o papel polivalente do professor tutor de ead frente aos novos

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ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE
O PAPEL POLIVALENTE DO PROFESSOR TUTOR DE EAD
FRENTE AOS NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS
Leila Aparecida Corte Volpini Furquim – Universidade Anhanguera - Uniderp - Centro de Educação a Distância
RESUMO: Este artigo teve como objetivo analisar o papel polivalente do professor
tutor que atua na EAD frente aos novos paradigmas do contexto educacional atual.
Para tal verificação, foram analisadas diferentes concepções teóricas e em especial a
dissertação de Furquim (2010). Assim, foi possível compreender a importância do
trabalho desse profissional na formação e motivação dos acadêmicos que optam
pela EAD, visto que a presença ativa do professor tutor nos ambientes virtuais de
aprendizagem colaborativa é algo indispensável. Constatamos similaridades nas falas
dos autores no tocante a necessidade dos tutores de EAD associarem competências
diferenciadas como teoria, didática e técnica no exercício de suas funções. Verificamos
também que esse profissional ainda está construindo uma identidade própria e
conquistando seu espaço como docente, para que, de fato a comunidade acadêmico/
científica compreenda e valorize a relevância do papel polivalente do professor tutor
para a consolidação da qualidade na EAD.
PALAVRAS-CHAVE:
Papel polivalente, Professor Tutor,
EaD, Novos paradigmas.
KEYWORDS:
Multi-functional role, Teacher
mentor, EaD, New paradigms.
ABSTRACT: This article aims to analyze the multi-functional role of the teacher mentor
who acts in front of EAD to new paradigms of the current educational context. To
check this, we analyzed different theoretical concepts and in particular the dissertation
Furquim (2010). Thus it was possible to understand the importance of this professional
training and motivation of students who opt for distance education, since the active
presence of the tutor in virtual environments for collaborative learning is indispensable.
We found similarities in the speeches of the authors regarding the need for tutors of ODL
associate different skills such as theory, technique and teaching in the exercise of their
functions. We also note that these professionals are still building their own identity and
conquering its space as a teacher, so that in fact the academic / scientific understands
and appreciates the important role of comprehensive tutor for the consolidation of
quality in distance education.
Artigo Original
Recebido em: 23/02/2012
Avaliado em: 07/08/2012
Publicado em: 17/04/2014
Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Correspondência
Sistema Anhaguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
[email protected]
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O Papel Polivalente do Professor Tutor de EAD Frente Aos Novos Paradigmas Educacionais
1. INTRODUÇÃO
O processo pedagógico nas instituições públicas e privadas que oferecem cursos na
modalidade a distância no cenário educacional atual é mediado pelos mais modernos recursos
tecnológicos. São muitas as ferramentas que contribuem para a interação e dinamicidade
do processo ensino-aprendizagem e isso obviamente exigiu uma reestruturação geral nos
projetos pedagógicos dessas instituições, bem como mudanças bastante significativas no
tocante ao papel dos diversos profissionais que integram as equipes de trabalho de EAD.
Faria (2002), em sua tese de doutorado, a EAD representa a democratização, pelo
acesso facilitado à educação, tempo e local virtual, para os que trabalham ou moram longe
das escolas/universidades, pois o aluno pode escolher o horário e o local que melhor lhe
aprouver para realizar os estudos. Essa flexibilidade espacial e temporal não prejudica a
realização de outras atividades pessoais e profissionais, permitindo que cada aluno estude
e realize as atividades educativas segundo seu próprio ritmo. Em geral, a EAD dispensa
a impressão de textos, propicia igualdade de oportunidades, facilita o acesso às aulas e
aos conteúdos pedagógicos, evita ausências do trabalho, flexibiliza o tempo disponível e
consegue levar o ensino a regiões pouco acessíveis abrangendo um universo de acadêmicos
que provavelmente não chegaria a cursar o nível superior.
