III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. IMPACTO DOS CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE PARA A COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL Nilton Marlúcio de Arruda (UFF) - [email protected] Dália Maimon (UFRJ) RESUMO Este artigo tem como objetivo discutir uma proposta metodológica que inclua na estratégia de propaganda das empresas os relacionamentos com alguns dos seus stakeholders, bem como de se refletir sobre a possibilidade e a urgência de se adotar novos discursos e melhores práticas que estejam baseados nos conceitos da Responsabilidade Social e do Desenvolvimento Sustentável. Para tanto foi proposta uma pesquisa de campo, de caráter qualitativo e quantitativo, a partir de um questionário a ser respondido por dezenas de agências de publicidade e propaganda e por centenas de profissionais das áreas de comunicação e de marketing. Tendo em vista que a publicidade e a propaganda exercem forte poder de persuasão nos relacionamentos entre empresas e consumidores, o artigo visa, ainda, refletir sobre alguns exemplos de mudança na linguagem publicitária, que já podem ser percebidos em campanhas realizadas nos últimos anos, quanto ao seu potencial de transformar-se em tendência mercadológica. Palavras-chave: Sustentabilidade, responsabilidade social, comunicação empresarial, marketing, e publicidade e propaganda. ABSTRACT The main objective of this article is to discuss the methodological proposal that will include in the propaganda strategies of the companies the relationship with some of the stakeholders as well as to think about the possibility and urgency of adopting new methods and better practices based on concepts of the Social Responsibility and Sustainable Development. To attain this purpose it has been proposed field research work with qualitative and quantitative character, starting from a questionnaire to be answered by several publicity and propaganda agencies and also by hundreds of professionals of communication and marketing areas. It must be considered that publicity and propaganda exert a strong power of persuasion and relationship between firms and consumers. This article also has in view to make people think about some examples of changes in publicity language that can already be perceived in campaings held in the last few years relating to their potential to change into methodological marketing. Key-words: Sustainability, Social Responsibility, Managerial Communication, Marketing (Advertisement and Publicity). 1. INTRODUÇÃO Tanto no ambiente acadêmico quanto no mundo empresarial, uma nova pauta conceitual, que vem sendo bastante debatida nas mais diversas frentes de discussão, tem impactado diretamente a atuação das organizações. Trata-se da evidência do modelo triple bottom line, bem como de uma forma de relacionamento baseada na proposta de stakeholders. Em ambas as situações, as empresas se vêem obrigadas a ampliar seu olhar diante dos ambientes de atuação, seja pela presença de novos atores no processo de relacionamento mercadológico, seja pela já denunciada escassez de recursos naturais para o processo produtivo. Diante destes novos determinantes, o sucesso organizacional depende significativamente da utilização do composto de comunicação de cada, aqui reconhecida como um ferramental de gestão. De acordo com o conceito do triple bottom line, as organizações necessitam levar em conta as três dimensões do modelo – econômica, social e ambiental -, que são consideradas fundamentais para a perpetuação dos negócios, das empresas e do próprio planeta. Numa transposição destes conceitos para a atuação dos segmentos de comunicação empresarial, propõe-se a aplicação de uma pesquisa com a finalidade de identificar a influência de cada uma destas dimensões quando do planejamento e da elaboração de campanhas publicitárias para as empresas. Ou seja, pretende-se refletir sobre a combinação entre consumo, marketing e responsabilidade social. Neste sentido, pretende-se diagnosticar, por meio da aplicação de um questionário, se o foco comunicacional ainda é, exclusivamente, voltado para as questões racionais como custo, orçamento, resultados imediatos nas vendas e rentabilidade. Assim, como já se verifica na atuação de algumas empresas, pretende-se verificar se há um olhar mais ampliado por conta das agências que as possibilite incluir os demais aspectos da sustentabilidade em suas campanhas. Ou, ainda, pesquisar-se quanto existe de comum entre as três dimensões e como as empresas de comunicação estão utilizando-se desta positiva interseção. A princípio teóricos e de pouca fundamentação, estes questionamentos visam à reflexão sobre a