112 DERIVATIVOS: UMA ABORDAGEM A CERCA DA VISÃO DE

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DERIVATIVOS: UMA ABORDAGEM A CERCA DA VISÃO DE HEDGE CAMBIAL
POR UMA EMPRESA DE PEQUENO PORTE
José Luiz Sanguanini14
Kadígia Faccin15
Resumo: Os mercados do mundo todo estão interligados devido ao grau de evolução que a tecnologia propõe à
comunicação e, com isso, informações dos principais mercados têm impacto imediato no Brasil. Esse contexto
traz dois lados às empresas: ao mesmo tempo em que se ganha com a transparência e qualidade das informações,
poderá se perder com a rapidez do reflexo que um ocorrido na Europa, por exemplo, terá no mercado brasileiro.
Ou seja, a iminência de riscos é maior e para que os efeitos provocados por movimentos adversos do mercado
não afetem os custos e/ou os preços de venda (e, por conseguinte, o lucro) a gestão de riscos tem papel vital na
organização. O gerenciamento dos riscos de mercado usualmente é executado minuciosamente por instituições
financeiras e empresas de grande porte com a utilização das corretas ferramentas para a proteção: as operações
de hedge com instrumentos financeiros derivativos. Entretanto, o problema de pesquisa proposto foi o de
demonstrar o conhecimento e a utilização de tais instrumentos sob a ótica de uma empresa de pequeno porte de
Caxias do Sul/RS, distribuidora de máquinas, ferramentas e peças de reposição para a indústria moveleira que
opera com importações basicamente lastreadas em euro. Tendo como objetivo identificar e analisar os principais
instrumentos de proteção contra os riscos de natureza financeira, além da verificação quanto à percepção do
impacto das recentes alterações das taxas de câmbio e, ainda, da validação e aplicação dos conceitos obtidos a
partir da fundamentação teórica na prática, explorando abordagens relacionadas a instrumentos financeiros.
Derivativos são instrumentos financeiros que derivam de outros ativos, sendo eles financeiros ou físicos e são
negociados, em sua maioria, em bolsa de valores. Dividem-se, inicialmente, em quatro tipos de mercados:
futuros, termos, opções e swaps, tendo como participantes os hedgers, os especuladores e os arbitradores. A
extração dos dados efetivou-se por meio de uma entrevista presencial com uma funcionária da empresa, onde foi
possível verificar a ciência a cerca dos efeitos produzidos pelas oscilações das taxas de câmbio no custo das
mercadorias e no repasse aos preços de venda, entretanto, a tendência é de que empresas de menor porte tratem
os riscos de maneira simplificada, não utilizando os mesmos instrumentos sugeridos pelo referencial teórico.
Dessa forma, o estudo cumpriu com os objetivos propostos, trazendo a visão da empresa de pequeno porte
quanto aos instrumentos financeiros, apontando para certa distância em relação à visão das instituições
financeiras e empresas de grande porte. Estudos futuros poderiam se valer de métodos quali-quantitativos para
agregar conteúdo na análise.
Palavras-chave: Hedge; Instrumentos Financeiros Derivativos; Gerenciamento de Risco de Mercado.
Abstract: The markets around the world are interconnected due to the degree of evolution proposes that
technology for communication and, thus, information of the main markets have an immediate impact in Brazil.
This context brings two sides to the business: while earns on the transparency and quality of information may be
lost with the speed of a reflex that occurred in Europe, for example, will the Brazilian market. That is, the greater
risk is imminent and that the effects caused by adverse market movements do not affect the costs and / or selling
prices (and therefore profit) risk management plays a vital role in the organization. The management of market
risks is usually performed in detail by financial institutions and large businesses with the use of correct tools for
protecting: the hedge with derivatives. However, the problem proposed research was to demonstrate the
knowledge and use of such instruments from the perspective of a small business of Caxias do Sul / RS, a
distributor of machinery, tools and spare parts for the furniture industry that operates with imports mainly backed
by the euro. Aiming to identify and analyze the main instruments of protection against the risks of a financial
nature, as well as checks on the perception of the impact of recent changes in exchange rates and also the
validation and application of concepts derived from the theoretical practice, exploring approaches related
financial instruments. Derivatives are financial instruments derived from other assets, be they financial or
physical and are traded mostly on the stock exchange. Divided initially into four types of markets: futures,
forwards, options and swaps, and the participants hedgers, speculators and arbitrageurs. The data extraction was
accomplished through a personal interview with an employee of the company, where it was possible to verify the
science about the effects produced by fluctuations in exchange rates on cost of goods and the transfer to sales
prices, however, the trend is that smaller companies address the risks in a simplified way, not using the same
instruments suggested by the theoretical framework. Thus, the study met the proposed objectives, bringing the
vision of small business and financial instruments, pointing to a certain distance from the vision of financial
14
Acadêmico do Curso de Ciências Contábeis da FSG. Endereço Eletrônico: [email protected].
Mestre em Administração. Graduada em Ciências Econômicas. Professora de Economia e Mercado de Capitais do Curso
de Ciências Contábeis da FSG. Endereço eletrônico: [email protected].
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institutions and large companies. Future studies could take advantage of qualitative and quantitative methods to
aggregate content in the analysis.
