36 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, SÁBADO, 07 DE JUNHO DE 2014 Economia União facilita compra de carro e dificulta aquisição de imóvel RODRIGO GAVINI - 29/01/2013 Ao mesmo tempo que estimula a venda de veículos, o governo aumenta o valor exigido como entrada para a compra de imóveis Ana Eliza Oliveira e de um lado o governo facilita a compra de carros novos, por outro, realizar o sonho da casa própria financiando um imóvel pela Caixa Econômica Federal ficou mais difícil. Isso porque a porcentagem de entrada mínima, que antes era de 5%, aumentou para até 10%, ou seja, dobrou, nos contratos firmados pelo Sistema de Amortização Constante (SAC) — no qual as parcelas vão caindo ao longo do tempo. Já nos empréstimos feitos pela tabela Price — em que o valor da prestação é fixo —, o percentual de 5% passou para 20%. A determinação do Ministério das Cidades foi publicada no Diário Oficial da União. A regra vale para quem tem renda de até R$ 5.400 e mora em municípios com população igual ou superior a 250 mil habitantes. Leandro Pacífico, presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), explica que a medida tem dois efeitos. “Um ponto negativo é a dificuldade de comprar um imóvel. Por outro lado, pode ser uma medida positiva se reduzir a inadimplência e fizer com que as pessoas não comprem imóveis por impulso”. O doutor em contabilidade e diretor da Fucape, Valcemiro Nossa, pontua que, com o valor da entrada maior, a tendência é de que as prestações da casa própria fiquem mais barata. S VEÍCULOS Apesar de dificultar a compra da casa própria, o Banco Central avalia aprovar medidas de incentivo à oferta de crédito para a venda de automóveis e de socorro às montadoras. Para o Planalto, o objetivo dessa medida é evitar o desemprego na indústria. De um lado, é estudada a criação de um Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (Fidc), no valor de R$ 5 bilhões, destinado a comprar carteiras de crédito dos bancos de montadoras. Outra sugestão é a redução da necessidade de requerimento de capital dos bancos para operações de aquisição de veículos. No final do mês, o benefício do IPI estava previsto para terminar, o que vai aumentar o preço dos automóveis no País. Porém, o governo sinalizou que deve prorrogar o IPI e ainda avalia como ficará a situação já que espera que as montadoras reduzam também suas margens de lucro. VALCEMIRO NOSSA observa que o valor da entrada interfere também no custo da prestação do imóvel SIMULAÇÕES Parcelas podem reduzir ou ter valor fixo Tabela SAC > PELO Sistema de Amortização Cons- tante (SAC) as parcelas vão caindo ao longo do tempo. Nesse caso, a entrada deve ser de 10%. SIMULAÇÃO 1 > PREÇO DO IMÓVEL :R$ 190 mil > JUROS AO ANO: 5% > PRAZO PARA PAGAR : 360 meses > AS PARCELAS começam em R$ 1.171,67 e terminam em R$ 476,93 SIMULAÇÃO 2 > PREÇO DO IMÓVEL :R$ 170 mil > JUROS AO ANO: 5% ENTENDA Entrada de até 20% > A COMPRA da casa própria ficou mais difícil para quem quer financiála por meio de cartas de crédito da Caixa Econômica Federal mas não tem muito dinheiro guardado. > O PERCENTUAL de entrada, que era de 5%, passou para 20%, nos empréstimos feitos pela tabela Price — em que o valor da prestação é fixo —, e para 10%, nos contratos firmados pelo Sistema de Amortização Constante (SAC) — quando as parcelas vão caindo ao longo do tempo. > A REGRA vale para quem tem renda de até R$ 5.400 e mora em municípios com população igual ou superior a 250 mil habitantes. > A DETERMINAÇÃO do Ministério das Cidades, publicada no Diário Oficial da União Fonte: Diário Oficial da União. > PRAZO PARA PAGAR : 300 meses > AS PARCELAS começam em R$ 1.133,34 e terminam em R$ 512,07 SIMULAÇÃO 3 > PREÇO DO IMÓVEL :R$ 350 mil > JUROS AO ANO: 5% > PRAZO PARA PAGAR : 360 meses > AS PARCELAS começam em R$ 2.158,34 e terminam em R$ 878,56 Tabela Price > PELA TABELA Price, em que o valor da prestação é fixo, a entrada deve ser de 20%. SIMULAÇÃO 4 > PREÇO DO IMÓVEL :R$ 200 mil > JUROS AO ANO: 5% > PRAZO PARA PAGAR : 360 meses > A S PA R C E L A S são fixas de R$ 848,09 SIMULAÇÃO 5 > PREÇO IMÓVEL :R$ 230 mil > JUROS AO ANO: 5% > PRAZO PARA PAGAR : 360 meses > A S PA R C E L A S são fixas de R$ 975,30 Fonte: Valcemiro Nossa, diretor da Fucape. ANÁLISE Trunfo da Presidente para subir nas pesquisas eleitorais Marcelo Loyola Fraga, Com entrada muito baixa, o financiamento se transforma numa verdadeira “cilada” para o mutuário, causando um aumento na inadimplência. Então, a iniciativa do governo, de aumentar o valor, tenta acabar com esse problema. Com relação ao incentivo à venda de automóveis, acredito que o governo tem agido muito lentamente para tentar reduzir os preços, reconhecidamente muito elevados no Brasil, principalmente devido à alta carga tributária e baixa produtividade. Claro que essas iniciativas, agradam, e muito, às dezenas de montadoras instaladas no País e a toda a sua enorme cadeia produtiva. Porém devem ser vista com cautela pelos bancos e mercado, uma vez que podem aumentar a inadimplência, como ocorreu no final do governo Lula. É preciso avaliar com cautela, visto que tais medidas em ano de eleição, passa a ser um trunfo nas mãos da Presidente para subir nas pesquisas eleitorais. Independentemente da determinação do governo, sempre recomendo que a entrada para financiar um imóvel deve ser a maior possível, uma vez que, como geralmente são prazos muito longos, a prestação fica quase insuportável para o cliente. economista e coordenador geral da Faculdade PIO XII Lula expõe mais uma divergência na economia PORTO ALEGRE O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a explicitar divergências com a política econômica do governo de sua sucessora, Dilma Rousseff. Em palestra promovida pelo jornal El País, em Porto Alegre, Lula criticou publicamente o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que estava na plateia e é um dos principais nomes da equipe econômica do governo federal. O principal alvo das críticas de Lula durante mais de uma hora de palestra foi a escassez de crédito. Foi a segunda vez em menos de dois dias que o ex-presidente reclamou da economia. Na véspera, em palestra promovida pela revista Voto, também na capital gaúcha, ele disse estar insatisfeito com as projeções de inflação. “Se depender do pensamento do Arno você não faz nada. Não é por maldade dele, não. A nossa tesoureira em casa é a nossa mulher e também é assim. Elas não querem gastar, só querem guardar, mas tem que gastar um pouco também”, afirmou Lula. Pesquisa do Datafolha divulgada ontem mostra que 36% da população está pessimista em relação à economia e espera um 2015 pior do que 2014. Ao falar dos motivos do sucesso de seu segundo mandato, Lula citou o aumento do crédito, principalmente para pessoas de baixa renda. “Uma terceira medida que nós tomamos foi aumentar a oferta de crédito neste País. O Arno nem sempre gosta disso”, disse Lula. Logo em seguida, o ex-presidente cobrou abertamente explicações de Augustin sobre as medidas de contenção de crédito. “Acho Arno que um dia você vai ter que me explicar porque se a gente não tem inflação de demanda porque a gente está barrando crédito. Porque o crédito precisa chegar. Com crédito todo mundo vai à luta. Sem crédito ninguém vai a lugar nenhum. Podemos chegar a 80% do PIB de crédito, 90%, não tem nenhuma importância. Tem país com 120%.” ARQUIVO/AT EX-PRESIDENTE LULA: críticas