Análise sinótica da ocorrência de tempo severo no Vale do Paraíba em SP em julho de 2009 Na tarde do dia 28 de julho de 2009, áreas do leste e nordeste do Estado de São Paulo foram atingidas por uma tempestade severa, que veio acompanhada de descargas elétricas, rajadas de vento e queda de granizo. O granizo atingiu, principalmente, as cidades do oeste da região metropolitana de São Paulo, como em Osasco, e também as zonas sul, central, oeste e norte da capital paulista. No interior, as cidades de São José dos Campos e Taubaté, no Vale do Paraíba, e em Campinas, também foram afetadas pelo granizo. Em todas as localidades houve destruição e queda de telhados, além de janelas e carros danificados. Em algumas localidades as pedras chegaram aos 3 cm de diâmetro, e ficaram acumuladas nas ruas (Figura 1). Figura 1. Pedras de granizo ocorridas em São José dos Campos (Fonte: www.terra.com.br). A Figura 2, mostra o acumulado de descargas elétricas entre o leste e nordeste de São Paulo no decorrer do dia 28 de julho quando áreas de instabilidade atingiram este setor do Estado. Nota-se que as descargas elétricas começaram a atingir a capital de São Paulo a partir das 13h e se propagaram no decorrer da tarde para a região do Vale do Paraíba, onde houve a maior densidade. Figura 2. Descargas elétricas acumuladas sobre o leste e nordeste de São Paulo no decorrer do dia 28 de julho. Através das imagens realçadas do satélite GOES-10 do canal infravermelho (Figura 3), nota-se que nuvens de grande desenvolvimento vertical, com topo frio em torno de -60C e -70C, atingiram a área em estudo, ou seja, desde a capital paulista ao fundo do Vale do Paraíba, entre às 17:15h e 19h local do dia 28 de julho de 2009. Figura 3. Sequência de imagens realçadas do satélite GOES-10 do dia 28 de julho entre às 17:15h e 19h local. Analisando a carta sinótica de altitude (Figura 4a) das 18Z do dia 28 de julho, elaborada pelo Grupo de Previsão de Tempo (GPT) do CPTEC-INPE, nota-se uma área baroclínica entre a Região Sul do Brasil, MS e SP, com a presença de um fluxo de oeste/noroeste sobre São Paulo transportando umidade de latitudes mais baixas para a área em estudo, e fortes ventos neste nível (Jatos Subtropical (JST) e Polar Norte (JPN)). No nível de 500hPa (Figura 4b), há um reflexo do padrão observado em altitude, ou seja, o escoamento sobre o Estado de São Paulo é de oeste/noroeste, com ventos fortes sobre o centro-sul de São Paulo, indicando uma área de forte baroclinia. Pode-se observar um cavado de pouca amplitude sobre o cone leste paulista. Este sistema, embora pouco amplificado, foi determinante para o desenvolvimento das nuvens de tempestade sobre a área em estudo. a) b) Figura 4. a) Carta sinótica de altitude das 18Z do dia 28 de julho, b) Carta sinótica de nível médio das 18Z do dia 28 de julho. Em superfície (Figura 5a), nota-se a atuação de um cavado, que se estende desde o sul do MT em direção ao Estado de São Paulo, prolongando-se pelo Atlântico que, no decorrer da noite deste dia deu origem a uma onda frontal na altura do litoral norte da Região Sul (Figura 5b). Este sistema de pressão em superfície favoreceu na manutenção de um canal de umidade que era observado desde o norte da Bolívia, MS, norte do PR e SP, que aliado ao padrão de escoamento de oeste/noroeste verificado nos níveis anteriores, favorecia a umidade e instabilidade sobre São Paulo. a) b) Figura 5. a) Carta sinótica de superfície das 18Z do dia 28 de julho, b) Carta sinótica de superfície da 00Z do dia 29 de julho. Analisando a componente termodinâmica verificam-se valores de índices de instabilidade típicos de tempestades associadas com queda de granizo. Na Figura 6a, em sombreado tem-se a umidade relativa na camada entre 850 e 500hPa, onde observa-se claramente o canal de umidade descrito anteriormente, entre o norte da Bolívia, MS, norte do PR e SP. Além disso, os valores de LIFTED (linhas contínuas) variavam entre -4 e -6. Notam-se também valores elevados de K (linhas contínuas grossas), em torno de 40 (Figura 6b) e valores de SWET superiores a 300, indicando uma forte componente baroclínica. Na Figura 6c, nota-se valores do índice Vertical Totals (VT) clássicos de evento de granizo, superiores a 28. a) b) c) Figura 6. Índices de instabilidade observados no dia 28 de julho às 18Z. a) umidade relativa na camada 850/500 MB (sombreado em verde acima de 50%) e LIFETD (linhas), b) índice K (linhas) e SWEAT (sombreado acima de 200), c) total totals (tracejado acima de 45) e vertical totals (sombreado em verde acima de 25). Analisando a sondagem atmosférica (Figura 7), verifica-se que a coluna atmosférica encontrava-se bem úmida. Observam-se altos valores dos índices de instabilidade, como comentado anteriormente, sendo que nesta localidade o índice TT atingiu neste horário valor em torno de 45, um indicativo de que a camada estava bem úmida e instável. Observa-se também, através das barbelas do vento que, na camada mais baixa da atmosfera o vento girava no sentido anticiclônico e, nas camadas mais acima no sentido ciclônico, portanto, na camada inferior havia advecção de ar quente e logo acima o vento advectava ar frio assim, com ar quente por baixo e ar mais frio por cima o resultado é a condição de severidade. Figura 7. Sondagem atmosférica do Campo de Marte em São Paulo das 12Z do dia 28 de julho. Através do breve estudo, podemos concluir que a instabilidade que atuou sobre parte do Estado de São Paulo foi provocada pela atuação de um fluxo de oeste/noroeste nos níveis mais altos da troposfera que aliado a uma área de baixa pressão em superfície, e a uma massa muito úmida e instável na coluna troposférica provocou a ocorrência da chuva e da severidade na área de estudo. Elaborado por Carlos Moura e Naiane Araujo. Meteorologistas do Grupo de Previsão de Tempo (GPT) do CPTEC-INPE.