CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA AVALIAÇÃO AUDITIVA COMPORTAMENTAL ANA CRISTINA DA SILVA LAVRA MARQUES RIO DE JANEIRO 1999 CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA AVALIAÇÃO AUDITIVA COMPORTAMENTAL Monografia de Conclusão do Curso de Especialização em Audiologia Clínica Orientadora: Mirian Goldenberg ANA CRISTINA DA SILVA LAVRA MARQUES RIO DE JANEIRO 1999 2 RESUMO O objetivo deste trabalho é proporcionar aos profissionais que estão envolvidos na questão do diagnóstico precoce da deficiência auditiva informações de como poder avaliar de uma forma eficaz, rápida, de fácil procedimento e de baixo custo, podendo assim ser utilizada para auxiliar um grande número de pacientes que necessitam do diagnóstico o mais cedo possível. Demonstrar que a avaliação comportamental da audição fornece importantes informações sobre o sistema auditivo possibilitando a identificação dos distúrbios da audição durante o primeiro ano de vida, tanto em relação à acuidade auditiva, quanto ao processamento auditivo central. Auxiliando na prevenção dos distúrbios de fala, linguagem e aprendizagem. 3 Dedico esta monografia a minha mãe. 4 SUMÁRIO I - INTRODUÇÃO ----------------------------------------------- 1 II - DISCUSSÃO TEÓRICA ----------------------------III - CONSIDERAÇÕES FINAIS -----------------------IV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------- 5 8 42 43 I - INTRODUÇÃO: A finalidade profissionais desta pesquisa é poder proporcionar aos que estão preocupados com o diagnóstico precoce da deficiência auditiva subsídios para poder avaliar de uma forma rápida, de fácil procedimento e de baixo custo, podendo assim ser utilizada pelo maior número da população. Para a aquisição e desenvolvimento normal da linguagem, a integridade anátomo - fisiológica do sistema auditivo, tanto em sua porção periférica como central, constitui um pré - requisito. O p r o c e s s o d e m a tu r a ç ã o d o S i s t e m a A u d i t i v o C e n t r a l , o c o r r e durante o primeiro ano de vida. Sendo assim, é considerado como período crítico para o desenvolvimento normal das habilidades auditivas e de linguagem, já que a experienciação auditiva, neste período de maior plasticidade, novas conexões neurais se estabelecem. É importante investigar como o sistema auditivo periférico e central recebe, analisa e organiza as informações acústicas do ambiente. A criança deve ser capaz de prestar atenção, detectar, discriminar e localizar sons, além 6 de memorizar e integrar as experiências auditivas, para atingir o reconhecimento e a compreensão da fala. Para fornecer isso a avaliação importantes comportamental informações sobre o da audição pode sistema auditivo possibilitando a identificação dos distúrbios da audição durante o primeiro ano de vida, tanto em relação à acuidade auditiva (periférica), quanto ao processamento auditivo central(central). O que proponho demonstrar neste trabalho é que uma avaliação de observação comportamental, feita por um bom observador, é um método diagnóstico confiável. Irei me deter nesta pesquisa somente nos testes de observação comportamental, mesmo sabendo da importância dos testes eletrofisiológicos. Nesta pesquisa tentarei responder as seguintes perguntas, utilizando uma literatura sobre avaliações audiológicas. Quais são as vantagens e desvantagens da avaliação comportamental? Quais são os critérios para utilizar uma avaliação comportamental? Quais são estas testagens comportamentais e quais as respostas esperadas? E a principal questão é, podemos fazer um diagnóstico preciso com a Avaliação de Observação Comportamental? 7 Avaliação Auditiva eficaz e habilitação possíveis desde o nascimento, e infelizmente, audiológica são parece não ser do conhecimento de um grande grupo de profissionais tais fatos, o que vem a acarretar um atraso significativo no diagnóstico e sérias conseqüências no desenvolvimento da criança. Uma avaliação audiológica precisa e precoce é muito importante, pois existe vários casos de crianças que foram tardiamente identificadas ou erroneamente encaminhadas porque a avaliação audiológica não fazia parte da bateria de exames. Espero contribuir para que se mude o pensamento sobre este assunto e que sirva para as pessoas que se interessam deficiente auditivo, de maneira profissional ou não. pelo Que possamos diagnosticar e intervir o mais precocemente possível, já que não podemos evitar que a criança seja surda, que se possa minimizar os prejuízos que esta perda auditiva traz . II - DISCUSSÃO TEÓRICA: Existe atualmente uma infinidade de recursos e técnicas para avaliar a audição da criança. Estes recursos variam de técnicas de observação de comportamento à avaliação objetiva da função auditiva através de sistemas neurológica do computadorizados que analisam a atividade Sistema Nervoso 8 Central e do Sistema Nervoso Periférico, quando o estímulo é o som com variadas intensidades e freqüências. Nenhuma das técnicas ou recursos existentes considerado melhor que o outro. e utilizáveis é Na realidade, a chave do sucesso nestes processos de avaliação parece continuar sendo a experiência do examinador.( Northern e Downs, 1985). Segundo Downs e Northern (1985) “... muitos observadores clínicos são feitos, não nascem assim”, e a simples leitura de livros especializados não traz ao examinador observação de centenas de crianças traz. a experiência que a Não existe substituto para a experiência ao se testar crianças; é fundamental que o examinador tenha sempre em mente que só com a observação repetida das diferentes técnicas, nas diferentes crianças é que esta experiência é adquirida. Segundo Russo e Santos (1989) à medida em que se domina as técnicas e que se tem a experiência com crianças, fica fácil aceitar a premissa de que “não existe crianças que respondem mal”. Na realidade, o que existe são examinadores mal preparados. É necessário apresentar o estímulo correto, na situação apropriadamente estruturada para se obter a resposta certa. O conceito original de um índice de comportamento auditivo foi desenvolvido por Murphy ( 1962), na Inglaterra, que, a partir da observação e do registro das respostas comportamentais a estímulos sonoros de crianças ouvintes, 9 descreveu as etapas de desenvolvimento auditivo que ocorrem no primeiro ano de vida e refletem o processo de maturação do Sistema Nervoso Central. Já na 20a semana de gestação, segundo Johansson e Cal. (1964), há mudanças no batimento cardíaco do feto com estimulação E segundo Benacerraf (1983), na 24a - 25a semanas de acústica. idade gestacional há presença do reflexo cócleo palpebral intra útero identificado pela ultra-sonografia. Em 1981, Querlen e Crepin fizeram a medição do ruído intraútero de 60 - 80 dB, e descobriram que o feto detecta sons graves (ritmo, duração, entonação, freqüência), sendo capaz de ouvir a voz materna, a partir, da 20a semana de gestação quando a cóclea humana tem função adulta,(Elliot & Elliot - 1964). Segundo Azevedo e Col.