Sandra Doria Xavier Associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em pacientes com refluxo laringofaríngeo e síndrome da apneia obstrutiva do sono Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Pesquisa em Cirurgia. SÃO PAULO 2013 Sandra Doria Xavier Associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em pacientes com refluxo laringofaríngeo e síndrome da apneia obstrutiva do sono Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Pesquisa em Cirurgia. Área de concentração: Reinserção Social Orientador: Prof. Dr. André Campos Duprat Co-orientadora: Profa Dra. Claudia Alessandra Eckley SÃO PAULO 2013 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Xavier, Sandra Doria Associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em pacientes com Refluxo Laringofaríngeo e Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono./ Sandra Doria Xavier. São Paulo, 2013. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Pesquisa em Cirurgia. Área de Concentração: Reinserção Social Orientador: André Campos Duprat Co-Orientadora: Cláudia Alessandra Eckley 1. Refluxo laringofaríngeo 2. Apneia do sono tipo obstrutiva BC-FCMSCSP/47-13 Dedico esta tese Aos meus pais, pessoas únicas a quem devo minha profissão e a pessoa que sou hoje. Ao meu esposo Fernando, pela paciência durante este período de estudos, pela motivação e por não ter me deixado desistir nunca. Ao meu filho querido Luis Fernando, por ter me aberto o caminho para a Medicina do Sono, por ser tão especial nosso amor incondicional Ao meu filho pequeninho Caio, pela alegria de estar junto de nós, pela sua chegada em minha vida. Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado... Resignação para aceitar o que não pode ser mudado... E sabedoria para distinguir uma coisa da outra. São Francisco de Assis AGRADECIMENTOS À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde me formei e estou desde 1995, minha segunda casa; À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela oportunidade de trabalho desde 2010, no Departamento de Otorrinolaringologia; Ao Dr. Ivo Bussoloti Filho, Chefe do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por ter me incentivado a iniciar o Doutorado após sua orientação no Mestrado, mesmo sabendo da minha mudança de linha de pesquisa; Ao Dr. André Campos Duprat, Professor Instrutor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, orientador da minha tese, pelas críticas sábias e pertinentes; À Dra. Claudia Alessandra Eckley, Médica Segundo Assistente do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, co-orientadora desta tese, que muito me ajudou em cada degrau, em cada etapa difícil superada, sempre com uma palavra de otimismo, amiga acima de tudo; Ao Dr. Carlos Kayoshi Takara e à Dra. Mônica Alcântara de Oliveira Santos, Médicos Segundo Assistentes do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, por terem me ajudado a recrutar os pacientes da tese durante nosso período de trabalho no Ambulatório de Especialidades Geraldo Burroul (AEGB); Ao Dr. Luiz Henrique de Souza Fontes, Médico Assistente do Grupo de Esôfago e Motilidade Digestiva do Serviço de Gastroenterologia Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, meu imenso agradecimento por toda sua vontade em ensinar, sua dedicação com os pacientes, sua prontidão para solucionar problemas, enfim, por ter permitido o desenrolar desta tese; Ao Dr. Tomás Navarro-Rodriguez, Médico Chefe do Laboratório para Investigação em Motilidade Digestiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, por ter permitido a realização dos exames de pHimpedanciometria no seu serviço; Ao Dr. Geraldo Lorenzi-Filho, Diretor do Laboratório do Sono do InCor, pela oportunidade que me deu ao abrir as portas do Laboratório para a realização dos exames de polissonografia, pela confiança e otimismo que sempre me passou nesses anos, minha gratidão; Ao Dr. Pedro Genta, pneumologista do InCor, pela incansável ajuda que me deu para solucionar o mecanismo de funcionamento do sincronizador; À Dra. Priscila Sardinha, otorrinolaringologista e fellow em Medicina do Sono no InCor, por ter me enviado todos os exames de polissonografia pela internet no período em que estava de licença maternidade. Isto permitiu que o andamento da tese não fosse interrompido; Ao acadêmico Júlio Patrocínio, pela grande ajuda no desenvolvimento das formulas matemáticas no Excel e pela prontidão em tudo que lhe era requisitado; Às acadêmicas Daniela Tridente, Patrícia Claro, Ana Carolina Dantas e Bárbara Magalhães pela ajuda na seleção dos pacientes para a tese; À minha amiga de infância Fernanda de Mello Malta, biomédica e pesquisadora, que sempre me incentivou a seguir a carreira de pesquisa e me ajudou a superar muitos obstáculos; À Sra. Maria Zélia Cirino Vieira e Sra. Telma Vieira Arlindo, secretárias do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, pela constante disposição em ajudar; Ao Isildo Donizeti da Silva, Diretor da Uniscope, empresa responsável pela importação e exportação de produtos da Sandhill Scientific para o Brasil, pela pronta substituição do aparelho de pH-impedanciometria, pela rapidez deste empréstimo e pela confiança; À Erika Tiemi Fukunaga, Estatística da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, pela análise estatística realizada neste estudo; À Ana Paula Galvão Damasceno Carrare, Professora da Tecnologia da Informação da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, pela disponibilidade em me ajudar com a formatação da tese; À CAPES, pela ajuda financeira durante todos esses anos; À FAPESP, pela ajuda financeira para a aquisição de todas as sondas de pHimpedanciometria, bem como o equipamento de polissonografia. ABREVIATURAS E SÍMBOLOS CPAP... pressão positiva contínua na via aérea (positive continuous airway pressure) DP........ desvio-padrão DRGE.. Doença do refluxo gastroesofágico DVD..... disco digital de vídeo EDA..... Endoscopia digestiva alta EEI....... Esfíncter esofagiano inferior EES...... Esfíncter esofagiano superior ESE...... Escala de Sonolência de Epworth IAH....... Índice de apneia e hipopneia IMC....... Índice de massa corpórea InCor.... Instituto do Coração Kgs....... Quilogramas n........... número de pacientes N1......... fase 1 do sono NREM N2......... fase 2 do sono NREM N3......... fase 3 do sono NREM NREM... não REM OR........ odds ratio REM..... movimento rápido dos olhos (rapid eyes movement) RFS...... Reflux Finding Score RGE...... refluxo gastroesofágico RLF....... refluxo laringofaríngeo RSI........ Reflux Symptom Index SAOS.... Síndrome da apneia obstrutiva do sono TCLE..... Termo de consentimento livre e esclarecido TV......... Televisão USP....... Universidade de São Paulo VAS....... Vias aéreas superiores SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 1.1 Revisão da Literatura ....................................................................................... 10 1.1.1 Refluxo Laringofaríngeo (RLF) e Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) .............................................................................................................. 10 1.1.2 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) ..................................... 17 1.1.3 Associação da SAOS com DRGE e RLF .................................................. 18 2 OBJETIVO ............................................................................................................. 23 3 CASUÍSTICA E MÉTODO ..................................................................................... 25 3.1 Casuística ........................................................................................................ 26 3.2 Método ............................................................................................................. 28 3.2.1 Leitura dos dados ...................................................................................... 28 3.2.2 pH-impedanciometria ................................................................................ 30 3.2.3 Diagnóstico da SAOS................................................................................ 33 3.2.3.1 Diagnóstico Clínico da SAOS ............................................................. 33 3.2.3.2 Diagnóstico Polissonográfico da SAOS .............................................. 34 3.2.4 Análise Estatística ..................................................................................... 35 4 RESULTADOS ....................................................................................................... 36 4.1 Caracterização da amostra .............................................................................. 37 4.2 Associação temporal entre refluxo e eventos obstrutivos respiratórios ........... 43 5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 50 6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 59 7 ANEXOS ................................................................................................................ 61 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 73 FONTES CONSULTADAS ....................................................................................... 85 RESUMO................................................................................................................... 86 ABSTRACT............................................................................................................... 87 APÊNDICE ................................................................................................................ 88 1 INTRODUÇÃO 2 Refluxo gastroesofágico (RGE) é definido como o retorno de conteúdo gastroduodenal para o esôfago (Vakil et al, 2006), podendo ainda atingir órgãos proximais do trato digestório e respiratório, como a faringe e a laringe (Koufman, 1991; Ylitalo et al, 2001; Koufman, 2002a; Koufman, 2002b; Gupta, Sataloff, 2009). Pode ser considerado fisiológico, sem levar a sintomas clínicos ou patológicos, mas ao provocar inflamação da mucosa esofágica será então chamado de Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), cujos sintomas típicos são pirose e regurgitação ácida (Kahrilas, Lee, 2005). Quando ocorre inflamação de segmentos da laringe e faringe, passa a ser denominada manifestação extra ou supraesofágica da Doença do Refluxo Gastroesofágico ou Refluxo Laringofaríngeo (RLF) (Koufman, 1991), que tem como principais sintomas a tosse, globo faríngeo, pigarro, rouquidão, dor torácica e asma (Jaspersen et al, 2003). A lesão epitelial pelo material refluído é causada pela presença da pepsina, que é a enzima proteolítica mais importante produzida no estômago (Johnston et al, 2006), sendo sua atividade máxima em pH dois. As lesões teciduais causadas pelo refluxo podem ter como consequências: erosões, ulcerações da mucosa, estenose péptica, assim como câncer de esôfago (Lundell et al, 1999). A DRGE é a doença mais prevalente do trato digestório na atualidade (Moraes-Filho et al, 2002; Moraes-Filho et al, 2005; Nasi et al, 2006), atingindo de 20 a 40% da população geral (Jaspersen et al, 2003). No Brasil, em estudo populacional empreendido em 22 metrópoles, entrevistando amostra populacional de 13.959 indivíduos, observou-se que 4,6% das pessoas entrevistadas apresentavam pirose uma vez por semana e que 7,3% apresentavam tal queixa duas ou mais vezes por semana. Em função desses dados, estima-se que a prevalência da DRGE, no País, seja ao redor de 12% (Moraes-Filho et al, 2005). A prevalência de manifestações do RLF em pacientes com DRGE é extremamente alta (Dore et al, 2007). Estima-se que cinco a 20% da população mundial tenham complicações supraesofágicas da DRGE (Richter, 1997; Altman et al, 2005). O RLF é diagnosticado em aproximadamente 10% dos pacientes com queixas otorrinolaringológicas e em pelo menos 50% dos pacientes com queixa de alteração vocal (Koufman, 1991). 3 Lai et al (2008), utilizando exames objetivos como a pH-metria, encontraram 24% de RLF nos pacientes com DRGE. Um estudo prospectivo na Europa realizado em 2003, envolvendo 6.215 pacientes com queimação retroesternal, constatou 32,8% de prevalência de sintomas extraesofágicos de refluxo (Jaspersen et al, 2003). No entanto, é interessante notar como um grande número de pacientes com RLF não tem esofagite ou outros sinais da DRGE (Nasi et al, 2001). Somente 17 a 25% dos pacientes com RLF apresentam esofagite erosiva à endoscopia digestiva alta (EDA) (Koufman et al, 2002a). Isto pode ser explicado pelo fato de um evento de refluxo considerado fisiológico para o esôfago pode causar dano à mucosa da laringe e faringe, que não possui as mesmas barreiras de proteção esofágicas (físicas e químicas) para suportar o contato com pH ácido, com enzimas proteolíticas gástricas e sais biliares (Koufman, 1991; Fraser, 1994; Koufman, 2002a; Koufman et al, 2002b; Ogut et al, 2005; Khan et al, 2006; Gupta, Sataloff, 2009). Certamente, os mecanismos de proteção das mucosas gástrica e esofágica, inexistentes na mucosa faríngea e laríngea, exercem um papel decisivo na capacidade destes órgãos de suportar as agressões mecânicas e químicas a que são submetidos diariamente, sendo vários destes mecanismos mediados pela saliva (Tobey, 1995; Marcinkiewicz et al, 1998; Eckley et al, 2004). A saliva contém diversas substâncias orgânicas e inorgânicas que contribuem para a proteção contra as agressões físicas e químicas e para a manutenção da integridade da mucosa, não só da cavidade oral como também do restante do trato digestório (Tobey, 1995; Marcinkiewicz et al, 1998), como o bicarbonato, que promove neutralização ácida (Eckley et al, 2004). Sem saliva na laringe há maior tempo de contato do material refluído na mucosa laríngea em comparação com a mucosa esofágica, favorecendo o dano tecidual. Além disso, do ponto de vista histológico, a mucosa laríngea tem, na maior parte de sua superfície, epitélio respiratório (pseudoestratificado cilíndrico ciliado) enquanto o epitélio do esôfago é pavimentoso não queratinizado, mais resistente à exposição ácida. Assim, admite-se que o RLF possui fisiopatologia semelhante à da DRGE, porém com mecanismos singulares (Groome et al, 2007; Qua et al, 2007; Lai et al, 2008), não sendo necessária a concomitância das duas doenças em todos os casos. Além desta agressão direta à laringe pelo conteúdo refluído, admite-se que a inflamação da mucosa esofágica possa promover estímulo indireto do nervo vago, 4 que induziria à tosse crônica, pigarro recorrente e laringoespasmo (agressões igualmente lesivas à mucosa da laringe e da faringe) (Gupta, Sataloff, 2009; Hobaika, Lorentz, 2009). Acredita-se que este reflexo vagal é um mecanismo potente das manifestações extraesofágicas da DRGE (Mansfield, Stein, 1978), o qual é desencadeado pela acidificação da porção distal do esôfago e por microaspirações (Kalach et al, 2000). Em relação ao diagnóstico das características físico-químicas do material refluído, pesquisas mais recentes utilizando instrumentos diagnósticos, como a pHimpedanciometria (Sifrim et al, 2001), têm demonstrado que não só as secreções líquidas e ácidas são as responsáveis pelo dano às mucosas esofágica, laríngea e faríngea, mas também às secreções não ácidas e gasosas. Modelos experimentais mostraram que o sinergismo entre secreções ácidas, pepsina e ácidos biliares pode aumentar o potencial dano na mucosa esofágica. Alguns estudos na literatura sugerem que o pH do refluxo, bem como a sua forma física (líquida ou gasosa), sejam diferentes entre o DRGE e o RLF, sendo os refluxos proximais mais gasosos e menos ácidos que os refluxos distais (Kawamura et al, 2004; Oelschlager et al, 2006; Johnston et al, 2007). Emerenziani et al (2009) encontraram que 30% dos eventos de refluxo ácido se tornam fracamente ácidos ao longo do percurso pelo esôfago. Assim, necessita-se de exame objetivo mais específico que a pH-metria para a detecção destes diferentes tipos de refluxo. A pH-impedanciometria ou impedância intraluminal é um método de monitorização prolongada intraesofágica que permite a detecção dos diferentes tipos de refluxo, como refluxos líquidos, gasosos ou mistos e ainda o refluxo não ácido. Os episódios de refluxo são mensurados através de mudanças na resistência de corrente elétrica entre dois eletrodos colocados em um cateter no esôfago (Sifrim et al, 2001). A combinação desta técnica com a pH-metria permite que seja feita a distinção de refluxo ácido do refluxo não ácido (Sifrim et al, 2001). A DRGE, bem como o RLF, têm como principais fatores de risco a obesidade, o aumento da idade, estresse e fatores dietéticos (Moraes-Filho et al, 2005). Outra doença com alta prevalência em indivíduos com perfil similar e que também causa grande morbidade é a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). 