Percepção e incorporação de uma alimentação saudável x Saúde

Propaganda
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E PROMOÇÃO DA SAÚDE: UMA
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE PAIS, MÃES E EDUCADORES DE
INSTITUIÇÕES INFANTIS
Karla Monique Cordeiro da Silva1
Raquel de Aragão Uchôa Fernandes2
Fabiane Alves Regino 3
Celiane Gomes Maia da Silva4
RESUMO
O mundo está vivendo um momento de transição nutricional, onde estão ocorrendo transformações nos padrões e
hábitos alimentares dos diferentes grupos, impulsionado por diversos fatores, como crescimento econômico, a
modernização e a globalização dos fast food, além de outros padrões arriscados de consumo referentes à
alimentação. Sendo assim, torna-se necessário pensar em estratégias que atuem no sentido de promover uma
alimentação mais equilibrada e saudável. Diante disso, é importante que a escola e também os/as/e
pais/mães/responsáveis estimulem o consumo de uma alimentação qualitativa e quantitativamente adequada para
o crescimento e desenvolvimento da criança. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi de realizar um
levantamento sobre a alimentação dessas crianças e a partir desse levantamento, verificar o significado ou
percepção, por parte dos pais/mães e ou responsáveis que possui filhos/as matriculados/as em escolas de
educação infantil sobre a importância dos bons hábitos alimentares. Para isso, realizou-se, um levantamento por
entrevistas acerca do perfil alimentar de crianças em algumas escolas da rede particular de ensino infantil na
cidade de Recife e em seguida aplicou-se um questionário com os pais e mães, ou responsável das crianças.
Percebeu-se então com essa pesquisa, que a realidade das escolas não está dentro dos padrões adequados de uma
alimentação saudável para seus/suas estudantes e que os/as e pais/mães/responsáveis precisam ainda, colocar em
prática o discurso de uma alimentação saudável.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Saúde. Crianças
1 INTRODUÇÃO
O mundo vive um momento de transição nutricional, onde vem ocorrendo
transformações nos padrões e hábitos alimentares dos diferentes grupos sociais, o que
modifica comportamentos e práticas que estão entre os aspectos mais antigos e enraizados em
várias culturas, processo que acaba exercendo influência direta sobre o comportamento das
pessoas. (CANO, et al., 2005).
1
Graduanda em Economia Doméstica (UFRPE) – [email protected]
Economista Doméstica (UFV-MG), Mestre em Extensão Rural (UFV-MG), Professora Assistente do
Departamento de Ciências Domésticas (UFRPE) – [email protected]
3
Economista Doméstica (UFV-MG), Mestre em Ciências Sociais (UFBA), Professora Assistente do
Departamento de Ciências Domésticas (UFRPE) - [email protected]
4
Nutricionista (UFPE), Mestre em Nutrição (UFPE), Doutora em Nutrição (UFPE), Professora Adjunta do
Departamento de Ciências Domésticas (UFRPE) - [email protected]
2
1
Este processo tem origem nas mudanças em curso na sociedade, mudanças estas que
apresentam em meio a seus principais elementos, um padrão de transição nutricional global
que impulsiona, entre diferentes aspectos, a epidemia da obesidade. Quadro acelerado e
impulsionado por fatores como o crescimento econômico, a modernização e a globalização
dos fast foods, além de outros padrões arriscados de consumo referentes à alimentação.
Fatores como a estabilidade econômica proporcionada pela industrialização, vários fatores
sociais, tais como, a constante diminuição de tempo para tarefas domésticas, provocada
principalmente pelo aumento do número de mulheres que trabalham fora dos domicílios, o
crescente número de pessoas que moram sozinhas, aumento da distância entre a unidade
doméstica e local de trabalho. O fator renda que exerce uma forte influência na escolha dos
alimentos e acaba determinando a quantidade e qualidade dos itens que chegam à mesa da
população brasileira menos privilegiada (FERNANDES, 2008; SANTOS, 1995, 2003), entre
outras questões que de forma combinadas vem contribuindo para alterações nos padrões de
consumo alimentar.
Diante deste quadro é necessário pensar em mudanças que atuem no sentido da
promoção da saúde e de uma alimentação mais equilibrada, no sentido de valorizar os modos
de vida saudáveis e do monitoramento da situação alimentar e nutricional da população
brasileira (CANO, et.al., 2005). Daí a importância da promoção da condição de Segurança
Alimentar e Nutricional para todos/as cidadãos/ãs e que a mesma seja compreendida como a
garantia de que por meio de políticas públicas adequadas, o Direito Humano à Alimentação
(DHA) seja efetivamente assegurado, o como salienta Flávio Valente (2002), é, antes de tudo,
um dever do Estado e da sociedade.
