Serviço e Disciplina de Clínica Médica Sessão ClínicaClínica- 02/05/2016 Auditório Honor de Lemos SobralSobral- Hospital Escola Álvaro Alvim Orientador: Frederico Paes Barbosa Relatora: Beatriz Assed Estefan Mósso Vieira R2 Debatedora: Júlia Marcelino Terra R1 CASO CLÍNICO Identificação: Homem, 60 anos, caucasiano, casado, lavrador, natural e residente de Campos dos Goytacazes. Queixa principal: “febre” HDA: Há 2 meses paciente iniciou quadro de febre, 2 episódios/dia, de até 38° °, sem calafrios, de caráter vespertino e com regressão espontânea. Nega perda ponderal, anorexia e outras alterações. Avaliado em hospital de outra região onde evidenciou-se 2 lesões cutâneas em região pré-esternal, de aspecto verrucoso, uma delas mais enegrecida. Submetido à ressecção das mesmas e encaminhado material para histopatológico. CASO CLÍNICO Doenças associadas: Nega DM, HAS e outras patologias. Cirurgias: Nega Hemotransfusão: Ø História social: Nega etilismo, tabagismo e uso de drogas ilícitas. História familiar: Negativa para patologias relevantes. CASO CLÍNICO - EXAME FÍSICO: Bom estado geral, PS= 0, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico, eupneico. IMC= 26,3 ACV: RCR 2T BNF, sem sopros. PA= 130x80 mmHg FC= 88 bpm AR: MV + bilateralmente, SRA. Abdome: flácido e indolor à palpação. Fígado com borda romba, superfície irregular, indolor, palpável à 6 cm do RCD e 8 cm do AX. Peristalse presente. Baço não palpável. Traube livre. MMIIs: sem edema, panturrilhas livres. EXAMES DA ADMISSÃO admissão Ht/Hb Leucócitos 41,7%- 12,1 6.800 39-43% / 12-16g/dL 4000-9000/mm3 150.000-450.000/mm3 Plaquetas 339.000 Glicose 89 Até 99 mg/dL U 37 Até 40 mg/dL Cr 0,8 Até 1,4 mg/dL Na+ 138 K 4,8 135-145mEq /L 3.5 a 5.5 BT= 1,0 BD= 0,7 TGO= 27 TGP= 26 EAS: FA= 50 Coagulograma= normal Marcadores hepatites B e C= negativos HIV= negativo TC de Tórax (Nov/2015): nódulos pulmonares, menores que 1 cm, inespecíficos. EXAMES DA ADMISSÃO RNM do abdomêm (Out/2015): múltiplas lesões nodulares no fígado, as maiores nos segmentos II (5,3 cm) e na transição dos segmentos IV/V (6,8 cm). Pâncreas normal. Hipóteses diagnósticas / conduta Discussão Clínica Febre de Origem Indeterminada Discussão Clínica Febre vespertina de até 38 C por 2 meses Lesões cutâneas prévias (verrucosas e uma enegrecida) Hepatomegalia Febre à esclarecer Discussão Clínica Exames Discussão Clínica Febre de origem indeterminada FOI CLÁSSICA - Temperatura > 37,9C em várias ocasiões; - Duração > três semanas; - Diagnóstico incerto após 1 semana investigação hospitalar ou após 3 consultas ambulatoriais. FOI NOSOCOMIAL - Temperaturas> 37,9C em diversas ocasiões em um paciente hospitalizado sendo submetido à tratamento agudo, e no qual não tenha banido infecção evidente atual. Discussão Clínica FOI no paciente NEUTROPÊNICO - Temperaturas> 37,9C em diversas ocasiões em um paciente cuja contagem de neutrófilos seja menor que 500/µl. FOI no HIV + - Temperaturas> 37,9C em diversas ocasiões em um paciente com diagnóstivo de HIV. Discussão Clínica Causas de FOI clássica: • Infecciosas: Endocardite, Abscessos intraabdominais (subfrênico, hepático), Tuberculose, HIV, micoses, leishimaniose, viroses; • Neoplásicas: Adenocarcinomas (colon, pancreático etc) , Metástases, Linfomas, leucemias; • Inflamatórias não infecciosas: Arterite temporal, LES, doença de Still, doença de Chron; • Medicamentosa: Beta-lactâmicos, quinidina, fenitoína. Discussão Clínica Infecciosas – Leucocitose com desvio à esquerda