5 A SAOS ocorre preferencialmente nos homens (três:um) entre a quarta e a quinta décadas de vida (Olson et al, 1995), sendo caracterizada pela obstrução recorrente, parcial (hipopneias) ou total (apneias), das vias aéreas superiores durante o sono (AASM, 1999). Como consequência, podem ocorrer episódios de hipóxia intermitente noturna e também fragmentação do sono e despertares intermitentes, com graves consequências clínicas. Sua fisiopatologia relaciona-se com o desequilíbrio entre as forças de fechamento e abertura da faringe, sendo o tônus da musculatura dilatadora da faringe importante na manutenção da patência da via aérea superior. No sono REM (rapid eyes movement) – fase do sono que compõe aproximadamente 25% do tempo total de sono – pode haver maior concentração de eventos obstrutivos respiratórios (Eiseman et al, 2012). Os mesmos autores realizaram estudo retrospectivo no qual foi feita análise de 300 exames de polissonografia e encontraram, em 50% dos pacientes, duas vezes mais eventos obstrutivos respiratórios durante a fase REM do que nas outras fases do sono (N1, N2 e N3), devido à diminuição do tônus muscular característica desta fase. A SAOS é fator de risco independente para hipertensão arterial sistêmica (Young et al, 1997; Peppard et al, 2000b) e doenças cardiovasculares como progressão da aterosclerose (Marin et al, 2005; Drager et al, 2007), infarto agudo do miocárdio, arritmias (Gottlieb et al, 2010) e acidentes vasculares cerebrais (Redline et al, 2010), com aumento da morbimortalidade por causa cardiovascular (Marin et al, 2005; Drager et al, 2007). É considerada atualmente um problema de saúde pública pelas consequências cardiovasculares (Lorenzi-Filho et al, 2010) e pelo maior risco de acidentes de trânsito e de trabalho (Tregear et al, 2009). Nos Estados Unidos, estimou-se que o custo anual do tratamento das consequências da SAOS esteja em torno de US$ 3,4 bilhões e até 75-80% dos pacientes com SAOS permanecem sem diagnóstico (Kapur et al, 1999). Há algumas evidências na literatura que corroboram a hipótese de que haja associação entre DRGE/RLF e Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). Um estudo conduzido por Shepherd et al (2011) em 1116 pacientes com SAOS e 1999 pacientes-controles, mostrou uma maior prevalência de sintomas sugestivos de DRGE nesta população (10,2% nos pacientes com SAOS e 5,5% nos controles), independentemente de outros fatores de risco como idade e índice de massa 6 corpórea (IMC). Foi igualmente observado que os dois sintomas típicos da DRGE, que são a queimação retroesternal e a regurgitação ácida, são relatados em mais de 60% dos pacientes com SAOS (Valipour et al, 2002; Kim et al, 2005), comparados com 20% na população geral (Locke et al, 1997; Chiocca et al, 2005). O impacto socioeconômico e na qualidade de vida dos pacientes com cada uma destas doenças isoladamente é alto, não tendo sido estimado o potencial agravamento causado pela concomitância de ambas (Kulig et al, 2003; Reimer, 2003). Cheung et al (2009) publicaram um estudo envolvendo 76 pacientes com RLF e 73 controles e, através de questionários, concluíram que o RLF é fator determinante na piora da qualidade de vida desta população e há indícios na literatura de que o impacto seja até maior do que a DRGE propriamente dita (Carrau et al, 2004). A SAOS, por sua vez, também determina piora na qualidade de vida, uma vez que leva a sintomas diurnos como fadiga, sonolência excessiva, déficit de atenção e pobre desempenho no trabalho (Veale et al, 2002). As razões para associação entre DRGE/RLF e SAOS não estão completamente estabelecidas. O período de sono, mesmo sem eventos de apneia, é um momento muito propício ao refluxo, no qual os mecanismos fisiológicos antirrefluxo estão reduzidos. A lentidão no esvaziamento gástrico, diminuição na motilidade esofágica com maior tempo de contato da acidez gástrica no esôfago, posição em decúbito supino, diminuição da pressão do esfíncter esofagiano inferior (EEI) (Kahrilas et al, 1987), diminuição da percepção do conteúdo ácido no esôfago, diminuição da produção de saliva e diminuição das deglutições espontâneas corroboram para predispor o indivíduo a ter episódios de refluxo enquanto dorme, favorecendo, em conjunto, a lesão de mucosa (Orr et al, 1998; Orr et al, 2000; Orr et al, 2004; Fass et al, 2004; Karkos et al, 2009; Fass, 2010). Poh et al (2010b) e Allen et al (2010) verificaram que o estado de consciência por si só (sono X vigília) é mais importante do que a posição do corpo (supino ou em decúbito) na determinação das diferenças entre os episódios de refluxo diurno e noturno. Ao analisar as possibilidades fisiopatológicas que podem explicar a associação da SAOS e RLF, percebe-se que existem dois focos distintos, porém inter-relacionados, que formam um verdadeiro círculo vicioso (Eskiizmir, Kezirian, 2009). 7 O primeiro deles está relacionado ao fato de que, durante os períodos de apneia, há significativa diminuição da pressão intratorácica com aumento do gradiente de pressão entre o tórax e o abdome, o que facilita o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago (Demeter, Pap, 2004; Eskiizmir, Kezirian, 2009). Ademais, a diminuição da pressão intratorácica leva à modificação da posição do diafragma, que traciona o ligamento frenoesofágico e, consequentemente, leva ao relaxamento parcial do EEI, facilitando mais uma vez o refluxo (Demeter, Pap, 2004). Segundo estes últimos autores, a longo prazo, esta constante modificação na posição do diafragma pode destruir o ligamento frenoesofágico, levando à insuficiência permanente do EEI e consequentemente, à DRGE. Não foram encontrados na literatura estudos a fim de estabelecer se a mesma associação se faz verdadeira para o RLF. A segunda hipótese para explicar a associação entre SAOS e DRGE/RLF seria a fragmentação do sono secundária ao aumento de despertares. Cada evento de apneia levaria a despertares que, por sua vez, desencadearia relaxamento transitório do EEI (Bernard et al, 1990; Kerr et al, 1992), facilitando o refluxo. A associação dos despertares com eventos de refluxo já vem sendo descrita por vários autores na literatura (Dent et al, 1980; Fass et al, 2001; Martinez et al, 2003; Orr et al, 2008; Poh et al, 2010a), e nem sempre com concomitância temporal entre estes episódios, ou seja, o refluxo não ocorre necessariamente no momento da apneia e vice-versa. Em contrapartida, o refluxo do conteúdo gástrico para a região da laringe e faringe causa reação inflamatória local com edema ou até mesmo estenose, o que leva à diminuição da luz faríngea e laríngea, propiciando ainda mais episódios de colabamento da região, ou seja, apneias (Eskiizmir, Kezirian, 2009). Além da reação inflamatória, o refluxo leva a déficits sensoriais nos receptores das mucosas faríngea e laríngea, prejudicando a ativação reflexa dos músculos dilatadores da faringe. Assim, o refluxo pode contribuir para a progressão da SAOS por mecanismos não só inflamatórios locais, mas também por alterações neuromusculares (Eskiizmir, Kezirian, 2009). Segundo alguns autores, há um déficit sensorial nas regiões da orofaringe, nasofaringe e laringe dos pacientes com SAOS (Kimoff et al, 2001; Nguyen et al, 2005) e, na opinião de outros autores, existe associação entre a intensidade da inflamação laríngea e o déficit sensorial (Payne et al, 2006), e este, por sua vez, com 8 a gravidade da SAOS (Nguyen et al, 2005), corroborando para a hipótese de que o RLF possa contribuir para a progressão da SAOS. Por outro lado, a lesão de receptores faríngeos e déficit sensorial local em pacientes com SAOS pode ser secundária aos próprios eventos de estreitamento e colabamento intermitente da faringe pelas hipopneias e apneias (Lindman, Stal, 2002; Boyd et al, 2004). Outro ponto relevante a ser comentado é sobre o reflexo entre a faringe e o esfíncter esofagiano superior (EES), ou seja, o reflexo de aumento de tônus ante a estimulação da faringe. Pacientes com RLF precisam do dobro de estímulo para conseguirem o mesmo efeito no tônus, comparados a pacientes sem RLF (Ulualp et al, 1998). Isto sugere que possa haver uma disfunção na parte aferente deste reflexo, provavelmente nos receptores faríngeos (Phua et al, 2005). Estes receptores podem estar danificados pela própria inflamação causada pelo RLF (Aviv et al, 2000) ou também por pausas obstrutivas respiratórias (Lindman, Stal, 2002). A associação entre SAOS e DRGE/ RLF também é vista em relação aos seus respectivos tratamentos. Alguns estudos que utilizaram bloqueador de bomba de prótons para o tratamento da DRGE mostraram que houve diminuição da fragmentação do sono (Ing et al, 2000), diminuição dos roncos (Eryılmaz et al, 2012), melhora no índice de apneia e hipopneia (IAH) (Senior et al, 2001; Bortolotti et al, 2006) e melhora na queixa de sonolência excessiva diurna vista pela Escala de Sonolência de Epworth (Steward, 2004; Suurna et al, 2008; Eryılmaz et al, 2012). Em contrapartida, o tratamento com CPAP (continuous positive airway pressure) para SAOS diminui sintomas de DRGE (Kerr et al, 1992; Kerr et al, 1993; Ing et al, 2000; Konermann et al, 2002; Green et al, 2003; Tawk et al, 2006) e de RLF (Eryılmaz et al, 2012). No entanto, o CPAP pode ajudar no tratamento da DRGE de um modo direto, elevando a pressão intraesofágica e aumentando a constrição do EEI, uma vez que os efeitos benéficos do CPAP na DRGE podem ser observados não somente nos pacientes com SAOS, e sim ainda nos pacientes sem SAOS (Kerr et al, 1992; Kerr et al, 1993; Ing et al, 2000). Apesar de estar claro na literatura o aumento da prevalência da DRGE/RLF nos pacientes com SAOS, não há estudos que demonstrem uma relação de causa e efeito entre ambas as doenças. Uma das formas de se avaliar tal relação é estudar a associação temporal entre eventos obstrutivos respiratórios, que ocorrem na SAOS, e os episódios de refluxo, presentes na DRGE/RLF. 9 Todavia, há grande dificuldade em estabelecer o nexo causal entre DRGE/RLF e SAOS, decorrente de alguns fatores. Ambas as doenças têm alta prevalência: DRGE e RLF até 20% da população (Richter, 1997; Altman et al, 2005) e SAOS em até 32,8% da população (Tufik et al, 2010). A obesidade é fator de risco em ambas as doenças, presente em 16% da população (Peppard et al, 2000a; Sarturi et al, 2010), e ainda pacientes com IMC acima de 40 kg/m2 têm maior prevalência de comorbidades relacionadas à própria obesidade, como a SAOS e DRGE (Hampel et al, 2005; Wang et al, 2008). Tanto RLF/DRGE como SAOS atingem seu pico de incidência em indivíduos com mais de 40 anos de idade (Karkos et al, 2009) e há dificuldade técnica em realizar os testes diagnósticos para estas doenças de forma concomitante. O estudo da associação temporal entre eventos obstrutivos respiratórios e os episódios de refluxo permite a formulação de duas perguntas: Será que eventos obstrutivos respiratórios podem precipitar um episódio de refluxo?, e ainda: Será que um episódio de refluxo pode desencadear eventos obstrutivos respiratórios? Sabendo da elevada prevalência na população geral do RLF, da DRGE e da SAOS, bem como do impacto socioeconômico e morbimortalidade destas doenças (Kulig et al, 2003; Reimer, Flemons, 2003), torna-se fundamental tentar estabelecer uma associação temporal entre elas. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas prospectivas com seleção rigorosa de pacientes e de métodos diagnósticos a fim de minimizar potenciais vieses (falsos positivos) e falhas diagnósticas (falsos negativos). O melhor conhecimento destas possíveis relações poderá auxiliar no diagnóstico e tratamento precoce da DRGE/RLF em pacientes com SAOS, evitando o agravamento das manifestações clínicas destas doenças e minimizando seu forte impacto socioeconômico. 10 1.1 Revisão da Literatura 1.1.1 Refluxo Laringofaríngeo (RLF) e Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) Koufman (1991) publicou sua experiência sobre as manifestações otorrinolaringológicas da DRGE obtidas com o estudo de 225 pacientes diagnosticados através de videolaringoscopia e pH-metria esofágica de dois canais de 24 horas. Encontrou refluxo no cateter proximal em 78% dos pacientes com estenose laríngea, 71% dos pacientes com carcinoma laríngeo, 60% dos pacientes com laringite posterior, 58% daqueles com sensação de globo faríngeo e 52% com tosse crônica. Observou que a maioria dos pacientes que procura o otorrinolaringologista não se queixa de pirose, e seus sintomas são causados pelo refluxo do conteúdo gastrointestinal para a laringe e faringe. Assim sendo, conforme o autor, este tipo de refluxo seria diferente do refluxo visto pelos gastroenterologistas e seria melhor designado como Refluxo Laringofaríngeo (RLF). Os sintomas clássicos do RLF são disfonia (presente em até 70% dos pacientes), pigarro, tosse seca e sensação de globo faríngeo. Os achados laringoscópicos mais frequentes foram edema e hiperemia de toda a laringe, mas principalmente das aritenoides e da região interaritenoidea, que nos casos mais graves e crônicos passou a apresentar espessamento do epitélio com paquidermia e metaplasia. Também demonstrou que a acidez não é unicamente a responsável pelo dano tecidual na laringe, e sim a pepsina, a qual ainda apresenta 70% de sua atividade em pH de 4,5 e 40% em pH de cinco. Deste modo, elucidou que parece ser mais danosa ao epitélio laríngeo a exposição mais prolongada de pepsina em pH não ácido do que a exposição mais curta de pepsina em pH menores. Smit et al (1998) fizeram um estudo das medidas do pH ao nível do EES de 20 voluntários normais a fim de determinar se existe refluxo ácido no esôfago proximal em condições fisiológicas, e também propuseram uma técnica simples de posicionamento do cateter proximal usando-se o nasofibrolaringoscópio e dispensando-se, assim, o uso de manometria. Foi feito exame de pH-metria esofágica de 24 horas com dois canais, um na entrada do esôfago ao nível do 11 esfíncter superior do esôfago (encontraram um máximo de três episódios de curta duração) e à noite, em posição supina, nenhum dos pacientes teve qualquer episódio de refluxo ácido à garganta. Eckley et al (1999) estudaram 20 pacientes adultos consecutivos com sintomas e sinais laringoscópicos sugestivos de RLF através de pH-metria esofágica de dois canais de 24 horas, com o objetivo de analisar a sensibilidade deste exame. O exame de pH-metria esofágica foi positivo em 70% dos pacientes, sendo os casos negativos daqueles pacientes com sintomas e sinais leves a moderados. Todos os pacientes foram tratados clinicamente por um período mínimo de 12 semanas com inibidores de bomba de prótons associados a pró-cinéticos, quando existiam sintomas digestivos associados. Houve melhora clínica e laringoscópica em todos os pacientes, inclusive nos seis pacientes que apresentavam exame de pH-metria normal. Os autores concluíram que o diagnóstico do RLF é essencialmente clínico e que os resultados negativos da pH-metria esofágica devem ser considerados com cautela. Cianci et al (2000) citaram que os dois principais mecanismos reconhecidos como potenciais causadores dos sintomas e alterações laríngeas secundários ao refluxo gastresofágico são a estimulação de aferentes vagais no esôfago proximal e distal, levando a um aumento na pressão do EES e ao contato direto da laringe com o ácido, a pepsina e outras substâncias químicas nocivas refluídas. A pH-metria tem sensibilidade de 27 a 78% nos pacientes com laringite por RGE. Os autores estudaram três pacientes submetidos à gastrectomia parcial no passado através de EDA e pH-metria esofágica de três canais (intragástrico, a cinco cm do EEI e cinco cm abaixo do EES). Encontraram abundante refluxo biliar na cavidade gástrica residual e refluxo com pH > quatro tanto no cateter gástrico quanto no do esôfago distal. Concluíram que o refluxo com pH > quatro também pode gerar estímulo vagal e laringite posterior e que deve ser estudado mais detalhadamente. Este foi o primeiro relato na literatura de tal associação. Nostrant, Rabine (2000) teceram uma análise crítica sobre as controvérsias existentes até o momento quanto à associação causal entre DRGE e laringite crônica. Estes autores citaram que existem controvérsias sobre os mecanismos protetores mecânicos e reflexos da laringe e faringe, que incluiriam o esfíncter esofagiano superior e a presença de refluxo esôfago-laríngeo e faríngeo. Estudos destes mecanismos em pacientes com e sem sintomas e sinais de refluxo laríngeo 12 não mostraram associação direta efetiva dos sintomas com a doença. Quanto aos exames diagnósticos, os autores ressaltaram que não existe nenhum exame isolado capaz de firmar o diagnóstico de laringite de refluxo com certeza absoluta. Apenas 20% dos pacientes com laringite e refluxo proximal documentado têm alterações endoscópicas (esofagite erosiva), e apenas outros 30 a 40% apresentam estudos radiográficos contrastados anormais. A PH-metria esofágica com canal único distal irá perder até 50% dos casos de refluxo proximal, e mesmo as pH-metrias com dois ou três canais têm sensibilidade máxima de 50 a 75% e baixa reprodutibilidade, pois os padrões de refluxo proximal variam muito. Belafsky et al (2001) publicaram e validaram instrumento que documentou as alterações anatômicas e a gravidade do RLF, o qual nomearam de Reflux Finding Score (RFS) (Anexo 1). Trata-se de escala de gravidade clínica da doença, contendo oito itens acerca dos achados endolaríngeos mais observados durante laringoscopia de pacientes com RLF. A escala proposta varia de zero (sem achados anormais) até 26 (máxima alteração). Para validar o escore em questão, os autores avaliaram 40 pacientes consecutivos com diagnóstico clínico de RLF, confirmado por pH-metria esofágica de 24 horas de duplo sensor. Os pacientes foram estudados antes do tratamento com inibidor de bomba de prótons e após dois, quatro e seis meses do início do tratamento. Todos os dados foram confrontados com 40 adultos voluntários (grupo controle) pareados para idade e gênero, sem