã) Ainda, pode ocorrer insônia inicial. Com freqüência menor, os indivíduos podem se queixar de sonolência excessiva, mesmo durante as horas do dia. Alterações do apetite podem ocorrer, sendo mais comuns a perda ou o aumento do apetite. As pessoas precisam muitas vezes esforçar-se para comer ou serem ajudadas por terceiros a se alimentar. As crianças podem não ter o esperado ganho de peso no tempo correspondente, pela inapetência. Algumas formas específicas de depressão são acompanhadas de aumento do apetite, mostrando-se caracteristicamente aguçado por carboidratos e doces. A redução do interesse sexual da libido (do desejo sexual) e da resposta sexual (disfunção erétil, orgasmo retardado ou anorgasmia) podem acontecer. São Conhecendo o inimigo 42 ____________________________________________________________________________ descritas ainda as alterações do comportamento como retraimento social; crises de choro (choro fácil e/ou freqüente); sintomas afetivos como comportamentos suicidas; Ideação negativa, pessimismo em relação a tudo; idéias de arrependimento e de culpa; visão de mundo marcada pelo tédio ("a vida é vazia, sem sentido, nada vale a pena"); idéias de morte, desejo de desaparecer, dormir para sempre; ideação e planos ou atos suicidas como alterações ideativas; retardo psicomotor e lentificação generalizada ou agitação psicomotora. A tendência a permanecer na cama por todo o dia (com o quarto escuro, recusando visitas, etc.); aumento na latência entre as perguntas e as respostas; lentificação psicomotora até o estupor; diminuição da fala, redução da voz, fala muito lentificada; mutismo (negativismo verbal) e negativismo (recusa à alimentação, a interação pessoal, etc.) como alterações da volição e da psicomotricidade. Sintomas depressivos parecem relacionar-se a um pior controle glicêmico, a um aumento e a uma maior gravidade das complicações clínicas, piora da qualidade de vida e ao comprometimento de aspectos sociais, econômicos e educacionais ligados ao DM. Baseada nestas premissas, conduzimos este estudo utilizando a história oral temática. CA PÍTU LO 3 A trajetória metodológica 44 ____________________________________________________________________________ A trajetória m etodológica “Mais triste do que acontece é o que nunca aconteceu. Meu coração, quem o entristece? Quem faz o meu?” Fernando Pessoa 3.1- O referencial teórico-metodológico: Em geral, o método de pesquisa a ser utilizado depende da natureza do objetivo do problema em estudo. Como o propósito deste estudo é a compreensão de experiência vivida, o método qualitativo parece mais adequado por este preocupar-se com uma realidade que não pode ser quantificada, aprofundando-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível, e que não pode ser reduzido a equações e estatísticas (TRIVIÑOS, 1987; MINAYO, 1994). Em se tratando de pesquisa em enfermagem, Gualda et al. (1995) ressaltam que é cada vez mais evidente o interesse que enfermeiros pesquisadores vêm demonstrando pelo uso das metodologias qualitativas, visto que as mesmas têm como foco principal a natureza, a essência, o significado e os atributos do fenômeno em estudo, buscando dados objetivos e subjetivos para a obtenção da realidade das pessoas . Para Marques (1999, p. 44), “na enfermagem, o contato com os dramas humanos é muito próximo, beirando a intimidade. (...). Nós, profissionais de saúde desta área, servimos de confidentes, de parceiras(os) em momentos cruciais para a vida das pessoas (...)”. São situações concretas vividas no ato de cuidar, que A trajetória metodológica 45 ____________________________________________________________________________ suscitam interrogações, problemas a “pesquisar”, dificilmente captáveis numa redução a números e estatísticas. Foi utilizado para coleta e análise de dados os pressupostos da história oral por se tratar de um recurso metodológico moderno para uso nas entrevistas, usado para direcionar a coleta e análise de dados e, neste estudo, a história oral vem revelar aspectos ocultos, ou seja, a depressão velada no portador de DM. Este recurso metodológico humaniza as percepções do pesquisador para com o sujeito em questão, preocupando-se com a qualidade e não com a quantidade de dados obtidos. É uma técnica e fonte por meio das quais se produz conhecimento, tem abrangência multidisciplinar e pedagógica e é considerada a ciência do indivíduo (FREITAS, 2003). Segundo Pasternak apud Freitas (2003, p.3), “O que é escrito, ordenado, factual nunca é suficiente para abarcar toda a verdade: a vida sempre transborda de qualquer cálice”. No Brasil, há uma quantidade significativa de trabalhos que utilizam a história oral como instrumento de pesquisa e como fonte documental nas ciências humanas. Entretanto, existem ainda dificuldades no sentido de circunscrever, mais precisamente, os liames e particularidades dessa metodologia de trabalho (FREITAS, 2003). O debate sobre a história oral possibilita reflexões sobre o registro dos fatos na voz dos próprios protagonistas. Utiliza-se de metodologia própria para produção de conhecimento. Sua abrangência, além de pedagógica e interdisciplinar, está relacionada ao seu importante papel na interpretação do imaginário e na análise das representações sociais (FREITAS, 2003). A trajetória metodológica 46 ____________________________________________________________________________ 3.2-Conhecendo a história oral Segundo Joutard apud Ferreira e Amado (2004, p.45-51) a primeira geração de historiadores surgiu nos Estados Unidos nos anos 50 e seu intento era modesto: coligir material para os historiadores futuros; seria um instrumento para os biógrafos vindouros. Na Itália, sociólogos como Ferraotti e antropólogos como De Martino e Bosio, utilizam a pesquisa oral para reconstruir a cultura popular (LOZANO, 2004). Em 1986, no Japão, foi organizado o primeiro simpósio de história oral pela Sociedade de Ciência Histórica e, os debates teóricos e historiográficos destacaram as possibilidades da história oral, em particular na história da última guerra, resultando em duas publicações. Na França e depois na Itália, a pesquisa oral tornou-se um meio pedagógico eficaz para motivar os alunos de história, levando-os a tomar consciência das relações que o passado mantém com o presente. De acordo com David Dunaway apud Freitas (2003) a atual década de 90 marca o advento da quarta geração de historiadores nascida nos anos 60, que vive “naturalmente” em um mundo de som e de oralidade, influenciada nos Estados Unidos pelos movimentos críticos pós-modernistas, o que se traduz na valorização da subjetividade, conseqüência ou mesmo, para alguns, finalidade da história oral. Mas a queda do muro de Berlim e o restabelecimento da democracia no Leste europeu também propiciaram à pesquisa oral as condições de liberdade necessárias e novos campos de estudo sobre o período stalinista e a resistência ao stalinismo (BROSSAT et al., 1990). A trajetória metodológica 47 ____________________________________________________________________________ 3.3- A História oral como método de pesquisa O desenvolvimento da história oral iniciou-se com a antropologia, a partir do estudo do processo de transcrição de tradições orais das sociedades, quando os modos de comunicação ainda transitavam pelas formas de comunicação oral. A tradição oral foi, então, objeto de conhecimento para construção da teoria Antropologia e um meio de aproximação e interpretação das culturas abordadas. Hoje, o âmbito interdisciplinar de ação da história oral ultrapassou o campo específico da Antropologia e abrange as Ciências Sociais (FERREIRA, 1999). História oral é um recurso moderno, um método que vem sendo utilizado como forma de captação de experiências de pessoas dispostas a falar sobre aspectos de sua vida, com o compromisso de se manter no contexto social. É usada para a elaboração de documentos, arquivamentos e estudos referentes à vida social das pessoas (MEIHY, 1996). Esse autor refere-se à história oral como um conjunto de procedimentos que se inicia com a elaboração de um projeto, passando, a seguir, para a definição de um grupo de pessoas a ser entrevistado, que ele designa como colônia. Nessa etapa, faz-se o planejamento da condução das entrevistas gravadas, a transição dos relatos orais, conferência dos depoimentos, devidamente autorizados para uso na pesquisa, o arquivamento, a divulgação dos resultados e, por final, o retorno dos resultados ao grupo que se os originou. O pressuposto da história oral está na percepção do passado como algo que tem continuidade no presente, cujo processo histórico não está acabado. Proporciona sentido à vida social dos depoentes e leitores, para que possam compreender o seguimento histórico e identificar-se como parte dele (MEIHY, 1996). A trajetória metodológica 48 ____________________________________________________________________________ A história revela análise da experiência e o uso desta, além de ensinar e preparar a sociedade para eventos similares no futuro. De acordo com Lozano (1996, 2004), o objeto de estudo da história oral é constituído pôr fenômenos e eventos que oferecem interpretações qualitativas dos processos histórico-sociais, através da oralidade. O subjetivo da experiência humana é a parte central de estudos, no método da pesquisa histórica, que ampliará o enfoque social da categoria de produção dos conhecimentos históricos para os que também se identificarem e se solidarizarem com os princípios da história popular. Fazer história oral significa produzir conhecimentos históricos, científicos e não apenas fazer um relato ordenado da vida e de experiências das pessoas (LOZANO, 1996). A história oral como método de pesquisa tem de mais precioso, a possibilidade de reconstruir a história através de suas múltiplas versões; captar a lógica e o resultado da ação através de seus significados expressos na linguagem do ator; ou seja, desvendar o jogo complexo das ideologias com a ajuda dos instrumentos que nos são oferecidos pela própria ideologia (ALBERTI, 1994). Nesse sentido, a história oral é legítima como fonte porque não induz a mais erros do que outras fontes documentais e históricas. O conteúdo de uma correspondência não está menos sujeito a distorções factuais do que uma entrevista gravada. A diferença básica é que, enquanto no primeiro caso a ideologia se cristaliza em um momento qualquer do passado, na história oral a versão representa a ideologia em movimento e tem a particularidade, não necessariamente negativa, de “reconstruir” e totalizar, reinterpretar o fato (ALBERTI, 1994). A história oral remete a uma dimensão técnica e a uma dimensão teórica. A trajetória metodológica 49 ____________________________________________________________________________ Trabalhar com história oral em geral consiste em gravar entrevistas e editar depoimentos, sem explorá-los suficientemente, tendo em vista um aprofundamento teórico-metodológico; também é comum a utilização de entrevistas, em associação com fontes escritas, como fornecedoras de informações para a elaboração de teses ou trabalhos de pesquisa, sem que isso envolva qualquer discussão acerca da natureza das fontes de seus problemas. A história oral enquanto pesquisa empírica de campo e a reflexão teóricometodológica estão indissociavelmente interligadas, demonstrando de maneira mais convincente que o objeto histórico é sempre resultado de uma elaboração. Em resumo, história é sempre construção. O uso sistemático do testemunho oral possibilita à história oral esclarecer trajetórias individuais, eventos ou processos que às vezes não têm como ser entendidos ou elucidados de outra forma; são depoimentos de analfabetos, rebeldes, mulheres, crianças, miseráveis, prisioneiros, loucos... São histórias de movimentos sociais populares, de lutas cotidianas encobertas ou esquecidas, de versões menosprezadas. Essa última característica permite inclusive que uma vertente da história oral tenha se constituído, ligada à história dos excluídos. Para Alberti (2004), o pesquisador poderá lançar mão de contribuições oriundas de outras disciplinas, como a filosofia, a teoria sociológica, a teoria psicanalítica, seja qual for a distância a que recorra, porém, o historiador encontrará encaminhamentos e soluções para esse tipo de questão na área da teoria (histórica, psicanalítica, sociológica etc), já que esta tem a capacidade de pensar abstratamente questões oriundas da prática, filtradas pela metodologia, produzindo conceitos que, por sua abrangência, são aplicados a situações análogas, iluminando A trajetória metodológica 50 ____________________________________________________________________________ e transformando a compreensão da própria prática – no caso específico, do exercício da história oral. Abordar o fenômeno da oralidade é ver-se defronte, é aproximar-se bastante de um aspecto central da vida dos seres humanos: um processo de comunicação no qual ocorre o desenvolvimento da linguagem, a criação de uma parte muito importante da cultura e da esfera simbólica humana, é antes de tudo um espaço de contato com influência interdisciplinar, com ênfase nos fenômenos e eventos que permitem, através da oralidade, oferecer interpretações qualitativas de processos histórico-sociais. Fazer história oral significa, portanto, produzir conhecimentos históricos, científicos e não simplesmente fazer um relato ordenado da vida e da experiência dos “outros” (LOZANO, 2004). Como acontece com outras questões mais vitais, aprende-se melhor a história oral experimentando-a, praticando-a sistemática e criticamente; mantendo a disposição de voltar atrás reflexivamente sobre os passos percorridos, com a finalidade de melhorar cada vez mais o nosso desempenho. Para Streubert e Carpenter (1999), a pesquisa histórica propicia a construção do conhecimento a partir de informações obtidas na prática profissional e este talvez seja também um trabalho essencial desta pesquisa: pensar na história oral como um esforço interdisciplinar e de equipe, no qual não devem faltar os rigores da pesquisa histórica e da etnografia, a visão global da sociologia, e a sensibilidade de abordagem da psicanálise e da psicologia. Segundo Alberti (2004 p.19), a entrevista de história oral documenta uma versão do passado, supõe que essa versão e a comparação entre diferentes versões que tenham passado são relevantes para estudos na área das ciências humanas. Trata-se de ampliar o conhecimento sobre acontecimentos e conjunturas A trajetória metodológica 51 ____________________________________________________________________________ do passado através do estudo aprofundado de experiências e versões particulares; de procurar compreender uma sociedade através do individuo que nela viveu; de estabelecer relações entre o geral e o particular através da análise comparativa de diferentes testemunhos e de tomar como dado objetivo para compreender as ações, as formas como o passado apreendido e interpretado por indivíduos e grupos. As duas partes (entrevistado e entrevistador) constroem, num momento sincrônico de suas vidas, uma abordagem sobre o passado, condicionado pela reação de entrevista. O entrevistador deve ter consciência de sua responsabilidade enquanto co-agente na criação do documento de história oral. Em razão disso, é muito importante que o pesquisador seja capaz de sustentar um diálogo franco e aberto com o entrevistado, respeitando-o enquanto diferente e contribuindo para que seja produzido um depoimento de alta qualidade. O contato inicial é muito importante porque constitui um primeiro momento de avaliação recíproca, base sobre a qual se desenvolverá a relação de entrevista. O pesquisador deverá tornar claro que seu depoimento é de grande relevância para a pesquisa e que haverá muita satisfação, da parte dos pesquisadores, em ouvi-lo; mostrar franqueza na descrição dos propósitos dos trabalhos e na condução das entrevistas. Não convém aos pesquisadores, sob pena de prejudicar tanto esta quanto outras relações com entrevistados, forjar uma imagem de si próprios e do programa que não corresponda à prática efetiva. Isso porque, se a entrevista seguir os rumos adequados a trabalhos deste gênero, haverá momentos em que será difícil sustentar uma imagem impostada e o entrevistado poderá sentir-se ludibriado. O pesquisador deverá evidenciar o respeito que se nutre pelo entrevistado, enquanto sujeito produtor de significados outros que os dos pesquisadores. Como são sua experiência e sus interpretações que se buscam em uma entrevista de história oral, A trajetória metodológica 52 ____________________________________________________________________________ é preciso mostrar ao entrevistado que não se tenciona modificar ou criticar sua forma de ver o mundo, suas crenças e opiniões. Cabe sublinhar uma última evidência: a entrevista e a relação de entrevista, além de se constituir num todo, é sempre única, não havendo possibilidade de se repetir em outras circunstâncias. Segundo Daniel Beartaux apud Alberti (2004, p.36), há um momento em que as entrevistas acabam por se repetir, seja em conteúdo, seja na forma pela qual se constrói a narrativa. Esse é o momento em que o autor chama de ponto de saturação a que o pesquisador chega quando tem a impressão de que não haverá nada de novo a aprender sobre o objeto de estudo, se prosseguir as entrevistas. Para se encerrar uma entrevista Alberti (2004) direciona quando houver “saturação”. Ou seja, além de esgotar os pontos do roteiro e as demais questões julgadas relevantes, é possível verificar quando a visão que o entrevistado tem sobre o mundo e sobre sua experiência de vida começa a se repetir, a ponto de a entrevista não trazer mais nada de substancial àquilo que já foi gravado. Como regra geral, o transcritor deve ser instruído para reproduzir tudo o que foi dito, sem fazer cortes ou acréscimos. Quanto aos registros utilizados na historia oral, estes constituem um documento oral. Mesmo que seja transcrita, a entrevista de história oral deve ser considerada em função das condições de sua produção: trata-se de um diálogo entre entrevistado e entrevistadores, de uma construção e interpretação do passado, atualizada através da linguagem falada. O trabalho com história oral exige do pesquisador um elevado respeito pelo outro, por suas opiniões, atitudes e posições, por sua visão do mundo enfim. É essa visão de mundo que norteia seu depoimento e que imprime significados aos A trajetória metodológica 53 ____________________________________________________________________________ fatos e acontecimentos narrados. Ela é individual, particular àquele depoente, mas constitui também elemento indispensável para a compreensão da história de seu grupo social, sua geração, seu país e da humanidade como um todo, se considerarmos que existem características de universalidade nas diferenças. História é um nome genérico para designar as histórias vividas e concebidas, diferentes ou parecidas, criadas por pessoas em contato com o mundo. Convém sempre listar o tipo e a aplicação das marcações utilizadas, para orientar não só aqueles que se encarregarão do processamento, como também os pesquisadores que consultarem o depoimento em sua forma final, que podem ser informados sobre o significado de cada uma das convenções adotadas. Interrupção das gravações, ênfases, silêncio, risos, emoção, trechos lidos e enunciados incompletos devem ser registrados. Se o emprego da história oral significa voltar a atenção para as versões dos entrevistados, isso não quer dizer que se possa prescindir de consultar as fontes já existentes sobre o tema escolhido. A respeito da história oral, Meihy (1996) cita três modalidades: História oral de vida – Enfoca a experiência de uma pessoa, a sua vivência. É mais subjetiva; o sujeito principal desse tipo de história é o entrevistado e depoente que fica livre para falar sobre sua experiência pessoal. Devem ser utilizados questionários com a caracterização da pessoa, contendo perguntas amplas, colocadas em grandes blocos, na forma indicativa dos acontecimentos e na seqüência cronológica da trajetória do entrevistado. É fundamental que se considere a pessoa como um caso específico. História oral temática – Compromete-se com o esclarecimento ou opinião do entrevistador sobre algum assunto específico, um tema pré–estabelecido. A trajetória metodológica 54 ____________________________________________________________________________ A objetividade é direta. Ela aborda questões externas, objetivas, factuais, temáticas e seu caráter específico confere-lhe características diferentes. Pode-se utilizar para documentação fontes orais e escritas. O uso de um questionário com questões diretivas e a condução do trabalho pelo entrevistador é o mais evidente, neste gênero da história oral. Tradição oral – A terceira modalidade da história oral trabalha com valores, crenças, mitos e tradições antigas de determinada comunidade. O indivíduo é visto como um veículo de transmissão de mitos e tradições antigas, através das gerações futuras. Implica entrevista com uma ou mais pessoas vivas, remetendo-se ao longínquo. É muito utilizada para trabalhos com tribos, comunidade, clãs, entre outros. Para realização deste estudo, a modalidade da história oral temática vem responder à proposta do trabalho acerca dos diabéticos que apresentaram depressão em acompanhamento no Serviço de Medicina Preventiva da UNIMED GV, Programa “Conviver com o Diabetes”. As entrevistas temáticas são aquelas que versam prioritariamente sobre a participação do entrevistado no tema escolhido, enquanto as de história de vida têm como centro de interesse o próprio indivíduo na história, incluindo sua trajetória desde a infância até o momento em que fala, passando pelos diversos acontecimentos e conjunturas que presenciou, vivenciou ou de que se inteirou. Há programas de história oral que estabelecem a prática de assinatura