(1995), apesar de existir nos programas de acompanhamento de neonatos de risco de alguns Hospitais, uma preocupação em identificar a deficiência auditiva periférica, não encontrou trabalhos que se proponham a estudar o processamento auditivo, procurando identificar, também, as alterações centrais durante o primeiro ano de vida, para que se possa intervir de maneira preventiva também em relação a eventuais alterações de linguagem e de aprendizado. Segundo Katz (1989), a avaliação auditivo, particularmente os primeiros do anos principalmente à audiometria de observação envolvendo respostas reflexas a 10 sinais de comportamento vida, limita-se do comportamento, auditivos relativamente intensos. As palpebral, respostas “startle” ( mais úteis sobressalto) e são os reflexos: despertar ( cócleo observável - por movimento corporal generalizado). A avaliação auditiva de bebês e crianças deve ser estabelecida de acordo com as respostas que a criança é capaz de realizar. Por essa razão, uma revisão sobre o desenvolvimento normal das respostas auditivas na criança pode ser observada na tabela abaixo. Estas respostas esperadas são apenas aproximações, uma vez que há uma variabilidade no desenvolvimento de crianças normais e vários desenvolvimento. distúrbios podem alterar a seqüência de O desenvolvimento normal de respostas aos sons clinicamente úteis foi descrito por Ewing e Ewing(1944), Kendal (1966), Eisenberg (1970) e Bess e McConnell (1981). Desenvolvimento das respostas aos sons em neonatos e crianças pequenas -----------------------------------------------------------------------------------idade respostas ao som -----------------------------------------------------------------------------------anos meses 0 0 Respostas reflexas: cócle o- palpebral, startle (sobressalto). 11 Movimentos generalizados do corpo. 0 1 Respostas reflexas podem ser inibidas. 0 2 Cessação do movimento. 0 3 Inicia os esforços de localização movimentos de olhos ou de cabeça em direção à fonte sonora. 0 6 Resposta de localização razoavelmente bem desenvolvida. 1 0 Resposta à ordens simples nome, “tchau”, “não -não”, “cadê a 1 6 Reconhecer partes do corpo ou as roupas quando nariz, mamãe”) nomeadas( cabelo, boca, orelha, mão, sapato) 1 9 Pode selecionar objetos familiares quando são nomeados (cavalo-de-pau, cachorro, vaca, avião) 2 0 Aponta para figuras conhecidas quando são nomeadas. Audiometria lúdica condicionada pode ser possível 3 0 Audiometria lúdica condicionada deve produzir limiares confiáveis. -----------------------------------------------------------------------------------12 O empenho na dete cção precoce de perda auditiva em bebês levou à experimentação com “screening” auditivo de massa em recém nascidos. O “screening” foi freqüentemente realizado em berçários de hospitais, e as crianças que fracassaram em dar a resposta receberam um acompanhamento audiológico. A preocupação com a eficiência dos programas de “screening” audiológico neonatal levou à formação, em 1969, da Academia Americana de Pediatras e Associação Americana de Fala e Audição. Esse Comitê solicitou que se aumentasse os esforços de pesquisa mas não recomendou screening de rotina em recém nascidos devido à alta incidência de resultados falso - positivos e falso - negativos. O Comitê recomendou o uso de um registro de alto risco a fim de alertar o pessoal ligado a neonatos que apresentam alta possibilidade de ter deficiência auditiva. As crianças que apresentam qualquer um dos atributos descritos no registro devem ser acompanhadas até que se faça declaração definitiva do seu estado auditivo. Downs e Northern (1978) ampliaram o sistema ABCD para aplicação de seu registro de alto risco, incluindo: A - “Aphysia” (Asfixia); B - “Bacterial Meningitis” ( Meningite Bacteriana); C - “Congenital Perinatal Congênita); 13 Infection” ( Infecção Perinatal D - “ D e f e c t s o f t h e h e a d an d n e c k ” ( D e f e i t o s d e c a b e ç a e pescoço); E - “ Elevated Bilirubin” ( Bilirrubina elevada); F - “Family History” ( História Familiar); G - “Gram Birthweight” ( Peso no nascimento); H - “TORCH” (Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovirus, Herpes). Em 1982, o Comitê expandiu os seus critérios de risco para identificar crianças que estão sob o risco de terem deficiência auditiva. Os Critérios de Risco são: 1. História familiar de deficiência auditiva durante a infância. 2. Infecção congênita perinatal (por exemplo, citomegalovirus, rubéola, herpes, toxoplasmose, sífilis) 3. Malfomações anatômicas envolvendo a cabeça ou o pescoço ( por exemplo, aparências disfórmicas incluindo anormalidades sindrômicas ou não-sindrômicas, fissura palatina completa ou fissura submucosa, anormalidades morfológicas do pavilhão auricular). 4. Peso ao nascer abaixo de 1500 gramas. 5. Hiperbilirrubinemia em níveis que excedem os aceitos para indicação de transfusão exasangüínea. 6. Meningite Bacteriana, especialmente por Haemophilus influenzae. 14 7. Asfixia severa que pode incluir crianças com Apgar de 0 à 3 que não conseguem respirar espontaneamente em 10 minutos e crianças com hipotonia persistente até 2 horas de vida ( ASHA - Associação Americana de Fala - Linguagem - Audição, 1982, p1017) No mesmo relatório, o Comitê recomendou acompanhamento audiológico para crianças de alto risco de perda auditiva, de preferencia até 3 meses mas não ultrapassando os 6 meses de idade. Se: (1) a criança é reprovada na triagem, (2) os resultados são incompatíveis, ou (3) há uma história familiar de perda auditiva de estabelecimento tardio, doença degenerativa ou infecções intra - uterinas, o Comitê recomenda a realização de exames médicos e audiológicos de diagnóstico. O Comitê Americano sobre perdas auditivas ( Joint Commitee on Infant Hearing, 1994) elaborou uma lista dos principais indicadores associados com Perda Auditiva Sensorioneural ou Condutiva na Infância, ( Lemes e Simonek, 1996). Neonatos ( Nascimento - 28 dias) 1. História familiar de perda Auditiva. 2. Presença ou suspeita de Infecção Intra - útero ( Rubéola, Sífilis, Citomegalovirus, Herpes e Toxoplasmose). 15 3. Anormalidades Craniofaciais ( má formações de pavilhão auricular, conduto auditivo externo, ausência de filtrum, implantação baixa da raiz do cabelo). 4. Peso ao nascer inferior a 1500 gramas. 5. Hiperbilirrubinemia ( aproximadamente 20 nível de Bilirrubina indireta no sangue de mg/100ml, com indicação de exosanguíneo Aminoglicosídeos: gentamicina, transfusão). 6. Medicamentos trobamicina, Ototóxicos kanamicina, ( estreptomicina, associados ou não a diuréticos de alça, tipo furosenida/lasix). 