PCNA-FÍSICA ELEMENTAR NOÇÕES DE CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL NA CINEMÁTICA. Tópicos: 5.1 - Objetivos do Capítulo; 5.2 – Uma breve discussão sobre Referencial do ponto de vista da Cinemática; 5.3 – Posição x Deslocamento; 5.4 - Velocidade média x Velocidade escalar média; 5.5 – Velocidade instantânea; 5.6 – Noções de cálculo diferencial; 5.7 - Aceleração média x Aceleração escalar média; 5.8 – Aceleração instantânea; 5.9 – Noções de cálculo integral; 5.10 – Aplicações na cinemática; 5.1 OBJETIVOS DO CAPÍTULO: Entender como ocorre o estudo do movimento via introdução dos conceitos básicos da cinemática. São eles: posição, deslocamento, velocidade e aceleração. Compreender os fundamentos (aspectos essenciais) do cálculo diferencial e integral aplicados em problemas da cinemática. Mostrar exemplos de aplicações de cálculo diferencial nas engenharias em nível informativo introdutório. INTRODUÇÃO O cálculo diferencial e integral é um ramo da matemática muito adequado para tratar questões dinâmicas de uma maneira geral. Determinar como determinadas quantidades variam ou determinar a quantidade total (valores) de uma grandeza num dado intervalo (de qualquer natureza) são problemas gerais que podem ser atacados por essa área da matemática. Hoje em dia, o cálculo é usado para achar órbitas de satélites, estimar o crescimento populacional, calcular a inflação, e também é utilizado em questões importantes de processos de otimização. Assim, o cálculo diferencial e integral é hoje considerado um instrumento indispensável em todos os campos da ciência pura e aplicada: em Física, Química, Biologia, Astronomia e principalmente em todas as Engenharias. Isso nos mostra que as aplicações de cálculo estão entre as maiores realizações intelectuais da civilização, tanto do ponto de vista científico, como também do ponto de vista cultural e social. E você, prezado leitor, terá oportunidade de ter um primeiro contato com esse maravilhoso e vasto campo do conhecimento humano tendo a cinemática como porta de entrada (aqui neste capítulo nos restringiremos ao movimento em linha reta, ou seja, restritos a uma dimensão). Isso mesmo, o estudo do movimento é um dos muitos campos da física em que o cálculo diferencial e integral é importante3. A ideia é colocar aqui os elementos fundamentais mais básicos do cálculo diferencial e integral. Em síntese, queremos lhe dar uma primeira visão do assunto a partir de três frentes: Dando uma ideia geral do que é tratado nessa área da matemática; Apresentando características básicas do cálculo em nível conceitual-operacional, mas sem aprofundar no rigor matemático; Relacionando a estrutura conceitualoperacional do cálculo com as representações gráficas correspondentes. Além disso, para que essa introdução seja valiosa e representativa para você é necessário o entendimento das relações entre os conceitos cinemáticos tanto do ponto de vista conceitualoperacional quanto do ponto de vista gráfico. Isso quer dizer que precisaremos ter domínio das ferramentas do cálculo (em nível básico) e entendimento dos conceitos da cinemática conforme acabamos de mencionar. Mas temos mais uma coisa para dizer para você, leitor. Não apenas isso é possível de ser conseguido como também tem tudo para ser muito divertido! 3 O físico inglês Isaac Newton estudava questões relacionadas ao movimento e às explicações do movimento (dinâmica). Pelas necessidades matemáticas implicadas em tais estudos, com muita labuta e genialidade, desenvolveu o início do que conhecemos hoje como cálculo diferencial e integral. Outro inventor do cálculo foi o filósofo, e matemático alemão Gottfried Wilhelm Leibniz. Ambos os gênios, dos maiores que a humanidade já conheceu, se envolveram em uma terrível pendenga pela honra de ter a primazia na invenção do cálculo. Tal briga polarizou boa parte dos cientistas europeus daquela época, com os ingleses, ficando do lado de Newton enquanto que os cientistas alemães tomaram partido por Leibniz. 