AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA EDUCAR NA SOCIEDADE GLOBALIZADA Claudia Escalante Medeiros- UFPEL1 Liliam Rosa Ferreira Silva-UFPEL2 Adriana Nunes Vieira-UFPEL3 Grupo de Trabalho - Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo apresenta uma reflexão sobre as mudanças na escola frente à inserção das novas tecnologias da informação e comunicação, procurando analisar as necessidades de formação do professor para utilização crítica das mesmas. Parte-se do pressuposto que as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação estão cada vez mais presente na vida das pessoas, o que provoca mudanças sociais que se refletem na escola, requerendo a formação de um novo profissional que esteja apto a fazer uso destas tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem, a fim de formar cidadãos críticos e responsáveis. Neste contexto, apresenta-se: As novas tecnologias da informação e comunicação e a formação do professor para educar na sociedade globalizada cujo objetivo é promover uma reflexão, a partir da literatura corrente, sobre as necessidades formativas do professor frente às exigências da sociedade contemporânea para a utilização metodológica das tecnologias da informação e comunicação na melhoria da prática pedagógica. Para tanto, procurou-se nas proposições Maria Cândida Moraes (1997) e Edgar Morin (2000) e Castels (2003) sobre o novo modelo de sociedade,que se estruturou após a revolução industrial, bem como a emergência de um novo paradigma educacional. Complementam a reflexão as recomendações de Nóvoa (2009) e Perrenoud (2000) sobre a formação do professor para atender a emergência de renovação que a sociedade atual exige. Esta investigação de abordagem qualitativa utilizou alguns pressupostos do levantamento bibliográfico a fim de atender o objetivo proposto. As reflexões emergentes a partir do referencial adotado, permite afirmar que práticas reflexivas precisam ser adotadas no processo de formação do professor a fim de instrumentalizá-lo criticamente na utilização crítica das novas tecnologias da informação e comunicação, a fim de atender ao perfil requerido para ser educador na sociedade atual. 1 Mestra em Ensino de Ciências e Matemática – Universidade Federal de Pelotas - FAE/UFPEL. Professora de Escola Pública Estadual/Pinheiro Machado – RS. E-mail: [email protected] 2 Mestra em Ensino de Ciências e Matemática - Universidade Federal de Pelotas - FAE/UFPEL. Professora de Escola Pública Municipal/Bagé – RS. E-mail: [email protected] 3 Mestra em Ensino de Ciências e Matemática - Universidade Federal de Pelotas - FAE/UFPEL. Professora de Escola Pública Municipal/Bagé – RS. E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 15357 Palavras-chave: Tecnologias da Informação e Comunicação. Formação de Professores. Práticas Pedagógicas. Introdução A tecnologia, atualmente, é responsável por um imenso volume de trocas simbólicas e materiais em dimensões globais, trazendo para a educação um novo conjunto de problemas, numa dinâmica social que urge não só medidas por parte das políticas públicas educacionais, mas igualmente uma reflexão sobre as relações entre educação, cultura e sociedade (LEVY, 1999). Diante dessas mudanças, percebe-se que as práticas pedagógicas ministradas nas escolas, não acompanham a revolução tecnológica que ocorre na sociedade, pois existem os mais variados espaços de acesso às informações e essas agem modificando os modos de ser e agir dos sujeitos, transformando relações sociais e repercutindo nos espaços escolares. Com vistas a acompanhar estas mudanças, os governos lançam projetos de inclusão digital, a fim de qualificar as práticas pedagógicas, buscando adequá-las às exigências da sociedade,porém tal medida não basta se a incorporação destas tecnologias digitais não for adaptada à realidade do indivíduo, e da instituição beneficiada e para que esta efetivação ocorra, a formação do professor é um fator que merece uma atenção especial. Neste sentido, este trabalho objetiva promover uma reflexão, a partir da literatura corrente, sobre as necessidades formativas do professor frente às exigências da sociedade contemporânea para a utilização metodológica das Tecnologias da Informação na melhoria da prática pedagógica. Um novo perfil para educar na sociedade global (MORAES, 1997) que se desenvolve tecnologicamente, possibilita a criação de novas formas de construção de conhecimentos nos ambientes escolares,promovendo assim melhorias significativas na qualidade da educação e implica reorganização da gestão escolar, efetivando-se no Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição. Seja qual for o nível de ensino em que o professor atue, espera-se que ele tenha e esteja apto, a utilizar as novas tecnologias da informação de forma crítica, autônoma e independente, possibilitando a incorporação dessas tecnologias à sua experiência profissional, visando à transformação de sua prática pedagógica. O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como também sua evolução, impulsiona novas ideias e formas de conhecer, de ensinar e de aprender, exigindo 15358 assim um novo papel do professor, do aluno, da função da escola euma reestruturação do currículo escolar, o que se procurou refletir ao longo deste artigo. As mudanças na escola frente a novas exigências da sociedade Na sociedade atual, a tecnologia tem provocado mudanças no estilo de vida de todas as pessoas, seja pela forma direta ou indireta,reforçada pelo modo de produção capitalista em que a sociedade está organizada. Diante desta nova estrutura, faz-se necessário que a escola também acompanhe e instrumentalize as crianças e jovens para este novo modelo que se organiza: a sociedade globalizada.No entanto, o que se tem visto é que a escola tem enfrentado grande dificuldade para se enquadrar neste novo perfil social. Algumas pesquisas no campo educacional (CHASSOT, 1990; QUADROS et al. 2011; LIMA, 2012) apontam que a escola continua sendo uma instituição mais tradicional do que inovadora. A cultura escolar tem resistido bravamente às mudanças. Os modelos de ensino focados na memorização-cópia prevalecem apesar das pesquisas educacionais apontarem para uma mudança na forma de ensino cujo foco seja a aprendizagem do aluno. O uso das tecnologias de informação e comunicação, em sala de aula,desafia o planejamento e a inserção de atividades inovadoras, o que exige dos professores um repensar constante de sua prática,de maneira a atender as demandas educacionais do novo modelo de sociedade. A pesquisadora Maria Cândida Moraes (1997) propõe um novo paradigma educacional, pois destacaa necessidade do reconhecimento na instituição escolar às mudanças no saber ocasionadas pelos avanços tecnológicos da informação, que geram novos modos de conhecer que desenvolvem muito mais a imaginação e a intuição. Ao propor este novo paradigma a autora leva em consideração: [...] novas formas de simbolização e de representação do conhecimento, geradoras de novos modos de conhecer, que desenvolvem muito mais a imaginação e a intuição. Estes aspectos exigem que os indivíduos sejam alfabetizados no uso de instrumentos eletrônicos e saibam produzir, utilizar, armazenar e disseminar novas formas de representação do conhecimento utilizando as linguagens digitais (MORAES, 1997, p. 197). Outro pesquisador Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, em sua obra intitulada Sete saberes necessários à educação do futuro (MORIN, 2000), procura articular saberes, criticando a compartimentação do conhecimento e a especialização excessiva. Morin propõe o conceito de complexidade no lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de 15359 saberes. O pensamento complexo, segundo o autor tem como fundamento formulações surgido no campo das ciências exatas e naturais, como as teorias da informação e dos sistemas e a cibernética, que evidenciaram a necessidade de superar as fronteiras entre as disciplinas. Para Castells (2003)um novo mundo tomou forma no final do século passado. Originou-se, aproximadamente, no fim dos anos 60 e meados da década de 70 na coincidência histórica de três processos independentes: revolução da tecnologia da informação; crise econômica do capitalismo e do estatismo e a consequente reestruturação de ambos; e apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como libertarismo, direitos humanos, feminismo e ambientalismo. A interação entre esses processos, e as reações por eles desencadeadas, fez surgir uma nova estrutura social dominante, a sociedade em rede; uma nova economia, a economia informacional/global; e uma nova cultura, a cultura da virtualidade real. A lógica inserida nessa economia, nessa sociedade e nessa cultura, está subjacente à ação e às instituições sociais em um mundo interdependente. De acordo com este autor,a revolução da tecnologia da informação motivou o surgimento do informacionalismo como a base material de uma nova sociedade. No informacionalismo, a geração de riqueza, o exercício do poder e a criação de códigos culturais, passaram a depender da capacidade tecnológica das sociedades e dos indivíduos, sendo a