atuação dos profissionais de comunicação e de marketing. Conseqüentemente, as discussões ganharão conteúdo e profundidade na medida em que estes profissionais forem sendo ouvidos. Ainda melhor, espera-se que os resultados apontados pela pesquisa possam colaborar para a elaboração de algumas importantes diretrizes no sentido de ajudar as empresas e as agências a se utilizarem melhor da comunicação para construir seus relacionamentos. No mesmo grau de importância, o relacionamento organizacional baseado nos conceitos de stakeholders impõe um novo posicionamento às empresas, no qual a imagem institucional deve exercer forte impacto junto a seus públicos prioritários, ao mesmo tempo em que é significativamente impacto por eles. Trata-se, portanto, de uma forma de atuação mercadológica de inclusão, cuja prática também depende seriamente do composto de comunicação e de marketing na medida em que implica na satisfação de interesses dos mais diversos atores presentes em seu relacionamento. Portanto, a comunicação empresarial, enquanto um instrumental de gestão, encontrase diante de um complexo desafio. Como cumprir seu papel de ampliar vendas e negócios, para o que necessita de um modelo de consumo exagerado, diante da necessidade de alertar para os riscos que o planeta vem sofrendo com o modo atual de se consumir? Entre a tentação de empurrar pessoas para o consumo desenfreado e a cobrança por uma atuação mais educativa, as ferramentas de comunicação e de marketing vão, com certeza, precisar voltar às oficinas a fim de passar por séria reciclagem de hábitos, de discursos e de atuação. Mesmo porquê, quando se fala da sobrevivência dos negócios, das empresas e, fundamentalmente, do planeta; os profissionais de comunicação e de marketing sabem que dificilmente haverá oportunidade melhor para se fazer diferença nesta constante construção dos relacionamentos mercadológicos. E, neste sentido, não há estratégia mais eficaz do que aquela que investe numa atitude empresarial onde a prática confirme o discurso publicitário que, por sua vez, dê visibilidade aos hábitos de responsabilidade social da empresa. Na verdade, trata-se da construção de um estoque de boa vontade que se dá a partir de um relacionamento que se trava entre a organização e todos os seus stakeholders. Mais do que fidelidade, tais práticas mercadológicas podem proporcionar uma certa cumplicidade entre vendedores e compradores, entre empresas e consumidores, entre marcas e a sociedade em geral; a partir, principalmente, de uma nova proposta de consumo e propaganda. Trata-se, na verdade, de uma mudança de comportamento nos meios e nos profissionais de propaganda e marketing que deve ir, necessariamente, muito além do simples pensamento de se promover campanhas de sensibilização e de conscientização junto aos consumidores. Mais do que utilizar frases, conceitos, promessas e slogans para conquistar a simpatia das pessoas; cabe à mídia um enorme desafio de provocar reflexões sobre os hábitos de consumo e suas implicações para o meio ambiente. Ou seja, na guerra por um consumo mais consciente, não pode haver vencedores nem perdedores, mas uma conjunção de esforços no sentido de se otimizar os recursos naturais não renováveis com a finalidade de atender às necessidades dos consumidores sem, no entanto, causar tantos danos ao meio ambiente. Ou seja, no paradoxo sustentabilidade ou morte, cabe ä Comunicação Integrada de Marketing o papel de porta-voz de um novo modelo de relacionamento entre empresas, mercados e consumidores. Ainda, segundo o Instituto Akatu, “alguns profissionais, inclusive, já mostram de que maneira é possível trazer uma dimensão de consciência à relação de consumo. São pequenos gestos individuais que certamente teriam efeitos grandiosos se levados à prática coletiva”. E se existe algum segmento que pode liderar este movimento revolucionário, sem dúvida chama-se mídia. Por um novo modelo de consumo Num processo de compra, muitas vezes, a embalagem pode causar maior impacto ambiental do que propriamente o produto em si. Analisemos, por exemplo, a aquisição de um simples par de sapatos, quando o consumidor, além do objeto, é convidado a levar para casa um arsenal de coisas supérfluas que servem, tão somente, para a geração desnecessária de lixo: chumaço de papel amassado em cada pé para não deformar os sapatos, uma folha de “papel de seda”, uma caixa de papelão, uma folha de papel de presente e uma sacola plástica promocional. Entendendo a embalagem como a mais completa tradução da ação da comunicação e do marketing no processo de venda, percebe-se aí, não apenas a comprovação do desperdício de recursos, quanto uma enorme oportunidade para