UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso Pró-Reitoria de Ensino de Pós-Graduação Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis Gestão da Educação Profissional e Tecnológica com ênfase em Fundamentos da Educação Didática e Docência na Educação Técnica de Nível Médio e Tecnológica. A EDUCAÇÃO É UM FATOR DE COMBATE AOS ÍNDICES DE DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL? Gleyson Cezar Leme da Silva [email protected] Acho fácil de perceber que no nosso país, assim como no mundo todo, os indivíduos são diferentes. Estas diferenças se baseiam principalmente em coisas materiais, raça, sexo e cultura. Posso dizer ainda que os aspectos para constatarmos que os homens são diferentes são físicos ou sociais. Constatasse isso na nossa sociedade, pois nela existem indivíduos que vivem em absoluta miséria, não têm nem sequer o que comer durante o dia, enquanto outras vivem em mansões rodeados de coisas luxuosas e com mesa farta todos os dias. Celso Monteiro Furtado, que foi um importante economista brasileiro e um dos mais destacados intelectuais do país ao longo do século XX, dizia que vivemos em um país com grande deformação social. Certo disto apontava assim as grandes diferenças sociais das diversas regiões do nosso país. Mas a educação pode ser um dos fatores que contribuem no aumento ou diminuição de desigualdade social no nosso país? A ausência da educação faz de alguma forma que o indivíduo seja excluído socialmente? Sei que a desigualdade social no Brasil é um problema histórico. A mais de 500 anos, desde seu descobrimento, o modelo de desenvolvimento adotado privilegia as elites econômicas. A própria organização da colonização, se iniciou com a criação das 14 Capitanias Hereditárias, em 1534, das quais o governo português cedeu a investidores privados. Cada detentor de uma das capitanias, por sua vez, passava a ser dono de 20% do total do território da Capitania para si próprio. Assim se iniciava a desigualdade da terra no Brasil, dando origem ao problema crônico que persiste até hoje. Sinto que a educação possui um papel fundamental na sociedade, que é preparar o indivíduo para a vida, para o trabalho, para a relação entre as pessoas, e entre outros, a educação acaba sendo um fator para a diminuição da desigualdade social. Para o economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a educação contribui relativamente mais que outros fatores para explicar a desigualdade de renda no Brasil. Logo, tem um papel relevante no debate sobre desenvolvimento social e econômico. Durante um seminário de Distribuição de renda na América Latina, promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso, em agosto de 2005, Paes de Barros apresentou uma análise interessante sobre as origens da desigualdade social no Brasil, na qual relacionou educação e desenvolvimento. Na sua opinião, o crescimento econômico sem redução de desigualdade não terá impacto efetivo no combate a pobreza. Ainda segundo ele, cerca de 60% da desigualdade total de renda das famílias brasileiras decorre da desigualdade em remuneração dos trabalhadores ocupados, que por sua vez, é conseqüência de dois fatores: a desigualdade educacional e a forma como o mercado de trabalho a "traduz" em desigualdade de renda. "A relação entre remuneração e educação resulta de uma corrida entre o progresso tecnológico e o sistema educacional", assegurou o economista. Se o progresso vence, as diferenças salariais entre os níveis educacionais se ampliam. Se o sistema educacional chega antes, as diferenças salariais diminuem. A avaliação do economista é a mesma de outros estudiosos deste tema: a dificuldade em reduzir as desigualdades advém do fato de que o progresso está vencendo o sistema educacional. "Historicamente, o sistema educacional brasileiro tem se expandido menos do que outros países latino-americanos. Esta expansão tem sido também mais lenta do que seria necessário para evitar a ampliação das desigualdades por parte do mercado de trabalho", explicou o também economista Naércio Aquino Menezes Filho, do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo. Pesquisador do tema, ele acha que a expansão educacional verificada a partir de 1988 foi muito tímida especialmente se comparada com processos similares ocorridos em outros países com estágio de desenvolvimento mais atrasado do que o Brasil. Segundo ele, a timidez se deve em parte à diminuição da transição do ensino médio para o superior nas últimas décadas, e em parte pela evasão escolar entre os mais pobres, que abandonaram o sistema antes de concluir o ensino fundamental. Especialista no estudo dos retornos econômicos da educação em termos salariais, Menezes afirma que no Brasil os índices estão entre os mais altos do mundo. No entanto, eles vêm diminuindo ao longo do tempo "devido ao próprio processo de expansão educacional que, ao aumentar a oferta relativa de pessoas com ensino fundamental e médio, reduziu a diferença salarial entre estas pessoas e aquelas com nenhuma ou baixa qualificação", escreveu no artigo intitulado "A evolução da educação no Brasil e o seu impacto no mercado de trabalho”. Para acelerar a expansão, em um ritmo mais compatível com as nossas necessidades, e reduzir as desigualdades educacionais, Paes de Barros, do IPEA recomenda criar mais oportunidades prioritariamente para as populações pobres. Em sua avaliação, a capacidade de se beneficiar dessas oportunidades deve depender o menos possível do ambiente familiar, nem sempre preparado. Com base em análises de natureza econômica, Paes de Barros mostrou o impacto de um ano de pré-escola na vida profissional futura do indivíduo: "Eleva permanentemente a remuneração do trabalhador em 5%, amplia sua escolaridade final em 0,6 ano de estudo e reduz o tempo necessário para completar uma série". Para esses benefícios, importantes na diminuição de desigualdade, a pré-escola custa anualmente por indivíduo R$ 1,5 mil. Posso dizer que o governo de alguns anos para cá, vem se mostrando disposto a contribuir para a diminuição da desigualdade social, implementando