queixas vocais e sem histórico de doença do refluxo. A média de RFS de entrada dos pacientes estudados foi de 11,5 (+ 5,2), valor que evoluiu para 9,3 após dois meses de tratamento, 7,3 em quatro meses e 6,1 em seis meses (p<0,001). A média dos indivíduos do grupo controle foi de 5,2 (intervalo de confiança entre 3,6 e 6,8). Assim, os autores puderam afirmar com 95% de certeza que um indivíduo com RFS maior de sete apresenta RLF. Belafsky et al (2002) apresentaram e validaram um índice dos sintomas do refluxo laringofaríngeo, o Reflux Symptom Index (RSI), como um instrumento para documentar a gravidade dos sintomas do RLF – um questionário autoaplicado de nove itens acerca dos sintomas relacionados ao RLF, que se encontra no Anexo 2 do presente estudo. Cada item indica uma pontuação, sendo que o valor de cada item é somado para um escore final de pontos, retratando matematicamente a intensidade dos sintomas referidos. No intuito de validar o questionário, os autores 13 realizaram um estudo prospectivo de seis meses em 25 pacientes com diagnóstico confirmado por pH-metria esofágica de 24 horas de duplo sensor, aplicando o questionário antes e depois do tratamento (inibidor de bomba de prótons duas vezes ao dia e modificações comportamentais e de dieta). A média do RSI melhorou de 20,9 para 12,8 após o tratamento. Os autores indicaram então considerar valores de RSI maiores de 13 como tendo 95% de confiabilidade de serem anormais. Concluíram ser este instrumento de fácil reprodutibilidade para mensuração da gravidade dos sintomas do RLF. Koufman et al (2002a) publicaram o posicionamento da Academia Americana de Otorrinolaringologia acerca do RLF, baseando-se em revisão de artigos e na opinião do comitê organizador do estudo. O documento definiu o termo refluxo gastroesofágico como sendo fluxo contrário do conteúdo do estômago para o esôfago, evento que pode ser fisiológico, podendo ocorrer até 50 vezes ao dia. A DRGE seria um termo clínico para descrever doença que ocorreria quando o número de eventos de refluxo fosse excessivo, causando dano tissular (esofagite) e/ou sintomas. O termo Refluxo Laringofaríngeo estaria se referindo ao fluxo contrário do conteúdo gastroduodenal que atingiria a faringe e a laringe. Os autores então apresentaram as diferenças entre a DRGE clássica e o RLF, registrando que esofagite seria encontrada em cerca de 25% dos pacientes com RLF. Embora alguns pacientes pudessem apresentar RLF e DRGE associados, na maior parte dos casos haveria RLF isolado. Registraram ainda que os pacientes com RLF apresentariam episódios de refluxo principalmente durante o dia e em pé, enquanto na DRGE, isso ocorreria durante a noite e quando deitados. Adhami et al (2004) relataram os resultados de sua pesquisa experimental em 17 cães sobre os efeitos da pepsina, dos ácidos biliares conjugados e não conjugados, além da tripsina na mucosa laríngea em níveis variáveis do pH local. Para tal, após anestesiarem os cães, causavam lesão na prega vocal direita, na aritenoide e na região retrocricoídea, seguida de pincelamento com cada uma das substâncias supracitadas em pH variável (um-dois, quatro-cinco, seis-sete), três vezes por semana até completar 12 aplicações. O aspecto da mucosa laríngea foi avaliado por laringoscopia rígida e as alterações macroscópicas graduadas visualmente. No final do experimento, os cães foram sacrificados e suas laringes foram examinadas histologicamente. A pepsina em pH um-dois causou mais 14 alterações visuais e histológicas do que em pH quatro-sete. Os ingredientes duodenais causaram pouca ou nenhuma alteração histológica em qualquer pH, com apenas discretas alterações visuais. Já a tripsina não causou qualquer alteração, seja visual ou histológica na mucosa laríngea, em todos os valores de pH estudados. As pregas vocais foram o local mais sensível aos químicos estudados. Os autores concluíram que as alterações visuais encontradas na laringite por refluxo apenas tem significado patológico nos episódios de refluxo ácido contendo pepsina. Johnston et al (2004) demonstraram que a pepsina está presente no epitélio laríngeo de pacientes com RLF e está ausente nos pacientes sem esta doença, e ainda asseveraram que pacientes com RLF têm, no epitélio da laringe, menor concentração da isoenzima anidrase carbônica, a qual é capaz de converter dióxido de carbono em bicarbonato e assim neutralizar o conteúdo do ácido refluído. Eckley et al (2004) estudaram a concentração salivar de fator de crescimento epidérmico em 26 pacientes com RLF e em 20 controles. Observaram que pacientes com RLF têm significativamente menor quantidade de fator de crescimento epidérmico na saliva, importante na reparação tecidual das mucosas da laringe e da faringe, dificultando sua regeneração diante de agressões como o refluxo. Gill et al (2005) mostraram que o comportamento da enzima anidrase carbônica é diferente nos epitélios do esôfago e da laringe, perante os eventos de refluxo. No esôfago, parece haver aumento da concentração desta enzima em pacientes com DRGE, favorecendo o bloqueio da acidez, enquanto isto não é observado na totalidade da área da laringe: há aumento na comissura posterior, o que não é visto na região das pregas vocais. Mahieu, Smit (2006) apresentaram revisão sistemática sobre o diagnóstico e tratamento do RLF, bem como sua experiência pessoal. Foram considerados apenas estudos envolvendo adultos, com história e exame clínico compatíveis com RLF e pesquisa de pH-metria esofágica de 24 horas de duplo sensor positiva. Os autores citaram a baixa aceitação do diagnóstico por parte dos pacientes, porquanto, na falta de sintomas clássicos da DRGE como regurgitação e queimação, haveria grande dificuldade em se justificar o quadro clínico como sendo decorrente do RLF. Além disso, admitiram haver grande controvérsia a respeito da doença, com estudos questionando a relação entre os sinais e sintomas encontrados e a existência do refluxo propriamente dito. A baixa especificidade e a sensibilidade da pH-metria 15 esofágica também foram abordadas, uma vez que apenas o refluxo ácido seria detectável por este método. Assim, o diagnóstico deveria se basear em sintomas e sinais específicos, na ausência de outra doença que os pudesse explicar, imputando ao diagnóstico do RLF um caráter de exclusão. Concluíram que a despeito de ainda existir grande controvérsia sobre a doença, não haveria evidência circunstancial suficiente que negasse a relação entre o RLF e sintomas laríngeos e faríngeos. Johnston et al (2007) realizaram estudo experimental in vitro para examinar o efeito da pepsina em suas formas ativa e inativa na concentração de proteínas protetoras da laringe, como a anidrase carbônica e Sep70. Os autores observaram que a pepsina precisa estar ativa para conseguir depletar estas enzimas protetoras. A pepsina teve sua atividade máxima em pH de dois e ficou inativa em pH maior que 6,5. Mesmo inativa em pH maior que 6,5, ela permaneceu estável até pH de oito e pôde ser reativada quando o pH caiu. Concluíram que níveis de pepsina permanecem detectáveis no epitélio laríngeo após um evento de refluxo. Wise, Murray (2007), em um artigo de revisão de literatura, verificaram que o uso combinado da impedância e da pH-metria demonstrou maior sensibilidade para detectar todos os tipos de refluxo (ácido, não ácido, líquido, misto ou gasoso), ajudando a determinar a sua localização, distribuição e composição. Gupta, Sataloff (2009) realizaram estudo de revisão sistemática sobre artigos abordando as manifestações supraesofágicas da DRGE, sabidamente o refluxo laringofaríngeo. Pesquisas moleculares haviam comprovado o efeito nocivo da exposição ácida da laringe, uma vez que mostraram que a pepsina na laringe resultaria em depleção da anidrase carbônica e da proteína de estresse epitelial Sep70, dois reconhecidos fatores protetores tissulares. Ademais, os estudos haviam provado que a pepsina presente na laringe poderia ser reativada com novas quedas do pH (ácido ou fracamente ácido). Citaram que a baixa sensibilidade dos exames de monitorização prolongada do refluxo nos níveis esofágico e faríngeo tornaria a associação de sistemas de escore de sintomas, como o RSI, e de sinais, como o RFS, bastante confiável para diagnóstico do RLF. Sobre o uso da EDA, foi encontrado que a presença de esofagite erosiva estaria presente em apenas 1020% dos casos de RLF, tornando este método diagnóstico de pobre valor quando utilizado isoladamente. 16 Zerbib, Stoll (2010) observaram que a pH-metria de dois canais, que vinha sendo considerada o método de escolha para o diagnóstico da DRGE e do RLF, apesar de aparentemente poder suprir a necessidade de diagnóstico de refluxo nos segmentos da laringe e da faringe, apresenta algumas sérias limitações como: quedas de pH no sensor proximal sem episódios de refluxo distal (refluxo esôfagoesofágico ou artefatos); controvérsias a respeito dos valores normais aceitos no sensor proximal; inabilidade em detectar refluxo gasoso ou refluxo pouco ácido. Moares-Filho et al (2010) definiram, em diretriz publicada para o diagnóstico e tratamento da DRGE, que em pacientes com manifestações atípicas da DRGE, a pH-metria de dois canais pouco contribui para o diagnóstico, não sendo indicada de rotina nesses pacientes. Lee et al (2010) estudaram 98 pacientes com sintomas sugestivos de RLF usando pH-metria isolada e pH-impedanciometria, ou seja, associação da impedanciometria à pH-metria de dois canais. Constataram que a sensibilidade diagnóstica da pH-metria associada à impedanciometria é o dobro daquela da pHmetria isolada, e que pacientes com refluxo ácido tiveram mais episódios de refluxo proximal do que aqueles com refluxo não ácido. Os autores concluíram que a pHimpedanciometria foi o melhor método para detectar e caracterizar os eventos de refluxo em comparação com ambos os métodos separadamente (impedanciometria e pH-metria). Hoppo et al (2012) estudaram com pH-impedanciometria 40 pacientes assintomáticos e 24 pacientes com RLF. Observaram que episódios de refluxo proximais foram bastante raros na população assintomática. Deste modo, acreditam que a presença de um único episódio de refluxo proximal deva ser considerada anormal em pacientes com sintomas de RLF, independentemente de sinais ou sintomas sugestivos de DRGE. De Bortoli et al (2012) investigaram a prevalência de DRGE na sua forma clássica em 41 pacientes com sintomas e achados laringoscópicos de RLF utilizando RSI e RFS, respectivamente. Os autores confirmaram diagnóstico de DRGE pela pH-impedanciometria em menos de 40% dos pacientes. Concluíram que a sensibilidade dos exames de monitorização prolongada do esôfago é baixa para as manifestações supraesofágicas da DRGE. 17 Prado et al (2013) traduziram para o português e fizeram adaptação cultural do Reflux Finding Score, que passou a ser chamado de Escala de Achados Videolaringoscópicos de Refluxo. 1.1.2 Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) Johns (1991) desenvolveu um questionário que avalia a chance de o paciente adormecer em oito situações cotidianas, chamado Escala de Sonolência de Epworth (ESE) (Anexo 3). Sabendo que a sonolência excessiva diurna é uma consequência bastante frequente da SAOS, o questionamento a respeito deste sintoma pode ser utilizado na triagem desta doença. Pontuação acima de dez sugere diagnóstico de sonolência diurna excessiva, que é definida como aumento da propensão para dormir em circunstâncias nas quais o indivíduo afetado e outros consideram inapropriadas. O diagnóstico de sonolência excessiva diurna em um indivíduo é considerado de alto risco para SAOS. Netzer et al (1999) validaram o questionário de Berlin, o qual contém questões relativas a fatores de risco para a SAOS, tais como obesidade, hipertensão arterial sistêmica, ronco, apneia testemunhada, sonolência excessiva diurna e fadiga. É composto por dez questões divididas em três categorias. A primeira categoria inclui questões sobre ronco; a segunda refere-se à fadiga diurna e/ou sonolência ao dirigir; e a terceira refere-se à história de hipertensão arterial sistêmica e obesidade. Cada categoria pode ser considerada positiva ou negativa, e quando duas ou mais categorias forem positivas, o paciente é considerado de alto risco para SAOS (Anexo 4). Sua sensibilidade é de 86%, com valor preditivo positivo de 89% para identificar pacientes com SAOS. Eikemann et al (2007) estudaram 21 pacientes entre 18 e 75 anos, os quais realizaram polissonografia associada à medição da pressão de colabamento da faringe. Os autores observaram enfraquecimento do reflexo desencadeado pela pressão negativa na faringe para aumentar o tônus da musculatura dilatadora da faringe em pessoas após 65 anos, mostrando não ser somente alteração anatômica faríngea, mas também alteração funcional que acomete indivíduos mais idosos e os predispõe ao desenvolvimento da SAOS. 18 Conrad et al (2007), em conjunto com a Academia Americana de Medicina do Sono, definiram as regras para o diagnóstico da SAOS. A SAOS é definida quando o IAH (índice de apneia e hipopneia – número de vezes em que ocorre diminuição ou cessação do fluxo aéreo por hora de sono) é igual ou maior que cinco, acompanhado por sonolência excessiva diurna ou por, pelo menos, duas das seguintes características: ronco, despertares recorrentes, sono não reparador, fadiga diurna ou comprometimento de memória ou da capacidade de concentração. A presença de IAH ≥ 15 eventos/h, na ausência de sintomas relacionados com o sono, também é suficiente para o diagnóstico da SAOS. Dempsey et al (2010), em um estudo de revisão da literatura, relataram que a obesidade relaciona-se com a SAOS não somente pelo simples fato de aumentar a camada gordurosa ao redor da faringe e língua; nos indivíduos obesos, há diminuição dos volumes pulmonares devido ao volume abdominal aumentado, e isto acarreta menor tração da traqueia nas paredes da faringe. Com menor tração, há menor tensão nas paredes laterais da faringe, favorecendo o estreitamento e o colabamento da VAS. Tufik et al (2010), em estudo epidemiológico na cidade de São Paulo, em uma população de 1.042 pessoas, encontraram prevalência de SAOS em 32,8% dos indivíduos estudados, sendo 9,6% das mulheres e 24,8% dos homens. A partir de modelo de regressão linear, foram identificados fatores de risco independentes, como sexo masculino (OR= 4,1) e obesidade (OR= 10,5). Abrishami et al (2010) realizaram revisão sistemática da literatura a respeito de diversos questionários de triagem para SAOS e chegaram à conclusão de que o questionário de Berlin foi um dos questionários que apresentaram maior sensibilidade e especificidade em predizer SAOS moderada a severa. 1.1.3 Associação da SAOS com DRGE e RLF Tardif et al (1988) estudaram oito pacientes com SAOS, todos obesos, com pH-metria de canal único distal concomitante com polissonografia, e não encontraram associação temporal entre os eventos de apneia e RGE. 19 Kerr et al (1992) estudaram cinco pacientes com SAOS com queixas de DRGE, com IMC variável, sem exclusão de tabagistas, etilistas ou outras possíveis causas de laringite crônica, com pH-metria de canal único distal e polissonografia. Não evidenciaram associação temporal direta de refluxo e apneia, mas houve aumento dos despertares e movimentos do corpo precedendo os episódios de refluxo. Embora não estatisticamente significante, observaram maior concentração de hipopneias e apneias nos dez minutos precedendo os eventos de refluxo em relação ao restante da noite. Assim, os autores concluíram que SAOS pode ser fator predisponente para DRGE. Os segmentos da laringe e da faringe não foram estudados. Graf et al (1995) avaliaram 17 pacientes com SAOS divididos em dois grupos (oito pacientes com SAOS leve e nove pacientes com SAOS grave), com IMC variável, sem exclusão de tabagistas, etilistas ou outras possíveis causas de laringite crônica, com polissonografia e pH-metria esofágica de dois canais concomitantes. Não encontraram concomitância temporal entre os episódios de refluxo e apneia e também não observaram associação entre maior gravidade da apneia e maior número de eventos de refluxo. Penzel et al (1999) estudaram 15 pacientes obesos com SAOS moderada e grave, com polissonografia e pH-metria esofágica e com canal único distal concomitantes. Foram encontrados 52 episódios de refluxo em oito pacientes durante o registro, sendo 37 deles precedidos por evento obstrutivo respiratório. Somente um evento de refluxo não teve despertar precedendo-o. Apesar deste resultado, concluíram que não houve relação temporal entre episódios de refluxo e apneia, uma vez que a média de IAH foi de 30,1 eventos por hora, ou seja, a minoria dos eventos respiratórios levou a refluxo. Este trabalho, apesar de ter realizado os exames de polissonografia e pH-metria concomitantes, não enfocou os segmentos da laringe e da faringe, atendo-se ao segmento distal do esôfago. Ing et al (2000) estudaram 63 pacientes com SAOS e 41 controles – todos obesos – e realizaram polissonografia concomitante com pH-metria com canal único distal. Foram encontrados significativamente mais episódios de refluxo distal nos pacientes com SAOS do que nos controles. Na média, pacientes com SAOS apresentaram mais de 100 episódios de refluxo distal durante oito horas de sono, em comparação com 23 episódios nos pacientes sem SAOS. Além disso, 53,4% dos 20 episódios de refluxo distal foram temporalmente relacionados a eventos obstrutivos respiratórios (apneia e hipopneia). No entanto, menos da metade (46,8%) de todas as apneias e hipopneias e somente 43,8% dos despertares foram relacionados ao refluxo distal. Assim, apesar de os autores terem evidenciado maior incidência de episódios de refluxo distal nos pacientes com SAOS do que nos controles, não foi possível encontrar associação temporal direta entre eventos obstrutivos respiratórios e episódios de refluxo distal. Morse et al (2004) estudaram 136 pacientes, sendo 101 deles com SAOS, nos quais foram aplicados questionários para investigação de DRGE. Queixas de queimação retroesternal e regurgitação ácida não foram diretamente correlacionadas com a gravidade da SAOS. Afora isso, SAOS também não foi influenciada pela gravidade da DRGE. Os autores concluíram que SAOS e DRGE, entre si, não parecem ter relação de causalidade, mas sim que possuem fatores de risco em comum. Berg et al (2004) estudaram 14 pacientes obesos com SAOS, sem exclusão de tabagistas, etilistas ou outras possíveis causas de laringite crônica, com polissonografia, pH-metria esofágica de canal único distal e manometria esofágica concomitantes. 