tecnologia da informação o elemento principal dessa capacidade. A tecnologia da informação tornou-se ferramenta indispensável para a implantação efetiva dos processos de reestruturação socioeconômica. De especial importância, foi seu papel ao possibilitar a formação de redes como modo dinâmico e auto-expansível de organização da atividade humana. Essa lógica preponderante de redes transforma todos os domínios da vida social e econômica e se reflete na educação formal cuja base é a escola, em especial a fragmentação dos saberes. A partir destes referenciais entende-se necessário que, escolas e educadores, revejam suas práticas de maneira a promover de fato um ensino que promova a emancipação dos sujeitos, a fim de compreender e intervir com responsabilidade e autonomia na sociedade atual, o que talvez possa ser da implantação de um processo de formação continuada que orientará, através da reflexão teórica, a prática docente. Escola, currículo e ensino frente às novas tecnologias de informação e comunicação Apropriar-se das tecnologias da informação e comunicação é um desafio a todos envolvido com educação na sociedade globalizada, para tanto é necessário que a escola 15360 promova um alfabetismo crítico(KELLNER, 1995)superando o paradigma tradicional, a fim de instrumentalizar os educandos, oferecendo-lhes possibilidades para que conceitos sejam aprendidos e não, simplesmente, decorados. Para atender a demanda de educar nesta perspectiva, o papel da escola e do professor precisa ser repensado e modificar-se: a prática pedagógica passa a ser orientada a partir do aluno, a fim de promover sua aprendizagem, e não mais ocupar-se da grade curricular (LEVY, 1999). Aos governos cabe, não apenas prover as escolas de recursos tecnológicos, mas possibilitar uma formação de qualidade aos educadores para que estes, não apenas utilizem estes recursos disponibilizados como livros eletrônicos, transformando-os em ferramentas que servem para transmissão do conhecimento, promovendo um ensino memorístico baseado no modelo cópia-reprodução. Para os adeptos das metodologias tradicionais, os recursos tecnológicos abalam a estrutura tradicional do saber a ser transmitido pelo professor.À medida que o aluno tem acesso a fontes mais variadas e atualizadas de informação, as hierarquias de poder são gradualmente contestadas e o professor é destituído da sua antiga posição de controle. Este fato é percebido quando se propõe modificações nos programas e currículos, buscando reestruturar as listagens de conteúdos dos componentes disciplinares e integrar as novas tecnologias da informação e comunicação. Isto remete a Foucault, (2008) quando lembra que: [...] a escola, tal qual a sociedade, age consciente e inconscientemente de modo a silenciar e sufocar tudo o que lhe parecer estranho, diferente. E os embates são travados em seu interior, pois a resistência toma vulto e, na lógica das batalhas, a parte que se julga poderosa, através de uma força, de uma dominação, de um ato de violência, apaga os sentidos que o componente aparentemente derrotado possui (FOUCAULT, 2008, p. 143). Muitas vezes, reestruturam-se listagens de conteúdos, a escola diz-se informatizada e que promove a inclusão digital, o que parece ser fato somente presente nos documentos pedagógicos escolares, como o Projeto Político Pedagógico (PPP). Na realidade, prevalecem nas escolas, currículos como conjuntos teóricos historicamente estabelecidos, aceitos sem discussão e apresentados aos alunos pelos professores. Merece preocupação, também, o fato das escolas que se intitulam “inovadoras”,fazem uso da nova tecnologia, porém a metodologia se mantém a mesma da escola tradicional, em outras palavras, mesmo com acesso a tecnologia os educadores incorrem na ideia de que para 15361 aprender basta aceitar passivamente o que for apresentado, sem a possibilidade de descobrir, de raciocinar e compreender os conceitos ensinados, mudando apenas a forma de transmissão dos conteúdos, por meio das novas tecnologias da informação e comunicação. Neste contexto é pertinente questionar como então incorporar estas tecnologias aos processos de ensino e aprendizagem? Esta efetivação requer, entre outros aspectos,que escola e educadores revejam sua concepção de currículo. O termo currículo é conceituado de diversas formas,sendo entendido em diferentes aspectos, enquanto nexo entre a sociedade e a escola, o sujeito e a cultura, o ensino e a aprendizagem. Para alguns este se apresenta como um projeto escolar, um plano educativo formalizado, a cultura objetivada, sob um determinado