encefalites - Sociedade Portuguesa de Pediatria

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CURSO DE VERÃO DA SPP
ENCEFALITES
16 de Junho de 2013
Sociedade de Emergência e Urgência da SPP
EuSPP
ENCEFALITES
QUANDO SUSPEITAR?
COMO LIDAR COM A SUSPEITA?
•
•
•
Objectivo: discutir a abordagem inicial no SU de doentes com suspeita de encefalite
AGUDA até ao diagnóstico e tratamento iniciais
Tem a ver com as causas mais comuns e não a abordagem por “especialistas na
matéria” de causas mais raras.
Idade > 29 dias
ENCEFALITES
EXISTE UM PROTOCOLO DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIATRIA
(2011)
Autoria:
•
Sociedade de Infecciologia Pediátrica
•
Sociedade Portuguesa de Neuropediatria
CENÁRIO: SERVIÇO DE URGÊNCIAS
UM PEDIATRA ESTÁ DE BANCO E...
É TRAZIDA UMA CRIANÇA E QUEM ACOMPANHA CONTA QUE...
ENCEFALITE: Sindroma neurológica causada por inflamação do parênquima
cerebral
Algumas causas de encefalite respondem a TRATAMENTOS ESPECÍFICOS
ATRASO NO DIAGNÓSTICO PODE SER DEVASTADOR
ENCEFALITES
Diagnóstico estrito: BIÓPSIA CEREBRAL/AUTÓPSIA
Diagnóstico etiológico com metodologias menos invasivas em menos de 50% dos casos
CRITÉRIOS INDIRECTOS:
•
•
•
Apresentação clínica apropriada (disfunção neurológica) embora inespecífica
+
Marcadores inflamatórios do LCR
ou
Alterações da neuroimagem
ALTO ÍNDICE DE SUSPEIÇÃO !
ENCEFALITES
CRITÉRIOS CLÍNICOS DE DIAGNÓSTICO OPERACIONAIS...
(Kolsky, 1998)
•
Encefalopatia ou alteração de estado de consciência
+
(2 ou mais):
•
•
•
•
•
•
Febre
Convulsões
Défices neurológicos focais
Alteração de EEG
Alteração de Neuroimagem
Pleiocitose do LCR
(etiologias infecciosas ou imuno-mediadas)
DA ENCEFALOPATIA À ENCEFALITE
ENCEFALOPATIA – sindroma clínica de alteração do estado de consciência
(redução da consciência ou alteração da cognição, personalidade ou comportamento)
Muitas causas:
infecção sistémica, alterações metabólicas, metabolopatias congénitas, hipóxia,
trauma, vasculite ou infecção do SNC
ENCEFALITES
PARTE DE UM ESPECTRO
•
Meninges (meningoencefalite)
•
Medula (encefalomielite)
•
Raizes espinhais(encefalomieloradiculite)
ISOLADA
•
Cerebelo(cerebelite)
•
Tronco cerebral (romboencefalite)
CLÍNICA
•
•
•
•
Pródromo flu-like seguido de cefaleias, náuseas, vómitos, alteração de consciência.
Convulsões
Subtil :
Sem febre ou febrícula ou ausência de febre prévia:
Alterações de comportamento, discurso ou fala, seguido de quadro óbvio
encefalopático ou convulsão.
Meningoencefalite: febre, cefaleia, meningismo
CLÍNICA
HISTÓRIA
Factores relacionados com o doente
•
Imunodeficiência primária/secundária?
•
Neurodesenvolvimento normal?
Factores relacionados com o agente
•
Doença prodrómica
•
Processo agudo/crónico
Factores ambienciais
•
Estação do ano
•
Agentes patogénios na comunidade (endemia, pandemia)
•
Exposição a animais( arranhadelas, mordidelas, contacto com fezes/urina
•
Exposição ocupacional
•
Viagem recente
•
Vacinações (quando foi a última?)
CLÍNICA
Management of suspected viral encephalitis in children - Association of British Neurologists and
British Paediatric Allergy Immunology and Infection Group National Guidelines
CLÍNICA
Management of suspected viral encephalitis in children - Association of British Neurologists and
British Paediatric Allergy Immunology and Infection Group National Guidelines
CLÍNICA
ELEMENTOS DE OBSERVAÇÃO:
•
•
•
•
Romboencefalite ou encefalite do tronco
alterações da função do tronco cerebral – pares cranianos inferiores
(enterovirus, listeria, BK)
Cerebelite (ataxia) - varicela
Alterações do movimento (gânglios basais - coreia, discinésia) Enc japonesa
Encefalite límbica (alterações de memória, do padrão do sono, alt. psiquiátricas)
– paraneoplásicos, NMDA...