7. 8. Meningite Bacteriana. Asfixia Severa (Apgar 0-4 no primeiro minuto ou 0-6 no quinto minuto). 9. Ventilação Mecânica por período igual ou superior a 5 dias. 10. Estigmas ou sinais de síndromes que podem estar associados a perda auditiva sensoriais e/ou condutivas. Bebês ( 29 dias - 2 anos) 1. Preocupação/Suspeita dos pais ou creche com relação ao atraso no desenvolvimento da Audição, Fala ou Linguagem. 2. Meningite Bacteriana e outras infecções associadas com perda auditiva neurosensorial. 3. Tombo/pancada/trauma na cabeça acompanhado de perda da consciência ou Fratura de crânio. 16 4. Estigmas ou sinais de síndromes que podem estar associados a perdas auditivas sensoriais e/ou condutivas. 5. Medicamentos ototóxicos (incluindo os agentes quimioterapêuticos e aminoglicosídeos, associados ou não à diuréticos de alça) 6. Otite média de repetição/persistente, com efusão por pelo menos três (3) meses. Crianças Pequenas ( acompanhar até 3 anos) Segundo o Comitê, alguns bebês ou crianças pequenas podem passar na Triagem Auditiva, mas necessitam monitoramento periódico da Audição para detectar sensorioneural ou condutiva. o aparecimento tardio da perda Crianças com os indicadores citados abaixo, requerem avaliação pelo menos a cada seis (6) meses até a idade de três (3) anos, e posteriormente em intervalos adequados. Indicadores associados ao aparecimento tardio de perdas Neurosensoriais: 1. História familiar de perda auditiva na infância. 2. Infecções Intra - Útero ( Rubéola, Sífilis, Herpes, Citomegalovirus e Toxoplasmose) 3. Neurofibromatose Tipo II e Desordens neurodegenerativas. Indicadores associados ao Condutivas: 17 aparecimento tardio de perdas 1. Otite média de repetição (recorrente) ou persistente com efusão. 2. Deformidades anatômicas e outras desordens que afetam a função da Tuba Auditiva. 3. Desordens neurodegenerativas. Segundo Simonek (1996) as perdas congênitas devem ser diagnosticadas ao nascimento, bem como aquelas adquiridas em um período imediatamente subseqüente ou durante o parto, por conta dos fatores de risco listados acima. O Comitê Americano (1994) recomenda que não só os de risco mas todos os bebês sejam avaliados antes da alta hospitalar, ou para os bebês nascidos fora da Maternidade, que realizem uma avaliação até no máximo três (03) meses de idade, é o chamado “Screening Universal”. Para Simonek a avaliação Auditiva Comportamental, através da Observação direta do comportamento auditivo a estímulos adequados, permite a verificação de diversos parâmetros de um mesmo sistema, ou seja sobre a capacidade auditiva útil da criança, base para o desenvolvimento das Habilidades Auditivas, que interferem no desenvolvimento lingüístico infantil. É relatam comum observarmos que “criança a não laudos em Avaliações colaborou”, Avaliação através de método objetivo. E sendo infantis então que indicado a maior parte dessas crianças, são passíveis de Avaliação Comportamental, sendo portanto coerente o questionamento sobre a própria habilidade do examinador 18 em obter pistas auditivas que o levem a estabelecer a presença ou não de um comprometimento auditivo. O examinador deve adaptar os métodos e técnicas às crianças. Não espere que o inverso seja verdadeiro, a flexibilidade e adequação são princípios básicos na Audiologia Pediátrica. Na presença de outros distúrbios, o comportamento da criança pode estar tão alterado que técnicas padronizadas de audiometria não poderão ser usadas. O audiologista deverá ser capaz de reconhecer a disfunção presente e adaptar os testes a ela. Segundo Myklebust (1994), os distúrbios clássicos que devem ser diferenciados são a deficiência autismo. mental, a disfunção cerebral e o Poderíamos ainda incluir os distúrbios do processamento Auditivo Central, a privação de estimulação, e o próprio atraso de linguagem. Segundo Downs (1989), o examinador tem a obrigação de saber identificar o distúrbio existente, para poder estabelecer o Diagnóstico Diferencial e orientar corretamente a família. Para Lewis (1996) para que se possa aplicar um procedimento de triagem auditiva em criança, é de fundamental importância que se conheça quais são as habilidades auditivas nas diferentes faixas etárias, ou seja, principalmente, o se próprio o desenvolvimento método utilizado comportamento auditivo. 19 for da a função auditiva, observação do Os procedimentos de triagem auditiva neonatal comportamental, apesar de não serem os mais recomendados, são muito utilizados no Brasil graças ao seu baixo custo. A triagem auditiva comportamental baseia-se na observação da mudança do comportamento da criança após a estimulação auditiva. Em outras palavras, apresenta-se um estímulo sonoro e observa-se a resposta apresentada. Para a realização da triagem, algumas variáveis precisam ser controladas: o estímulo sonoro (tipo, tempo de duração e tempo de intervalo entre os estímulos a serem apresentados), o estado do bebê no momento da avaliação e variáveis externas ( temperatura do ambiente, luz, ruído ambiental). Os procedimentos podem ser com sons não calibrados (instrumentos, por exemplo) e com sons calibrados ( tons puros, ruídos de banda equipamento. algum estreita, por exemplo) produzidos por algum O registro pode ser automático, isto é, captado por aparelho e anotado, ou pela concordância de dois observadores, que registram a resposta em um protocolo. Para Azevedo (1995), o pressuposto fundamental está em que a aplicação de um estímulo sonoro é capaz de eliciar respostas comportamentais, as quais, consideradas em sua maior ou menor complexidade, podem permitir inferência sobre a participação de funções mais simples ou complexas envolvidas neste processo. 20 A avaliação comportamental da audição no primeiro ano de vida pode fornecer importantes Auditivo, possibilitando informações sobre o Sistema juntamente com a avaliação eletrofisio- lógica, o diagnóstico precoce dos distúrbios da audição, tanto de acuidade auditiva quanto de processamento auditivo central. No Brasil, nos últimos anos, programas de identificação precoce dos distúrbios de audição vêm sendo desenvolvidos junto à população de alto e baixo risco, utilizando-se de procedimentos de triagem comportamental e eletrofisiológica. A avaliação audiológica comportamental e o acompanhamento audiológico do desenvolvimento auditivo no primeiro ano de vida permitem a identificação, tanto das alterações da acuidade auditiva, detectando-se as perdas condutivas e sensorioneurais, quanto das alterações do processamento auditivo central. Indicadores de risco para deficiência auditiva periférica e central (Adaptação do critério proposto pelo Joint Committee on Infant Hearing, 1994 * Itens acrescentados pela autora Azevedo,1995) 1. Antecedentes familiares de disacusia sensorioneural hereditária. Consangüinidade materna.