do documento de cessão de direitos antes de iniciar-se a entrevista, mas essa conduta não é muito adequada, primeiramente porque uma pessoa simplesmente não pode assinar cessão de direitos sobre alguma coisa antes mesmo de ela existir e depois, porque o entrevistado não pode saber de antemão o que vai falar, muito menos A trajetória metodológica 55 ____________________________________________________________________________ sobre o que será indagado, sendo-lhe difícil assinar um documento que garante ao programa o uso e mesmo a publicação de um conteúdo ainda desconhecido. Em terceiro lugar, está o fato de essa prática ser pouco apropriada para uma relação que está apenas começando, podendo o entrevistado sentir-se virtualmente enganado quando lhe solicitam a assinatura sobre algo que ainda vai acontecer. Por isso, é preferível selar o contrato apenas ao final da entrevista, depois que a relação já se estabeleceu ao longo de horas de conversa e de conhecimento mútuo, sendo reservado ao entrevistado o direito de modificar o teor da carta de cessão, fazendo as restrições que achar necessárias, inclusive embargando trechos cuja consulta julgue inconveniente. Só compete ao historiador estabelecer o que será tomado como está, o que será reexaminado (à luz de outras fontes), posto de lado (definitivamente ou de modo provisório para uma análise secundária ou em outro plano) e criticado (como é mister em qualquer estudo), nada permite retirar da testemunha a posição que ela adquiriu pelo simples fato de ela ter aceitado responder às perguntas que lhe faziam. A compreensão do depoimento colhido requer uma explicação sociológica e psicológica. Dessa forma, o historiador pode aceitar ou recusar uma tarefa inédita: colaborar, por meio da entrevista histórica, na transformação do objeto em sujeito. Estabelecendo o diálogo e deixando um pouco de lado suas curiosidades imediatas, o historiador pode, assim, contribuir para favorecer ou acelerar a evolução do seu interlocutor, que pode passar da afirmação de sua obscuridade e de sua insignificância (“nada tenho de interessante para dizer”) à construção de seu próprio relato. A trajetória metodológica 56 ____________________________________________________________________________ 3-4- O local e os sujeitos da pesquisa Para realizar este estudo fiz um levantamento de todos os pacientes cadastrados, perfazendo um numero de cento e vinte, no “Programa Conviver com o Diabetes” - do Serviço de Medicina Preventiva da Unimed de Governador ValadaresMG, acompanhados por mim no período de abril de 2000 a dezembro de 2002 quando ainda trabalhava neste serviço. O fluxo desse atendimento era assim normatizado: consultas de enfermagem com a periodicidade mensal, reuniões em grupo semanais, referência de atendimento para a psicóloga. Os critérios adotados para escolha dos colaboradores foram as pessoas portadoras de DM tipo 2 em uso contínuo de insulina, acima de 50 anos faixa etária de maior prevalência da doença na população. Em virtude disso, os clientes que se enquadraram nesses critérios foram contactados por mim e receberam informações sobre a pesquisa, para que decidissem sobre sua participação ou não. Realizei o agendamento das entrevistas a critério dos colaboradores e informei-os sobre as questões éticas, solicitando-lhes o consentimento, determinando um horário e o local para a realização das mesmas, a critério de cada colaborador, num clima de solidariedade profissional, aberto ao aconchego, à confidência, à discrição e ao respeito. Assim, os participantes foram informados sobre o objetivo e os procedimentos da pesquisa, bem como sobre a garantia de sigilo quanto a seu anonimato e, para isso, eles receberam, então, nomes fictícios, escolhidos por eles mesmos, dentre os apresentados em uma listagem com nomes de doces mais comuns e grande “objeto de desejo” dos colaboradores. Estes nomes passaram a ser utilizados desde a coleta de dados, após a concordância em participar da pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), A trajetória metodológica 57 ____________________________________________________________________________ atendendo as recomendações da Resolução nº 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos, até a conclusão deste trabalho. Inicialmente foram coletados dados demográficos através de um roteiro de entrevistas especialmente elaborado para caracterizar os colaboradores (Anexo 3). As entrevistas foram realizadas após validação feita por duas especialistas. Após a realização das entrevista, foram utilizadas questões norteadoras. A opção metodológica selecionada para análise foi preconizada pela história oral temática (MEIHY, 1996). Todas as pausas, silêncios, tonalidades de voz, expressões, choros e emoções foram relatados por mim, depois de cada entrevista e não mais na presença do paciente, quando passei a transcrever cada relato. Valorizei também as conversas informais que ocorreram e na transcrição destas usei notas de campo para enriquecer a análise. A coleta de dados por meio de entrevistas, a transcrição, a utilização das notas de campo levaram-me ao estudo dos dados obtidos na busca de semelhanças e diferenças entre os mesmos, classificando-os de modo que o significado do contexto fosse preservado. Já na oitava entrevista percebia-se a saturação dos dados. Durante o processo de transcrição das entrevistas, a caracterização dos colaboradores e a criação das narrativas fui identificando as relações, a fé, a religiosidade de cada um, os sentimentos, as emoções, as diferentes soluções para o problema da depressão, que se apresentavam, os problemas familiares que interferiam na felicidade e na qualidade de vida das pessoas segundo suas próprias percepções. Por tratar-se de uma pesquisa qualitativa, não houve a preocupação com a representatividade numérica da amostra a ser investigada, mas sim com a A trajetória metodológica 58 ____________________________________________________________________________ descrição da história da depressão no portador de diabetes, pois acredito que dessa maneira será possível revelar significados importantes para esses colaboradores. Segundo Portelle apud Freitas (2003) “A diferença da fonte oral, encontrase no fato de que os depoimentos não verdadeiros são psicologicamente verdadeiros, e que esses” erros “, às vezes, revelam mais dados que o relato exato”. 3.5- O método para a coleta de dados A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas e de observação não participante, compostas em cinco partes (Anexo 3), de forma a caracterizar os colaboradores, obter informações e percepções sobre sua convivência com a DM e a depressão no seu cotidiano. I – Dados relacionados a identificação do portador de Diabetes Mellitus: idade, sexo, raça, religião, antecedentes familiares diabéticos, local de residência atual e habitual, tipo de moradia, tipo de casa, nº de cômodos da casa, situação de moradia, estado civil, nº de filhos nascidos vivos, escolaridade, atividade atual, profissão, renda salarial familiar, moradores do domicílio que ajudam no tratamento e quem mais ajuda/incentiva/acompanha/apóia. II – Dados referentes à condição saúde-doença do diabético e quanto à depressão: há quanto tempo apresenta o diabetes, antecedentes familiares, se faz uso de antidiabético oral, tipo de insulina, dose e modo de uso. Se faz uso de antidepressivo, acompanhamento psicoterápico, hábitos alimentares, atividade física, outros problemas ou complicações (problemas vasculares, retinopatias, nefropatias, hipertensão arterial, dentre outras decorrentes da patologia). A trajetória metodológica 59 ____________________________________________________________________________ III - Dados relacionadas às atividades diárias do diabético/depressivo: início do tratamento do diabetes e da depressão, quem realiza os cuidados gerais (higiene, medicação), quem financia o plano de saúde e os medicamentos e dificuldades com exames/tratamento que o plano de saúde não acoberta. IV - Observação do ambiente no qual o colaborador vive. V - Questões norteadoras: ”O que é depressão para você?” “Em que situação se sente deprimido?” Como convive com a depressão sendo diabético “? As entrevistas, realizadas nos domicílios, foram gravadas em fita cassete, e imediatamente após sua realização, transcritas na íntegra. A cada entrevista transcrita, procedi à análise, identificando os pontos a serem contrastados e validados frente à transcrição. Esses procedimentos são essenciais para garantir a confiabilidade e a fidedignidade dos dados, com o rigor científico necessário à pesquisa. 3.6- Tratamento e análise dos dados Para Meihy (1996), a análise histórica pode ser revelada quando forem considerados como fontes os depoimentos dos narradores. Para este estudo buscamos nas falas dos pacientes portadores de diabetes com sinais e sintomas depressivos os conceitos que surgiram a partir da questão norteadora, sem nos dispersamos dos objetivos da pesquisa. A análise dos dados exigiu a organização das entrevistas transcritas, anotações das observações de campo, incluindo as reflexões e comentários da pesquisadora e das transcrições dos dados coletados. De início, foram realizadas leituras minuciosas e sucessivas das entrevistas, em busca do reconhecimento de A trajetória metodológica 60 ____________________________________________________________________________ seus conteúdos e anotações dos conceitos emergentes, nas margens do texto. Os conceitos que emergiram, no início, com a organização das histórias coletadas, eram mais gerais, mas possibilitaram a construção de categorias a partir deles. Esta construção deu-se após a identificação dos conceitos expressos nas falas. A identificação das categorias é um elemento central do processo de análise. Categorizar significa agrupar conceitos que parecem pertencer ao mesmo fenômeno (MINAYO, 1994). A trajetória histórica foi construída a partir dos conceitos, identificados e agrupados, sobre a alteração do estado de saúde e trajetória do fenômeno doença depressão, de acordo com a proposta de Meihy (1996). Os dados transcritos das entrevistas foram agrupados sob a forma de narrativas, num processo que requereu, acima de tudo, criatividade. A leitura e releitura das narrativas foram evidenciando um movimento nas falas que ia entrelaçando os tons vitais, conceitos e atitudes dos colaboradores. Nestas falas, os colaboradores da pesquisa deixavam vir à tona, relações, frustrações, inquietações, inseguranças, medos, evidentes ou não. Nesse processo de interpretação, foi necessário ouvir, várias vezes, as vozes dos colaboradores para compreender suas experiências e vivências. Segundo Benner apud Alberti (2004) “aquele que interpreta não pode escapar de suas próprias posturas e experiências, o que cria a possibilidade de uma interpretação superficial. Aquele que interpreta é desafiado pelos movimentos teóricos do comentário interpretativo, a encontrar nas narrativas o que antes não era compreendido”. Quem interpreta relatos narrativos tem a seu favor o que difere das simples respostas às questões formuladas por um pesquisador: aquilo que é narrado é o que possui significado e, por isso, permanece armazenado na memória do narrador (BENNER, 2004). A trajetória metodológica 61 ____________________________________________________________________________ Depois de coletados os dados, realizei a caracterização dos colaboradores estudados, contemplando as três primeiras partes do instrumento da pesquisa, referentes a questões socioeconômicas e demográficas, informações sobre a condição de saúde-doença e atividades diárias dos diabéticos. A quarta parte da entrevista, constou da observação do ambiente, em que inseri notas importantes da pesquisadora antes da análise das falas dos colaboradores. Já, na quinta parte da entrevista, que constituiu a comunicação verbal (gravações), segui as etapas da análise indicadas por Meihy (1996): transcrição, textualização e transcriação. Esse autor assim as define: A transcrição é a passagem da gravação oral para o relato escrito. Numa primeira etapa, a transcrição deve ser fiel ao fato acontecido. A entrevista deve ser corrigida em parte, ou seja, deve ser mantida uma dose suficiente de vícios de linguagem para o leitor sentir o tipo de narrativa. As frases e o vocabulário do entrevistado devem permanecer indicados, mantendo o sentido intencional dado pelo narrador que expõe seu raciocínio com as palavras. Textualização - nesta fase, as perguntas eventuais são fundidas com as respostas, passando o texto a ser de domínio exclusivo do narrador, que figura como personagem único, por assumir a primeira pessoa do texto. É nesta fase que o texto vai receber um tom vital, dado por uma frase que servirá de epígrafe para a leitura da entrevista. Esta frase tem a pretensão de levar o leitor à percepção do conteúdo do texto. A transcriação, que transforma o relato oral em um texto propriamente dito, recriado em sua plenitude, segundo Meihy (1996), que também afirma haver inferências do autor, no texto, o qual pode ser refeito várias vezes a partir de acordos combinados com o colaborador que legitima o texto em sua conferência. A trajetória metodológica 62 ____________________________________________________________________________ 3.7- Aspectos éticos da pesquisa O projeto desta pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG/COEP, visando obter permissão para realizá-lo. Frente à permissão para consecução do estudo pela COEP (processo ETIC 272/04) foram agendadas e realizadas as entrevistas (Anexo3). Para garantir o anonimato dos colaboradores da pesquisa, elaborei uma listagem com os nomes dos doces mais comuns e desejados pelos diabéticos desejos estes revelados por eles mesmos, logo no primeiro contato. Percebi na época do cadastro que a grande dificuldade do diabético não reside apenas no fato de ter de seguir uma dieta, mas também com o grande “objeto de desejo”: os doces... Tal decisão partiu de mim não como “perversão” ironizada por colegas de profissão, mas como uma maneira carinhosa que achei para me referi a eles. Como me encontro afastada do serviço há dois anos, logo que recebi autorização do Presidente da Unimed GV (anexo 1), providenciei listagem de nomes, endereços e telefones para localizá-los a fim de realizar as entrevistas propostas. Todos os pacientes foram contactados por telefone e ao receberem a ligação, todos se lembraram rapidamente de mim, demonstrando prazer, alegria e saudade de nossos encontros, atendendo prontamente ao pedido de participação. Expliquei rapidamente o objetivo da pesquisa e agendamos nosso encontro em dia e horário propícios para eles. Todas as entrevistas foram realizadas nos domicílios exceto a do colaborador Churros que preferiu ser entrevistado no consultório do Serviço de Medicina Preventiva. As entrevistas transcorreram num clima de participação, interesse, descontração e muita cordialidade com demonstração de carinho a minha pessoa. Estas iniciaram-se pelo preenchimento do questionário e antes de gravar, ofereci informações necessárias sobre a pesquisa, inclusive sobre a A trajetória metodológica 63 ____________________________________________________________________________ necessidade de gravação da entrevista, assegurando seu anonimato. Houve concordância de todos os envolvidos que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Informado (Anexo 2). Com a autorização para o uso das entrevistas, houve o cuidado com a utilização do teor das mesmas, assegurando princípios da ética no uso dos conteúdos somente para os fins desta pesquisa. CA PÍTU LO 4 Desvelando a depressão nos diabéticos 65 ____________________________________________________________________________ D esvelando a depressão nos diabéticos “Minhas mesmas emoções são coisas que me acontecem” Fernando Pessoa Neste capítulo abordo a caracterização dos colaboradores do estudo aos quais chamo de colaboradores e a análise histórica, a partir das características definidoras da depressão no diabético. 4.1- Caracterização dos colaboradores Participaram do estudo 13 diabéticos tipo 2, na faixa etária acima de 60 anos em uso de insulina acompanhados no Serviço de Medicina Preventiva da Unimed de Governador Valadares, no período de abril de 2000 a dezembro de 2002. Conforme indicadores definidos no instrumento de coleta de dados, (anexo 3), para apresentar o perfil dos diabéticos atendidos observa-se que a idade variou de 56 a 78 anos, com média de 66 anos; 82% são mulheres e 18% são do sexo masculino. Entre os clientes atendidos, 82% são brancos; 9% negros, 9% amarelos/brancos. Quanto ao tipo de moradia, 63,6% reside em casas e 36,3% em apartamentos, sendo que todos informam residir em zona urbana e 90% em casa alugada. O número de cômodos das residências variou de 4 a 8 cômodos. Podemos verificar que a religião predominante (80%) é a católica, 10% afirmaram ser evangélicos e 10% se dizem “ateus”.Quanto ao estado civil, 63,3% são casados, 18% viúvos, 9% separados, 9% solteiros.O número de filhos variou de 1 a 7 filhos, com média de 2 filhos. Desvelando a depressão nos diabéticos 66 ____________________________________________________________________________ No que se refere à escolaridade, 36,3% apenas sabem ler, 27% possuem primário (Ensino Fundamental) completo, 27% colegial (Ensino Médio) completo (2ºgrau) e 9% cursaram até a oitava série do ginasial (Ensino Fundamental). Em relação ao vinculo empregatício, 90% dos diabéticos não possuíam atividade remunerada, sendo aposentados e a renda familiar variava de um a cinco salários mínimos, sendo que 10% exercem atividade remunerada, apesar de aposentados. Dos colaboradores estudados, 82% vivem em companhia dos cônjuges, 9% com os filhos, 9% com irmãos, mas são independentes no que diz respeito ao seu autocuidado e à realização das tarefas domésticas. Apenas 10% dos diabéticos desse grupo afirmaram não participar de nenhum grupo social. Com relação às condições de saúde-doença dos diabéticos, 100% têm antecedentes de familiares diabéticos e a duração da doença a partir do diagnóstico variou de 10 a 22 anos, sendo que a média foi de 15 anos, com início de do uso de insulina variando de 2 anos a 21 anos, com média de 06 anos de terapia insulínica. Quanto às consultas a respeito das possíveis complicações da doença, encontramos que 54% são portadores de hipertensão arterial sistêmica, 45% têm retinopatia e periodontite, 54% depressão e 36% dificuldade para dormir e com obesidade. Todos os pesquisados receberam orientação sobre diabetes, sendo que 63% foram orientados pelos médicos e 37% pelas enfermeiras dos serviços. Nenhum dos pacientes pesquisados tem dificuldade para usar ou aplicar a insulina e somente uma paciente não aplica a medicação, dependendo do cônjugue para este fim, sendo a única a fazer uso de dois tipos de insulina NPH e Regular) duas vezes ao dia. Desvelando a depressão nos diabéticos 67 ____________________________________________________________________________ Quanto ao fornecimento da insulina, 72% recebem do SUS e 27% adquirem-na através de recursos próprios. A seringa própria para a aplicação de insulina é comprada por 100% dos diabéticos com seus próprios recursos. No que se refere à depressão, 36% tiveram o diagnóstico médico confirmado e 63% fazem uso de antidepressivos, sem confirmação médica, 72% adquirem o antidepressivo, com recursos próprios e apenas 18% já estiveram internados por causa da depressão. Atualmente, 36% fazem uso contínuo de antidepressivo. A maioria dos pacientes, ou seja, 90% fazem acompanhamento psicoterápico até hoje e destes, 27% não têm nenhuma complicação ou seqüela decorrente da doença, 55% são hipertensos e fazem uso continuo de medicação específica, 9% têm seqüela de AVC, 9% são cardiopatas, 18% foram submetidos a cirurgia cardíaca, 9% têm nefropatia e ainda, 27% submeteram-se a cateterismo cardíaco e 63% a angioplastia, com periodicidade de consultas médicas variando de mensal a trimestral, com média bimensal. No que se refere aos hábitos alimentares, 63% disseram alimentar-se cinco vezes ao dia e 27% alimentam-se três vezes ao dia, sendo que todos apresentam alimentação balanceada, consumindo frutas, legumes, verduras, carboidratos e proteínas, em quantidades equilibradas diariamente. Como atividade física, 63% fazem caminhada, pelo menos três vezes por semana, 9% hidroginástica e 18% não praticam nenhuma atividade física. De todos os pacientes estudados 18% são safenados, 81% não tiveram problemas cardíacos; sendo que 63% já se submeteram a angiofluorensciografia e 36% não utilizaram deste recurso por não apresentarem complicações na retina. Desvelando a depressão nos diabéticos 68 ____________________________________________________________________________ 4.2- Apresentação dos colaboradores Os 13 (treze) colaboradores do estudo receberam nomes fictícios de doces, escolhidos pelos mesmos através de listagem prévia feita por mim, em que não considerei o gênero e sim a simpatia e o “desejo” pelo doce escolhido. Colaboradora: Brigadeiro Sexo feminino, 59 anos, viúva, alegre, bem-disposta, mora em casa própria confortável e humilde, tem sete filhos e nunca trabalhou fora, renda familiar de um salário mínimo referente à pensão do marido falecido. Em sua casa o ambiente é muito alegre, pois acolhe três filhas e três netos, os quais se relacionam muito bem com ela. Diz-se humilde, porém determinada, vive para a família. Alega ter acabado de reformar sua casa com dinheiro enviado por uma filha que reside nos EUA. Sua casa está com móveis novos ganhos nos dias das mães. Diabética há doze anos, usa insulina há dois, participa das atividades da igreja católica e se refere ao diabetes como “problema superado”, pois consegue se manter controlada com o uso da insulina, dieta balanceada, caminhada e psicoterapia. Mostrou-se muito receptiva durante toda a entrevista, fez questão de que eu