União facilita compra de carro e dificulta aquisição de imóvel

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ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SÁBADO, 07 DE JUNHO DE 2014
Economia
União facilita compra de carro
e dificulta aquisição de imóvel
RODRIGO GAVINI - 29/01/2013
Ao mesmo tempo que
estimula a venda de
veículos, o governo
aumenta o valor exigido
como entrada para
a compra de imóveis
Ana Eliza Oliveira
e de um lado o governo facilita a compra de carros novos, por outro, realizar o sonho da casa própria financiando
um imóvel pela Caixa Econômica
Federal ficou mais difícil.
Isso porque a porcentagem de
entrada mínima, que antes era de
5%, aumentou para até 10%, ou seja, dobrou, nos contratos firmados
pelo Sistema de Amortização
Constante (SAC) — no qual as parcelas vão caindo ao longo do tempo. Já nos empréstimos feitos pela
tabela Price — em que o valor da
prestação é fixo —, o percentual de
5% passou para 20%.
A determinação do Ministério
das Cidades foi publicada no Diário Oficial da União. A regra vale
para quem tem renda de até R$
5.400 e mora em municípios com
população igual ou superior a 250
mil habitantes.
Leandro Pacífico, presidente da
Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), explica que a medida tem dois efeitos.
“Um ponto negativo é a dificuldade de comprar um imóvel. Por
outro lado, pode ser uma medida
positiva se reduzir a inadimplência e fizer com que as pessoas não
comprem imóveis por impulso”.
O doutor em contabilidade e diretor da Fucape, Valcemiro Nossa,
pontua que, com o valor da entrada maior, a tendência é de que as
prestações da casa própria fiquem
mais barata.
S
VEÍCULOS
Apesar de dificultar a compra da
casa própria, o Banco Central avalia aprovar medidas de incentivo à
oferta de crédito para a venda de
automóveis e de socorro às montadoras.
Para o Planalto, o objetivo dessa
medida é evitar o desemprego na
indústria.
De um lado, é estudada a criação
de um Fundo de Investimentos em
Direitos Creditórios (Fidc), no valor de R$ 5 bilhões, destinado a
comprar carteiras de crédito dos
bancos de montadoras.
Outra sugestão é a redução da
necessidade de requerimento de
capital dos bancos para operações
de aquisição de veículos.
No final do mês, o benefício do
IPI estava previsto para terminar,
o que vai aumentar o preço dos automóveis no País.
Porém, o governo sinalizou que
deve prorrogar o IPI e ainda avalia
como ficará a situação já que espera que as montadoras reduzam
também suas margens de lucro.
VALCEMIRO NOSSA observa que o valor da entrada interfere também no custo da prestação do imóvel
SIMULAÇÕES
Parcelas podem reduzir ou ter valor fixo
Tabela SAC
> PELO Sistema de Amortização Cons-
tante (SAC) as parcelas vão caindo
ao longo do tempo. Nesse caso, a entrada deve ser de 10%.
SIMULAÇÃO 1
> PREÇO DO IMÓVEL :R$ 190 mil
> JUROS AO ANO: 5%
> PRAZO PARA PAGAR : 360 meses
> AS PARCELAS começam em R$
1.171,67 e terminam em R$ 476,93
SIMULAÇÃO 2
> PREÇO DO IMÓVEL :R$ 170 mil
> JUROS AO ANO: 5%
ENTENDA
Entrada de até 20%
> A COMPRA da casa própria ficou
mais difícil para quem quer financiála por meio de cartas de crédito da
Caixa Econômica Federal mas não
tem muito dinheiro guardado.
> O PERCENTUAL de entrada, que era
de 5%, passou para 20%, nos empréstimos feitos pela tabela Price —
em que o valor da prestação é fixo —,
e para 10%, nos contratos firmados
pelo Sistema de Amortização Constante (SAC) — quando as parcelas
vão caindo ao longo do tempo.
> A REGRA vale para quem tem renda
de até R$ 5.400 e mora em municípios com população igual ou superior a 250 mil habitantes.
> A DETERMINAÇÃO do Ministério das
Cidades, publicada no Diário Oficial
da União
Fonte: Diário Oficial da União.