O contexto socioeconômico e o mercado de trabalho estão mudando, exigindo
uma reconceitualização das propostas pedagógicas existentes. Na sociedade da
informação, o conhecimento se tornou uma força econômica muito grande. As redes
de informação e de comunicação vêm se expandindo rapidamente e o profissional,
que quiser manter seu espaço, precisa de constante atualização para acompanhar o
mercado de trabalho. A facilidade de atualização de conhecimentos, em tempo real,
é uma importante vantagem a ser considerada. (FARIA, 2002, p.40)
No contexto em que a sociedade tem a informação como base, podemos constatar que
a evolução tecnológica tem influenciado a cultura educacional no Brasil. As instituições
que implantaram cursos na modalidade à distância têm utilizado ambientes virtuais de
aprendizagem colaborativa através da Internet, teleaulas em tempo real (via satélite),
recursos multimídias, fóruns interativos e outras ferramentas colaborativas.
Entretanto, é possível notar claramente que a utilização das TIC² não supõe a
substituição do professor, mas sim um “repensar” de suas atribuições e do seu papel
mediante as novas demandas educacionais e ao acelerado desenvolvimento tecnológico
onde o conhecimento teórico e a prática pedagógica precisam emergencialmente se
unir ao uso de diferentes estratégias técnicas para realmente propiciar a aprendizagem
significativa na EAD.
²Tecnologias da Informação e da Comunicação
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As instituições que se propuseram a oferecer cursos na modalidade a distância tiveram
que superar desafios quase que imediatos e se adequar rapidamente a grandes reestruturações;
visto que ao invés de salas de aula convencionais os novos modelos propõem ambientes
virtuais de aprendizagem coletiva, onde os alunos podem desenvolver seus potenciais
em espaços interativos e dinâmicos. A flexibilidade da educação a distância viabiliza as
interações assíncronas onde as discussões sobre diferentes temas ajudam a desenvolver o
senso crítico dos estudantes que integram os grupos nos fóruns ou ferramentas semelhantes.
Essa significativa contribuição de chegar a todos e em qualquer lugar é um compromisso
da EAD com a sua universalização, pois uso de modernos recursos tecnológicos permite
superar a própria distância e também o tempo.
Apesar de terem ocorrido muitas transformações e reestruturações nos últimos anos
com relação a EAD e aos profissionais que atuam nessa modalidade de ensino, ainda hoje
quando paramos para refletir sobre o papel do professor tutor nos cursos de EAD nos
deparamos com questões muito polêmicas.
Quais seriam então os diferentes papéis exercidos pelo professor tutor de EAD frente
aos novos paradigmas educacionais? As instituições consideram o tutor como um professor
universitário como os demais integrantes do seu quadro docente? O tutor seria apenas
um motivador para os alunos? Ou seria ele um orientador que atua também como um
mediador de conflitos entre grupos virtuais? Estas e outras questões nortearam este estudo
que teve como foco compreender as reais atribuições cabíveis a esse “teletrabalhador” e
também reconhecer uma identidade própria para esse novo profissional que atua de modo
polivalente na EAD.
A maior parte das instituições públicas e privadas que oferecem cursos a distância
demonstra manter o foco na aprendizagem significativa e conjunta construída através da
realização de diferentes atividades visando facilitar a construção do saber dentro de um
processo mais personalizado de ensino. Este processo implica em repensar sua aplicabilidade,
conhecimentos para utilizar novos recursos e habilidades relacionadas ao tratamento da
educação. O acesso aos diferentes recursos tecnológicos e em especial, aos sistemas que
utilizam como apoio central as salas de aula virtuais, pode propiciar aos alunos novas
formas de construir o conhecimento de modo muito mais prazeroso e dinâmico. Assim,
pensamos que, o uso adequado e ético dessas ferramentas pode promover a construção
de uma efetiva autonomia, mudanças na percepção de mundo, aquisição de novos valores
e principalmente a conscientização sobre as novas formas de atuação social, acadêmica e
profissional no cenário atual.
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2. OS NOVOS PARADIGMAS
Nos últimos tempos o cenário educacional passou por inúmeras e significativas
transformações e, para compreendê-las precisamos refletir um pouco sobre a dicotomia
existente entre os paradigmas tradicionais (conservadores) e os paradigmas emergentes
(modernos). Através da leitura analítica de vários autores que tem contribuído com
suas pesquisas sobre as “mudanças dos paradigmas” vimos que em todas as áreas do
conhecimento ocorreu um choque entre o paradigma conservador e o paradigma emergente
e isso tem se constituído em um núcleo de grandes debates. Esses debates ocasionaram
rupturas conceituais significativas que levaram a comunidade acadêmica a uma nova visão
de mundo.
