 
                                ENCEFALITES VIRAIS ADEM Isabel Cristina Leal Firmino – R2 Pediatria Orientador: Dr. Bruno Vaz Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF www.paulomargotto.com.br Brasília, 7/6/2010 ENCEFALITES VIRAIS Inflamação do parênquima cerebral associada a evidências de disfunção  Abrange 18 a 29% das infecções neurológicas agudas  Epidemiologicamente em transição pelo aumento do número de pacientes imunocomprometidos  O avanço nos exames de imagem e moleculares, na terapia antiviral e imunomoduladora e medidas neuroprotetoras vem mudando o desfecho dessas doenças.  PATOGÊNESE  Lesão neurológica causada por: Destruição por multiplicação ativa dos vírus  Reação do hospedeiro aos antígenos virais   Cortes do tecido cerebral caracterizam-se por:      Congestão meníngea Infiltrado linfocitário e plasmocitário Necrose tecidual perivascular Degradação de mielina Ruptura neuronal APRESENTAÇÃO CLÍNICA  Sintomas sistêmicos   Febre, náuseas e vômitos, cefaléia, irritabilidade, exantema Sinais e sintomas neurológicos: Focal: déficit motor (envolvimento do córtex e trato piramidal), afasia (hemisfério temporal esquerdo e frontal), alteração comportamental, déficit visual (temporal, parietal e occipital), alteração da função de pares cranianos.  Difusa: alteração do nível de consciência, convulsão, sinais de hipertensão intracraniana  ENCEFALITE HERPÉTICA Mais frequente diagnóstico de encefalite viral aguda  Aproximadamente 95% causadas pelo HSV-1  Em neonatos maior frequência de HSV-2  75% dos casos nos adultos são resultado de infecção recorrente  Acomete córtex cerebral, especialmente lobo temporal  Mortalidade chega a 80% nos não tratados  Pode causar sequelas graves e incapacitantes  ENCEFALITE HERPÉTICA  Quadro clínico           Anosmia Febre Fotofobia Alteração de comportamento e fala Ataxia Tremores Hemiparesia Amnésia Distúrbio do sono Incontinência urinária ENCEFALITE HERPÉTICA  Quadro clínico Edema e hemorragia de lobo temporal pode levar a coma e parada respiratória em 24h  Trismo, anartria, dificuldade para mastigação e deglutição são características de síndrome de dano cortical  Fenômeno pós infeccioso ou lesão recrudescente pode levar a deterioração mental importante, incluindo encefalopatia e alterações hipercinéticas  Episódios de recorrência pelo vírus ou encefalite pós infecciosa imunomediada.  ENCEFALITE HERPÉTICA  Diagnóstico  LCR Raramente é normal  Alterações chegam até 2.000 cel/mm3  Glicose baixa em 25% dos pacientes  Proteinorraquia se eleva a medida que ocorre dano cerebral  Hemácias em 75 a 85% pela natureza hemorrágica da lesão  PCR tem sensibilidade e especificidade de 95%, útil até nas infecções leves   EEG Descargas epileptiformes unilaterais, paroxísticas  Atividade bilateral é sinal de mau prognóstico  ENCEFALITE HERPÉTICA  Diagnóstico  Ressonância magnética Mostra áreas de lesão em 90% dos casos já nos primeiros dias de doença  PET não mostra superioridade quando comparado a RNM para diagnóstico de encefalite herpética   Tomografia computadorizada Normal nos primeiros dias  Áreas de baixa densidade e mais contrastadas em região temporal, edema e hemorragia focal   Biópsia cerebral Positiva em 33 a 55% quanto ao isolamento viral  Achados sugestivos como aspecto hemorrágico, inclusões eosinofílicas intranucleares  Pesquisa de antígeno e anticorpo  ENCEFALITE HERPÉTICA  Tratamento  Aciclovir Droga de escolha  Iniciada prontamente após suspeita diagnóstica  Diminuição de mortalidadede 70 para 20% e sequelas  10 a 30 mg/Kg/dia 8/8h por 14 a 