Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 Netnografia: A Pesquisa de Marketing em Comunidades Virtuais Resumo: Apesar de a pesquisa quantitativa prevalecer sobre métodos qualitativos no âmbito do marketing, estudos etnográficos nessa área têm apresentado um crescimento muito significativo. Com a revolução digital, surge a netnografia, método que adapta as premissas da etnografia tradicional às contingências do ambiente virtual. Assim, o objetivo deste ensaio é discutir o método netnográfico no âmbito da pesquisa em marketing, apresentando suas principais características, benefícios e limites. Após um levantamento bibliográfico acerca do tema, concluiu-se que a netnografia pode representar uma extensão eficaz da etnografia para a consecução de pesquisas em marketing com determinados sujeitos em diferentes locais de interação social. Palavras-Chave: Pesquisa de Marketing. Comunidades Virtuais. Netnografia. Etnografia. 1. Introdução Frente a áreas de estudo tradicionais como a antropologia e sociologia, por exemplo, a administração - em especial o marketing – podem ser vistos como campos de estudos relativamente jovens (IKEDA, PEREIRA e GIL, 2006). Estudos que pretendem entender melhor um significado ou comportamento de consumo de um determinado grupo através da cultura podem ser orientados metodologicamente e filosoficamente pela etnografia (ATKINSON e HAMMERSLEY, 1994; MARIAMPOLSKI, 1999; GOULDING, 2005). Apesar de a pesquisa quantitativa prevalecer sobre métodos qualitativos tanto na indústria como na academia (BELK, 2013), “estudos que se autodefinem como etnográficos têm apresentado um crescimento muito significativo no âmbito da empresa e das publicações especializadas da área.” (ROCHA e BARROS, 2006, p. 37). Especificamente no âmbito do Marketing, Barbosa (2003, p. 100) destaca que o crescimento da preferência por abordagens etnográficas está baseado “na evidência dos limites da abordagem economicista na explicação do consumo e do comportamento do consumidor em um mundo cada dia mais complexo e inter-relacionado.” Isto significa que há uma preocupação maior em entender não somente o que se consome, mas porque se consome. Contudo, conforme destacam Pinto e Barros (2008), devido à crescente utilização da etnografia em diversos campos das ciências sociais, não se pode falar em etnografia como um método uniforme, pois existe uma variedade de “etnografias” adaptadas a vários contextos de pesquisa. Com a revolução digital, não somente a maneira de se fazer negócios mudou, mas o próprio comportamento do consumidor vem sofrendo mudanças significativas, seja no “mundo real”, seja no “mundo virtual” (SOLOMON, 2002). Dessa maneira, entender as atividades do consumidor no ambiente virtual torna-se também importante para uma melhor compreensão de seu comportamento. Diante desse contexto de crescimento da participação do consumidor no ambiente online e da importância dada às abordagens etnográficas para melhor entendimento do comportamento do consumidor por pesquisadores de marketing, surge um tipo de etnografia adaptado ao ambiente virtual: a Netnografia. A netnografia, de acordo com seu desenvolvedor, Kozinets (2006, p. 281), pode ser descrita como “um método qualitativo interpretativo que adapta as tradicionais técnicas antropológicas da pesquisa etnográfica ao estudo de culturas online e comunidades virtuais”. 1 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 Assim, o objetivo deste ensaio é discutir o método netnográfico no âmbito da pesquisa em marketing, apresentando suas principais características, benefícios e limites. Para isso, após esta introdução, será apresentada uma breve caracterização do método etnográfico. Em seguida, será discutido o uso de abordagens etnográficas no âmbito do marketing. A quarta seção tratará da netnografia, suas características, vantagens e limitações. Na última seção serão apresentadas as principais conclusões deste ensaio. 2. Fundamentação Teórica 2.1 A Etnografia A palavra etnografia deriva da combinação do termo grego ethnos - que denota uma pessoa, raça ou grupo cultural – com grafia – que significa escrita, representação. Assim, etnografia significa o estudo das culturas (BELK et al, 2013). O método etnográfico emergiu da antropologia e sua sistematização é atribuída a Bronislaw Malinovisk, que publicou em 1922 a obra “Argonauts of the Western Pacific”, resultado de um estudo realizado junto aos nativos das ilhas Trobriand (ROCHA e BARROS, 2006), o qual inspirou a perspectiva de estudo situada dentro da cultura do nativo (FREITAS e LEÃO, 2012). Inicialmente associada a estudos sobre tribos indígenas e suas respectivas culturas, a etnografia começou a ser aplicada em outros espaços de pesquisa. A Escola de Chicago, por exemplo, adaptou o método etnográfico para entender o contexto urbano da sociedade industrial diante da crescente complexidade das metrópoles (ROCHA e BARROS, 2006). No âmbito do marketing, a etnografia surge com a consciência da importância da compreensão da lógica e dos valores