* 2. Infecções congênitas (rubéola, sífilis, citomegalovirus, herpes e toxoplasmose). 21 3. Malformações craniofaciais incluindo as de pavilhão auricular e meato acústico externo. 4. Peso de nascimento inferior a 1.500 g. Criança pequena para idade gestacional.* 5. Hiperbilirrubinemia - exsangüineotransfusão. 6. Medicação ototóxica (aminoglicosídeos, associação com diuréticos, agentes quimioterápicos). 7. Meningite bacteriana. 8. Apgar de 0 a 4 / 1 o minuto ou 0 a 6 / 5 o minuto. 9. Ventilação mecânica ( > 5 dias) 10. Síndromes 11. Alcoolismo materno ou uso de drogas psicotrópicas na gestação.* 12. Hemorragia ventricular.* 13. Permanência na incubadora (> 7 dias).* 14. Convulsões neonatais.* 15. Otite média recorrente ou persistente para mais de 3 meses. 16. Suspeita dos familiares de atraso de desenvolvimento de fala, linguagem e audição. 17. Traumatismo crâniano com perda de consciência ou fratura craniana. A observação das respostas comportamentais a estímulos acústicos parte do princípio de que um estímulo sonoro produz uma mudança detectável de comportamento na criança (Northern & Downs, 1991) 22 Para que esta observação seja fidedigna, alguns cuidados devem ser tomados, como, realizar a observação preferencialmente em sala acusticamente tratada. No caso da Observação estar sendo feita em berçários ou consultórios, o nível de ruído ambiental da sala deve ser medido e registrado; registrar os espectros dos estímulos acústicos utilizados, à distância específica de testagem, mantendo-se a mesma força de percussão; verificar o estado da criança préestimulação. Recomenda-se os estados de consciência descritos por BRAZELTON (1984): estado 1 - sono profundo, estado 2 - sono leve, estado 3 - sonolência, estado 4 - alerta, estado 5 - olhos abertos, estado 6 - choro. Não se recomenda observação das respostas comportamentais frente a estímulos sonoros nos estados 1, 5 e 6 descritos por Brazelton. Segundo Pereira, a Avaliação do S.N.C. é um procedimento relativamente recente que se tornou possível graças aos avanços tecnológicos alcançados pelo ser humano. O desenvolvimento de testes padronizados para observação comportamental das habilidades auditivas envolvidas no processo de 23 detecção e interpretação de eventos sonoros vem se desenvolvendo lentamente nos últimos anos(Musiek & Lamb,1994) A A v a l i a ç ã o A u d i t i v a C o m p o r t a m e n t a l , a t r a v é s d a o b s e r va ç ã o direta do comportamento auditivo a estímulos adequados, permite a verificação de diversos parâmetros de um mesmo sistema, ou seja sobre a capacidade desenvolvimento das auditiva útil Habilidades da criança, Auditivas, que base para interferem o no desenvolvimento Lingüístico infantil. Os métodos e técnicas existentes não são em hipótese alguma excludentes entre si e sim, complementares. Os fundamentos ou princípios da avaliação da função auditiva na criança são: - analisar a audição de uma criança pequena envolve um trabalho especializado que exige tanto o conhecimento do seu desenvolvimento normal como também o das técnicas existentes e mais adequadas para cada faixa etária. O propósito desta avaliação está voltado para três aspectos principais: a) detectar deficiências auditivas leves, moderadas, severas ou profundas; b) estabelecer o diagnóstico diferencial entre os diversos quadros patológicos que tem como sintoma o retardo no desenvolvimento da linguagem; 24 c) avaliar quantitativamente e qualitativamente a deficiência auditiva, o mais precoce possível, a fim de auxiliar o diagnóstico médico e o processo de habilitação e/ou reabilitação auditivas. Em geral, as etapas de respostas a sons seguem um padrão de maturação. Fisiologicamente, a cóclea humana possui função adulta normal após a vigésima semana de gestação, sendo que o feto reage a estímulos sonoros intensos. Ao nascer, o ser humano apresenta apenas audição do tipo reflexa, em seguida, inicia-se o processo de aprendizagem e nova resposta ao som passa a ser desenvolvida, sendo que estas experiências vão sendo adquiridas, ocorre a inibição das respostas reflexas. passa a Desta maneira, a audição puramente reflexa no nascimento adquirir denominada por forma Fry mais (1971), sofisticada de e “audição complexa, de que é compreensão”, necessária à compreensão e produção da fala. Downs e Sterrit (1967) catalogaram uma variedade de respostas comportamentais do recém nascido a sons, enfatizando a maneira de observá-las: - Piscar de olhos ou atividades de pálpebra -Pode ocorrer desde um pequeno e rápido estreitamento da pálpebra até um grande fechamento incluindo a contração das sobrancelhas. Este é o chamado reflexo cócleo-palpebral, o qual consiste num piscar ou fechamento dos olhos. A via aferente é o nervo acústico, o centro de associação, a formação reticular, e a via eferente, o nervo facial. Se 25 a criança estiver dormindo em sono profundo, seu centro de vigília estará bloqueado e, por esta razão, os impulsos aferentes precisam ser de grande intensidade e duração para que tal resposta seja obtida. A via reflexa que liga o olho e seus músculos à oliva superior permanece como interligação entre o olho e o ouvido, podendo esta associação ser vista no bebê que, em breve, será capaz de elevar a cabeça e voltá-la para a fonte sonora, movendo seus olhos na procura do som. - Reflexo de Moro - Na maioria dos casos os braços se separam, os dedos se abrem, as pernas são esticadas e a cabeça volta-se para trás (Dennis, 1934). É uma violenta reação de sobressalto, consistindo num movimento abrupto de todo o corpo, sendo braços esticados e afastados da linha média do corpo. Algumas vezes pode ser observado um tremor ou estremecimento dos membros durante o movimento. Este reflexo tende a ser inibido antes do reflexo cócleo-palpebral. -”Startle” - Descrito como um pequeno “pulo” do corpo do recém-nascido, logo após ter sido estimulado acusticamente. É também denominado de reação de susto, alerta ou alarma, que pode ou não acompanhar o reflexo de Moro. -Cessação de Atividade - Momento em que o bebê está acordado, chorando e se movimentando e pára de fazê-lo durante a apresentação do som. 26 - Caretas - O rosto do bebê enruga-se como se quisesse protestar contra o som. Pode ocorrer a contração das sobrancelhas, além de abertura e fechamento dos olhos. - Sucção - Leve retração do lábio inferior. O bebê pode parar de sugar ou aumentar o ritmo de sucção. -Início de movimentos generalizados - Quer o bebê esteja dormindo calmamente, quer esteja acordado, mas quieto, os olhos se abrem e isto é acompanhado por leves movimentos corporais, seguidos de tremor leve do corpo. -Arregalar os olhos - Quando o bebê ao despertar, abre os olhos demasiadamente. O mesmo pode ocorrer se estiver acordado. -Mudança na respiração - O ritmo respiratório pode ser interrompido ou acelerado. -Riso e/ou choro - O bebê tanto pode cessar quanto iniciar estes comportamentos. Uma das respostas mais seguras e concretas que um recémnascido pode apresentar a um estímulo sonoro é o “despertar do sono”. Bench (1970) enfatizou a importância de considerar o estado pré-estimulatório de despertar do sono do bebê, através da “Lei do valor inicial”: “Quanto mais baixo for este estado, maior será o aumento no nível de atividade durante a estimulação, quanto mais elevado, maior será a diminuição no nível de atividade do bebê durante a estimulação”. 