49 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR 5.2 UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE REFERENCIAL DO PONTO DE VISTA DA CINEMÁTICA Antes de comentarmos sobre os aspectos de posição e deslocamento é importante nos basear no que o referencial pode interferir diretamente nestas duas grandezas físicas posição e deslocamento. Por exemplo, numa conversa por telefone ao dizer a sua posição a alguém você fatalmente adotará um referencial que também seja conhecido para a pessoa com quem você está falando (Exemplo: Tô aqui perto do Mercado de São Braz!). Mas afinal de contas o que é referencial? Já discutimos um pouco sobre referencial no capítulo de vetores quando tratamos da adoção de um sistema de eixos coordenados para fazer a decomposição de vetores (ver seção 2.5). Também falamos de referencial no início do capítulo de Leis de Newton quando vimos que referenciais que estão acelerados (referenciais não-inerciais) se comportam e são descritos de maneira diferente dos referenciais que não estão acelerados (referenciais inerciais) (seção 4.2). Vamos falar mais um pouco sobre referencial, agora no contexto de cinemática. Conforme expresso no início desta introdução, a nossa discussão está restrita a movimentos em uma dimensão. Ou seja, tudo acontece em cima de uma linha reta. Essa discussão pode ser facilmente generalizada para duas e três dimensões, pois nós temos conhecimento de vetores! Mas voltemos à discussão. Toda medida de posição se faz a partir de um ponto. Fisicamente esse ponto é a nossa origem (onde a gente põe o “zero” da fita métrica, por exemplo). Matematicamente, é a origem do nosso sistema de eixos coordenados (lá na seção 2.5 nós já havíamos falado sobre a necessidade de adotar formalmente um sistema de coordenadas para efetuar medidas de posição). Todo eixo coordenado possui uma parte positiva a partir da origem e uma parte negativa a partir da mesma. Veja a Figura 5.1. Figura 5.1 Indicação de Referencial graduada em metros. Digamos que um objeto esteja na posição 1m (portanto, à direita da origem). Se o objeto estiver a mesma da distância da origem, mas à esquerda desta, ele estará na posição -1m. Essa discussão é importante para o conceito deslocamento (que também já foi mencionado no capítulo de vetores). Como já foi dito, deslocamento é um conceito vetorial. No exemplo que estamos desenvolvendo, embora a distância para a origem seja a mesma (nos casos +1m ou 1m) faz diferença do ponto de vista de deslocamento se o objeto sai da origem para a posição +1m ou da origem para a posição -1m. Ou seja, para o deslocamento não importa apenas o quanto ele anda, mas também para onde ele anda (direção e sentido). Veremos esses aspectos com mais detalhes na seção seguinte. Não vamos desenvolver extensivamente o estudo da cinemática. Nosso interesse é abordar tudo o que é estritamente necessário para o estudo da dinâmica. Logo, não vamos desenvolver aqui estudos e manipulações de equações cinemáticas. Mas fica o alerta! Quando for tratar problemas de cinemática, não tente apenas decorar as equações e usa-las cegamente. Estabeleça o seu referencial, ou seja, estabeleça a origem do seu sistema de medidas e oriente o sistema de eixos coordenados que você estiver trabalhando. Esse é o primeiro passo. Sempre! Depois veja como essa escolha afeta as equações que você está trabalhando. Caso resolva “pular” essa etapa, com alta probabilidade você encontrará o resultado errado para o problema que está resolvendo ou de fato não será capaz de explicar como o resolveu, mesmo que esteja “certo” (a última parte tem probabilidade igual a 100%). 