atribuídos aos produtos e serviços, bem como seus usos e práticas a que são submetidos (BARBOSA, 2003). Contudo, conforme argumentado anteriormente, existem “várias etnografias”, e isso implica que a etnografia orientada para marketing difere das abordagens originalmente concebidas no âmbito da Antropologia. A etnografia tem interesse particular no estudo da cultura (PETTIGREW & COWAN, 2000) e, do ponto de vista metodológico, “consiste no processo de observar, participar e entrevistar o ‘nativo’ em suas condições reais de existência, tentando entender e mapear a completude de sua vida.” (BARBOSA, 2003, p. 100). Pode-se ainda apontar como característica da etnografia a tendência de se trabalhar com dados que não foram codificados de maneira a compor categorias analíticas (PEREIRA e AYROSA, 2012). Alguns autores se apropriam do chamado “olhar etnográfico”, que significa mais uma postura do que uma técnica, isto é, postura esta que concebe a realidade segundo a definição coletiva de seus próprios atores (LOURENÇO et al, 2008) evitando classificações a priori sobre o grupo ou o objeto de estudo (BARBOSA, 2003). Em outras palavras, a descrição densa da cultura observada é o resultado da interpretação da realidade coletivamente construída dentro de um contexto cultural específico. Uma descrição densa não se trata meramente de descrever minuciosamente os aspectos de uma cultura, mas de entender tudo aquilo que foi observado dentro de um sistema de significados que explique as razões dos comportamentos estudados (PINTO e BARROS, 2008). De acordo com Arnould e Wallendorf (1994), as principais características da etnografia são: 1. Coleta sistemática de dados no contexto natural das interações do grupo estudado; 2 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 2. Observação participante do pesquisador durante longos períodos em um contexto cultural específico; 3. Produção de interpretações confiáveis sobre o público estudado para os informantes e para o público que utilizará o estudo; 4. Uso de várias fontes de dados. Já Rocha e Barros (2006) apontam como características do método etnográfico: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Ênfase na exploração da natureza de um fenômeno social particular; Entrevistas em profundidade; Observação participante; Investigação em detalhe; Perspectiva microscópica; Interpretação de significados e práticas sociais como expressos nos discursos dos informantes. Barbosa (2003) argumenta que a etnografia envolve o mapeamento de categorias, compreensão de como esse sistema classificatório é apropriado no fluxo da vida social por diferentes atores, em diversos contextos, a que fins eles são postos e quais as disputas simbólicas que se estabelecem ao redor deles. Freitas e Leão (2012) sustentam que o estudo etnográfico pressupõe a inserção do pesquisador no contexto microscópico observado no sentido de que a vida do grupo seja vista “de dentro” e por meio dos indivíduos, ou seja, como são constituídos os pensamentos e valores do grupo. Belk et al (2013) apontam o engajamento, a imersão e a participação como características essenciais da etnografia, sendo que o etnógrafo busca se aculturar e se socializar através do encontro etnográfico. Belk et al (2013, p. 65) também destacam que “intimidade e engajamento são os objetivos; empatia e confianças são os meios” enfatizando a importância de o pesquisador construir um relacionamento com o grupo pesquisado baseado na proximidade e na confiança mútua. Mesmo considerando que as visões anteriores possam dar ênfase a aspectos diferentes da etnografia, pode-se enumerar algumas características que parecem comum a essas perspectivas: Abordagem microscópica de um fenômeno social; Mapeamento de significados e interpretação das práticas grupais segundo seus membros; Concepção da realidade como um construto social; Contato prolongado do pesquisador com o campo; Utilização de uma variedade de fontes de coleta de dados; Estudo das interações simbólicas dos indivíduos no contexto do grupo estudado; Interferência do pesquisador no contexto da pesquisa e engajamento do pesquisador no grupo observado; Relação de confiança entre o pesquisador e os informantes. Nesse sentido, uma definição de etnografia apropriada à proposta deste ensaio é a seguinte: A etnografia é concebida como um método de pesquisa e análise de dados, que se utiliza da descrição densa, significando que o 3 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 pesquisador conceberá as culturas como teias de significados, frutos da vida em sociedade dos indivíduos, guiadas por seus conjuntos de valores, os quais serão alvo da interpretação do pesquisador, sendo estes conjuntos, mesmo antes, produto das interpretações de sua sociedade. (FREITAS e LEÃO 2012, p. 214) Por esta definição, pode-se notar que a etnografia não constitui necessariamente um método qualitativo de coleta de dados e sim um estilo de pesquisa. Brewer (apud BELK et al, 2013, p. 68) argumenta que: A etnografia não é um tipo particular de método de coleta