Para compreender melhor essas rupturas paradigmáticas, primeiramente achamos
importante pesquisar o conceito do termo “paradigma” no âmbito acadêmico e então nos
deparamos com uma interessante concepção do filósofo e historiador KUHN que define a
palavra paradigma da seguinte maneira: realizações científicas, universalmente reconhecidas
que, durante algum tempo fornecem problemas e soluções modelares aos praticantes de
uma ciência (KUHN apud OLIVEIRA 2003, p.23). Kuhn se refere a um “paradigma” como
um conjunto de crenças, valores e técnicas de uma mesma comunidade científica, ou seja,
na visão de Kuhn a ciência sofre uma grande transformação quando paradigma científico
é “destituído”, mas um paradigma ou um conjunto de paradigmas deve, sempre, ser
substituído por outro, conforme for julgado inadequado e insatisfatório.
Continuando nossa pesquisa, nos deparamos com MORAES (1998, p.58), que declara
que: “(...) o grande problema da Educação está no modelo da ciência, que prevalece num
certo momento histórico, nas teorias de aprendizagem que o fundamentam e que influenciam
a prática pedagógica”. Assim, podemos entender que a ciência influencia a educação de
modo realmente paradigmático, porém a educação simultaneamente determina o “modelo”
de ciência existente nos diferentes contextos históricos.
Já Morin (1996) sustenta que a definição de paradigma envolve a noção de “relação
dominadora” que determina o rumo das demais teorias.
(...) comporta um certo número de relações lógicas, bem precisas entre conceitos;
noções básicas que governam todo discurso; (...) relações que podem ser de
conjunção, de disjunção, de inclusão, etc., o que não contradiz a idéia de que, uma
vez constituídas as redes sejam mais importantes. (MORIN, 1996, p.287)
Na interpretação deste autor, esse tipo de relação dominadora possibilita ao paradigma
controlar todos os discursos privilegiando algumas relações e menosprezando outras sem
jamais deixar de controlar sua lógica.
Após analisar o conceito de “paradigma” vamos refletir um pouco sobre essa crise
entre o “Paradigma Conservador (tradicional) X Paradigma Emergente (inovador)”.
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Segundo Santos (1991), foi a partir da revolução científica do século XVI (onde houve
uma ruptura com o pensamento aristotélico-medieval) que se constituiu o modelo de
racionalidade que presidia a Ciência Moderna e este modelo foi desenvolvido pelas ciências
naturais (Física, Biologia, Química e suas derivadas) até o século XVIII.
Somente no século XIX esse modelo de racionalidade passou também a abranger às
Ciências Humanas (Sociologia, Antropologia, História, Psicologia, etc). Para o paradigma
dominante ou conservador “quantificar” era sinônimo de conhecer, ou seja, a matemática era
o principal instrumento do método científico que, de acordo com Santos (1991) tinha como
base a observação, a descrição e a sistematização das informações da Natureza, mediada
pelo crivo da razão e da lógica, usando como instrumento a matemática, pois quantificar se
tornou sinônimo de conhecer. O modelo de conhecimento científico das Ciências Naturais
(ou Exatas) era o único modelo válido de conhecimento.
A crise dos paradigmas na verdade enquadra a EAD (Educação a Distância) como
uma modalidade que se encaixa perfeitamente no paradigma emergente, visto que essa
modalidade faz uso da tecnologia moderna mediada por tutores capacitados e polivalentes
para que os acadêmicos de diferentes níveis e cursos sejam orientados adequadamente para
que possam utilizar de modo efetivo ferramentas dinâmicas e interativas que auxiliarão na
construção colaborativa do aprendizado significativo.
De acordo com nossos estudos, notamos que a EAD (na grande maioria das instituições),
se coloca contra a reprodução mecânica do conhecimento, pois o desenvolvimento das
tecnologias da informação e da comunicação tem favorecido essas transformações no cenário
educacional e com isso o processo ensino-aprendizagem tem se tornado mais participativo,
mediante o uso de ferramentas tecnológicas inovadoras com ferramentas cada vez mais
interativas.