27 Os primeiros aprendizagem. anos Neste de vida período de ele um bebê adquire são todos repletos os de tipos de habilidades motoras e uma enorme quantidade de informações que provêm dos sentidos especiais, tais como: visão, tato, olfato, gustação e audição. Entretanto a audição como sentido especial vem mais tarde, uma vez que a criança armazena todo tipo de informação, indistintamente, sendo que os sons passam a ter real significado para ela quando se estabelece o processo de aprendizagem para ouvir. O desenvolvimento deste processo pode ser influenciado pelo ambiente. De acordo com Menyuk (1975), o “enriquecimento da comunicação como instrumento de integração social é amplamente influenciado pelo reforço e pelo inter-relacionamento precoce da criança com o ambiente”. Desta maneira, depreende-se que tanto fatores ambientais quanto emocionais ocupam papéis destacados no processo de maturação da resposta auditiva. Contudo, o fator decisivo e relevante neste processo cabe à maturação do Sistema Nervoso Central, isto é, depende da mielinização das fibras nervosas, que garantirá a condução dos impulsos nervosos aos centros corticais correspondentes. Isto explica o porque das respostas do bebê recém-nascido até os dois ou três meses de vida serem reflexas. 28 O Processo de inibição reflexa terá início tão logo se inicie a maturação do S.N.C.. Nesse momento, o córtex inicia o comando das respostas do bebê. Os sons que têm maior significado para a criança, como, por exemplo, a voz da mãe, os sons referentes à alimentação, enfim, os mais freqüentemente ouvidos por ela são os de aprendizagem mais fácil. Com duas semanas de vida, a criança adquire uma atitude auditiva ao som da voz humana e, com quatro semanas, ela é acalmada pelo som, modificando sua atividade ao ouvi-lo. Por volta dos quatro meses de idade, os sons fazem com que a criança volte a cabeça, deliberadamente, na sua direção, mesmo que tais sons sejam fracos, uma vez que agora ela já aprendeu a aceitar os sons fortes como parte integrante de seu ambiente. A localização é um marco importante que auxilia a criança a manter um contato estável com seu ambiente e associar os sons com as fontes sonoras. Estes dados sugerem que, entre o nascimento e os quatro meses de idade, a criança demonstra:” - conscientização do som; - discriminação entre presença e ausência do som; - capacidade de efetuar respostas corretas na procura do som. To d a v i a , é i m p o r t a n t e r e s s a l t a r o f a t o d e q u e m e s m o q u e a criança seja capaz de selecionar vários sons de fala nos primeiros meses de vida, sua produção sonora não se desenvolve na mesma velocidade. 29 O material da linguagem consiste num longo período de recepção dos símbolos auditivos desta, o qual é pré-requisito para a sua posterior emissão. MATURAÇÃO DAS RESPOSTAS AUDITIVAS EM BEBÊS DE 0 À 24 MESES ------------------------------------------------------------------------------------------------Recém-nascido Despertar do sono, respostas reflexas (Reflexo cócleo-palpebral, Moro, Startle) -------------------------------------------------------------------------------------------------3 a 4 meses Esforços rudimentares para virar a cabeça. Começa a inibição das respostas reflexas. ------------------------------------------------------------------------------------------------4 a 7 meses Localiza a fonte sonora somente para o lado. Esta fase coincide com a habilidade de se sustentar e virar a cabeça. -------------------------------------------------------------------------------------------------7 a 9 meses Localiza a fonte sonora para o lado e indiretamente para baixo. -------------------------------------------------------------------------------------------------9 13 meses a Localiza a fonte sonora diretamente para o lado e para baixo. -------------------------------------------------------------------------------------------------13 16 meses a Localiza a fonte sonora para o lado, para baixo e indiretamente para cima. -------------------------------------------------------------------------------------------------16 21 meses Localiza diretamente os sons para o lado, para baixo e para cima. ------------------------------------------------------------------------------------------------30 a 21 a 24 meses Localiza diretamente os sons em qualquer ângulo. ------------------------------------------------------------------------------------------------(Downs e Northern, 1974) Quem testa aprenderá por experiência que para o nível de idade de 0 à 4 meses o produtor de ruído deve ser agitado muito cuidadosamente; aos 6-9meses, pode ser agitado mais suavemente; e aos 10-12 meses deveria ser feito o mais suave possível. A resposta esperada é algum tipo de virada da cabeça em direção ao som. Uma descrição exata da virada e movimento de acompanhamento do olho deveria ser notada. A maturação total do comportamento auditivo da criança ocorre em torno dos 13 meses e não muda signifivativamente após este período. Os níveis auditivos periféricos estão presentes em todos os distúrbios auditivos, onde existem envolvimentos perceptuais, é muito mais fácil identificar a audição normal no primeiro ano de vida do que mais tarde. Mais que as crianças de audição normal, as crianças centralmente perturbadas mostram excelentes respostas reflexas aos sons em níveis normais esperados. O tipo de resposta conscientes que eles darão a uma idade mais adiantada pode não ser consistente, porém suas respostas surpresa serão normais quando eles são bebês. 31 Quando o indivíduo apresenta inabilidade para detectar os sons, ele apresenta uma alteração do Sistema Auditivo Periférico. No Teste de Acordar dois estados de sono podem ser operacionalmente definidos: um estado leve que é o demonstrado por um movimento do olho ou corpo ao se tocar a pálpebra; e um estado profundo quando a pálpebra treme. Mencher constatou que o estado de sono leve produz mais respostas do que o estado profundo. A única resposta que deve ser aceita como válida é o despertar do estado de sono. Por despertar, considera-se mesmo um movimento curto, transitório que indique uma mudança marcada de um estado de sono quieto, imóvel. Na situação clínica, onde podem ser feitas apresentações repetidas de estímulos diferentes, podemos aceitar as seguintes respostas como válidas: 1. Um piscar de olho definido imediatamente após a apresentação de um som. 2. Um leve estremecer de todo o corpo. 