Denio Dias Arrais

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PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2014 (8a10 de outubro 2014)
APRENDIZAGEM
DOS
JOVENS
TECNOLOGIAS DIGITAIS MÓVEIS1
ATRAVÉS
DAS
Denio Dias Arrais. Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPMS.P. Professor Universitário, [email protected]
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos
Resumo
Este artigo apresenta uma análise das relações do uso dos aparelhos móveis pelos jovens no
ambiente de aprendizagem escolar. A inclusão desses recursos tecnológicos em muitas
escolas já é uma realidade. No entanto, há controvérsias, para o uso de celulares como
recursos pedagógicos na sala de aula. Procura-se apresentar, também uma análise das relações
entre comunicação e consumo. O estudo desenvolvido procura entender as interfaces, do
processo de cognição levando em consideração o papel da comunicação tecnológica digital na
escola. Remete-se este trabalho à discussão sobre o globalização, é importante destacar - e
desmistificar - que não se trata de um fenômeno esporádico e recente; entender que não há
apenas atuação “unidimensional”, pois, abrange sua ação em outros campos não apenas
exclusivos aos que compreendem a comercialização e circulação de bens, mas, também outras
facetas como as sociais, políticas, culturais e comunicacionais. O presente trabalho apresenta
uma reflexão sobre as novas tecnologias digitais presentes nos celular, tablet, notebooks e
outros, como instrumentos pedagógicos que contribuem com o aprendizado.
Palavras-chave: Comunicação e Consumo; Educação; Celulares; Jovens; Educação á
Distância.
1
Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E CONSUMO, do 4º
Encontro de GTs- Comunicon, realizado nos dias 08, 09 e 10 de outubro de 2014.
2
Denio Dias Arrais_ [email protected].
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INTRODUÇÃO
O número de jovens que colocam em suas mochilas de material escolar o
celular vem aumentando a cada dia. Este trabalho pretende levar a uma reflexão sobre
o uso deste aparelho entre os jovens que freqüentam estabelecimentos escolares. A
utilização deste aparelho não aparece somente como um meio de comunicação entre
os indivíduos, mas também como fonte busca de informações, fotografar, enviar
mensagens de textos, enfim de acordo com cada modelo de celular e quanto mais
equipado for, mais recurso serão utilizados pelos usuários.
O jovem estudante aqui problematizado atua no cenário globalizado do início
do século XXI, nomeado de “nativo digital” (PRENSKY, 2001) este jovem se
diferencia das gerações anteriores pelo interesse e facilidade como se relacionam com
novas tecnologias para se comunicar, aprender, entreter e para pertencer a grupos
sociais. Em uma perspectiva mais próxima da prática docente, estudar o jovem do
Ensino Oficial e entender seu comportamento como consumidor através da influência
da tecnologia nas suas relações sociais, no processo de pertencimento social através
da participação em redes sociais pode ampliar a compreensão das possibilidades de
aprendizagem e percepção da realidade.
No contexto dos estudos de comunicação e sua confluência com o consumo,
entendemos que se fazem necessários estudos mais aprofundados sobre o aluno do
Ensino Oficial e sua relação com a telefonia celular, tendo em vista que o celular é
hoje o meio de comunicação mais frequente entre os jovens em razão de sua
mobilidade, possibilidade de agilizar contatos - da telefonia ou por meio de
“torpedos” SMS e redes sociais, reduzir distâncias, “estar” em mais de um lugar ao
mesmo tempo – por exemplo, uma videoconferência e aparelho que possibilita acesso
a produtos culturais. Outra perspectiva que contempla os estudos da comunicação e
consumo é a de que o celular tornou-se também um arquivo pessoal, que pode
representar a personalidade de seu proprietário através da personalização estética ou
de conteúdos e registros preferidos.
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Por outro lado a proibição do uso desse aparelho nas escolas, a delimitação do
que pode e do que não pode estar na escola. Pode, ainda, trazer a natureza do cuidado
redobrado por parte dos educadores, a fim de delimitar claramente o sentido da ética.
Na chamada era da informação e do conhecimento, garantir o acesso, o uso ético das
pessoas às novas linguagens culturais que vão invadindo a escola e se tornam
ferramentas essenciais ao desenvolvimento humano, encontra-se ainda como desafio
no cotidiano da sala de aula das escolas. No entanto, não podemos ignorar a rapidez
com que esses aparelhos estão chegando às escolas.