Isso posto, o presente trabalho teve como objetivo realizar um levantamento sobre
alimentação, dessas crianças matriculadas na rede particular de ensino infantil na cidade de
Recife e verificar o significado ou percepção, por parte dos seus/suas pais/mães e ou
responsáveis sobre a importância dos bons hábitos alimentares. Será considerado o processo
de implementação da portaria de nº. 1.010, de oito de maio de 2006, nessas escolas, levando
em conta a qualidade de vida através de uma alimentação saudável, a fim de analisar as
práticas alimentares das crianças na escola e em casa e o discurso presente na orientação dos
cardápios por parte das escolas e dos pais/mães/responsáveis, considerando as preferências e o
grau de aceitação dos alimentos pelas crianças que freqüentam as escolas, identificando assim
2
a influência da família na alimentação da escola, destacando a importância da alimentação de
qualidade nessa fase da vida.
2 REVISÃO DE LITERATURA
O consumo alimentar no Brasil está relacionado diretamente a fatores sócioeconômicos, e a fome atualmente é resultante não só da pouca disponibilidade de alimentos
para os grupos de baixa renda, mas também da redução da qualidade dos alimentos,
excessivamente industrializados e, neste caso, de fácil acesso a esta parcela da população.
Muitas vezes com um custo menos elevado e demandando menos tempo para seu preparo
acabam por tornarem-se, algumas vezes, os substitutos principais de refeições fundamentais
para toda a família. Isto se evidencia na prevalência de anemia e obesidade como grandes
problemas de saúde pública, atingindo todos os estratos sociais (CORREA, et. AL., 2008).
Onde se tem observado que nos últimos anos vem ocorrendo uma grande preocupação,
por parte das famílias em relação aos hábitos alimentares, principalmente os dos/as filhos/as
durante a fase da infância, já que o mau hábito alimentar acarreta inúmeros problemas à saúde
e são formados principalmente neste período (GOMES, 2005). Paralelo a todo esse processo,
a família foi passando por transformações importantes que se relacionaram com o contexto
sócio-econômico-político do país (PEQUENO, 2008).
Um grande exemplo disso são as mulheres irem à busca de realização profissional,
passando a ter uma dupla jornada de trabalho, se dando principalmente a constituição de um
modelo de sociedade patriarcal, onde as mulheres passam a assumir as tarefas domésticas
mesmo quando contribuem com o orçamento familiar. Neste caso, enquanto trabalhadoras no
espaço público permanecem responsáveis pelo trabalho doméstico, ainda que tenham menos
tempo para cuidar da casa e dos/as seus/suas filhos/as, deixando esses/as por mais tempo em
instituições de ensino, que compartilha cada vez mais o papel de socialização e educação das
crianças, que antes cabia quase que exclusivamente às famílias, e, sob a égide das mulheres e
mães. Todos esses aspectos ressaltados anteriormente contribuem para a mudança dos hábitos
alimentares na infância que se justifica, entre outros fatores, pela infância ser vista como um
dos períodos que é demanda maior atenção com relação à composição das refeições que
constitui a dieta alimentar. Por ser a fase onde ocorre a formação e crescimento, etapa em que
o ser humano necessita de muitos cuidados, principalmente, com a alimentação, o que
justifica a relevância e esforço no sentido de construção de um padrão alimentar que priorize
3
bons hábitos alimentares, no intuito de permanecerem por toda vida, e é com base nisso que a
escola assume um papel fundamental.
A necessidade e urgência de que a escola assuma junto à família este papel, justificase pela centralidade que este espaço assume na contemporaneidade, no que diz respeito à
formação da criança e ainda, por ser a educação alimentar um trabalho com características de
processo, com possibilidade de consolidação apenas com esforço integrado e realização a
longo prazo.