50 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR 5.3 POSIÇÃO X DESLOCAMENTO IMPORTANTE! Para estabelecer um referencial do ponto de vista da cinemática, precisamos estabelecer a origem do seu sistema de coordenadas, bem como a orientação do sistema de eixos coordenados. IMPORTANTE! É importante reconhecer a diferença entre deslocamento e distância percorrida. A distância percorrida por uma partícula é o comprimento do caminho descrito pela partícula de sua posição inicial até a sua posição final. Deslocamento é a variação de posição de uma partícula. O que é posição? Posição, de maneira simples, é a localização de um corpo ou objeto em um determinado espaço em relação a um referencial estabelecido por quem está efetuando a análise. Ou seja, para medir a posição de alguém, precisamos medi-la a partir de um ponto (origem do referencial). Para descrever o movimento de uma partícula, precisamos ser capazes de descrever a posição da partícula e como essa posição varia enquanto essa partícula se move para um ponto final. Para o movimento unidimensional, normalmente fazemos é escolhermos o eixo x como linha ao longo da qual o movimento o movimento ocorre, mas pode ser o eixo y como, por exemplo, queda livre. O que é deslocamento? Em relação ao deslocamento já vimos que é uma grandeza vetorial. Um aspecto crucial para efeito de deslocamento é que importa apenas as posições: final e inicial que o corpo ocupa. Ou seja, para efeito de deslocamento não importa o caminho tomado para ir do ponto inicial ao ponto final. Duas pessoas que saem do mesmo ponto de partida e chegam a um mesmo local possuem o mesmo deslocamento, independente do espaço que percorrem para fazer esse trajeto. A propósito! A origem do verbo deslocar significa tirar de uma localização e levar para outra localização. Tão somente isso! Com base no que foi discutido acima, responda: Um corpo sai de uma determinada posição, dá “meia volta ao mundo” e volta para a mesma posição. Esse corpo teve um deslocamento nulo ou diferente de zero? O deslocamento é a diferença entre as posições ̅e𝒙 ̅𝒐 ). final e inicial (𝒙 ⃗ =𝒙 ⃗ -𝒙 ⃗ 𝒐 (5.1) ∆𝒙 Onde temos como variáveis: ⃗ – Deslocamento. ∆𝒙 ⃗𝒙 – Posição Final. ⃗ 𝒐 – Posição Inicial. 𝒙 5.4 VELOCIDADE MÉDIA ESCALAR MÉDIA X VELOCIDADE Qual a diferença entre essas velocidades? A diferença é que a velocidade média é uma grandeza vetorial e a velocidade escalar média é uma grandeza escalar. Podemos perceber essa afirmação na própria definição de ambas como se segue abaixo: Velocidade Vetorial Média A velocidade vetorial média é a razão entre o vetor deslocamento e o tempo transcorrido (∆t). ⃗ = 𝒗 ⃗ −𝒙 ⃗𝒐 𝒙 𝒕− 𝒕𝒐 = ⃗ ∆𝒙 ∆𝒕 (5.2) ⃗ é a posição final no instante Onde: 𝒙 ⃗𝒐 𝒕 final e 𝒙 é a posição inicial no instante 𝒕𝒐 inicial. 51 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR IMPORTANTE! O vetor velocidade média é um vetor que aponta na mesma direção e no mesmo sentido que o deslocamento, pois a constante ∆𝒕 é sempre positiva. Do mesmo modo que no deslocamento, usaremos os sinais de mais (+) e o de menos (-) para indicar os dois sentidos possíveis para uma dada direção. Velocidade Escalar Média A velocidade escalar média é a razão entre a posição percorrida e o tempo gasto para realizar o percurso. 𝒗𝒆𝒔𝒄𝒂𝒍𝒂𝒓 = 𝑷𝒐𝒔𝒊çã𝒐 𝑷𝒆𝒓𝒄𝒐𝒓𝒓𝒊𝒅𝒂 𝑻𝒆𝒎𝒑𝒐 𝑮𝒂𝒔𝒕𝒐 (5.3) Obs.: Unidade no SI: metros por segundo (m/s). 5.5 VELOCIDADE INSTANTÂNEA Antes de analisarmos o conceito de velocidade instantânea vamos ver o exemplo abaixo para esclarecer com mais detalhes o significado de velocidade instantânea. Em uma competição de Moto Cross, um engenheiro, por meio de equipamentos de medição, conseguiu descrever a função posição de uma das motos como apresentado a seguir: 𝒙(𝒕) = 𝟓𝒕𝟐 Calcule a velocidade média nos instantes t = 1s e t = 2s. 