SISTEMA RESPIRATÓRIO – ASMA Patologicamente há contração do músculo liso das vias aéreas, espessamento mucoso poredema e muco anormalmente viscoso na luz das vias aéreas. A terapia contra a contração muscular permite alivio a curto prazo, enquanto a reversão do edema e da infiltração celular é promovida por agentes de controle a longo prazo. A asma é uma doença mediada por Ac (IgE) ligados a mastócitos na mucosa das vias aéreas, promovendo a degranulação, além de liberação de outros mediadores. Ocorre broncoconstrição imediata (histamina, triptase, proteases neutras, LTC4 e D4 e PG). Outros agentes causam broncoconstrição persistente, infiltração celular das mucosas e hipersecreção de muco tardia (2-8h). O tto com atropina promove apenas uma redução (não abolição) do broncoespasmo. As exacerbações graves da asma parecem ser causadas por infecção respiratória viral e o broncoespasmo pode ser desencadeado por estímulos não antigênicos (hiper-reatividade brônquica específica). AGONISTAS DOS RECEPTORES ADRENÉRGICOS – BRONCODILATADORES (ALÍVIO) 1. Cromolina e Nedocromil a) Ação: apenas como profilaxia. Administração via aerossol. Quando uso crônico (4x/d) diminui a reatividade brônquica. Não afetam o tônus do músculo liso das vias aéreas e são ineficazes na reversão do broncoespasmo. Ambos alteram a função dos canais de cloreto retardados na membrana celular, inibindo a ativação celular. Ocorre inibição da tosse (nedocromil), da resposta dos mastócitos, eosinófilos e inflamação. Efeito órgão-específico. O nedocromil também inibe o aparecimento da resposta tardia, mesmo quando aplicado após degranulação. b) Uso clínico: Pré-tratamento: bloqueio da broncoconstrição – efeito protetor agudo da cromolina permite administração pouco antes de exercícios ou de exposição ao alérgeno Redução da intensidade dos sintomas e da necessidade de broncodilatadores – 2 a 4x/dia Nodocromil associado a corticoide pode melhorar o controle da asma. Cromolina: reduz sintomas da rinoconjuntivite alérgica (solução de spray nasal ou gotas oculares). Tem efeitos leves (pouco absorvida) e localizados (irritação de garganta, tosse, boca seca, constrição do tórax e sibilos). Evitado por agonista de receptores β2-adrenérgicos antes da cromolina. Ausência de toxicidade permite uso disseminado em crianças. 2. Metilxantinas – Teofilina (aminofilina), Teobromina e Cafeína (chá, chocolate e café, respectivamente) a) Ação: mecanismo desconhecido (? – olhar no goodman). Excreção urinária. b) Farmacodinâmica: I. SNC – mais pela cafeína Estímulo cortical ligeiro, aumento da vigília e eliminação da fadiga. Em doses altas pode ter estimulo medular e convulsões. Nervosismo e tremor (grandes doses de aminofilina) II. Cardiovascular: Inotrópico e cronotrópico positivo direto, pela liberação aumentada de catecolaminas ([baixa]), aumento do influxo de cálcio ([elevadas]) e sequestro sarcoplasmático (doses altissimas). Taquicardia, aumento do DC, arritmias, aumento da RVP ligeiro e PA. III. TGI Estimulo da secreção de ácido gástrico e enzimas digestivas IV. Rim Diuréticos fracos (pp a teofilina), mas a diurese não é de grande magnitude V. Músculo liso – mais pela teofilina Broncodilatação (pp ação), sem tolerância (dose limitada por efeitos colaterais). Também inibe liberação de histamina VI. Músculo esquelético Intensificam contrações do m. esquelético e melhoram contratilidade e revertem fadiga do diafragma (em DPOC). c) Uso clínico: Teofilina é o broncodilatador mais eficaz das metilxantinas. Bem absorvida pelo TGI. Apresenta preparações de liberação prolongada, garantindo níveis por 12h ou mais. Efeitos colaterais: anorexia, náuseas, vômitos, desconforto abdominal, cefaléia e ansiedade; convulsões e arritmias. Teofilina metabolizada no fígado (cuidado na hepatopatia) e a depuração é aumentada por tabagismo ou mudanças na dieta, além de em crianças. RN e lactentes tem a depuração mais lenta. Teofilina melhora o controle a longo prazo (unico tto de manutenção ou associada a glicocorticóides). 