conhecesse toda a casa e os presentes ganhos no dia das mães e após a entrevista solicitou ao neto que nos servisse um café com queijo. Acolhe também um irmão separado da esposa, atualmente desempregado, no terraço do apartamento. Ao se despedir agradeceu por ter sido escolhida para esta pesquisa e convidou-me a retornar para um churrasco de domingo e conhecer toda a família. Desvelando a depressão nos diabéticos 69 ____________________________________________________________________________ Brigadeiro entende que depressão é diferente de tristeza por que tem conseguido vencer períodos de tristeza. Como seu marido já falecido teve depressão lembra-se de que ele não conseguia se comunicar, querendo ficar isolado num canto sozinho. Já a tristeza, acontece por alguma coisa que te magoa muito, chateia, amola, mas passa... Na ocasião do diagnóstico do diabetes, Brigadeiro ficou triste, chateada, mas ao tomar conhecimento de que o controle estava em suas mãos, após as orientações dadas pela enfermeira do programa de Medicina Preventiva, tranqüilizou-se e preocupa-se mesmo quando pára as caminhadas e sente dormência nas pernas. Fica apavorada e receosa de que seja o aparecimento das complicações. Ela define a depressão como muito pior do que a tristeza e acha que se a pessoa não se cuidar, pode chegar à morte; lembra-se com saudade do marido que ficou durante um ano sem sair de casa, antes de vir a óbito. Colaboradora : Palha italiana Sexo feminino, casada, 56 anos, nacionalidade italiana. Profissão do lar, nunca trabalhou fora, tem três filhos casados, quatro netos e uma filha solteira que lhe dá muito trabalho. Mora só com o marido que é caminhoneiro, ficando a maior parte do tempo sozinha.Visita seus parentes, no Rio Grande do Sul, uma vez por ano. Gosta de costurar, faz todo tipo de trabalho manual e várias experiências gastronômicas da cozinha diet e light. É hiperativa, faz todo o serviço da casa, ajuda ainda as filhas de quem tem muito apoio. Adora os netos, com quem ocupa maior parte do seu tempo. Participa de vários grupos sociais, da igreja católica, Associação de Diabéticos e Desvelando a depressão nos diabéticos 70 ____________________________________________________________________________ Serviço de Medicina Preventiva da Unimed. Sua casa é própria e situada em um dos melhores bairros da cidade, muito bem decorada com móveis claros, modernos de muito bom gosto. Possui também áreas verdes na frente da casa e, nos fundos têm arvores frutíferas, que produzem matéria prima para suas compotas diet. Observei que sua cozinha estava com muitos frascos de compota de pêssego e figo diet para consumo próprio e para dar aos amigos diabéticos. Diabética há dezesseis anos e usa insulina há doze. Tem antecedentes diabéticos, sua mãe e três irmãos, dois dos quais já são falecidos também eram diabéticos. Simpática e muito falante, e esclarecida a respeito do diabetes. Já está tão habituada à doença que consegue ajustar as doses de insulina conforme o seu “estado emocional”. Faz caminhadas regularmente, viaja ás vezes com o marido quando ele faz carretos para cidades interessantes que ela não conhece. Sempre que se sente sozinha procura os netos, ou amigos conterrâneos que possuem restaurante na cidade. É alegre, risonha, bem-disposta e percebi que em todos os móveis da casa tem retratos de suas filhas e netos. Refere-se a eles com muito carinho e afeto e ao marido com desdém e impaciência. Para Palha italiana a reação à depressão só começou após tratamento com remédios, dos quais sentiu-se dependente por muitos anos. Relata que quando os familiares precisavam de seus préstimos, como olhar os netos ou a casa, aquele comprimido antidepressivo prescrito pelo médico poderia fazê-la dormir, descuidarse e imprevistos poderiam acontecer. Daí, ao perceber a depressão, começou a reagir por si mesma, abandonou os medicamentos.Sua mãe também era depressiva e a incentivou a abandonar o remedinho que a isolava do mundo. A primeira vez que sofrera depressão foi devido a problemas familiares, com a saída de uma filha de casa. Sentiu-se abafada e cedeu às lágrimas, até então Desvelando a depressão nos diabéticos 71 ____________________________________________________________________________ inusitadas. Isto aconteceu há seis anos. Começou com episódios de insônia e ficava nervosa no dia seguinte, por causa da noite mal dormida. Irritava-se sem motivos, por pequenos aborrecimentos que se transformavam em grandes problemas, pensava em atitudes extremas. Pensava que morrendo, o impacto da própria morte seria maior que o problema da filha e tudo voltaria à harmonia. Chorava sempre, mas em determinado momento parou para refletir. Tomou a iniciativa de conversar com seu ortopedista, devido a dores musculares e ele aconselhou-a a refletir sobre a possibilidade de controlar-se sem o remédio. Resolveu autoconhecer-se e pesquisando em revistas e jornais tudo que se referisse à depressão, chegou à conclusão de que ela própria poderia trabalhar o seu problema. Assim, após dois anos usando o medicamento, resolveu parar sem ao menos comunicar ao médico, pois se considerou pronta para uma reação. Começou a retirar da formula medicamentosa manipulada o antidepressivo, o que deu certo, abolindo-o de vez da fórmula. Ocasionalmente ainda tem sintomas de depressão. Deita-se bem e levanta com angústia, ânsia, choro, temerosa de notícias ruins. Mas volta a refletir, tenta reagir procurando serviços no jardim, na casa, vai ao portão à procura de conversas, vê pessoas e a tristeza passa. Não sabe explicar se sua depressão está associada ao diabetes, porém afirma que tem antecedente depressivo na família. Também nos períodos pós-parto, sempre era acometida de depressão após os dois primeiros meses do parto. Sentia-se isolada de todos quando ficava sozinha no quarto e até mesmo a demora num atendimento, ao fazer compras no comércio local, tudo era motivo para não se sentir querida. Então, à noite perdia o sono, revivendo tudo o que tinha “sofrido” durante o dia. Desvelando a depressão nos diabéticos 72 ____________________________________________________________________________ Hoje em dia, percebe quando a depressão vai chegar durante a noite e já amanhece angustiada. Às vezes, a ida ao banheiro interrompe o sono e aí chegam as dúvidas, as inquietações com a filha e netos, sentimentos confusos e tumultuados quase sempre ligados a eles. Tem tentado reagir raciocinando que problemas todo mundo tem, toda família tem, mas acredita que com pensamentos positivos tudo vai dar certo. Quando os problemas familiares se renovam, pensa que tudo vai se reiniciar, mas reage e busca auxílio na religião, entregando a Deus o destino de seus problemas. Palha Italiana “acha” que a depressão pode influenciar no diabetes, pois o nível da glicose varia de acordo com seu estado de depressão. Quando está deprimida tem hipoglicemia, com quedas de níveis glicêmicos violentos. Diminui a ingestão alimentar, abandonando horários e despreocupando-se da quantidade que deve consumir, mas não dispensa os carboidratos, principalmente o pão. Sempre reage a tempo para não voltar a depender do remédio. Toma atitudes que ocupam sua cabeça, com atividades que lhe dão prazer como ajudar na cozinha de conterrâneos do Sul que têm churrascaria na cidade, com conversas divertidas e inteligentes. Evita ouvir notícias tristes quando está de baixo astral, falar de doenças, catástrofes, avisando a todos logo que não está bem. Os familiares já reconhecem a situação e procuram contornar, respeitando e procurando ajuda-la, pedindo-lhe favores, percebem a mudança de temperamento e sobre ele recai grande parte de seu mau-humor, mas a respeitam e sempre recorre às filhas em alguns casos. Quando nota que estão todas preocupadas, procura se concentrar, raciocinar e voltar ao normal e isso continua acontecer em no máximo um dia. Considera-se alegre, extrovertida, não suportando manter tais situações por muito Desvelando a depressão nos diabéticos 73 ____________________________________________________________________________ tempo. Quando se vê depressiva, sente que se transforma: fica calada, dispersa-se na conversa, não consegue rezar, não concentra o pensamento e reage, acha que está no momento de voltar ao bom-humor, de ser ela mesma. Freqüenta grupos que ajudaram e ainda ajudam muito, agarra-se à religião. Ao sentir-se isolada procura a Bíblia e nos versículos encontra sempre uma passagem que, coincidentemente, parece dirigir-se a ela. Palha Italiana define a depressão como um sentimento estranho em que você se sente sozinha, abandonada, nada está bom independente do lugar que você esteja. Nada dá prazer...Começa a fazer as coisas e já fica logo enjoado, põe defeito em tudo, nada fica do jeito que você quer e aí você parte para fazer outra coisa para ver se melhora e acaba se irritando mais...Tudo te irrita, conversar com as pessoas, ver televisão, escutar os netos, que são sua vida, te chamando e o que resolve mesmo é se isolar e ficar num canto quietinha ficar pensando em coisas boas, coisas ruins, analisando tudo que vem a sua mente, um monte de coisas. Surge até um pouco de raiva e até mesmo um olhar diferente dos familiares pode desencadear uma crise. Quando começa a perceber que está “diferente”, pára e pensa em dar um jeito na vida, cuidar-se para não deixar a coisa se avolumar. Nos momentos críticos, já pensou em desejar a morte...”Ai que bom, que eu morresse para ficar livre...”. Justifica o desejo da morte para ter descanso. Palha Italiana tem certeza de que os problemas de família também influenciam na depressão, tirando-lhe o prazer à mesa, o apetite, voltando o pensamento para os problemas dos negócios, dos parentes, etc. Começa a sentir-se culpada, procura saber em que parte fracassou e que a morte é a solução. Então, se conscientiza de que precisa reagir e, mesmo sem medicamentos, desvia seus pensamentos dos problemas, sai para visitas, reúne-se aos netos, freqüenta as Desvelando a depressão nos diabéticos 74 ____________________________________________________________________________ lojas, foge do ambiente de casa. Acha que a depressão é um fantasma que vive lhe rodeando... Colaboradora: Olho de sogra Sexo feminino, 66 anos, viúva há quatro anos, mora em casa própria, muito bem instalada. Tem auxiliar para fazer os serviços de casa. Mãe de seis filhos, todos casados. Independente, tem renda própria oriunda de pensão deixada pelo marido, e ainda imóveis alugados que lhe rendem um bom salário mensal. Tem o apoio de um dos filhos para cuidar da fazenda. Ocupa grande parte de seu tempo fazendo sabonetes artesanais e outros trabalhos manuais que são vendidos em feirinha de artesanato local. Passa maior parte do seu tempo na “oficina” de sabonetes muito bem instalada nos fundos da casa. Recebe ajuda de uma neta de 12 anos na confecção dos sabonetes e quando está cansada do trabalho “pega o carro e viaja para Belo Horizonte” para aprender novas técnicas de sabonetes e comprar novas formas. Fala pouco dos filhos que só a visitam aos domingos. Passa a imagem de auto-suficiência e gosta muito de falar dos bens que possui. Ao final da visita mostrou-me os trabalhos manuais que faz (almofadas, tricô, crochê, mochilas e etc) Olho de sogra define depressão como um sentimento de vazio interior, falta de vontade de relacionamento com os amigos, abandono dos afazeres, isolamento. Sentiu os primeiros sintomas de depressão quando, após o falecimento do marido, passou a residir numa casa muito grande, onde campainha e outros ruídos a perturbavam, além de aborrecimentos com empregada com quem conviveu durante 20 anos e, segundo ela, a roubou, deixando-a desiludida e frustrada com as Desvelando a depressão nos diabéticos 75 ____________________________________________________________________________ pessoas. Então, apareceu o medo de ter outra serviçal. Mudou-se para um apartamento, mas sentiu-se isolada, apesar das visitas dos filhos aos domingos. Decorridos dois anos da perda do marido percebeu sua depressão ao deixar de fazer atividades habituais. Ela própria notou sua mudança e alega que a vida hoje é assim: cada um por si. Por isso, não esperou que alguém a alertasse. Ao invés de deitar-se de dia como estava fazendo, dormindo durante toda a tarde, repensou este modo de agir e pensou em fazer algo para vender, assumir responsabilidades e não esperar como se ainda tivesse marido. Sentiu que precisava de uma ocupação para “abafar” a falta que sentia do esposo. Deixou de freqüentar a fazenda porque se sentia rodeada de lembranças. Ela mesma sentiu que precisava reagir e após seis meses pensou em ir aos Estados Unidos; mas, impossibilitada pelo visto negado pelo Consulado Americano, resolveu trabalhar aqui mesmo com artesanato. Sempre fora a chefe clã na família, dinâmica, ativa e achou que se reassumisse alguma atividade, iria melhorar, independentemente de ajuda, pois todos a conheciam como forte e capaz. Dos filhos, somente uma mulher, justamente a mais frágil, ainda era dependente dela, o que contribuía para sua reação rápida e entrega ao estado depressivo. Ninguém percebeu seu sofrimento psíquico com a depressão e somente após suas idas para terapia de grupo na Unimed é que ficaram cientes ao vê-la sair. Até hoje freqüenta o grupo por sentir-se bem. Uma médica de clínica geral medicoulhe um antidepressivo após ouvir suas queixas e sintomas característicos aliados a problemas com a insônia. Acha que no momento, não há espaço para depressão; que é capaz de reagir, está se sentindo fortalecida. Às vezes, outros fatores além da viuvez fazem-na deprimida, como a saudade da mãe falecida e problemas com a Desvelando a depressão nos diabéticos 76 ____________________________________________________________________________ amputação de um dedo do pé direito. Da última vez, que se sentiu deprimida tomou uma resolução providencial e viajou para outra cidade onde se dedicou a aulas de aperfeiçoamento em trabalhos manuais e, para surpresa de todos, foi de carro sozinha, dirigindo. Julga-se bem e feliz no momento, com seus trabalhos manuais e suas vendas em barraquinha da feira de artesanato local há dois anos. Colaboradora: Torrone Sexo feminino, 68 anos, profissão do lar, aposentada, mora em casa própria em bairro pobre da cidade com uma filha e o neto. Possui ainda outros três filhos que lhe dão muita assistência. Fala pouco e relutou em participar desta pesquisa. Após o primeiro contato telefônico ficou de pensar sobre sua participação, dando-me resposta positiva duas semanas após. Obesa, supervaloriza os problemas cardíacos que têm. Mostrou-me a cicatriz da ponte safena feita há cinco anos várias vezes. Mal humorada, semblante triste, atribui o aparecimento do diabetes ao abandono do marido; situação que não aceita, apesar de já estar sozinha há 20 anos. Torrone é diabética há 20 anos, em uso de insulina há 10. Submeteu-se a duas angioplastias após a primeira cirurgia. Reclama dos medicamentos para o problema cardíaco de uso contínuo que têm que tomar durante todo o dia. Solicitoume que arranjasse o do SUS, pois estava com dificuldades financeiras para consegui-los. Retornei dois dias após para lhe entregar os medicamentos solicitados. È católica praticante apesar de não participar de nenhum grupo religioso. Raramente vai às reuniões da UNIMED. Recebe ajuda dos filhos para adquirir medicamentos e as seringas para insulina. Atribui ao abandono do marido todos os Desvelando a depressão nos diabéticos 77 ____________________________________________________________________________ seus problemas, doenças e frustrações. Possui conforto necessário e não tem nenhuma atividade diária. Cansa-se dos pequenos esforços e só vai a psicoterapia quando agendada com muita antecedência. Poliqueixosa refere um nervosismo constante que só passa com calmantes. Semi-analfabeta, não gosta de ver televisão ou distrair-se, limita-se a ficar na sala “pensando na vida”. Torrone acha que ter depressão é ter ansiedade pela não realização de seus objetivos. Culpa o diabetes como uma das causas desta ansiedade e não aceita a doença. Outra causa também é a separação do marido que a deixou com cinco filhas, mudando o rumo de sua vida e alterando seu temperamento, fazendo-a sentir-se bem às vezes e outras vezes, não, ao lembrar-se do passado. Quando vêm as lembranças ruins fica nervosa, angustiada, não achando graça em nada. Às vezes, esta depressão dura bastante tempo e só na religião, nas orações consegue alivio. Aliada ao abandono, o diabetes também a deprime, mas indaga a si mesma, o porquê da saída do marido, um boêmio de várias mulheres. Considera-se injustiçada por ter sido boa esposa, zelosa com as filhas e o abandono do marido ter ocasionado o aparecimento do diabetes. Desiludida com a vida agarra-se à religião para aliviar a mente. Ao perceber que vai ficar depressiva, além de rezar, toma calmantes prescritos pelo médico cardiologista e se controla. Sente-se melhor quando toma “o remédio” receitado por psiquiatra, sentindo-se mais animada. Afirma conviver bem com o problema graças à religião, leva a vida, na certeza de que foi abandono pelo marido a adoeceu. Acha que a depressão a faz sofrer, não deixando nada ficar bom. Torrone tem familiares diabéticos, mas ela própria sempre foi saudável até que, com a solidão pelo abandono do marido, apareceu o diabetes, deixando-a mais triste. Não esperava adquirir a doença. Recusa-se a participar dos encontros Desvelando a depressão nos diabéticos 78 ____________________________________________________________________________ com a enfermeira e a psicóloga, raramente atende aos chamados do serviço de Medicina Preventiva para participar de alguma atividade. Colaboradora: Casadinho Sexo feminino, 78 anos, professora aposentada, casada, mora com o marido que é seu companheiro constante. É diabética há 28 anos e em uso de insulina há 21. Católica praticante, participa do clube de mães e das atividades da Unimed. Faz caminhada quatro vezes por semana e dieta balanceada. Proprietária de uma escola de ensino fundamental que passou para a filha caçula dos cinco filhos. Viaja muito para visitar os outros filhos sempre em companhia do marido. Sua casa é própria e muito grande, confortável, espaçosa onde recebe os filhos e netos nos finais de semana, e diz ajudá-la bastante a levar a vida em frente. Reservada ao falar das questões familiares, mas relata dificuldades quando precisa ajudar o marido com depressão. Faz acompanhamento psicoterápico na UNIMED uma vez por semana. Casadinho não respondeu de pronto sobre o que era depressão para ela. Historiou a doença do marido que tivera um câncer. Sobre depressão nela própria disse nunca ter sentido, apenas um pouco esquisita em certos momentos, com aperto no peito, como uma grande emoção. Pensou ser da angina, mas antes do problema nunca sentira tais sintomas. Tal angústia acontecia mais à noite e achou que seria pressão alta. Procurou cardiologista, foi medicada, mas a insatisfação perdura, inquietação, ânsia. Não procurou médico para comentar sobre os sintomas e apesar de ser diabética há 30 anos, afirma que nunca estivera deprimida. Apesar da idade, sempre gostou de Desvelando a depressão nos diabéticos 79 ____________________________________________________________________________ sair, comunicar-se e não se isolar, ao contrário do marido que se retira quando as filhas estão reunidas conversando. Considera esta atitude do marido, como de deprimido, mas que ela nunca se comportou assim. Justifica o mal estar (insatisfação, sentimento de mágoa) como problema de pressão ou glicemia, que para ela, abaixo de 100, piora seu mal-estar, com tonteiras, etc, mas sem se sentir depressiva. Não vê diferença entre tristeza e depressão. Casadinho faz trabalhos manuais para ocupar o tempo, pois não consegue ficar parada. Adquiriu LER e após tratamento sentiu-se impossibilitada de continuar com muita atividade. Então, aproveitou para aposentar-se.Ao saber que estava diabética não acreditou, isso aconteceu há mais de 20 anos. Recebe bem os acontecimentos, de sofrimento ou alegria, graças à fé em Deus e ao sossego proporcionado pela família (filhas). Colaborador: Chapéu Napoleão Sexo masculino, casado, 78 anos, católico praticante e trabalha doze horas por dia apesar de aposentado. Atua no comércio de roupas infantis da esposa e filha. Tem quatro filhos, muito apegados a ele, pois trabalham todos juntos, sente neles o apoio necessário para lidar com o diabetes há 24 anos e com os problemas cardíacos há 09 anos. Casa própria, em bairro de classe média alta da cidade, muito bem decorada e tem na esposa, filha e sobrinha apoio de que necessita para “tornar a vida melhor”. Participa dos eventos da igreja e do comércio varejista. É culto, lê muito, acredita estar no seio da família a solução de todos os problemas. Muito receptivo e educado, recebeu-me muito bem. Desvelando a depressão nos diabéticos 80 ____________________________________________________________________________ Chapéu de Napoleão quando indagado como definia depressão, acha que é um estado de espírito, em que a pessoa se sente inútil, um incapaz, alheio a tudo ao seu redor, mas acha que nunca esteve deprimido. Preocupou-se em várias situações, mas não se abateu a ponto de ter depressão. Nota diferença entre tristeza e depressão. Para ele, tristeza é sentimento de momento, que logo passará, enquanto a depressão perdura, fazendo a pessoa sentir-se afundada num problema sem poder sair. Mesmo ciente do diabetes, não se sentiu deprimido. Descobriu a doença por acaso, num exame de sangue, em que acusou glicose alta. Teve antecedentes diabéticos: o pai, uma tia. Um outro irmão mais novo, posteriormente adquiriu a doença. Justifica a doença no irmão, dizendo ter sido stress pelo tipo de vida que levava, sem estabilidade familiar. Considera-se quase disciplinado porque às vezes comete uns deslizes, saindo do regime