21dias  A reativação dos sintomas após terapia adequada pode ocorrer , sendo usado valaciclovir oral por 3 meses  Foscarnet pode ser usado em casos de resistência em pacientes imunossuprimidos  VÍRUS VARICELA ZOSTER Pode causar infecção no SNC concomitante com o quadro de varicela  Causa rara e encefalite mas pode ocorrer em imunodeprimidos e crianças  Promove vasculopatia nas artérias cerebrais  Sintomas mais comuns:  Febre  Vômitos  Ataxia cerebelar  VÍRUS VARICELA ZOSTER O diagnóstico é baseado na história clínica – paciente com sintomas de encefalite que tem ou teve poucas semanas antes um quadro de varicela ou herpes zoster.  RNM mostra múltiplos pequenos infartos, mas não é achado específico  TC pode ser normal  Exames sorológicos e PCR  Não há evidências clínicas quanto ao tratamento  Aciclovir EV por 10 dias em imunodeprimidos  Corticoterapia para reduzir edema cerebral  ARBOVÍRUS Agentes oriundos dos artrópodes. Vetores mais comuns são o mosquito e o carrapato  Alguns arbovírus causadores de encefalites são  Vírus do Oeste do Nilo  Vírus das encefalites de Saint Louis e da Califórnia (3 casos registrados no Brasil)  Podem ser transmitidos por transfusão sanguínea, transplante de órgãos ou verticalmente  Sintomas inespecíficos e a maioria das crianças são assintomáticas  ARBOVÍRUS - DENGUE Recentemente tem sido descrito casos de dengue com envolvimento de SNC  Manifesta-se como um quadro de confusão mental associado a infecção aguda  Não se sabe ao certo se ocorre por:     Alteração metabólica Dano tecidual imunomediado Invasão tecidual pelo vírus Diagnóstico sorológico  Tratamento inespecífico e de suporte (controle de hipertensão intracraniana)  Bom prognóstico  ENCEFALITE POR ENTEROVÍRUS Mais associados a meningite mas pode causar encefalite focal ou difusa  Quadro de infecção viral sistêmica como rash e diarréia associado a alteração neurológica  Diagnóstico confirmado por PCR  Coxsackie vírus B5  Echovírus 18, 6 e 30 (mais comum no Brasil)   O tratamento se baseia no controle e intervenção dos sintomas ENCEFALITE POR CITOMEGALOVÍRUS O CMV está associado a infecção oportunista do SNC e periférico  Apresenta duas formas de acometimento:  Ventriculoencefalite – início abrupto com confusão mental progressiva e letargia.  Nódulos microgliais e necrose do parênquima cerebral – forma lentamente progressiva   Achados radiológicos inespecíficos e incluem ventriculite, hidrocefalia e raramente lesão com efeito de massa. ENCEFALITE POR CITOMEGALOVÍRUS Diagnóstico por cultura viral ou PCR  Tratamento:  Ganciclovir  Foscarnet   Em pacientes com AIDS há proposta de terapia antiviral para prevenção de CMV quando CD4 menor 100 cel/mm3 OUTRAS CAUSAS  Caxumba Quadro leve  Surdez por lesão do VIII para como sequela   Vírus respiratório Adenovírus  Influenza  Parainfluenza  Sarampo  Rubéola  Raiva  HIV  ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM) Doença desmielinizante monofásica imunomediada  Pode ocorrer após  Imunização : varíola, sarampo, caxumba, rubéola, influenza, raiva  Infecções: sarampo, rubéola (1:500), varicela(1:10.000), herpes zoster, caxumba, Mycoplasma pneumoniae, IVAS   Não é necessário documentação de doença prévia para o diagnóstico ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM) Maior mortalidade e sequelas neurológicas quando associado varicela e rubeola  Mortalidade de 25%  Sequelas em até 40% dos casos  Idade média de acometimento em torno de 7 anos.  3% dos casos relatados são em adultos  ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM)  Patogenia