formato, com conteúdos previamente definidos, mas também refletem práticas, experiências cotidianas, ideologias, crenças, valores; uma linguagem simbólica. Michael Apple (2006), um teórico do pensamento educacional crítico contemporâneo,descreve o currículo como um mecanismo de controle social (políticas educacionais e culturais). Aponta que este documento não é neutro e nem aleatório e, que para decifrarmos o porquê de determinado conhecimento fazer parte do plano da escola e representar os interesses de determinado grupo, é necessário que compreendamos quais são seus interesses sociais, tendo em vista que estes frequentemente guiavam a seleção e organização do currículo. Esses interesses abrangiam compromissos para com determinadas estruturas econômicas e políticas educacionais, as quais, quando postas em prática, contribuíam para a desigualdade. Para este autor este controle social e econômico, também ocorre nas escolas sob a forma de disciplina, comportamentos que ensinam (regras, rotinas, obediência e manutenção da ordem) e por meio destas formas, a escola mantém seu controle sobre as pessoas e sociedade. Já para Gimeno Sacristán (2000), pesquisador espanhol da área do currículo, aponta que o tratamento do currículo, na contemporaneidade, pressupõe que se observe sua problemática a partir da reflexão sobre: que objetivo se pretende atingir, o que ensinar, por que ensinar, para quem são os objetivos, quem possui o melhor acesso às formas legítimas de conhecimento, que processos incidem e modificam as decisões até que se chegue à prática, como se transmite a cultura escolar, como os conteúdos podem ser inter-relacionados, com quais recursos/materiais metodológicos, como organizados grupos de trabalho, o tempo e o espaço, como saber o sucesso ou não e as consequências sobre esse sucesso da avaliação dominante, e de que maneira é possível modificar a prática escolar relacionada aos temas. 15362 Para Sacristán (2000, p. 15): [...] quando definimos currículo, estamos descrevendo a concretização das funções da própria escola e a forma particular de enfocá-las num momento histórico e social determinado, para um nível de modalidade de educação, numa trama institucional, etc. O currículo seria um meio pelo qual a escola se organiza, propõem os seus caminhos e a orientação para a prática. Não podemos pensar numa escola sem pensar em seu currículo e em seus objetivos. Todavia, não estamos propondo isto apenas de forma burocrática e mecânica, como propunha a teoria tradicional, mas percebendo todo o contexto em que isto ocorre e as consequências na prática pedagógica e na formação do educando: As funções que o currículo cumpre como expressão do projeto de cultura e socialização é realizada através de seus conteúdos, de seu formato e das práticas que cria em torno de si. Tudo isso se produz ao mesmo tempo: conteúdos (culturais ou intelectuais e formativos), códigos pedagógicos e ações práticas através dos quais se expressam e modelam conteúdos e formas (SACRISTÁN, 2000, p. 16). Nesta perspectiva, Sacristán (1999) propõe um currículo universalizador com componente cultural e linguagem universalizado; valores dados como válidos universalmente, como meta na construção das sociedades e dos indivíduos (SACRISTÁN, 1999) para tanto requer reconhecer que a identidade cultural é secundária, ser iguais é a base da identidade cultural e entender as identidades coletivas em torno de características, como formas abertas, dialogando umas com as outras. As Tecnologias de Informação e Comunicação nos Documentos Oficiais da Educação Os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao reconhecerem a complexidade da prática educativa, buscam auxiliar o professor na sua tarefa de assumir, como profissional, o lugar que lhe cabe pela responsabilidade e importância no processo de formação do povo brasileiro. Dada à abrangência dos assuntos abordados e a forma como estão organizados, este documento pode ser utilizado com objetivos diferentes, de acordo com a necessidade de cada realidade e de cada momento. Uma análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 1999), acena possibilidades para a exploração das tecnologias uma vez que estes a colocam como tema central. Estas permeiam as áreas do conhecimento, a saber: linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências da natureza, matemática e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias. 15363 Neste documento as TIC’s deixam de ser entendidas como ferramentas com as quais se podem realizar determinadas tarefas. Estas se incorporam