e interrompendo o tratamento. Relata que a ocupação apesar de aposentado e o apoio familiar são fatores muito importantes para que ele nunca tenha se sentido depressivo. Colaboradora: Moranguinho Sexo feminino, 73 anos, costureira aposentada, casada, tem dois filhos que moram longe. Faz todo o serviço de casa e cuida do marido que depende inteiramente dela, porém não a impede de freqüentar as reuniões da igreja e da Unimed. Participa ativamente das oficinas terapêuticas da UNIMED, fazendo trabalhos manuais belíssimos que a fazem esquecer dos problemas domésticos. Diabética há 20 anos e usa insulina há 05, faz caminhadas diariamente e segue dieta alimentar. Mora em apartamento próprio, amplo, confortável e arejado. Desvelando a depressão nos diabéticos 81 ____________________________________________________________________________ Independente financeiramente tem seu dinheiro e herança da mãe controlada pelo marido. Separada do mesmo desde que a mãe faleceu. Moranguinho julga-se bem-disposta, meiga, alegre e divertida apesar dos problemas de relacionamento com o marido. Optou por não fazer psicoterapia por estar muito velha para isso e acha que este tipo de terapêutica a faria largar o marido. Aos 73 anos, Moranguinho não vai à rua, não freqüenta lugar algum e solicitada sua opinião sobre o que acha ser depressão, afirma que é tristeza, que é o caso dela. Seu baixo astral do cotidiano vivido leva-a a este estado, devido às atitudes do marido e ela percebe que vai entrar em depressão quando o mesmo implica por qualquer motivo, causando medo e intimidação. Suporta o que pode e quando não pode exprimir o que sente, sente-se deprimida. No momento suporta um pouco mais porque o cônjuge está doente, com incontinência urinária e outros problemas que o tornam super nervoso. É exagerado na economia caseira e Moranguinho sente que só tem direito ao trabalho, à lida doméstica, não tendo coragem de deixar de atendê-lo. A primeira vez que Moranguinho percebeu a depressão foi quando trouxe sua mãe já idosa da fazenda, mãe esta que lhe dera de herança o que possuem, e mesmo assim o marido não aceitou a sogra em sua casa. Exigindo dela o pagamento da refeição e, na época, ele jogava muito. Foi assim até que um irmão levou sua mãe para a residência dele, onde poderia visitá-la freqüentemente. Quando sente que vai ficar deprimida, procura a igreja e se sente aliviada. Tendo a mãe falecida há 5 anos, os filhos que moram distante vêm visitá-las vez ou outra e cientes do que ocorre dão apoio à mãe. Julga ser inútil uma separação devido à idade de ambos, pois quando mais nova não Desvelando a depressão nos diabéticos 82 ____________________________________________________________________________ conseguiu separar-se por obediência à mãe. Considera que o ambiente de casa a deprime e que quaisquer saída como para a igreja deixam-na melhor, mesmo com o marido querendo impedi-la de freqüentar até a igreja. Moranguinho não aceita a interferência apesar de achar que é obrigação da mulher, submeter-se à vontade do marido. Mesmo com grupo da terceira idade próxima à residência, não tem permissão para freqüentar, sob alegação do marido com saídas em demasia. Não comenta com médicos sobre seus problemas porque eles não resolveriam nada, segundo a colaboradora. Prefere deixar como está, relevando, cumprindo seu destino, resignada. Alegria, só fora do lar, longe do marido. Demonstrou carinho apesar de tudo, colocando a foto dele numa portaretrato feito por ela mesma nas oficinas terapêuticas, não o entregando pessoalmente, mas dispondo no móvel do quarto dele como presente do dia dos pais. O diabetes não a aborrece, convive bem com a patologia. Somente as atitudes do esposo avarento, que a priva de tudo que fora oriundo da família dela, suas implicâncias já provocaram a separação de corpos há cinco anos, proposta por Moranguinho, devido a magoa que sofrera por causa de sua mãe. Temia apanhar do marido e uma vez ameaçou-o com uma faca. Apesar de não se sentir encorajada a agredi-lo, julgou ser necessário intimidá-lo para impor-se um pouco. Colaboradora: Amor em pedaços Sexo feminino, 62 anos, casada, do lar, quatro filhos e mora em casa própria, porém pequena, modesta, fria e escura. Atualmente encontra-se debilitada após ter se submetido a uma cirurgia de joelho que a faz depender de muletas para deambular. Passou por problemas com o filho usuário de drogas que já um ano atrás Desvelando a depressão nos diabéticos 83 ____________________________________________________________________________ libertou-se de tais problemas. O marido é alcoólatra desde que se aposentou. Evangélica, atuante em sua igreja, no clube de mães, no coral da Unimed e na associação de diabéticos. Mora só com o marido e com a filha que paga seu plano de saúde. Amor em pedaços é muito informada, dócil, meiga, comunicativa, muito receptiva e solidária com os vizinhos e os companheiros do grupo. Passa maior parte de seu tempo orando e fazendo trabalhos manuais. Atualmente ainda faz uso de antidepressivos. Sua filha nutricionista ensinou-lhe a se alimentar e sempre que pode transmite esses conhecimentos. Para Amor em pedaços expressar o que é depressão foi difícil por sentir que passou por grande vazio, mente confusa, a um passo de atitude extrema, sendo apoiada apenas pela religião. A princípio julgou ser problema de coluna, pelo surgimento de dor intensa na região cervical. Sem opinião de ninguém procurou um neurologista para esclarecer suas dúvidas e resolver este problema que lhe causava um enorme incomodo. Não se comunicava com a família e, sem agressividade, apesar de nervosa, isolava-se aos poucos. Com a intensidade da dor, quase não dormia, o que refletia nas suas atitudes do dia seguinte. Ao ser examinada pelo médico neurologista constatou-se tensão muscular total, devido à rigidez constante dos dentes e sofrimento psíquico, com os relatos de aversão a ruídos, noticiários ou qualquer comentário das pessoas que a rodeavam. O isolamento persistia e após relato destes sinais e sintomas ao médico, este chegou ao diagnóstico de depressão e receitou-lhe de antidepressivos. A insônia, a aversão à comida e o isolamento agravavam-se. Amor em pedaços, para não preocupar os familiares, evitava passar seus problemas para outros, assimilando no “pensamento” as notícias que ouvia ao Desvelando a depressão nos diabéticos 84 ____________________________________________________________________________ seu redor. A taquicardia freqüente que sentia em seu peito a alertou para a depressão. Com a persistência da insônia no período noturno, perambulava pelo quarto e com a inapetência começaram a surgir episódios de hipoglicemia, a aflição se avolumava e o isolamento era total. Tem consciência de que tais sintomas surgiram com os problemas familiares que a sobrecarregaram, como marido constantemente alcoolizado e filho drogado. Problemas se acumulando, falta de comunicação com pessoas fizeram-na chegar ao estado depressivo. Não desabafava com ninguém por julgar ser inútil. Além de tantos problemas, um servira para transbordar seu cálice de sofrimentos: A gravidez de uma das filhas. A angústia acabou por apossar-se dela, um vazio que só foi aliviado com a ajuda de sua religião. O filho drogado, que considerava seu problema maior, recuperara-se; com o vício do marido aprendera a conviver, ignorando suas bebedeiras. Por medo, por resignação, omitira-se na solução dos problemas. Apesar de considerar o esposo, uma pessoa maravilhosa quando sóbrio, considera que a bebida interferia no relacionamento, pela mudança de comportamento. Com a terapia de grupo, atendimentos individuais, com a enfermeira e a psicóloga do programa chegou à conclusão de que precisava pensar em si própria. Até aquele momento somente se doara sem retorno, até que foi alertada sobre depressão. A religião sempre a ajudou e apesar da quase loucura, sua convicção religiosa a afastava de pensamentos piores. Com o diabetes, reiniciou nova luta. Procurou auxílio médico passando a lidar bem com as doenças. Julgandose tão bem a ponto de não continuar o tratamento, viu-se obrigada a reiniciá-lo. Ainda com remédios, chorava muito ao lembrar-se do vício do marido, do filho drogado e indagava-se porque Deus a escolhera. O sintoma de angústia, respiração curta voltavam e a solução fora procurar novamente tratamento médico. Desvelando a depressão nos diabéticos 85 ____________________________________________________________________________ A princípio, Amor em pedaços resistiu ao tratamento médico, mas acabou por aceitá-lo, além de exercícios físicos, reeducação alimentar, como tratamento alternativo. A tensão era tamanha que sentia dor intensa nas articulações da mandíbula, tensão expressada nos trabalhos manuais que ficavam deformados devido a pontos muito apertados. Tudo isso só melhorou com tratamento medicamentoso. Resistiu três anos ao uso de insulina até que aceitou, passando ela mesma a injetar o medicamento e hoje aconselha a todos os diabéticos que dela necessitam, não temer, porque a insulina só melhora a qualidade de vida do usuário. Achava a princípio que usar insulina significava estar no fim, mas hoje considera o contrário, isto é, melhora de vida. Atualmente, apoiando-se na religião, Amor em Pedaços convive com estilo de vida do marido e com atividades manuais e físicas, tem vida normal apesar dos diabetes. Colaboradora: Nhá Benta Sexo feminino, solteira, 73 anos, aposentada, mora com duas irmãs também solteiras em apartamento amplo, recém construído no centro da cidade. Católica praticante e atuante no Clube das Damas local, onde colabora há 20 anos diariamente com trabalhos manuais. Participa dos encontros do Serviço de Medicina Preventiva e reluta em participar dos atendimentos com a psicóloga quando agendados. É tímida, fala pouco, sorri forçado e só responde ao que é perguntado com frases curtas e objetivas. Parou de trabalhar como costureira desde que teve AVC (acidente vascular cerebral) que lhe restringem os movimentos do membro superior esquerdo. Diabética há 22 anos, faz uso de insulina há 10. Faz caminhadas diariamente. Mantém sua glicemia controlada e atribui à sua disciplina alimentar. Desvelando a depressão nos diabéticos 86 ____________________________________________________________________________ Nhá Benta, 73 anos, tem dúvidas quanto ao significado de depressão. Acha que pode ser tristeza. Tem um sobrinho com este problema, quieto, triste, inapetente. Ela própria nunca deixou a depressão dominá-la, apesar de introvertida. Sempre muito calada, quando sente que vai ficar depressiva, sai para andar, procura distrair-se. Como sintoma da depressão tem choro fácil, sem motivo e perde o sono. Toma medicamento para a insônia e reage contra o sentimento de mágoa que a aborrece, porque, por ter dificuldade de se comunicar teme piorar e então reage indo caminhar, vendo lojas no Shopping, etc. Às vezes, os problemas familiares provocam a depressão porque se preocupa muito e não dialoga com outros, mas sempre reage, procurando distração fora de casa. Nhá Benta considera que a princípio o diabetes contribuía para o aparecimento da depressão porque ficava limitada devido à seqüela de AVC em um dos braços, o que a impedia de fazer determinadas atividades e então ficava deprimida, mas também desta vez a rua contribuiu, pois ao encontrar um homem sem os dois braços, comparou-se a ele e superou a crise. Mesmo com a deficiência física, borda durante o dia, visita parentes e assiste a programas de TV, vai à missa todos os dias e assim não há tempo para a depressão. Nhá Benta acredita que já superou o diabetes porque sua glicemia está estabilizada e percebe quando a mesma vai se elevar, ao ter algum tipo de aborrecimento. Aí então se isola, mas não deixa a depressão dominá-la. Desvelando a depressão nos diabéticos 87 ____________________________________________________________________________ Colaboradora: Quindim Sexo feminino, 68 anos, casada, cinco filhos, todos casados, mora só com marido, católica não praticante. Do lar, nunca trabalhou fora, recebe salário mínimo como aposentadoria. Sem antecedentes diabéticos. Diabética há dezoito anos, usa insulina há doze anos. Mora em casa própria em bairro bom da cidade, faz todo o serviço de casa. Tem muita afinidade com o filho caçula recém-casado. Refere-se aos filhos com muito carinho e sente muito prazer em receber os cinco filhos em sua casa para o almoço de domingo. Não gosta de trabalhos manuais e tem mania de limpeza, zela por sua casa que apesar de ser humilde, é ampla, arejada, com móveis bem dispostos. Refere-se ao marido com descaso, pois o acha muito implicante, egoísta e seguro com as despesas da casa. Expressa alegria ao mencionar o cuidado que os filhos têm com ela. Não freqüenta a psicoterapia nem reuniões de grupo na Associação dos Diabéticos, “pois lá não se ganha nada”. Quindim define depressão como ficar cabisbaixa, isolada em um canto com o pensamento fixo em um problema. Quanto ao choro no estado depressivo, não é seu caso, pois tem muita dificuldade em chorar. Seu receio de ter depressão é devido ao fato de sentir sintomas do mal de Parckinson em uma das mãos. Preocupa-se com a evolução da doença, pois precisa trabalhar nos serviços de casa. Faz ginástica e sente melhora com os exercícios, porém, o motivo que a faz preocupar-se mais, é o sistema de vida do esposo. Quindim tem alta auto-estima. Reage logo quando sente que vai ficar deprimida, pensando em si mesma, procura nas atividades do lar desviar seu pensamento. Poupa-se, não se envolvendo em problemas que não provocou e ignora o que ocorre à sua volta. Acha que esta indiferença é própria do seu modo de Desvelando a depressão nos diabéticos 88 ____________________________________________________________________________ ver a vida. Convive com o marido porque ignora suas atitudes de esconder as coisas, humilhando-a. Tem assistência e apoio dos filhos o que lhe dá muita segurança. Eles a fiscalizam quando faz serviços perigosos, estando sempre por perto. Colaborador: Churros Sexo masculino, 59 anos, é casado, tem cinco filhos e dois netos sob sua responsabilidade. Aposentado. Tem casa própria. Não quis que a entrevista fosse feita em sua casa preferindo o agendamento no consultório do serviço de medicina preventiva da Unimed. É tímido, tem aparência triste, fala pouco, baixo e pausadamente. È católico praticante e tem nos atendimentos com a enfermeira e com a psicóloga da Unimed apoio para “continuar a viver” apesar de não se considerar depressivo. Gosta de ler muito e colabora com as filhas solteiras cuidando dos netos pequenos. Churros relata problemas financeiros e problemas conjugais com a esposa serem a causa de seu desânimo. Parou de beber para ver se a esposa o aceitava, sem êxito, dorme há 5 anos separado da mesma. È diabético há cinco anos, usa insulina há dois. Tem como hábito andar de bicicleta diariamente. Leva todos os exames solicitados pelo médico aonde vai, apesar de ser uma enorme pasta. Para Churros, a depressão significa preocupação com os problemas da vida diária. Seus sintomas são provenientes de casos que o preocupam, sem solução momentânea. As principais situações que o levam à depressão são as dificuldades financeiras, pois vive do salário e os encargos de família que são Desvelando a depressão nos diabéticos 89 ____________________________________________________________________________ muitos: alimentar, vestir, calçar e educar filhos em número de cinco e ainda dois netos. Quando os compromissos vão se acumulando e a receita financeira é insuficiente percebe que a depressão vai apossar-se dele. Quando encontra uma saída, descarta-se dela. Caso contrário recorre à psicoterapia. Sente-se ajudado ao dialogar com a psicóloga, ao expor seus problemas, ao receber opiniões e orientações para cuidar-se em primeiro lugar, depois vai aos problemas. Não tem apoio da família, tão somente da psicóloga. Tem diabetes, que acha não ter nada a ver com seus momentos de depressão. Está controlada, sem atrapalhá-lo. Ao perceber que vai ter depressão, seu recurso é procurar a psicóloga, cujas conversas sempre rendem em melhora. Churros vive para os filhos, ou seja, para a família. Apesar dos conselhos da psicóloga para procurar lazer, distração, não tem condições financeiras e prefere acomodar-se em casa, isolando-se da sociedade. Não deixa transparecer que está depressivo e não recorre à esposa, deixando-a resolver seus próprios problemas, ele tentando resolver os dele. Relata com pesar a falta de vida sexual com a esposa há mais de cinco anos. Colaboradora: Cajuzinho Sexo feminino aceitou a participar do estudo após vários contatos. Tem 71 anos, casada, mora só com o marido. Quatro filhos, dois casados e dois solteiros que moram sozinhos também. Não tem religião e não participa dos cultos evangélicos diários do marido. Demonstra ciúmes das companheiras de crença do marido, do conjunto habitacional onde moram. Seu apartamento é próprio, pequeno, escuro, com móveis velhos, mal-dispostos e não muito limpo. Não aceita ajuda de Desvelando a depressão nos diabéticos 90 ____________________________________________________________________________ outras pessoas e ela mesma faz todo o serviço do lar. Diabética há 18 anos, usa insulina regular há 17. Faz caminhadas diariamente e não aceita que outra pessoa senão o marido lhe aplique insulina. Não freqüenta nenhum clube social, e só vai ás consultas com a psicóloga quando agendada pelo programa. Emagrecida, mal humorada, feição pesada, reclama o tempo todo da vida que tem, apesar de ter o marido disponível durante todo o dia para acompanhá-la nas casas das filhas, viagens e etc. Pediu que desligasse o gravador para me confidenciar problemas conjugais. Cajuzinho afirma nunca ter sentido depressão que para ela é isolamento em casa, estado nervoso. Não sente estes sintomas devido à bondade e ajuda do marido. A única discordância deles é quanto à religião, que a aborrece devido ao fato de freqüentarem igrejas diferentes. Quanto ao diabetes, existem momentos em que se acha triste, como na alimentação limitada. Mas vai se acostumando aos poucos e diz-se controlada. Apesar de achar no esposo um bom companheiro, que a ajuda em tudo, também às vezes divergem porque Cajuzinho é exigente, quer tudo muito certinho e é brava; às vezes até por coisas mínimas reage agressivamente. Demonstrando ciúme em determinado caso, toma atitude de domínio sobre o marido que acata sua decisão. Colaborador: Sonho Sexo masculino, 41 anos, casado, possui dois filhos, mora de aluguel. Está há três meses na Associação Santa Luzia, entidade filantrópica que o acolheu a pedido dos familiares por não terem recursos financeiros para cuidar do mesmo. Desvelando a depressão nos diabéticos 91 ____________________________________________________________________________ Era bem disposto até o início das complicações do diabetes aparecerem, tem 2º grau completo (Ensino Médio) e trabalhava como comerciante no ramo de pedras preciosas, aposentou-se por invalidez. Antes de ter o diabetes complicado participava intensamente de todas as atividades do Serviço de Medicina Preventiva da Unimed, oficinas terapêuticas, consultas com enfermeira e psicóloga, cantava no coral e liderava todo o grupo ao qual pertencia. Sonho tem diabetes há 15 anos, usa insulina, desde que teve confirmação do diagnóstico. Há um ano iniciou tratamento diabético pelo SUS e se inscreveu na fila de transplante duplo (pâncreas e rim) aguarda doador. Faz hemodiálise três vezes por semana e recebe a visita da esposa apenas uma vez por semana. Estive tentando contato com Sonho por três vezes enquanto esteve internado após convulsão por hipoglicemia. Minhas visitas não tiveram sucesso por encontrarmos o mesmo hospitalizado após uma crise convulsiva sedado. Aguardei alta hospitalar e retornei à instituição onde está internado. Deparei-me com Sonho confuso, incapacitado de deambular, mal situado no tempo e no espaço, reconhecendo-me como a mulher que conheceu na fila de inscrição para o transplante. 4.3- A experiência da depressão no diabético A trajetória histórica foi construída a partir das entrevistas e questões norteadoras emergindo três temas centrais: 1) condições de vida da pessoa diabética influenciando na depressão; 2) Identificação da depressão e 3) o Desvelando a depressão nos diabéticos 92 ____________________________________________________________________________ significado da depressão para o diabético, os quais podem ser observados na figura 1 a seguir: Desvelando a depressão nos diabéticos 93 ____________________________________________________________________________ Figura 1 – Depressão no paciente diabético: desvelando um inimigo oculto Características da depressão no diabético Condições de vida do diabético influenciando na depressão Complicações Cronicidade Financeiros Familiares Conjugais Apoio familiar Morte como solução Fatores relacionados Sociais O significado da depressão para o diabético Identificação da depressão Mecanismos de enfrentamento Religião como apoio Apoio equipe multidisciplinar Socialização e Lazer Apoio medicamentoso 94 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ 4.3.1- Condições de vida da pessoa diabética influenciando no aparecimento da depressão A doença tem uma construção social, com significados diferentes para cada indivíduo e acaba por influenciar a percepção dos sintomas. No caso das pessoas diabéticas, os sinais e sintomas que caracterizam a depressão, podem ser evidenciados pelo aparecimento de insônia, dores no corpo, irritabilidade e angústia dentre outros, trazendo conseqüentemente mudanças do estado de saúde, nem sempre percebidas como tal: “... e ele [o ortopedista] perguntou: Por que a senhora está assim? Não tem um lugar que toca na senhora que não está tenso, está tudo duro... Mesmo antes de sentir dor na nuca, eu já estava assim, andava a noite, porque se eu deitasse, era uma aflição tão grande, era pior, aí eu ficava andando e fazendo assim com a mão ó (mostrou), (falou baixinho!). Andando, então tem hora que a pressão baixa, parei de comer, já ia partir pra uma fraqueza, do cérebro, já tava fraca” .. (Amor em Pedaços) ...”Aí eu ficava nervosa porque eu não tinha dormido, aí eu já acordava irritada, nervosa e tudo que acontecia era uma coisinha à toa”...