IMPORTANTE:
•
Meningismo
•
Nível de consciência e HIC
•
Convulsões (óbvias/ subtis)
CLÍNICA
Management of suspected viral encephalitis in children - Association of British Neurologists and
British Paediatric Allergy Immunology and Infection Group National Guidelines
CLÍNICA
Management of suspected viral encephalitis in children - Association of British Neurologists and
British Paediatric Allergy Immunology and Infection Group National Guidelines
ENCEFALITES
•
•
PRIMÁRIAS: invasão directa
PARA INFECCIOSAS OU PÓS INFECCIOSAS: associada ou após outra doença
infecciosa ou vacinação, por resposta imunológica
ETIOLOGIA
California Encephalitis Project
Não identificado
63%
Identificado
27%
Virus
69%
Bactérias
20%
Não Infecciosas
8%
Priões
7%
Parasitária
3%
Fungos
1%
HSV 2,5 % *
*noutras séries – 5-22-44 %
Falcheck, Pediatrics in review Vol. 33 No 3 March 2012
ETIOLOGIA
Weingarten L, Pediatric Emergency Care - Volume 29, Number 2, February 2013
ETIOLOGIA
ETIOLOGIA
ETIOLOGIA
ETIOLOGIA
ETIOLOGIA
ABORDAGEM INICIAL
A.
1.
2.
3.
4.
5.
Estabilização clínica
Neuroimagem
PL
Tratamento empírico
EEG
B.
•
•
Laboratório de base
Investigações microbiológicas
ESTABILIZAÇÃO CLÍNICA
•
•
•
ABCD
Estabilização neurológica
Cuidados intensivos e cuidados de especialidade quando indicado
Terapêutica de suporte
1) Monitorização clínica:
•
Frequência cardíaca, respiratória, saturação de oxigénio e tensão arterial
•
Estado de consciência – Escala de Coma de Glasgow
•
Balanço hídrico
•
Vigilância de Hipertensão Intra-craniana (hipertensão arterial, bradicárdia,
polipneia/apneia e anisocória)
2) Controlo das convulsões
•
Diazepam rectal (0.5mg/kg, máx 10mg) ou Diazepam e.v. 0.15mg/Kg
•
Fenitoína – impregnação: 20mg/kg em 20 minutos, seguido de dose de manutenção:
5mg/kg/dia
PROTOCOLO DA SOCIEDADE DE INFECCIOLOGIA PEDIÁTRICA DA SPP E SOCIEDADE PORTUGUESA DE NEUROPEDIATRIA
NEUROIMAGEM
TC CE
TC-CE (se não houver disponibilidade de RM-CE)
•
Exame pouco sensível e pouco específico na encefalite.
•
Útil na exclusão de diagnósticos alternativos (p.e. AVC) e na avaliação pré-punção lombar,
se suspeita de clínica de hipertensão intracraniana
NEUROIMAGEM
RMN
RM-CE
•
É o exame imagiológico mais sensível e mais específico (...) mas se normal não exclui
o diagnóstico.
•
•
•
Imagiologista experiente
Nas primeiras 48 horas de internamento é anormal em 90%
ADEM: classicamente múltiplas áreas (focos) de hiperdensidade
NEUROIMAGEM
PUNÇÃO LOMBAR
PUNÇÃO LOMBAR
PUNÇÃO LOMBAR
PUNÇÃO LOMBAR
EEG
O EEG é um marcador precoce e sensível de disfunção cerebral. No entanto é pouco específico, existindo
habitualmente uma lentificação focal ou difusa. Durante a fase aguda pode existir uma dissociação
clínica-EEG.
A excepção é a encefalite herpética, em que cerca de ¾ dos doentes apresentam alterações típicas no
EEG, particularmente em EEGs seriados efectuados entre o 2º e o 10º dia: anomalias lentas temporais e
actividade periódica.
O EEG deverá ser feito o mais precocemente possível, sem atrasar o início da terapêutica. Poderá ser
repetido caso a situação clínica o justifique: persistência de alteração do estado de consciência, défices
neurológicos de novo ou convulsões.
PROTOCOLO DA SOCIEDADE DE INFECCIOLOGIA PEDIÁTRICA DA SPP E SOCIEDADE PORTUGUESA DE NEUROPEDIATRIA
LABORATÓRIO DE BASE
INVESTIGAÇÕES MICROBIOLÓGICAS E MICROBIOLÓGICAS
1 - SE NÃO VIAJOU PARA FORA DE PORTUGAL
Avaliar pela história clínica (ex: varicela, sarampo, parotidite), altura do ano (Ex: influenza) e região (Algarve e Arbovirus) os agentes mais prováveis.