𝑥(2) − 𝑥(1) 20 − 5 𝑚 𝑣= = = 15 ; 𝛥𝑡 = 1𝑠 𝑡1 − 𝑡0 2− 1 𝑠 𝑥(1,1) − 𝑥(1) 20 − 5 𝑚 𝑣= = = 10,5 ; 𝛥𝑡 = 0,1𝑠 𝑡1 − 𝑡0 1,1 − 1 𝑠 𝑥(1,01) − 𝑥(1) 20 − 5 𝑚 𝑣= = = 10,05 ; 𝛥𝑡 = 0,01𝑠 𝑡1 − 𝑡0 1,01 − 1 𝑠 IMPORTANTE! À medida que ∆𝐭 diminui, a velocidade média se aproxima de um valor-limite, que é a velocidade instantânea. Para poder entender melhor a definição de velocidade instantânea, precisamos aprimorar o entendimento do que vem a ser calculo diferencial e integral. 5.6 NOÇÕES DE CÁLCULO DIFERENCIAL Para começar, qual o problema fundamental que o cálculo diferencial responde? Procuraremos responder intuitivamente a essa pergunta (portanto em nível básico) tanto do ponto de vista conceitual-operacional quanto do ponto de vista gráfico. Começando pelo ponto de vista conceitualoperacional. O cálculo diferencial, cuja operação matemática correspondente é chamada de derivada, busca responder a seguinte questão fundamental: Como uma função varia ponto a ponto? Ou ainda, de maneira equivalente: Qual a taxa de variação que uma função apresenta em função de um determinado parâmetro? É difícil superestimar a importância dessa pergunta. Talvez não seja difícil imaginar que responder como a posição de um corpo varia em função do tempo é importante para o estudo da cinemática e que essa variação da posição do corpo em função do tempo, ou melhor, a taxa de variação da posição do corpo em função do tempo tem algo haver com a velocidade do corpo. Veremos que quanto menor for o intervalo de tempo considerado mais nos aproximamos do conceito matemático da derivada que é definido em termos de um processo de limite. Graficamente, grosso modo, tudo o que vamos fazer é sair acompanhando a tangente à função, ponto-a-ponto, para responder a questão de como uma função varia em função de um parâmetro ponto-a-ponto (taxa de variação instantânea da função). Veremos que quanto maior for a taxa de variação da função num dado ponto maior será a inclinação (tangente) da função naquele ponto. No estudo do movimento a partir do cálculo diferencial vemos que encontrar a reta tangente à função horária da posição em função do tempo e o problema para encontrar a velocidade de um objeto num determinado instante envolve determinar o mesmo tipo de limite. Esse tipo especial de limite é chamado de derivada e veremos que pode ser interpretado como uma taxa de variação ou razão incremental tanto nas ciências quanto na engenharia. Veremos que o estudo de cálculo integral relaciona-se ao processo inverso da derivada (somatória das áreas). 52 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR CONCEITO Seja uma função 𝑓(𝑥) qualquer, e sobre ela Traçamos uma reta que interceptos dois pontos quaisquer desta função, 𝑓(𝑥). A essa reta, chamamos de reta secante, conforme segue na figura 5.2 que mostra como extraímos o fator coeficiente angular da reta. 𝒎𝒙 = 𝒇(𝒙+𝒉)−𝒇(𝒙) 𝒉 (5.5) Substituindo temos: 𝒗𝒎𝒙 = 𝒙𝟐 − 𝒙𝟏 ∆𝒙 = 𝒕𝟐 − 𝒕𝟏 ∆𝒕 (𝟓. 𝟔) Agora, aproximando o ponto ‘x2’ do ponto ‘x1’, o próprio ∆𝒕 se aproxima de zero e consequentemente a reta secante vai se aproximando de uma reta tangente no ponto P1, ou seja, numa reta que intercepta a função somente neste ponto, além de ser “rente” ao gráfico se torna uma reta tangente e que o coeficiente angular dessa reta é a velocidade instantânea. Figura 5.2 - Reta secante a uma função f(x) IMPORTANTE! A reta secante a uma curva é uma reta que cruza dois ou mais pontos desta mesma curva e o coeficiente angular da reta secante acima é dado pela fórmula da geometria analítica: 𝒎= 𝒇(𝒙+𝒉)−𝒇(𝒙) 𝒉 (5.4) Note que a equação (5.4) quando aplicado à cinemática, nos fornece uma equação conhecida que é a velocidade média. Em outras palavras, podemos afirmar que velocidade média é a inclinação de uma reta secante como podemos ver na Figura 5.3. Figura 5.4 - Reta secante tendendo a uma tangente Vemos que a Reta tangente a uma curva é a reta que intercepta essa mesma curva em somente um ponto, ou seja, mx = inclinação da reta tangente. 