(Palha italiana). O DM é doença silenciosa, pois nem sempre apresenta sinais e sintomas claros. Os portadores dessa síndrome podem desconhecer que a possuem ou ainda terem conhecimento delas, porém não aderem ao tratamento por julgarem isso desnecessário, uma vez que não há manifestações clínicas importantes. Segundo Moreira et. al. (2003), a depressão emerge tanto com o aparecimento dos sinais e sintomas das complicações do DM, como também em conseqüência de sua cronicidade. Assim, muitas vezes, as pessoas diabéticas por 95 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ desconhecimento dos sinais e sintomas desta patologia, bem como de suas conseqüências e da gravidade dos seus sinais e sintomas interpretam-nos como passageiros e insignificantes. Dessa forma, tardam em procurar atendimento de profissionais de saúde que possam diagnosticar a depressão e iniciar o tratamento precocemente, evitando não só as complicações decorrentes do diabetes como também da depressão, que são tardias e irreversíveis. 4.3.1.1 – O medo das complicações crônicas O aparecimento dessas complicações acarretam medo e insegurança para alguns colaboradores, percebidas claramente ao se referirem ao diabetes. “ ...só que eu tenho medo, de ficar com aquele trem que fica tremendo, do diabetes [refere-se aos sintomas da Doença de Parkinson]eu tive medo no começo, agora depois que conheci a doença melhor não tenho mais medo...(Nhá Benta). ...”è, triste por isso, em pensar que algum dia, ser preciso cortar a perna, igual agora, essa minha perna ficou dormente, eu fiquei preocupada pensando que eu ia ficar até sem andar por causa do diabetes...” (Brigadeiro) As complicações crônicas do diabetes são classificadas como macrovasculares (coronariopatias, doença vascular periférica, acidentes vasculares cerebrais) ou microvasculares (nefropatia, retinopatia, neuropatia). Estudos indicaram que quanto mais jovem o paciente por ocasião do diagnóstico de diabetes, maior o risco de ocorrência de complicações crônicas e a taxa de mortalidade. 96 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ As mudanças corporais envolvem as alterações progressivas da doença. Estas apresentam longo período de latência, curso clínico insidioso e prolongado como também irreversibilidade. Associado ao processo de diabetes o aparecimento de certas incapacidades e/ou limitações levam o paciente a procurar suporte social para investigar o problema detectado. Essa condição envolve uma mudança na vida da pessoa, comprometendo também as relações sociais e psicológicas. O não monitoramento adequado dessa doença crônica, com o passar dos anos, levam ao desenvolvimento de lesões lentas e progressivas nos órgãos. Estes deslizes no controle do diabetes são expressos nas falas seguintes; ...”o médico já me falou inúmeras vezes que quem tem diabetes e não se cuida corre o risco de acontecer muitas coisas no nosso corpo e que podem aparecer de várias formas, dor na coluna, dormência na perna, até um simples machucadinho pode complicar”...(Brigadeiro). ....”Sei que tudo isso que já passei com meus problemas de coração são devido a esta doença”...(Torrone). ....”meu irmão que também tinha diabetes e não se cuidava morreu cedo e eu quero mais é viver”...(Palha italiana) Uma das metas do tratamento do DM é o controle glicêmico, de modo a prevenir as complicações, as co-morbidades (no caso de Insuficiência Renal crônicaIRC) e a mortalidade precoce. Visa-se à melhoria na qualidade de vida do portador de diabetes de forma que ele adquira independência e autonomia, mas, para tanto, são imprescindíveis mudanças no estilo de vida do diabético, pois o tratamento medicamentoso só terá sucesso se acompanhado por uma dieta adequada, pela 97 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ prática de exercícios físicos e redução ou até abolição de problemas no seu estilo de vida, como a ingestão de bebidas alcoólicas e tabagismo (LESSA et al., 1998). Barreto e Carmo (1995) mencionam o estilo de vida como um modelo de casualidade utilizado na atualidade, ou seja, a doença é compreendida como conseqüência do modo pelo qual as pessoas vivem. Há uma série de fatores como alimentação, sedentarismo, hábitos de fumar e ingerir bebidas alcoólicas, dentre outros que, em associação com riscos aumentados de ocorrência, acabam ocasionando a doença. Para Franco (1998), uma das características do DM é a maior incidência após os 40 anos de idade, que pode ter uma média de duração de 20-25 anos, quando a pessoa já se encontra na velhice. 4.3.1.2 – Lidando com a cronicidade do Diabetes Atualmente, na sociedade industrializada, as principais causas de morte e comprometimento da qualidade de vida são as doenças crônicas, cuja etiologia e evolução conta com claros mediadores comportamentais. A doença crônica tem algumas características como ser irreversível, degenerativa, de longa permanência, de caráter permanente, com incapacidade residual, ser incurável, causar dependência contínua de medicamentos e ter caráter recorrente (FREITAS, 1999). Exemplos de comportamentos comprometedores da boa saúde são o tabagismo, associado ao desenvolvimento de câncer; a hostilidade, presente no padrão de comportamento estressado, considerado um dos promotores dos problemas coronários e do infarto agudo do miocárdio e ainda o comportamento 98 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ sexual do descuidado, facilitador da contaminação pelo vírus do HIV. No caso do DM e da hipertensão não é diferente, o aparecimento destas doenças está sempre associado aos maus hábitos na alimentação, sedentarismo e a exposição constante a agentes estressores. Esta afirmativa pode ser evidenciada nas falas dos colaboradores abaixo. “...eu comia de tudo, tinha uma vida boa, mas agora tem que regrar tudo...” (Churros). “... o pior de tudo foi ter que largar o cigarro e fazer caminhadas, depois que operei da ponte safena nem caminhada dou conta de fazer, tudo me cansa!...”(Torrone) “...caminhada? Sou obrigada a fazer embora tenha muita preguiça, quando deixo de caminhar, a glicose vai lá em cima...”(Brigadeiro) Especialmente em condições crônicas, os processos patológicos envolvidos e as adversidades neles implícitos podem afetar profundamente o funcionamento orgânico e mental das pessoas em diversos níveis, como o emocional, social, vocacional e sexual. Uma doença é chamada de crônica quando os recursos médico-farmacológicos disponíveis são insuficientes para curar a patologia subjacente ao processo. A terapêutica oferecida apenas desacelera ou impede o progresso da doença, alivia os sintomas e mantém o melhor nível de funcionamento possível para o organismo afetado (DEROGATIS, FLEMING, SUDLER, e PIETRA, 1995). Embora haja grande variedade entre os níveis de limitações impostas pelas doenças crônicas, em geral elas têm um efeito comprometedor na qualidade de vida do paciente segundo Derogatis e Cols apud Kerbauy (1995, p.27). As doenças crônicas podem dificultar o retorno ou entrada do paciente no mercado de trabalho, gerar problemas financeiros devido aos custos do tratamento, comprometer 99 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ a relação do paciente com seu conjugue, filhos e familiares de modo geral, e diminuir o prazer antes obtido em diferentes atividades (SMITH e NICASSIO, 1995; TAYLOR, 1995). Além de ameaçar a qualidade de vida do paciente, a doença crônica também exaure seus recursos adaptativos e de enfrentamento e pode agregar uma constelação de problemas e dificuldades específicas que às vezes extrapolam seus próprios limites conforme podemos perceber nas falas a seguir: ....”quando a gente chega nesta idade e ainda doente (calou)... a gente vive mesmo é de teimoso”...(Quindim) ...”Desde que comecei a piorar da doença com as dificuldades com a sexualidade e com a perda dos dentes minha vida piorou muito e minha esposa quis separar de quarto”...(Churros) “...depender de insulina para viver, não é mole! Entrei em pânico quando o médico passou para mim, achei que minha vida tinha acabado, depois me acostumei e vi que minha qualidade de vida melhorou e muito!”...( Amor em pedaços) A demanda do trabalho do enfermeiro no cuidado com pacientes portadores de doenças crônicas talvez seja a maior e a mais complexa dentro da área de saúde. O atendimento ao portador de diabetes requer do profissional uma compreensão aprimorada das peculiaridades relativas à doença que lhe permita acompanhar os avanços terapêuticos e medicamentosos para o tratamento, os processos relativos ao prognóstico e as implicações decorrentes para o paciente e sua família, já que mudanças no cotidiano e a inabilidade para desenvolver algumas tarefas são alterações decorrentes da doença crônica que necessariamente precisam de adaptação do indivíduo e da família para a condição estabelecida. Miller 100 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ (2000) identifica ainda mais dois aspectos da doença que são a limitação na eficácia da terapia médica e o seu tratamento. Radley (1998) também se refere à doença crônica como causa de restrições na vida, causando limitações e incapacidades nas pessoas. Embora cada doença crônica apresente exigências únicas para o paciente e sua família, duas generalizações podem ser feitas. Uma delas é que as pessoas com a doença crônica têm o funcionamento múltiplo do corpo, mente e sistema espiritual prejudicados e a outra são as exigências individuais relacionadas com a doença nunca serem completamente eliminadas (MILLER, 2000). Perdas de ordem pessoal, social e econômica são evidenciadas com o acometimento de uma doença crônica, tanto para a pessoa que a vivencia quanto para a família, dificultando os relacionamentos sociais, o desempenho profissional e a perda da auto-estima. Muitas exigências são feitas às famílias e ao paciente que necessita ser submetido a exames médicos relacionados com os sintomas, em resposta às terapias empregadas, às complicações, autoconhecer-se, além de verificar que necessita de conhecimentos para assumir o automonitoramento. A família também necessita desenvolver e refinar habilidades para monitorar e administrar o seu cotidiano. Finalmente, todos esses esforços precisam estar direcionados para a manutenção e controle do problema, da ansiedade, além da ameaça de instalação de incapacidades durante as exacerbações da doença (MILLER, 2000). Estas falas descrevem essas situações. ‘...é duro depender das pessoas para fazer as coisas para a gente, Deus me livre de ficar assim!...”(Brigadeiro). “...a única coisa que tenho medo é de ficar em casa sozinho dependendo das pessoas e não poder trabalhar ”...(Chapéu de Napoleão) 101 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ “...que eu achava assim: nosso agora esse trem de diabetes capaz de não ter cura e eu vou ficar a vida toda, eu vejo falar que vou ficar aleijada, eu preocupo muito com isso. Eu tenho muito medo disso.”....(Brigadeiro) A doença representa uma ruptura na lógica da saúde que garante ao homem vivenciar o tempo e espaço e para o mercado ter disponível a força de trabalho. Portanto, a doença confronta a inserção do homem no sistema produtivo. A doença crônica está associada às condições precárias de vida da pessoa, bem como à falta de conhecimento do adulto quanto aos primeiros sinais e sintomas que indicam a doença e em alguns casos o tratamento tardio, podendo ocasionar a cronicidade da patologia. O sistema público não oferece assistência qualificada aos pacientes, levando a uma omissão de diagnósticos ou então a um seguimento inadequado do tratamento. Esses fatores levam os indivíduos à condição crônica da saúde, principalmente as pessoas da classe social média baixa e baixa. Para Smeltzer e Bare (1998), o controle da doença crônica envolve o viver permanentemente, por longo período de tempo, com os sintomas e defeitos e, a partir dessa condição, propiciar ajustar suas próprias identidades, mudanças de papel na forma de lidar com a imagem corporal e alteração do estilo de vida. A adaptação à doença e a incapacidade fazem parte de um processo contínuo. 102 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ 4.3.2- Identificação da depressão Conhecida como “o resfriado comum das doenças mentais”, ninguém está completamente imune ao risco de depressão, confundida, muitas vezes, com um estado de tristeza. No entanto, as mulheres são tratadas numa freqüência duas vezes maior do que os homens. ...”Eu acho que a tristeza é uma coisa que você sente por não ter realizado uma coisa momentânea, ou por uma pequena desavença com uma pessoa amiga, enquanto a depressão, é quando o cara afunda em coisas que ele acha que não vai conseguir nunca realizar, que ele não em forças para fazer aquilo”...(Chapéu Napoleão) ...”Depressão pra mim é tristeza é ficar muito dentro de casa, não sai para lugar nenhum, não freqüenta nada (silenciou) é como se diz fico parada demais, fico deprimida né?”...(Moranguinho) “...Tristeza até eu tenho, mas depressão, não! Sei que não tenho porque meu marido já teve e nem conversava...”(Casadinho) Em geral, em algum momento de suas vidas, uma em cinco pessoas experimentará um episódio depressivo suficientemente sério para conduzir a tratamento. Assim, mesmo aqueles ainda não atingidos pessoalmente pela depressão, com toda probabilidade lidarão com um amigo ou familiar que o foi. Os especialistas sentem que aqueles que vivem com uma pessoa deprimida apresentam risco de se tornarem eles próprios deprimidos (LUSTTMAM, 1997). A depressão afeta o humor do indivíduo, a sua forma de ver o mundo e até as funções do corpo, como o sono e a sua alimentação ou o vigor. A pessoa está sempre triste ou preocupada e geralmente está ansiosa ou irritada, apresentado a auto-estima diminuída e pensamentos negativos, pensam que são incapazes de 103 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ fazer coisas comuns no seu cotidiano. A depressão apresenta muitos sinais e sintomas diferentes, alguns são fáceis de reconhecer, outros mais difíceis. O primeiro sinal da doença geralmente ocorre com uma mudança de comportamento habitual e a pessoa se torna irritada por motivos antes insignificantes; sentimentos melancólicos, perda do interesse por atividades consideradas agradáveis anteriormente ou por quaisquer outras atividades; perda de apetite e peso ou algumas vezes ganho de peso; dificuldade para dormir ou excesso de sono; agitação ou retardo psicomotor; sentimentos de cansaço ou indisposição, de inferioridade ou culpa; dificuldade de concentração, organização do pensamento, memória ou decisões; pensamento de morte ou suicídio. “..ficar pensando, sei lá, coisas boas, coisas ruins, aquilo que vem na sua mente, um monte de coisa, aí você começa a ficar com raiva de um, a querer fazer num sei o que com esse, a querer fazer não sei o que com aquele outro, porque aquele outro me olhou de atravessado, acha que não gosta de mim, acho que fiz alguma coisa para ele porque (silenciou), ficou diferente comigo, você acha que as pessoas é que são diferentes com você, quando é você que não está mais receptiva às pessoas. Tudo está ruim. Nada te serve”......(Palha italiana) ...”Depressão, (parou) e, eu, eu não sei se vou saber expressar assim, por causa do que eu senti. Olha, depressão, eu, particularmente comparo assim (pausa). Um passo pra loucura (calou). Eu, não cheguei ao extremo, porque graças a Deus apesar de retardar um pouco, porque eu não estava sabendo que aquilo era o início de depressão, eu pensava que era problema na coluna, porque doída muito e quase todos falam que é isso, começa com a dor na nuca. (Calou)”....(Amor em pedaços) Concordamos com Teixeira (1993) que os membros da equipe de saúde têm que tomar medidas imediatas para assistir o cliente identificado com depressão, pois o risco de suicídio é uma constante naqueles diagnosticados ou não. Para alguns a 104 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ depressão é indutora de isolamento e sentimentos de solidão e angústia, traduzidos por expressões como de permanecer num canto e ficar quieto: “ Tristeza, angústia? Ficar deprimida não consegue ver ninguém, quer ficar mais no seu canto sozinho. Pra mim é, depressão é isso”..(Brigadeiro) “ Depressão (calou), pessoa que fica muito em casa, num passeia, num é? E (calou), fico muito nervosa, eu acho que é isso (falou muito baixinho)”.....(Cajuzinho) “ Olha, depressão que eu entendo quem tem, é ficar encostado em um canto, só preocupado, com aquela coisa na cabeça, não parar de pensar naquilo e se deixar vai indo até ficar ruim demais”.( Quindim) Em algumas falas observam-se formas de negação de depressão. “...eu até entendo que falar que depressão que fica chorando, eu não choro, sou ruim pra chorar demais. Então eu fico assim, com aquele aperto no peito, assim sabe?...”( Quindim) “...Eu sei que nunca tive isto porque tratamento de depressão e até remédio parado, nem assistir televisão ele dava assim não, Deus me livre!...Esse não!...”(Casadinho) meu marido que já fez tomou, mas ele só ficava conta, e eu nunca fiquei trem, não me pega “...Meu marido já sofreu deste mal, só ficava no quarto deitado, não queira nem conversar com os filho, morreu sem nunca ter se curado...”(Brigadeiro) Na opinião de Silva (2001), a negação de uma situação é um mecanismo de defesa, que pode ser considerado como uma etapa do enfrentamento do estresse provocado pela ameaça a que a pessoa está sendo submetida. 105 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ Outros sentimentos relacionados à depressão são as sensações de impotência, de culpa, de pessimismo, de desânimo ou também irritabilidade e nervosismo com pessoas e fatos, observados nas falas seguintes: “...Você faz um pouquinho você fica enjoado, põe defeito, nada fica do jeito que você quer, você parte para outra coisa, escutar os outros conversar te irrita, a televisão te irrita, tudo te irrita...”(Palha Italiana) “ Depressão, eu acho que é um estado de espírito, que a pessoa sente quando ela acha que não está sendo útil e que não está conseguindo realizar coisas que ela queria realizar...”(Chapéu de Napoleão) ...”Depressão pra mim é o que eu já sempre falo, que uma coisa que você sente dentro de você, uma coisa que só no seu interior, que você sente que tudo está muito difícil, você não tem vontade de encontrar com as amigas, acha chato, você só lembra é da cama, você quer cama, você não quer nada”...( Olho de Sogra) ”... eu acho que ela sente um vazio, como se fosse um desânimo, um pessimismo muito grande, não é?”...(Chapéu Napoleão) ...”Quando as coisas não vão bem, ou tem um probleminha com o marido, ou com os negócios, ou alguma coisa que aconteça com as filhas, aí pronto começa. Você já não dorme direito, senta para comer e não pensa na necessidade nem prazer de comer, você simplesmente senta e come, pensando o tempo todo”...(Palha italiana) “...Então você fica remoendo, remoendo, aquele problema e começa a se sentir mal e tenta achar o porque do problema, pensando onde foi que eu errei? O que eu fiz para minha”...(Palha italiana) Às vezes as situações de pressão acabam levando as pessoas a se sentirem depressivas conforme se pode identificar nestas falas: 106 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ...”eu percebo porque compromissos vão cobrando, e de repente eu não encontro saída para solucioná-los, é isso que provoca essa crises de depressão”.....(Churros) ...”Eu só tive quando (calou), meu pai morreu, eu tive uma surdez na hora, que nem sabia que os outros falavam”.....(Casadinho) ...”É, pois é (riu). Eu luto contra isso, que eu sei que eu tenho tendência, por causa assim, do meu gênio, né, que eu num sei abrir assim, falar o que eu sinto, se estou aborrecida (calou)”....(Nhá Benta) ...”Não, não, ninguém falou nada e porque a gente se isola, se fecha, hoje ninguém esta preocupado com ninguém, a vida hoje é assim, cada um esta sufocado nos seus afazeres, nas suas responsabilidades. Eu não olho o outro não, se eu esperasse que alguém visse me socorrer ou falar: Ó, você não pode ficar assim? Você é uma mulher ativa, uma mulher viva, você morreu? Não, eu mesma senti que não estava bem, eu mesma”......(Olho de sogra) 4.3.3- O significado da depressão para o diabético 4.3.3.1- Fatores relacionados à depressão para o diabético - Reação ao sentimento de solidão: Isolamento social Todos nós temos momentos de solidão que podem ser benéficos. Em tudo você deve trilhar o caminho do meio e nunca os extremos. O caminho do meio sempre te leva ao equilíbrio. Estar só, permanentemente, pode se tornar patológico. O homem é um ser social e tem que se comunicar com as outras pessoas, caso contrário pode ter stresse e depressão (MORTARI, 2004). 