Key-words: Hedge; Derivative financial instruments; Market Risk Management
INTRODUÇÃO
Em decorrência das informações percorrerem o mundo em velocidade instantânea as
notícias de todos os países estão atreladas de modo que ocorridos na Ásia, na Europa ou na
América do Norte afetam imediatamente a economia brasileira em proporção relativa, sendo
isso algo corriqueiro e normal, pois são reflexos da globalização e do contexto evolutivo da
tecnologia. Ao mesmo tempo em que facilitam e tornam as operações mais transparentes,
esses fatores agregam adendos aos riscos que as empresas correm, principalmente quando
mantém operações lastreadas em moedas estrangeiras.
O risco é a possibilidade de algo sair diferente do planejado e está presente em todas
as atividades organizacionais, sujeitando todas as tomadas de decisões a certo grau de
incerteza. Somente poderão ser definidos como isentos de risco, os fatos do passado - que já
ocorreram, no entanto toda decisão que visa resultados futuros está atrelada a riscos.
Munindo-se de conhecimento e informações a cerca das situações e do macro ambiente em
que a empresa está inserida, é possível antecipar-se a certos fatores minimizando, ou até
anulando, o impacto desses imprevistos e obtendo resultados mais próximos do almejado,
projetando fatos que ocorrerão no futuro sob a forma de cenários.
Esses riscos, segundo Hoji (2010), poderão ser segregados conforme sua natureza:
operacional e financeiro-econômica. Causados por fatores diversos e podendo ser evitados
com a contratação de seguros (na maioria das situações), os primeiros riscos são inseparáveis
das atividades principais que a empresa exerce, ao passo em que a segunda natureza citada,
está relacionada a situações que fogem do controle da organização e podem causar danos
financeiros inesperados. Oscilações de preços de matéria-prima ou bens de capital adquiridos
no mercado externo, aumentos ou reduções das taxas de câmbio e de juros são os exemplos
mais usuais de riscos financeiros.
As operações de hedge (proteção) - por meio da utilização de instrumentos financeiros
derivativos - visam inibir os riscos financeiro-econômicos amenizando os impactos das
oscilações. Uma espécie de reação em cadeia é formada quando ocorre alguma mudança
inesperada nos custos das taxas de câmbio e/ou da matéria-prima tendo reflexo direto nos
preços de venda praticados, dado que aumentando os preços a empresa perde competitividade
e mercado. A prevenção contra tais riscos é praticada com frequência por empresas de grande
114
porte e instituições financeiras. Contudo, o problema de pesquisa será averiguar o
conhecimento e utilização de instrumentos protecionistas por uma empresa de pequeno porte.
Mediante isso, o objetivo principal da pesquisa é identificar e analisar os principais
instrumentos de proteção contra os riscos de natureza financeira em uma distribuidora de
máquinas, equipamentos e ferramentas utilizadas na indústria moveleira que opera com
importações. Os objetivos específicos serão verificar o nível de conhecimento que a empresa
possui a cerca das operações de hedge e as justificativas de sua utilização ou não utilização e
ainda, utilizando fatos sucedidos há pouco tempo, se as recentes variações cambiais
provocaram algum reflexo nos preços repassados aos clientes. O estudo é justificado na busca
pela validação e aplicação dos conceitos obtidos da fundamentação teórica na prática,
explorando abordagens relacionadas a instrumentos financeiros relativamente pouco
utilizados por empresas que não são instituições financeiras nem de grande porte. Além disso,
também se justifica por fornecer uma revisão teórica a respeito do assunto, assim,
aproximando informações das empresas deste e de outros ramos de negócios.
Desse modo, com o intuito de atingir os objetivos propostos, utilizou-se a empresa
ABC Comércio e Representações Ltda como objeto de estudo. Há mais de 30 anos no
mercado e localizada em Caxias do Sul, a ABC Comércio e Representações Ltda é uma
empresa que fornece máquinas e ferramentas para a produção de móveis. A empresa cumpre
papel importante no setor moveleiro da região, pois proporciona aos fabricantes de móveis
nacionais a possibilidade de competir em condições de igualdade, em diferentes mercados do
mundo, ao realizar a comercialização de máquinas e ferramentas importadas e nacionais de
alta qualidade. Atualmente a ABC é a maior distribuidora do Rio Grande do Sul de
ferramentas para produção moveleira.
115
DERIVATIVOS CAMBIAIS
As operações de hedge foram desenvolvidas para que as empresas possam criar
mecanismos de defesa contra variações desfavoráveis eventualmente ocorridas em seus ativos
e passivos, caracterizando essas, assim, um instrumento financeiro protecionista. Visto que o
objeto que estará sendo protegido irá variar conforme a atividade da empresa, podendo ser
exemplificado como taxas de câmbio - que é o mais comum, passando por ações, índices de
desempenho de ações nas bolsas de valores, taxas de juros, produção de commodities
agrícolas, em suma, tudo que possa absorver variações advindas de fatores fora do alcance de
prevenção da organização. O hedge, quando utilizado em sua forma "pura", não envolve a
visão de se obter ganhos nas operações, mas sim, não perder, corroborando para o
fortalecimento da gestão de riscos cambiais de mercado.