EDUCAÇÃO, CULTURA E CONSUMO
O consumo, a cultura e a educação estão aproximados, não há como dissociálos na sociedade atual, como ressalta Slater (2002), sendo ambos os processos
interdependentes. A cultura pode ser compreendida como um legado que é
“transmitido” de geração a geração, renovando-se nessas transmissões, renovação
sempre relacionada a um momento histórico. A educação (presencial ou a distância) é
também um legado cultural, sendo que a partir de suas práticas, nas variadas formas e
dimensões, é que são construídos os significados, indivíduos e nações (os exemplos
da Coreia do Sul e do Chile comprovam a evolução a partir de modelos que priorizam
a educação).
Para que haja entendimento entre as partes envolvidas e processos eficazes
educacionais é preciso que a linguagem seja “comum”, ou seja, que os indivíduos que
participam desse diálogo sejam socialmente organizados, que tenham feito um
“contrato” entre eles (como por exemplo, as regras existentes nas redes sociais), onde
estão presentes os significados, os conteúdos e a disseminação democrática do
conhecimento. São essas significações que encontramos prontas, que chegaram até
nós nos discursos carregados pelo “trem”. Este trem (a História), no qual embarcamos
ao nascer, carrega, portanto, discursos que portam significações que nos são impostas
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e que temos condições de modificar no decorrer de nossa vida, através de nossa
práxis.
A mediação (a educação á distância tem no AVA processos de mediação)
entre o homem e a realidade objetiva é exercida pelas linguagens, sobretudo pela
linguagem verbal, pela palavra. É ela que porta, que carrega a “descrição” e a
“interpretação” da realidade (BACCEGA, 2005, p.153). Esta realidade tem sido
veiculada pela educação e suas modalidades (presencialmente ou principalmente,
agora, á distância).
Todos os sujeitos, em particular o jovem estudante do ensino oficial, estão
inseridos em uma cultura permeada por formas simbólicas, signos, marcas, elementos
presentes na mídia em mensagens que resultam em significados que contribuem para
a formação das identidades (KELLNER, 2001). Essas questões são pertinentes às
discussões contemporâneas no campo da comunicação. É fundamental a reflexão
sobre as transformações sociais ocasionadas pela apropriação desses novos aparatos,
inclusive porque são relativamente recentes estudos que se debruçam sobre a
tecnologia comunicacional com um enfoque nos processos de mediação e recepção tal como o mesmo Martín-Barbero (2008) nos sugere.
É importante notar que o aparelho celular é um marco da atualidade, já que
representa uma série de novas possibilidades do ponto de vista da comunicação,
conectividade, mobilidade e socialização. Sua importância no cotidiano de qualquer
sujeito, inclusive dos jovens, se mostra bastante pertinente ao momento sócio cultural - histórico. O telefone móvel é um aparato tecnológico que faz parte de um
novo contexto comunicacional, no qual se configuram novas construções identitárias
por meio do consumo. Trata-se de um aparelho que ilustra a convergência digital
(JENKINS, 2009), já que nele diferentes meios de comunicação e tecnologias de
imagem e som, o rádio, a televisão, a máquina fotográfica e o computador, podem ser
utilizados por meio da plataforma WEB para acesso aos Ambientes Virtuais de
Aprendizagem (AVA) na Educação á Distância (EaD).
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As transformações ocorridas nas últimas décadas (dentre elas o forte
crescimento da EaD) abalaram a ideia que o sujeito tem em relação a si próprio
(HALL, 2009), já que pressupõe um deslocamento na busca por referenciais
identitários, sob a influência de inúmeros aspectos, incluindo aqueles que envolvem a
cultura e as suas relações com a comunicação e o consumo e estão presentes no uso é
consumo nos aparatos comunicacionais móveis. Nas palavras de Lemos (2007), ao
adquirir este aparelho, o indivíduo tem em mãos um instrumento que reflete a cultura
de sua época, sendo esta aquisição representada por valores simbólicos – design,
modelo, cor, etc. - e suas diferenças em relação a outros indivíduos, através de
preferências musicais, das formas de uso, da escolha do modelo e cor, da
personalização - wall papers e ringtones - ou não. É uma tecnologia de comunicação
que facilita a conexão com o mundo globalizado, ampliado nas formas de
relacionamento entre nações e culturas. No contexto da sociedade de consumo o
telefone celular consolida-se como um dos artefatos símbolo da contemporaneidade
(SILVA, 2007, p.1).