107 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ Tessari apud Rossi (2004) fala das pessoas que, em conseqüência dos acontecimentos da vida, escolhem ficar sozinhas, aproveitando os momentos de solidão como uma chance a si próprias. O autor procura entender o que leva pessoas adultas a ficarem reclusas, solitárias em suas casas. A solidão pode atrapalhar a vida das pessoas, depende de vários fatores e um deles pode ser em relação à pessoa ter um problema de saúde como uma doença crônico-degenerativa ou uma incapacidade física causada por complicação de alguma dessas doenças. Quando a pessoa precisa de um tempo para ficar consigo mesma, refletindo acerca de algum problema, ficar sozinha ajuda. Porém, isso pode atrapalhar quando ela não quer pensar em problemas ou quer fugir deles. Outros fatores complicadores são a liberdade e a independência. Certamente, nada melhor do que viver sozinho! Às vezes, as pessoas optam por viverem sozinhas provavelmente porque se sentem pressionados nos ambientes em que vivem. Por não poderem fazer tudo o que desejam, por terem limites e regras impostas pelo tratamento do DM e não aceitá-las. Na verdade, ninguém opta por viver solitário, mas busca-se a solidão quando o convívio social não propicia satisfação, alegria ou bem estar. O ser humano é, essencialmente, um ser social que gosta de viver e de conviver com grupos. Quando ele se afasta do convívio social, por livre e espontânea vontade, certamente existe algum problema em relação a estes grupos ou então a pessoa tem algum problema e não quer que seu grupo de amigos ou conhecidos tenha conhecimento do mesmo. Nas falas a seguir podemos perceber o sentimento dos colaboradores quanto ao isolamento social, solidão pessoal e solidão a dois. 108 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ...”alguém para ouvir a gente, alguém para também dar suas opiniões nesses momentos.......(Churros) ...”Isso aconteceu já tinha dois anos que meu marido tinha morrido’....(Olho de Sogra)] ...” Nossa vida fica restrita. A gente não tem assim, alegria, não tem satisfação de estar no meio social”....(Churros) ..’ Aqui dentro de casa não houve como isolar, agora da rua, eu isolei, porque eles estavam dentro de casa, mas, mas iam notando, olhando, Mãe: O que está acontecendo com a senhora? Eu falava: Nada!”.... (Amor em Pedaços) ...”A tristeza não, a tristeza você conversa com gente, e depressão não. Você quer ficar sozinho no seu canto. Então é pior, pra mim é pior que a tristeza”...(Brigadeiro) ...”É igual assim, por isso que eu falo, que leva a loucura, porque eu fiquei uma pessoa assim ó, só com a mão assim, andando e, e ia direto e tudo que eu ouvia, uma notícia, um repórter, aquilo eu já tava pedindo pra eles desligarem, eu num podia ouvir mais nada. Aquilo gravava na minha mente, eu, eu num dormia”....(Amor em pedaços) ...”Eu era toda cheia de vida, alegre, muito sadia, depois que eu fui saudável, depois que eu comecei a sofrer tanto assim que apareceu a diabetes e fui ficando triste e mais triste, cada vez mais triste, ai pronto”...(Torrone) ...”Pra mim, depressão é quando você começa se sentir sozinha, abandonada, nada está bom, aquilo que você gostava de fazer, você começa fazer, (pausa) já não te dá prazer. O que te deixa bem, é sentar num canto quietinha e ficar pensando. (Pausa)”.....(Palha Italiana) Percebe-se que o sentimento de solidão pode ser despertado em uma pessoa quando ela é excluída socialmente. Se isso acontece, ela acaba se sentindo solitária e sofre com isso, pois, o ser humano necessita sentir-se um membro participante de grupos. Exatamente porque a sociedade a exclui, ela sofre e muito justamente, porque não optou pela solidão. 109 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ - Os problemas familiares A família possui atribuições, como entidade intimamente relacionada à sua origem e estrutura, que por vezes podem ser confundidas. Dentre as atribuições descreve-se a função biológica de prover cuidados que assegurem a sobrevivência; função psicológica de prover alimento afetivo para manter o equilíbrio psíquico, sendo o ancoradouro para as ansiedades existenciais, função esta que pode ser confundida com as funções sociais de transmissão da cultura e de preparação para o exercício da cidadania (OSORIO, 1996). Mota (1997) afirma que ao buscar a compreensão dos significados percebidos pelo paciente e sua família é possível reconhecer que a doença afeta e desarticula o mundo familiar e os sonhos de futuro, refere ser a família “constituída pela comunhão do ser-com-o-outro, cujas premissas básicas da relação são o afeto, a lealdade, a responsabilidade com o outro, caracterizando-se como uma relação social dinâmica, permeada por crenças, valores e normas da sua tradição sociocultural e pelo seu momento histórico de vida (p.176)” sendo este momento, para a autora, o impacto de uma doença, será o enfrentamento que levará esta família a redimensionar sua vida. A depressão pode causar impactos nas relações familiares demonstradas nas falas destes colaboradores: ...”Desencadeou, devido a um apanhado de tudo que eu já passei, que eu tive problema (pausa), filho drogando! Eu tive, tenho (falou firme) ainda problemas. Eram os dois, né. Filhos se drogando e marido, é alcoólatra. Então foi assim, eu fui tendo resistência, fui tendo resistência, agüentando, quer dizer, eu ainda pensei: Meu Deus, por que isso num (pausa) aconteceu, como é que eu passei aquilo tudo num tive uma depressão? Mas essa depressão, já era uma carga (calou), de (pausa), lá no princípio’....(Amor em Pedaços) 110 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ...”Ah! Eu acho que é assim. Família todo dia, a gente tem um problema, né, isso num tem jeito, né? Qualquer problema de família assim, me deixa assim mais (calou), triste, né ? (riu). Eu sou muito preocupada também....(Nhá Benta) ...”Ah (pausa) quando (pausa) as coisas não vão bem, ou que tem um probleminha com o marido, ou com os negócios, ou que aconteceu alguma coisa com uma filha sua, aí pronto, aí que começa....]”E aí não, eu aí começo a revirar na cama, aí eu começo a pensar, aí vem o pensamento da filha, aí vem o pensamento do neto, aí vem o pensamento da neta”....(Palha Italiana) ...’Sempre foi, porque minha vida sempre foi muito difícil, tudo é concebido através de emprego, para educar filho, alimentar casa, construir casa, então tudo isso é motivo, é porque eu me sinto às vezes sofrendo essa depressão”...(Churros) ...’Mas eu num falava nem com o marido, nem com a filha, com ninguém, quer dizer então, eu fui piorando”....(Amor em pedaços) ...’Vou ficando coagida, vou ficando calada, magoada com tudo, com o mundo e dá tristeza, mas tem certa hora que eu não agüento, então eu respondo...(Moranguinho) É importante dizer que os problemas familiares, desavenças ou desordens de qualquer natureza podem proporcionar uma maior possibilidade de descontrole glicêmico e também fazer com que o paciente desencadeie um episódio depressivo. - Os problemas conjugais ...”E o diabetes que eu não tinha, que deu problema da diabetes e esse passado, de ser abandonada sem motivo justo. Ele era boêmio, me deixou com cinco filhas e eu fiz tudo sendo uma boa esposa e procuro assim, um motivo dele ter me deixado e não encontro. O ruim era ele, era não, é...(Torrone) 111 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ...’Lógico fazendo as coisas que ele gosta, do jeito que ele quer, dando tudo na mão, (calou), e vamos levando a vida assim, (calou) nem tem outro modo, fazendo o que ele quer! (expressou raiva)”....(Moranguinho) ....”Ah! Então é só ele que tem defeito? Não, eu to falando num é de defeito pessoal, estou te falando, defeito de bebida, isso aí é a parte. Que o homem que bebe, a pessoa que bebe tem duas personalidades, você vive com um marido de duas personalidades. (Calou) e, com a bebida ele é uma coisa, sem a bebida, ele é outra.”....(Amor em pedaços) ...’Mais porque, ele freqüenta uma igreja que eu não gosto de participar, eu queria estar na outra igreja lá da sede e ele num vai”....(Cajuzinho) Geralmente a depressão está relacionada com uma mudança no comportamento. Indivíduos deprimidos relatam que é mais difícil interagir com os demais. Estudo (BALL, 2002) demonstra que as pessoas deprimidas olham menos nos olhos, falam mais devagar e suavemente, também falam com monotonia e seu discurso pode ser dominado por pensamentos negativos, incluindo tristeza e falta de esperança. Segundo Kelsey (2004), a doença geralmente é acompanhada por queixas conjugais e, de modo geral, as interações entre pessoas deprimidas e seus cônjugues são caracterizadas por agressividade acima do normal. Problemas conjugais parecem ter grande influência na evolução da depressão, no entanto o apoio conjugal pode proporcionar uma melhora mais eficiente e duradoura dos sintomas depressivos, já que a participação e o apoio do parceiro(a) podem fazer grande diferença na diminuição dos sintomas da depressão. A separação, o abandono ou divórcio são experiências das mais traumáticas pelas quais podem passar os seres humanos, pois nessa fase, todas as certezas se desfazem, como se a vida da pessoa sofresse um impacto sísmico. 112 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ Levam-se anos para recuperar-se emocionalmente de uma separação, sobretudo as mulheres. O abalo maior é, sobretudo, o da perda da confiança em si e nos outros, podendo isso ser tão forte que nunca mais se consiga recuperar o bemestar, a capacidade de amar outra pessoa ou até a si mesma, ficando a salvação de um casamento com problemas na dependência do discernimento e da capacidade de um dos parceiros não perder contato com a realidade e tentar restabelecer a relação por ele mesmo ou pedindo ajuda externa (MATARAZZO, 1997). Considerando os colaboradores do estudo observa-se que as mulheres se submetem às vontades de seus cônjuges, não por amor, mas sim por estarem acostumadas à rotina ou por não terem coragem de enfrentá-los nem de tomar atitudes, seja pelos filhos, seja por medo de críticas da sociedade. Nas falas de Moranguinho e de Quindim podemos confirmar nas afirmativas a seguir. “ ...Sabe porque eu parei de ir na psicóloga? Parei porque se continuasse iria acabar me separando às vezes é melhor se fazer de tonta e deixar o barco correr...Já estava começando a enfrentar ele e o negócio não estava ficando bom...” (Moranguinho) “...este homem é minha cruz, se tivesse só os meninos seria muito melhor...Ele só abre a boca para criticar os filhos e até esconde as coisas de comer no domingo quando nos reunimos aqui em casa. Não dá nem para acreditar, fica calada o tempo todo que estão aqui, parece cuime...”(Quindim) - Os problemas financeiros A doença leva o indivíduo a incapacidades que o afastam de funções sociais, como o trabalho. Em geral o afastamento do trabalho por problemas de saúde ou da ajuda nas atividades rotineiras em casa se aposentado acarretam uma série de problemas financeiros imediatos, como o desconforto de estar parado, a sensação de inutilidade ou a dificuldade de obter dinheiro, para aqueles com 113 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ atividade autônoma, não aposentados e que aí precisam de ajuda financeira de familiares e amigos para as despesas com alimentação, manutenção do pagamento do plano de saúde e dos medicamentos. O ato de deixar de trabalhar, sobretudo para o gênero masculino, fere a posição de provedor da casa, já as mulheres dependem da ajuda dos filhos para as despesas extras com a doença. Estes colaboradores descrevem com clareza essas dificuldades que acabam por levá-los a depressão. ....”As situações que me deixam sempre deprimido, é a situação financeira, necessidade de filhos, que necessitam de ajuda e às vezes eu me encontro sem condições de ajudá-los. Fico mais satisfeito quando eu tenho condições de atender as suas necessidades”....(Churros) ...”È ele implica com tudo, até mesmo com o gás do fogão ele implica. È economia demais da conta, uma coisa exagerada e eu não tenho direito a nada, só tenho direito de trabalhar, de fazer as coisas e dar a ele na mão entendeu?”...(Moranguinho) “...Ainda bem que tenho minha aposentadoria, depois que meu marido ficou velho anda numa miséria que você não pode imaginar, até para os filhos e netos tem pão durismo”...(Quindim) ...”única coisa que me faz ficar mais pensativa é por causa do sistema do meu marido, sabe? É uma avareza impressionante...Mas, mais nada. Eu penso: Ah! Azar dele.”....(Quindim) A redução na renda familiar causada pela aposentadoria, o compromisso de ajudar os filhos, a falta da colaboração e compreensão dos conjugues, faz com que as pessoas se sintam depressivas e incapazes de reagir. 114 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ 4.3.3.2 Mecanismos de enfrentamento da depressão Na linguagem cotidiana, enfrentar e enfrentamento são termos usados com diferentes significados (confrontar; lutar contra algo ou contra uma situação; encarar de frente; arrostar; defrontar; olhar de frente, encarar sem medo; resistir a, suportar, tolerar, agüentar), implicando sempre em uma reação a algo difícil, a um problema, ou a uma situação desafiante. Nos textos científicos escritos em português usa-se o termo enfrentamento, traduzido do termo em língua inglesa “coping”. O conceito foi originalmente estabelecido por Lazarus apud Arruda (2002) como “um conjunto de estratégias para lidar com uma ameaça eminente (GIMENES, 1997, p.112.) De acordo com a teoria de Lazarus e colaboradores, o termo enfrentamento descreveria ”esforços cognitivos e comportamentais em constante mudança para o manejo de exigências ou demandas internas ou externas que são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos pessoais do indivíduo”. O conceito de enfrentamento implica função adaptativa no comportamento e na relação entre o organismo e o ambiente adverso e tem sido enfatizado na área de psicologia da saúde como útil à compreensão dos efeitos do estresse e das diferenças individuais encontradas nas reações de pessoas que vivem da depressão uma condição estressante. Os esforços de enfrentamento dos colaboradores podem ser observados nas falas a seguir. ...”Então pra mim quando sinto que é isto, a depressão que está se instalando, eu sei que é o princípio de uma coisa que eu tenho que parar e dar um jeito (silenciou) e me cuidar para não deixar a coisa andar. Avolumar e tomar conta de você”...(Palha italiana) 115 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ...’ Vou mexer com serviço, lavar vasilha, agora mesmo estava arrumando cozinha do almoço, bordar, caminhar e espairecer as idéias”.....(Nhá Benta) “...Pego uma vassoura e não quer varrer, pega uma costura, eu gosto de fazer crochê, então meus crochês, ficaram abandonados, achava aquilo tão enjoado! È muito ruim, é ruim de mais! Porque você se isola também. Ah, mais quando eu percebi isso”.....(Olho de sogra) ...” eu começo a querer chorar por qualquer coisa, aborrecida sem um motivo, aí eu tomo um remédio para dormir, porque quando eu fico assim o sono vai embora!”....(Nhá Benta) Alguns fatores pessoais interferem na forma de enfrentamento como o envelhecimento, personalidade, cultura, habilidades específicas para o autocuidado, valores, crenças, estado emocional e capacidade cognitiva. Dentre os fatores ambientais que interferem no enfrentamento estão a presença de um sistema de suporte, o acesso aos serviços de saúde e os recursos físicos e financeiros (MILLER, 2000). - Morte enquanto solução Segundo Ross (2000), com a morte é provável vislumbrar a possibilidade de paz. Espera-se uma vida futura, em que as pessoas sejam aliviadas das dores e sofrimentos; pensa-se ainda numa recompensa dos céus e se tivéssemos sofrido muito na terra seríamos reconhecidos após a morte; dependendo da coragem, da paciência e da dignidade com que tivéssemos carregado nosso fardo. Esse sentimento está demonstrado nas falas a seguir. 116 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ..”De tão mal que você está, você acha que a morte é (pausa) te descansa, te dá aquela paz que você quer e que você não tem, entendeu (silenciou), então é por isso que você deseja a morte, porque a morte é você dormir, não pensar, não sabe (pausa) dormir, dormir...(Palha italiana) “... era um problemão e a coisa foi crescendo, foi crescendo, até eu não suportar mais, porque eu tava vendo que eu ia cometer uma doideira, porque eu achava que só morte que ia acabar com isso tudo e se eu morresse, minha filha lá com o marido ia se acertar, né...” (Palha Italiana) O resultado do estado de baixa auto-estima seguida ao rompimento de seus sentimentos de valor próprio pode levar o ser humano a ter idéias de suicídio. Às vezes as ameaças de suicídio são as formas que as pessoas angustiadas e depressivas encontram para pedir ajuda e compreensão ou evitar conflitos; se ocorrerem repetidas ameaças de suicídio, essas pessoas devem aprender outras estratégias para atender às suas necessidades. ...”Não eu sempre fui (calou), me sentir depressiva, já tive vontade ate de suicidar...” (Moranguinho). Muitas vezes as pessoas experimentam momentos de introspecção e medo; esse medo pode ser da própria morte e da fragilidade da vida e do temor às leis divinas, claramente percebidas na fala deste colaborador: .”. Graças a Deus, nunca pensei em suicídio, isso não, porque eu temo o Senhor e tenho a sustentação dele, mas a pessoa, mesmo sendo assim, ele leva a pessoa, a maioria dos deprimidos leva...” (Amor em pedaços). A conduta suicida, na verdade, é uma tentativa desesperada de solução de um problema, embora seja uma alternativa inadequada. Ela pode acontecer depois de várias tentativas de se solucionar um problema (de todas as maneiras 117 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ possíveis e imagináveis para a pessoa). Não tendo encontrado nenhuma solução, a pessoa vê, então, somente essa saída para solucionar o problema que está lhe afligindo (TESSARI, 2004). - Religião como conforto Segundo um pároco de São Paulo, Pe. Arnaldo (2004), que afirmava estar no evangelho que Jesus curava os doentes e lhes dizia: “tua fé o salvou!”. Apesar do reconhecimento já secular e milenar, a medicina moderna, no mundo ocidental, procurou desconhecer a ligação entre o ser espiritual e o ser físico da pessoa humana. O aspecto científico da questão foi apenas um detalhe, a evolução da medicina como um ramo comercial foi o elemento mais decisivo para que os médicos se afastassem da espiritualidade. Dessa forma, os pobres ficaram com a fé enquanto os mais ricos podiam dispor de tratamentos e remédios. Recentemente essa questão esquentou os meios científicos e cada vez mais os médicos reconhecem que a fé ajuda as pessoas no processo de sua cura física. A ligação entre o corpo e o espírito é reconhecida pela humanidade há milênios. Nos séculos passados, a comunidade científica considerava fé e espiritualidade como sinais de crendice e de ignorância. Pesquisas recentes começaram a relacionar fé com boa saúde. As conclusões “científicas” destas pesquisas estão incentivando cada vez mais os médicos a estudar a relação entre fé e cura (SOUZA, 1998). De acordo com Brandão e Cols (1993), pesquisadores neste assunto mostram, por exemplo, que aqueles que freqüentam a religião vivem, em média, sete anos mais em relação àqueles que não têm esta prática. 118 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ Não há nenhum estudo científico que comprove a relação entre a fé e a cura, mas na prática, nem mesmo os médicos, geralmente considerados céticos, negam o peso que a fé e a força de vontade têm no tratamento de pacientes que mantêm a estima elevada e acreditam na cura. A ciência reconhece, finalmente, as evidências de que a fé ensina a viver mais e melhor. Analisando as contribuições dos colaboradores, percebemos a realidade destes estudos e declarações. ...”Ele falou: Ah! Parar de beber, nunca! Ele falou pra mim. Eu falei: Bom, você diz que é, que nunca, mas você num sabe o poder de Deus, eu falei com ele: O Deus que eu sirvo é um Deus vivo e que pode todas as coisas. Aí eu comecei a cantar hino, sabe? Lidando com ele e cantando.....(Amor em Pedaços) ...”Fico em casa evito sair para que ele não fique nervoso, mas agora tenho Deus na minha alma está entregue...”.(Moranguinho) ...”É, essas coisas, você olha pra trás, você vê sempre coisas bem piores do que da gente. Tem que dar graças a Deus que ainda posso fazer muita coisa, bordar mesmo, graças a Deus, eu bordo mesmo com as mãos assim, e quem não tem os dois braços igual eu vi outro dia? É ou não é oportunidade de Deus?...” (Nhá Benta) O paciente que tem fé maneja melhor as adversidades da vida, já que a espiritualidade tem um aspecto positivo. Se não curar a pessoa, certamente vai melhorar a qualidade de vida dela e viver de modo positivo é muito melhor, uma vez que a crença é considerada um complemento, não uma solução isolada, os tratamentos nunca podem ser abandonados. (BUZAID, 2004). Alguns colaboradores têm a fé e a religião como consolo e ajuda nas adversidades de suas vidas. 119 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ...”Oh, minha filha, ajuda, porque quem tem fé em Deus, a gente pede a Deus pra dá força, tirar esses desgosto da mente, do coração, é, ajuda. Eu tenho muita fé em Deus...”(Torrone) ...”Se eu começasse a pensar eu falava: Senhor, antes dela ser minha, ela é sua. Então, é o Senhor é que sabe o que é bom para ela. Eu estou aqui pra aceitar, então o Senhor que põe as mãos na vida dela, orienta a vida dela, entendeu? E aí eu deitava e dormia...”..(Palha Italiana) ...”Eu rezo muito, peço muito a Deus pra esquecer do que não presta, aí me controlo. Só isso...”..(Torrone) ...”eu tenho muita fé em Deus, tenho muita força de vontade, consigo sim. Solução é pedir a Deus e conviver, porque fazer o que né? Ir vivendo”...(Torrone) ...”Eu sou católica, entendeu? Leio muito a Bíblia, então nos casos assim, por exemplo estar sozinha, não querer sair, não quer nada com nada, aí eu começo ler as passagens da Bíblia (pausa) graças a Deus, o Divino Espírito Santo, me inspira muito, e sempre eu pego uma passagem que (pausa) nossa! Parece que foi escrito pra mim naquela hora, entendeu? Então isso me ajuda demais, me ajuda muito e aí eu consigo superar, graças a Deus”....