entre outros, programas sociais e de transferência de rendas para os mais pobres, principalmente no norte e nordeste brasileiro. Atualmente o mais popular, chamado Bolsa Família, vem mostrando resultados importantes para a diminuição da pobreza e evasão escolar, pois como sabemos, cada família pobre recebe uma quantia mensal em dinheiro em troca do cumprimento de determinadas exigências, como manter as crianças na escola, vacinar periodicamente os filhos, etc. A grande crítica que pode ser feita a este tipo de programa social que esta sendo fortemente implementado no Brasil, é que ele não contém as chamadas “portas de saída”, ou seja, incentivos para que as famílias pobres deixem de precisarem receber este auxilio, a partir da obtenção de um emprego e uma condição de vida melhor. Com isto, os programas sociais ganham um cunho assistencialista e acabam criando um círculo vicioso: o governo dá dinheiro aos pobres, que continuam pobres e precisam do auxílio do governo. Vejo sempre nos Jornais e noticiários Brasileiros, índices que tentam medir o desenvolvimento da população. Citarei um muito conhecido, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês Mahbuh ul Haq, e que vem sendo usado desde 1993 pelo programa das Nações Unidas para o desenvolvimento em seu relatório anual. Neste relatório é apresentado uma lista com mais de 170 países e territórios, ordenados conforme critérios internacionais de avaliação, como expectativa de vida e taxa de alfabetização. Seus valores variam entre 0 (nenhum desenvolvimento humano) e 1 (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 são considerados de desenvolvimento humano baixo; com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de desenvolvimento humano médio; e com índices maiores que 0,800 são considerados de desenvolvimento humano alto. Os últimos dados apontam o Brasil como 70º (septuagésimo colocado) com o índice de 0,800, entrando pela primeira vez para o grupo de países com elevado desenvolvimento humano. Porém, as críticas em relação a este relatório anual são muitas. A que mais me chama atenção é de que o índice apenas nos revela uma média nacional, escondendo as desigualdades existentes, quer entre grupos sociais, quer entre etnias e regiões. Segundo a socióloga Drª Silene de Moraes Freire, esta pesquisa apenas nos revela um Brasil fraturado, que como eu já havia mencionado, dividi-se entre os que têm tudo e os que não tem nada: os 10% de brasileiros mais ricos ficam com nada menos de 47% da renda nacional. Impressionante, segundo ela, pode-se tentar compreender porque a desigualdade social não é considerada o problema maior do país: são os 10% de brasileiros mais ricos que estabelecem, no Legislativo, Executivo e no Judiciário, nos partidos políticos, nas instituições religiosas, na imprensa a hierarquia dos problemas nacionais. Como eles são beneficiários da desigualdade, não lhes convém chamar a atenção para o assunto. Com este abismo social, também é possível entender o motivo da discussão sobre a economia brasileira se dar exclusivamente em torno do crescimento econômico, pois, conforme revelou a publicação (Estatísticas do Século 20), o crescimento econômico em nosso país não esta diretamente relacionado à redução de desigualdade social. Se a lógica que move a sociedade brasileira permanecer a mesma, com o crescimento da economia, mais uma vez os ganhadores seriam justamente os 10% de brasileiros mais ricos. Mencionando uma estatística divulgada em setembro de 2005, revelouse que, 75% dos Brasileiros são analfabetos funcionais: pessoas com dificuldades de ler e interpretar um texto. Aos 10% de privilegiados, interessa manter a massa na ignorância. Em uma matéria publicada na Folha de São Paulo neste mesmo ano, Antonio Góes e Luciana Constantino observaram: “a eles só restam o lixo televisivo, se comemore a sensualidade, o colorido, a alegria, a cordialidade, o talento nacional para o carnaval, o futebol e o samba. Os que os 10% comemoram, no final das contas, é o conformismo, a ausência de revolta, a passividade dos que sofrem com a desigualdade social”. Acredito que com estas afirmações, é possível medir o grau de relacionamento que existe entre a desigualdade social e o nível de escolaridade da população como um todo. Qualquer que seja os programas sociais, do governo ou de entidades filantrópicas, estes sem dúvida, ajudam na inclusão social de seus alvos, e mesmo contendo problemas e críticas, como o caso da Bolsa Família, vem somar esforços para diminuir a desigualdade da população que busca um futuro melhor. Para mim, não só tenho convicção que sim, a educação influencia e muito a diminuição dos índices de desigualdade social no Brasil, mas também defendo firmemente que para um país como o Brasil, sair da situação de total desigualdade social é necessário um investimento maciço na educação, com uma melhor valorização profissional dos educadores, buscando principalmente uma melhoria de qualidade em sua base, o ensino fundamental. Referências Bibliográficas FREIRE, Silene de Moraes & MOURA, Tássya. Direitos Humanos, Desigualdade Social e Democracia no Brasil Contemporâneo. In Revista Agora: Políticas Públicas e Serviço Social, Ano 2, Nº3, dezembro de 2005. SALES, Teresa. Raízes da Desigualdade Social na Cultura Política Brasileira. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, Nº25, ano 9, junho de 1994. GÓES, Antonio & CONSTANTINO, Luciana. Um País Desigual. In Jornal folha de São Paulo, 7 de setembro de 2005, p.46. Barros, R. P., Mendonça, R. S. P., Duarte, R. P. N. 1997. “Bem-estar, pobreza e desigualdade de renda: uma avaliação da evolução histórica e das disparidades regionais.” Texto para discussão número 454, IPEA. Barros, R. P., Mendonça, R. S. P. 1997. “Os determinantes da desigualdade no Brasil.” Programa de seminários acadêmicos do IPE/USP. Seminário número 22/97-02/10/97. Rits – Rede de Informações para o Terceiro Setor – www.rits.org.br ABONG – Associação Brasileira de Ong’s – www.abong.org.br Artigo exigido e publicado ao decorrer da Pós-Graduação - UFMT/2008.