falam a favor. Neoplásica – Ausência de mialgias, artralgias falam à favor; idade, nódulos hepáticos. Inflamatórias não infecciosas– Presença de nódulos hepáticos (?) Discussão Clínica Abscesso Hepático Tuberculose Hepática FOO Clássica + Nódulos Hepáticos Hidatidose Carcinoma Hepatocelular Tumor Metastático Hipótese Diagnóstica Abscesso Hepático Favoráveis: A febre é o sinal de apresentação mais comum Podem ser solitários ou múltiplos Desfavoráveis: Ausência de leucocitose ou desvio à esquerda Ausência de hepatomegalia dolorosa Hipótese Diagnóstica Tuberculose Hepática Favoráveis: Pode se apresentar sem alteração de exames laboratoriais Ter como manifestação clínica apenas febre e/ou sensibilidade em HD Desfavoráveis: Muito rara (tuberculose geralmente é disseminada) Imagens pouco sugestivas Hipótese Diagnóstica Hidatidose – Doença rara causada por Echinococcus granulosus. As larvas desenvolvemse em cistos, e pode haver uma forma que se apresenta como tumor hepático (E.multilocularis) de crecimento lento. Favoráveis: Pode se apresentar sem alteração de exames laboratoriais Os cistos crescem lentamente sem causar sintomas Forma tumoral História epidemiológica Desfavoráveis: Muito rara Imagens pouco sugestivas Hipótese Diagnóstica Carcinoma Hepatocelular Favoráveis: Tamanho e localização dos nódulos. Desfavoráveis: Múltiplos nódulos (mais compatível com metástase); Sem fatores de risco (hepatites, cirrose) Hipótese Diagnóstica Tumor metastático Colon Favoráveis: Local mais comum de disseminação é para o fígado Causa frequente de FOO em idosos Desfavoráveis: Ausência de sinais clássicos como anemia, fadiga, alteração do hábito Ausência de Sd. consuptiva Hipótese Diagnóstica Tumor metastático Melanoma Favoráveis: Presença de lesão característica (enegrecida, nodular) É agressivo, envia metástases mais comumente para SNC e fígado. Fatores de risco presentes (idade, profissão, etnia) Desfavoráveis: Metástases linfáticas geralmente aparecem primeiro Sd. consuptiva Discussão clínica Abordagem • Certificar-se de que há febre; • Anamnese minuciosa: atentar para epidemiologia (idade, região, viagens recentes); • Exame físico detalhado: atentar para linfonodomegalias. • Repetir anamnese e exame físico; • Evitar terapia empírica. Condução do Caso • • • • • • • • VHS, PCR. Culturas: Sangue, urina, escarro (BAAR). Toque retal. Marcadores: CEA, PSA. TC pélvica com contraste; Colonoscopia e EDA. Internação hospitalar para investigação (?) Biópsia Hepática Laparoscopia (?) EXAMES COMPLEMENTARES COLONOSCOPIA (Out/2015): • Conclusão: padrão endoscópico de normalidade. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: • Conclusão: Gastrite endoscópica enantematosa de antro, grau moderado. Teste da Urease negativo. BIÓPSIA DE PELE: • Conclusão: 1) Carcinoma basocelular pigmentado, com intensa elastose solar. A lesão foi totalmente retirada. 2) Carcinoma basocelular pigmentado e multicêntrico. Intensa elastose solar. Margens cirúrgicas livres. EXAMES COMPLEMENTARES BIÓPSIA HEPÁTICA (Out/2015): • Macroscopia: 3 fragmentos irregulares de tecido pardo-claro, firmeelástico, medindo em média 0,5 cm de maior eixo. • Microscopia: neoplasia melanocítica, metastática. A etiologia mais provável é o melanoma. RNM do Crânio (Nov/2015): • Conclusão: Não há evidência de lesão expansiva, vascular ou desmielinizante. EXAMES COMPLEMENTARES IMUNOHISTOQUÍMICA (Nov/2015): EXAMES COMPLEMENTARES CROMOGRANINA A: • Resultado: 417.3 ng/Ml (VR= < 100.0 