(Palha Italiana). Percebemos que todos os colaboradores estudados têm religiões de demandas coletivas como o catolicismo e o protestantismo segundo Rabelo (1993), e que ajudam manter um convívio social. - A socializaçâo e lazer Suporte social pode ser definido como o apoio disponível no ambiente familiar, laborativo e interpessoal, visando a manutenção de um funcionamento global adequado do indivíduo, principalmente em situações adversas. A falta de suporte social parece ser um fator também associado com a presença de sintomas depressivos em pacientes diabéticos. Diversos autores (BAYLEY, 1996; MIYAOKA, 120 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ 1997, CONNEL, 1994) relataram que pacientes com melhor suporte social apresentam menos sintomatologia depressiva. Este convívio apresenta-se de várias formas, em grupos de igreja, clubes de serviço, grupos de medicina preventiva que além de proporcionar o convívio com outras pessoas trabalham na prevenção de complicações das doenças crônicodegenerativas, oficinas de trabalhos manuais, dentre outros. ...”Volto, porque aí, você vê uma coisa e outra, distrai. E saio para andar lá pro bairro longe perto do shopping, por causa disso que é”....(Nhá Benta) ...”Eu saio, procuro distrair, fazer uma visita (calou), não ficar assim, ficar parada dentro de casa, que aí eu acho que é pior...”(Nhá Benta) ...”Eu procuro desviar meu pensamento, penso nas coisas boas, vou pra casa da minha filha, fico lá com meus netos, arranjo brincadeira, num vejo televisão, não vejo nada, num escuto música, nada, nada. Eu só quero brincar, sair, vou pras lojas, vou andar, vou lá pro shopping, sento lá, faço um lanche gostoso lá, entendeu, essas coisas...”. (Palha Italiana). Peyrrot e Cols (1997) observaram que a simples participação de pacientes em programas educacionais para diabéticos leva à melhora dos sintomas depressivos. - Apoio familiar Na intenção de compreender a família, será necessário, primeiramente aceitar que esta possui diferentes significados para as pessoas, apresenta diversas 121 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ definições para estudiosos de diferentes correntes de pensamento, estando vinculada com as dimensões social e cultural de que representam. Considerada por Osório (1996) como viga mestra no processo evolutivo do ser humano e ainda guardiã de nossas ansiedades e medos é a família o suporte para melhorar o relacionamento humano entre seus membros e também superar tabus. Para isso, será imprescindível revitalizá-la e repensá-la para transcender a condição humana e buscar na família as saídas para o mal-estar em que vivemos, parece ser uma tendência contemporânea. Para Elsen e Althoff (1998), a família faz parte de nossa vida cotidiana, construída dentro de uma realidade social em que a variabilidade nas estruturas e organizações leva-nos a pensar em famílias com múltiplas composições, o que para as autoras parece um desafio à formulação de qualquer definição de família. Referem-se à família como uma unidade dinâmica, constituída por pessoas que, primeiramente se percebem como família, além disso, convivem por um espaço de tempo como uma estrutura e organização em transformação, estabelecendo objetivos comuns e construindo uma história de vida. Os membros da família poderão ser unidos por laços consangüíneos, de interesses ou afetividade, possuem uma identidade própria, e além de criar, também transmitem crenças, valores e conhecimentos, influenciados pela cultura e nível socioeconômico. A família vive em uma sociedade ou num ambiente em interação com outras pessoas e famílias, acrescentam a escola, posto de saúde e outras. Define seus objetivos, tem direitos e responsabilidades e promove meios para o crescimento e desenvolvimento de seus membros e da comunidade. O fortalecimento da família como ambiente de suporte poderá ser alcançado pela presença do ser-enfermeiro, como profissional atuante nos serviços 122 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ sociais e de saúde, responsabilizando-se pela informação e educação. Este será o mediador na relação dialógica, vislumbrando as possibilidades para cada pessoa tornar-se e estar melhor. ...”eu nunca me senti deprimido porque tenho o apoio de minha esposa e de meus filhos que nunca me deixam sozinho”...(Chapéu de Napoleão) ...”Ah! (silenciou), eu não penso no problema. Eu procuro desviar meu pensamento, penso nas coisas boas, vou para casa da minha filha, fico lá com meus netos, arranjo brincadeira, num vejo televisão, não vejo nada, num escuto música, nada, nada. Eu só quero brincar, sair, vou pras lojas, vou andar, vou lá pro shopping, sento lá, faço um lanche gostoso, entendeu, essas coisas”....(Palha Italiana) ...”Que com as meninas eu ainda procuro assim, amenizar mais a coisa, mas com ele coitado, vai tudo pra cima dele (risos), entendeu, então aí ele já alerta as meninas, ô, sua mãe não esta bem, sua mãe não ta bem. Aí uma telefona, a outra vem cá, aí pronto, aí eu já começo não, todo mundo preocupado, então eu tenho que dá a volta por cima (risos)”... (Palha Italiana) ...” se os meus meninos verem eu lavando aqui fora, chega toma da minha mão e fala: Mãe, se eu pudesse eu batia na senhora (risos) viu? E se senhora escorregar ai, dá mais trabalho pra nós, ai toma a mangueira e lava, outra hora se não puder lavar arranca a mangueira da torneira pra mim não lavar, é gostoso ver essa preocupação com a gente!”...(Quindim) No início, às vezes é difícil aceitar que alguém próximo esteja sofrendo de depressão e a primeira barreira a superar é a de aceitar o problema e os efeitos que a depressão exerce no indivíduo; em seguida, é possível parar de lutar contra esses efeitos, e começar a trabalhar construtiva e positivamente para ajudar quem sofre do problema. Todas as famílias funcionam como um sistema e, dessa forma, um problema enfrentado por um membro irá afetar todos os demais integrantes. Um 123 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ conjunto de expectativas específicas a cada família em especial é fundamental ao funcionamento desse sistema. Assumindo a família como um sistema, fica claro que a experiência de cada um dos seus membros afeta o sistema familiar, dado que o comportamento de cada pessoa afeta e isso é recíproco. Nessa perspectiva a enfermagem deve focalizar interações com os outros subsistemas (profissionais de saúde, parentes, amigos) ao invés de estudar e interagir com a pessoa doente. - Apoio da equipe multidisciplinar Sabe-se de equipes multiprofissionais na Inglaterra, nas quais alguns profissionais enfermeiros especialistas, e que trabalham em centros de diabetes, dividem com o médico, as responsabilidades do tratamento (MALERBI, 1992), desenvolvendo atividades de apoio, inclusive no ajuste terapêutico. No Brasil, há propostas de seguimento das mesmas condutas realizadas na Inglaterra e EUA, através do Programa Nacional de Doenças Crônico-Degenerativas do Ministério da Saúde (MALERBI, 1992) e atualmente multiplicado pelo Programa Harvard/ Joslin e Sociedade Brasileira de Diabetes – Educação em Diabetes no Brasil. Sua divulgação e multiplicação inicial foram feitas através de Cursos de Formação de Educadores em Diabetes, no qual reuniram-se representantes da grande maioria dos Estados do Brasil, em São Paulo, no ano de 1997 e posteriormente, está sendo disseminado pelas diversas regiões da nação brasileira. Sobre essa questão são muito oportunas as afirmativas de Almeida et al (1995), ao realizarem uma avaliação dos conhecimentos teóricos dos diabéticos de um programa interdisciplinar. Os autores salientaram que “embora a equipe acredite 124 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ que a aquisição do conhecimento não é garantia de aplicação dos mesmos na vida diária, a mudança dos hábitos de vida requer tempo, conscientização e aceitação da doença”. Se a pessoa com diabetes ou depressão não assumir com autenticidade sua condição, possivelmente ela se colocará numa situação de risco pelas complicações, até mesmo através da falência de múltiplos órgãos, decorrentes da falta de um cuidado que poderia ser suprido pela ação educativa. Lembrando que nenhuma ação educativa é passiva, pois sempre gera reação, a pessoa com diabetes, inicialmente e até mesmo depois de um período de convivência com a doença e com o educador enfermeiro, ainda terá dúvidas, ressentimentos, dificuldades e conflitos. É isto, no entanto, o que provocará a mudança, pois não há transformação apenas interna (introspectiva), mas através dos comportamentos. A enfermagem, como área que integra as ciências da saúde, tem o compromisso de auxiliar na transformação dessa situação, buscando mobilizar pessoas, inspirando reflexões acerca da prática cotidiana, a fim de, segundo Passos (1995), aplicar o que o código de ética profissional tenta conseguir, ou seja, uma ética reflexiva considerando os valores históricos, baseados nas condições materiais de existência das pessoas. As abordagens psicológicas enfocam o desenvolvimento do problema e as estratégias de enfrentamento e/ou idéias que lhe possibilitem lidar com situações estressantes. Os tratamentos psicológicos também analisam questões interpessoais que possam estar contribuindo para a depressão. Há vários tipos diferentes de psicoterapia disponíveis e cada uma trabalha com um conceito diferente de depressão e adota variados estilos de intervenção. Encontramos a terapia behaviorista que analisa como o indivíduo estrutura as atividades diárias de modo a 125 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ se fortalecer com o que faz. O papel da pessoa na terapia é ativo, pois ela aprende com as outras. A terapia cognitiva (bahaviorista) abrange técnicas comportamentais como a automonitoração entendendo o papel que as cognições desempenham na definição dos sentimentos. A terapia assertiva consiste em dominar técnicas de comunicação e auto-expressão; ensina a pessoa a como se conscientizar do que quer numa situação e expressar seus sentimentos e necessidades de modo mais direto. Muitas vezes, a ansiedade atua como uma barreira à assertividade e são ensinadas estratégias para reduzi-la. A psicoterapia psicanalítica enfatiza os processos inconscientes da mente, explora conflitos, sentimentos e fantasias associadas à primeira infância e outras experiências. A terapia geralmente é conduzida por vários anos com sessões pelo menos uma vez por semana. Temos ainda a terapia conjugal e familiar que considera os efeitos da depressão nos demais membros da família e analisa padrões de relacionamento. Além de terapia individual, existem programas de grupo para tratar a depressão, discutir seus sentimentos e preocupações com terceiros pode ser uma experiência valiosa. As diversas modalidades de terapia disponíveis são de suma importância, e sua compreensão pelo profissional enfermeiro que trabalha no seu cotidiano com a população acometida pelo diabetes, tem condições de realizar muitas dessas atividades, após treinamento específico. Na área da enfermagem ainda é incipiente o desenvolvimento de ações autônomas. Gostaria de salientar a importância imprescindível da atuação do profissional enfermeiro nestes programas educativos e preventivos, não apenas nas atividades de reajuste terapêutico (ajuste de dose). Atualmente a abordagem do enfermeiro restringe-se às ações educativas durante seu exercício profissional na conscientização dos cuidados intrínsecos da pessoa 126 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ com a enfermidade, no desenvolvimento de habilidades e destreza psicomotora para a prática da aplicação da insulina, entre muitas outras atividades essenciais. A utilização de programas psicoeducacionais para pacientes com DM, associado ou não a outras formas de tratamento, também pode levar a uma melhora da sintomatologia depressiva. Conflitos, controvérsias, condições sociais adversas, internalização da doença, depressão e perda do senso de auto-estima e supercompensação são situações vividas pela clientela em apreço, interferem negativamente nas respostas às atividades educativas. Este fato intervirá e interagirá de forma preventiva/educativa, assumindo junto ao grupo, papel relevante na conquista das metas educacionais. A importância deste apoio multiprofissional é percebida nas falas de alguns colaboradores a seguir. ...”Eu não sinto esse apoio, em casa não, porém com a psicóloga sim... Ah, ultimamente tenho sido ouvido pela psicóloga, e transmitir, esclarecido esses problemas para ela e ela dando suas opiniões, tem sido força para mim”....(Churros) ...”Depois que comecei a freqüentar este programa minha vida mudou, só não venho mais porque o marido reclama...” (Moranguinho) ...”Sei que não tenho uma voz boa, mas adoro cantar neste coral...” (Churros) ...”Gosto mesmo é da aula de trabalhos manuais”... (Quindim) ...”a gente se sente importante quando conversa com você que é tão atenciosa”... (Torrone) ....”Quando tem essas brincadeiras aqui a gente volta até mais leve para casa... “ (Brigadeiro) ...”adoro fazer receitas diet novas na aula de culinária especial para nós diabéticos que o programa oferece”...(Amor em pedaços) 127 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ....”minha vida só tomou rumo, conseguindo superar as dificuldades da depressão e da viuvez depois que comecei a freqüentar este programa, agora já faço até exposição em feira livre dos meus trabalho manuais, pode?”... (Olho de sogra) Com relação ao apoio psicoterapêutico vê-se que terapia cognitivocomportamental (TCC) associada a um programa psicoeducacional para pacientes diabéticos mostrou-se uma abordagem terapêutica eficaz (LUSTMAN, 1998). A TCC baseia-se em estratégias comportamentais para re-envolver pacientes em atividades físicas e sociais agradáveis; treino em solução de problemas para resolver situações “estressantes” e, tem técnicas cognitivas para identificar padrões de pensamento distorcidos e mal adaptativos e substituí-los por crenças mais acuradas, adaptativas e úteis. Assim esse tipo de tratamento pode, a longo prazo, levar a alterações significativas no controle metabólico do diabético depressivo. Ao contrário dos psiquiatras, os psicólogos e enfermeiros não estão qualificados a prescrever medicamentos, de modo que tradicionalmente sua ênfase de ação reside nas estratégias de enfrentamento. A psicoterapia não tem apenas a função de remover os sinais e sintomas depressivos, restabelecer o desempenho ocupacional e social do indivíduo, sendo também sua função promover o estabelecimento de uma percepção mais coerente e menos distorcida do seu mundo interno e da sua realidade externa. A psicoterapia não se limita aos sintomas de depressão, mas também procura enfatizar e tratar as angústias e o conflito interno, causadores da síndrome depressiva (GUARIENTE, 2000). Abordando e tratando as angústias e os conflitos internos originais pertinentes à crise psicopatológica, os sintomas específicos tendem a diminuir e a desaparecer. 128 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ Segundo Guariente (2000), para que a psicoterapia tenha sucesso é necessário chegar aos conflitos originais de depressão e, esse trabalho é uma tarefa difícil. O paciente chega ao consultório mostrando, falando e queixando-se de seu estado - são os sintomas e sinais psíquicos, somáticos e sociais, comunicados por diversas linguagens. Por fim, melhorar depende do paciente, porque ele pode controlar o que pensa e, portanto, como se sente. Ao mudar o padrão de suas convicções, é possível obter maior controle sobre sua vida; é uma experiência estimulante perceber que se tem o poder de mudar o próprio destino e isso pode dar a oportunidade e a esperança de novos horizontes e uma filosofia de vida mais adaptável. - Apoio medicamentoso A terapia medicamentosa tem com objetivo a redução e, se possível, remoção de todos os sintomas e sinais da síndrome depressiva e ainda, a restauração do desempenho ocupacional e psicossocial. Geralmente, a terapêutica medicamentosa fica a cargo do médico psiquiatra, cuja função é a de diagnosticar, medicar e acompanhar o desenvolvimento dos sinais e sintomas depressivos desde a fase aguda até a estabilização do tratamento. A farmacologia da depressão é centrada na medicação de antidepressivos que intercedem na transmissão de um estímulo nervoso de um neurônio para o outro neurotransmissor. Caso seja necessário, os antidepressivos podem ser associados a outras drogas, sempre a critério do médico responsável. Há 129 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ situações dentro de um quadro depressivo, exigindo do paciente fazer uso de medicamento como os quadros profundos de depressão ou mesmo uma depressão endógena (de origem biológica). A ação dos medicamentos ocorre através de transmissão sinóptica que podem acontecer de duas formas: elétrica em que a fenda sinóptica é muito menor, os estímulos nervosos são transmitidos por neurotransmissores através de íons e ainda de forma química (descoberto por Otto Lowei em 1921) quando os estímulos nervosos são transmitidos por neurotransmissores em que as substâncias são armazenadas em vesículas e liberadas para a transmissão (GRALFF, 1997). O sucesso terapêutico só pode ser apropriado após uma ou duas semanas de tratamento. Se fracassar, o médico responsável, após ser informado, deverá rever o diagnóstico, a posologia, hábitos alimentares como o consumo de psicoestimulantes, como o café - muito usado pelos pacientes estudados. Nestas falas os colaboradores demonstram o preconceito e resistência em aceitar os recursos medicamentosos como ajuda no tratamento da depressão. ...”Poxa, um comprimidinho desse vai tirar as coisas que não dão prazer, num vai não! Aí eu comecei a reagir por mim mesma...Hoje eu consigo reagir, sem medicamento. (falou com voz firme)...É, eu reajo a tempo pra não depender do remédio”... (Palha Italiana) ...“O médico receitou o antidepressivo e marcou tempo para voltar, mas nisso, só com antidepressivo, aí eu vim pra casa e tal, tomei o antidepressivo e (pausa) não dormia, olha, no final eu já estava partindo para não alimentar, eu já estava deixando de comer (falou baixinho) olha para você ver, em que situação que eu já estava, já não queria comer, num tinha comida que me atraía comer ou não comer era a mesma coisa e eu já não conversava com ninguém, eu não queria ver e nem conversar.”.... (Amor em pedaços) ...”Não sei. Rezo, tomo calmante, depois eu controlo...” (Torrone) 130 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ...”Esse ai, é pra moderador de apetite e calmante também. Eu estou sentindo melhora com ele, tanto no apetite, como também assim, menos nervoso...” (Torrone) È muito importante que os familiares e a equipe multiprofissional estejam atentos à resistência em aceitar a terapia medicamentosa, já que a motivação para o tratamento é essencial e uma interrupção precoce ou a redução das doses, sem o consentimento médico, resultam em fracasso no tratamento. As melhoras registramse, em geral após 2 a 3 semanas de tratamento contínuo. Em casos mais complicados, quando não há apoio ou quando é detectada gravidade da depressão, será necessário internamento hospitalar. Todo tratamento ansiolíticos é transitório, exceto em situações especiais e, por isso, devemos orientar o paciente a não fazer interrupções brutais, exceto se o uso for inferior a duas semanas. Os antidepressivos são medicamentos que ajudam a restaurar o equilíbrio químico no cérebro, melhorando gradualmente a depressão. O médico vai usar informações sobre seus sintomas, saúde física, histórico familiar e resposta anterior a medicamentos para escolher o antidepressivo certo para o paciente. È ainda importante saber que os antidepressivos não são a cura, e que a depressão tende a ocorrer novamente. É vital não parar de tomar o medicamento se os sintomas aparentemente melhorarem rapidamente, nem se não melhorarem. Os antidepressivos devem ser tomados de acordo com a orientação médica para que funcionem corretamente e para evitar que a depressão retorne. Os primeiros antidepressivos amplamente usados foram os tricíclicos, muito eficazes, mas causam efeitos colaterais porque afetam substâncias químicas do cérebro não relacionadas com a depressão. Entre esses efeitos estão a boca seca, constipação, visão embaçada, pressão arterial baixa, sonolência diurna e 131 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ ganho de peso. Os triciclicos também são perigosos em caso de dosagem excessiva. Desde 1989, vários novos antidepressivos foram desenvolvidos, com o objetivo de afetar somente a serotonina, uma substância química do cérebro. São mais seguros e mais bem tolerados do que os triciclicos e raramente causam aumento de peso. O mais popular desses novos antidepressivos é composto por cloridrato de fluoxetina. Esses novos medicamentos também têm possíveis efeitos colaterais como insônia, náusea, nervosismo e agitação e, como a maior parte dos deprimidos tem dificuldade de dormir, esses efeitos colaterais podem incomodar. Infelizmente, nem todas as pessoas com depressão reagem ou toleram bem os antidepressivos existentes (CORDIOLI, 2000). Entretanto, tem havido muitos avanços na pesquisa sobre a serotonina, nos últimos anos e vários novos antidepressivos têm trazido novas esperanças aos pacientes, já que com uma dessas drogas recentemente comercializadas, eles possivelmente sofrerão menos com os transtornos mentais. Embora existam há várias décadas, pode-se dizer que desde os anos 80 seu uso foi assimilado por todos os médicos, sendo tantas as indicações dos antidepressivos, que praticamente todos os médicos de qualquer especialidade já os receitaram, em alguma ocasião. Foi por causa de seu desenvolvimento, das descobertas dos mecanismos de ação dos medicamentos no cérebro, da compreensão do funcionamento dos neurônios e, portanto, das doenças da neuroquímica cerebral, que esta década chamou-se a década do cérebro. O tratamento da depressão nas pessoas com diabetes, apesar de não ser de cunho curativo, quando realizado com responsabilização e comprometimento de 132 Desvelando a depressão nos diabéticos ____________________________________________________________________________ todos os envolvidos no mesmo, tende a manter uma melhor condição para a vida dessas pessoas. O