de dados, mas um estilo de pesquisa com objetivos distintos que visam compreender significados sociais e as ações das pessoas em um determinado contexto e uma abordagem que envolve participação e proximidade com este contexto. Assim, cabe ressaltar que este ensaio pretende apresentar a etnografia como um estilo de pesquisa. Como apontam Lourenço et al. (2008), a principal ferramenta de coleta da etnografia é a observação participante e como principal ferramenta de análise, a análise de conteúdo. Por observação participante entende-se a participação e interação do pesquisador com o grupo estudado, enquanto que análise de conteúdo significa a identificação de categorias e instâncias nos dados por meio da desagregação do texto em fragmentos e posterior reagrupamento das categorias por temas, o que constitui a base para a interpretação dos fenômenos (LOURENÇO et al, 2008). Por outro lado, Vieira & Pereira (2004) apontam como principais técnicas de coleta da etnografia a observação participante e a entrevista em profundidade, e como principais técnicas de coleta a análise do discurso dos informantes e a análise de imagens. O uso de imagens é geralmente utilizado para representar o lugar onde as interações sociais ocorrem, para fins de contextualização ou ainda para atribuir precisão às descrições e interpretações do pesquisador, funcionando como um valioso suporte às análises dos discursos dos atores envolvidos na interação descrita (VIEIRA e PEREIRA, 2004). Elliot & Jankel-Elliot (2003) apresentam uma descrição das possibilidades metodológicas de coleta de dados associadas à etnografia, as quais seguem: Observação Participante: Constitui a essência do método etnográfico. É uma abordagem na qual o pesquisador está diretamente envolvido na vida da comunidade, observando e conversando com as pessoas para aprender sobre a realidade do grupo sob o ponto de vista delas. Observação Não-participante: Trata-se de uma abordagem não-intrusiva adequada para contextos em que a presença de um outsider possa atrapalhar ou mesmo destruir a essência do comportamento que está sendo estudado. Como exemplos desse tipo de situação, podemos apontar um estudo que visa compreender como pais trocam as fraldas de seus bebês ou como pais e filhos se comportam durante a compra de brinquedos. Entrevistas: Geralmente caracterizadas por questões não-diretivas e um roteiro flexível, as entrevistas podem ser utilizadas na etnografia como forma complementar à observação para que se obtenha maior entendimento sobre o significado dos comportamentos. 4 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 Conversas Casuais: Caracterizam-se por não terem um roteiro pré-definido, mas um repertório de estratégias de perguntas-repostas para o pesquisador selecionar quando o momento parecer apropriado. Diários de Informantes: Trata-se de solicitar aos informantes que eles mantenham diários os quais possam registrar informações relevantes para a pesquisa. Quasi-Etnografia: Significa uma adaptação das características originais do método etnográfico visando torná-las viáveis dentro de outros contextos de pesquisa. Um exemplo é a realização de uma observação participante por um tempo relativamente curto devido a restrições financeiras ou necessidade de respostas rápidas no contexto competitivo do mercado ao invés de seguir a recomendação tradicional da Antropologia de que o pesquisador deve permanecer por um tempo prolongado no campo. Para o registro de dados, Elliot & Jankel-Elliot (2003) recomendam: Notas de Campo: trata-se do registro escrito de eventos sociais relevantes logo após sua ocorrência. Diário de Campo: é o diário pessoal do pesquisador onde podem ser registradas as experiências cognitivas e emocionais do trabalho de campo. Fotografias e Vídeos: são dados visuais que podem ser extremamente úteis no desenvolvimento de interpretações, pois podem registrar o fluxo temporal dos eventos, interações pessoa-objeto e momentos culturalmente significantes. Belk et al. (2013) reitera a importância das notas de campo apontada por Elliot & Jankel-Elliot para o estilo etnográfico de pesquisa afirmando que estas têm a função de registrar todas as experiências sensoriais, sociais e comunicativas vivenciadas pelo pesquisador no sentido de permitir um processo de interpretação reflexiva sobre o trabalho de campo. Quanto à questão do tempo prolongado de imersão no campo, Belk et al (2013) sugerem que não há como precisar o tempo necessário para que se alcance a saturação teórica. A saturação teórica está relacionada à compreensão do fenômeno social estudado pelo pesquisador, pois a “pesquisa etnográfica é baseada na imersão no campo onde ocorre determinado fenômeno por uma quantidade de tempo suficiente para se desenvolver uma compreensão profunda deste fenômeno, grupo ou cultura” (BELK et al, 2013, p. 70). Assim, o tempo necessário de permanência do pesquisador no campo está relacionado à qualidade da aprendizagem do pesquisador sobre o fenômeno estudado. Nota-se que a pesquisa etnográfica possui características bastante flexíveis quanto ao tempo de contato com o campo, assim como à escolha metodológica para coleta dos dados qualitativos. Isso constitui um dos principais desafios da interpretação etnográfica: como obter uma interpretação confiável diante da combinação de dados obtidos através de múltiplos métodos? 