𝒎𝒙 = 𝐥𝐢𝐦 𝒇(𝒙+𝒉)−𝒇(𝒙) 𝒉 𝒉→𝟎 Substituindo temos: 𝒗𝒙 = 𝐥𝐢𝐦 ∆𝒙 ∆𝒕→𝟎 ∆𝒕 = 𝒅𝒙 𝒅𝒕 (5.7) (5.8) Em outras palavras podemos dizer que quando “h” tende a zero, o valor da inclinação da reta secante tende ao valor da inclinação da reta tangente. Figura 5.3 – Gráfico de posição no tempo. Logo a velocidade média em ‘x’ é dada pelo coeficiente angular da reta secante a curva como segue abaixo: 53 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR Então: IMPORTANTE! Através da instantânea. expressão ∆𝒙 𝒗𝒙 = 𝐥𝐢𝐦 ∆𝒕→𝟎 ∆𝒕 Onde da = 𝒅𝒙 velocidade (5.9) 𝒅𝒕 𝒅𝒙 é a taxa de variação com a qual a 𝒅𝒕 posição x está variando com o tempo t podemos ver isso de forma clara em um velocímetro de um automóvel. 5.7 Aceleração Média x Aceleração Escalar Média Qual é a diferença entre aceleração média e aceleração escalar média? A diferença é que aceleração média é uma grandeza vetorial e aceleração escalar média é a intensidade ou magnitude dessa grandeza vetorial. Quando a velocidade de uma partícula varia, dizse que a partícula foi acelerada. Para movimentos ao longo de um eixo, a aceleração média, em um intervalo de tempo ∆t é: ⃗⃗⃗⃗⃗𝒎 = 𝒂 ⃗⃗⃗⃗ 𝒗𝟐 − ⃗⃗⃗⃗ 𝒗𝟏 𝒕𝟐 − 𝒕𝟏 = ⃗ ∆𝒗 ∆𝒕 (5.10) ̅𝟏 no Para a partícula que tem velocidade 𝒗 instante 𝒕𝟏 e velocidade ̅̅̅̅ 𝒗𝟐 e no instante 𝒕𝟐 e onde a unidade no SI de aceleração é metros por segundo ao quadrado (m/s²). 𝒂= 𝒅²𝒙 (5.13) 𝒅𝒕² Ou seja, a aceleração de uma partícula em qualquer instante é a derivada segunda da posição x(t) em relação ao tempo. A aceleração também é uma grandeza vetorial. IMPORTANTE! Tome cuidado para não confundir aceleração com velocidade! A velocidade indica como a posição de um corpo varia com o tempo e é um vetor cujo módulo indica a velocidade da variação de deslocamento do corpo e sua direção e sentido mostram a direção e sentido do movimento. Já a aceleração depende de como o vetor velocidade varia em relação ao tempo. PROPRIEDADES DA DERIVADA DERIVADA DE UMA CONSTANTE k 𝒌′ = 𝟎 (5.14) O leitor pode estar se perguntando: Por que a derivada de uma função constante é igual à zero? Bem, o que caracteriza uma função constante é que independentemente do valor que a variável assume, o valor da função permanece o mesmo, ou seja, a taxa de variação é igual à zero para a função abaixo conforme a Figura 5.5. 5.8 ACELERAÇÃO INSTANTÂNEA Também chamada de aceleração pode ser definida seguindo o mesmo procedimento adotado quando definimos velocidade instantânea. Portanto, temos que: 𝒂 = 𝐥𝐢𝐦 ∆𝒗 ∆𝒕→𝟎 ∆𝒕 = 𝒅𝒗 𝒅𝒕 Figura 5.5 - Reta horizontal de uma função constante (5.11) Como podemos ver que a velocidade instantânea é dada por: 𝒗= 𝒅𝒙 𝒅𝒕 (5.12) Vimos que a derivada nada mais é do que a taxa de variação da função. Para o caso da função constante, a resposta da pergunta “Como varia a função em termos de x?” é simples. A função permanece constante, ou seja, não varia. Portanto só relembrando a taxa de variação da função em termos de x, ou seja, a derivada é igual à zero. 54 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR DERIVADA DE UMA FUNÇÃO POTÊNCIA EM X (𝒙𝒏 )′ = 𝒏. 