A escola precisa intervir na cultura e nas atitudes dessas crianças a fim de elaborar e
desenvolver projetos relacionados a esta temática, para que a alimentação seja realizada de
forma progressiva, tanto em quantidade, quanto em valor nutritivo, priorizando, por ser
essencial para o crescimento e desenvolvimento da criança, uma alimentação qualitativa e
quantitativamente adequada, respeitando horários e o número de refeições a serem realizadas,
restringindo à oferta de alimentos ricos em gorduras, açúcares e sal. Estimulando o consumo
de alimentos e refeições equilibradas na escola, como cereais, verduras, legumes, carnes,
leguminosas e frutas, além da ênfase aos alimentos regionais (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2008). Pois irá proporcionar ao organismo, a energia e os nutrientes necessários para o
desempenho de suas funções e para a manutenção de um bom estado de saúde (OLIVEIRA,
2005; GOMES, 2005), contribuindo para a construção e consolidação dos referidos hábitos
alimentares saudáveis.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) no documento a “Estratégia Global
em Dieta, Atividade Física e Saúde” de 2003, é necessária uma alimentação saudável,
completa, variada e agradável ao paladar para que se viabilize a promoção da saúde5, bem
como a percepção da importância da educação alimentar e nutricional para a formação de
bons hábitos alimentares. No que diz respeito à infância é necessário já nos primeiros anos de
vida alimentar-se de forma balanceada, o que ajudará no crescimento e desenvolvimento,
além de proporcionar condições plenas para o incremento das atividades intelectuais e a
incorporação destes hábitos saudáveis enquanto comportamento aprendido.
5
A Promoção de Saúde é o conjunto de ações, intervenções, propostas, processos e movimentos que, atacando as
causas mais básicas das doenças e apontando para novas formas ou condições de trabalho, de vida e de
relacionamento do homem consigo mesmo, com seus semelhantes e com o meio ambiente, podem influenciar
decisões individuais, grupais e coletivas que objetivem melhorar a qualidade de vida dos seres humanos.
(CASTRO, et al., 2006).
4
Sendo assim é importante que as escolas assumam um papel importante na vida das
crianças, mas a escola não é, e nem deve ser a única responsável, os pais e as mães também
não devem estimular o consumo de guloseimas em excesso e fora do horário das principais
refeições, como durante visitas, em passeios, festas, idas ao cinema ou ao shopping, evitando
o consumo de alimentos de baixo valor.
Sendo importante que a escola defina estratégias, em conjunto com a comunidade
escolar, para favorecer escolhas saudáveis das crianças, o que deve ser feito de forma
conjunta com a ampliação das estratégias de comunicação com as famílias dos/as estudantes.
(OLIVEIRA, 2005; PASSOS, 2006).
Pois a ingestão de uma alimentação saudável é importante desde a infância, período
que constitui a base da formação do ser humano, pois esta é a fase em que se formam os
hábitos alimentares, sendo fundamental então a contribuição dos familiares e da escola no
repasse e construção dessas informações no sentido de viabilizar a possibilidade de que esta
criança conheça e desfrute de alimentos naturais e saudáveis em sua rotina alimentar
(MASCARENHAS, 2006). A prática de uma alimentação inadequada, com o consumo de
alimentos com alta taxa de gordura, açúcar e sal podem causar muitos males à saúde da
pessoa que consome tais alimentos de forma desequilibrada, causando doenças como diabetes,
cárie, hipertensão arterial, alterações ortopédicas, aumento dos níveis de colesterol e
triglicerídeos, problemas cardiovasculares e emocionais na adolescência e na vida adulta.
Podendo também ocasionar carências ou excessos de nutrientes, levando às enfermidades
como desnutrição e obesidade, já que a obesidade deixou de ser um problema de saúde das
pessoas adultas e passou a ser também uma doença infantil.
Alguns estudos identificam que 15% das crianças brasileiras sofrem de obesidade ou
têm sobrepeso, portanto, uma criança que não possui uma nutrição saudável tem maior risco
de ter problemas relativos à saúde do que aquela que tem uma alimentação adequada. Em
curto prazo, a má nutrição favorece o aparecimento das infecções e num prazo maior, pode
levar a um atraso no crescimento e desenvolvimento da criança (PASSOS, 2006). Baseada na
portaria Interministerial MS/ME Nº. 1.010, de oito de maio de 2006, publicado no DOU
09.05.2006 que Institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas
de Educação Infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, entre crianças
e adolescentes as doenças crônicas não transmissíveis são passíveis de serem prevenidas, a
partir de mudanças nos padrões de alimentação, propondo então que a alimentação não se
5
reduza à questão puramente nutricional, mas sim a um ato social, que esteja inserido em um
contexto cultural e que o ambiente escolar tenha a função pedagógica, devendo estar inserida
nas diretrizes curriculares, favorecendo o desenvolvimento de ações que promovam e
garantam a adoção de práticas alimentares mais saudáveis no espaço escolar.