5 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 Arnould e Wallendorf (1994) argumentam que enquanto as abordagens positivistas de pesquisa utilizam uma variedade de métodos para estabelecer uma validade convergente – geralmente realização de mensurações múltiplas por meio de um mesmo método com o objetivo de alcançar consistência interna, teste ou reteste de confiabilidade por meio da investigação de outros casos e refinamento de instrumentos de pesquisa – na pesquisa etnográfica, múltiplos métodos de coleta de dados são utilizados com o objetivo de acessar diferentes dimensões do fenômeno estudado, isto é, a pesquisa etnográfica utiliza cada tipo de dado para dar voz a uma perspectiva particular de uma cultura. Assim, Pettigrew & Cowan (2000) apontam algumas limitações da etnografia. Para os autores, em primeiro lugar, o engajamento interpretativo/subjetivo/parcial do pesquisador em um nível microssocial fornece apenas uma interpretação sobre o fenômeno, possivelmente uma de várias; em segundo lugar, a capacidade de o pesquisador tirar conclusões a partir de dados gerados via etnografia é controversa, já que se trata de um processo subjetivo de interpretação. Já para Elliot & Jankel-Elliot (2003), as principais limitações da etnografia são: a) é mais cara do que outras formas de pesquisa devido à sua natureza de “imersão”; b) pode gerar mais perguntas do que respostas; e c) não é capaz de fornecer resultados conclusivos. Pinto e Barros (2008) argumentam que pouco esforço tem sido feito no sentido de desenvolver conceitos formais e uma consequente estrutura teórica mais robusta para a aplicação da etnografia em questões de marketing. Contudo, mesmo diante das limitações anteriormente apresentadas, a etnografia vem sendo utilizada no marketing para que se compreenda a apropriação e construção de significados simbólicos pelos consumidores. A próxima seção trata da etnografia em marketing. 2.2 Etnografia em Marketing Conforme argumentado anteriormente, uma das áreas que vem apresentando grande interesse na pesquisa etnográfica é a área de marketing, principalmente no que diz respeito aos estudos de consumo (VIEIRA e PEREIRA, 2004). Lourenço et al (2008) argumentam que a aplicação da etnografia em marketing visa superar as limitações impostas por outras metodologias ao estudo do consumidor no sentido de que essas metodologias buscam explicar o comportamento do consumidor como racional, objetivo e independente do contexto sociocultural. A etnografia, por outro lado, estuda o consumo investigando “por dentro” o contexto cultural no qual o fenômeno acontece, considerando o consumidor enquanto membro de um grupo que constrói significados por meio do consumo. Para Pettigrew & Cowan (2000) a pesquisa etnográfica do consumidor baseia-se na premissa de que significados sociais encontrados nas posses das pessoas podem ser analisados como uma forma de comunicação cultural. Barbosa (2003) destaca que, enquanto o marketing tradicional concebe o consumidor como um sujeito racional, autônomo ou até mesmo com um sujeito passível de manipulação, o marketing etnográfico concebe o consumidor como o autor e ator de sua própria história, permanecendo em constante diálogo com a gramática sociocultural subjacente a produtos e serviços, tanto para corroborá-las como para rejeitá-las. Para o marketing etnográfico, a compra de bens pelo consumidor não se trata de mero procedimento racional de escolha individual que visa a satisfação de necessidades e desejos, pois envolve grande riqueza simbólica. Barbosa (2003, p. 103) argumenta que “produtos e 6 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 serviços não se encontram boiando em um vacum cultural. Ao contrário, encontram-se inseridos em sistemas de objetos e relações, no interior dos quais eles adquirem seus respectivos significados e funções.” Um produto representa a materialização da cultura, pois registra de maneira vital e tangível um significado cultural que sem ele seria intangível (MCCRACKEN, 2007). Outra diferenciação importante entre o marketing tradicional e o marketing etnográfico está na concepção do consumo. Para Barbosa (2003), enquanto o marketing tradicional concebe o consumo como um fim em si mesmo, o marketing etnográfico concebe o consumo como um instrumento de mediação para outro fim, como, por exemplo, a construção de uma identidade, a confirmação de identidades auto-atribuídas, a diferenciação social, e a satisfação de necessidades definidas socialmente. Para o marketing etnográfico, o consumo é um ato cultural que envolve uma complexidade de significados que podem fornecer uma imagem mais completa do consumidor enquanto ser social. Barbosa (2003) ainda destaca outro ponto de