𝒙𝒏−𝟏 (5.15) Obs. Para qualquer 𝒏 real diferente de zero. Escolhemos fornecer a regra da derivada para a função potência, pois uma grande variedade de fórmulas importantes para a física é descrita por esse tipo de função (também conhecida como função polinomial). Por exemplo, veremos que no estudo do movimento em uma dimensão que a posição de um objeto em função do tempo pode ser descrita da seguinte forma: 𝒙 = 𝒙𝒐 + 𝒗𝒐 𝒕 + 𝒂 𝒕𝟐 (5.16) 𝟐 Como podemos encontrar a velocidade instantânea em função do tempo para a função acima? Veremos a seguir os procedimentos a ser feito para se determinar a velocidade instantânea e a sua aceleração instantânea em função do tempo através da regra de soma ou a subtração das derivadas das funções. SOMA OU SUBTRAÇÃO 𝒇(𝒕) = 𝒖(𝒕) ± 𝒗(𝒕) 𝒇′ (𝒕) = 𝒖′ (𝒕) ± 𝒗′ (𝒕) (5.17) função e em seguida substituímos na derivada da função o ponto específico no qual estamos interessados. Com base no conhecimento adquirido até aqui, usando a derivada, calcule a velocidade instantânea e a aceleração instantânea da seguinte expressão: 𝒙 = 𝒙𝒐 + 𝒗𝒐 𝒕 + 𝒂 𝒕𝟐 𝟐 Em seguinte verifique se a velocidade e a aceleração dependem do tempo e reflita sobre os resultados obtidos. ANÁLISE DA DERIVADA A derivada é uma ferramenta muito poderosa que nos diz se uma função é crescente ou não em um determinado ponto. Isso é possível analisando-se o sinal da derivada da função neste ponto, conforme a regra abaixo: f’(xo) >0: A função f é crescente em x=xo; f’(xo) <0: A função f é decrescente em x=xo; f’(xo) =0: x=xo é um ponto crítico de f. As duas primeiras afirmações podem ser constatadas pela figura a seguir sobre aspectos importantes: A derivada da soma (subtração) é igual à soma (subtração) das derivadas. CONSTANTE k MULTIPLICANDO A FUNÇÃO ′ (𝒌𝒇(𝒕)) = 𝒌𝒇′ (𝒕) (5.18) IMPORTANTE! A derivada obedece, portanto, à propriedade da distributividade para a soma e subtração. Ou seja, para calcular a derivada de uma função com dois ou mais termos, derive cada um dos termos e depois some tudo. A regra exposta em 5.7 expõe que a derivada de uma função f(t) multiplicada por k é igual a derivada de f(t) vezes k. Ou seja, a constante fica “esperando” para ser multiplicada pelo resultado da derivada de f(t). Sendo a derivada igual à taxa de variação de uma função em termos do parâmetro do qual ela depende. A pergunta de interesse é o quanto varia a função em um ponto específico. Para isso procedemos da seguinte forma: Derivamos a Figura 5.6 - Derivada indicando se f é crescente ou decrescente. De outra forma, percebe-se que uma função é crescente em xo se a reta tangente à função em xo está “subindo”, e “mergulhando” em direção ao eixo x para o caso decrescente. Para o caso de f’(xo) =0, como já visto, diz-se que xo é um ponto crítico de f. Um ponto crítico é basicamente um ponto cuja derivada é nula ou não existe. Intuitivamente, os pontos que anulam a derivada são ditos máximos ou mínimos locais de uma função, já que a reta tangente a eles é horizontal e, portanto tem coeficiente angular igual à zero, conforme figura abaixo: 55 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR tensão induzida através da taxa de variação do fluxo magnético com o tempo. 𝑓𝑒𝑚 = − Figura 5.7 - Na figura acima, c é máximo local e d é mínimo local (f’(c)=f’(d)=0) Um ponto de máximo local pode ser definido como o “cume da montanha”, ou seja, é um ponto cuja imagem (f(c)) é maior que as imagens dos pontos imediatamente à esquerda e à direita de c (c-0,00001 e c+0,00001, por exemplo). Explicação análoga vale para o mínimo local (“vale da montanha”). 𝑑𝛹 𝑑𝑡 Sem contar com as aplicações da derivada na medicina, biologia, economia e outras áreas do conhecimento. Portanto, podemos perceber a grandiosidade e aplicabilidade dessa valiosa ferramenta que é o calculo diferencial. Observando a Figura 5.7, percebemos que o caminho de “ida” a partir da posição para a velocidade e posteriormente para a aceleração, nós sabemos! Agora como fazer o caminho de “volta”? IMPORTANTE! O estudo dos máximos e mínimos de uma função é uma das aplicações mais importantes da derivada para um engenheiro, o qual usa essa ferramenta, entre outras finalidades, para minimizar o custo de seus projetos. APLICAÇÕES DO CÁCULO DIFERENCIAL O calculo diferencial ou simplesmente derivada é encontrado nos mais diversos ramos da física e engenharia. Podemos encontrar na 2º Lei de Newton com mais sofisticação, como sendo a taxa de variação do momento linear com o tempo. 