Todas essas transformações nos levam a refletir sobre a importância da mediação
pedagógica do tutor (capacitado e polivalente) nesse novo contexto, visto que é notória
a necessidade emergencial do exercício de uma pedagogia adequada aos novos recursos
tecnológicos e ao novo perfil do aluno que opta pela Educação a distância, ou seja, é
indispensável que o tutor exerça uma prática pedagógica que busque a inserção dos
estudantes em uma nova realidade cultural e tecnológica, na qual o conhecimento não pode
ser visto como algo fragmentado construído individualmente.
Podemos ensinar e aprender com programas que incluam o melhor da educação
presencial com as novas formas de comunicação virtual. Há momentos em que vale
a pena encontrar-nos fisicamente, no começo e no final de um assunto ou de um
curso. Há outros em que aprendemos mais estando cada um no seu espaço habitual,
mas conectados com os demais colegas e professores, para intercâmbio constante,
tornando real o conceito de educação permanente. (MORAN, 2009, p.66)
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Destarte, vimos que para Moran a presença física síncrona de professores e alunos não é
uma necessidade diária para a construção efetiva do conhecimento, pois na concepção deste
autor é bastante viável e interessante a construção da aprendizagem colaborativa através de
um intercâmbio constante entre os envolvidos no processo. De acordo com os outros autores
estudados neste trabalho não há dúvidas com relação a notável relevância e complexidade
do papel do tutor como orientador nos programas de EAD e isso demonstra a necessidade
de um perfil profissional com habilidades e competências quase paradigmáticas, por ser
esperado que o tutor, além de possuir domínio da política educativa da instituição na qual
ele esteja inserido e conhecimento atualizado das disciplinas sob sua responsabilidade,
exerça a mediação pedagógica adequada ao processo educativo.
O estudo aqui proposto analisou a opinião dos autores sobre as atribuições do tutor de
EAD visando compreender a relevância e complexidade dessa nova função dentro do atual
cenário educacional brasileiro. A nova realidade educacional demonstra que as instituições
que se preocupam com a qualidade da educação a distância oferecida têm como objetivo
principal compor uma equipe de mediadores pedagógicos (tutores) competentes que
busquem desenvolver nos alunos a capacidade de investigação interpretativa, qualitativa,
descritiva e subjetiva, com valores explícitos, fundamentados na realidade, para favorecer a
descoberta e a exploração do conhecimento.
Estamos vivendo a era da simultaneidade de desafios bastante complexos na educação
e em meio a esta complexidade multidimensional se consolidou a Educação a Distância
onde o tutor ocupa um papel de extrema relevância e complexidade.
3. O PROFESSOR TUTOR E SEU PAPEL POLIVALENTE NA EAD
Muitos autores que pesquisam as interfaces da EAD afirmam que devemos utilizar o termo
“Educação a distância” ao invés do termo “Ensino a Distância”, pois o primeiro propõe
colocar o aluno como agente central do processo, ou seja, de agente passivo o estudante
passa a ocupar o papel de protagonista.
Após muitas pesquisas e uma profunda análise sobre a nossa prática cotidiana na EAD
pudemos constatar que, o estudante busca constantemente o indispensável apoio do professor
tutor através das diferentes ferramentas tecnológicas a que tem acesso e que este profissional
pode e deve levar os estudantes a interagir, argumentar, questionar, investigar e formular
novos conceitos com base nos estudos realizados durante a disciplina. Assim, vimos que o
professor tutor enquanto mediador pedagógico ocupa um papel de extrema relevância na
EAD, pois é visto como alguém que, ao executar seu papel com empenho e comprometimento
mesmo a distância consegue “se fazer presente” estimulando, instruindo e auxiliando os
acadêmicos em suas diferentes necessidades pertinentes a cada etapa do processo.
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Uma prática competente que dê conta dos desafios da sociedade moderna exige a interrelação e a instrumentalização da tecnologia inovadora, tendo como instrumentos
a rede de informações como suporte à prática docente, porém inovadora no sentido
de interconexão entre os sujeitos produtores de seus conhecimentos. (BEHRENS,
1998, p.61)
Para a autora acima a inserção das tecnologias pode potencializar a ação pedagógica
do tutor e auxiliar muito na produção do conhecimento, porém a mesma enfatiza que a
tecnologia não pode ser encarada como “salvadora” da prática pedagógica, visto que
somente a disponibilização de ferramentas não garante uma boa qualidade na educação.