O ascendente crescimento da utilização dos mercados financeiros têm proporcionado o
surgimento de operações complexas e com grandes volumes, efetuadas nos mais diversos
segmentos e lugares, desde que a intermediação financeira se dê em níveis considerados
seguros e rentáveis. Visando a minimização dos riscos, praticamente inseparáveis dessas
operações, foram criados novos instrumentos financeiros, inserindo no mercado conceitos de
proteção às operações mercantis com o objetivo de resguardar a posição assumida pela parte
compradora, assim como, da parte vendedora de uma iminente oscilação no preço do ativo
negociado. Em meio a isso, os derivativos passaram a ser utilizados com maior frequência
como uma forma de "hedgear" (proteger) transações, assegurando posições ativas ou
passivas, obrigações assumidas e operações futuras contra mudanças inesperadas provenientes
de variações cambiais, alterações nas taxas de juros e nos preços, e ainda, sobretudo, para
tornar factíveis as projeções dos fluxos de caixa. (CAPELLETTO; CARVALHO;
OLIVEIRA, 2005)
1.12 Instrumentos Financeiros Derivativos
Derivativos são instrumentos financeiros que derivam de outros ativos, sejam eles
financeiros (dólar, juros) ou físicos (tais como os agrícolas - milho, café, boi, soja e dentre
outras commodities). Poderão ser definidos como acordos formais para realização da
transferência do risco de uma parte para a outra, sem necessariamente realizar a transferência
do ativo, são contratos futuros cujos preços derivam de outro ativo, ou até mesmo, de outro
contrato. De modo simplificado, é possível exemplificar um derivativo da seguinte maneira:
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uma ação é considerada um ativo, já o direito de vendê-la no futuro por um preço previamente
fixado é um derivativo.
Com o intuito de normatizar as operações com instrumentos financeiros derivativos, o
Banco Central do Brasil (2002, s.p.) por meio da Circular 3.082 de 30 de janeiro de 2002,
estabelece e consolida alguns critérios para o registro e a avaliação dessas operações,
dispondo no parágrafo 1 que:
Entende-se por instrumentos financeiros derivativos aqueles cujo valor varia em
decorrência de mudanças em taxa de juros, preço de título ou valor mobiliário, preço
de mercadoria, taxa de câmbio, índice de bolsa de valores, índice de preço, índice ou
classificação de crédito, ou qualquer outra variável similar específica, cujo
investimento inicial seja inexistente ou pequeno em relação ao valor do contrato, e
que sejam liquidados em data futura.
As práticas de governança corporativa frisam enfaticamente a distribuição do maior
número de informações, com clareza e qualidade - dados que de fato sejam relevantes e,
sendo assim, a evidenciação das operações de proteção deve fazer parte da composição do
disclosure16 fornecido aos investidores e demais usuários das demonstrações financeiras da
organização. Além disso, na Circular 3.082 o Banco Central do Brasil (2002) determina que
seja efetuada a divulgação em notas explicativas de informações com caráter qualiquantitativos no que tange às políticas para a utilização dos instrumentos financeiros
derivativos, pontuando os objetivos e as estratégias utilizadas para o gerenciamento de riscos
adotado pela empresa e os respectivos riscos ligados a cada estratégia de mercado. Ainda nas
notas explicativas, cabe ressaltar os controles internos utilizados no gerenciamento dos riscos,
divulgando a relação com os objetivos propostos, não olvidando os valores líquidos de ganhos
e de perdas incorridas advindas das operações em questão.
Os mercados futuros existem há muito tempo, tendo como seu principal intuito
realizar a prevenção contra riscos oriundos de fatores externos, que fogem do alcance
modificados e movimentos adversos nos preços a vista. Como parte integrante do mercado
futuro, os derivativos "tem a capacidade de transferir o risco de uma pessoa ou agente de
mercado para outro, desde que tenha uma predisposição ao risco diferente ao do primeiro
agente" (OLIVEIRA et al., 2008, p.87). Os principais mercados futuros de derivativos são:
Mercado de Contratos Futuros, Mercado de Contratos a Termo, Swaps e os Contratos de
Opções, onde nos tópicos a seguir serão abordados com maior afinco.
16
Segundo a BMFBOVESPA (p. 40, 2010), disclosure é a “Divulgação de informações por parte de uma empresa,
possibilitando a tomada consciente de decisão pelo investidor e aumentando sua proteção.”
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Hedge (Proteção)
Forma de Utilização
Especulação
Arbitragem
Derivativos
Mercado de
Contratos Futuros
Mercado de
Contratos a Termo
Tipos de Instrumentos
Financeiros Derivativos
Mercado de
Contratos de Opções
Swaps
Figura 2: Os mercados de derivativos e sua utilização
Fonte: O Autor
1.13 Formas de utilização dos instrumentos financeiros derivativos
De modo sucinto, os mercados futuros são realizados por meio de operações que
envolvem acordos de intenções, onde as partes envolvidas se comprometem a comprar ou
vender o ativo objeto da negociação em uma data futura, todavia com um preço previamente
estabelecido. Essas práticas já existem há bastante tempo, pois desde eras remotas o homem
teve ciência de que fatores externos, alheios ao seu negócio, poderiam prejudicar sua
atividade, seja ela comercial ou produtiva ou de cultivo. "De acordo com alguns
pesquisadores, a história dos mercados futuros remonta à Idade Média", conforme explica
Oliveira et al. (2008, p.89). Sendo assim, a finalidade principal de um contrato no mercado de
futuros é a realização de um seguro contra determinados riscos inerentes ao processo
desenvolvido pela organização, riscos esses que poderão vir a afetar os preços.