𝑑𝑃⃗ 𝐹= 𝑑𝑡 Encontramos na definição de potência como taxa de variação de energia com o tempo 𝑃= Figura 5.8 – Tabela representativa de derivada e integral de modo sintético. Antes de se depararmos com a ferramenta matemática de imensa aplicabilidade na engenharia que é cálculo integral aplicado na cinemática, iremos abordar pontos importantes das equações usadas no ensino médio quando temos uma aceleração constante; as equações que conhecemos do ensino médio como segue abaixo: 𝒕𝟐 𝒙 = 𝒙𝒐 + 𝒗𝒐 𝒕 + 𝒂 𝟐 𝒗 = 𝒗𝟎 + 𝒂𝒕 𝒗² = 𝒗𝒐 ² + 𝟐𝒂∆𝒙 Se analisarmos um gráfico com aceleração constante temos: 𝑑𝑈 𝑑𝑡 Na engenharia elétrica, podemos encontrar na simples definição de tensão e corrente, temos: 𝑖= 𝑑𝑞 𝑑𝑡 𝑣= 𝑑𝑤 𝑑𝑞 Outro exemplo da aplicação da derivada encontra-se na engenharia de telecomunicações com a famosa Lei de Faraday em campos variantes no tempo, onde podemos obter a Figura 5.9 – Gráfico de aceleração no tempo. 56 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR Com a aceleração constante podemos traçar o gráfico v x t e encontrar o espaço total. ‘’A integração é uma adição sofisticada. É a modo de processo de pegar uma forma cuja área você não pode determinar diretamente, cortar em pequenos pedaços cujas áreas você pode determinar, e depois somar todos os pedaços para obter a área do todo. ’’ (Cálculo para Leigos). CONCEITO DE INTEGRAL O conceito de integral está bastante relacionado à noção de áreas. Os povos gregos se perguntavam na Antiguidade: “como calcular a área de uma figura qualquer, como mostra a Figura 5.12”? Figura 5.10 – Gráfico da velocidade no tempo Agora façamos a seguinte pergunta, e se a aceleração não for constante? Ou seja, se a aceleração depender do tempo como poderemos encontrar a velocidade e o espaço? Nessa configuração que citamos o gráfico, em termos puramente expositivos é: Figura 5.12 – Gráfico de uma curva qualquer. Figura 5.11 - Gráfico da aceleração no tempo. Por não se tratar de um problema simples a obtenção dessa área, apropriamo-nos de um método matemático chamado integral. Como a curva da figura acima não pertence às figuras clássicas, como quadrado, triângulo e círculo, não são possíveis calcular sua área com fórmulas “prontas” da geometria. Bom, mas existe uma figura geométrica cuja área é bem conhecida na geometria: o retângulo. Sua área pode ser calculada pelo produto da base com a altura. Numa tentativa de calcular a área da figura acima, poderíamos desenhar vários retângulos cujas alturas são determinadas pela própria figura, como segue: 5.9 NOÇÕES DO CALCULO INTEGRAL A integral é um recurso matemático inverso ao da 𝑑𝑦 derivada, ou seja, ao invés de achar derivada 𝑑𝑥 de uma função f(x), calcula-se a função f(x) a 𝑑𝑦 partir da derivada da função , ou seja, também 𝑑𝑥 é conhecida como Anti-Derivada. Figura 5.13 - Curva sendo aproximada grosseiramente por retângulos. 57 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR Como se vê, a aproximação não é perfeita, mas quanto menores serem às bases desses retângulos, mais próxima à soma de suas áreas vai ficar em relação à área A desejada, como podemos ver na Figura 5.14 a seguir. INTEGRAL DE UMA CONSTANTE K ∫ 𝒌𝒅𝒙 = 𝒌𝒙 + 𝒄 (5.19) INTEGRAL DE UMA FUNÇÃO POTÊNCIA EM X ∫ 𝒙𝒏 𝒅𝒙 = 𝒙𝒏+𝟏 𝒏+𝟏 + 𝒄 (5.20) Para qualquer n ≠ -1 Obs.: Se n = -1, sua integral será dada pela função logarítmica 𝐥𝐧(𝒙) + 𝒄, ou seja, temos: ∫ 𝒙−𝟏 𝒅𝒙 = ∫ 𝒅𝒙 = 𝐥𝐧(𝒙) + 𝒄 (5.21) 𝒙 SOMA OU SUBTRAÇÃO 𝒇(𝒙) = 𝒖(𝒙) ± 𝒗(𝒙) Figura 5.14 - Aproximação melhorada com o uso de