se investir na conscientização do consumidor para um comportamento menos predatório ao meio ambiente. Se, conforme Saint-Exupéry (2000,p.56), “o essencial é invisível aos olhos”, daqui em diante o que é essencial será, cada vez mais, carente de visibilidade diante do novo desafio de orientar os novos hábitos de consumo da sociedade contemporânea. Da literatura para as estratégias de Comunicação Integrada de Marketing, o entendimento do que é essencial ganha importância fundamental quando o assunto é a necessária convivência entre mercado, responsabilidade social e sustentabilidade. E, sem dúvida, o principal porta-voz dessa nova ordem mercadológica são os profissionais de comunicação e de marketing. Diante do paradoxo sustentabilidade ou morte, a comunicação empresarial não apenas tem o papel transformador como é o próprio papel de onde se esperam mágicas receitas publicitárias onde o verbo conscientizar deve ter prioridade em relação ao verbo vender. Afinal, além da Revolução Industrial e do avanço tecnológico dos meios de produção; é creditada à mídia uma grande parte da responsabilização pela universalização do exagerado modelo consumista que se observa no mundo e que causa sérias conseqüências ao planeta. Diante da evidente exaustão dos recursos naturais não-renováveis, já denunciados em inúmeros documentos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, torna-se urgente e inevitável uma completa reformulação no hábito de consumo das pessoas. Se, de acordo com estudos da organização não-governamental WWF, “o consumo de recursos naturais já supera em 20% ao ano a capacidade do planeta de regenerá-los”, fica evidente uma enorme oportunidade para se rever o atual modelo de produção e de consumo. E isso exige, de imediato, um trabalho de orientação comportamental para o qual os meios de comunicação mercadológica tem imensa demanda por atender. Algo um pouco diferente do que se observa da atual prática do ambiente publicitário. Segundo Ries (2002, p. 28), o volume de propaganda nos Estados Unidos apresenta exagerados aumentos nos seus custos. Em 1972, os gastos per capita anuais com propaganda eram de US$ 110 enquanto que em 2002 é de US$ 865, o que o autor considera um excesso de comunicação num esforço gigantesco para vender. Ele faz, ainda, outras comparações com relação a gastos com propaganda naquele país, quando em 1998 houve um crescimento de 7% em relação ao ano anterior que, por sua vez, ficou menor em 10% em comparação com 1999, numa taxa de crescimento que se repetiu em 2000. Se “o consumismo desenfreado é a maior ameaça à humanidade”, conforme relatório publicado em 2004 pelo Worldwatch Institute, o consumo consciente passa a ser o novo cardápio a ser oferecido aos compradores nossos de cada dia. E, novamente, quem tem a função estratégica de montar este novo portfolio de consumo e, ainda, lhe dar visibilidade são os profissionais de comunicação e de marketing que, numa visão ainda conservadora e imediatista, costumam alimentar as empresas de todo o mundo com receitas mirabolantes para fazer crescer o bolo das vendas. Dessa forma, como passar do efeito AIDA - Atenção, Interesse, Desejo, Ação –, segundo Kotler (2000, p. 228), para o conceito politicamente correto de consumir e de comprar? Um novo posicionamento que se espera dos meios de propaganda e de marketing passa, inevitavelmente, por uma relação que é no mínimo paradoxal. Ou seja, cabe aos profissionais da imagem uma imediata transição entre o vender a qualquer custo e o “educar para o consumo consciente”. Mais do que apresentar resultados, definir indicadores concretos de agregação de valor e provar que faz a diferença no processo mercadológico das empresas, os segmentos de comunicação e de marketing serão cobrados, a partir de agora, por orientar uma relação de consumo que não seja predatória para o planeta. Se não tanto pelas empresas patrocinadores de produtos e campanhas, muito mais pelos cidadãos que detém o poder decidir pela compra. E que, mais que isso, tem demonstrado por números e pesquisas que estão cada vez mais dispostos a utilizarem seu poder de escolha. Segundo o Instituto Akatu, “a humanidade caminha para um beco sem saída. Se o atual ritmo de exploração do planeta continuar, em um século não haverá fontes de água ou de energia, reservas de ar puro nem terras para agricultura em quantidade suficiente para a preservação da vida”. Nesse processo, o consumidor consciente tem um papel fundamental. Nas suas escolhas cotidianas, seja na forma como consome recursos naturais, produtos e serviços, seja pela escolha das empresas das quais vai comprar em função de sua responsabilidade social, pode ajudar a construir