81% dos eventos de refluxo distal foram relacionados a apneias e 76% foram relacionados à redução da pressão esofágica. Em contrapartida, 76% das apneias não foram associadas a eventos de refluxo distal. Não houve associação significante entre os episódios de queda de pH, pressão intraesofágica (isto é, maior queda de pH, menor pressão esofágica) e IAH. Não encontraram associação temporal ou de gravidade da SAOS com eventos de refluxo distal. Nesta pesquisa, não foram estudados os segmentos da laringe e da faringe. Oztürk et al (2004) analisaram 19 pacientes com SAOS grave, com IMC entre 27 a 31, utilizando exame de polissonografia concomitante à pH-metria esofágica de dois canais. Setenta por cento dos episódios de refluxo distal tiveram relação temporal com apneia ou hipopneia, sendo 41,5% precedendo e 58,5% sucedendo evento respiratório. Não foi encontrado nenhum episódio de refluxo proximal nestes pacientes. Payne et al (2006) estudaram 34 pacientes, sendo 29 deles com SAOS, utilizando um teste via endoscópica para determinar a sensibilidade da laringe e ainda videolaringoscopia para determinar o RFS. Em 90% dos pacientes foram 21 encontrados sinais inflamatórios laríngeos e houve associação estatisticamente significante entre grau de inflamação visto pelo RFS e IAH, entre RFS e déficit sensorial e ainda entre déficit sensorial e IAH. Suzuki et al (2010) realizaram estudo em pacientes com SAOS leve e moderada associada ao RLF (n=12) ou à DRGE (n=16), e pacientes com SAOS grave associada ao RLF (n=12) ou à DRGE (n=21). O IMC variava entre 27 e 37 e utilizaram polissonografia concomitante com pH-metria esofágica de dois canais. Em pacientes com SAOS grave, 99,9% e 100% dos eventos de refluxo nos grupos com RLF e DRGE, respectivamente, foram associados a despertares secundários a eventos respiratórios. Por outro lado, em pacientes com SAOS leve a moderada, somente 26,5% e 66,9% dos eventos de refluxo nos grupos com RLF e DRGE, respectivamente, foram associados a despertares secundários a eventos respiratórios, e 64% e 24,8% dos eventos de refluxo nos grupos com RLF e DRGE, respectivamente, foram associados a despertares espontâneos. Nos pacientes com SAOS leve a moderada com RLF associado, observou-se número signitivamente alto de despertares espontâneos associados a episódios de refluxo. Kuribayashi et al (2010a) estudaram nove pacientes com DRGE sem SAOS, seis pacientes com SAOS sem DRGE, 11 pacientes com DRGE e SAOS, e 15 controles, nos quais foram realizadas manometria, polissonografia e pHimpedanciometria concomitantes. Não foi registrado nenhum evento de refluxo proximal. O número de eventos de refluxo distal nos controles e nos outros grupos não foi diferente. Não foi encontrada nenhuma concomitância temporal entre os episódios de refluxo distal e os de apneia. Os autores verificaram que a pressão intraesofágica diminui e a pressão nos esfíncteres superior e inferior do esôfago aumenta progressivamente durante os eventos de apneia, sendo significativamente maiores no final da apneia em comparação com o início dela. Assim, acreditam que, apesar de por um lado existirem fatores precipitadores de refluxo durante um evento de apneia, há também mecanismos compensatórios contra ele. No entanto, não foram excluídos os tabagistas e etilistas, e em nenhum deles houve refluxo proximal durante o exame. Kuribayashi et al (2010b) publicaram estudo envolvendo oito pacientes com SAOS e esofagite erosiva, nove pacientes com SAOS sem esofagite erosiva e oito controles, tendo sido estudados com polissonografia, manometria e pH-metria de 22 dois canais. A gravidade da SAOS não foi diferente entre os dois grupos com SAOS com e sem esofagite. Os episódios de refluxo noturno ocorreram por relaxamento transitório do EEI e não por aumento de pressão intraesofágica. Durante um evento de apneia foi observado aumento de pressão do EEI em concomitância com a diminuição da pressão intraesofágica. Xiao et al (2012) realizaram estudo com 37 pacientes com SAOS e 16 controles, nos quais foi realizada pH-impedanciometria em concomitância com polissonografia, mas não foi estudada a associação temporal entre os eventos de refluxo e apneia. Observaram que os pacientes com SAOS apresentaram de modo significante mais eventos de refluxo ácido, sem diferença entre os refluxos não ácidos e o número de episódios de RLF, o que não diferiu de modo significante entre os grupos. No entanto, pela regressão linear, o IMC foi o único fator preditor de SAOS nesse trabalho, podendo ser a justificativa para o grupo com SAOS ter tido maior número de eventos de refluxo ácido. 2 OBJETIVO 24 O objetivo do atual estudo é determinar se existe associação temporal entre os episódios de refluxo e os eventos obstrutivos respiratórios (hipopneia e apneia), bem como a influência nessa associação: da idade, de sexo, IMC, sinais e sintomas de refluxo laringofaríngeo e características físico-químicas do material refluído, em pacientes com refluxo laringofaríngeo e síndrome da apneia obstrutiva do sono. 3 CASUÍSTICA E MÉTODO 26 3.1 Casuística Foram selecionados 112 pacientes consecutivos no período de outubro de 2011 a agosto de 2012, com suspeita de SAOS e RLF, seguidos no Ambulatório de Ronco e Apneia do Sono ou no Ambulatório de Laringe da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Foram admitidos todos os pacientes que se enquadraram nos critérios de inclusão e exclusão, e que consentiram em participar do estudo assinando o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) após esclarecimento sobre os objetivos, metodologia e riscos da atual pesquisa. O protocolo de estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética local. Inicialmente, os pacientes foram submetidos à propedêutica otorrinolaringológica geral, bem como verificação de peso e altura para posterior cálculo do IMC. Para o diagnóstico de RLF, foram utilizados dois instrumentos validados para tal fim, o RSI (questionário – Anexo 2), com valor superior a 13 e o RFS (baseado em achados videolaringoscópicos – Anexo 1) com valor superior a sete, corroborado por pH-impedanciometria com refluxo patológico proximal e/ou EDA com presença de esofagite erosiva ou esôfago de Barrett (Mahieu, Smit, 2006; Gupta, Sataloff, 2009). A avaliação da laringe e faringe foi feita através de laringoscopia com fibra rígida de 10 m e 70º (Storz – Alemanha) acoplada a sistema de vídeo (câmera Toshiba – Japão, gravador de DVD LG – Brasil) e monitor (LG – Brasil) para o estabelecimento do Reflux Finding Score (RFS). Foi utilizado o nasofibrofaringolaringoscópio flexível de 3,4 mm de diâmetro (Machida – Japão) somente nos casos de aumento do reflexo nauseoso ou incapacidade de visualização da laringe pelo método de laringoscopia com fibra rígida. Todos os exames foram realizados no Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo, feitos e interpretados por um examinador cego, registrados e armazenados em mídias de disco digital de vídeo (DVD). Para o diagnóstico clínico da SAOS, foram aplicados dois questionários: a Escala de Sonolência de Epworth e o Questionário de Berlin (Anexos 3 e 4). Assim, os critérios gerais de inclusão foram: 27 a) Índice de massa corpórea ≤ 40 kg/m2. Para a determinação do IMC foram medidos o peso corporal (em quilos) e a estatura (em metros) do paciente. b) Idade ≥ 18 anos e < 70 anos. c) Reflux Symptom Index (RSI) > 13 (Belafsky et al, 2002) e Reflux Finding Score (RFS) > sete (Belafsky et al, 2001). d) Questionário de Berlin positivo e Escala de Sonolência de Epworth maior do que dez. Foram considerados critérios de exclusão: tabagistas, etilistas, pacientes expostos a químicos inalatórios abrasivos, com rinossinusite aguda ou crônica, com lesões pré-neoplásicas ou neoplásicas da laringe, faringe e do restante do sistema digestório (presentes ou previamente tratadas), bem como aqueles submetidos a cirurgias destes órgãos. O diagnóstico de rinossinusite aguda ou crônica foi baseado nos sintomas de rinorreia, hiposmia, obstrução nasal e cefaleia associados aos achados de secreção nasal espessa durante o exame de nasofibrolaringoscopia. Todo paciente que estivesse fazendo uso de medicação antiácida ou de qualquer medicação que tenha atuação no sistema digestório (pró-cinéticos, antiinflamatórios não hormonais e hormonais e alendronato de sódio) foi orientado a interromper a medicação, pelo menos, por sete dias antes da data da polissonografia com pH-impedanciometria. Foram excluídos todos os pacientes que não conseguiram suspender as medicações supracitadas, bem como os pacientes que estiveram em uso de medicações que facilitem o refluxo (betabloqueadores, nitratos, bloqueador de canal de cálcio e anticolinérgicos) ou que não foram capazes de tolerar o exame de polissonografia associado à pH-impedanciometria. Em seguida, todos os pacientes foram submetidos à EDA sob sedação, no Departamento de Endoscopia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Os pacientes que apresentaram alterações endoscópicas esofágicas ou gástricas que impossibilitassem a realização da monitorização esofágica prolongada foram excluídos deste estudo. Para estabelecer a presença e gravidade de esofagite foi utilizada a Classificação de Los Angeles (Lundell et al, 1999). Foi considerado o diagnóstico de DRGE na sua forma clássica, com a 28 presença de refluxo ácido ou não ácido distal patológico visto no exame de pHimpedanciometria durante todo o período de exame (diurno e noturno), e/ou EDA com sinal de esofagite erosiva ou esôfago de Barrett, de acordo com a classificação de Los Angeles (Lundell et al, 1999). Os pacientes assim incluídos foram então submetidos ao exame de polissonografia de noite inteira, em concomitância com a pH-impedanciometria esofágica. Para a manutenção do paciente na pesquisa, houve a necessidade de preencher alguns critérios nos exames de polissonografia e pH-impedanciometria: a) Corroboração do diagnóstico de Refluxo Laringofaríngeo por exame complementar: presença de refluxo ácido ou não ácido patológico, distal ou proximal, detectado pelo exame de pH-impedanciometria e/ou presença de esofagite erosiva ou esôfago de Barrett na EDA, de acordo com a classificação de Los Angeles. b) Presença de, pelo menos, um episódio de refluxo distal ou proximal visto no exame de pH-impedanciometria durante o período de registro da polissonografia. c) Presença de IAH ≥ cinco no exame de polissonografia. Para a sincronização dos eventos obstrutivos respiratórios e os eventos de refluxo, foi utilizado um sincronizador (Time Sync – Sandhill Scientific) conectado tanto ao equipamento de pH-impedanciometria quanto ao de polissonografia. 3.2 Método 3.2.1 Leitura dos dados A partir do próprio programa do polissonígrafo Alice 5 (Phillips Respironics, Murraysville, Pennsylvania, EUA), foram criadas tabelas nas quais foram listados todos os eventos obstrutivos respiratórios com os respectivos horários em que 29 ocorreram. Sabendo dos horários dos episódios de refluxo noturno de cada um dos pacientes, foram então criadas fórmulas matemáticas no programa Excel (Microsoft Office) para se determinar o número dos episódios de apneia ou hipopneia que precederam e sucederam cada episódio de refluxo. Foram analisados 15, 30 e 45 minutos antes e 15, 30 e 45 minutos após cada evento de refluxo, obtendo-se um número absoluto de eventos obstrutivos respiratórios em cada faixa de tempo estudada. A esse número absoluto foi feita multiplicação por quatro, dois e 0,75 respectivamente, para saber o número de eventos obstrutivos respiratórios por hora de sono, ou seja, o IAH pré e pós cada episódio de refluxo. A partir desses dados, foi calculado em porcentagem quanto houve de diminuição ou de aumento do IAH que precedeu e que sucedeu cada episódio de refluxo em relação ao IAH referente à noite inteira. Em todos os pacientes foi feita a contagem dos eventos obstrutivos respiratórios nos 15 minutos antecedendo e sucedendo cada episódio de refluxo, e quando não houve sobreposição com outros eventos de refluxo, essa análise foi estendida para 30 e 45 minutos. Além disso, foi pesquisada a presença de despertares relacionados e não relacionados a eventos obstrutivos respiratórios durante os 60 segundos que precederam e sucederam cada evento de refluxo. Uma vez feita a comparação entre o IAH referente à noite inteira e o IAH obtido nos 15, 30 e 45 minutos que antecederam e sucederam o(s) episódio(s) de refluxo, foram criados três grupos distintos: Grupo I: pacientes cujo IAH referente aos períodos antecedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi maior que o IAH referente à noite inteira; Grupo II: pacientes cujo IAH referente aos períodos sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi maior que o IAH referente à noite inteira; Grupo III: pacientes cujo IAH referente aos períodos antecedendo e sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi menor ou igual ao IAH referente à noite inteira. Assim, os grupos I e II foram compostos por pacientes que apresentaram alguma associação temporal entre eventos obstrutivos respiratórios e episódios de refluxo, enquanto o grupo III foi composto por pacientes sem esta associação. 30 Foram excluídos todos os pacientes que tiveram somente episódios de refluxo durante a fase REM do sono. Não foram excluídos os pacientes que os tiveram e que também apresentaram outros episódios de refluxo em outras fases do sono, e somente o refluxo ocorrido durante a fase REM não foi estudado. A determinação de qual estágio do sono no qual o refluxo ocorreu foi baseada na fase do sono que perdurou a maior parte do tempo durante o episódio de refluxo. Pacientes em que tanto o IAH do período antecedendo como sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi maior do que o IAH referente à noite inteira foram alocados no grupo I, exceto se o valor do IAH do período sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi maior que o dobro do IAH referente ao período antecedendo o(s) episódio(s) de refluxo, sendo então alocados no grupo II. 3.2.2 pH-impedanciometria A sonda de pH-impedanciometria utilizada foi a do modelo ComforTEC ZAIS62C26E, com 2,3 mm de diâmetro. Esta sonda possui dois sensores de pH em antimônio (um proximal e um distal) e seis sensores de impedanciometria, sendo quatro distais e dois proximais (Fig. 1). 31 Figura 1: Sonda de ph-Impedanciometria Refluxos proximais Refluxos distais Fonte: Modificado de Sandhill Scientific (2008). Nota: Fig. 1: Sonda de pH-impedanciometria na qual é possível identificar os dois sensores de pH, um distal localizado a cinco cm do EEI e outro proximal, localizado a 30 cm do EEI (setas maiores escritas em vermelho) e seis sensores de impedanciometria, sendo quatro distais, localizados três, cinco, sete e nove cm acima do EEI e dois proximais, localizados 15 e 17 cm acima do EEI, ou seja, localizam-se no esôfago proximal (setas menores, escritas em branco). A colocação da sonda de pH-impedanciometria foi feita no Serviço de Gastroenterologia Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) no período da manhã. O paciente permaneceu com a sonda até a manhã do dia seguinte, sendo que durante o período noturno dirigiu-se ao InCor para o exame de polissonografia. Imediatamente antes da colocação desta sonda, foi realizada a manometria esofágica no mesmo setor, com o objetivo único de identificar a posição do EES e do EEI. O resultado do exame de pH-impedanciometria, como o próprio nome diz, divide-se em dois grupos: o primeiro relacionado aos dados da pH-metria e o segundo relacionado aos dados da impedanciometria. 