retângulos mais finos IMPORTANTE! A ideia da integral é que a área de uma figura qualquer é aproximada pela soma das áreas de incontáveis retângulos de espessura praticamente nula. Daí pode-se considerar a integral um processo de soma de pequeníssimas parcelas, que seriam as áreas de cada retângulo, até chegar ao total esperado (área A da Figura 5.14). NOTAÇÃO A integral de uma função f(x) é denotada por ∫ 𝒇(𝒙)𝒅𝒙, onde se assemelha a um S estendido, de soma. Tal qual fizemos em relação à derivada, vamos colocar algumas propriedades da integral. IMPORTANTE! As propriedades de distributividade da soma e da multiplicação de uma integral por uma constante são mantidas na integração, tal como na operação de diferenciação. PROPRIEDADES DA INTEGRAL Assim como na seção derivadas, f, u e v são funções de x. c é uma constante arbitrária que aparece no processo de integração. ∫ 𝒇(𝒙)𝒅𝒙 = ∫ 𝒖(𝒙)𝒅𝒙 ± ∫ 𝒗(𝒙)𝒅𝒙 (5.22) A integral da soma (subtração) é igual à soma (subtração) das integrais. CONSTANTE MULTIPLICANDO UMA FUNÇÃO ∫ 𝒌𝒇(𝒙)𝒅𝒙 = 𝒌 ∫ 𝒇(𝒙)𝒅𝒙 (5.23) IMPORTANTE! Como se podem perceber, essas duas últimas propriedades da integral são análogas às da derivada. . 5.10 APLICAÇÃO NA CINEMÁTICA A derivada foi usada para obter a velocidade instantânea a partir do espaço e a aceleração instantânea a partir da velocidade instantânea. Já que a integral é o processo inverso da derivada, como dito no início do capítulo, era de se esperar que a integral fosse usada para calcular a variação de espaço em função da velocidade instantânea e a velocidade instantânea a partir da aceleração instantânea. Essa suposição, felizmente, é verdadeira, da qual vêm as equações: ∆𝑺 = ∫ 𝒗𝒊𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒂𝒏𝒆𝒂 𝒅𝒕 (5.24) 𝒗𝒊𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒂𝒏𝒆𝒂 = ∫ 𝒂𝒊𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒂𝒏𝒆𝒂 𝒅𝒕 (5.25) 58 PCNA-FÍSICA ELEMENTAR Ora, se a integral de uma grandeza é igual à área do gráfico dessa mesma grandeza, então se nos for apresentado um gráfico da velocidade instantânea em relação ao tempo (v x t), sua área entre dois instantes t1 e t2 será igual à variação de espaço ocorrida entre esses mesmos instantes. A Figura 5.15 a seguir exemplifica melhor essa ideia. Figura 5.15 - A variação no espaço é igual à área do gráfico v x t Embora possa parecer estranho obter o espaço percorrido a partir de um gráfico da velocidade em função do tempo, fizemos isso sem perceber quando resolvíamos problemas de cinemática no ensino médio. O mesmo raciocínio vale para a velocidade instantânea. Por ser a integral da aceleração no tempo, pode ser calculada também como a área do gráfico da aceleração versus tempo(axt): RESUMO DAS PRINCIPAIS ÊNFASES DO CAPÍTULO: Gráficos trazem informações importantes e precisamos relacionar essas informações com base nos conceitos que estamos estudando. Neste capítulo fizemos a extração da informação a partir de gráficos da cinemática e relacionamos a informação com as ferramentas básicas do cálculo diferencial e integral. Seja o problema de determinar a taxa de variação de uma função ponto-a-ponto ou calcular a área de um gráfico delimitada por uma dada função em certo intervalo, precisamos prestar atenção na dimensionalidade da taxa de variação e na dimensionalidade da área que estamos trabalhando. Cálculo diferencial (a derivada) e o cálculo integral (a integral) são operações matemáticas inversas. Isso quer dizer que atuar com uma das duas operações matemáticas sobre a função e em seguida atuar com a outra operação, o efeito da primeira é anulado. Isso nos “devolve” a função original. Esse é, grosso modo, o que quer dizer operações matemáticas serem inversas. Figura 5.16 - A variação na velocidade é igual à área do gráfico a x t 59