Ao passo que o desenvolvimento desse mercado no Brasil é recente - pois, foi
aprimorado e desenvolvido concomitantemente com a criação da Bolsa Brasileira de Futuros
em 1983 e, posteriormente, com a Bolsa de Mercadorias e Futuros em 1985, existem
evidências do surgimento dos mercados futuros nos Estados Unidos no final do século 19,
mais precisamente, em 1898 com a criação da Bolsa de Mercadorias de Chicago (Chicago
Mercantile Exchange - CME) onde eram negociados basicamente produtos agrícolas. Até os
dias atuais, a CME permanece com as negociações de instrumentos financeiros na forma de
taxas de juros, ações, taxas de câmbio, commodities e derivativos, tal como a
118
BM&FBOVESPA que também opera tais "produtos" do mercado financeiro, porém em
volume menor.
O Sistema Financeiro Nacional (SFN) oferta aos investidores algumas alternativas
para a realização de operações de proteção contra riscos advindos do mercado financeiro
como um todo. Dentre esses, um dos mais procurados são os instrumentos financeiros
derivativos, que propõem inúmeros benefícios ao investidor, tais como proporcionar maior
liquidez aos ativos negociados, ou a realização de operações com maior volume de capital e
risco moderado. Porém, há de se levar em conta que "os derivativos costumam embutir
maiores riscos que outras alternativas financeiras, sendo melhor recomendadas para
investidores com menor aversão ao risco" (NETO, 2008, p.251). Usualmente tais
instrumentos financeiros são negociados nas bolsas de valores.
1.14 Participantes dos mercados de derivativos
Basicamente os tipos de investidores17 que operam no mercado de derivativos são
qualificados como o hedger, o especulador e, ainda, o arbitrador:
 O hedger participa do mercado sob a condição de proteger a posição de determinado
ativo/passivo dos riscos inerentes às variações adversas dos preços e taxas de juros,
utilizando-se para tanto de compras e vendas de derivativos. A maneira usualmente
mais utilizada para a aplicação de hedge (protegendo-se contra a desvalorização da
taxa de câmbio) é a atuação de forma inversa, comprando títulos indexados à variação
cambial. Assaf Neto (2008) utiliza como exemplo de hedging, para uma dívida em
dólar, a aplicação em um título indexado na mesma moeda caracterizará uma proteção
contra eventual apreciação da divisa.
Ainda cabe ressaltar que existem duas classificações para os hedgers, sendo elas de
compra e de venda. O investidor que tenta proteger suas compras utiliza as operações
de hedge como maneira de obter maior segurança diante da iminência de alta dos
preços de ativos que lhe são de interesse para compra. Ao passo que a proteção das
vendas é dada contra uma possível queda nos preços de ativos que virão a ser
negociados.
 O especulador é o investidor que opera no mercado de derivativos com o intuito de
auferir ganhos financeiros, assumindo o risco das oscilações dos preços. Poderão ser
17
Entende-se por investidor toda e qualquer pessoa física ou jurídica que opere no mercado financeiro, seja com o intuito de
se proteger ou de auferir ganhos.
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tanto pessoas jurídica, como física e, outra característica dos especuladores é a rapidez
com que assumem e fecham posições (inclusive, muitas vezes operam até em day
trade18). O investidor que atua no mercado financeiro como especulador não visa o
ativo que está negociando, nem possui interesse pelo objeto de negociação, apenas a
operação envolvida lhe interessa.
Por diversas vezes os especuladores não são bem vindos no mercado financeiro devido
às distorções que suas operações podem causar no preço de alguns ativo-passivos,
todavia, tal participação só não é bem vista por não ser totalmente compreendida. Há
importância na participação dos especuladores no mercado, como defende Assaf Neto
(2008, p. 253), "a presença do especulador no mercado [...] é importante no sentido de
atribuir liquidez às operações.". Ainda, as operações especulativas corroboram para as
de proteção, assumindo os riscos dos que visam proteger os preços.
 O arbitrador é o investidor que aufere lucro sem risco, operando simultaneamente em
dois ou mais mercados (BMFBOVESPA, 2010), ou seja, opera em situações de baixo
risco e conseguinte, baixa rentabilidade. As operações de arbitragem poderão ser
exemplificadas como uma compra no mercado a vista e a venda no mercado futuro,
onde sua vantagem será advinda das diferenças de preços em ambos os mercados.
Segundo Assaf Neto (2008, p. 254), "essa operação torna-se atraente sempre que a
relação entre os preços futuros e a vista [...] for inferior às taxas de juros que podem
ser obtidas de aplicações financeiras disponíveis no mercado.".
1.15 Bolsa de Valores
No mercado brasileiro as operações envolvendo derivativos são basicamente
intermediadas pela Bolsa de Mercadorias & Futuros BOVESPA (BM&FBOVESPA) que é
uma companhia constituída com capital nacional e surgiu recentemente no ano de 2008, após
a integração da Bolsa de Valores de São Paulo com a Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Atualmente é a principal instituição do país no que tange às intermediações financeiras entre o
mercado de capitais, as corretoras e os investidores. “A companhia desenvolve, implanta e
provê sistemas para a negociação de ações, derivativos de ações, títulos de renda fixa, títulos
públicos federais, derivativos financeiros, moedas à vista e commodities agropecuárias."