Resposta inflamatória imuno-mediada provocada pela infecção por um vírus, vacina ou outro agente infeccioso  Desmielinização com infiltração de linfócitos e macrófagos  Edema perivascular  Segue com fibrose subjacente a lesão  Mimetismo molecular – semelhança entre proteína da mielina e antígenos dos patogenos envolvidos  O mecanismo exato que causa a morte dos oligodendrócitos no ADEM ainda não são conhecidos  Acomete substância branca, cerebelo, tronco cerebral e medula espinhal  ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM)   Manifestações clínicas podem ocorre 4 a 21 dias após fator desencadeante Caracteriza-se por  Febre, mialgia, náuseas, vômitos  Fraqueza motora (94%)  Convulsão (25%)  Ataxia  Meningismo  Cefaléia  Delírio  Coma  Sinais neurológicos focais (hemiparesia, paralisia de pares cranianos) ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM) A completa recuperação pode ocorrer em poucos dias  Alterações sensoriais e neurite óptica podem ocorrer mais em adultos  Casos de doença recorrente já foram descritos  Leucoencefalite hemorrágica aguda é uma variante fatal  ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM)  Diagnóstico LCR: pleiocitose linfocítica, algumas vezes monocítica no início do quadro, proteína elevada, glicose normal  EEG: alterações inespecíficas. Não é recomendado como rotina pela baixa especificidade e sensibilidade  TC: normal nos primeiros 5 a 14 dias de doença  RNM: hipersinal em T2 das lesões multifocais disseminadas na substância branca, núcleos da base, tálamo e tronco encefálico compatíveis com edema, desmielinização e inflamação. Realce com gadolínio.   Alteração de corpo caloso em RNM sugere EM. ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM)  Diagnóstico diferencial Esclerose múltipla (primeiro episódio) – crianças com mais de 10 anos, sinais focais sem encefalopatia grave, surgimento de novas lesões após quadro inicial. Doença distinta ou variante de EM???  Síndromes genéticas de ativação de macrófagos  Leucoencefalopatia multifocal  Leucodistrofia  ENCEFALITE AGUDA DISSEMINADA (ADEM)  Tratamento  Corticoterapia endovenosa em altas doses Metilprednisolona 30mg/Kg/d até o máximo de 1g/dia 3 a 5 dias  Seguido de prednisolona VO 1mg/Kg/dia por 10 dias  Diminui duração dos sintomas e progressão da doença   Imunoglobulina Neutraliza anticorpos circulantes contra mielina  Diminui citocinas pró-inflamatórias   Recuperação sem sequelas em torno de 70% dos casos. SUSPEITA DE ENCEFALITE NA EMERGÊNCIA: O QUE FAZER? SUSPEITA CLÍNICA DE ENCEFALITE Encefalite viral aguda ou pós-infecciosa usualmente apresenta cefaléia e alteração do nível de consciência  Avaliar história de rash cutâneo, febre, diarréia, infecção respiratória e informações epidemiológicas  Afastar outras doenças como infecção fúngica e bacteriana, tumores, doenças vasculares e metabólicas  SUSPEITA CLÍNICA DE ENCEFALITE  Solicitar:      Hemograma completo Eletrólitos Uréia e creatinina Hemocultura Sorologias de acordo com a suspeita clínica Fonte: Acute Viral Encephalitis in Brazil; BJID 2009 SUSPEITA CLÍNICA DE ENCEFALITE   Feito exames laboratorias, segue-se com exames de imagem TC e RNM mostram imagens não específicas na maioria dos casos, porém, quando associadas aos exames laboratoriais e dados clínicos, pode-se estabelecer o diagnóstico Fonte: Acute Viral Encephalitis in Brazil; BJID 2009 SUSPEITA CLÍNICA DE ENCEFALITE Lembrar sempre das encefalites como possibilidade diagnóstica e que a intervenção clínica é essencial para evitar sequelas e um desfecho fatal.