diferenciação entre o marketing tradicional e o marketing etnográfico relacionado à segmentação de mercado. Para a autora, o marketing tradicional emprega uma variada gama de instrumentos para acessar dados referentes à vida cotidiana das pessoas, assim como seus interesses e preferências, porém não possui nenhum instrumental teórico capaz de ligar todas essas informações em um todo coerente. Schoulten & McAlexander (1995, p. 59) argumentam que os consumidores “não podem ser simplesmente colocados em ‘caixas’ concebidas por sociólogos, profissionais de marketing ou demógrafos (...) Isso significa que categorizações relevantes não podem ser realizadas a não ser que sejam concebidas por meio de padrões de consumo”. Assim, o estudo dos padrões de consumo por meio de uma abordagem etnográfica traz oportunidades para que se compreenda “o porquê” se consome mais do que “o quê se consome”. No âmbito do Marketing, assim como em sua dimensão global, a pesquisa etnográfica também sofre questionamentos quanto à representação e legitimidade (VIEIRA e PEREIRA, 2004). Seu aspecto difuso no que diz respeito a padrões metodológicos constitui uma das principais críticas do mainstream do marketing (LOURENÇO et al, 2008). Além disso, sua aplicação com fins de marketing recebe também críticas por não seguir fielmente as premissas da tradição antropológica (como, por exemplo, o encurtamento do prazo de imersão no campo pelo pesquisador devido a restrições orçamentárias), o que deu origem aos termos “quasietnografia” ou “etnografia comercial” (ELLIOT & JANKEL-ELLIOT, 2003). Conforme argumentam Rocha & Barros (2006, p. 39), Ao realizar esses estudos, que se autodefiniam como etnográficos, os pesquisadores fizeram também duas outras coisas muito importantes. De um lado, acabaram em geral se afastando de algumas das características requeridas na tradição antropológica, sobretudo o tempo de convivência com seus nativos. Por outro lado, acabaram também ampliando as possibilidades de aplicação da etnografia em situações mais voltadas para os interesses do mercado de pesquisas em comportamento do consumidor. Assim, o debate sobre a aplicação da etnografia para fins de marketing é bastante inconclusivo, apresentando visões divergentes quanto à flexibilização ou não do método 7 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 etnográfico, sua validade científica e mesmo quanto à sua aceitação pelos gestores de marketing. Apesar de tais questionamentos, com a emergência das ciberculturas e comunidades virtuais online, surge um novo contexto de pesquisa de marketing que passa a exigir estilos de pesquisa adaptados às suas contingências. Um dos métodos surgidos com esta finalidade é a Netnografia, a qual será apresentada na próxima seção. 2.3 Netnografia: a pesquisa etnográfica em comunidades virtuais online O termo netnografia foi originalmente concebido por Robert V. Kozinets (ROCHA et al, 2005; KOZINETS, 2006 b) e designa a adaptação da metodologia tradicional da etnografia ao estudo de culturas e comunidades online formadas por meio da comunicação mediada por computadores (CMC), especificamente no âmbito dos estudos do consumo em marketing (Kozinets, 2006 a). As comunidades virtuais online compreendem as comunidades que somente existem e são construídas na medida em que seus membros estão online (NOVELI, 2010). Para Kozinets (1998), os critérios que caracterizam uma comunidade virtual são os seguintes: 1) 2) 3) 4) Familiaridade entre os indivíduos que a formam; Forma de comunicação que reflete a identidade da comunidade; Compartilhamento de uma linguagem, símbolos e normas comuns; Manutenção e preservação de fronteiras que delimitam o ingresso e a saída de membros; Dessa forma, a netnografia constitui uma adaptação da etnografia ao estudo de comunidades virtuais online, dado o contexto de evolução tecnológica que possibilita a formação destas por meio da comunicação baseada em computadores. Dessa afirmação surge naturalmente o debate sobre a relação entre o “mundo real” e o “mundo virtual”. Nesse sentido, Noveli (2010) argumenta que o online e off-line, o real versus virtual podem ser considerados como um continuum da mesma realidade. Não haveria, portanto, uma separação entre o “real” e o “virtual”, pois estes estariam relacionados, influenciando-se de maneira mútua. Noveli (2010) também destaca que a diferença da etnografia tradicional para a netnografia residiria justamente no espaço em que as comunidades se constituem, caracterizando as principais diferenças e necessidades específicas de cada método. Logo, a diferenciação de certas características entre os dois métodos se dão mais pelas restrições e contingências de cada espaço do que pela sua essência, sendo que “virtual” e “real” constituem espaços diferentes de uma mesma realidade. Com base no exposto anteriormente, Kozinets (1998) aponta três tipos gerais de estudos netnográficos que podem ser realizados com base em comunidades virtuais online de consumo, levando em consideração a relação mútua entre o “real” e o “virtual”. Em primeiro lugar, a netnografia pode ser usada para estudar comunidades virtuais “puras”, ou seja, comunidades que não existem no “mundo real” e são manifestadas exclusivamente por meio das comunicações mediadas por computador (CMC). A segunda possibilidade é o uso da netnografia como ferramenta metodológica para estudar comunidades virtuais “derivadas”, isto é, comunidades que existem no “mundo real” e no “mundo virtual” simultaneamente. Por fim, a terceira maneira com que a netnografia pode ser usada é como uma ferramenta exploratória para o estudo de tópicos gerais. 