32 pH-metria Este, por sua vez, divide-se em pH-metria distal e proximal. A pH-metria distal refere-se às informações obtidas pelo sensor distal de pH, localizado no esôfago distal. Foi considerado refluxo distal ácido patológico se: - Score de DeMeester > 14,7 associado a: (a) porcentagem do tempo total de exposição ácida no sensor distal de pH for > 4,5% ou (b) porcentagem do tempo em posição ortostática com refluxo ácido > 8,4% ou (c) porcentagem do tempo em posição supina com refluxo ácido > 3,5% ou - Porcentagem do tempo total de exposição ácida no sensor distal de pH for > 4,5% (Jamielson et al, 1992). O score de DeMeester (Fujiwara et al, 2005), por sua vez, é obtido a partir de seis diferentes parâmetros: (1) Porcentagem do tempo total com pH < quatro; (2) Porcentagem de tempo com pH < quatro com o paciente em pé; (3) Porcentagem de tempo com pH < quatro com o paciente deitado; (4) Número total de episódios de refluxo ácido; (5) Número total de episódios de refluxo ácido com duração maior que cinco minutos; (6) Duração do episódio mais longo de refluxo ácido. A pH-metria proximal refere-se às informações obtidas pelo sensor proximal de pH, localizado na faringe. Considerou-se critério de positividade para refluxo patológico proximal a presença de qualquer episódio de refluxo com pH menor ou igual a cinco, independentemente de sua duração. Impedanciometria Foram considerados refluxos ácidos aqueles com pH menor que quatro, refluxos não ácidos com pH igual ou superior a quatro, que englobam os refluxos fracamente ácidos (pH entre quatro e sete) e os não ácidos propriamente ditos (pH maior que sete). Refluxos serão considerados proximais quando o material refluído alcançar o sensor de impedanciometria localizado a 15 cm do EEI. Os valores de referência para cada um dos sensores de impedanciometria podem ser vistos no Anexo 5, sendo que valores superiores aos descritos na tabela 33 foram considerados patológicos. Assim, pela análise da impedanciometria, foram considerados refluxos proximais não ácidos patológicos quando houve > 12 episódios de refluxo/24 horas; refluxos distais não ácidos patológicos quando houve > 33 episódios de refluxo/24 horas e refluxo distal ácido patológico quando houve > 50 episódios de refluxo/24 horas (Cho, 2010). Refluxos líquidos caracterizam-se por queda na impedância de mais de 50% do basal. Refluxos gasosos são definidos por rápido aumento (três kohms/segundos) na impedância maior que 5.000 ohms, ocorrendo simultaneamente em, pelo menos, dois segmentos esofágicos, na ausência de deglutição. Refluxos mistos (líquido e gasoso) são definidos por um refluxo gasoso que ocorre imediatamente antes ou durante um refluxo líquido. O tempo total de exposição ao conteúdo refluído (%) é definido pela divisão do somatório de todos os tempos de clareamento do conteúdo refluído de cada um dos episódios pelo tempo total de registro. O tempo de clareamento do conteúdo refluído, por sua vez, é iniciado com a queda da impedância para 50% da linha de base e seu retorno no sensor mais distal de impedanciometria (Lee et al, 2010). 3.2.3 Diagnóstico da SAOS 3.2.3.1 Diagnóstico Clínico da SAOS O diagnóstico clínico da SAOS foi feito a partir de dois questionários: o questionário de Berlin e a Escala de Sonolência de Epworth. O questionário de Berlin foi considerado positivo quando duas ou mais categorias foram positivas (Netzer et al, 1999) e a Escala de Sonolência de Epworth, quando o somatório de seus subitens foi maior que dez (Johns, 1991). 34 3.2.3.2 Diagnóstico Polissonográfico da SAOS As polissonografias foram realizadas no Laboratório do Sono da Disciplina de Pneumologia do Instituto do Coração (InCor) com o polissonígrafo Alice 5 (Phillips Respironics, Murraysville, Pennsylvania, EUA). Foram feitas sob supervisão de um técnico habilitado em polissonografia e consistiram no registro simultâneo de algumas variáveis como: (1) Dados eletroencefalográficos; (2) Registro de tônus muscular; (3) Registro de frequência cardíaca; (3) Registro de movimentação ocular; (4) Registro de fluxo aéreo por cânula de pressão e termístor; (5) Registro de movimentação torácica e abdominal; (6) Oximetria de pulso; (7) Posição do corpo; (8) Registro de ronco (Kushida et al, 2005). Todos os exames foram estagiados manualmente seguindo as regras propostas por Rechtschaffen e Kales, com os acréscimos sugeridos pela Academia Americana de Medicina do Sono, através de manual publicado em 2007 (Conrad et al, 2007). Considerou-se evento de APNEIA quando houve diminuição do fluxo aéreo nasal ≥ 90% do basal e com duração de ≥ dez segundos. Considerou-se obstrutiva quando acompanhada por esforço respiratório contra uma faringe ocluída; e central, quando não houve esforço respiratório associado à apneia. Considerou-se evento de HIPOPNEIA quando houve diminuição do fluxo aéreo nasal ≥ 30% do basal associado à queda ≥ 4% da saturação de oxigênio, com duração de ≥ dez segundos. O IAH foi calculado como número total de eventos respiratórios (apneias e hipopneias) por hora de sono (eventos/h), e foi utilizado para estabelecer a gravidade da SAOS. Foi também calculado o IAH referente exclusivamente ao sono não REM (NREM). Considerou-se diagnóstico de SAOS a presença de cinco ou mais eventos de apneia ou hipopneia por hora de sono. Em relação à gravidade, foi considerada SAOS leve quando ocorreram cinco a 14,9 eventos de apneia ou hipopneia/h, moderada quando ocorreram 15 a 29,9 eventos/h, e grave quando ocorreram 30 ou mais eventos/h (AASM, 1999). 35 Foi feita análise estatística comparando-se os grupos I, II e III em relação às variáveis de sexo, idade, IMC, RSI, RFS e características físico-químicas do material refluído. As mesmas comparações foram feitas entre os pacientes que apresentavam Refluxo Laringofaríngeo exclusivo e aqueles que apresentaram concomitância com a forma clássica da DRGE. Em relação aos eventos de refluxo, foram estudados sua duração, pH (ácidos, fracamente ácidos ou não ácidos), estado físico (líquidos, gasosos ou mistos) e fases do sono em que ocorreram. Foram ainda estudados os 60 segundos que precederam e sucederam cada episódio de refluxo em relação à presença de despertar, seja ele relacionado ou não a evento respiratório. 3.2.4 Análise Estatística Foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 13.0 for Windows. Para análise descritiva, foram utilizadas as medidas-resumo (média, mediana e desvio-padrão) para as variáveis quantitativas e calculadas as frequências absolutas e relativas para as variáveis qualitativas. Além disso, utilizaram-se gráficos do tipo boxplot para expressar os dados. Para análise estatística, foram utilizados os testes de Kruskal-Wallis para as seguintes variáveis: idade, IMC, IAH, RSI e seus subdomínios, RFS e seus subdomínios e a caracterização dos refluxos proximais e distais. Como o tamanho da amostra foi pequeno, para o estudo da variável “sexo” foi feita somente a análise descritiva. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para a variável “IMC”, além do Teste de Kruskal-Wallis. A significância estatística foi considerada para valor de p < 0,05. 4 RESULTADOS 37 4.1 Caracterização da amostra Dos 112 pacientes selecionados com suspeita de SAOS e RLF, 39 foram excluídos por serem tabagistas, oito por serem etilistas, um por ter antecedente de cirurgia no esôfago, oito pacientes com diagnóstico de rinossinusite aguda, cinco pacientes por não terem conseguido suspender a medicação em uso que facilitava a ocorrência de refluxo, e cinco por terem IMC acima de 40 kg/m2. Assim, 46 pacientes foram submetidos ao exame de polissonografia em concomitância com a pHimpedanciometria. Dos 46 pacientes que realizaram ambos os exames, 19 pacientes foram ainda excluídos do protocolo, pois três deles não apresentaram critérios polissonográficos para o diagnóstico de SAOS, 14 deles não apresentaram nenhum episódio de refluxo, seja ele proximal ou distal, durante o período de registro da polissonografia, e dois por terem apresentado exclusivamente episódio de refluxo durante o sono REM. Assim, a amostra estudada foi de 27 pacientes, sendo 14 homens (51,9%) e 13 mulheres (48,1%), com idade variando entre 31 a 65 anos (média= 51,7 anos e DP=9,3) e IMC entre 25 a 40 kg/m2 (média=32,4 kg/m2 e DP=4,3) (Quadro 1). O Reflux Symptom Index (RSI) variou de 14 a 43 (média=25 e DP=6,7), sendo que 12 (44,4%) pacientes queixavam-se de disfagia e 23 (85,2%) queixavamse de globo faríngeo. O Reflux Finding Score (RFS) variou de nove a 20 (média=14,2 e DP=2,5). Vinte e seis pacientes (96,3%) apresentaram pseudossulco, 25 (92,6%), obliteração ventricular, e 20 (74,1%), edema de pregas vocais. Todos os pacientes apresentaram edema laríngeo difuso e hipertrofia de comissura posterior. Nenhum paciente apresentou granuloma no processo vocal. A presença de muco endolaríngeo espesso foi vista em 22 (81,5%) pacientes (Quadro 1). QUADRO 1: Dados Gerais (n=27) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 SEXO IDADE IMC M M M M F M F M F M F M F F M M M F M M F F F F F M F 50 65 54 42 54 50 49 58 50 64 35 34 57 60 31 61 54 55 44 40 54 52 65 54 45 61 57 33 38,3 31,7 30,6 35 30,8 27,5 30,1 30,8 29,3 35 40 39,5 28,3 31,8 32,3 37,8 25 35,5 32,8 32,3 28 30,8 36,9 27 26 40 RSI A 4 4 5 0 0 1 5 4 0 2 4 5 2 3 0 4 4 0 4 0 1 1 2 2 0 5 0 B 4 5 4 5 5 3 5 4 5 5 3 5 3 3 5 3 2 4 5 5 5 5 5 5 5 4 3 C 5 4 5 5 0 2 5 3 5 3 3 4 1 3 5 3 0 3 3 5 5 5 2 4 5 5 3 D 0 3 0 0 0 0 4 0 5 0 4 3 2 3 0 4 0 0 0 0 5 3 0 3 0 3 0 E 0 3 1 0 5 4 5 3 5 0 0 2 4 0 0 2 0 4 0 0 1 0 0 1 2 0 1 F’ 5 4 0 5 5 3 5 0 5 3 5 4 5 2 5 2 0 3 4 5 5 0 0 2 2 0 3 RFS G 0 3 0 0 5 3 5 4 5 0 5 2 4 3 3 2 0 5 4 0 0 0 0 2 0 5 4 H 0 2 4 5 5 3 4 0 5 5 3 4 3 4 5 2 5 3 0 5 5 5 5 5 0 5 4 I 4 0 1 3 0 2 5 4 5 0 3 5 5 4 3 0 4 5 0 2 5 4 0 3 5 1 3 TT 22 28 20 23 25 21 43 22 40 18 30 34 29 25 26 22 15 27 20 22 32 23 14 27 19 28 21 A’ 2 2 2 2 2 2 2 2 0 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 B’ 2 2 4 2 2 4 2 4 4 2 4 2 2 2 2 4 4 2 4 4 2 2 2 2 0 0 2 C’ 2 2 2 0 2 2 2 2 2 2 2 0 0 2 2 2 4 2 2 0 0 2 2 2 4 2 2 D’ 2 2 0 0 1 1 2 0 2 2 1 1 1 3 1 1 2 2 2 1 0 0 2 0 2 0 2 E’ 2 3 2 2 3 3 2 3 3 2 1 2 3 3 2 3 3 2 3 2 2 2 3 3 3 3 2 F’’ 3 3 2 2 3 3 2 3 3 2 2 2 3 3 3 3 3 2 3 2 3 3 3 3 2 3 2 G’ 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 H’ 0 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 0 0 2 2 2 2 2 2 0 2 2 2 2 0 2 TT’ 13 16 14 10 15 17 14 16 16 14 14 11 11 15 14 17 20 14 18 13 9 13 16 14 15 10 14 Notas: A: rouquidão; B: pigarro; C: excesso de muco na garganta ou secreção escorrendo do nariz para a garganta; D: dificuldade de engolir comida, líquido ou comprimido; E: tosse após comer ou após deitar-se; F’: dificuldades respiratórias ou engasgos; G: tosse irritante; H: sensação de algo preso na garganta; I: dor no peito, indigestão, acidez estomacal subindo para a garganta; TT: total; A’: pseudossulco; B’: obliteração ventricular; C’: eritema; D’: edema PPVV; E’: edema laríngeo difuso; F’’: hipertrofia da comissura posterior; G’: granuloma; H’: muco; TT’: total; F: feminino; M: masculino. 39 Dos 27 pacientes, 17 deles preencheram o critério diagnóstico de DRGE na sua forma clássica (pacientes 1,2,3,5,6,8,11,12,14,17,18,19,20,21,22,23,27), seja pela presença de refluxo patológico distal no exame de pH-impedanciometria (pacientes 2,5,6,14,19,22), ou pela presença de EDA com esofagite erosiva (pacientes 3,11,12,17,18,23 e 27), ou ambas (pacientes 1,8,20,21) (Quadro 2). Somente um paciente apresentou refluxo não ácido patológico distal (paciente 8) e dois pacientes apresentaram refluxo não ácido patológico proximal (pacientes 4 e 12) (Quadro 2). Não houve nenhum paciente com diagnóstico de esôfago de Barrett na EDA. QUADRO 2: Resultados da polissonografia, pH-impedanciometria e endoscopia digestiva alta pH-impedanciometria PSG REFLUXO ÁCIDO PATOLÓGICO IAH PROXIMAL IAH T 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 11,9 75,6 37,1 89,5 25,7 92,5 6,6 23,8 18,2 38,1 15,1 69,8 28,3 7,1 88,4 14,7 22,4 9,8 5,3 29,8 9,5 5,1 9 12,7 5,9 65,7 53,2 EDA REFLUXO NÃO ÁCIDO PATOLÓGICO IAH NREM 9 75,2 33,2 90,6 17,9 95,4 6,2 23,7 16,4 38 6,8 69,5 24,8 3,3 87,3 13,9 22,2 9 2,9 30,1 7,7 2,6 7,8 6,4 3,3 68 49,1 pH<4 pH<5 N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N S N N N N N N N N N N N N S N S S N N S N S S N N S N S N N S S S N DeMeester (VR<14,7) 14,9 15,7 6,9 2,9 15,7 15,7 0,8 11,4 2 11,9 4,3 3,7 2,2 43 5,1 3,6 7,1 1 31,5 22,3 30,4 12,8 1,1 7,1 1 1,2 3 DISTAL TT TTO (VR<4,5%) (VR<8,4%) 5,2 8,8 5 7,2 2,1 2,8 0,7 1,1 0,4 0,1 2,1 1,7 0 0 3,4 6,1 0,5 0,8 3,1 3,5 1,1 0,5 0,7 1,2 0,4 0,5 14 18,2 1,6 2,7 1,3 2,1 2,4 4 0,2 0,3 5 0,9 4,6 1 10,4 9 5,7 0,2 0,1 18,3 2 3,1 0,1 0,2 0,2 0,4 0,9 1,4 TTS (VR<3,5%) 0,2 1,1 0,9 0 3,6 3,8 0 0,9 0 2,7 1,9 0,1 0,3 7,5 0,1 0,1 0 0 14,4 9,3 0,6 0 0,5 0 0 0 0 PROXIMAL DISTAL N N N S N N N N N N N S N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N S N N N N N N N N N N N N N N N N N N N ESOFAGITE EROSIVA S N S N N N N S N N S S N N N N S S N S S N S N N N S Notas: IAH T: índice de apneia e hipopneia referente à noite inteira; IAH NREM: índice de apneia e hipopneia referente ao período de sono NREM; VR: valor de referência; TT: porcentagem do tempo total com refluxo ácido; TTO: porcentagem do tempo em posição ortostática com refluxo ácido; TTS: porcentagem do tempo em posição supina com refluxo ácido; N: não; S: sim; DRGE: doença do refluxo gastroesofágico; RLF: refluxo laringofaríngeo; PSG: Polissonografia. 41 Não houve diferença estatisticamente significante entre os pacientes que apresentaram Refluxo Laringofaríngeo exclusivo e aqueles que apresentaram concomitância com a forma clássica da DRGE em relação às variáveis sexo, idade, IMC, RSI e RFS e características físico-químicas do material refluído. Em relação ao exame de polissonografia, o número total de eventos obstrutivos respiratórios analisados nos 27 pacientes foi de 4.875. O IAH variou de 5,1 a 92,5 eventos/hora (média= 32,3, DP=28,9). Onze pacientes (40,7%) apresentaram SAOS leve, sete (25,9%) pacientes foram diagnosticados com SAOS moderada e nove (33,3%) pacientes com SAOS grave. O IAH do sono NREM variou de 2,6 a 90,6 eventos/hora (média= 30,8, DP=30,3). A Fig. 2 mostra um exemplo de exame de polissonografia, onde é possível observar os eventos obstrutivos respiratórios. FIGURA 2: Exame de polissonografia Fonte: Laboratório do Sono do InCor. Nota: Fig. 2: Foto de tela de computador com o exame de polissonografia, em que se veem dois minutos de exame. É possível identificar dois eventos de apneia obstrutiva (AO) que estão culminando em despertar (D), associados à dessaturação da oxihemoglobina (DESSAT). 42 Todos os 27 pacientes apresentaram, pelo menos, um episódio de refluxo durante a polissonografia, sendo que dez deles (37%) apresentaram refluxo proximal, que variou de um único episódio a três por paciente, com média de 0,6 (DP + 0,9 episódios), com duração média de 72,6 segundos (DP + 67,1 segundos). Dezessete pacientes (63%) apresentaram exclusivamente refluxo distal durante o registro polissonográfico, que variou de um a 18 episódios por paciente, com média de 2,9 (DP + 3,6 episódios), com duração média de 32,5 segundos (DP + 41,3 segundos). Foram 92 episódios de refluxo no total, com duração média de 42 segundos (DP + 61 segundos), 77 (83,7%) distais e 15 (16,3%) proximais (Anexo 6). A minoria foi de refluxos não ácidos (12%), sendo os refluxos ácidos (46%) e fracamente ácidos (42%) os mais frequentes. 78% dos episódios de refluxo foram líquidos e o restante foi misto (22%). Nenhum refluxo foi exclusivamente gasoso. Quanto à fase do sono em que ocorreram, quase 50% dos episódios de refluxo ocorreram durante a vigília (47,8%), seguidos dos estágios N2 (42,4%), N1 (5,4%) e N3 (4,4%). Quando estudados os 60 segundos que precederam e sucederam cada episódio de refluxo em relação à presença do despertar, na maioria dos episódios de refluxo o paciente já estava em vigília (47,8%) e em 25% não houve despertar nesse período. Em 18,5% houve despertar relacionado ao evento respiratório nos 60 segundos que precederam o refluxo, e em 20,7% houve despertar relacionado a evento respiratório nos 60 segundos após o refluxo. Em 8,7% houve despertar sem relação com evento respiratório nos 60 segundos que precederam o refluxo e em 6,2% houve despertar sem relação com evento respiratório nos 60 segundos após o refluxo. A Fig. 3 mostra um exemplo de refluxo não ácido visto no exame de pHimpedanciometria. 43 FIGURA 3: Traçado de exame de pH-impedanciometria com um exemplo de episódio de refluxo não ácido distal e misto Fonte: Laboratório para Investigação em Motilidade Digestiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Nota: Fig.3: Seta larga: valor de pH inferior a quatro, caracterizando refluxo não ácido. Setas finas: aumento súbito na impedância seguida de queda, caracterizando refluxo misto. Esta mudança na impedância só atinge os sensores distais, por isto é considerada como refluxo distal. Dividindo os episódios de refluxo em dois grupos, proximais (n=15) e distais (n=77), observa-se que no grupo de pacientes com refluxo proximal houve predomínio dos refluxos ácidos (10/15, 67%), enquanto no grupo de pacientes com refluxo distal houve predomínio dos não ácidos e fracamente ácidos (45/77, 58,4%). Em ambos os grupos, os refluxos líquidos foram os mais frequentes. Foi na vigília que ocorreu a maioria dos refluxos proximais (10/15, 67%), enquanto N2 foi o estágio do sono em que ocorreu a maioria dos refluxos distais (35/77, 45,4%), seguido da vigília (34/77, 44,2%) (Anexo 6). 