uma sociedade mais sustentável e justa. Eis aí um imenso desafio e excelente oportunidade para os meios e para os profissionais de comunicação e de marketing. E este desafio não parece nada fácil. Mesmo porquê, ainda é muito comum se ouvir pelos seminários e congressos que se multiplicam pelo mundo afora, renomados profissionais e verdadeiros gurus do marketing alardeando que, por exemplo, “os consumidores são um alvo-móvel e a comunicação é isca, anzol, arpão e rede”. Vive-se, ainda, numa visão predatória pela qual é preciso “conquistar” o consumidor a qualquer preço. Se neste mar de agressividade mercadológica as vendas são vistas como multiplicação de peixes, as ondas do consumo futuro, no entanto, apontam para a necessidade de se educar a consumir com responsabilidade. Ou seja, uma espécie de ensinar os conceitos da sustentabilidade ao invés dar fim aos recursos naturais que não se renovam. Quem não se lembra do emblemático caso da ampliação das válvulas de abertura nas embalagens de creme dental? Ou seja, a “grande sacada” de profissionais de marketing no final dos anos 70 é vista hoje como um péssimo exemplo de incentivo ao consumo exagerado e desnecessário. Afinal, a quantidade de creme dental necessária para a escovação dos dentes por uma pessoa adulta é, aproximadamente, um quarto do volume de pasta disponibilizada pelas embalagens. Então, a atitude de “arrombar” a abertura das tubulações a fim de aumentar o consumo de pasta de dente e melhorar as vendas pode ser considerada, no mínimo, desonesta em relação aos consumidores e ao meio ambiente. Ainda mais grave, se considerarmos que tal iniciativa foi tomada de forma proposital e sem prestação de informações ao consumidor. Numa recente pesquisa realizada pelo Instituto Gallup sobre a honestidade e a ética de pessoas em 32 diferentes profissões, a propaganda e os publicitários ficaram simplesmente em penúltimo lugar. A pesquisa sobre percepção pública de honestidade considerou, além da publicidade e da propaganda, as seguintes profissões: enfermeiras, sacerdotes, executivos, farmacêuticos, médicos, banqueiros, advogados, corretores, vendedores de automóveis e juizes. Voltando ao exemplo da compra do par de sapatos, cabem algumas reflexões. Do ponto de vista “politicamente correto”, a função de um novo par de sapatos é simplesmente garantir a locomoção do usuário da forma mais confortável e elegante possível. Assim, o ideal é que o consumidor, passando do descartável para o retornável, devolvesse à indústria seu velho par de sapatos e levasse apenas o novo objeto, sem levar para casa o peso do lixo da embalagem. Ainda que se considerem as oportunidades promocionais para divulgação da marca de fornecedores e lojas distribuidoras, o excesso de material utilizado na embalagem pode ser desprezado sem prejuízo para o processo de relacionamento comercial. Como contrapartida, o consumidor recebe então uma bela lição de sustentabilidade. Nesta direção, alguns fabricantes e revendedores já investem na prática de uma embalagem feita de pano, com grande possibilidade de aproveitamento pelo consumidor para diversas funções. Uma destas novas funções, inclusive, passa a ser guardar os próprios sapatos nos armários, numa espécie de reciclagem dos hábitos. Eis ai um bom exemplo de incentivo ao consumo consciente, de alternativas para hábitos e comportamentos mercadológicos. Mas há, no entanto, nesta trajetória de mudança comportamental rumo à sustentabilidade, algumas “espertezas” mercadológicas que são praticadas a fim de se encurtar caminhos. O marketing social - paliativo entre o abandono estatal e o oportunismo empresarial - tenta fazer de algumas práticas responsáveis a melhor tradução do que deveria ser uma atuação socialmente responsável. São campanhas em defesas de inúmeras causas sociais, projetos das mais diversas naturezas para ressarcimento de antigas dívidas sociais, reinvenções capazes de conquistar prêmios e pessoas. Enfim, em nome do compromisso com a responsabilidade social, tem sido cada vez mais comum o investimento de profissionais de comunicação e de marketing e das próprias empresas em atrelar as marcas organizacionais às práticas que utilizam o social como um diferencial competitivo. Mais do que uma oportunidade mercadológica, a questão da sustentabilidade deve ser vista e trabalhada como um valor, do qual ninguém pode e deve abrir mão. Um outro importante aspecto que se percebe nos relacionamentos entre as empresas e seus diversos stakeholders diz respeito à atitude de quem está no mercado. De acordo com os conceitos de branding, a arquitetura da marca de uma organização se dá pela construção de um mercado futuro baseada, principalmente, na