8 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 Outro conceito trazido por Kozinets (1998) que diz respeito às comunidades virtuais é a cibercultura. Para o autor, pode-se conceituar cibercultura como o compartilhamento de comportamentos padronizados, bem como de seus significados simbólicos associados, principalmente por meio da comunicação mediada por computador. Dessa forma, a cibercultura representa a cultura das comunidades virtuais. Dessa forma, considerando que a o foco da netnografia é o estudo de comunidades virtuais e ciberculturas construídas em torno do consumo, Kozinets (1998, 366) define netnografia da seguinte maneira: A Netnografia é uma adaptação dos métodos qualitativos utilizados nas pesquisas de consumo, na antropologia cultural e no estudo das culturas com o objetivo de permitir o estudo do comportamento do consumidor pertencente a comunidades virtuais online de modo contextualizado. A seguir, serão apresentados os procedimentos para a realização de uma pesquisa netnográfica. 2.3.1 Procedimentos da Netnografia Em seu trabalho intitulado The Field Behind the Screen: Using Netnography for Marketing Research in Online Communities, Kozinets (2002) descreveu quatro procedimentos para a realização da netnografia com base na comparação desta com o método etnográfico tradicional. São eles: a) entrada cultural; b) coleta e análise de dados; c) condução de uma pesquisa ética; e d) member check, isto é, oferecer a oportunidade para um membro da cibercultura estudada fornecer feedback. No texto intitulado Netnography 2.0 (2006 b), Kozinets atualiza os referidos procedimentos, bem como responde a algumas críticas feitas ao texto de 2002. Assim, serão apresentados a seguir os procedimentos da netnografia com base no texto mais recente citado, pois, como destaca o próprio autor (2006) o surgimento de novas tecnologias móveis, novas formas de relacionamento virtual (como Facebook e Twitter, por exemplo) e melhoradas ferramentas de buscas de informações (Google, por exemplo) criam uma necessidade de constante atualização da netnografia. O primeiro passo para a realização de uma netnografia é o planejamento da entrada na cibercultura ou comunidade virtual que se deseja estudar. Nesse sentido, o pesquisador deve inicialmente elaborar uma pergunta de pesquisa ou levantar tópicos de interesse para posteriormente identificar fóruns, blogs, sites, comunidades, etc. que possam ajudá-lo a responder às questões formuladas. Os critérios sugeridos por Kozinets (2002; 2006 b) para a escolha das comunidades virtuais mais adequadas ao estudo são os seguintes: 1) as comunidades devem estar relacionas à pergunta de pesquisa; 2) devem possuir bom tráfego de mensagens postadas por diferentes membros; 3) devem fornecer dados ricos, ou seja, o mais detalhados e descritivos possíveis; e 4) devem apresentar grande interação social entre os participantes. Após a escolha e a entrada em comunidades virtuais, o pesquisador deve coletar e analisar dados, os quais podem ser classificados em três grupos: 1) os dados copiados diretamente da comunidade pelo pesquisador (ex., interações entre membros da comunidade em um fórum); 2) os dados registrados pelo pesquisador provenientes da observação da comunidade (ex., diário de campo ou notas de campo); e 3) dados originados em entrevistas 9 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 com membros da comunidade pesquisada (ex., transcrições de entrevistas). Os métodos utilizados para coleta e análise irão depender da pergunta de pesquisa e da habilidade do pesquisador para utilizá-los, assim como do grau de participação deste na comunidade estudada. Quanto ao grau de participação na comunidade virtual, ou seja, quanto ao nível de influência do pesquisador sobre a comunidade estudada, Kozinets (2006 b) apresenta um continuum em que a “netnografia observacional” e a “autonetnografia” compõe os dois extremos e “netnografia participante-observacional” constitui o ponto intermediário (Figura 1). Figura 1: Tipos de Netnografia com base no grau de participação do pesquisador. Fonte: Adaptado de Kozinets (2006 b) A netnografia observacional é aquela em que o pesquisador não se revela à comunidade estudada, sendo caracterizada, portanto, mais pela observação do pesquisador do que pela participação deste. Por outro lado, a autonetnografia caracteriza-se pela obtenção de insights sobre as práticas e significados de uma cultura através da reflexão do