4.2 Associação temporal entre refluxo e eventos obstrutivos respiratórios Em todos os pacientes foi feita análise dos 15 minutos que precederam e sucederam os episódios de refluxo, mas somente em 14 pacientes (pacientes 5,7,10,12,13,14,16,17,18,21,22,23,25,27) foi possível estender a análise para 30 e 44 45 minutos. Nos demais pacientes ocorreu sobreposição de eventos de refluxo nessa faixa estendida de tempo, invalidando a análise. Foram também feitas comparações entre o IAH do sono NREM e o IAH obtido nos 15, 30 e 45 minutos que antecederam e sucederam o(s) episódio(s) de refluxo, e não houve mudança na alocação dos pacientes nos três grupos; por isto, a comparação foi feita com o IAH referente à noite inteira. O Anexo 7 detalha todos os IAH de cada período de 15, 30 e 45 minutos que antecederam e sucederam cada episódio de refluxo, em números absolutos. Sete pacientes (25,9%, pacientes 14,15,16,20,23,24 e 25) apresentaram IAH dos período(s) antecedendo o(s) episódio(s) de refluxo maior que o IAH referente à noite inteira, caracterizando o GRUPO I (Quadro 3). QUADRO 3: Pacientes cujo IAH referente aos períodos precedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi maior que o IAH da noite inteira (GRUPO I) Pré-refluxo (média) Paciente IAH total Pós-refluxo (média) 15 min* 30 min* 45 min* 15 min* 30 min* 45 min* 14 7,1 +12,7% -43,7% -62,0% -100,0% -71,8% -81,7% 15 88,4 +24,4% - - +27,8% - - 16 14,7 -45,6% +42,9% +27,2% -100,0% -93,2% -81,6% 20 29,8 +38,6% - - -46,3% - - 23 9 +122,2% +344,4% +240,0% -100,0% -100,0% -85,6% 24 12,7 +41,7% - - -37,0% - - 25 5,9 +171,2% +205,1% +103,4% -100,0% -100,0% -100,0% Notas: IAH: índice de apneia e hipopneia; min: minutos. *: Porcentagem de aumento (+) ou diminuição (-) do IAH do período estudado em comparação com o IAH referente à noite inteira. Quatro pacientes (14,8%, pacientes 12,13,21 e 27) apresentaram IAH dos período(s) sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo maior que o IAH referente à noite inteira, os quais foram denominados de GRUPO II (Quadro 4). 45 QUADRO 4: Pacientes cujo IAH referente aos períodos sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi maior que o IAH da noite inteira (GRUPO II) Pré-refluxo (média) Pós-refluxo (média) Paciente IAH total 15 min* 30 min* 45 min* 15 min* 30 min* 45 min* 12 +69,8 -54,2% -28,4% -40,8% +8,9% -2,6% -10,2% 13 +28,3 -1,1% -43,5% -62,5% +27,2% -1,1% +13,1% 21 +9,5 -100,0% -100,0% -57,9% +110,5% +26,3% +53,7% 27 +53,2 +20,3% -39,8% -60,0% +88,0% +24,1% -4,9% Notas: IAH: índice de apneia e hipopneia; min: minutos. *: Porcentagem de aumento (+) ou diminuição (-) do IAH do período estudado em comparação com o IAH referente à noite inteira. Dezesseis pacientes (59,3%, pacientes 1-11, 17-19, 22,26) apresentaram IAH dos períodos antecedendo e sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo, menor ou igual ao IAH referente à noite inteira, chamados de GRUPO III (Quadro 5). QUADRO 5: Pacientes cujo IAH referente aos períodos antecedendo e sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo foi menor que o IAH da noite inteira (GRUPO III) Pré-refluxo (média) Pós-refluxo (média) Paciente IAH total 15 min* 30 min* 45 min* 15 min* 30 min* 45 min* 1 11,9 -66,4% - - -58,0% - - 2 75,6 -25,1% - - -18,4% - - 3 37,1 -67,7% - - -40,7% - - 4 89,5 -97,0% - - -38,9% - - 5 25,7 -100,0% -100,0% -100,0% -100,0% -96,1% -97,3% 6 92,5 -70,2% - - -50,9% - - 7 6,6 -100,0% -100,0% -100,0% -100,0% -100,0% -80,3% 8 23,8 -42,0% - - -42,0% - - 9 18,2 -100,0% - - -100,0% - - 10 38,1 -89,5% -75,6% -73,2% -19,4% -19,4% -37,3% 11 15,1 -91,4% - - -55,6% - - 17 22,4 -55,4% -73,2% -64,3% -46,4% -64,3% -70,1% 18 9,8 -100,0% -100,0% -86,7% -100,0% -79,6% -73,5% 19 5,3 -43,4% - - -81,1% - - 22 5,1 -21,6% -60,8% -74,5% -100,0% -21,6% -47,1% 26 65,7 -17,8% - - -2,6% - - Notas: IAH: índice de apneia e hipopneia; min: minutos. *: Porcentagem de aumento (+) ou diminuição (-) do IAH do período estudado em comparação com o IAH referente à noite inteira. Em dois pacientes (pacientes 15 e 27), tanto o IAH do período antecedendo como aquele sucedendo o(s) episódio(s) de refluxo foram maiores do que o IAH referente à noite inteira. O paciente 15 foi alocado no grupo I, pois o aumento 46 iniciou-se antes do(s) refluxo(s) e permaneceu semelhante após o(s) refluxo(s) (27,8% e 24,4%), enquanto o paciente 27 foi alocado no grupo II, pois o IAH do período que sucedeu o(s) episódio(s) de refluxo foi mais que o dobro do que o IAH do período(s) que antecedeu o(s) episódio(s) de refluxo (88% e 20,3%, respectivamente). Exceto um paciente do grupo I (paciente 15), que apresentou refluxo proximal noturno, todos os outros pacientes do grupo I apresentaram exclusivamente refluxo distal noturno. Já quanto aos pacientes do grupo II, metade deles apresentou refluxos proximais noturnos (pacientes 12 e 13) e metade, refluxos distais noturnos (pacientes 21 e 27). No grupo III, nove pacientes (pacientes 2,3,5,7,9,11,17,18 e 26) apresentaram exclusivamente refluxos distais noturnos, enquanto sete (pacientes 1,4,6,8,10, 19 e 22) apresentaram refluxo proximal noturno. Em relação à distribuição dos pacientes com diagnóstico da DRGE na sua forma clássica, confirmado em 17 pacientes, três pacientes pertenciam ao grupo I (pacientes 14, 20 e 23), três pacientes faziam parte de grupo II (pacientes 12, 21 e 27) e 11 pertenciam ao grupo III (pacientes 1,2,3,5,6,8,11,17-19 e 22). Assim, a maioria dos pacientes com diagnóstico de DRGE na sua forma clássica fazia parte do grupo III, enquanto os pacientes com RLF exclusivo foram distribuídos de forma mais homogênea entre os grupos I, II e III. A caracterização de cada um dos grupos I, II e III pode ser vista nas Tabelas 1, 2 e 3. A única diferença significativa encontrada entre os três grupos foi em relação ao IMC, sendo o IMC mais elevado no grupo II em comparação com os outros dois grupos (Teste Kruskal-Wallis e Teste de Mann-Whitney, p= 0,037). TABELA 1: Médias, medianas e desvios-padrão das variáveis nos grupos I, II e III Média Grupo I Grupo II Grupo III (n=7) (n=4) (n=16) Mediana DP Média Mediana DP Média Mediana p DP Idade (anos) 50,9 54 12,5 50,5 55,5 11,1 52,3 53 7,8 0,998* IMC 31,4 31,8 3,2 37,9 39,7 3,8 31,5 30,8 3,9 0,037** IAH 23,9 12,7 29,5 40,2 40,7 26,6 33,9 23,1 30,2 0,463* RSI 22,1 22 4,5 29 30,5 5,7 25,3 23 7,5 0,220* Disfagia 1,4 0 1,8 2,5 2,5 2,1 1,4 0 1,9 0,570* Globo 3,7 5 2 4 4 0,8 3,4 4 1,93 0,864* 14,8 15 1,4 11,3 11 2,1 14,6 14 2,6 0,063* - - - - - - 1,9 2 0,5 0,709* Obliteração ventricular 2,3 2 1,4 - - - 2,8 2 1,2 0,385* Edema pregas vocais 1,4 1 1 1 1 0,8 1,2 1,5 0,9 0,772* Edema difuso laríngeo 2,7 3 0,5 2,3 2 0,5 2,4 2,5 0,6 0,361* Hipertrofia comissura posterior 2,7 3 0,5 2,5 2,5 0,6 2,6 3 0,5 0,784* - - - - - - - - - >0,999* 1,7 2 0,8 1 1 1,2 1,8 2 0,7 0,225* RFS Pseudossulco Granuloma Muco Notas: IMC: índice de massa corpórea; IAH: índice de apneia e hipopneia; RSI: índice de sintomas de refluxo; RFS: Escala de Achados Videolaringoscópicos de Refluxo; DP: desvio-padrão. *: Teste de Kruskal Wallis; **: Teste de Kruskal Wallis e teste de Mann-Whitney. TABELA 2: Médias, medianas e desvios-padrão das variáveis nos grupos I, II e III – Referente aos refluxos distais Média Duração Grupo I (n=7) Mediana DP Grupo II (n=4) Média Mediana DP Grupo III (n=16) Média Mediana DP p 16,1 13 11,9 22,5 22,5 20,5 41,4 29 49,8 0,245* 1 1 1 0,5 0,5 0,7 1,6 1 2,9 0,840* Fracamente ácidos 1,4 1 1,3 0,5 0,5 0,7 1,5 1 1,9 0,630* Não ácidos 0,1 0 0,4 - - - 0,7 0 1,9 0,861* Líquido Ácidos 1,6 1 1,8 - - - 3,2 2 3,7 0,220* Mistos 1 1 0,6 - - - 0,6 0 1,1 0,067* Gasosos - - - - - - - - - >0,999* V 0,9 1 0,9 0,5 0,5 0,7 1,8 1 2,9 0,501* N1 0,1 0 0,4 - - - 0,2 0 0,4 0,769* N2 1,6 1 1,9 0,5 0,5 0,7 1,5 1 2 0,846* N3 - - - - - - 0,3 0 0,5 0,252* ER a (60’’) 0,6 0 1,1 0,5 0,5 0,7 0,7 0 1,4 0,836* SER a (60’’) 0,3 0 0,8 - - - 0,3 0 0,8 0,860* V a (60’’) 0,9 1 0,9 0,5 0,5 0,7 1,8 1 2,9 0,501* O a (60’’) 0,9 0 1,2 - - - 1,1 1 1,4 0,424* ER d (60’’) 0,7 0 1,1 0,5 0,5 0,7 0,7 0 1,2 0,929* SER d (60’’) 0,6 0 1,5 - - - 0,1 0 0,3 0,733* V d (60’’) 0,9 1 0,9 0,5 0,5 0,7 1,8 1 2,9 0,501* O d (60’’) 0,4 0 0,5 - - - 1,3 1 1,9 0,308* Notas: V: acordado; N1: estágio 1 do sono não REM; N2: estágio 2 do sono não REM; N3: estágio 3 do sono não REM; V a: acordado nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; V d: acordado nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; O a: não houve despertares nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; O d: não houve despertares nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; ER a: despertar associado a evento respiratório nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; ER d: despertar associado a evento respiratório nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; SER a: despertar não associado a evento respiratório nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; SER d: despertar não associado a evento respiratório nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; DP: desvio-padrão; *: Teste de Kruskal Wallis. TABELA 3: Médias, medianas e desvios-padrão das variáveis nos grupos I, II e III – Referente aos refluxos proximais Grupo I (n=7) Grupo II (n=4) Média Mediana DP Média Duração - - - 72 Ácidos - - - Fracamente ácidos - - - Não ácidos - - Líquidos - Mistos Mediana Grupo III (n=16) p DP Média Mediana DP 72 25,5 75,7 47 81,1 - 0,5 0,5 0,7 1,3 1 1,1 - 0,5 0,5 0,7 0,4 0 0,5 - - - - - - - - - - - 0,5 0,5 0,7 1,4 1 1,1 - - - - 0,5 0,5 0,7 0,3 0 0,5 - Gasosos - - - - - - - - - - V - - - 0,5 0,5 0,7 1,3 1 0,5 - N1 - - - - - - 0,1 0 0,4 - N2 - - - 0,5 0,5 0,7 0,3 0 0,5 - N3 - - - - - - - - - - ER a (60’’) - - - - - - 0,1 0 0,4 - SER a (60’’) - - - - - - 0,3 0 0,5 - V a (60’’) - - - 0,5 0,5 0,7 1,3 1 0,5 - O a (60’’) - - - 0,5 0,5 0,7 - - - - ER d (60’’) - - - 0,5 0,5 0,7 0,2 0 0,4 - SER d (60’’) - - - - - - 0,2 0 0,4 - V d (60’’) - - - 0,5 0,5 0,7 1,3 1 0,5 - O d (60’’) - - - - - - 0,2 0 0,4 - Notas: V: acordado; N1: estágio 1 do sono não REM; N2: estágio 2 do sono não REM; N3: estágio 3 do sono não REM; V a: acordado nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; V d: acordado nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; O a: não houve despertares nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; O d: não houve despertares nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; ER a: despertar associado a evento respiratório nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; ER d: despertar associado a evento respiratório nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; SER a: despertar não associado a evento respiratório nos 60’’estudados precedendo o episódio de refluxo; SER d: despertar não associado a evento respiratório nos 60’’estudados sucedendo o episódio de refluxo; DP: desvio-padrão. 5 DISCUSSÃO 51 A relação temporal dos eventos de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios foi o enfoque principal deste estudo, com duas hipóteses principais, não excludentes entre si: maior concentração de eventos obstrutivos respiratórios sucedendo episódios de refluxo, e o inverso, ou seja, maior concentração de apneias e hipopneias precedendo episódios de refluxo. Assim, a primeira hipótese deste estudo foi verificar se o refluxo é um fator que aumenta a frequência de hipopneias e apneias, ou melhor, se após um episódio de refluxo ocorre maior concentração de eventos obstrutivos respiratórios. Isto se apoia em duas teorias descritas na literatura (Nguyen et al, 2005; Payne et al, 2006; Eskiizmir, Kezirian, 2009): o refluxo leva à inflamação na laringe com edema e consequente estreitamento da luz, além de déficits sensoriais nos receptores das mucosas faríngea e laríngea pelo material refluído. No presente estudo, somente quatro pacientes (14,8%) apresentaram maior concentração dos eventos obstrutivos respiratórios no período de até 45 minutos após evento de refluxo, em comparação com o IAH referente à noite inteira. A pequena casuística deste grupo dificultou estabelecer associações com as variáveis demográficas. No entanto, este grupo de pacientes apresentou IMC significativamente maior que o restante da população estudada, o que pode ter sido fator colaborador para este resultado, uma vez que a obesidade é fator de risco tanto para SAOS como para DRGE/RLF (Peppard, 2000a). Além disso, três dos quatro pacientes deste grupo apresentaram refluxo patológico proximal à pHimpedanciometria, o que sugere associação não só com a obesidade, mas com dano direto às mucosas da laringe e da faringe causado pelo material refluído. Por outro lado, as alterações inflamatórias causadas pelo refluxo podem não ser imediatas, a saber, possivelmente haja uma janela maior do que aquela utilizada neste estudo (máxima de 45 minutos) para que as alterações inflamatórias causadas pelo conteúdo gastroduodenal refluído se instalem. Pode ser que o efeito do refluxo seja algo gradual que se reflita nas horas ou até dias subsequentes e, por isto, não tenha sido possível estabelecer relação temporal neste estudo. Idealmente seria interessante terem sido feitos cortes não somente em 15, 30 e 45 minutos precedendo e sucedendo cada episódio de refluxo, mas sim cortes em uma, duas ou três horas. No entanto, isto foi inviável, pois haveria sobreposição de eventos de refluxo, o que prejudicaria a análise correta dos dados. Por outro lado, a inflamação 52 frequentemente encontrada na laringe dos pacientes com SAOS, bem como o déficit sensorial podem ter sido causados não somente por refluxo. Os pacientes apneicos podem ter apresentado reações inflamatórias na laringe pelo próprio trauma intermitente mecânico, secundário à vibração causada pelo ronco, e ainda pela força de sucção que ocorre com os eventos de hipopneias e apneias (Boyd et al, 2004). Ademais, o próprio mecanismo de hipóxia e reoxigenação que ocorre a cada evento obstrutivo de via aérea pode gerar radicais livres e stress oxidativo e, consequentemente, inflamação laríngea (Boyd et al, 2004). Exceto no estudo de Kerr et al (1992), em que os autores analisaram episódios de refluxo dez minutos antes e após a ocorrência de cada um, não há na literatura outros estudos nos quais se determine o período de estudo antecedendo e sucedendo cada episódio de refluxo para a análise de eventos obstrutivos respiratórios, e todos são baseados na concomitância dos eventos. Como citado anteriormente, o objetivo aqui foi estudar esta associação de uma forma linear ao longo do tempo, e não simplesmente a concomitância de eventos, por isso determinaram-se aleatoriamente os períodos de 15, 30 e 45 minutos. Períodos maiores ainda seria interessante que fossem analisados, porém, devido à sobreposição de episódios de refluxo não foi possível estudar períodos mais prolongados. Mesmo tendo sido determinado o período máximo de estudo de 45 minutos, não foi possível analisar esse período em todos os pacientes pelo mesmo motivo supracitado: sobreposição de episódios de refluxo. A segunda hipótese deste estudo consiste na via contrária da supracitada: episódios obstrutivos respiratórios levariam a eventos de refluxo, vale dizer, no período anterior ao refluxo haveria maior concentração de apneia e hipopneia. Esta teoria foi verificada por Kerr et al (1992) em cinco pacientes, nos quais foi demonstrada uma associação temporal entre evento obstrutivo respiratório e refluxo, porém sem significância estatística. Vários outros estudos também sugeriram tal associação, sem conseguirem estabelecer uma temporalidade entre os eventos (Tardif et al, 1988; Graf et al, 1995; Penzel et al, 1999; Ing et al, 2000; Berg et al, 2004; Kuribayashi et al, 2010a). No atual estudo, sete pacientes (25,9% – grupo I) apresentaram maior concentração de eventos obstrutivos respiratórios no período que precedeu o(s) episódio(s) de refluxo, em comparação com o IAH referente à noite inteira. Foram 53 aplicados testes estatísticos e não foi encontrado nenhum fator diferenciador neste grupo de pacientes em relação aos demais grupos. Quase 60% dos pacientes estudados (59,3% – grupo III) não apresentaram nenhuma associação temporal entre evento obstrutivo respiratório e episódio de refluxo durante o período de monitorização (quer sucedendo, quer precedendo). Isto pode ter sido consequência do estágio de sono no qual ocorreram os eventos de refluxo: no presente estudo, a maior parte dos episódios de refluxo (47,8%) ocorreu durante a vigília. Alguns estudos (Tardif et al, 1988; Penzel et al, 1999) também encontraram maior prevalência dos episódios de refluxo durante a vigília, contudo outro estudo observou maior número de episódios de refluxo no estágio N2 do sono NREM (Oztürk et al, 2004). No presente estudo, a maioria dos refluxos proximais ocorreu na vigília, enquanto a maioria dos refluxos distais ocorreu durante a fase N2 do sono NREM. Este estudo é o único de que se tem conhecimento na literatura ocidental que analisou de forma sistemática e detalhada o período de até 45 minutos antecedendo e sucedendo os refluxos noturnos. Na revisão sistemática da literatura realizada por Karkos et al (2009) não se mostrou nenhum estudo controlado ou meta-análise sobre a possível associação temporal entre DRGE/RLF e SAOS. Todos os trabalhos encontrados são baseados em baixo nível de evidência com estudos não controlados e relatos de casos (Tardif et al, 1988; Kerr et al, 1992; Graf et al, 1995; Penzel et al, 1999; Berg et al, 2004; Oztürk et al, 2004). Apenas cinco trabalhos tentaram estabelecer uma associação temporal entre SAOS e DRGE (Tardif et al, 1988; Kerr et al, 1992; Penzel et al, 1999; Ing et al, 2000; Berg et al, 2004) e quatro entre SAOS e RLF (Graf et al, 1995; Oztürk et al, 2004; Kuribayashi et al, 2010a; Suzuki et al, 2010). Estes estudos são baseados em pequenas casuísticas e apresentam alguns vieses, como não exclusão de outras causas de laringofaringite crônica (por exemplo, tabagismo e etilismo) (Kerr et al, 1992; Graf et al, 1995; Penzel et al, 1999; Ing et al, 2000; Berg et al, 2004; Oztürk et al, 2004; Suzuki et al, 2010; Kuribayashi et al, 2010a), utilização de métodos diferentes para o diagnóstico de RLF– pH-metria de dois canais (Graf et al, 1995; Oztürk et al, 2004; Suzuki et al, 2010) ou pH-impedanciometria (Kuribayashi et al, 2010a), além de diferentes critérios para diagnóstico de SAOS (Graf et al, 1995; Berg et al, 2004). 