coerência com que a empresa atua no mercado. Ou seja, a marca é o espelho da organização e, como tal, funciona feito uma identidade cuja reputação depende da percepção de seus clientes. Neste sentido, nada pior que uma excelente estratégia de comunicação para produtos e serviços que não confirmem na prática a performance prometida pelas campanhas. Da mesma forma que a questão da responsabilidade social e da sustentabilidade surge como oportunidade ímpar para um novo mercado que considere os limites do planeta, o risco de transformá-la num oportunismo publicitário pode custar caro à imagem da empresa. Principalmente porque, no outro do balcão, não existe mais um consumidor ávido a ser pego pelas iscas do anzol de quem se proclama como criador de demandas, fornecedor de costumes, direcionador de hábitos. Longe disso, o consumidor agora é um cidadão que consome, tendo passado, há muito, da condição de objeto para sujeito do relacionamento com as empresas. A noção de sustentabilidade, portanto, vai muito além do composto de mídia. Segundo Almeida (2002, p.31) “ela pode ser melhor entendida quando atribuímos um sentido amplo à palavra `sobrevivência`. O desafio da sobrevivência – luta pela vida – sempre dominou o ser humano. Inicialmente, no enfrentamento dos elementos naturais; e, mais tarde, sobretudo agora no século XXI, no enfrentamento das conseqüências trazidas pelo imenso poder de transformação desses elementos acumulado pelo homem”. No que se refere aos meios de produção, o desafio, então, está em combinar devidamente eficácia e eficiência empresariais no que se refere à combinação de resultados com devida utilização de recursos naturais. Ou seja, uma atuação pautada no conceito de eco-eficiência que, somada à responsabilidade social, garante a sustentabilidade. Para a mídia, eis aí uma grande oportunidade de revolução dos hábitos de consumo: incluir tais aspectos quando de suas estratégias para as vendas de produtos, serviços, imagem etc. A propaganda está para o consumo das pessoas assim como a educação está para a conscientização dos consumidores. E em ambas as situações, o exercício da comunicação social tem fundamental importância e enorme responsabilidade. Na verdade, estamos falando da evolução da consciência do sujeito enquanto consumidor e que dever passar a ser entendido como um cidadão que consome. Mais que trocadilho e longe de ser um efeito publicitário, a mudança de entendimento implica em reconhecer positivamente o comportamento crítico das pessoas. Desta forma, destacamos três importantes objetivos na proposta deste trabalho. O primeiro deles é analisar as formas de abordagem – linguagem, mensagem, veículos e público-alvo - utilizadas pelas empresas de comunicação empresarial no relacionamento mercadológico. Mais adiante, vamos identificar práticas publicitárias, com base nos conceitos de Responsabilidade Social e de Desenvolvimento Sustentável, já utilizadas pelas empresas de comunicação empresarial. Finalmente, pretendemos construir um quadro teórico e metodológico como subsidio para a atuação publicitária das empresas do ponto de vista da Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável. Neste aspecto, e em função dos resultados a serem apresentados pela pesquisa que vamos propor mais à frente, a questão da capacitação de profissionais de comunicação e de marketing nos conceitos da sustentabilidade torna-se vital para o sucesso de uma proposta de mudança de comportamento. 2.OBJETIVOS O objetivo é discutir uma proposta metodológica que inclua na estratégia de propaganda das empresas os relacionamentos com alguns dos seus stakeholders, bem como de se refletir sobre a possibilidade e urgência de se adotar novos discursos e práticas baseados nos conceitos da Responsabilidade Social e do Desenvolvimento Sustentável. Na verdade, trata-se de uma proposta de se refazer uma visitação às práticas mercadológicas que se utilizam da Comunicação Integrada de Marketing diante do desafio de se incentivar as vendas paradoxalmente à escassez de recursos naturais não renováveis. Assim, pretende-se combinar instrumentos de coleta de dados identificados como se convencionou chamar de pesquisas qualitativa e quantitativa: observação participante, uso de entrevistas semi-estruturadas, grupos focais, entrevistas profundas e questionários. Neste sentido, a pesquisa vai investigar também o perfil dos profissionais que atuam nas agencias de comunicação e de marketing, bem como seu percentual em relação às diversas profissionais selecionadas para atuarem neste campo. Não por acaso, a pergunta seguinte pretende medir o grau de capacitação que é dispensado a estes profissionais no