(BMFBOVESPA, 2008, s.p.).
18
“Day trade é uma operação de compra e venda de uma mesma quantidade de ações de uma mesma empresa, realizada no
mesmo dia pelo mesmo cliente, através da mesma corretora.” (PINHEIRO, 2009, p.329).
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A principal atividade de uma bolsa de valores é centralizar e organizar as negociações
de ações e outros instrumentos financeiros seja por meio eletrônico - forma essa adotada pelas
principais bolsas de valores do mundo - ou por meio físico. É possível dizer que uma bolsa de
valores é uma instituição administradora de mercados, tendo como intuito beneficiar e
facilitar as negociações, proporcionando transparência e liquidez aos ativos que intercede as
negociações.
Os mercados de capitais são grandes fornecedores de recursos para a economia, em
virtude da intermediação que efetuam entre a população economicamente ativa que têm
investimentos (pessoas físicas e jurídicas) e as organizações que disponibilizam seu capital
para negociações nas bolsas de valores. É possível caracterizar o mercado de capitais como
um ciclo que envolve a sociedade e seus participantes, basicamente: as famílias, as empresas e
o governo. Onde as famílias fornecem recursos às empresas investindo nas mesmas e, essas,
por sua vez, tendo mais recursos disponíveis, faturam maiores valores arrecadando e
repassando mais tributos ao governo, que, por fim,
retorna às famílias e à sociedade
desenvolvimento e qualidade de vida.
A bolsa de valores exerce função primordial - e essencial - nos tantos tipos de
mercados existentes, na visão de Pinheiro (2009, p. 242) "a função de uma bolsa de valores
não é a de criar riqueza, mas a de transferir os recursos da economia".
1.16 Definições das Operações
Mercado de Contratos Futuros
Da forma como acima ilustrou a figura 1, os instrumentos financeiros derivativos
segregam-se em quatro tipos de operações, dentre essas, a primeira abordada será os contratos
futuros, que poderão ser definidos conforme a explicação de Assaf Neto, onde o autor enfatiza
que os contratos futuros são aqueles cujas "partes obrigam-se a negociar [...] determinado
ativo em uma data futura a um preço preestabelecido” (2009, p. 252). Uma operação em tal
mercado caracteriza um compromisso da entrada ou saída de uma posição de um ativo em
uma data futura, estando o preço do contrato previamente acordado. O mercado financeiro
oferta aos investidores uma vasta diversidade de opções para as negociações futuras, sendo
exemplos de produtos e instrumentos financeiros negociados: produtos agropecuários (soja,
milho, café, trigo e boi gordo); taxas de juros; índices da BM&FBOVESPA (IBOVESPA,
IBrX-50), ouro, moedas estrangeiras e outros itens.
121
Nos contratos de mercado futuro é compulsória a execução do contrato aos titulares do
mesmo, sendo necessária a realização da ordem prevista (compra ou venda). Não é vedada a
liquidação antecipada do contrato, caso alguma das partes não tenha mais interesse em
cumpri-lo, ou ainda, a outra forma de obter a anulação, é efetuando o repasse a terceiros. Dos
tipos de investidores descritos anteriormente, estão presente os especuladores e os hedgers,
havendo discreta participação dos arbitradores.
As operações no mercado de futuros são bastante utilizadas pelos investidores que
buscam efetuar proteção de determinado objeto em uma operação denominada hedging, deste
modo, tem o "objetivo de reduzir (ou eliminar) os riscos inerentes a determinados ativos"
(NETO, 2008, p.253). Por exemplo, parte-se do princípio de que exista uma empresa cuja
matéria-prima é importada de outro país para o Brasil e, diante de uma previsão de demanda
sazonal elevada, adquire US$ 8 milhões em insumos e materiais necessários à produção na
data de hoje para o recebimento em três meses. Haja vista que a cotação em moeda nacional
da taxa de câmbio é de R$ 1,59, e de que existem expectativas de alta do dólar, pois seus
preços futuros estão subindo já alcançado a casa dos R$ 1,70, a empresa poderá optar por
efetuar uma operação com o mercado futuro. Porém, como?
"A empresa brasileira importadora, com o intuito de proteger-se do risco de uma
desvalorização cambial da moeda nacional, poderá adquirir um contrato futuro de dólar com
vencimento na data da liquidação da dívida de importação" (NETO, 2008, p.254). Ou seja, a
empresa estará efetuando uma operação cambial inversa à aquisição da matéria-prima, tendo
suas perdas na importação compensadas pelos contratos de dólares futuros. Evitar (ou
minimizar, em casos de êxito incompleto da operação) a perda também implica na eliminação
da possibilidade de auferir ganhos na transação, ou seja, a função do contrato futuro para o
hedger é exatamente essa: a proteção contra os riscos de mercado (olvidando ganhos
financeiros sobre essas operações).
Ainda cabe ressaltar que os preços disponíveis no mercado futuro diferem para maior
dos preços do mercado principalmente devido ao custo de carregamento (carrying charge)
pelo prazo de vencimento do contrato.