pesquisador sobre suas próprias experiências dentro de uma comunidade. Já a netnografia participanteobservacional é a aquela que possibilita a internalização dos significados da comunidade pelo pesquisador e o permite falar com a autoridade de um membro desta. Assim, a coleta e a análise de dados – a qual geralmente ocorre simultaneamente à coleta (KOZINETS, 2002) – serão definidas de acordo com o estilo de pesquisa com o qual o netnógrafo mais se identifica. Contudo, Kozinets (2006b) recomenda o uso de abordagens da netnografia mais direcionadas à participação no sentido de que esta constitui uma das principais características do método etnográfico. O terceiro procedimento para a realização de uma pesquisa netnográfica é a observação de questões éticas. Nesse sentido, Kozinets (2002, 2006 b) levanta dois questionamentos: Os espaços virtuais investigados são públicos ou privados? O que constitui consentimento explícito no mundo virtual? Tais questões portam uma complexidade intrínseca que exigem cuidado especial do pesquisador para que nenhum dano decorrente do estudo seja causado à comunidade estudada. No texto de 2002, Kozinets apontou quatro procedimentos para uma pesquisa netnográfica ética, a saber: a) o pesquisador deve revelar sua presença, afiliações e intenções de pesquisa à comunidade; b) o pesquisador deve garantir confidencialidade e anonimato dos informantes; c) a pesquisa deve incorporar feedback dos membros da comunidade online estudada; e d) o pesquisador deve se posicionar cuidadosamente quanto à questão público versus privado. Já no texto de 2006 (b), o autor modifica o quarto procedimento, o qual passa a ser: o pesquisador deve contatar os membros 10 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 da comunidade e obter permissão para usar qualquer postagem específica, a qual deve ser citada diretamente na pesquisa. Por fim, o quarto procedimento da netnografia é o member check, que significa a apresentação de alguns ou de todos os resultados de uma investigação às pessoas que foram estudadas para que se obtenha seus comentários (KOZINETS, 2002; 2006 b). O autor (2006 b) argumenta que bons member checks podem representar uma fonte de valiosos insights adicionais, podem apontar limitações das análises do pesquisador e constituir um procedimento ético no sentido de que o pesquisador dá voz aos membros da comunidade estudada para representá-la. A seguir, serão apresentadas as vantagens e limitações da Netnografia. 2.3.2 Vantagens e Limitações da Netnografia Como principais vantagens da netnografia, pode-se verificar em Kozinets (2002) seu baixo custo e seu caráter oportuno, natural e discreto, uma combinação que garante o acesso contínuo aos informantes em uma situação social particular online, combinação esta não encontrada em outros métodos de pesquisa em marketing. Já em Kozinets (2006 a), outras vantagens da netnografia são apontadas em comparação com a etnografia tradicional. Nesse texto o autor argumenta que a netnografia é muito mais simples, rápida e barata do que as abordagens etnográficas tradicionais. Outra vantagem apontada neste texto é flexibilidade do método no sentido de que a netnografia pode ser usada como um método puramente observacional ou como um método que incorpora um alto grau de participação do pesquisador (conforme anteriormente demonstrado na Figura 1). O autor (2006 a) ainda argumenta que, diferentemente das surveys, a netnografia não força o consumidor a escolher alternativas originadas de suposições pré-determinadas do pesquisador, mas oferece uma base rica de informações, originadas “de baixo para cima” sobre o simbolismo, significados e padrões de consumo dos grupos de consumidores on-line. Por fim, Kozinets (2006 a) sustenta que, assim como a etnografia “face a face”, a netnografia oferece uma “janela” dentro da realidade cultural cotidiana de grupos de consumidores, revelando a linguagem, a história, as práticas e rituais, dentre outros aspectos, que compõem a identidade daquele grupo. Dentre os limites do método, Kozinets (2002) aponta o foco mais restrito da netnografia em comunidades online; a exigência de grande habilidade interpretativa do pesquisador; e a falta de elementos identificadores dos informantes no contexto online. Nesse mesmo texto, o autor também destaca a questão da representatividade da pesquisa netnográfica. Para ele, o netnógrafo deve ter consciência de que está analisando o conteúdo comunicativo de uma comunidade online mais do que o conjunto completo de comportamentos observados desses consumidores. Em Kozinets (2006 a) outras limitações da netnografia são apontadas. Em primeiro lugar, a natureza textual da maioria das comunicações causa a perda da riqueza de detalhes presentes na comunicação “em pessoa”, como mudanças no tom de voz, pausas, linguagem corporal, movimento dos olhos, dentre outros. Outro desafio da netnografia apontado neste texto é o fato de ser relativamente fácil fazer downloads de conteúdos de blogs e fóruns, sintetizá-los e se auto-intitular “antropólogo online”. Nesse sentido, a vantagem da simplicidade do método pode se transformar em oportunidade para a realização de pesquisas 11 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 com pouco rigor. Por fim, outra limitação da netnografia apontada por Kozinets (2006 a) é o fato de que a informação disponível online pode revelar somente parte da história de consumo de um grupo ou indivíduo, pois a realidade do consumidor é multifacetada, carregando vários elementos do “mundo real”, assim como de outros grupos aos quais pertence. 