Essa mediação pedagógica de qualidade realizada pelo professor tutor surge como
algo extremamente necessário para propiciar credibilidade aos cursos e especialmente à
própria Instituição que oferece cursos de EAD, visto que o processo de ensino aprendizagem
a distância requer um espaço interativo confiável, onde a responsabilidade, autonomia e
disciplina sejam itens recíprocos essenciais para a construção de uma identidade positiva
que atraiam outros estudantes fazendo com que ocorra a expansão de contratações de
novos professores tutores por conta do aumento de alunos matriculados que acreditem na
qualidade da EAD.
O programa da Universidade Aberta do Brasil (UAB), por exemplo, foi criado em
2005 permitindo o acesso ao ensino superior público e gratuito em grandes universidades
do nosso país. O surgimento desse programa cuja mantenedora é a renomada CAPES³
polemizou ainda mais as discussões sobre a questão da garantia da qualidade dos cursos
oferecidos a distância, porém esse descrédito pareceu decorrer especialmente da questão
cultural pelo o fato de que a própria sociedade ainda manifesta algum preconceito com
relação a EAD muitas vezes por falta de conhecimento acerca da dinâmica das ferramentas
tecnológicas associadas as estratégias pedagógicas utilizadas nesta modalidade de ensino.
Por conta da rápida expansão da Educação a Distância inicialmente as funções
polivalentes dos professores tutores passaram a ocorrer através de recursos tecnológicos de
última geração e com isso o processo ensino-aprendizagem sofreu grandes transformações
que exigiram reestruturações imediatas nas instituições e uma busca emergencial por
profissionais capacitados que pudessem associar seus conhecimentos teóricos e técnicos
para atender a uma grande demanda de alunos. Foi possível constatar claramente que estes
novos profissionais aqui chamados “Professores tutores de EAD” precisam ter um perfil
diferenciado, pois tiveram primeiramente que deixar para trás o paradigma tradicional
para acreditar que poderiam atuar em ambientes virtuais de aprendizagem colaborativa
utilizando diferentes ferramentas para que os alunos de fato “apreendessem” os conteúdos
com qualidade.
³ Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
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[...] o tutor poderia ser aquele que instiga a participação do aluno evitando a
desistência, o desalento, o desencanto pelo saber. Talvez aquele que possibilita
a construção coletiva e percorre uma trajetória metodológica desobediente,
transgressora de receitas prontas e acabadas e construa de forma participativa com
seus alunos novos saberes, novos olhares sobre o real. (LEAL, 2004, p.2)
Acreditamos que a autora coloca a função do tutor numa perspectiva de construção
de saberes que se articulam no espaço virtual, ocupando uma função que ultrapassa a visão
puramente técnica, transcende a exarcebação da especialidade adquirindo competência
para instrumentalizar a tecnologia. Contudo, enfatiza também que a função do professor
tutor requer uma prática dialógica diferenciada, uma conversação didática criativa capaz
de fomentar o pensamento, a liberdade do pensamento, a fluência de ideias, o confronto de
posições epistemológicas. Em geral, durante todo o processo de ensino, ao menos na maior
parte das instituições que oferecem cursos a distância, a orientação e a mediação ocorrem de
modo assíncrono através de recursos tecnológicos que variam de acordo com cada modelo.
Essa mediação assíncrona exige um profissional capaz de “aprender a aprender”
com competência para fazer da Educação a Distância um espaço de virtualidade criativa,
reflexiva e formativa. “Trabalhar a complexidade do saber fazer educativo, na visão do
aprender a aprender na ótica reflexiva da construção do saber é uma dos grandes desafios
do tutor” (LEAL, 2004, p.3).
Para Leal o tutor é um “educador à distância”, ou seja, alguém capaz de discutir as
estratégias de aprendizagem, suscitar a criação de percursos acadêmicos, problematizar
o conhecimento, estabelecer diálogos com os alunos, mediar problemas decorrentes do
processo, sugerir, instigar e acolher.