ng/mL) DIAGNÓSTICO FINAL TUMOR NEUROENDÓCRINO G2, DE ORIGEM DESCONHECIDA, METASTÁTICO PARA FÍGADO TUMORES NEUROENDÓCRINOS ORIGEM DAS CÉLULAS NEUROENDÓCRINAS: Fonte: Pathology, classification, and grading of neuroendocrine tumors arising in the digestive system. Disponível em: www.uptodate.com Fonte: Práticas em Oncologia Clínica – 2 ed ed. 2015, p.491 TUMORES NEUROENDÓCRINOS Fonte: Práticas em Oncologia Clínica – 2 ed ed. 2015, p.492 TUMORES NEUROENDÓCRINOS TUMORES NEUROENDÓCRINOS AVALIAÇÃO HORMONAL CONFORME SÍTIO PRIMÁRIO: Fonte: Práticas em Oncologia Clínica – 2 ed. 2015, p.494 TUMORES NEUROENDÓCRINOS AVALIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS PATOLÓGICAS: GRAU ÍNDICE MITÓTICO (10 Cga) Ki67 (%) DIFERENCIAÇÃO 1 <2 <3 Bem diferenciado 2 2 a 20 3 a 20 Moderadamente diferenciado 3 > 20 >20 Pouco diferenciado Fonte: Práticas em Oncologia Clínica – 2 ed. 2015 TUMORES NEUROENDÓCRINOS OctreoScan (111 indium pentetreotide scintigraphy): Fonte: Utility of 111 Indium-pentetreotide Scintigraphy in Patients with Neuroendocrine Tumors; Ann Surg Oncol. 2013 Feb; 20(2): 640-645 TUMORES NEUROENDÓCRINOS OctreoScan (111 indium pentetreotide scintigraphy): Fonte: Utility of 111 Indium-pentetreotide Scintigraphy in Patients with Neuroendocrine Tumors; Ann Surg Oncol. 2013 Feb; 20(2): 640-645 TUMORES NEUROENDÓCRINOS Pet CT com Gálio 68: • Mescla imagens metabólicas e anatômicas do paciente; • Não há contra-indicações, não promove alergias e não altera função renal; • Apresenta rápido acúmulo nos tecidos, com expressão de receptores da somatostatina, obtendo-se elevadas concentrações nos tumores de uma forma precoce; • Possui rápido clearance sanguíneo, contribuindo para uma baixa dose de radiação aos doentes; • Sensibilidade e especificidade superiores a 92%; • Localização do TU primitivo, estadiamento, seguimento para detecção de doença residual, recorrência ou progressão, determinação e quantificação da expressão de receptores da somatostatina, monitorização da resposta à terapêutica. Fonte: Medicina Nuclear e Tumores Neuroendócrios – do Diagnóstico ao tratamento-. Disponível em: www.spmn.org TRATAMENTO CIRÚRGICO: • Cirurgia citorredutora a depender do sítio primário ANÁLOGO DE SOMATOSTATINA: • Octreotide TRANSPLANTE HEPÁTICO: Fonte: Opções terapêuticas em Carcinomas Neuroendócrinos Gastroenteropancreáticos (GEP NETS) Metastáticos. Rev. Portuguesa de Cirurgia. II série, n16, Mar/2011. EVOLUÇÃO • Iniciou há 2 meses análogo de somatostatina – Sandostatin Lar- 30 mg 1 vez/mês (baseado no estudo PROMID); • Programação futura: tentar fazer OctreoScan e/ou Pet CT com Gálio; • Paciente permanece bem, em tratamento ambulatorial; • Sem sinais e sintomas de síndrome carcinóide; Referência Bibliográfica • HARRISON T.R. Harrison: Medicina Interna - 18ª edição. São Paulo: Ed. McGraw-Hill. 2013. • KALIL, A. N. et al. Tuberculose Hepática Pseudotumoral. Rev. Do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. XXVI, n. 3, p. 197, 1999. • Lambertucci JR, Avila RE, Voieta I. Fever of unknown origin in adults. Rev Soc Bras Med Trop 2005; 38:507–13. • MASA, E. A. et al. Abscesos hepáticos múltiples por Gemella morbillorum. Gastroenterología y Hepatología, Vol. 30. Núm. 04. Abril 2007 • BARROS, Marcos Aurélio Pessoa; CASTRO, Nathalia Siqueira Robert de; MOURAO, Thiago Camelo. Abdome agudo como manifestação inicial de melanoma metastático: relato de caso. Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro , v. 40, n. 3, p. 263-265, June 2013