paciente é acometido por várias alterações no decorrer do processo de doença, as opções de tratamento trazem mudanças dolorosas, sofridas, angustiantes, necessitando de suporte formal e informal, além das dificuldades encontradas no cotidiano. A enfermagem deve atuar na assistência destas pessoas e no seu processo educativo junto à família, já que o resgate da pessoa diabética depressiva como cidadã deve ser trabalhada em equipe interdisciplinar, oferecendo a ela condições para se autocuidar e viver com dignidade na sociedade. CA PÍTU LO 5 Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem 134 ____________________________________________________________________________ R eflexões e im plicações do estudo para a enferm agem D e tudo ficaram três coisas: A certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da queda um passo de dança, do medo, a escada; do sonho, uma ponte; da procura, um encontro. F ernando Pessoa, A palavra história vem do grego ISTWR, histos - que sabe; o que será que as histórias sabem? No momento em que um contador conta uma história, esta mesma história conta algo da verdade do contador. Mas, como se pode contar algo da verdade se histórias são ficções? E o que é uma ficção senão simulação, imaginário, fantasia, invenção, criação? Enfim, ficção é simulacro, é fantasma ou fantasia e seus conteúdos provêm do inconsciente, nas suas mais diversas formações; sonhos, lapsos, atos falhos, esquecimentos, etc. Nos últimos anos, os estudos sobre depressão têm aumentado e suas conclusões apontam para a geração de três hipóteses, sendo a primeira a intensidade e competência dos regimes de tratamento repetitivos sobrecarregando os pacientes e fazendo parte de sua vida diária; a duração da DM proporcionando estresse permanentemente e ainda o número de complicações da doença que aumentam com o tempo e afetam a qualidade de vida do indivíduo. Lembramos que o DM e a depressão são partes de um conjunto de desordens metabólicas comuns, podendo estar associadas entre si envolvendo vários fatores da vida cotidiana. O DM está associado a um aumento de sintomas depressivos e de depressão clínica e sabe-se que a influência dessa associação abrange desde o Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem 135 ____________________________________________________________________________ impacto direto no controle metabólico até aspectos adaptativos, educacionais e socioeconômicos. É difícil o estabelecimento de uma relação causal entre os sintomas depressivos, o controle glicêmico e as complicações do DM. O que parece existir é uma relação cíclica, na qual o agravamento de um tem efeitos diretos, e também indiretos sobre o outro. Os indivíduos têm características orgânicas e históricas próprias que servem referencial para o sentido da vida e, ao receberem o diagnóstico de diabetes é como se a vida interrompesse seus projetos, desejos e expectativas, passando o indivíduo a sentir-se desprotegido, dependente e a vivenciar modificações na sua vida que repercutem em sentimentos de desespero, raiva, culpa, insegurança e o medo das complicações e até da morte. Entretanto, passado o período de negação ele aceita a nova condição e continua seu percurso referindo-se a problemas de toda ordem e considerando que a vida é permeada por dor e prazer, felicidade e sofrimento, esperança e desespero e o sentido desses valores podem ser encontrados em cada situação e tempo variados de suas vidas. É necessário distinguir a depressão como uma resposta normal ao estresse intermitente que dura poucas horas ou possivelmente um ou dois dias, da depressão doença, estado prolongado de desânimo caracterizado por vários sintomas afetivos e somáticos. A história de cada um dos colaboradores é uma interpretação de suas experiências em busca de significados para compreender como os diabéticos têm convivido com a depressão, suas idéias e condutas, o que significa assumir que não operamos como informantes, mas também como intérpretes. Esta interpretação nos coloca diante de uma verdade, a de que o outro é uma realidade falada e subjetiva agindo em nossos pensamentos. O ato subjetivo do Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem 136 ____________________________________________________________________________ oralista, em tentar compreender o sentido dos acontecimentos re-contados, envolve capturar a experiência pessoal dos outros, num esforço contínuo para formar uma interpretação e compreensão de um fenômeno particular. A presença do passado no presente imediato das pessoas revela-nos os significados que são atribuídos às experiências e como elas são re-construídas a partir das convenções culturais. A vida re-contada nada mais é do que o principal modo de buscar o sentido da experiência vivida e que foi compartilhada com os outros. As histórias temáticas contadas pelos colaboradores trazem consigo o universal particularizado por cada sujeito que as contou e escutou. Um contar e um escutar marcados pelas experiências subjetivas. Percebi que os pacientes diabéticos deprimidos pouco respondem aos programas destinados a mudar os hábitos não saudáveis, e que o tratamento paralelo da depressão pode ser importante para o sucesso nestas intervenções no estilo de vida. Além da depressão outras mudanças psicológicas acompanham o passar dos anos e também poderiam contribuir para uma menor adesão ao tratamento e mau controle metabólico. Quem conta uma história sempre conta de si, quem a ouve nela se reconhece, já que quando contamos uma história estamos falando de nós mesmos. Além disso, as histórias universalizam o dilema humano para o paciente, amenizando sua solidão frente ao desamparo, ao mesmo tempo em que fazem compreender que é mesmo só que ele terá que fazer suas escolhas. Os conhecimentos e questionamentos são transmitidos através de gerações em forma de histórias que retratam experiências de vidas. Experiências estas que partem do universal, mas precisam ser particularizadas, singularizadas, subjetivadas. Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem 137 ____________________________________________________________________________ Na enfermagem atual, influenciada pelo referencial das relações humanas, o enfoque deixa de ser apenas o físico/biológico da doença, passando a considerar a pessoa num contexto de relações do paciente, relações, nas quais o enfermeiro estaria explorando o seu “ser” profissional como instrumento de assistência. A humanização do cuidar faz-se necessária. Conhecer o paciente, identificando suas necessidades é tarefa imprescindível para a enfermagem e demais profissionais da área da saúde. A enfermagem psiquiátrica e a assistência de enfermagem à saúde mental dos indivíduos não devem existir como algo separado da enfermagem em geral e vice-versa. A interação na relação enfermeiro e pessoa com diabetes contribuem para o processo de adaptação, uma vez que auxilia na promoção de respostas adaptativas, servindo desta forma como base para direcionar as ações de enfermagem. As ações de enfermagem junto às pessoas diabéticas com depressão merecem reflexões profundas, discussões e amadurecimento por parte dos profissionais enfermeiros, uma vez que o cuidar holístico é busca incessante do saber próprio da enfermagem. As orientações fornecidas num processo educativo sejam individuais ou em grupo auxiliam na compreensão da realidade, sendo essenciais para que o educando, no caso a pessoa com diabetes, consiga vencer suas resistências e reconstrua valores, e este processo leva tempo. A enfermagem realmente é efetiva nas relações interpessoais, através do processo interativo. Acentuo esta característica do profissional enfermeiro para explicar que se realiza uma interação com a pessoa diabética depressiva, uma vez que valoriza as opiniões, pontos-de-vista, através da comunicação. Ele é o elo de interligação entre os diversos profissionais, pois é o profissional que mais realiza o intercâmbio entre pessoa com diabetes e os demais profissionais, a fim de complementar suas Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem 138 ____________________________________________________________________________ necessidades para a promoção da saúde. Dessa forma, além de encaminhar as pessoas aos demais profissionais (nutrição, endocrinologia, dermatologia, urologia, oftalmologia, ginecologia e outros) reforça os cuidados que são realizados de modo integrado. Por isso, acredito que a partir do despertar da consciência, as pessoas não cumprirão mais determinações sem questioná-las, sendo essencial que este fato ocorra para que se vençam as resistências, a fim de consolidar as mudanças. Para que as pessoas com diabetes e com manifestações depressivas venham a aderir às condutas indispensáveis para o controle da enfermidade, o processo educativo deve ser pautado nas reais necessidades das pessoas, sendo necessário que se estabeleça uma interação entre os profissionais e a pessoa, a fim de promover um bem-estar físico, psicológico, social e espiritual. À medida que os profissionais de enfermagem incorporem na práxis a condição multifacetada das pessoas com diabetes e que percebam o significado da depressão valorizando sua cultura, singularidade, seu contexto social, possibilitarão uma vida com melhor qualidade a estes seres humanos. Diante das ações propostas e desenvolvidas pelo profissional enfermeiro tive autonomia para a avaliação, conduta terapêutica e elaboração do plano de cuidados. Vejo isto como relevante, pois ocorreu intercâmbio de informações entre os membros da equipe multiprofissional para efetivação e reconhecimento deste trabalho. Devemos colaborar com os pacientes assistidos no sentido de que eles reconheçam que é sua responsabilidade procurar tratamento quando necessário e que quanto mais tempo adiarem essa decisão, mais difícil será para quebrar os hábitos associados à depressão, que existem abordagens psicológicas e biológicas ao tratamento da depressão, além de alternativas de tratamento totalmente viáveis e adequadas a todos. Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem 139 ____________________________________________________________________________ O compromisso da enfermagem é com a vida, ou seja, com a qualidade de vida cotidiana do indivíduo em sofrimento psíquico sob nossos cuidados, independentemente da gravidade diagnosticada de cada caso e do tempo que ele dispõe. Percebi que nossos colaboradores tinham muitas limitações, poucas alternativas ou opções de sair da posição cômoda que adquiriram com o passar do tempo, mas que estão sendo perseverantes no que conseguiram apreender apesar do medo de mudanças. Todos procuraram demonstrar em suas falas, cheias de otimismo e esperança, fazendo-nos crer que programas deste tipo proporcionam alternativas terapêuticas apesar dos percalços encontrados. No momento oportuno, quando não se observavam opções ou saídas houve o investimento neste programa com a intervenção do profissional enfermeiro que transformou toda esta realidade. É com muita alegria e orgulho que presenciei estes colaboradores inteiramente adaptados, menos depressivos e o mais importante, independentes, receptivos e saudosos das contribuições carinhosas recebidas por mim, enquanto juntos. Espero ter contribuído para a melhora da qualidade de vida destas pessoas e também para o crescimento profissional de outros profissionais de saúde. Acredito que o mais importante de tudo que foi apreendido neste estudo é a maior contribuição para a enfermagem, fato constatado nas percepções de Rogers (1997) que afirma serem os profissionais enfermeiros capazes de fazer a diferença. Reflexões e implicações do estudo para a enfermagem 140 ____________________________________________________________________________ M ensagem Final A ndo devagar porque já tive pressa E levo este sorriso porque já chorei dem ais. H oje m e sinto m ais forte, m ais feliz quem sabe Só levo a certeza de que pouco sei, eu nada sei. Conhecer as m anhas e as m anhãs e as m anhãs, O sabor das m assas e das m açãs, É preciso am or para poder pulsar, É preciso paz para poder sorrir, É preciso chuva para florir. Penso que cum prir a vida seja sim plesm ente Com preender a m archa e ir tocando em frente. Com o um velho boiadeiro levando a boiada E u vou tocando os dias pela longa estrada eu vou, E strada eu sou... ...Todo m undo am a um dia, todo m undo chora U m dia a gente chega e no outro vai em bora. Cada um de nós com põe a sua história Cada ser em si carrega o dom de ser capaz E ser feliz... A lm ir Sather R eferências B ibliográficas 142 Referências Bibliográficas _______________________________________________________________________ A depressão é uma doença que se trata. Disponível em <http:// adm.pt/depressão.trata depressão e uma doença que. htm. Acesso em 24 de junho de 2004. ALBERTI, V. Manual de História oral. 2ªed. Rio de Janeiro. Editora Fundação Getúlio Vargas.2004.236 p. ALCÂNTARA, S. M. 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Prezado Dr, Sou aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e estou desenvolvendo um trabalho de pesquisa para obtenção de título de Mestre em Enfermagem. Este estudo será realizado dentro de uma abordagem qualitativa, tendo como título provisório: “Depressão no portador de Diabetes Mellitus: O Inimigo Oculto”. Os participantes desta pesquisa serão os portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 que usam insulina na faixa etária de 40 a 70 anos do programa “Conviver com o Diabetes” do Serviço de Medicina Preventiva da Unimed Governador Valadares, escolhidos independente de sexo, raça e cor. As informações obtidas serão utilizadas para estudo e os participantes terão garantido o anonimato, sigilo do que informarem, assim como o atendimento à resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Diante do exposto venho solicitar, pela presente, sua autorização para realizar a pesquisa a que me proponho. Agradecendo sua colaboração, solicito ainda o seu de acordo neste documento. Atenciosamente, Marta Pereira Coelho Ilmo.DR.José do Carmo Filho Presidente Unimed GV. Anexos 158 _______________________________________________________________________ Anexo 2 Termo de Consentimento Informado Título do trabalho: “Depressão no portador de Diabetes Mellitus: Inimigo Oculto” Autora: Marta Pereira Coelho (aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenadora e professora do Curso de Enfermagem da Univale). Sumário do projeto: O estudo consta de uma pesquisa qualitativa com pressuposto da história oral, com vistas à obtenção do título de mestre em enfermagem. Tem como objetivo compreender a depressão velada no portador de Diabetes Mellitus. A população de estudo será constituída pelos pacientes que participam do programa de Medicina Preventiva da Unimed “Conviver com o Diabetes”. A coleta de dados será feita por meio de entrevistas que serão realizadas na sede da Unimed e se, necessário no domicílio desses pacientes. Será mantido o anonimato dos participantes, com a utilização de nomes fictícios, em todas as etapas do estudo. A participação no estudo não se reverterá em benefícios pessoais aos participantes, mas em muito contribuirá na ampliação do conhecimento sobre a experiência vivenciada pelo portador de diabetes. Anexos 159 _______________________________________________________________________ Termo de consentimento Informado Concordo em participar deste estudo e declaro ter recebido as informações necessárias sobre o estudo, seus objetivos e que estes foram compreendidos por mim. Fui informado (a) que tenho direito de interromper minha participação no projeto, a qualquer momento, sem prejuízo para a assistência do meu tratamento/acompanhamento neste serviço. Se persistir alguma dúvida a respeito dos meus direitos como participante desta pesquisa, poderei contactar o Comitê de Ética em pesquisa (COEP/UFMG) no telefone: (31)-3499-4592, em Belo Horizonte ou com a pesquisadora nos telefones: (33)32753870 ou (33)99896284 (celular). Local---------------------------------------Data:- -- /--- /---. Assinatura do participante Assinatura da pesquisadora Anexos 160 _______________________________________________________________________ Anexo 3 ROTEIRO PARA A ENTREVISTA Iniciais do diabético: ___________________________ Nº questionário ______________ Data da entrevista: _____/_____/_____ Início: _____________ Termino: _______________ Entrevistador: ________________________ Observação: ____________________________________________________ I – Caracterização e perfil social do diabético: Religião: ______________ Antecedentes familiares:______________ 1. Idade: ______ anos _____/_____/____ 2. Sexo (1) Masculino 3. Raça: (1) Branca (2) Negra (3) Amarelo-Branca (4) Amarela/Negra Data de nascimento: (2) Feminino (5) Branco-Negra (6) Amarela (7) Índio ( 8 ) _____________________ 4. Local de Residência Atual: (1) Urbana (2) Rural Bairro: _________ 5. Tipo de Moradia: (1) Casa (2) Apartamento (3) Instituição (4) Outro: _______________ 6. Mora em casa: (1) Própria (2) Alugada (3) Financiada ( 4 ) Casa cedida ( 5 ) Outros ______________ 7. Números de cômodos da casa: _______________ 8. Números de banheiros da casa: _______________ 9. Estado civil: (1) Solteiro (2) Casado (3) Viúvo (4) Separado (5) Outros ______________ 10. Números de filhos vivos: ________________ 11. Escolaridade: ( 1 ) Analfabeto ( 2 ) Sabe ler/escrever ou grupo incompleto ( primário) Anexos 161 _______________________________________________________________________ ( 3 ) Grupo completo ( 1ª à 4ª série completos) ( 4 ) Ginásio incompleto ( 5ª à 8ª série incompletos) ( 5 ) Ginásio completo ( 5ª à 8ª série completos) ( 6 ) Colegial incompleto ( 2º grau incompleto) ( 7 ) Colegial completo ( 2º grau completo) ( 8 ) Curso superior incompleto ( 3º grau incompleto) ( 9 ) Curso superior completo ( 3º grau completo) (10) Pós graduação: Qual :__________________________________________ 12. Tem trabalho remunerado atualmente? ( 1 ) Sim, exercendo atividade ( 2 ) Sim, também aposentado ( 3 ) Sim, afastado ( 4 ) Não, só pensionista ( 5 ) Não, só aposentado ( 6 ) Não, só dona de casa ( 7) Outra profissão. Qual: ________________________________ 13. Profissão: __________________________________________ 14. Renda salarial familiar: ( 1 ) 01 salário mínimo ( 2 ) 02 a 04 salários mínimos ( 3 ) 05 a 07 salários mínimos ( 4 ) 08 ou mais salários mínimos ( 5 ) Outro. Qual? __________________ II – Sobre o Diabetes 15. Moradores do mesmo domicílio. Listados conforme grau de parentesco e relação de ajuda para acompanhar o tratamento de diabetes: GRAU DE PARENTESCO SEXO IDADE Anexos 162 _______________________________________________________________________ 16. Alguém mais ajuda? QUEM SEXO IDADE 1234517. Participa de algum grupo/associação de diabéticos? ( Qual: ______________________ ) Sim ( ) Não 18. Há quanto tempo sabe do diagnóstico de diabetes? ___________________ 19. O(a) Senhor(a) no momento tem algum destes problemas? ( 1 ) Pressão alta ( 2 ) Retinopatia ( 3 ) Periodontite ( 4 ) Depressão ( 5 ) Nefropatia ( 6 ) Tabagismo ( 7 ) Alcoolismo ( 8 ) Dificuldade para dormir ( 9 ) Obesidade (10) Impotência (11) Outros: ____________________________________ 20. Recebeu algum tipo de orientação sobre a diabetes? ( ) Sim ( ) Não Quem: ___________________________________ 21. Hábitos alimentares: ( 1 ) Quantas refeições por dia: _____________________________ ( 2 ) Tipo de alimentação: __________________________________ ( 3 ) Horários das alimentações: _____________________________ 22. Hábitos de atividades físicas____________________________________ 23. Faz hemodiálise? ( 1) Sim ( 2 ) Não Há quanto tempo: ____________ Anexos 163 _______________________________________________________________________ 24. Fez angiofluorescênciografia? ( 1) Sim 25. Já fez cateterismo? ( 1) Sim 26. Ponte Safena? ( 1) Sim ( 2 ) Não Quantas vezes: _____ ( 2 ) Não ( 2 ) Não 27. Periodicidade das consultas médicas? ( 1) Mensais ( 2 ) Bimensais ( 3 ) 6 em 6 meses ( 4 ) 1 vez por ano ( 5 ) Outros: _____________________________ III – Atividades relacionadas às despesas 28. Início do uso de insulina: _______________________________________ 29. Profissional que orientou sobre DM? ( 1 ) Médico ( 2 ) Enfermeiro ( 3 ) Outros __________________ 30. Quem aplica a insulina? ( 1 ) Próprio diabético ( 2 ) Familiares 31. Quantas vezes toma insulina por dia: ( 1 ) 1 vez ( 2 ) 2 vezes ( 3 ) 3 vezes 32. Qual tipo de insulina usa? ( 1 ) Regular ( 2 ) NPH ( 3 ) Outros: ______________ ( 4 ) 4 vezes ( 3 ) Outros: ____ ( 3 ) Outros: _________________________ 33. Tem dificuldades em usar a insulina? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Qual (is): ________________________ 34. Quem fornece a insulina? ( 1 ) SUS ( 2 ) Próprio paciente ( 3 ) Doações ( 4 ) Outros: ________________________________________________ 35. Diagnóstico médico da depressão: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não 36. Faz uso de antidepressivos? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Quantas vezes:________ Qual:____________ 37. Quem fornece os antidepressivos? ( 1 ) SUS ( 2 ) Próprio paciente ( 3 ) Doações ( 4 ) Outros: _____________________________ Anexos 164 _______________________________________________________________________ 38. Já esteve internado por causa da depressão? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Quantas vezes:______________ 39. Faz acompanhamento psicoterápico? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) Com quem? __________________________ 40. Tem alguma dessas complicações? ( 1 ) Cegueira ( 2 ) Amputação – MMII ( 3 ) Cardiopatia ( 4 ) HAS ( 5 ) AVC ( 6 ) Outros: __________________________________________ IV – Acompanhar como é o ambiente domiciliar do colaborador V – Questões norteadoras: a) O que é depressão para você? b) Em que situação se sente deprimido? c) Como convive com a depressão sendo diabético?