54 Neste estudo houve o cuidado de estabelecer critérios de exclusão bastante rígidos, a fim de minimizar outras causas possíveis de laringite crônica, como o etilismo e o tabagismo (Eckley et al, 2004). Além disso, foram utilizados em todos os pacientes critérios consagrados na literatura para o diagnóstico tanto de SAOS (Johns, 1991; AASM, 1999; Netzer et al, 1999; Kushida et al, 2005) como de DRGE e RLF (Koufman, 1991; Eckley et al, 1999; Belafsky et al, 2001; Belafsky et al, 2002; Mahieu, Smit, 2006; Wise, Murray, 2007; Zerbib, Stoll, 2010; Lee et al, 2010; Moraes-Filho et al, 2010; Hoppo et al, 2012; De Bortoli et al, 2012). Daí explica-se o porquê de se ter iniciado o trabalho com 112 pacientes em potencial e de se ter conseguido incluir somente 27 deles no atual protocolo. A maioria dos trabalhos em que se propôs o estudo da associação temporal entre refluxo e apneia tem metodologia baseada na concomitância de eventos, sem deixar explícito o tempo analisado antes e após cada evento de refluxo (Penzel et al, 1999; Ing et al, 2000; Berg et al, 2004; Oztürk et al, 2004). A concomitância dos eventos de refluxo e apneia pode não significar relação de causa e efeito, mas provavelmente estaria correlacionada à presença de laringoespasmo desencadeada pelo refluxo (Hobaika, Lorentz, 2009). Neste estudo, a minoria dos eventos obstrutivos respiratórios foi relacionada a eventos de refluxo (4.875 eventos obstrutivos respiratórios e somente 92 episódios de refluxo). Alguns artigos (Tardif et al, 1988; Graf et al, 1995; Penzel et al, 1999; Ing et al, 2000; Berg et al, 2004; Oztürk et al, 2004) encontraram resultados semelhantes, com a conclusão de que não houve associação temporal entre ambas as doenças, DRGE/RLF e SAOS. Se o refluxo para o esôfago fosse determinado exclusivamente pelo aumento da diferença de pressão transdiafragmática secundária, a diminuição da pressão intraesofágica que, por sua vez, é secundária ao evento de apneia/hipopneia, seria esperado que a maior parte dos eventos obstrutivos respiratórios fosse seguida de refluxo. Entretanto, no presente estudo, o achado foi de 53 vezes mais apneia e hipopneia do que de refluxo. Isto reforça a hipótese defendida por Kuribayashi et al (2010a) de que, a partir da análise do tônus dos esfíncteres superior e inferior do esôfago durante episódios de apneia, verifica-se aumento do tônus em ambos os esfíncteres, prevenindo o refluxo. Berg et al (2004) também observaram que não houve associação direta entre diminuição da pressão intraesofágica secundária ao 55 evento de apneia e acidificação do esôfago por refluxo. Especula-se que possa ter um valor-limite de diminuição de pressão intraesofágica que possa desencadear refluxo (Oztürk et al, 2004), ou então doença de base no EEI/EES que permita a ocorrência de refluxo (Berg et al, 2004). Não foi possível estabelecer tal inferência no atual estudo, uma vez que não foram feitas mensurações manométricas concomitantes à polissonografia. No estudo de Kerr et al (1992), apesar de não terem observado relação temporal clara entre refluxo e apneia, eles acreditam que os despertares secundários aos eventos obstrutivos respiratórios possam desencadear refluxo por intermédio da alteração de tônus do EEI. Os resultados do presente estudo não corroboram esta hipótese, pois o número de eventos obstrutivos respiratórios (n= 4.875) e, consequentemente, de despertares é muito superior ao número de episódios de refluxo (n= 92), concluindo-se mais uma vez que apenas a minoria dos episódios de apneia e hipopneia foi sucedida por refluxo. Outros pontos também merecem discussão neste estudo, que serão abordados a seguir. Os pacientes com IMC acima de 40 kg/m2 foram excluídos do estudo, pois é sabido que pacientes com esses valores de IMC têm alta prevalência de comorbidades associadas à própria obesidade, dentre elas a DRGE (Hampel et al, 2005; Wang et al, 2008), sendo considerados uma população à parte. Inicialmente, foi pensado sobre a possível exclusão de pacientes com IMC acima de 30 kg/m2, mas isto traria um viés à pesquisa, porque consequentemente se teria uma população de pacientes talvez com SAOS mais leve, e não distribuídos de forma homogênea de acordo com a gravidade da SAOS. A exclusão dos episódios de refluxo que ocorreram no sono REM objetivou evitar possível viés na contagem dos eventos obstrutivos respiratórios, pois o próprio sono REM, por si só, pode levar a aumento das hipopneias e apneias, decorrente da atonia muscular característica desta fase do sono (Eiseman et al, 2012). Novamente para evitar outro possível viés, também se calculou o IAH do sono NREM, ou seja, sem a fase REM do sono, que se comparou ao IAH referente à noite inteira. Como os valores de IAH referente à noite inteira e IAH do sono NREM foram muito semelhantes, não afetaram a alocação dos pacientes nos três grupos de estudo, optando-se assim por usar o IAH referente à noite inteira para as comparações. 56 Pelo fato de que os sinais inflamatórios laríngeos e faríngeos sugestivos de refluxo podem ser comuns a outras doenças ou processos irritativos exógenos, os critérios de exclusão adotados foram extremamente rígidos. Tabagismo e etilismo, por exemplo, causam processo inflamatório na mucosa respiratória, podendo mimetizar as alterações encontradas no RLF. Dos 112 pacientes iniciais, 66 pacientes foram excluídos e, assim, somente 46 pacientes puderam ser submetidos aos exames de polissonografia e pH-impedanciometria concomitantes. Acredita-se que a inclusão de pacientes nos quais os achados laríngeos sugestivos de refluxo não pudessem ser atribuídos a outras causas além do próprio refluxo permitiu que o diagnóstico laringoscópico de RLF fosse bastante confiável, permanecendo apenas duas causas possíveis da inflamação laríngea: o próprio refluxo e/ou a agressão mecânica causada pelo ato de roncar. Considera-se como valor de corte para diagnóstico de refluxo patológico proximal a presença de qualquer episódio de queda do pH abaixo ou igual a cinco, independentemente de sua duração. Koufman (1991) demonstrou que não é a acidez unicamente responsável pelo dano tecidual na laringe e sim a pepsina, a qual ainda apresenta 70% de sua atividade em pH de 4,5 e 40% em pH de cinco. Dois estudos demonstraram que lesões decorrentes da exposição à pepsina no epitélio esofágico podem ocorrer em pH < quatro, enquanto no epitélio laríngeo, em pH < cinco (Johnston et al, 2007). Koufman (1991) ainda demonstrou que parece provocar mais danos ao epitélio laríngeo a exposição mais prolongada de pepsina em pH não ácido do que a exposição mais curta de pepsina em pH menores. No presente estudo, se fosse utilizado o valor de corte de pH menor ou igual a quatro, haveria somente um paciente (paciente 21) com diagnóstico de refluxo patológico proximal, ao invés de 13 constatados. Desta forma, é possível perceber o incremento na sensibilidade diagnóstica da pH-impedanciometria ao se adotar o valor de corte para o sensor proximal em pH menor ou igual a cinco. A pH-impedanciometria confirmou a presença de refluxo patológico distal em 10/27 (37%) pacientes e de refluxo patológico proximal em 13/27 (48%) pacientes. De Bortoli et al (2012) confirmaram o diagnóstico de DRGE pela pH-impedanciometria em menos de 40% dos pacientes com achados clínicos e laringoscópicos sugestivos de RLF, achado este concordante com o encontrado no presente estudo (37%). A sensibilidade diagnóstica dos exames de monitorização prolongada do esôfago, quer a 57 pH-metria de dois canais isolada ou a pH-impedanciometria, é sabidamente baixa (Mahieu, Smit, 2006; Wise, Murray, 2007; De Bortoli et al, 2012), variando de 40 a 80%. Alguns estudos na literatura sugerem que os refluxos proximais sejam menos ácidos e mais gasosos que os refluxos distais (Kawamura et al, 2004; Oelschlager et al, 2006; Johnston et al, 2007; De Bortoli et al, 2012). Já no presente estudo, não foi observada preponderância dos refluxos não ácidos ou fracamente ácidos nos refluxos proximais: a maioria dos refluxos proximais foi ácida (66,7%). Também não foram observados refluxos gasosos no presente estudo nem nos refluxos proximais nem nos distais, sendo os refluxos puramente líquidos os mais prevalentes em ambos os grupos. Porém, alguns autores na literatura encontraram resultados discrepantes em relação ao presente estudo, nos quais que os refluxos proximais foram mais gasosos e menos ácidos que os refluxos distais (Kawamura et al, 2004; Oelschlager et al, 2006; Johnston et al, 2007). No período de registro noturno (pH-impedanciometria concomitante com polissonografia) foi possível observar a predominância dos episódios de refluxos distais em relação aos episódios de refluxo proximais no grupo I, sugerindo uma tendência de que a concentração elevada de eventos obstrutivos respiratórios culmine em refluxos do tipo distais, como foi sugerido por alguns autores como Penzel et al (1999), Ing et al (2000), Berg et al (2004) e Oztürk et al (2004). Já nos grupos II e III, os episódios de refluxo proximais e distais distribuíram-se de forma mais homogênea. Não existe consenso na literatura entre a gravidade da SAOS e do RLF. Somente Payne et al (2006) encontraram associação significativa entre a gravidade dos sinais inflamatórios laríngeos visualizados por laringoscopia e a gravidade da SAOS em 29 pacientes com SAOS. Mas outros autores (Tardif et al, 1988; Graf et al, 1995; Berg et al, 2004) não observaram tal achado. No presente estudo não foi observada associação entre maior gravidade da SAOS com maiores valores nas escalas de sintomas e sinais inflamatórios da laringe e da faringe (RSI e RFS) (Teste de Kruskal Wallis, p= 0,525 e 0,815, respectivamente), tampouco nas associações temporais. Neste estudo pôde-se observar uma associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em 40,7% dos pacientes, sendo que em 14,8% deles (Grupo II), os episódios de refluxo precederam o aumento da concentração de eventos obstrutivos respiratórios, e em 25,9% deles (Grupo I), a 58 maior concentração de eventos obstrutivos respiratórios precedeu os episódios de refluxo. No entanto, a pequena casuística destes grupos não permitiu identificar eventuais fatores determinantes destas associações. Foi somente observado IMC mais elevado nos pacientes cujos episódios de refluxo precederam a maior concentração de eventos obstrutivos respiratórios (Grupo II). Para concluir, estudos com populações maiores são necessários para melhor conhecimento destas possíveis relações temporais a fim de auxiliar no diagnóstico e tratamento precoce da DRGE/RLF em pacientes com SAOS, evitando-se o agravamento das manifestações clínicas destas doenças e minimizando seu forte impacto socioeconômico. 6 CONCLUSÕES 60 1) Houve associação temporal entre eventos obstrutivos respiratórios e episódios de refluxo em 40,7% dos pacientes estudados, sendo: - 14,8% com IAH sucedendo ao episódio de refluxo maior que o IAH referente à noite inteira. - 25,9% com IAH precedendo o episódio de refluxo maior que o IAH referente à noite inteira. 2) O IMC foi estatisticamente maior no grupo II, no qual o IAH referente ao período após o episódio de refluxo foi maior que o IAH referente à noite inteira. Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos I, II e III em relação às demais variáveis estudadas (sexo, idade, RSI, RFS e características físico-químicas do material refluído). 7 ANEXOS 62 ANEXO 1 Reflux Finding Score (RFS) Pseudosulco 2 pontos Obliteração ventricular Parcial – 2 Completa – 4 Eritema Aritenóides apenas – 2 Difuso – 4 Edema PPVV Leve – 1 Moderado – 2 Grave – 3 Polipóide – 4 Edema laríngeo difuso Leve – 1 Moderado – 2 Grave – 3 Polipóide – 4 Hipertrofia de comissura posterior Leve – 1 Moderado – 2 Grave – 3 Polipóide – 4 Granuloma Presente – 2 Muco Presente – 2 Fonte: Belafsky et al, 2001; Prado et al, 2013. 63 ANEXO 2 Reflux Symptom Index (RSI) 0= SEM QUEIXAS 5= QUEIXA GRAVE No último mês, como foi afetado pelos seguintes problemas Rouquidão 0 1 2 3 4 5 Pigarro 0 1 2 3 4 5 Excesso de muco na garganta ou secreção escorrendo do nariz para a garganta 0 1 2 3 4 5 Dificuldade de engolir comida, líquido ou comprimido 0 1 2 3 4 5 Tosse após comer ou após deitar-se 0 1 2 3 4 5 Dificuldades respiratórias ou engasgos 0 1 2 3 4 5 Tosse irritante 0 1 2 3 4 5 Sensação de algo preso na garganta 0 1 2 3 4 5 Dor no peito, indigestão, acidez estomacal subindo para a garganta 0 1 2 3 4 5 Fonte: Modificado de: Belafsky et al, 2002. 64 ANEXO 3 Escala de sonolência de Epworth 0: NENHUMA CHANCE / 1: PEQUENA CHANCE / 2: MODERADA CHANCE / 3: ALTA CHANCE 0 Sentado e lendo Assistindo TV Sentado, quieto em um lugar público, sem atividade Como passageiro de um trem, carro ou ônibus, andando uma hora sem parar Deitado para descansar à tarde Sentado e conversando com alguém Sentado após almoço, sem ter bebido álcool Se você estiver de carro, enquanto para alguns minutos no trânsito intenso Fonte: Johns, 1992. 1 2 3 65 ANEXO 4 Questionário de Berlin Categoria 1 Categoria 2 1. Você ronca? 6. Quantas vezes você se sente cansado ( ) Sim ou com fadiga depois de acordar? ( ) Não ( ) Praticamente todos os dias ( ) Não sei ( ) 3-4 vezes por semana 2. Seu ronco é: ( ) 1-2 vezes por semana ( ) Pouco mais alto que sua respiração? ( ) Nunca ou praticamente nunca ( )Tão mais alto que sua respiração? 7. Quando você está acordado você ( ) Mais alto do que falando? se sente cansado, fadigado ou não ( ) Muito alto que pode ser ouvido nos sente bem? quartos próximos? ( ) Praticamente todos os dias 3. Com que frequência você ronca? ( ) 3-4 vezes por semana ( ) Praticamente todos os dias ( ) 1-2 vezes por semana ( ) 3-4 vezes por semana ( ) Nunca ou praticamente nunca ( ) 1-2 vezes por semana 8. Alguma vez você cochilou ou caiu no sono enquanto dirigia? ( ) Nunca ou praticamente nunca 4. O seu ronco incomoda alguém? ( ) Sim ( ) Sim ( ) Não ( ) Não 5. Alguém notou que você para de respirar enquanto dorme? ( ) Praticamente todos os dias ( )3-4 vezes por semana ( )1-2 vezes por semana ( ) Nunca ou praticamente nunca Fonte: Netzer et al, 1999. Categoria 3 9. Você tem pressão alta? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei IMC= 66 ANEXO 5 Valores de Referência do exame de impedanciometria Número de episódios de refluxo nas 24 horas Refluxos distais Refluxos proximais Refluxo ácido <50 < 28 Refluxo não ácido <33 < 12 Total dos refluxos <73 < 31 Fonte: Cho, 2010. 67 ANEXO 6 Relação dos episódios de refluxo de cada paciente (n= 92) FA Estado Físico L D FA L W V V 00:00:18 D FA L W V V 00:00:24 P FA L W V V 00:00:21 D NA L N2 ER 0 00:00:12 D NA L N2 ER 0 00:00:11 D NA L N3 0 0 00:00:06 D NA L N1 0 0 00:04:13 D NA L N2 ER ER 00:01:12 D NA L N2 0 0 00:00:43 D NA L N2 0 0 00:00:57 D A L N2 0 0 00:00:07 D FA M N3 0 ER 00:00:51 P FA L W V V 00:00:47 D FA L W V V 00:00:04 D A M N1 0 0 00:00:30 D A L W V V 00:00:04 D FA L W V V 00:00:25 D FA L W V V 00:02:13 D FA L W V V 00:04:11 D FA L N2 ER ER 00:00:10 D A L N3 ER ER 00:00:04 D FA L N2 ER ER 00:00:32 D A M N2 ER ER 00:00:14 D A M W V V 00:00:22 D A M W V V 00:00:07 P A L W V V 00:05:45 D A L W V V 00:00:34 D A L W V V 00:00:15 D A L W V V 00:00:10 D A M W V V 00:00:22 P A M W V V 00:02:48 D A L W V V 00:00:37 D A L W V V 00:00:14 D A L N2 0 0 00:00:36 D FA L W V V 00:00:11 D FA L N2 0 0 00:03:56 D FA L W V V 00:00:15 7 D A L W V V 00:00:05 8 D A L N3 0 0 00:00:23 D A L N2 0 0 00:00:11 D A L N2 SER 0 00:00:28 Paciente 1 2 3 4 5 6 Tipo de Refluxo NOTURNO D pH Estágio do sono W Despertar 60’’ antes V Despertar 60’’ depois V Duração 00:02:13 68 ANEXO 6 Relação dos episódios de refluxo de cada paciente (n= 92) (continuação) A Estado Físico L D NA L N2 0 0 00:00:11 D NA L N2 0 SER 00:00:38 D NA L N2 SER 0 00:00:19 D FA L W V V 00:00:21 P A L W V V 00:00:37 P FA L N1 ER ER 00:00:04 P A L N2 SER SER 00:00:26 9 D FA L N2 0 0 00:00:03 10 D FA L W V V 00:00:01 P A L W V V 00:00:35 D FA L W V V 00:00:26 D A L W V V 00:00:08 D A L N2 SER 0 00:00:45 D A M N2 0 0 00:02:33 P A M W V V 00:00:54 13 P FA L N2 0 ER 00:01:30 14 D A M W V V 00:00:05 15 D FA M N2 ER ER 00:00:07 D FA M N2 ER ER 00:00:03 D FA L N2 ER ER 00:01:03 P FA M N2 ER ER 00:00:52 D A M W V V 00:00:18 D FA L W V V 00:00:50 Paciente 11 12 16 17 Tipo de Refluxo NOTURNO D pH Estágio do sono N1 Despertar 60’’ antes SER Despertar 60’’ depois ER Duração 00:00:18 D A L N2 0 0 00:00:34 D FA M W V V 00:00:21 18 D A L W V V 00:00:14 19 P A L W V V 00:01:25 P A L W V V 00:02:44 P A L N2 SER 0 00:00:22 D FA L W V V 00:00:57 D NA L N2 SER SER 00:00:10 D A M N2 0 0 00:00:34 D A L N2 0 SER 00:00:12 D A L N2 ER ER 00:00:54 D FA L N2 SER SER 00:00:04 D FA L N1 0 SER 00:00:36 21 D A L W V V 00:00:37 22 P A M W V V 00:00:41 23 D FA L N2 0 0 00:00:11 20 69 ANEXO 6 Relação dos episódios de refluxo de cada paciente (n= 92) (continuação) FA Estado Físico M D FA L N2 0 ER 00:00:05 D FA L N2 0 0 00:00:05 D A L W V V 00:00:31 25 D A M W V V 00:00:01 26 D FA M W V V 00:00:13 D FA L N2 ER ER 00:00:43 D FA L N2 ER ER 00:00:22 D FA L N2 ER ER 00:00:37 D FA L N2 ER ER 00:00:08 Paciente 24 27 Tipo de Refluxo NOTURNO D pH Estágio do sono W Despertar 60’’ antes V Despertar 60’’ depois V Duração 00:00:09 Nota: D: Distal; P: Proximal; A: Ácido; FA: Fracamente ácido; NA: Não ácido; L: Líquido; M: Misto; W: acordado; N1: Estágio 1 do sono não REM; N2: Estágio 2 do sono não REM; N3: Estágio 3 do sono não REM; V: acordado nos 60’’ estudados; O: não houve despertares; ER: houve despertar associado a evento respiratório; SER: Houve despertar não associado a evento respiratório. 