que se refere à “disciplina” responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. O resultado, devidamente analisado, poderá apontar para algumas propostas concretas de investimento educacional para estes profissionais. Diante do novo contexto que se observa no mundo empresarial – meios de produção, tecnologia de ponta, onde de consumismo, escassez de recursos naturais não renováveis, reposicionamento das empresas, cobrança dos consumidores etc -, a pesquisa vai apontar também o grau de disposição dos profissionais da área quando à escolha do discurso publicitário, numa leitura bastante real da modificação que já se observa na linguagem das propagandas nos últimos anos. Ou seja, até que ponto as mensagens de campanhas como a do banco Bradesco (“...tem que ser completo para que a sua vida também seja completa”) e do plano de saúde Unimed (“o melhor plano de saúde é viver, o segundo melhor é...”) podem ser consideradas uma tendência no mercado da comunicação mercadologia ou se apenas se tratam de modismos passageiros. 3. METODOLOGIA A pesquisa de campo visa diagnosticar quais aspectos são determinantes para as campanhas de comunicação mercadológica quando das demandas empresariais a partir da sugestão de alguns deles. Este diagnóstico será realizado levando em conta a opinião dos profissionais quanto à atuação das agencias e quanto à atuação das empresas responsáveis pelos produtos e serviços que são objetos de campanhas. Assim, os resultados proporcionarão uma excelente oportunidade de reflexão sobre a coerência ou ausência dela na relação entre empresas e profissionais de propaganda. Apresenta-se uma proposta de metodologia de questionário para posterior aplicação junto a dezenas de agências de comunicação e de marketing, pela qual serão entrevistadas centenas de profissionais com experiência no mercado publicitário. Na mesma proposta de questionário podemos observar, a partir de uma classificação livre dos entrevistados, o tipo de empresa em relação aos aspectos determinantes escolhidos para suas campanhas publicitárias. Quando da apuração dos resultados, entendemos que ficará em evidência também o perfil do consumidor que se pretende alcançar com as campanhas, num suposto alinhamento entre público, meio e mensagem. Outro aspecto importante proposto pelo questionário aponta para a disposição que os profissionais devem demonstrar para a mudança de seus conceitos, numa leitura do impacto que os conceitos de responsabilidade social e de desenvolvimento sustentável exercem sobre seu trabalho. Questionário para entrevistas com Agências de Comunicação e de Marketing 1- De 1 a 5, que grau de importância sua agência atribui para os seguintes fatores ou aspectos quando da criação de uma campanha publicitária: 1 quase nenhuma Aspecto 2 pouca 3 alguma 4 muita 5 prioritária Aceitabilidade pelo consumidor Benefícios mercadológicos Criatividade Custos financeiros Ética empresarial Ineditismo e originalidade Respeito ao consumidor Responsabilidade social Sustentabilidade Transparência empresarial Utilização de recursos naturais 2- Na sua opinião, baseada na experiência de sua agência, quanto as empresas, de um modo geral, atribuem para os mesmos fatores ou aspectos? Depende da cliente Aspecto Aceitabilidade pelo consumidor Benefícios mercadológicos Criatividade Custos financeiros Ética empresarial Ineditismo e originalidade Respeito ao consumidor Responsabilidade social Sustentabilidade Transparência empresarial 1 2 quase pouca nenhuma 3 algum a 4 muita 5 prioritária Utilização de recursos naturais 3- Na sua opinião, que tipo de cliente está mais sensibilizado com os aspectos acima? 4- Admitindo-se a crescente escassez dos recursos naturais não renováveis, como você avalia o comportamento dos profissionais de comunicação e de marketing em relação à utilização da linguagem publicitária? Aspecto Admitem diminuir 1 as mensagens de 2 3 4 apelo consumista Admitem repensar a utilização de linguagem com apelo consumista Ainda não pararam para pensar no assunto Estão preocupados com a necessidade de utilização de uma nova linguagem Não pensam no assunto 5- Com relação à formação profissional, qual o perfil quantitativo de sua equipe? Profissionais Publicitários Jornalistas Relações Públicas Marketing Outros profissionais Quantidade Percentual 5 6- Com relação aos conceitos de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável, qual o perfil quantitativo e percentual de sua equipe? Profissionais Quantidade Percentual Publicitários Jornalistas Relações Públicas Marketing Outros profissionais 7- Na sua opinião, a linguagem publicitária no futuro tende a ser: Linguagem e mensagem publicitária 1 2 3 4 5 Mais