3. Um abrir de olhos, mesmo que breve. 4. Um leve virar a cabeça em direção ao som. 5. Um movimento marcado de braços, pernas ou do corpo. 6. Qualquer combinação desses. A resposta deve ser vista 3 segundos apresentação do estímulo, a fim de ser considerada válida. 32 após a É sempre prudente apresentar um estímulo alto ao fim do período de teste, a fim de evocar a grande resposta de susto que confirmará as observações de movimentos que foram feitos. Mantendo-se completamente quietos por pelo menos um ou dois minutos, os observadores observam o bebê cuidadosamente para detectar alguma atividade. Se não houver nada, um tremer da pálpebra pode determinar um estado de sono. Um sono muito profundo vai mudar o julgamento feito das respostas subseqüentes, já que o bebê está menos apto para fornecer boas respostas quando em estado de sono profundo. Se prevalece um estado leve, pode ser colocada uma grande confiança nas respostas ou na ausência de respostas que são vistas. Atualmente, já existe à disposição no mercado audiômetros pediátricos, os quais geram tons puros modulados (warble tones) e, que por serem pequenos, portáteis, fáceis de operar e terem preço reduzido, em comparação com os audiômetros clínicos, facilitam sobremaneira a aplicação da observação comportamental de bebês em berçário. Acoustics. D e n t r e e l e s p o d e m o s c i t a r o m o d e l o P A 2 da Inter Fabricado na Dinamarca, possibilita a testagem de audição de bebês recém-nascidos e de crianças pequenas, em campo livre. Seu estímulos: funcionamento um sonoro e consiste um visual. na O apresentação sonoro consta de de dois tons modulados nas freqüências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, cujas 33 intensidades variam de 20,40,60 e 80 dB Na, quando a distância do pavilhão auricular do equipamento for de 50 cm, podendo ser acrescidas em 10 dB, caso esta distância seja reduzida para 10 cm. O estímulo visual é composto por três pequenas lâmpadas vermelhas que acendem e apagam a curtos intervalos de tempo. Ambos os estímulos poderão ser apresentados simultaneamente ou alternadamente, mediante o controle de dois interruptores que se encontram na parte frontal do equipamento. Russo e Santos(1989), destacam a importância de que o recém-nascido deverá estar alimentado, limpo, vestindo pouca roupa ou aquela que lhe permita ampla movimentação, a fim de que os observadores possam avaliar adequadamente suas respostas, excluindo movimentações ao acaso. A testagem deve ser realizada no próprio assegurar as condições de temperatura e higiene. espaçoso para possibilitar a movimentação do berçário para O berço deve ser bebê, estando, preferencialmente, localizado na área menos ruidosa do berçário (menos de 60 dB NPS). Conhecer o espectro acústico do estímulo sonoro usado, é fundamental e de grande ajuda, pois permite ao examinador avaliar de forma rápida o campo de audição da criança em função da freqüência (média/baixa/alta) e da intensidade (forte/médio/fraco). 34 Para os tipos de respostas que queremos observar, os brinquedos que fazem ruídos são mais úteis, principalmente por seu início rápido e repentino. Eles são também mais complexos do que os tons puros incluindo os componentes de alta freqüência que tem valor para despertar. A pré-mensuração dos ruídos com um medidor do nível sonoro é uma condição necessária. Há um conjunto c o m e r c i a l m e n t e a c e s s í v e l d e p r o d u t o r e s d e ruído pré-selecionados, com respostas de freqüência de cada brinquedo e o nível de saída medido, o “Hear Kit”. Há também um produto brasileiro com produtores de ruído préselecionados e pré-medidos para o uso em triagem auditiva em bebês e crianças pequenas, o “Kit Sonoro”(Nunes,R; Pelegrim,R; Pinto,J; Simonek,MC; Siqueira,T), desenvolvido no Instituto Nacional de Educação de Surdos durante o Projeto Detecão Precoce da Surdez, 1990; Rio de Janeiro, por uma equipe de fonoaudiólogos, pediatra e físico acústico. O Kit Sonoro é composto por elementos de freqüência de 250 à 4000 Hz. Os emissores sonoros são apresentados em fraca (<54dB), média (55-70 dB) e forte intensidade (>= 71dB). . disco (39,5dB) . bola (39,1dB) . meia lua (54dB) 35 . sininho (62,1dB) . Pluto (82,8dB) . chocalho (85dB) . sineta (92,9dB) Segundo Simonek (1996), os diferentes “Kits”, quando usados por profissionais sem treinamento para Observação das respostas auditivas ou leigos, só têm valor de Despistagem, entretanto se utilizados por audiologistas podem ter valor diagnóstico, quando adicionados à Audiometria de Observação do Comportamento ou outros exames complementares. Ao avaliarmos os neonatos (RN - 28 dias),devemos colocá-los em posição facilitadora, observando o estado de consciência (estado de inatividade alerta), definido como estado de vigília; e a apresentação dos estímulos deverá ser aleatória, à esquerda e a direita da cabeça do bebê, a uma distância de 7cm num ângulo de 90 graus, fora do campo de visão periférica do neonato que varia de 10 a 25 graus. Os estímulos devem ser apresentados em ordem crescente de intensidade, uma vez que estímulos intensos tendem a provovar respostas de grande amplitude, que podem desorganizar o estado do bebê. Os instrumentos com intensidades sonoras fracas ou médias devem ser apresentados de forma contínua e com longa duração(6 à 20 segundos). Os de forte intensidade devem ser apresentados de 36 forma súbita com curta duração. Nos casos de ausência de resposta a primeira apresentação, os estímulos devem ser repetidos por mais duas vezes. Na avaliação com bebês (4 a 12 meses), a postura deve ser sentado no colo da mãe, afastado de seu peito, o estado de consciência é o de vigília e os estímulos devem ser apresentados em ordem crescente de intensidade, de forma aleatória, a uma distância mínima de 7,5 cm (Simonek,1996) e máxima de 15 cm (Downs,1984) do pavilhão auricular. O desenvolvimento das respostas deve ser observado, realizando a emissão aos 4 meses ao nível horizontal e posteriormente na vertical acima ou abaixo da orelha. Os estímulos de fraca e média intensidade devem ser apresentados de forma contínua, tal como no período Neonatal, entretanto com predominantes o desenvolvimento neste adotando 2 segundos. período, das respostas poderemos de diminuir localização sua duração, Quando a resposta é imediata seu limite é no máximo 10 segundos. Os emissores de forte intensidade continuam a ser apresentados de forma súbita e curta duração. As respostas, tanto para os neonatos, quanto com os bebês devem ser registradas independente do lado ou número de apresentações; deve ser anotado somente uma resposta para cada objeto apresentado. 