“Enfim, um professor no espaço virtual, exercendo a função de formar o aluno” (LEAL,
2004, p.3).
Já para Souza, a relevância e a complexidade do papel do professor tutor nos cursos de
educação a distância demonstram a necessidade de um perfil profissional com habilidades
e competências quase paradigmáticas.
Espera-se que o tutor, além de possuir domínio da política educativa da instituição onde
está inserido e conhecimento atualizado das disciplinas sob sua responsabilidade, exerça
uma sedução pedagógica adequada no processo educativo. No modelo tradicional de
ensino com a presença viva dos professores, o carisma acentuado de alguns, reduz o
desprazer e dificuldades encontradas por alunos menos empolgados na aquisição do
saber. (SOUZA, 2004. p.1)
O autor enfatiza que em qualquer tempo o professor precisa despertar simpatia, inovar
seus métodos de ensino, investir na relação de respeito e confiança, despertar o amor para
com o conteúdo e extrapolar os limites conceituais.
“É o tutor, o tênue fio de ligação entre os extremos do sistema instituição-aluno. O
contato a distância, impõe um aprimoramento e fortalecimento permanente desse elo, sem
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o que, perde-se o foco” (SOUZA, 2004. p.1).
Para ele a relação pedagógica requer uma construção diária, pois o educando precisa
de amparo, condução, encaminhamento. A educação deve ser vista sempre como uma
prática social diretamente relacionada a formação de valores e práticas que possibilitem ao
indivíduo maior autonomia, liberdade e diferenciação.
Até aqui vimos que o consenso entre os autores é que o professor tutor tem como
principal atribuição problematizar o conhecimento e criar estratégias para que o aluno
enxergue o mundo e a si próprio com criticidade, além de procurar garantir sempre a relação
teoria e prática; a investigação do real no desenvolvimento de situações de aprendizagem.
Para os autores Mill e Fidalgo (2007) emerge a necessidade de uma segunda precisão
para caracterizar o docente que atua na educação a distância como um “teletrabalhador”,
ou ainda, um profissional “polidocente”. Na verdade ambos os conceitos são inerentes à
função do tutor virtual, pois estes são caracterizados pelos autores como teletrabalhadores
da educação a distância independente do modelo organizacional da proposta pedagógica
da instituição seja ela pública ou privada. Mill e Fidalgo (2007) dividiram o grupo de tutores
nas seguintes categorias:
* Tutores virtuais, responsáveis pelo acompanhamento pedagógico de um grupo de
alunos e, ou, de um grupo de tutores presenciais, por meio de tecnologias virtuais.
Este trabalhador é especialista na área de conhecimento da disciplina em que
trabalha e está subordinado, em todos os sentidos, ao coordenador desta disciplina.
Etimologicamente, ele é a imagem mais próxima do professor da educação
tradicional.
* Tutores presenciais ou locais, responsáveis pelo acompanhamento de um grupo
de alunos do curso (em todas as disciplinas). Não é, necessariamente, especialista em
nenhuma área de conhecimento (disciplina) do curso e sua função é pouco mais que
assessorar os alunos no contato com o tutor virtual e com a instituição. Por vezes, são
denominados de monitores.
* Técnicos e monitores, responsáveis pela viabilização técnicopedagógica da
comunicação, pela produção de material didático etc. (são animadores, webdesigners,
informatas, digitadores, desenhistas ou um pouco faz-de-tudo). (MILL e FIDALGO,
2007, p.7)
As diferentes atribuições do professor tutor dependem do modelo pedagógico adotado
por cada instituição, porém os autores são unânimes ao afirmar que o empenho desse
profissional é fundamental para o sucesso do processo educacional na EAD. É consenso que
o tutor precisa de habilidades pedagógicas e técnicas diferenciadas, além de autodisciplina
e comprometimento para com o projeto político pedagógico.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, podemos considerar que os novos paradigmas educacionais exigem que
o professor tutor de EAD desenvolva efetivamente habilidades diferenciadas, de ordem
cognitiva, pedagógica, interpessoal e dialógica para que possa oferecer o suporte necessário
aos alunos que optam pela modalidade à distância exercendo com competência didática e
ética a função de mediador no processo educacional.