3 METODOLOGIA
O projeto foi dividido em duas etapas. No primeiro momento, realizou-se um
levantamento sobre o perfil alimentar de crianças em escolas da rede particular de ensino na
cidade de Recife em diferentes bairros. Inicialmente selecionou-se as escolas em que seria
realizado o levantamento referente ao processo de incorporação da referida portaria, esta
seleção levou em conta aspectos sobre o nível sócio econômico de cada escola, e a
diferenciação destes níveis de renda em diferentes regiões. Em seguida estabeleceu-se contato
com o/a responsável cabível de cada escola, onde solicitamos permissão, para o possível
estudo, autorizada a pesquisa, utilizou-se de entrevista semi-estruturada com funcionários/as
responsáveis pelo preparo das refeições diárias das escolas e com os/as profissionais
responsáveis pela elaboração dos cardápios. As questões abordavam os seguintes pontos: As
práticas alimentares; O papel que a família e sociedade desempenham na alimentação das
crianças; Como é feita a fiscalização das condições higiênico-sanitárias dos alimentos e do
ambiente escolar, em relação à segurança alimentar; entre outras.
No segundo momento, aplicou-se um questionário com os pais e mães, ou outro/a
responsável, das crianças. As questões abordavam os seguintes pontos: Quem prepara a
alimentação da criança, onde é feita essa alimentação; Se os alimentos que as crianças
consomem são exclusivamente da escola; Onde as crianças se alimentam melhor. Para daí
compreendermos a preocupação por parte dos/das/e pais/mães/responsáveis em promover
uma alimentação saudável para o desenvolvimento educacional e social como um todo de
seus filhos e, é claro, na prevenção de doenças que os poderiam afastar do convívio escolar.
Os dados coletados nestas duas primeiras etapas foram analisados para viabilizar a percepção
de como é vivenciado a questão de incorporação do discurso de uma alimentação saudável
enquanto prática na relação pais, mães e/ou outros/as responsáveis e filhos/ filhas. E a partir
daí sistematizar todos os dados, para ter elementos para ampliação das possibilidades de
interpretação e compreensão do objeto de estudo proposto.
6
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir de pesquisa realizada em escolas infantis dos bairros do Recife, através de
entrevistas semi-estruturadas e questionários, apresentaremos a análise dos resultados obtidos.
Observou-se que das cinco escolas entrevistadas, só duas têm uma pessoa qualificada como
Nutricionista, Economista Doméstico/a, e/ou outro/a profissional da área, encarregado/a pela
alimentação das crianças, em outras três escolas, eram as diretoras que ficavam responsáveis
em realizar tal tarefa. Somente em uma escola pesquisada, identificou-se que os alimentos são
exclusivos da escola, pois nas outras os pais/mães/responsáveis é que trazem, fazendo da
escola uma extensão da própria casa, pois é nesse ambiente que são feitas a maioria das
refeições das crianças. Todos/as os/as pais/mães/responsáveis se declararam reconhecer a
importância de se buscar uma alimentação diversificada e equilibrada, para as crianças, com o
intuito que elas cresçam e se desenvolvam de forma correta. A minoria dos/as
pais/mães/responsáveis entrevistados/as relataram que proporcionam uma alimentação
saudável para seus/as filhos/as buscando um cardápio diversificado com alimentos que
suprem as necessidades do organismo, promovendo o consumo de frutas, legumes, verduras e
outros alimentos saudáveis.
Ao se questionar nas entrevistas aos/as pais/mães e/ou responsáveis, a respeito de
aonde eles acreditam que as crianças realizam uma alimentação com maior qualidade,
todos/as declararam que a alimentação mais adequada é feita em casa, mas, no entanto não é o
que os próprios/as demonstram na prática de levarem os alimentos para as crianças nas
escolas. Essa prática revela os tipos de alimentos que se tem em casa e consequentemente o
consumo de um alto índice de alimentos inadequados, como os salgadinhos, biscoitos,
refrigerantes, por exemplo, raramente os/as pais/mães e/ou responsáveis levam um alimento
mais saudável.