LCR : realizar colheitas de LCR para 4 tubos secos e 1 tubo de meio chocolate para:
•
Exame citoquímico, gram, antigenios capsulares e exame microbiológico
•
PCR para painel de Herpes vírus (inclui HVS1, HVS2, Varicela, CMV; EBV; HV6; HV7)
•
PCR Enterovirus
•
PCR para Mycoplasma pneumoniae
•
PCR para Borrelia
•
Imunoelectroforese (enviar com tubo seco com 2 ml de sangue)
Dependendo da clínica e estação do ano, considerar PCR para outros vírus (adenovirus, influenza) ou com a historia epidemiológica e clínica considerar situações mais raras e
pedir exame parasitológico e micológico.
Guardar tubo com 1 ml de liquor no laboratório para eventuais estudos posteriores - a imunoelectroforese contribui no diagnóstico diferencial com as patologias
inflamatórias não infecciosas e a documentação de produção intratecal de ancticorpos específicos (níveis Soro/LCR ≤ 20) pode contribuir para o diagnóstico.
Outros exames para investigação etiológica
Os exames sanguíneos e de outros materiais biológicos podem sugerir o agente etiológico, mas a sua interpretação deve ser cautelosa, não identificando necessariamente um
agente como causador da encefalite.
Colheita: 2 hemoculturas, 2 tubos secos (serologias); se possível guardar um tubo para estudos futuros.
•
Hemoculturas
•
Serologias de acordo com a clínica: CMV, EBV, Mycoplasma pneumoniae, Borrelia burgdorferii, outros agentes
•
IFI no sangue para Chlamydia trachomatis (de acordo com a clínica)
•
IFI nas secreções respiratórias para vírus respiratórios (de acordo com a clínica) ou serologias séricas se doença com mais de uma semana de evolução
•
PCR para enterovirus nas fezes com eventual cultura viral
Nos casos graves em que não seja possível o diagnóstico etiológico, a punção lombar deverá ser repetida após 3 a 7 dias, e as serologias deverão ser repetidas em 2 a 4
semanas (viragem, ou subida de títulos).
2 - SE VIAJOU PARA FORA DE PORTUGAL
Proceder como acima mas relativamente à região, consultar Infecciologista
ENTIDADES ESPECÍFICAS
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Herpes simplex I (e II sobretudo no período neonatal)
Varicela ( cerebelite imune, encefalite, vasculite)
Enterovirus 71 - romboencefalite
Influenza(quadro encefalopatico ligeiro até encefalopatia necrotizante)
Mycoplasma (pode apresentar quadro clínico rápido)
Brucella
BK
Borrelia
ADEM
ENCEFALOMIELITE AGUDA DISSEMINADA
(ADEM)
A causa mais provável de Encefalite a seguir às etiologias infecciosas primárias.
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Resposta autoimune a um estímulo antigénico prévio como sejam imunizações ou
doença viral (frequentemente influenza)
Distinguível da Esclerose Múltipla (EM) mas se recorrência pensar em EM
ADEM idade < 11-12 anos; EM: > 11-12 anos
Tipicamente ocorre 1-14 dias após uma imunização ou menos de 1 semana de um
exantema viral ou doença respiratória minor (influenza o mais comum)
Encefalopatia:
Predominância de sinais corticais (estado mental e convulsões)
Febre,cefaleia, meningismo
Sinais piramidais, hemiparésia aguda, ataxia cerebelosa, mielite transversa
É monofásica e não progressiva
LCR estéril
Terapêutica: Corticoterapia (com pulsos de metil-prednisolona) / Imunoglobulina /
plasmaferese
adaptado de Rust R et al emedicine, acedido em 15 de maio de 2013
ENCEFALOMIELITE AGUDA DISSEMINADA
(ADEM)
Muitos sugestivos (mas não patognomónicos) para o diagnóstico:
•
•
•
Doença infecciosa ou imunização prévias, temporalmente separadas antes do
início dos sintomas
Sintomas encefálicos múltiplos
MRI com alterações tanto na substância cinzenta como na substância branca
ENCEFALOMIELITE AGUDA DISSEMINADA
(ADEM)
Typical childhood ADEM in 7-year-old. Note tendency to
involve gray-white junction, the fact that the lesion margins
are less well defined than typical MS plaques, and that the
deep white matter lesions are not oriented perpendicularly
to the ventricular surface as is typical in MS.