ao modo de ser da sociedade, de interagir com os serviços e produções de bens, diminuindo os espaços e tempos de comunicar, de acessar e receber informação. Logo, começam a influenciar o agir eo pensar, passando a serem estruturantes do pensamento, produtoras de identidades. Os impactos das novas tecnologias se fazem sentir no cerne dos princípios formativos, até aqui alicerçados na transmissão de saberem reconhecidos e sabatinados pelo consenso, mediados pela figura do professor, em linguagem oral e/ou escrita, e referenciada em limites físicos de uma instituição: Quando a escola promove uma condição de aprendizado em que há entusiasmo nos fazeres, paixão nos desafios, cooperação entre os partícipes, ética nos procedimentos, está construindo a cidadania em sua prática, dando as condições para a formação dos valores humanos fundamentais, que são centrais entre os objetivos da educação (BRASIL, 1999, p.269). Analisando-se as diretrizes curriculares nacionais para a educação básica, no item que trata da organização curricular, nota-se a importância da incorporação das novas tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem, conforme o documento: [...] as tecnologias da informação e comunicação constituem uma parte de um contínuo desenvolvimento de tecnologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriqueceras aprendizagens. Como qualquer ferramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins educacionais e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de forma a possibilitar que a interatividade virtual se desenvolva de modo mais intenso, inclusive na produção de linguagens (BRASIL, 2013, p. 25). As propostas oficiais constituem o início de um processo de transformação em que as convicções precisam ser revistas. O que requer a alteração de hábitos de ensino, consolidados há muito tempo, para que se alcance a concretização de um projeto para a educação e para o país, no qual a figura do professor tem papel fundamental para esta efetivação. Logo, as mudanças de políticas públicas de qualidade, de maiores investimentos em educação no país, de envolvimento da família na vida escolar dos alunos e, principalmente da formação do professor, seriam responsáveis pelas novas atitudes que se fazem necessárias para a melhoria do ensino de maneira geral. 15364 A Formação de Professores frente aos desafios de ensinar com as Tecnologias da Informação e Comunicação O processo de formação docente para o emprego das Tecnologias da Informação e Comunicação no ambiente escolar deve permitir a compreensão das potencialidades que estas ferramentas oferecem para inovação das práticas pedagógicas e a construção denovos conhecimentos. Desse modo, torna-se essencial repensar a formação inicial e continuada do professorado e, ainda, analisar a responsabilidade dos professores em apresentar e aplicar as tecnologias, incorporando-as aos processos de ensino e aprendizagem.Para Mercado (1999, p.26): Com as novas tecnologias, novas formas de aprender, novas competências são exigidas, novas formas de se realizar o trabalho pedagógico são necessárias e fundamentalmente, é necessário formar continuamente o novo professor para atuar neste ambiente telemático, em que a tecnologia serve como mediador do processo ensino-aprendizagem. Apesar de a maioria das escolas públicas brasileiras já terem à sua disposição uma série de recursos tecnológicos, muitos educadores não se sentem habilitados para utilizá-los e, outros, por sua vez, fazem uso dos mesmos sem uma orientação adequada.É imprescindível alertar que a inclusão das TIC’s no processo educacional perpassa não somente pela formação e atualização docente, mas por também pela superação de problemas estruturais e técnicos. Kensky (2007) enfatiza que, para que as TIC’s possam trazer alterações no processo educativo, elas precisam ser compreendidas e incorporadas pedagogicamente. Não se trata de saber ou não usar o computador, a lousa digital, os softwares ou a Internet. É sim, fazer com que essas ferramentas de fato auxiliem o ensino e a produção de conhecimento em sala de aula. Para tanto, os professores deverão estar efetivamente capacitados a atuar de maneira crítica e reflexiva, frente às tecnologias, integrando-as com suas propostas educativas e, considerando que a inserção das mesmas deverá estar presente tanto no Plano de Ensino quanto no Projeto Político Pedagógico da escola, já que estas favorecem a consolidação de novas formas de educar. Nesse sentido, a formação continuada, ou seja, o processo de desenvolvimento profissional dos