Mercado de Contratos a Termo
Outra forma de operação com o mercado futuro é por meio de contratos a termo, que,
sendo uma espécie de extensão do contrato descrito acima, também “são contratos que visam
a reduzir as incertezas sobre os preços futuros das diversas mercadorias negociadas”
122
(PADOVEZE; BENEDICTO; LEITE 2012, p. 377), por meio da compra e venda de
determinado ativo com preço preestabelecido, havendo a concordância do comprador de
pagar na data de fechamento do contrato o preço previamente acordado e ajustado e, por parte
do vendedor de efetuar a entrega nessa data estabelecida.
As diferenças em relação aos contratos futuros são o tamanho dos contratos que, em
virtude de haver a possibilidade dos termos serem acordados fora da BM&F; o volume do
investimento poderá ser menos expressivo, não sendo necessário padrão quanto à qualidade
ou quantidade dos ativos e nem margem de garantia de depósito; e, não há padronização dos
preços. O local e data da entrega também não seguem o mesmo lastro, tornando assim, os
termos menos líquidos que os contratos futuros. Além disso, os meses para vencimento desses
contratos são suscetíveis à variação. (OLIVEIRA et al., 2008).
Mesmo que os contratos a termo sejam amplamente utilizados pelos participantes do
mercado financeiro que utilizam as práticas protecionistas, há duas grandes desvantagens
iminentes, segundo Rocha (2005, p. 328) “a primeira é a dificuldade de se encontrar uma
contraparte que deseje uma posição casada com a do contratante. E a segunda é o risco de
inadimplência mais elevado, já que não existem garantias de pagamento.".
Mercado de Contratos de Opções
Os contratos efetuados no mercado de opções poderão ser divididos em: de compra calls e de venda - puts. As opções de compra dão ao titular do contrato o direito - sem a
devida obrigação - de entrar em uma posição de determinado ativo no futuro por um preço
previamente acordado. Ao mesmo tempo em que as opções de venda exigem o dever da
entrega futura, se fechada a posição pelo comprador, dos ativos que foram objetos do
contrato.
Embora semelhantes, as opções diferem dos contratos futuros, Assaf Neto (2008)
estabelece um paralelo entre os contratos futuros e os de opções deixando claro que a
principal diferença entre ambos os contratos reside na compulsoriedade de exercício do
mesmo. "O contrato de opção, ao contrário (do futuro)19, registra unicamente o direito do
titular de exercer sua opção de compra ou venda a um determinado preço no futuro, não sendo
obrigatório seu exercício" (p.262, 2008). Frisando que o cumprimento ou não do direito
adquirido por meio do contrato variará de acordo com o comportamento e as perspectivas do
preço de mercado.
19
Grifo nosso
123
Alguns autores defendem que os contratos de opções não poderão ser caracterizados
como operações de hedging, pois a possibilidade de se obter ganhos nesses contratos é maior
do que nas outras operações, o que difere do intuito de proteção sem auferir ganhos/perdas
definindo assim, as opções como operações de seguros. Nos contratos de opções há o
pagamento de um prêmio e esse é outro ponto que os difere das outras operações (ROCHA
apud BODIE E MERTON, 2005). Porém, em contraponto, Rocha apud Hoji (2005, p. 328)
define que "de fato, as opções são mesmo derivativos, porque derivam de ativos primários
(sejam eles ações, índices, taxas de câmbio, ou mesmo contratos futuros)."
Swaps
O termo swap advém do inglês e significa "troca" e, literalmente, é a operação
promovida por esse instrumento financeiro. Os swaps são trocas de fluxos de caixa futuros
por determinado lapso temporal, seguindo metodologia de cálculo previamente estabelecida.
Oliveira et al. (2008) dispõe que a utilização dos swaps iniciou há aproximadamente três
décadas atrás, sendo utilizado como um instrumento de gerenciamento dos ativos e passivos
para efetuar a redução de custos financeiros e de refinanciamentos.
Cabe ressaltar que nos contratos de swaps o negociado não é o ativo, apenas seu fluxo
financeiro, em outras palavras "os agentes trocam indexadores das operações de captação ou
aplicação de recursos, sem interferir sobre o principal" (NETO, p. 268, 2008). Ou seja, não há
o pagamento do objeto principal da negociação, apenas de sua rentabilidade (juros). Dada a
complexidade das operações com swaps, não é possível de ser realizadas sem a intermediação
de uma instituição financeira, seja ela a bolsa de valores, Central de Custódia e de Liquidação
Financeira de Títulos (CETIP) ou o Banco Central. Alves et al. (2008, p.4) lembram que
“uma vez que a moeda nacional não é conversível nos mercados internacionais, a troca de
rentabilidade não pode ocorrer entre diferentes moedas, mas tão somente entre indexadores”.
1.17 Aspectos Contábeis das Operações Protecionistas
No que tange aos aspectos de contabilização das operações de hedge, o estudo
realizado por Capelletto, Carvalho e Oliveira em 2005 trouxe que a legislação brasileira, por
intermédio de Circulares editadas pelo Banco Central do Brasil – tal como a n. 3082,
conforme mencionado acima - atende basicamente às operações das instituições financeiras e
dos fundos de investimentos, deixando desamparados diversos aspectos relevantes já
124
implementados por outros países. Partilhando visão semelhante, Lopes e Lima (2003, p.3)
sinalizam que "o montante envolvido nas operações com derivativos alcança trilhões de
dólares em vários países, e os procedimentos contábeis e de evidenciação desses instrumentos
ainda não estão perfeitamente consolidados.". No entanto, estima-se que com a total adoção às
Normas Internacionais de Contabilidade essa lacuna seja suprida.