O celular leva o “DNA” cultural de seu dono, (ele armazena informações e
conteúdos recebidos e criados pelo seu usuário) é um dos poucos aparelhos onde não
há o compartilhamento do uso, pois, o celular é o “telefone da pessoa” (SOARES,
2008).Entendemos que os aparelhos móveis de comunicação, dentre eles os celulares,
são elementos mediadores e facilitadores da aprendizagem nos processos
comunicacionais contemporâneos, a partir do qual são constituídos significados e
feitas ressignificações, por meio das mediações existentes no universo do jovem
estudante do ensino oficial.
Os processos de mediação existentes quando do uso dos celulares
possibilitaram notar as novas construções de sentido, a partir das quais estes sujeitos
podem dar significado e ressignificar o mundo ao qual pertencem conforme a cultura
em que estão inseridos e o cotidiano que o cerca. Tais processos formadores e
construtores do conhecimento estão permeados dos discursos presentes no dia a dia
do jovem estudante.
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Uma das características da comunicação via celular, também é a de que é
possível encontrar os indivíduos rapidamente e facilmente em qualquer horário, e em
contra partida também podemos ser encontrados. É muito comum o jovem estudante d
ser monitorado pelos seus pais, familiares e amigos pelo celular dentro e fora do
ambiente escolar, outra situação parecida é quando os (as) namorados (as), ou outras
pessoas de interesse, tem a sensação de controle.
A telefonia móvel associada às novas tecnologias digitais permite que o jovem
receba mensagens, notícias instantâneas ou “presencie” acontecimentos à distância
como situações em que os amigos estão realizando pesquisas escolares e desejam
compartilhar conteúdos, quase que no mesmo instante do fato, contudo em muitos
casos os jovens estudantes compartilham notícias e informações nem sempre
relevantes.
Através destas informações transmitidas os celulares realizam uma mediação
de aprendizagem, por meio de signos e símbolos, traduzidos nas imagens,
ressignificadas na transmissão e armazenagem de conteúdos, como também em sua
distribuição. O compartilhamento com os amigos promove o estabelecimento de troca
de informações e construção de conhecimento por meio da configuração de suas
impressões sobre a realidade na qual se insere.
Os aparelhos celulares dos jovens entrevistados possuem inúmeros recursos,
contudo os recursos mais utilizados são a comunicação através da fala, do envio de
mensagens SMS e de imagens e para ouvir música, para Silva (2007, p.2) considerar
sobre o celular,
[...] implica em refletir mais detidamente sobre o caráter simbólico
dos bens e das atividades de consumo, [...] muito além da mera
função utilitária, os bens carregam significados e atuam como
sistemas de comunicação. Os indivíduos utilizam os bens para
constituir a si mesmos e ao mundo, criando desta forma um
universo compreensível.
Outras funcionalidades e aplicativos são também usados - como relógio,
agenda, jogos e outras - mas o celular é essencialmente um aparelho de comunicação
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móvel de contato rápido com quem se deseja, reduzindo distâncias, facilitando a vida
e fortalecendo relações.
Entendemos que as práticas de aprendizagem por meio da comunicação dos
jovens estudantes em relação à telefonia celular nos fornecem elementos para que
possamos interpretar a nossa sociedade. A Internet é uma forma de pesquisa e lazer
em comum dos jovens, ela está disseminada entre todas as classes sociais. Alem de
baixar filmes, de jogar e das redes sociais, são situações que revelam o elevado
interesse pela Internet destes jovens estudantes.
Para Jenkins (2009, p. 27), “no mundo da convergência das mídias, toda
história importante é contada, toda marca é vendida e todo consumidor é cortejado
por múltiplos suportes de mídia”. Os estudantes em suas práticas de aprendizagem ao
fazer uso dos celulares, se entretêm e se informaram por meio de conteúdos de mídia,
criam suas identidades e compartilham suas experiências e história pela comunicação
exercida através da telefonia móvel. Manter-se conectado ao universo que a cerca e
pertencer a um lugar de interesse comum para atividades compartilhadas, estas
relações têm papel importante para a formação das identidades, pois os jovens
pertencem a grupos que também possuem diferenças.