37 Podemos obter apenas uma estimativa da resposta da melhor orelha, não sendo possível individualizar os limiares mínimos de audibilidade para cada orelha. Apesar desta limitação, a técnica permite, de forma eficiente, diferenciar entre o normal e o patológico, ou seja, a deficiência auditiva. Quando o indivíduo apresenta uma inabilidade para analizar e interpretar sons, ele apresenta uma alteração no Sistema Auditivo Central. Processamento auditivo se refere aos processos envolvidos na detecção e na interpretação de eventos sonoros. Segundo Philips (1995), envolve a detecção de eventos acústicos; a capacidade de discriminá - los quanto ao local, espectro, amplitude, tempo; a habilidade para agrupar componentes do sinal acústico em figura - fundo; a habilidade para identificá - los. especializada Jessel, De acordo com a literatura ( Musiek, Baran e Pinheiro, 1993; Kandel, Shwartz e 1995), estes processos acontecem no sistema auditivo periférico (orelha externa, orelha média, orelha interna e VIII par craniano) e no sistema auditivo central ( tronco cerebral, vias subcorticais; córtex auditivo/ lobo temporal, corpo caloso), podendo envolver áreas não auditivas centrais (lobo frontal, conexão temporal parietal - processos occipital). de Portanto, localização sonora, as habilidades envolvidas reconhecimento, nos compreensão, memória e atenção seletiva de eventos sonoros que dependem de uma capacidade biológica inata e da experienciação acústica no 38 meio ambiente é que são referidas como processamento auditivo central. Este processamento auditivo é desenvolvido nos primeiros anos de vida, portanto, é a partir da experienciação do mundo sonoro que aprendemos a ouvir. Boothroyd (1986) identificou algumas etapas ou subprocessos do processamento detecção do som, auditivo denominados sensação sonora, de atenção discriminação, seletiva, localização sonora, reconhecimento, compreensão e memória. O distúrbio de audição pode envolver dois aspectos. O primeiro é a perda auditiva, um impedimento da capacidade de detectar energia sonora. O segundo é a desordem ou disfunção do processamento auditivo central, que se refere a um distúrbio da audição em que há um impedimento da habilidade de analisar e/ou interpretar padrões sonoros. Esta inabilidade pode ser o resultado de um prejuízo da capacidade biológica inata do organismo de um indivíduo e/ou falta de experienciação em um meio ambiente acústico. Tem como perdas prováveis auditivas causas alterações neurossensoriais e sensoriais condutivas, auditivas (as mesmo as transitórias, decorrentes de episódios de otite média na infância). Conhecer as manifestações das desordens do processamento auditivo central pode servir de guia para a seleção e interpretação dos testes especiais que avaliam a função auditiva central, além de conhecimentos na área de distúrbio de aprendizagem e de linguagem. 39 O desenvolvimento de testes padronizados para a observação comportamental das habilidades auditivas envolvidas no processo de detecção e interpretação de eventos sonoros vêm se desenvolvendo lentamente nos últimos anos. (Musiek & Lamb, 1994). Uma das dificuldades se refere à escolha do evento acústico que servirá como estímulo sonoro. Ao se escolher sons não-verbais tem-se uma vantagem pois este tipo de evento acústico poderá ser usado em qualquer parte do mundo e sempre será possível reproduzilos com o mesmo espectro acústico. No entanto, quando se escolhe sons verbais, deve-se lembrar que cada comunidade apresenta um tipo de língua com características específicas e que geralmente só são compreendidas por populações oriundas da mesma localidade. Acrescenta-se, a este fato, outros que se referem às condições da inteligibilidade de fala. avaliando-se a Utilizando-se estímulos sonoros verbais e habilidade de um indivíduo em responder diferentemente à presença ou ausência de sons da fala (detecção), diferenciar estes sons (discriminar) e identificar estes sons (reconhecimento) podemos inferir, conforme já relataram Davis (1970) e Hodgson (1980), como está a habilidade deste indivíduo em compreensão da linguagem. Testes de reconhecimento de fala na presença de escuta difícil possibilidades auditiva perceptuais central. auditivas Considera-se e identificar disfunção uma auditiva disfunção central ou desordem do processamento auditivo central um distúrbio da audição 40 em que há um impedimento da habilidade de analisar e/ou interpretar padrões sonoros. Esta inabilidade pode ser o resultado de um prejuízo da capacidade biológica inata do organismo de um indivíduo e/ou falta de experienciação em um meio ambiente acústico. como prováveis sensoriais causas auditivas alterações (como, por neurológicas exemplo, as ou Tem alterações perdas auditivas condutivas, mesmo as transitórias, decorrentes de episódios de otite média na infância). A inteligibilidade da fala depende de fatores rela cionados com o locutor e o ouvinte, o material do teste e o equipamento utilizado. Em relação ao locutor lembrar que quanto maior a duração da palavra falada maior a inteligibilidade (Silverman & Hirsh, 1955). Além disso, deve-se tomar cuidado no modo de apresentar o estímulo, ou seja, se à viva voz ou através de gravação. Recomendase a utilização de fitas gravadas para proporcionar uma uniformidade de apresentação do material do teste. Vários fatores podem interferir na inteligibilidade do ouvinte, além do sistema auditivo, como a expectativa em relação à palavra que vai ser ouvida , motivação, interesse, nível intelectual e educacional e a idade que ele apresenta ao fazer o teste. A inteligibilidade é aumentada quando se utiliza frases e vai diminuindo caso (Hirsh,1952). se utilize dissílabos, monossílabos ou sílabas Além disso, a inteligibilidade é maior quanto maior a probabilidade de ocorrência de palavras na língua (Hirsh, Reynolds e 41 Joseph, 1954); é menor quanto maior o número de palavras da lista de palavras do teste (Sumby & Pollack, 1954) e é menor quanto menor as pistas semânticas da palavra-estímulo (Garsteccki & Mulac, 1974). Quando utiliza-se ruído, deve-se saber que quando utiliza-se o ruído branco, ele estará interferindo mais na inteligibilidade de fala do que o ruído de vozes de muitas pessoas ou de uma pessoa só (Binnie,1974). O efeito deste ruído será reduzir a informação acústica do material de fala (Kalikow, Stevens e Elliot, 1977). A habilidade auditiva que está envolvida quando se utiliza ruídos, do tipo ruído branco, é o fechamento, e quando se utiliza estímulo competitivo do tipo de voz de uma pessoa só é a de figura-fundo. Ao se escolher uma destas distorções deve-se habilidades auditivas está se querendo avaliar. tenha