OCORRÊNCIA DE MURCHA DE FUSARIUM EM MAMONA, LAGES SC* Mario Álvaro Aloísio Veríssimo1, Altamir Frederico Guidolin1, Ricardo Trezzi Casa1, Sergio Delmar dos Anjos e Silva2, Bruno Dalazem Machado1, Jefferson Luís Meirelles Coimbra1, Daniel Gustavo Junges1 1 Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, [email protected]; 2 EMBRAPA CPACT RESUMO - A mamona (Ricinus communis L.) é uma planta rústica, destacando-se pela resistência à seca, porém afetada por várias doenças, algumas delas causadoras de perdas significativas. A murcha de fusarium é uma doença bastante comum, ocorrendo em praticamente todas as regiões onde se cultiva a mamona. No ensaio realizado na área experimental da UDESC, em Lages, SC, com 11 genótipos de mamona, observou-se a presença do fungo Fusarium oxysporum f.sp. ricini, causador da murcha de fusarium. O experimento foi conduzido em delineamento experimental de blocos ao acaso com três repetições onde se quantificou a intensidade da doença. A presença do fungo foi determinada por isolamento de tecido vegetal da região do colo das plantas sintomáticas em meio de cultura (BDA+A). A confirmação de F. oxysporum f.sp. ricini foi feita com base nas estruturas do fungo, comparando com informações da literatura. Foi observada a morte de 60% das plantas do genótipo Sara e de 30% das plantas dos genótipos Savana e Lyra. Os genótipos Al Guarany 2002, IAC 226, Mirante 10, Vinema T1 e Cafelista não apresentaram sintomas de murcha de fusarium. INTRODUÇÃO A mamona (Ricinus communis L.) é uma espécie de origem tropical, resistente à seca, tolerante a condições adversas, cultivada comercialmente em mais de 15 países situados entre a latitude 40º N e 40º S. É uma planta rústica, porém é suscetível a mais de 150 diferentes microrganismos, alguns transmitidos pelas próprias sementes. A murcha de fusarium é uma doença bastante comum, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. ricini (Wr.) Snyd e Hans, ocorrendo em praticamente todo o Brasil, porém em Santa Catarina não há relatos da ocorrência deste patógeno. Dependendo das condições edafoclimáticas, da densidade do inóculo do patógeno nos restos culturais ou no solo e do nível de resistência da cultivar, esta doença pode causar sérios danos à cultura da mamona (MASSOLA JUINOR & BEDENDO, 2005). O melhoramento genético da mamona tem enfatizado a introdução de genótipos de outros paises produtores, objetivando sua utilização como fonte de resistência às principais doenças e; a identificação genótipos que se adaptem às condições edafoclimáticas das regiões produtoras, visando cultivares mais produtivas, semi-deiscentes e de porte médio a baixo, precoces e com elevado teor de óleo nas sementes (FREIRE et al., 2001). Este trabalho objetiva relatar a ocorrência da murcha de fusarium em genótipos de mamona em Santa Catarina. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na área experimental da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) em Lages, SC, na safra 2005/2006. Utilizou-se 11 genótipos de mamona: Al Guarany 2002, IAC 226, IAC 80, IAC Guarani, Mirante 10, Vinema T1, Cafelista, Nordestina, Savana, Sara e Lyra; provenientes do programa de melhoramento do IAC, CATI, Sementes Armani e variedades já utilizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com três repetições. As parcelas foram constituídas de três linhas de 8 metros espaçadas entre linhas de 1,2m e com espaçamento entre plantas de 1,2m para cultivares de porte alto e 0,8m para as de porte baixo. Foi utilizada semeadura manual, com três sementes por cova, resultando após o desbaste em 30 e 18 plantas por parcela, para os genótipos de porte baixo e de porte alto, respectivamente. A adubação utilizada foi 250 Kg ha-1 da fórmula 5-25-25, aplicada na cova e, 100 Kg ha-1 de uréia, em cobertura, parcelada aos 30 e 60 dias após