Os grupos jovens possuem como elemento comum os interesses e as práticas
que agregam a um objetivo ou preferência que os tornam “iguais”. Estes grupos estão
“conectados através de redes” demarcadas pela maneira de como se comunicam e de
que forma o fazem, o celular é um elemento contemporâneo facilitador desta
comunicação, pois permite estar disponível a qualquer hora ou em qualquer lugar,
possibilita a convergência de outros aparelhos em um só e tem como característica a
mobilidade.
Nos dias atuais o celular tornou-se indispensável para as práticas cotidianas, a
presença ou falta do aparelho despertam emoções, que vão da segurança, confiança, a
representação da presença de alguém, sentimento de ser querido por outro e demais
formas de sentimento.
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Com o decorrer do tempo o celular se tornou mais do que um prolongamento
do ser humano, ou uma prótese (McLUHAN, 1996). Tanto o é que o jovem estudante
(e até mesmo demais indivíduos da sociedade) entende como um instrumento “vital”
para sua vida. Lembrando que o celular não é um telefone de um lugar, mas sim o
telefone da pessoa, sendo indispensável para muitos dos jovens.
Partindo do propósito de investigar o papel da telefonia celular, na
contemporaneidade e seu papel na educação e formação de conhecimento as
entrevistas pessoais também possibilitaram entender como os estudantes se utilizam
das novas tecnologias digitais e comunicacionais, como usam a Internet para estudar
por meio de pesquisas e o celular, estes possibilitam acesso às redes de contato e
sociais dos jovens, estas que constituem novos relacionamentos e fortalecem os já
existentes, aproximam pessoas encurtando distâncias.
O celular permite a mobilidade e tem como característica a convergência, é
possível observarmos que este aparelho de telefonia móvel é encontrado nos lugares
mais incomuns e até nos locais proibidos, observarmos indivíduos fazendo o uso no
trânsito, nas salas de aula, durante cultos religiosos, e em outros ambientes que
requerem silêncio, como hospitais, bibliotecas, cinemas, teatros e outros. O
adolescente do ensino oficial é um destes indivíduos que “transgride” as normas de
conduta para o uso do celular, isso é notado na sala de aula por meio dos “torpedos”,
das fotos, das gravações de áudio e vídeo e ao ouvir música ou outros conteúdos.
Os sujeitos atualmente têm mais oportunidades de expressão em ambientes
reais e virtuais, podem opinar sobre política, levantar questões em fóruns de
discussões, criar e participar de blogs e comunidades nas redes sociais, “estar” em
diferentes espaços por meio dos quais compartilham conteúdos; expondo suas
preferências,
opiniões,
gostos
e
visões,
estabelecendo
diálogo
com
as
“fragmentações” de mundo a que pertencem. A convergência digital permite ao
celular a “migração” de conteúdos para um único aparelho, possibilitando acesso a
outros meios de comunicação, amplificando os contatos e as interações com
indivíduos.
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Os alunos do ensino oficial usufruem de somatória de experiências
possibilitadas na comunicação em espaços virtuais, ou seja, do acesso às redes sociais,
modos de uso do celular e de recursos tecnológicos que possibilitam ampliar as suas
relações, pessoais ou virtuais, comunicação esta onde a recepção tem papel chave
quando chegam os discursos, são resignificados e posteriormente transmitidos
construindo as identidades jovens. Confirma se quando o jovem diz que não consegue
viver sem o celular para se manter conectado aos amigos, pois este sem o celular
sente se solitário e perdido, fragilizado por perder o contato e a mobilidade mesmo
que temporariamente, dos grupos com os quais lhe conferem pertencimento. Jovem
que vive numa sociedade complexa que obriga a estar em lugares diferentes num
mesmo dia, este se move e tem na mobilidade que o celular propicia a cidadania, o
contato com os amigos, família e o sentido próprio de ser, ou seja, sua identidade.