um audiômetro de dois canais ter em mente que O ideal é que se e um gravador estéreo que possa ser acoplado a ele. A Privação auditiva nos primeiros anos de vida, pode ser causada por perdas auditivas condutivas ou neurossensoriais, mesmo as de grau leve, ou por condições do meio ambiente acústico. A criança geralmente, que tem desordem do processamento auditivo central, tem como queixas freqüentes: ouve mas não entende, só ouve quando quer, é desatento, fala errado, vai mal na escola, não aprende, entre outras. As manifestações da desordem do processamento auditivo central podem variar segundo os fatores circunstanciais agravantes, 42 do tipo, privação sensorial. Podem ser manifestações segundo o comportamento e as manifestações clínicas. Segundo Pereira (1996), podemos observar nos indivíduos com desordem do processamento auditivo central as seguintes manifestações comportamentais. Quanto à comunicação oral tem problemas de produção na fala ( sons /r/ e /l/, principalmente); problemas de linguagem expressiva regras gramaticais); dificuldade de compreender palavras com duplo sentido (piada). Quanto à comunicação escrita tem problemas de escrita quanto às inversões de letras, orientação direita/esquerda; disgrafias; dificuldades de compreender o que lê. Quanto ao comportamento social são distraídos; agitados/ hiperativos/ muito quietos; desajustados (brincam com crianças mais novas ou adultos mais tolerantes); tendência ao isolamento (sentem-se frustrados ao notarem suas falhas, na escola ou no lar). Quanto ao desempenho escolar é inferior em leitura, gramática, ortografia, matemática. O desempenho escolar pode ser melhorado ou agravado dependendo de fatores tais como do aluno na sala de aula; tamanho da classe; nível de ruído ambiental; fala do professor quanto ao nível de intensidade e clareza de voz. Quanto à audição é muito difícil o sujeito vir procurar atendimento por uma queixa relativa a problemas auditivos. Em geral, eles têm uma impressão de que às vezes ouvem bem ou 43 compreendem bem e às vezes não. Quando perguntados sobre a atenção e a interferência do ambiente podem referir: atenção ao som prejudicada e dificuldade em escutar em ambiente ruidoso. Nos indivíduos com desordem do processamento auditivo central podemos observar as seguintes manifestações clínicas: prejuízo de localização sonora; memória auditiva para sons em seqüência; identificação de sílabas e/ou palavras e/ou frases na presença de uma mensagem competitiva em tarefas monóticas ou dicóticas; prejuízo de um canal auditivo em relação ao outro, geralmente na orelha homolateral a lesões de tronco cerebral extraaxial e orelha contra lateral a lesões de tronco cerebral intra - axial ou lesões corticais. E os limiares de audibilidade são próximos ao limite superior da faixa de normalidade bilateralmente (15-20 dBNA) e discreta perda auditiva ( 25- 30 dB em freqüências isoladas). Pereira* sugere quatro testes para serem realizados como triagem para a avaliação da desordem do processamento auditivo central, para posterior encaminhamento para realização de testes mais específicos: 44 1. Teste de Localização Sonora, que avalia a habilidade auditiva de LOCALIZAÇÃO. Neste teste usa-se estímulos com freqüências graves por causa da amplitude da onda, como o sino ou o guizo, um molho de chave ou o estalo de dedo que permite a categorização de decodificação. Pede-se que o indivíduo diga qual a localização do som se é à direita, à esquerda, à frente, acima ou atrás. Considera-se o resultado normal quando há um acerto de 4/5 respostas. 2. Teste de Memória Seqüencial para Sons Verbais, que avalia a habilidade auditiva de MEMÓRIA PARA SONS VERBAIS EM SEQÜÊNCIA. Neste teste o terapeuta fala seqüências de sílabas em ordens diferentes e o indivíduo deverá repeti-las na seqüência emitida, o que permite a categorização de organização. Exemplo: pa, ta, ca; ta, pa, ca; ca, ta, pa. 3. Teste de Memória para Sons Não Verbais, que avalia a habilidade auditiva de MEMÓRIA SEQÜENCIAL PARA SONS NÃO VERBAIS. Neste teste o terapeuta seleciona quatro instrumentos como o guizo, o coco, o sino e o agogô; e apresenta-os em diferentes seqüências, para crianças de 4 à 6 anos de idade não usa-se o agogô. 45 4. Pesquisa do Reflexo Cócleo Palpebral para o agogô. ausência de reflexo orienta-se pesquisar limiar Se der audiométrico e imitânciometria. ______________________________________________________ * Anotação do módulo de Processamento Auditivo Central do Curso de Audiologia Clinica do CEFAC - Rio, 1998. III - CONSIDERAÇÕES FINAIS: A avaliação comportamental da audição pode fornecer importantes informações sobre o sistema auditivo possibilitando a identificação dos distúrbios da audição durante o primeiro ano de vida, tanto em relação à acuidade auditiva, quanto ao processamento auditivo central. A identificação de alterações auditivas periféricas e centrais no primeiro ano de vida possibilita a intervenção ainda no período crítico e optimal de desenvolvimento da criança, prevenindo futuras alterações. Durante o primeiro ano de vida ocorre o processamento dos estímulos acústicos. Sendo assim, é extremamente necessário que seja feita uma investigação do sistema auditivo periférico e central de uma criança para saber como ele recebe, analisa e 46 organiza as informações acústicas do ambiente. A criança deve ser capaz de prestar atenção, detectar, discriminar e localizar sons, além de memorizar e integrar as experiências auditivas, para atingir o reconhecimento e a compreensão da fala. A alteração do desenvolvimento social, psíquico e educacional de uma criança pode ocorrer devido à um distúrbio da audição que pode intervir na aquisição e desenvolvimento da linguagem. A avaliação de observação comportamental nos dá grande subsídios para um possível diagnóstico de distúrbio auditivo, tanto periférico como central. IV - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANDRADE, Claudia Regina Furquim. Fonoaudiologia em Berçário Normal e de Risco. S.P., Lovise, 1996 AZEVEDO, Marisa Frasson de e Colaboradores. Desenvolvimento Auditivo de Crianças Normais e de Alto Risco. S.P., Plexus Editora,1995. BESS e HUMES. Fundamentos de Audiologia . RS, Artmed, 1998. FILHO, Otacílio Lopes. Tratado de Fonoaudiologia . S.P., Editora Roca,1997. 47 FROTA, Silvana. Fundamentos em Fonoaudiologia. Audiologia. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1998. KATZ, Jack. Tratado de Audiologia Clínica. S.P., Editora Manole, 1989. LEMES, Valderez Prass e SIMONEK, Maria Cristina. Surdez na Infância - Diagnóstico e Terapia . R. J., Soluções Gráficas Design Studio, 1996. NORTHERN, Jerry L. e DOWNS, Marion P . Audição em Crianças. S.P., Manole, 1989. RUSSO, Iêda C. Pacheco e SANTOS, Teresa M. 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