Um dado importante diz respeito à percepção das/os diretoras/es, professoras/es, e
merendeiras em relação aos hábitos alimentares das crianças, após os finais de semana. Poisa
algumas famílias associam alimentação ao lazer, fazendo diversos programas com as crianças,
que vão desde ir às lanchonetes, optando pelo consumo de um cardápio rico em gorduras,
açúcares, sal. Percebendo um grande número de vezes que a criança come em fast-food, e
com isso um alto consumo de lanches e refrigerante e um baixo consumo de verduras e frutas,
afirmando ainda mais, as preferências alimentares das crianças, por alimentos que eles/elas
7
mais gostam, como refrigerantes, biscoitos, salgadinhos e iogurte, e os que eles/elas menos
gostam, às verduras, frutas, feijão e carnes. Um dado curioso é que a maioria dos
entrevistados/as responderam que não tem dificuldade em alimentar seus filhos/as, em relação
aos gostos alimentares deles/as, ao mesmo tempo, diziam que muitas vezes os/as seus/suas
filho/as não comem a mesma comida que os outros/as da casa, pois estes/as não gostam de
determinados alimentos, por possuírem preferências alimentares diferentes das consumidas
pela maioria dos/as integrantes da família em casa.
Em relação ao consumo de alimentos denominados “fortes” que tem o sentido de
sustentar as crianças, segundo os/as pais/mães/responsáveis, estes alimentos são constituídos
por feijão, arroz, carne, e estes são utilizados nas refeições da família. Esse dado nos leva a
inferir que o consumo de alimentos “fortes” não é muito diversificado onde se limitam a
determinados alimentos. E sobre o consumo de alimentos considerados “bons” para a
alimentação, os pais/mães/responsáveis mostram que sabem como proporcionarem uma
alimentação saudável que seja adequada para seus/suas filhos/as, mas, no entanto nota-se que
isso não se aplica aos filhos/as, pois os mesmos não comem e os pais não estimulam o
consumo de tais alimentos. Dentre as apreensões com a alimentação, vivenciamos uma
preocupação das escolas em relação às condições higiênico-sanitárias dos alimentos e do
ambiente escolar, mas, ao mesmo tempo em que se preocupam, poucas escolas efetivamente
desenvolvem algum trabalho educativo com os/as/e pais/mães/responsáveis, crianças e
funcionários/as, a fim de ter uma qualidade na higiene dos alimentos e do ambiente escolar.
Somente em duas escolas, foi possível perceber uma maior preocupação por parte dos/das
diretores/as e professores/as, em relação à qualidade dos alimentos que as crianças
consomem, pois estas trabalham com isso, fazendo capacitação de boas práticas, com a
utilização de um manual de boas práticas, que a própria escola elaborou.
Observou-se também que a maioria dos/as entrevistados/as eram mulheres e em todos
os questionários aplicados ficou evidente que são as mulheres as encarregadas da alimentação
da criança, e normalmente as refeições das crianças são feitas sempre acompanhado/a de uma
mulher (mãe, vovó, tia, babá, empregada, etc.). Já que, as mulheres tanto da zona urbana
quanto rural, sejam elas trabalhadoras rurais, assalariadas, pescadoras, autônomas,
profissionais e donas de casa, são consideradas socialmente fundamentais na cadeia alimentar
da família. Como a alimentação é algo que diz respeito a homens e mulheres das diferentes
classes sociais, raças, etnias e gerações, deveria ser, portanto, uma tarefa de todos e todas
8
(SILVA, 2009). Isso nos leva a pensar na representação e na associação que a sociedade faz
das mulheres em relação à preparação dos alimentos e/ou refeições na esfera reprodutiva
doméstica como práticas conseqüentes das relações desiguais de gênero. Por sua vez, esta
divisão desdobra-se na divisão do trabalho produtivo, identificado como masculino o espaço
público, e o trabalho doméstico-reprodutivo significado como feminino e identificado como
privado.
6 CONCLUSÃO
A realidade das escolas pesquisadas ainda não está dentro dos padrões adequados de
uma alimentação saudável para seus/suas estudantes, como apresentado pela portaria
Interministerial MS/ME Nº. 1.010, de 8 de maio de 2006 publicado no DOU 09.05.2006. E
mesmo os pais/mães/responsáveis apresentarem um aumento nas exigências alimentares com
uma maior conscientização sobre a importância dos bons hábitos dos seus filhos/as dos/as
pais/mães/responsáveis crianças, só uma minoria entre eles/as proporcionam uma alimentação
equilibrada, buscando um cardápio diversificado com alimentos que suprem as necessidades
do organismo dos/as seus/suas filhos/as. Podendo dizer que o discurso da promoção da
alimentação saudável não se aplica a prática tanto dos/das/e pais/mães/responsáveis como da
escola em relação aos seus/suas filhos/as e estudantes.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Portaria Interministerial MS/ME Nº. 1.010, de 8 de maio de 2006 publicado no
DOU 09.05.2006. Disponível em: <http://www.sieeesp.org.br> Acesso em: 12 set. 2008.