Ainda sobre o mesmo tema e em conjunto ao estudo anterior, Darós, Borba e Abreu
compararam empiricamente "a evidenciação de instrumentos financeiros derivativos nas
demonstrações contábeis divulgadas no Brasil20 com as publicadas nos Estados Unidos21 pelas
empresas brasileiras com ADRs" (DARÓS; BORBA; ABREU, 2005, p.1), constatando que a
evidenciação dos derivativos nas demonstrações contábeis divulgadas nos Estados Unidos
têm maior riqueza de detalhes, são mais objetivas e claras em relação às publicações no
Brasil. Assim, tornando ainda mais evidente a necessidade latente da padronização das
demonstrações contábeis. Atualmente existem duas correntes internacionais que normatizam a
evidenciação de tais instrumentos no mundo, sendo elas:
 A norma americana emitida pelo Financial Accounting Standards Board
(FASB) n. 133; e,
 Os pronunciamentos da Europa: International Accounting Standards (IAS) n.
39 e, posteriormente, também o International Financial Reporting Standards
(IFRS) n. 7, ambos emitidos pelo International Accouting Standards Board
(IASB).
20
21
Publicações de acordo com os princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil (BR Gaap) até 2005.
Publicações de acordo com os princípios contábeis geralmente aceitos nos Estados Unidos (US Gaap) até 2005.
125
METODOLOGIA
O estudo, em seus fins, foi exploratório, para tanto primeiramente se efetuou uma
revisão bibliográfica, sobre os principais conceitos de derivativos, formas de utilização e tipos
de instrumentos financeiros mais utilizados. A abordagem exploratória que se inicia por uma
revisão da literatura é considerada por Hair (2005) muito vantajosa para uma melhor
compreensão de uma questão.
Assim, partindo-se do objetivo de identificar e analisar os principais instrumentos de
proteção contra os riscos de natureza financeira em uma distribuidora de máquinas,
equipamentos e ferramentas utilizadas na indústria moveleira, que opera com importações na
cidade de Caxias do Sul /RS, elaborou-se o roteiro para a entrevista em profundidade. A
entrevista foi gravada e submetida à análise de conteúdo.
Optou-se pelo método do estudo de caso, por tratar-se de um método indicado para
pesquisas exploratórias qualitativas. Trata-se de uma descrição aprofundada de uma situação
específica, muito produtiva para estimular a compreensão, sugerindo hipóteses e questões
para pesquisa, sendo seu objetivo gerar hipóteses e não verificá-la, aumentando os
conhecimentos sobre o problema estudado (MATTAR, 1999). Tão logo, cabe destacar que
esta investigação pretendeu explorar a aplicabilidade prática de preceitos teóricos dentro de
um contexto, de forma crítica e reflexiva, buscando, proporcionar um maior conhecimento
sobre o tema e sobre a realidade empresarial de Caxias do Sul quanto a utilização de
ferramentas para proteção de seus ativos financeiros.
126
APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
A extração dos dados foi efetuada por meio de uma entrevista presencial junto a
funcionária que exerce o cargo de analista de importações na própria empresa estudada.
Atendendo a solicitação da diretoria da empresa que serviu de objeto de estudo, sua
verdadeira razão social foi omitida, sendo utilizado o nome fictício de "ABC Comércio e
Representações Ltda", todavia tal fato não desmerece a apresentação e descrição dos dados.
A empresa desenvolve parcerias com grandes grupos internacionais do ramo de
produção moveleira situados na Itália, um dos principais produtores de móveis do mundo. A
ABC importa diversas máquinas, ferramentas e peças de reposição de um dos mais bem
conceituados centros moveleiros do mundo para a região e, assim, distribui aos clientes
produtos com padrões de qualidade internacional. Dentre as práticas da empresa está a
participação em feiras de tecnologia do seu ramo no mundo todo, se mantendo
constantemente atualizada a cerca das novidades que lhe cercam.
Verificou-se que o foco das importações são as peças de reposição para as máquinas
vendidas, sendo seguido pelas ferramentas e a importação de máquinas tem volume menor.
Somente as compras de peças de reposição somam em torno de € 250.000,00 (duzentos e
cinquenta mil euros) por ano, tendo participação significativa no faturamento da empresa.
Armazena-se em estoque uma quantidade de aproximadamente 3.000 peças de reposição e
ferramentas, ao passo que as máquinas também são estocadas, porém em menor volume.
A principal parceria que a ABC possui é com um fornecedor italiano, havendo prazos
de 30 e 60 dias para pagamento em euro, sempre após o recebimento da mercadoria, com a
Vinculação de Declarações de Importação (DI). Há também um fornecedor de Israel, cujo
pagamento é efetuado em dólares americanos, porém em detrimento da parceria ser recente,
os depósitos são realizados antecipadamente, antes do embarque da mercadoria. Devido à
cobrança de despesas bancárias proporcional à quantidade de pagamentos efetuados, as
compras são pagas em uma única parcela, ou seja, as taxas de pagamento junto ao banco são
pagas uma única vez e o repasse ao custo do produto é menor.