3. Considerações Finais A utilização de pesquisas de caráter etnográfico no marketing é relativamente recente. O emprego de uma abordagem cujo foco é o estudo profundo de uma cultura para fins de marketing recebe críticas de várias instâncias. O mainstream do marketing questiona a validade do método etnográfico devido ao seu caráter interpretativo, descritivo, caro e demorado. Da antropologia provêm críticas a respeito da falta de rigor na aplicação do método, principalmente devido à realização de etnografias mais rápidas e com menos imersão do pesquisador para atender ao orçamento de marketing das empresas, o que deu origem a termos desqualificadores como “quase-etnografia” ou “etnografia comercial”. Esse contexto de flexibilização do método etnográfico, levando ao surgimento de “várias etnografias”, aliado à presença cada vez mais frequente das pessoas e empresas nos “lugares virtuais” criou uma combinação perfeita para o surgimento de uma adaptação da tradicional etnografia às contingências do ambiente virtual. Surge, então, a proposta de sistematização da etnografia online de Robert V. Kozinets, a netnografia, cujo foco são as comunidades virtuais online criadas em torno do consumo de bens, serviços, experiências e marcas e se baseiam na comunicação mediada por computador. Assim como a etnografia tradicional e suas derivações fora do ambiente virtual, a netnografia também apresenta vários desafios no que diz respeito aos critérios de validação científica, aceitação pelos gestores de marketing e questões éticas. Sua relativa simplicidade em relação aos métodos off-line constitui vantagens que podem, ao mesmo tempo, oferecer espaço para a condução de pesquisas duvidosas ou mesmo antiéticas por pesquisadores pouco preparados dentro de comunidades virtuais. Conforme argumenta Noveli (2010) o desafio da netnografia não é entrar em um embate como a etnografia tradicional, pois enquanto esta é capaz de acessar significados construídos por grupos de consumidores no “mundo virtual”, a etnografia tradicional pode acessar significados desse mesmo grupo no “mundo off-line”, constituindo uma oportunidade de triangulação dessas informações para uma compreensão mais abrangente dos significados culturais da comunidade estudada. Dessa forma, concebendo-se o “mundo virtual” e o “mundo real” como dimensões de uma mesma realidade, o uso da netnografia parece representar mais uma extensão da etnografia à dimensão virtual da realidade do que uma variação estreita e pouco representativa da etnografia tradicional. Assim, conclui-se que, mesmo diante dos desafios e limitações aos quais a pesquisa netnográfica está sujeita, esta pode gerar oportunidades de geração de conhecimento sobre o consumidor que as abordagens tradicionais não possuem. Diante de um cenário em que o consumidor encontra-se cada vez mais conectado, onde supostas fronteiras entre “real” e “virtual”, “online” e “off-line” são cada vez menos visíveis, a profundidade da pesquisa netnográfica pode oportunizar a visualização de outras dimensões das ações do consumidor. Comunidades virtuais online formadas em torno de marcas, de produtos culturais como música, cinema e literatura, bem como novos nichos de mercado surgidos de modo 12 Volta Redonda/RJ – 03 e 04 de dezembro de 2015 desterritorializado constituem alguns dos possíveis contextos onde a netnografia possui o potencial de gerar novos insights sobre o comportamento do consumidor. Por fim, a netnografia pode ser utilizada de um modo mais amplo nos estudos do consumo para que se compreenda o surgimento de novas culturas, as quais longe de se restringirem ao ambiente online, transmitem categorias e princípios que norteiam o consumo de diversos grupos de indivíduos na contemporaneidade. REFERÊNCIAS ARNOULD, E. J.; WALLENDORF, M. Market-Oriented Ethnography: Interpretation Building and Marketing Strategy Formulation. Journal of Marketing Research. XXXI: 484504, 1994 ATKINSON, Paul; HAMMERSLEY Martyn. Ethnography and participant observation. In: Handbook of Qualitative Research. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994. BARBOSA, L. Marketing Etnográfico: colocando a Etnografia em seu devido lugar. RAERevista de Administração de Empresas, v. 43, n. 3, p.100-105, 2003. BELK, R. W.; FISCHER, E.; & KOZINETS, R. V. Qualitative Consumer & Marketing Research. London: Sage, 2013 BELK, R. W. Qualitative versus Quantitative Research in Marketing. Revista de Negócios. 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