CANO, M. A. T.; PEREIRA, C. H. C.; SILVA, C. C. C.; PIMENTA, J. N.; MARANHA, P.
S. Estudo nutricional de crianças na idade escolar na cidade de Franca-SP: Uma introdução ao
problema. Revista de Enfermagem, v.07, n.02, p.179-184, 2005.
CASTRO, A.; MALO, M. SUS: Ressignificando a promoção da saúde. SP: Ed. Hucitec, 2006
CORREA, A. M. S. ; COSTA, R. S. Democracia viva. Novas possibilidades de alimentação a
caminho. n.39, 2008. Disponível em: <http://
www.ibase.br/userimages/DV_39_indicadores2.pdf> Acesso em: 05. jun. 2009.
FERNANDES, M. M. Obesidade e hábitos alimentares: questão cultural em um processo de
globalização. Revista Digital - Buenos Aires, n. 127, 2008. Disponível em: <http://
9
www.efdeportes.com/efd127/obesidade-e-habitos-alimentares.htm>. Acesso em: 05. jun.
2009.
GOMES, D. M.; BASTOS, K. P. L.; SOUZA, E. C. G.; PAIXÃO, J. A.; ARÊDES, E. M. O
papel da escola na formação do bom hábito alimentar. Rev. Cien. da FAMINAS, v. 01, n. 1,
p. 28, 2005.
MASCARENHAS, J. M. O. Santos J. C. Avaliação da composição nutricional dos cardápios
e custos da alimentação escolar da rede municipal de Conceição do Jacuípe/Ba. Sitientibus,
Feira de Santana, n.35, p.75-90, 2006.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dez Passos para a Promoção da Alimentação Saudável nas
Escolas. Disponível em: < http://nutricao/documentos/dez_passos_pas_escolas.pdf>. Acesso
em: 20 ago.2008.
OLIVEIRA, I. S.; BORGES, L. E.; MOURA, A. L. M. T.; MAGALHÃES, M. E. N.; MELO,
E. M. C. Alimentação saudável em crianças de dois a três anos. 8° Enc. de Ext. UFMG, BH,
2005. Disp. em: http//www.ufmg.br/proex/arquivo/8Encontro/Saúde_6.pdf. Acesso em: 15
jun. 2009.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Documento preliminar para a "Estratégia Global
em Dieta, Atividade Física e Saúde. In: Prevenção Integrada de Doenças Não Comunicáveis,
Genebra, 2003. Disponível em: <http://www.fomezero.gov.br.> Acesso em: 10 jul. 2009.
PASSOS, E.; MAGALHÃES, N. P.; GONÇALES, N. M. E. F.; MOURA, V. H. V.; SILVA,
E B. Alimentação saudável nas escolas. Brasília, n. 170, 2006. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/web/cegraf/ril/Pdf/pdf_170/R170-23.pdf.Acesso em: 9 mai. 2009.
PEQUENO, A. C. A. Educação e Família: Uma união fundamental. Disponível em:<
www.ines.gov. br>. Acesso: 20 ago. 2008.
SANTOS, S. L. ; BATALHA, M. O. Mudanças nos padrões de consumo alimentar da
população das regiões metropolitanas do Brasil, 1995/2003. Disponível em: <http: //
www.sober.org.br/palestra/2/680.pdf>. Acesso em 05. jun. 2009.
SILVA, M. Z. T.; ARRAZOLA, L. S. D. Mulher, Política Pública de Segurança Alimentar
e Relações de Gênero. Disponível em:<http://www.fazendogenero7.ufsc.br >Acesso em: 09
jul. 2009.
10
VALENTE, F. L.S. A política de insegurança alimentar e nutricional no Brasil de 1995 a
2002. SP, p. 37-70, 2002. Disponível em: <www.fomezero.gov.br>. Acesso em: 5 jun. 2009.
11
Download