70 ANEXO 7 Número de eventos obstrutivos respiratórios por hora de sono referente aos períodos precedendo e sucedendo cada episódio de refluxo IAH Pré-refluxo PACIENTE 1 2 3 4 5 6 IAH TOTAL 11,9 75,6 37,1 89,5 25,7 92,5 6 7 6,6 IAH Pós-refluxo REFLUXOS 15 min 30 min 45 min 15 min 30 min 45 min 1 4 - - 4 - - 2 8 - - 0 - - 3 4 - - 0 - - 4 0 - - 16 - - 1 48 - - 44 - - 2 56 - - 52 - - 3 4 - - 60 - - 4 76 - - 80 - - 5 84 - - 72 - - 6 68 - - 56 - - 7 60 - - 68 - - 1 16 - - 16 - - 2 8 - - 28 - - 1 0 - - 0 - - 2 0 - - 32 - - 3 8 - - 132 - - 1 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 2 1,3 1 0 - - 0 - - 2 0 - - 84 - - 3 88 - - 88 - - 4 92 - - 84 - - 5 84 - - 76 - - 6 76 - - 24 - - 7 32 - - 0 - - 8 12 - - 0 - - 9 0 - - 36 - - 10 0 - - 80 - - 11 56 - - 72 - - 12 16 - - 4 - - 13 0 - - 20 - - 14 0 - - 36 - - 15 0 - - 44 - - 16 0 - - 44 - - 17 0 - - 68 - - 18 8 - - 44 - - 19 0 - - 24 - - 20 88 - - 80 - - 1 0 0 0 0 1,3 71 ANEXO 7 Número de eventos obstrutivos respiratórios por hora de sono referente aos períodos precedendo e sucedendo cada episódio de refluxo (continuação) IAH Pré-refluxo PACIENTE 8 IAH TOTAL 23,8 IAH Pós-refluxo REFLUXOS 15 min 30 min 45 min 15 min 30 min 45 min 1 44 - - 0 - - 2 4 - - 4 - - 3 12 - - 12 - - 4 8 - - 0 - - 5 16 - - 24 - - 6 24 - - 20 - - 7 12 - - 40 - - 8 20 - - 4 - - 9 12 - - 40 - - 10 0 - - 4 - - 11 0 - - 4 - - 9 18,2 1 0 - - 0 - - 10 38,1 1 0 0 0 32 38 30,6 2 12 24 26,6 36 32 22,6 3 0 4 4 24 22 18,6 1 0 - - 0 - - 2 0 - - 4 - - 3 4 - - 16 - - 11 15,1 12 69,8 1 32 50 41,3 76 68 62,7 13 28,3 1 28 16 10,6 36 28 32 14 7,1 1 8 4 2,7 0 2 1,3 15 88,4 1 112 - - 128 - - 2 120 - - 124 - - 3 116 - - 100 - - 4 92 - - 100 - - 1 4 2 1,3 0 2 5,3 2 12 40 36 0 0 0 1 4 2 1,3 24 16 13,3 2 16 10 14,6 0 0 0 16 17 14,7 22,4 18 9,8 1 0 0 1,3 0 2 2,6 19 5,3 1 8 - - 0 - - 2 0 - - 0 - - 3 0 - - 4 - - 4 4 - - 0 - - 72 ANEXO 7 Número de eventos obstrutivos respiratórios por hora de sono referente aos períodos precedendo e sucedendo cada episódio de refluxo (continuação) IAH Pré-refluxo PACIENTE 20 IAH TOTAL 29,8 IAH Pós-refluxo REFLUXOS 15 min 30 min 45 min 15 min 30 min 45 min 1 16 - - 72 - - 2 44 - - 0 - - 3 48 - - 0 - - 4 80 - - 20 - - 5 48 - - 4 - - 6 12 - - 0 - - 21 9,5 1 0 0 4 20 12 14,6 22 5,1 1 4 2 1,3 0 4 2,7 23 9 1 20 40 30,6 0 0 1,3 24 12,7 1 0 - - 0 - - 2 48 - - 28 - - 3 24 - - 4 - - 4 0 - - 0 - - 25 5,9 1 16 18 12 0 0 0 26 65,7 1 56 - - 56 - - 2 64 - - 68 - - 3 48 - - 68 - - 4 48 - - 64 - - 1 64 32 21,3 100 66 50,6 27 53,2 Nota: IAH: Índice de apneia e hipopneia; min: minutos. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 74 AASM. 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Não se sabe ainda se estas doenças simplesmente compartilham alguns fatores de risco em comum, como a obesidade e o aumento da idade, ou se existe relação causa-efeito entre elas. A investigação diagnóstica concomitante do RLF e SAOS com pHimpedanciometria e polissonografia, respectivamente, permite determinar se ocorre associação temporal entre ambas as doenças. Objetivo: Determinar se existe associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em pacientes com RLF e SAOS. Casuística e Método: Vinte e sete adultos com diagnóstico clínico de RLF foram submetidos à polissonografia concomitante com pH-impedanciometria, após endoscopia digestiva alta. Para o diagnóstico de RLF foram utilizados dois instrumentos validados para tal fim, o Reflux Symptom Index (RSI) e o Reflux Finding Score (RFS), sendo que RSI > 13 e RFS > 7 foram considerados como positivos para RLF. Foi determinado o número dos episódios de apneia ou hipopneia que precederam e sucederam cada episódio de refluxo, tendo sido analisados 15, 30 e 45 minutos antes e depois do refluxo, e comparados com o índice de apneia e hipopneia (IAH) referente à noite inteira de estudo. Resultados: Dos 27 pacientes, 14 eram homens (51,9%) e 13 eram mulheres (48,1%), com idades variando entre 31 e 65 anos (média= 51,7 anos e DP=9,3) e IMC entre 25 e 40 kg/m2 (média=32,4 kg/m2 e DP=4,3). Os pacientes foram divididos em 3 grupos, de acordo com a presença de associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios: Grupo I (25,9%) – IAH antecedendo o refluxo maior que o IAH referente à noite inteira; Grupo II (14,8%)- IAH sucedendo o refluxo maior que o IAH referente à noite inteira, e Grupo III (59,3%)– IAH antecedendo ou sucedendo o episódio de refluxo menor ou igual ao IAH referente à noite inteira. Não houve diferença estatisticamente significante entre os três grupos quanto às variáveis idade, sexo, gravidade dos sinais e sintomas de RLF, presença ou ausência da forma clássica de DRGE e características físico-químicas do material refluído, exceto o IMC, que foi significativamente maior no grupo II. Discussão: Tanto a DRGE e o RLF, quanto a SAOS são doenças com alta prevalência na população e causam grande morbidade. Daí a importância de se compreender as possíveis associações de causa e efeito entre estas doenças. O refluxo pode predispor à ocorrência de evento de apneia por aumentar o processo inflamatório nos segmentos da laringe e da faringe. No presente estudo, 14,8% dos pacientes apresentaram tal associação temporal, sendo que o único fator diferenciador foi o fato de serem mais obesos. Ademais, episódios de apneia podem levar ao refluxo por aumentar o gradiente de pressão intratorácica e os despertares, vistos em 25,9% dos pacientes da atual casuística. Os achados deste estudo sugerem a necessidade de pesquisas com casuísticas maiores cuidadosamente desenhadas para se melhor compreender as associações entre episódios de refluxo e apneia. Conclusão: Neste estudo pôde-se observar uma associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em 40,7% dos pacientes com RLF e SAOS. 87 Xavier SD. Temporal association between reflux episodes and obstructive respiratory events in patients with Laryngopharyngeal Reflux and Obstructive Sleep Apnea. Tese (Doutorado). São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2013. ABSTRACT Introduction: Recent literature has explored the possibility of a association between Gastroesophageal Reflux Disease (GERD), Laryngopharyngeal Reflux (LPR) and Obstructive Sleep Apnea (OSA). It is, however, unclear if these diseases simply share the same risk factors (i.e. obesity and age) or if there is a cause-effect relation between them. Diagnostic investigation using concomitant pH-impedance monitoring and polisomnography allows assessment of a possible temporal association. Objective: To determine if there is a temporal association between reflux and obstructive respiratory events in patients with LPR and SAOS. Patients and Methods: Twenty seven adults with clinically diagnosed LPR underwent concomitant pH-impedance testing and polisomnography, after an upper digestive endoscopy. The diagnosis of LPR was established using two validated instruments, the Reflux Symptom Index (RSI) and the Reflux Finding Score (RFS), where a RSI > 13 and a RFS > 7 were considered positive for LPR. The number of obstructive respiratory events (apnea or hypopnea) that occurred 15, 30, and 45 minutes before and after each reflux episode were recorded and compared to the apnea hypopnea index (AHI) of the full night. Results: Twenty-seven patients were enrolled in the study, 14 males and 13 females, with a mean age of 51.7 years (ranging from 31 to 65 years), and a mean body mass index (BMI) of 32.4 kg/m2 (ranging from 25 to 40 kg/m2). Patients were sub-divided in 3 groups according to the presence of significant temporal association between reflux and respiratory events: Group I – 25.9% of patients presented a greater AHI before the reflux episodes when compared to the total AHI; Group II – 14.8% of patients presented a greater AHI after the reflux events when compared to the total AHI; and Group III- 59.3% of patients presented AHI before or after the reflux episodes lesser or the same when compared to the total AHI. No statistically significant difference was found for demographic or reflux related variables, such as gender, age, RFS and RSI scores, physical-chemical characteristics of the refluxate, or association with classical GERD. The only statistically significant variable was BMI, which was found to be significantly higher in patients from Group II. Discussion: Both GERD and LPR, as well as OSA are highly prevalent diseases that cause great morbidity. Understanding the physiopathology and possible associations between these diseases is important for diagnosis and management. Two theories are proposed to explain the association. The first one states that the inflammatory process caused by the refluxate at the laryngopharyngeal segment influences reduction in upper airway patency. This was observed in 14.8% of patients in the current series, which presented significantly higher BMI. The other theory believes that apnea increases intrathoracic pressure gradientes and awakenings, which facilitate reflux. This was observed in 25.9% of our patients. Future studies with larger series and rigid design are necessary to better clarify the factors leading to the temporal associations found between reflux and respiratory events. Conclusion: A temporal association between reflux and obstructive respiratory events was found in 40.7% of patients with Laryngopharyngeal Reflux and Obstructive Sleep Apnea. APÊNDICE 89 90 Termo de consentimento livre e esclarecido Eu, Sandra Doria Xavier, portadora do RG 23620187-6, CPF: 269094748-05, CRM 101577, pesquisadora e pós-graduanda da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo residente na cidade de São Paulo – SP, cujo telefone de contato é (11) 99972-0009, vou desenvolver uma pesquisa cujo título é “Associação temporal entre episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em pacientes com refluxo laringofaríngeo e síndrome da apneia obstrutiva do sono”. As apneias são paradas da respiração durante o sono causadas por um fechamento momentâneo da garganta. A cada parada, cai o oxigênio que chega ao organismo, podendo levar a sérias consequências, como pressão alta, infarto e derrames. O refluxo, que é a subida do ácido do estômago para a garganta, está muito associado à apneia. O refluxo pode piorar a apneia por inflamar a região da garganta e, ao mesmo tempo, a apneia pode piorar o refluxo por facilitar a subida do ácido. O objetivo deste estudo é entender melhor a associação destas duas doenças para conseguir tratar ambas de forma mais adequada. Sua participação nesta pesquisa é voluntária e constará de algumas etapas. Primeiramente, será necessário o preenchimento alguns questionários, que dizem respeito às suas queixas de ronco, apneia e refluxo na garganta. Em seguida será feito um exame do nariz e da garganta, chamado laringoscopia, no qual se introduz um aparelho de fibra óptica ou por via nasal ou pela própria boca, ligado a uma câmera. Este exame será realizado por mim, no Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo. Este exame consegue ver todas as estruturas da laringe, a fim de se pesquisarem possíveis alterações das pregas vocais e da mucosa da laringe. Este exame será feito com anestesia local em spray e dura poucos minutos, sendo levemente incômodo e com risco de complicação não mensurável de tão pequeno. Para fazer o diagnóstico do refluxo, será feita uma série de exames. O primeiro é a endoscopia digestiva alta, que será feita na Santa Casa pela equipe de endoscopia, que é especializada no procedimento e o realiza diariamente. Para fazer este exame, o paciente precisa ficar sem comer (jejum) por 8 horas. Consiste na passagem de um tubo de fibra óptica pela boca para a visualização do esôfago, estômago e início do intestino e é feita dormindo, depois de receber uma medicação (sedação) na veia. Depois de acordar, o paciente vai com seu acompanhante para casa, no mesmo dia. Esta etapa apresenta um desconforto mínimo, pois a sedação ajuda o paciente a realizar o exame sem maiores dificuldades, e o risco de complicação é baixo, permitindo que ele seja realizado em qualquer idade. Outro exame que será feito será a manometria esofágica, que será feita no serviço de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, que é especializado no procedimento e o realiza diariamente. Apesar de ser feito pela equipe da cirurgia, não é uma cirurgia, mas sim um exame muito parecido com a endoscopia, em que é colocada uma sonda (canudinho) por dentro do nariz até o esôfago (tubo que liga a garganta ao estômago). O exame é feito com o paciente acordado para que possa ser testada a capacidade de engolir volumes diferentes de água. Este exame dura poucos minutos e tem o objetivo de localizar onde estão as 91 aberturas do estômago para o esôfago e do esôfago para a garganta, além de estudar se a movimentação do esôfago está adequada. O exame causa pequeno desconforto durante a passagem da sonda, o qual desaparece imediatamente após sua retirada. Em seguida será feito o exame de pH-impedanciometria, também no Hospital das Clínicas de São Paulo. Neste, outra sonda será passada pelo nariz e será engolida para ficar no esôfago de um dia para outro, para saber se há refluxo e qual o tipo (ácido, não ácido, líquido ou gasoso). O exame de pH-impedanciometria também é indolor e pode causar incômodo por necessitar que a sonda fique dentro do nariz e esôfago durante 24 horas. Com a sonda colocada, o paciente poderá comer normalmente. Raramente a passagem da sonda pode causar sangramento no nariz, que é rapidamente controlado. Como temos o objetivo de relacionar as apneias noturnas e o refluxo, o paciente passará a noite no InCor (Laboratório do Sono – Instituto do Coração), para que seja feito um exame de monitorização do sono, do ronco e das apneias em conjunto com a pH-impedanciometria. Este exame chama-se polissonografia e consiste na colocação de fios grudados no couro cabeludo, no queixo, ao redor dos olhos e fios para eletrocardiograma que irão monitorar se a pessoa está acordada ou dormindo e se há apneia ou alteração dos batimentos do coração. O exame de polissonografia não causa dor, apenas incômodo mínimo pelos fios presos ao corpo com fita adesiva. No início da manhã, quando terminar a polissonografia, será retirada a sonda da pH-impedanciometria e o paciente poderá ir para casa. Sua participação não trará qualquer benefício direto, mas proporcionará um melhor conhecimento a respeito da relação entre refluxo e apneia. Não existe outra forma de obter dados com relação ao procedimento em questão e que possa ser mais vantajosa. Informo que o paciente tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Se tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – SP. Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo. Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros pacientes, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos participantes. O paciente tem o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das pesquisas, e caso seja solicitado, darei todas as informações que solicitar. Não existirão despesas ou compensações pessoais para o participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa. Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os resultados serão veiculados através de artigos científicos, em revistas especializadas e/ou em encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível a sua identificação. Abaixo está o consentimento livre e esclarecido para ser assinado caso não tenha ficado qualquer dúvida. Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o trabalho “Associação temporal entre 92 episódios de refluxo e eventos obstrutivos respiratórios em pacientes com refluxo laringofaríngeo e síndrome da apneia obstrutiva do sono”. Eu discuti com a médica Dra. Sandra Doria Xavier sobre minha decisão em participar deste estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho a garantia de acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas a qualquer tempo. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o estudo, sem penalidade ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido. Data: _________________________________________________ Assinatura do paciente ou responsável legal _________________________________________________ Assinatura da pesquisadora – Dra Sandra Doria Xavier CRM 101577 93 Classificação de Los Angeles: Classificação endoscópica de esofagite erosiva Grau Achado A Uma ou mais erosões menores do que 5 mm B Uma ou mais erosões maiores do que 5 mm em sua maior extensão, não contínuas entre os ápices de duas pregas esofágicas C Erosões contínuas (ou convergentes) entre os ápices de pelo menos duas pregas, envolvendo menos de 75% do órgão D Erosões ocupando pelo menos 75% da circunferência do órgão Fonte: Lundell et al., 1999.