> PRAZO PARA PAGAR : 300 meses
> AS PARCELAS começam em R$
1.133,34 e terminam em R$ 512,07
SIMULAÇÃO 3
> PREÇO DO IMÓVEL :R$ 350 mil
> JUROS AO ANO: 5%
> PRAZO PARA PAGAR : 360 meses
> AS PARCELAS começam em R$
2.158,34 e terminam em R$ 878,56
Tabela Price
> PELA TABELA Price, em que o valor
da prestação é fixo, a entrada deve
ser de 20%.
SIMULAÇÃO 4
> PREÇO DO IMÓVEL :R$ 200 mil
> JUROS AO ANO: 5%
> PRAZO PARA PAGAR : 360 meses
> A S PA R C E L A S são fixas de R$
848,09
SIMULAÇÃO 5
> PREÇO IMÓVEL :R$ 230 mil
> JUROS AO ANO: 5%
> PRAZO PARA PAGAR : 360 meses
> A S PA R C E L A S são fixas de R$
975,30
Fonte: Valcemiro Nossa, diretor da Fucape.
ANÁLISE
Trunfo da Presidente
para subir nas
pesquisas eleitorais
Marcelo Loyola Fraga,
Com entrada muito baixa, o financiamento se transforma numa
verdadeira “cilada” para o mutuário, causando um aumento na inadimplência. Então, a iniciativa do
governo, de aumentar o valor, tenta
acabar com esse problema.
Com relação ao incentivo à venda
de automóveis, acredito que o governo tem agido muito lentamente
para tentar reduzir os preços, reconhecidamente muito elevados no
Brasil, principalmente devido à alta
carga tributária e baixa produtividade.
Claro que essas iniciativas, agradam, e muito, às dezenas de montadoras instaladas no País e a toda
a sua enorme cadeia produtiva. Porém devem ser vista com cautela
pelos bancos e mercado, uma vez
que podem aumentar a inadimplência, como ocorreu no final do
governo Lula.
É preciso avaliar com cautela,
visto que tais medidas em ano de
eleição, passa a ser um trunfo nas
mãos da Presidente para subir nas
pesquisas eleitorais. Independentemente da determinação do governo, sempre recomendo que a
entrada para financiar um imóvel
deve ser a maior possível, uma vez
que, como geralmente são prazos
muito longos, a prestação fica quase insuportável para o cliente.
economista e coordenador
geral da Faculdade PIO XII
Lula expõe
mais uma
divergência
na economia
PORTO ALEGRE
O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva voltou ontem a explicitar divergências com a política econômica do governo de
sua sucessora, Dilma Rousseff.
Em palestra promovida pelo
jornal El País, em Porto Alegre,
Lula criticou publicamente o
secretário do Tesouro Nacional,
Arno Augustin, que estava na
plateia e é um dos principais
nomes da equipe econômica do
governo federal. O principal alvo das críticas de Lula durante
mais de uma hora de palestra foi
a escassez de crédito.
Foi a segunda vez em menos
de dois dias que o ex-presidente
reclamou da economia. Na véspera, em palestra promovida
pela revista Voto, também na
capital gaúcha, ele disse estar
insatisfeito com as projeções de
inflação.
“Se depender do pensamento
do Arno você não faz nada. Não
é por maldade dele, não. A nossa
tesoureira em casa é a nossa
mulher e também é assim. Elas
não querem gastar, só querem
guardar, mas tem que gastar um
pouco também”, afirmou Lula.
Pesquisa do Datafolha divulgada ontem mostra que 36% da
população está pessimista em
relação à economia e espera um
2015 pior do que 2014.
Ao falar dos motivos do sucesso de seu segundo mandato,
Lula citou o aumento do crédito, principalmente para pessoas
de baixa renda. “Uma terceira
medida que nós tomamos foi
aumentar a oferta de crédito
neste País. O Arno nem sempre
gosta disso”, disse Lula.
Logo em seguida, o ex-presidente cobrou abertamente explicações de Augustin sobre as
medidas de contenção de crédito. “Acho Arno que um dia você
vai ter que me explicar porque
se a gente não tem inflação de
demanda porque a gente está
barrando crédito. Porque o crédito precisa chegar. Com crédito todo mundo vai à luta. Sem
crédito ninguém vai a lugar nenhum. Podemos chegar a 80%
do PIB de crédito, 90%, não tem
nenhuma importância. Tem
país com 120%.”
ARQUIVO/AT
EX-PRESIDENTE LULA: críticas
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