mercadológica (com o imperativo de vender e incentivo ao consumo desenfreado) Mais educacional (vender mas com o conhecimento dos impactos do produto/serviço) Mais conscientizadora (vender desde que não comprometa as gerações futuras) Mais radical (desincentivo ao consumo desenfreado) 4. RESULTADOS ESPERADOS A fim de obter as condições necessárias para uma importante reflexão sobre uma nova proposta de consumo e propaganda, pretende-se aplicar esta sugestão de questionário a, pelo menos, 60 (sessenta) agências de comunicação e de marketing, abrangendo cerca de 400 (quatrocentos) profissionais do ramo. Para tanto, será utilizada a listagem das empresas associadas à ABRACOM – Associação Brasileira das Agências de Comunicação, que congrega cerca de 200 entidades em 21 estados brasileiros. Além de ouvir a opinião de profissionais do mercado e promover o levantamento de dados em instituições de renome, pretende-se fazer contato com instituições como a ABERJ – Associação Brasileira de Comunicação Empresarial; o CONAR – Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária; o Instituto Akatu; o Instituto Ecoar para a Cidadania; o Instituto Ethos; a Organização Não Governamental Perspektiva; o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; e o Worldwatch Institute; WWF, por exemplo. Quando as informações estiverem disponíveis e devidamente analisadas e entendidas, espera-se organizá-las de forma a estruturar a dissertação de Mestrado Profissional em Sistemas de Gestão em Responsabilidade Social e Sustentabilidade, além de efetuar propostas concretas para a melhoria do exercício dos profissionais de comunicação e de marketing. É proposta deste trabalho promover uma ampla discussão sobre a importância e a força dos meios de comunicação para uma reeducação das formas de consumo diante do grande desafio que se coloca para as empresas, em particular, e para a sociedade, de forma geral. 5. CONCLUSÃO Enquanto parte do capitulo metodológico de minha tese de Mestrado, este artigo tem a intenção de iniciar uma ampla reflexão sobre a performance dos segmentos de comunicação empresarial e de marketing diante dos novos desafios organizacionais impostos pela nova ordem mundial no que se refere a consumo e divulgação de produtos e serviços. Mais do que rever práticas atuais, pretende-se avaliar a disposição para posicionamentos futuros, numa reinvenção da priorização de valores: vender a qualquer custo ou conscientizar, focar no consumidor ou relacionar-se com cidadãos que consomem, oportunizar relacionamentos ou valer-se de oportunismos de mercado, colocar a marca no centro das relações ou limitá-la à obrigação meramente comercial. Neste contexto, quando da elaboração das inúmeras campanhas mercadológicas, cabe às empresas de comunicação e de marketing não apenas a tarefa de aprimorar a linguagem e o discurso, como também proporcionar no ambiente interno das próprias empresas demandadoras das campanhas uma releitura de seus aspectos estratégicos de atuação: missão, visão, valores, objetivos, iniciativas etc. Ou seja, torna-se importante investir desde já no entendimento da perfeita sintonia entre o que dizem as organizações, através das agências publicitárias, e o que praticam as mesmas em seus relacionamentos institucionais. Longe da idéia de se buscar respostas definitivas ou preparar relatórios estanques, espera-se que a aplicação do questionário possibilite a obtenção de insumos capazes de promover, no mínimo, o entendimento da necessidade de se repensar o modelo atual de publicidade de empresas, produtos e serviços. Afinal, o impacto que vem sendo provocado nos meios de produção por conta da urgência em se aplicar os conceitos da sustentabilidade – eco-eficiência mais responsabilidade social – há de chegar também ao ambiente criativo das agências de publicidade. Mesmo porquê, tal fenômeno deve implicar tanto numa melhor promoção de empresas, produtos e serviços; como também na reformulação de seus hábitos no que se refere à utilização de recursos não renováveis na elaboração das campanhas empresariais. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Fernando. O Bom Negócio da Sustentabilidade. Rio de Janeiro – Nova Fronteira, 2002. BROSE, Markus. Metodologia Participativa: Uma introdução a 29 instrumentos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001. BUENO, Wilson da Costa. Comunicação Empresarial no Brasil: Uma leitura Crítica. São Paulo: All Print Editora, 2005. GONTIJO, Silvana. O Livro de Ouro da Comunicação. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. GRACIOSO, Francisco e PENTEADO, José Roberto. Propaganda Brasileira. 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