a emergência das plantas. Nas avaliações foram utilizadas plantas com sintomas, que apareceram em reboleira na parcela, as quais apresentavam evidências de folhas murchas, áreas com coloração amareladas e/ou necróticas irregulares, bem como plantas mortas, as quais pareceram próximo à colheita (Figura 2). As plantas com sintomas foram enviadas para o Laboratório de Análise Fitopatológica da UDESC, onde, em corte longitudinal da região do colo da planta, observou-se o escurecimento do sistema vascular, possivelmente devido à presença do fungo. Confirmou-se a presença do fungo por isolamento de tecido vegetal, da região do colo de plantas sintomáticas, em meio de cultura (BDA+A; Batata Dextrose Agar + Antibiótico). Para tal cortouse dois fragmentos de 3 mm de tecido vegetal, da região do xilema, de cada planta, os quais foram desinfetados em solução de hipoclorito de sódio (1%) durante três minutos. Os fragmentos foram plaqueados em meio de cultura. O material foi inoculado e mantido por dez dias à temperatura de 25 ºC e fotoperíodo de 12 horas. A confirmação de F. oxysporum f.sp. ricini foi feita com base no tipo de colônia e nas estruturas do fungo, visualizadas em microscópio óptico, comparando com informações da literatura. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados referentes à ocorrência do F. oxysporum f.sp. ricini constam na Tabela 1. Foi observada a morte de 60% das plantas da cultivar Sara e de 30% das plantas das cultivares Savana e Lyra, sendo que para a cultivar Sara a incidência do fungo foi em 100% das plantas. As cultivares afetadas apresentaram os mesmos sintomas característicos da doença, como a presença de folhas murchas, com áreas irregulares de coloração amarela, que se tornaram necróticas e culminando com a murcha e morte da planta (Figs. 1 e 2). As outras variedades não apresentaram sintomas de murcha de fusarium. Por ser a primeira vez que a mamona foi cultivada na área experimental da UDESC Lages, possivelmente, o inóculo de F. oxysporum f.sp. ricini tenha vindo com as sementes. Baseado nestes fatos, não podemos afirmar que os genótipos que não apresentaram sintomas são resistentes ao fusarium. CONCLUSÕES Os genótipos Sara, Savana e Lyra são susceptíveis à murcha de fusarium. Os genótipos Al Guarany 2002, IAC 226, IAC 80, IAC Guarani, Mirante 10, Vinema T1, Cafelista e Nordestina não apresentaram sintomas de murcha de fusarium. *Trabalho realizado com o apoio da UDESC Lages, SC e FAPEG Pelotas, RS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, E.C.; LIMA, E.F.; ANDRADE, F.P. de. Melhoramento genético. In: AZEVEDO, D. M. P. de.; LIMA, E.F. (Org.). O agronegócio da mamona no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p.229-256. KIMATI, H.; et al. Manual de Fitopatologia. São Paulo: Agronômica Ceres, v.2: il., 1995-1997. p.349. MASSOLA JUNIOR, N. S. & BEDENDO, I. P. Doenças da mamoneira. In: KIMATI, H. ... [et al.]. Manual de Fitopatologia. 4 ed. São Paulo: Agronômica Ceres, 2005. v.2: it. pp. 445-447. Tabela 1. Ocorrência da murcha de fusarium causada por Fusarium oxysporum f.sp. ricini em mamona para diferentes cultivares na região da Serra Catarinense, Lages – SC. CULTIVAR Sara Lyra Savana Mirante 10 ORIGEM SEMENTES ARMANI SEMENTES ARMANI SEMENTES ARMANI SEMENTES ARMANI SINTOMAS 1, 2 FM ESV + + + - + + + - MORTE DE PLANTAS (%) 60* 30 30 - Vinema T1 VINEMA Nordestina CNPA AL Guarany 2002 CATI/SP Cafelista CATI/SP IAC 226 IAC/SP IAC 80 IAC/SP IAC Guarani IAC/SP 1 FM= folhas murchas; ESV= escurecimento do sistema vascular. 2 ( + ) = presença; ( - ) = ausência. - - * Para esta cultivar a incidência do fungo foi em 100% das plantas. Figura 1. Murcha causada por Fusarium oxysporum f.sp. ricini, em mamona (Ricinus communis). Figura 2. Morte de plantas de mamona (Ricinus communis), causada por Fusarium oxysporum f.sp. ricini.