Foi mencionada uma prática, realizada com fornecedores mais antigos e variando
conforme a negociação, de postergar os pagamentos além de 30 e 60 dias a fim de averiguar
se haverá variações negativas da taxa de câmbio nos dias próximos ao pagamento, porém para
isso, deverá ser respeitado o prazo de 180 dias. Essa prática foi adotada em virtude do preço
de venda ser fechado com o cliente antes do pagamento ao fornecedor e, com isso, essas
oscilações incorporarão os custos, sem ser repassadas ao preço de venda.
127
A ABC já ouviu falar a cerca das práticas de proteção cambial, entretanto mesmo
tendo operações em que houve oscilação da taxa de câmbio entre a compra e o pagamento –
ocasionando perdas e aumento dos custos/preço de venda, nunca foi feito uso de tais
instrumentos, por desconhecimento a respeito do funcionamento. Inclusive, as recentes
mudanças do dólar geraram custos inesperados e foi efetuado o repasse de tais custos
pulverizando-os às peças de reposição compradas, ou seja, aumentando o preço de venda. A
empresa admitiu que já ocorreram outras perdas em períodos cuja taxa de câmbio oscila.
A não utilização de instrumentos financeiros derivativos em prol do gerenciamento
dos riscos e como meio de proteção depende da criação de complexos procedimentos e pode
ser justificada com a explicação de Mendonça (2011, p. 177), onde o autor alerta que:
O controle da exposição ao risco de mercado por uma empresa representa uma tarefa
que exige, além de disciplina e técnica, boa dose de entendimento sobre as
vantagens que o posicionamento estratégico de hedge pode trazer para a empresa e
para os profissionais que nela atuam.
Desde 2010 houve uma tendência de estabilidade do euro, onde a moeda teve maior
constância e assim, corroborando para a manutenção do orçamento da ABC. Haja vista que os
preços de venda são lastreados conforme a cotação do euro, na atual conjuntura mundial de
crise européia e norte-americana, e ainda, maior volatilidade do euro, a empresa teve de
deixar certa margem de segurança – reajustando o preço de venda, pois não prevê o que
acontecerá com a cotação da moeda no curto prazo. Cabe salientar, que nunca foram auferidos
ganhos nas importações.
É do conhecimento da empresa as oscilações cambiais provocadas por movimentos
adversos do mercado, bem como seu impacto no custo e na margem de lucro aplicada nos
produtos. Mesmo que uma organização não possa interferir diretamente nos rumos do
mercado, é de suma importância que tenha um controle interno sobre suas operações, sendo
que o primeiro passo nesse caminho é identificar quais riscos a empresa corre, pois, tal como
descrevem Lopes e Lima (2003, p.116), "Todas as empresas possuem riscos internos e
externos que afetam as suas atividades de modo contínuo e dinâmico.". Os autores descrevem
que a dificuldade reside no dimensionamento dos riscos já documentados e por isso, deverá
ser traçada uma estratégia linear a fim de compreender, minimizar e tentar expor suas
atividades o mínimo possível.
Complementando esse raciocínio, Lopes e Lima (2003, p. 117) explicam que:
128
[...] o processo de identificação dos riscos começa pelo estabelecimento dos
objetivos das atividades desenvolvidas. Esses objetivos devem ser consistentes com
a estratégia geral da organização e com a estrutura interna da atividade [...]. Uma
vez que esses objetivos estejam estabelecidos de forma clara e sem ambiguidades, os
mecanismos para identificação de riscos devem ser estabelecidos.
Mesmo sem ter conhecimentos concisos sobre os instrumentos financeiros de
proteção, a empresa demonstrou noção de que tornando a taxa de câmbio menos volátil é
possível efetuar projeções mais aproximadas quanto aos gastos e assim, antecipar-se ao
cliente, não arcando com esses custos. O cliente pagará o preço de venda negociado antes do
pagamento ao fornecedor, sendo esse um ciclo financeiro relativamente curto, porém com a
desvantagem da variação do pagamento ao fornecedor. Outro ponto citado pela empresa foi
com relação aos custos envolvidos na utilização dos derivativos, além do alto risco envolvido
na operação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo teve como objetivos, inicialmente, identificar e conceituar com
embasamento teórico os instrumentos básicos de prevenção contra riscos de natureza
financeira, e em segundo momento, averiguar o conhecimento e a utilização de tais operações
em uma empresa de pequeno porte fornecedora de máquinas, ferramentas e peças de
reposição à indústria moveleira que opera com importações. Tudo leva a crer que esse estudo
atingiu aos objetivos que se propôs. Também é importante frisar que esta investigação
contribui para a academia, bem como para o empresariado local obter informações sobre esta
importante ferramenta de gestão de riscos.
Ao que parece os instrumentos financeiros derivativos ainda estão a certa distância das
empresas que não são instituições financeiras e/ou de grande porte, dada a complexidade das
operações e o consistente sistema de gerenciamento de riscos que a organização deverá ter.
Ainda que haja a ciência quanto à existência das proteções contra variações do câmbio, a
tendência é de que o empresariado lide com os riscos financeiros de mercado de modo mais
simplificado, utilizando margens de segurança e repassando os custos diretamente aos preços
de venda e possivelmente aumentando-o.
Além disso, estudos futuros poderiam se valer de métodos quali-quantitativos para
agregar conteúdo na análise, avaliando a realidade de um número maior de empresa na região,
a fim de não limitar a pesquisa a somente uma organização, averiguando uma população mais
abrangente.
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