Os jovens acreditam que necessitam ter o último celular, assim como os
adultos pensam em ter o último carro da moda, o melhor televisor, entre outros
objetos. Tal quadro se mostra hostil à educação, pois assim com notebooks, tablets,
Ipods, entre outros, o celular são catalisadores de diferenças e competições, mas
também se configuram como instrumento de alienação ou até mesmo fraude (nos
trabalhos escolares e principalmente nas provas) dentro da própria escola.
Através da prática docente é comum observar que o celular tira a concentração
do aluno da atividade escolar, em sala de aula, e também do professor que é
constantemente interrompido pelos ruídos característicos desses aparelhos móveis.
Além disso, é comum os educandos comunicare-se entre si, durante a realização de
provas e em outros momentos das atividades em sala de aula, através de seus
celulares. A transgressão de regras é uma característica dos adolescentes que
acreditam serem os “donos da verdade” ou maduros o suficiente para fazer o que bem
entendem em relação ao comportamento no ambiente escolar e o exemplo mais claro
disso está na desobediência em utilizar o celular em sala de aula. O Decreto nº 52.625,
de 15 de Janeiro de 2008 sancionado pelo ex-Governador (José Serra) do Estado de
São Paulo regulamentou o uso de telefone celular nos estabelecimentos de ensino do
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Estado de São Paulo, por meio do artigo 2º da Lei nº 12.730, de 11 de outubro de
2007, decreta:
Artigo 1º - Fica proibido, durante o horário das aulas, o uso de
telefone celular por alunos das escolas do sistema estadual de
ensino.
Parágrafo único - A desobediência ao contido no “caput” deste
artigo acarretará a adoção de medidas previstas em regimento
escolar ou normas de convivência da escola.
Artigo 2º - Caberá à direção da unidade escolar:
I - adotar medidas que visem à conscientização dos alunos sobre a
interferência do telefone celular nas práticas educativas,
prejudicando seu aprendizado e sua socialização;
II - disciplinar o uso do telefone celular fora do horário das aulas;
III - garantir que os alunos tenham conhecimento da proibição.
Artigo 3º - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Contudo, esta questão é relacionada a uma problemática que está para além da
própria instituição escolar. Deve-se considerar a situação familiar do jovem e a
orientação dada pelos papéis quanto à utilização desses aparelhos móveis. A escola
poderá utilizar o celular como ferramenta de trabalho quando o aluno compreender
que sua utilização adequada será um aliado na aprendizagem. Cabe ao professor levar
para sala discussões sobre a influência do consumismo na sociedade contemporânea.
Principalmente, levar a reflexão do uso de aparelhos eletrônicos, como o celular, na
sala de aula. Pois são catalisadores de diferenças e competições para medir “status” ao
invés de serem utilizado, por exemplo, para gravar uma aula e reproduzi-la para
estudos posteriores.
Não é fácil combater o uso inadequado dos celulares, principalmente quando
se trata de adolescente, que gostam de contrariar regras impostas pelos adultos. No
entanto, o professor poderá fazer um tratado (contrato verbal) com os educandos,
discutindo com eles qual é o momento mais adequado para a utilização desses
aparelhos móveis. Até mesmo pactuar com estes o melhor momento para sua
utilização.
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Compete aos educadores a estimularem os alunos a coletarem dados para
subsidiar informações e, assim, construírem seu conhecimento, ensiná-los a pesquisar
usando as tecnologias disponíveis. Pode fazer, ainda, com que o celular ao invés
competir com o professor à atenção dos alunos seja um aliado no processo de busca
do conhecimento.
Segundo Seabra (2013) a imaginação pedagógica, envolvimento proativo dos
alunos em projetos engajadores de seu interesse, ensino feito com carinho e inovação,
troca de experiências com outros professores, avaliação crítica de sua metodologia,
tudo isso são condições para que o celular – dispositivo de comunicação móvel e
computacional com recursos e capacidade muitas vezes maior do que o computador
da Apolo que levou o homem à Lua e que está disponível no bolso de quase todos os
alunos, esta constatação evidencia que este aparelho possa ser, cada vez mais, uma
ferramenta de aprendizagem na sala de aula.
Ainda para o mesmo Seabra (2013), para se obter a atenção dos alunos e
levarem a aprendizagem efetiva dos conteúdos escolares sem se distraírem, com esses
aparelhos móveis, durante as aulas deve haver propostas pedagógicas para utilização
dos celulares com instrumento no processo ensino/aprendizagem.
