Contaminantes Emergentes: “As rugas que sempre tivemos”* * Esse documento é um projeto de artigo em elaboração pela Verti Ecotecnologias. O seu uso e citação não estão autorizados pela empresa e pelo seu autor. Por Aluir Dias Purceno Verti Ecotecnologias Rua Mário de Andrade, 128, 31.565-110 Belo Horizonte/MG - tel: +55 (31) 3495-3781 [email protected] Certa vez Dr. Wilson Jardim, professor do Departamento de Química Analítica da Universidade de Campinas-SP (Unicamp) e pesquisador de contaminantes emergentes, disse que “o desenvolvimento das técnicas de detecção para contaminantes em água de abastecimento era como uma pessoa que após muitos anos com problemas na visão, passa a enxergar com clareza de repente e ao se olhar no espelho, percebe as rugas que sempre teve”. Essa frase representa a capacidade adquirida através das novas técnicas de detecção em analisar a presença de contaminantes na água de abastecimento humano cada vez em concentrações mais baixas. O fato de apenas agora estarmos nos atentando para este problema, não significa que ele surgiu há pouco. Tais contaminantes sempre estiverem presentes, sempre estivemos expostos a eles, o fato é que não tínhamos técnicas sensíveis o suficiente para detectá-los de forma consistente. Por isso são conhecidos como contaminantes emergentes. Estes contaminantes encontrados em concentrações na ordem de ppm, ppb ou até ppt possuem as mais diversas origens. Entre os vários contaminantes que atingem os corpos d’água, temos: • os parasitas de veiculação hídrica e príons que se originam da indústria agropecuária; • os produtos de dimensões nanoméricas que têm surgido como um potencial contaminante capaz de provocar efeitos no homem devido à sua exposição; • os herbicidas e pesticidas de largo uso na agroindústria; • os produtos químicos que, além das indústrias químicas, são utilizados também em várias outras indústrias; e • os medicamentos, que tem sua origem nas indústrias farmacêuticas Veja figura 1 para uma visão geral dos contaminantes emergentes: Figura 1. Panorama dos contaminantes emergentes em águas de abastecimento. Entre os contaminantes emergentes, temos um grupo determinado que merece nossa atenção em especial, os “Pertubadores Endócrinos”. Os Pertubadores Endócrinos – P.E. – são substâncias que mesmo em baixíssimas concentrações podem provocar efeito hormonal nos seres vivos. Os P.E. podem ser fármacos (hormônios sintéticos e semi sintéticos), pesticidas/herbicidas ou produtos químicos. Porém todos são agentes hormonalmente ativos. Entre os P.E., os que possuem ação estrogênica são os mais recorrentes. Vários relatos pelo mundo mostram a associação da presença destes contaminantes na água e/ou comida com a ocorrência de efeitos como amadurecimento precoce, ginecomastia, câncer de infertilidade e feminização de diversas espécies de seres vivos, inclusive o ser humano. Figura 2. Exemplos de casos de contaminações emergentes. vagina, Atendo-nos aos contaminantes que envolvem a indústria farmacêutica, além dos hormônios os antibióticos, que possuem um papel já definido e estudado dentro da literatura de contaminantes emergentes. A contaminação ambiental por antibióticos também pode provocar a seleção de bactérias resistentes no ambiente e também nos seres vivos expostos a ele. Quando um antibiótico qualquer atinge um corpo d’água ou um ser vivo sua biota é afetada. As bactérias menos resistentes morrem ou tem seu crescimento inibido enquanto bactérias mais resistentes seguem se multiplicando. Desta forma, a biota inerente a cada organismo ou ecossistema se modifica, podendo se tornar até patogênica. Com relação a outros fármacos (ex. antiinflamatórios, anti-histamínicos, analgésicos) e produtos de higiene pessoal, as pesquisas são baseadas em suposições, uma vez que os impactos causados aos ecossistemas quando em baixas concentrações não estão muito claros ainda. A situação de ocorrência de contaminantes emergentes é agravada pela ineficiência das Estações de Tratamento de Efluentes, Estações de Tratamento de Água e Estações de Tratamento de Esgotos para fazer a remoção total destes contaminantes. No caso dos fármacos, o ser humano utiliza o fármaco terapeuticamente e excreta grande quantidade dele nas fezes e urina. Os excretas humanos passam pela Estação de Tratamento de Esgotos (quando disponíveis), na qual parte dos contaminantes é retirada e parte segue com o efluente para os corpos d’água. Muitos desses corpos são utilizados para a captação de água, onde a Estação de Tratamento de Água não remove os mesmos. Desta forma, os contaminantes, além de atingir o ambiente, também atingem os seres humanos via água de abastecimento. Um centro de pesquisa em química analítica da Universidade Estadual de Campinas está realizando uma Nos EUA, devido à escassez até mesmo física de água potável, muito tem se discutido a respeito da potabilização do esgoto. Cidades americanas como San Diego (CA) tem visto no reuso através da potabilização do esgoto uma alternativa para reduzir a quantidade de água “importada” pela mesma (hoje existem cidades da Califórnia “importando” até 90% da água potável). Esta política, chamada de “Toilet-To-Tap” (do sanitário à pia) pela imprensa americana, tem como ponto negativo o agravamento do problema relacionado aos contaminantes emergentes. O reuso, associado a incapacidade dos sistemas de tratamento de água e esgoto em remover medicamentos e outros contaminantes em baixíssimas concentrações, obrigam os políticos e tomadores de decisões a pensarem cuidadosamente sobre os riscos associados a potabilização do esgoto como alternativa ao acesso a ágau potável. pesquisa em parceria com algumas empresas e órgãos governamentais com a intenção de gerar dados capazes de serem utilizados como base para determinação dos Fonte:http://www.slate.com/id/2182758 By Eilene Zimmerman parâmetros de lançamentos de efluentes e potabilização de água. Em paralelo, muitos trabalhos pelo mundo têm estudado tecnologias eficientes para a remoção dos mesmos. Entre elas, Osmose Reversa, Microfiltração, Processos Oxidativos Avançados, Sorção etc. Porém, temos a necessidade de adequar as melhores opções à realidade das indústrias e municípios brasileiros. A principio, vê-se a necessidade do investimento em pesquisas para monitoramento da ocorrência dos contaminantes emergentes nas águas brasileiras, para identificação dos seus impactos e conseqüências e para adequação das melhores tecnologias de remoção às freqüências e quantidades das substâncias encontradas em nossos corpos d’água. Visto tudo isso, precisamos nos instruir sobre o assunto e tomar iniciativas, até mesmo pioneiras, de maneira que juntos possamos minimizar o problema antes que a população seja afetada em um futuro próximo.