Silva (2008) no resumo de seu trabalho conclui que:
(...) a discussão sobre o significado do ser tutor está intimamente interligada com
uma perspectiva conceitual de identidade como um “ser em construção”. A sua
inserção pessoal e profissional ocorre num mundo específico e acadêmico, permeado
de expectativas, de sociabilidade, de inter-relações, de sistemas educativos, de
ações e concepções políticas e de projetos pedagógicos. Neste sentido, conforme as
dimensões fenomenológicas evidenciadas, as expectativas quanto ao significado do
ser tutor estão muito fortemente impactatadas por um passado docente, ou seja, por
uma memória de ser professor e por um projeto de vida em docência; é necessário,
portanto, caminhar em busca de uma formação e capacitação especializada que, a
cada dia, torna-se mais complexa, exigindo múltiplas competências nas dimensões
teóricas, metodológicas e tecnológicas. (SILVA, 2008)
Segundo o autor o tutor de EAD exerce um papel bem mais complexo do que o docente
que atua na sala de aula convencional e por isso necessita de uma formação diferenciada
para atender as expectativas do aluno, da instituição e da sociedade como um todo. A
comunicação ativa utilizando as ferramentas disponíveis nos ambientes virtuais precisa ser
eficiente e dinâmica, portanto o domínio tecnológico é primordial, porém para um diálogo
ritmado e formativo na educação a distância as habilidades pedagógicas e humanas do
tutor são instrumentos de inestimável valor.
Em geral, na maioria das instituições o professor tutor orienta o desenvolvimento
de atividades referentes a conteúdos elaborados por um professor conteudista (docente
responsável pela disciplina) que por sua vez tem um conteúdo programático a cumprir e
ambos os profissionais ficam “subordinados” as diretrizes passadas pelo coordenador do
curso. Nos projetos pedagógicos de EAD analisados notamos que o professor tutor não possui
autonomia para flexibilizar conteúdos ou atividades, visto que o mesmo precisa orientar os
alunos a seguirem rigorosamente o roteiro proposto pelo material didático mediacional. Para
atender a demanda institucional positivamente é de extrema importância que o professor
tutor conheça efetivamente o conteúdo programático deste material a fim de adequá-lo às
suas competências e habilidades pedagógicas e técnicas no decorrer do processo.
A partir dos estudos realizados obtivemos subsídios para compreender que o professor
tutor que atua em cursos superiores ainda está conquistando seu espaço no meio acadêmico/
científico e que, gradativamente vem construindo e consolidando sua valiosa identidade
como docente que necessita de habilidades diferenciadas para associar devidamente o
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conhecimento às ferramentas tecnológicas da modernidade. Contudo, constatamos que o
professor tutor realmente é um elemento de fundamental relevância para os acadêmicos
e para a Instituição na qual atua, pois é ele o principal motivador da aprendizagem
significativa, colaborativa e permanente na EAD.
Verificamos também que muitas instituições públicas e privadas que oferecem cursos
na modalidade a distância ainda estão se adequando gradativamente aos novos paradigmas
educacionais e que, frequentemente precisam “aparar arestas” para que possam oferecer aos
alunos e à equipe de profissionais de EAD a estrutura e a qualidade esperada em todos os aspectos.
Pudemos constatar que o papel polivalente do professor tutor frente aos novos
paradigmas está muito além do simples acompanhamento assíncrono nos ambientes
virtuais de aprendizagem colaborativa, visto que esse profissional precisa associar de modo
adequado: conhecimento, estratégias pedagógico-motivacionais, e ainda as diferentes
ferramentas tecnológicas disponibilizadas pela instituição visando assim que o estudante
consiga realmente um bom aproveitamento. Consideramos então, que o professor tutor de
EAD é um agente indispensável ao paradigma educacional emergente, visto que pode e
deve auxiliar efetivamente no desenvolvimento global dos acadêmicos objetivando que,
quando graduados, esses indivíduos conquistem boas oportunidades no mercado de
trabalho onde utilizarão os conhecimentos construídos no decorrer do curso e exercerão na
prática a cidadania crítica e a ética na sociedade em que vivem.
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Anuário da produção acadêmica docente
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