Rust R et al emedicine, acedido em 15 de maio de 2013
TRATAMENTO EMPÍRICO
Terapêutica específica
1 - ENCEFALITE PRIMÁRIA
Iniciar o mais precocemente possível a terapêutica empírica.
A terapêutica empírica visa cobrir os principais agentes tratáveis.
Deverá incluir aciclovir (vírus herpes) e ceftriaxone (principais agentes bacterianos). Caso a
clínica assim o justifique, ponderar o uso de ciprofloxacina (Mycoplasma pneumoniae)
1. Aciclovir: 1500mg/m2/dia (3 tomas)
2. Ceftriaxone: 100mg/Kg/dia (1 toma)
3. Ciprofloxacina: 20mg/Kg/dia (2 tomas)
A suspensão de cada fármaco deve ser feita: só se ocorrer evolução favorável!
Se for identificado um agente causal ponderar início de terapêutica específica
PROTOCOLO DA SOCIEDADE DE INFECCIOLOGIA PEDIÁTRICA DA SPP E SOCIEDADE PORTUGUESA DE NEUROPEDIATRIA
TRATAMENTO
2 - ENCEFALOMIELITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM ) (PÓS-INFECCIOSA)
•
Pulsos metilprednisolona, 30mg/Kg/dia (máx 1g/Kg/dia), ev, 3 a 5 dias;
•
Seguido de prednisolona (1mg/Kg/d) via oral, em esquema de desmame lento em 4-6
semanas (desmame muito precoce associa-se a maior risco de recidiva)
•
Considerar gama-globulina e.v (0.4g/Kg/dia, 5 dias) ou plasmaferese nos doentes
graves em que não há resposta favorável à metilprednisolona
ACICLOVIR
ACICLOVIR
•
INICIAR LOGO QUE O LCR INICIAL E/OU IMAGIOLOGIA APRESENTEM
RESULTADOS SUGESTIVOS
Ou
•
DENTRO DE 6 HORAS EM RELAÇÃO À ADMISSÃO SE AINDA AGUARDA
RESULTADOS
MAU PROGNÓSTICO SE INICIADO APÓS 48 HORAS !
QUEM DEVE SER TRANSFERIDO PARA CUIDADOS ESPECIALIZADOS?
(I)
Muitos doentes estão gravemente doentes...
Riscos de :
•
Convulsões
•
HIC
•
Complicações sistémicas
•
Morte
Necessidade de monitorização apertada em ambiente calmo
(não necessariamente isolamento)
Abordagem multidisciplinar (neurologista, infecciologista, cuidados intensivos...)
Management of suspected viral encephalitis in children - Association of British Neurologists and
British Paediatric Allergy Immunology and Infection Group National Guidelines
QUEM DEVE SER TRANSFERIDO PARA CUIDADOS ESPECIALIZADOS?
(II)
•
Doentes com nível de consciência a baixar
•
Necessidade de avaliação por neurologia (24 horas)
•
Neuroimagem (RM, TC CE)
•
Dificuldade de estabelecer um diagnóstico ou não melhoria
ENCEFALITE
(pontos chave)
•
A encefalite aguda é relativamente rara
•
A maioria dos casos é de etiologia viral
•
A identificação do agente etiológico é inferior a 50 % dos casos
•
DD inclui processos infecciosos/imune-mediados/não infecciosos
•
A história do doente e a clínica são importantes para o diagnóstico
•
Investigações de urgência incluiem: exames de sangue, LCR e neuroimagem
•
Iniciar imediatamente aciclovir e antibióticos
Bibliografia
•
•
Weingarten L, Pediatric Emergency Care - Volume 29, Number 2, February 2013
Management of suspected viral encephalitis in children
Association of British Neurologists and British Paediatric Allergy Immunology and Infection Group
National Guidelines
•
Falcheck, Pediatrics in review Vol. 33 No 3 March 2012
•
Protocolo da sociedade de infecciologia pediátrica da spp e sociedade portuguesa de neuropediatria (2011)
•
Thompson C ,Arch Dis Child 2012;97:150–161
CENÁRIO INICIAL:
SERVIÇO DE URGÊNCIAS - PEDIATRA DE SERVIÇO
ABORDAGEM INICIAL DE UMA SUSPEITA DE ENCEFALITE
(até ao ponto do diagnóstico e tratamento inicial)
O que fez o sábio e prudente Pediatra de Serviço?
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