professores em serviço pode ser uma alternativa possível para avanços nesse campo. Considerando-se que as propostas de formação devem estar articuladas às 15365 necessidades e aos contextos(educativos e sociais)dos docentes, o contato com as TIC’s pode ampliar o horizonte dos educadores e acenar com novas situações de aprendizagem. Entretanto, a formação continuada com a perspectiva de criação de competências para o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação na escola ainda é incipiente. Para Perrenoud (2000, p.31) “a competência ao mesmo tempo em que mobiliza a lembrança das experiências passadas, livra-se delas para sair da repetição, para inventar soluções originais, que respondem, na medida do possível, à singularidade da situação presente”. Perrenoud (2000) além de chamar atenção às competências necessárias para o professor ensinar com as novas tecnologias, destaca outra de grande importância nos processos de formação. Segundo ele, administrar a sua própria formação contínua, pois conforme enfatiza, nenhuma competência construída permanece retida durante toda a vida, sendo, portanto, necessário não só conservar as competências já adquiridas, através de um exercício constante, como também adquirir novas competências. Daí a necessidade de uma formação continuada, em que os recursos cognitivos mobilizados por estas competências possam ser atualizados e adaptados às alterações que se fazem sentir ao longo dos tempos. A formação continuada é fundamental, mas precisa estar acompanhada por transformações, visto que a sua própria institucionalização da profissão tem um passado recente (NÓVOA, 2009). Nóvoa (2009, p. 9) recomenda uma formação de professores “construída dentro da profissão”, baseada na combinação de contributos científicos, pedagógicos e técnicos, mas que tenha como foco os próprios professores. Neste viés, formar-se é, antes de tudo, aprender e mudar, a partir de diversos procedimentos pessoais e profissionais/individuais e coletivos. Em outras palavras, conforme o autor, tal percurso consistiria em uma fonte de aprendizagem e de regulação, dado que o exercício metódico de uma prática reflexiva promove a construção de novas competências e de novas práticas. Portanto, as práticas reflexivas podem consolidar estratégias ou desenvolver métodos que permitam aos professores melhorar certas competências. No sentido de melhorar as suas práticas, é conveniente que os professores estabeleçam o seu próprio balanço de competências, assim como o seu programa de formação contínua. Neste campo, o professor pode ter que construir novos modelos de ação pedagógica. Deste modo, a lucidez profissional consiste em saber igualmente quando se pode progredir pelos meios que a situação oferece (individualmente ou em grupo) e quando é mais econômico e rápido apelar para novos recursos de autoformação (PERRENOUD, 2000). 15366 Assim, espera-se que cada professor seja capaz de identificar as suas próprias falhas, da mesma forma que tenha consciência daquilo que fez e do que gostaria de fazer, elaborando um projeto próprio de formação. Nesta perspectiva, Perrenoud (2000) sugere que as instituições escolares convidem professores a elaborar uma análise de suas competências e estabelecerem seu projeto de formação. Outra competência específica, relativa à formação continuada, é ligada à elaboração de um projeto comum, dentro do estabelecimento de ensino, de forma a fazer evoluir o grupo e a possibilitar uma cultura de cooperação. Desta forma, é possível mais rapidamente, os professores estabelecerem um confronto de práticas, se as condições o permitirem, e que resultará num projeto de formação comum. O professor deve ainda, envolver-se em tarefas de outros níveis de funcionamento do sistema de ensino, não com caráter obrigatório, mas porque permite ampliar: [...] acultura política, econômica, administrativa, jurídica, sociológica dos professores em exercício, com as repercussões imaginadas para a sua prática quotidiana, em duplo sentido: enriquecimento dos conteúdos do ensino, através de uma abordagem mais analítica e menos defensiva dos fenômenos de poder e de conflito em geral, dos funcionários institucionais (PERRENOUD, 2000, p. 167). Nesta perspectiva formativa, o professor irá adquirir um conhecimento mais profundo da diversidade das práticas e dos discursos, uma tomada de consciência dos recursos e das obrigações da organização, tal como dos desafios que enfrenta ou venha a enfrentar a fim de educar com competência formando sujeitos críticos e autônomos. Metodologia Nesta investigação de