3. Agentes simpaticomiméticos – agonistas dos receptores adrenérgicos Broncodilatação (presença de receptores adrenérgicos no músculo liso - β2), inibição de liberação de mediadores. Efeito tóxico: tremor muscular esquelético 1 a) Adrenalina: broncodilatador de ação rápida em 15 min (dura 60-90min), SC ou inalada (microaerossol). Estimula beta 1 e 2 – efeitos adversos: taquicardia, arritmia, angina de peito. Raramente preescrita. b) Efedrina: maior duração de ação, atividade oral e efeitos centrais mais pronunciados que a adrenalina, com potência muito menor. Raramente utilizada. c) Isoproterenol: potente broncodilatador (máxima em 5 min e dura 60-90min), inalado (microaerossol). d) Beta2-seletivas: Albuterol, Terbutalina, Metaproterenol, Pirbuterol, Bitolterol São os mais utilizados dos simpaticomiméticos. Eficazes pós inalação ou VO, ação longa, seletividade significativa. Causam broncodilatação semelhante ao isoprotenerol, máx em 30min, persistindo por 3-4h. No nebulizador aplica-se albuterol e metaprotenerol (em casos de incapacidade para inalação). Albuterol, metaproterenol e terbutalina – também em comprimidos. EC: tremor da m. esquelética, nervosismo e fraqueza ocasional. Terbutalina – SC: asma grave, tto de emergência quando o aerossol não está disponível ou não eficaz. Calmeterol e Formoterol – potentes agonistas de longa duração (12h ou mais) por alta lipossolubilidade, dissolvendo-se na cel. muscular lisa em [altas], funcionando como depósitos de liberação prolongada. Melhoram controle da asma com glicocorticóides inalados. Não recomendados e monoterapia. Inalação: maior efeito local e menor toxicidade sistêmica. Toxicidade: Taquifilaxia, arritmias, hipoxemia fenoterol – 2 ou mais vezes = morte ou quase morte Redução da PaO2 (efeito pequeno) – importância depende da PaO2 inicial do paciente Toxicidade miocárdica em altas doses (fluorocarbonetos) 4. Antagonistas antimuscarínicos a) Ação: pouco absorvido após administração por aerossol, sem efeitos atropínicos sistêmicos. Eles inibem competitivamente o efeito da acetilcolina nos receptores muscarínicos. Ela é liberada por terminações eferentes dos nervos vagos nas vias aéreas. Ao inibir o efeito ocorre redução da contração muscular e da secreção de muco. Tem ação seletiva porque não atua na resposta parassimpática (apenas em altas doses). b) Uso clínico: broncodilatadores eficazes. Protótipo: atropina. Atropina IV – broncodilatação em concentração < que a necessária para aumentar FC. Atropina por inalação – maior seletividade, efeito por 5 horas (pode causar ressecamento na boca, e efeitos sistêmicos: retenção urinária, perda da acomodação visual e agitação). A dose necessária para causar uma broncodilatação em repouso < dose para combater o broncoespasmo Brometo de ipratrópio – mais seletivo e pode ser administrado em altas doses (pouca absorção e sem fácil penetração no SNC). Envolve as vias parassimpáticas. Broncodilatadores e inibidores parciais do broncoespasmo – uteis para os que não toleram beta-agonistas, mesmo com eficácia menor. Quando adicionado ao albuterol tem efeito sinérgico (asma aguda grave), DPOC Tiotrópio – duração de 24 horas; DPOC CORTICOSTERÓIDES INALADOS – ANTIINFLAMATÓRIOS (CONTROLE) a) Ação: inibição da produção de citocinas inflamatórias. Não relaxam diretamente o músculo, mas reduzem reatividade bronquica, aumentam o calibre das vias e diminuem a frequencia de exacerbações (uso regular). Potencializa beta-agonistas, mas sua ação importante é inibir inflamação linfocítica e eosinofílica da mucosa. b) Uso clínico: Melhoram gravidade, exacerbações, qualidade de vida. Graves efeitos na administração crônica (orais e parenterais) – reservados para pacientes urgentes (não melhoram com broncodilatadores ou agravam os sintomas mesmo em terapia de manutenção). Terapia de controle – via aerossol (reduz efeitos sistêmicos e diminui insuficiência