Este estudo pretende responder se o celular de fato contribui para aprender e como se
isto ocorre se de fato acontece entre os jovens educandos. Acreditamos que o acesso
fácil a esta tecnologia digital e a possibilidade de se estar conectado a outros jovens
colegas de estudo ou não, de acessar informações e de se transmitir conhecimento.
Os aparelhos de telefonia móvel são muito mais que equipamentos
facilitadores da comunicação e da aprendizagem nos dias atuais, são arquivos móveis
que carregam junto com seu proprietário parte daquilo que este é e de informações
sobre outros indivíduos e outros conteúdos facilitadores dos processos cognitivos
existentes nas salas de aula e em outros ambientes de convívio do universo jovem.
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CONCLUSÃO
Maneiras e formas de comunicação feitas pelos alunos no computador ou no
celular tem discursos que compreendem o relato das experiências do cotidiano, das
aulas, das festas, das conquistas e vitórias, dos revezes e do que apreciam, dos
relacionamentos afetivos e outras situações, estes são realizadas através da fala e em
maior volume pelas mensagens de texto via SMS.
Os estudantes reconhecem a importância da internet para se comunicar e do
papel que este tem em suas vidas, pois como exemplo temos o celular, hoje,
fundamental para o pertencimento a grupos de amigos ou de grupos de interesse de
atividades afins que trocam informações e geram conhecimento. A internet e as
tecnologias digitais facilitam que os jovens estudantes se encontrem e saibam a onde
estão, combinam seus compromissos e se encontram, programam suas festas seus
encontros sociais, e trocam materiais e informações úteis para dar suporte aos
processos de cognição.
Verificamos (é facilmente visível na sala de aula) que o celular é
personalizado pelos jovens em conteúdo armazenado ou na estética, notamos a
presença do simbólico existente nas personalizações, feitas pelo proprietário do
aparelho (personagens dos quadrinhos, times de futebol e até de marcas de empresas).
Esta personalização é facilitada em parte pelos recursos tecnológicos (por bluetooth) e
consistem em selecionar músicas, imagens, aplicativos, jogos e outros.
Se observa que, hoje, o conhecimento que este indivíduo tem, em parte, é
formado através dos discursos e das experiências existentes no ciberespaço que se dá
em boa parte pelos celulares, tablets e computadores, quando este recebe (significa)
ou transmite (ressignifica) mensagens nos seguintes ambientes, casa, escola, lazer, da
família e amigos e outros.
É possível ter através das tecnologias digitais informações de notícias,
imagens, textos, “fofocas”, conteúdo de outras mídias (ex: TV e rádio) facilita a
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interação e a participação de seus usuários com outros usuários, trocando e criando
conteúdos, compartilhando informações e produzindo conhecimento.
Aprender e comunicar-se com mobilidade em qualquer tempo e espaço, com
quem está perto ou longe ou com quem temos interesses compartilhados e afinidades
sempre foi um desejo ou necessidade dos indivíduos em suas relações sociais,
independente da idade. E isto agora é feito com auxílio da internet pelos jovens
estudantes, frequentemente, pois este ―monitora amigos ou indivíduos que fazem
parte de seus contatos dos quais possui interesse e é ―monitorado pela família (pais)
e outros amigos.
Acreditamos que o ser humano e social de hoje é dependente de “próteses”
tecnológicas, os celulares (assim como outros gadgets tecnológicos de comunicação)
permitem a mobilidade e tem como característica a convergência, é possível
observarmos que estes recursos ou aparelhos móveis são encontrados nos lugares
mais incomuns e até nos locais proibidos (como exemplo o uso de celulares é
proibido em sala de aula no estado de São Paulo), observarmos indivíduos fazendo o
uso nas salas de aula, durante cultos religiosos, nas bibliotecas, nos cinemas e outros.
O jovem estudante do ensino oficial é um destes indivíduos que desrespeitam
as normas de conduta para o uso do celular, isso é notado na sala de aula por meio dos
torpedos, das fotos, das gravações de áudio e vídeo e ao ouvir música ou outros
conteúdos. Mas que aprende por meio dessas ações estimulando vários sentidos com a
interação com as tecnologias digitais disponíveis. Concluí-se que as tecnologias
digitais são fundamentais na atual concepção de sociedade para aprender e ensinar.
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