abordagem qualitativa utilizaram-se alguns pressupostos de levantamento bibliográfico no qual se buscou, através do referencial teórico consultado, encontrar elementos que atendessem ao objetivo proposto, ou seja, promover uma reflexão, a partir da literatura corrente, sobre as necessidades formativas do professor frente às exigências da sociedade contemporânea para a utilização metodológica das Tecnologias da Informação na melhoria da prática pedagógica. A abordagem qualitativa é justificável de acordo com Minayo (2001), pois a pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. Desta forma, trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o 15367 que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Para Marconi e Lakatos (1999), pesquisa bibliográfica é um levantamento da bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. A sua finalidade é fazer com que o pesquisador entre em contato direto com o material escrito sobre um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise de suas pesquisas ou na manipulação de suas informações. Conforme o objetivo proposto este levantamento aqui não se esgota, almejando-se que este estudo subsidie novas pesquisas sobre o objeto investigado. Resultados e discussões Os trabalhos analisados revelam emergência da necessidade de adequação da escola a um novo paradigma educacional conforme Moraes (1997) e Morin (2000), no qual a escola deve adequar-se para atender a sociedade informacional, global e em rede de acordo com Castells (2003). Esta adequação passa por uma reestruturação curricular no qual a crítica de Apple (2006) ao currículo tradicional e os trabalhos de Sacristán (1998; 1999; 2000; 2001) que propõe um currículo universal como base para construção de uma identidade coletiva reforça esses pressupostos. Os documentos oficiais da Educação Nacional,Parâmetros Curriculares e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica fornecem as bases necessárias para a escola adequar-se à utilização das novas tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem em nível nacional. O papel do professor, frente às novas exigências da sociedade contemporânea, levou em consideração propostas de Nóvoa (2009) quanto as práticas reflexivas de ensino e a noção de competência proposta por Perrenoud (2000). Os trabalhos de Mercado (1999) e Kensky reforçam necessidade de um novo modelo de formação de professor, instrumentalizando-o para utilização das TIC’s nas suas práticas pedagógicas de forma crítica com vistas à promoção da aprendizagem. Pelo referencial analisado, entende-seque novas competências (PERRENOUD, 2000) precisam ser incorporadas ao processo de formação do professor, para a construção do seu novo perfil, para que faça uso das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, na formação dos professores pressupõe-se a sua instrumentalização para a criação de novas formas de construção de conhecimentos nos ambientes escolares, promovendo assim melhorias significativas na qualidade da educação. 15368 Considerações Finais O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), como também sua evolução,impulsiona novas ideias e formas de conhecer, de ensinar e de aprender, exigindo assim um novo papel do professor, do aluno, da função da escolae do processo de formação do professor. Neste contexto, além de uma reforma nas políticas públicas de formação dos professores, é urgente, que os cursos de licenciatura preparem o novo profissional para atender a demanda da sociedade globalizada. Uma possibilidade seria envolver este futuro professor em pesquisas que oportunizassem não apenas exercer a atividade docente, mas desenvolver neste profissional a capacidade investigativa a fim de torna-lo pesquisador efetivo de sua prática. Dessa forma espera-se que este profissional receba formação, tanto inicial como continuada, a fim de instrumentalizá-lo a utilizar as novas tecnologias da informação de forma crítica, autônoma e independente, possibilitando a incorporação dessas tecnologias à sua experiência profissional, visando à transformação de sua prática pedagógica. REFERÊNCIAS APPLE, Michael W. Ideologia e currículo. Porto Alegre: Artmed, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica.2013. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM). Brasília: MEC/SEMT, 1999. ______. LDB. Lei Nº 9394, 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 23 de dezembro de 1996. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 7. ed. v. 1, São Paulo: Paz e Terra,2003. 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