supra-renal) Emergência: dose única VO diária ou IV de 6/6h. Reduz gradualmente pós melhora da obstrução. Beclometasona, Triancinolona, Flunisolona, Fluticasona, Budesonida e Mometasona. Reaçoes adversas: candidíase orofaríngea, rouquidão (efeito nas cordas vocais), osteoporose e catarata (uso prolongado), redução da velocidade do crescimento (crianças). Uso crônico: reduz efetivamente os sintomas e melhora a função pulmonar (casos leves). Diminui ou elimina o uso de corticóides orais (casos graves). O uso crônico reduz a reatividade brônquica (diferente dos b-agonistas e teofilina). Não são curativos. 2 Inibidores da Via de Leucotrienos - LTB4 – quimioatraente de neutrófilos - LTC4 e D4 – broncoconstrição, aumento da reatividade brônquica, edema de mucosa, hipersecreção de muco Zileuton: inibidor da 5-lipooxigenase (4x ao dia) – menos preescrito: muitas doses e hepatotoxicidade Zafirlukast e Montelukast: antagonistas do receptor de LTD4 (2 e 1 vez ao dia) Eficazes em administração regular. Reduzem a frequencia das exacerbações (como os corticóides), mas seu efeito na reatividade, sintomas, inflamação e calibre é mais reduzido que o do corticóide. Vantagem: administração oral, pp em crianças (não adaptação a inalação) – Montelukast: crianças >6 anos Importante papel na asma induzida por aspirina (broncoconstrição e sintomas de liberação de histamina: ruborização e cólicas) – ao inibir a sintese de PG, desvia o acido araquidônico para a sintese de leucotrienos. Outras: 1. Anticorpos monoclonais Anti-IgE Liga-se ao IgE na porção de ligação aos mastócitos e células inflamatórias. Não ativa os IgE já ligados, não estimulando degranulação dos mastócitos. Reduz a gravidade, a magnitude das respostas, a necessidade de corticóides (moderada a grave), melhora sintomas nasais e conjuntivais. 2. Bloqueadores do canal de cálcio – Nifedipina e Verapamil Todas as funções patológicas da asma dependem da movimentação de Cálcio. Não afetam o diâmetro basal das vias, mas inibem intensamente o estreitamento. Quando inalados inibem com menor eficácia que o albuterol. 3. Doadores de óxido nítrico Inalada como gás, dilata os vasos sanguíneos pulmonares e o músculo liso das vias. 4. Drogas que abrem os canais de potássio - Cromakalim Bloqueio dos alfa-adrenérgicos e hiperpolarização direta das células musculares por abertura dos canais de K+. FARMACOLOGIA CLÍNICA 1. Broncodilatadores Asma leve – sintomas ocasionais: beta-agonistas inalado (albuterol), quando necessário. Sintomas mais frequentes ou noturnos: tto adicional com antiinflamatório inalado (corticosteróide ou cromolina) ou tto oral (antagonistas de receptores de leucotrienos). Sintomas insuficientemente controlados: teofilina 2. Corticosteróides Sintomas leves, frequentes, obstrução permanente (com broncodilatadores): corticosteróides inalados Sintomas graves ou obstrução grave: corticosteróides orais (inicial) e inalados (após melhora clínica), reduzindo as doses. Sintomas não controlados com dose padrão de corticóide inalado: adição de beta-agonista de ação prolongada (salmeterol, formoterol) – mais eficaz que o aumento da dose de corticóide. Pode haver necessidade de uso de beta-agonista inalado padrão de ação curta para sintomas agudos. 3. Cromolina e Nedocromil Alternativa para os corticóides inalados em pacientes com sintomas >2x/semana ou sono interrompido. Cromolina usada em crianças por nao ter os efeitos sistêmicos do corticóide. Sintomas sazonais ou após estimulos bem definidos Terapia de manutenção com a cromolina (tão eficaz quanto teofilina) 4. Antagonistas muscarínicos Grave obstrução/ emergência: associado a drogas simpaticomiméticas DPOC (mais que na asma) Alternativa para os que não toleram beta-agonistas Tratamento prolongado 5. Tratamento da asma aguda Crises leves: beta-agonista ou injeção de adrenalina (SC) – mais eficazes que aminofilina Crises graves: O2, albuterol aerossol e tto sistêmico com prednisona ou metilprednisolona 3