UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO EDUARDO PAGOT DIRECIONADORES DE VALOR CRÍTICOS NA CADEIA PRODUTIVA DE PEQUENAS FRUTAS EM VACARIA/RS Vacaria 2010 Eduardo Pagot DIRECIONADORES DE VALOR CRÍTICOS NA CADEIA PRODUTIVA DE PEQUENAS FRUTAS EM VACARIA/RS Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão do Agronegócio, pelo MBA em Gestão do Agronegócio da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Orientador: Prof. Jean Philippe Révillion Vacaria 2010 São Leopoldo, 30 de outubro de 2010. Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Eduardo Pagot encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e escrita para avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em Gestão do Agronegócio. ________________________________________ Nome do orientador Prof. Jean Philippe Révillion Este trabalho é dedicado aos colegas da EMATER/RS-ASCAR de Vacaria, aos parceiros de diversas instituições e aos produtores de pequenas frutas que acreditam e trabalham para o desenvolvimento dessa alternativa de produção para a agricultura familiar na região dos Campos de Cima da Serra. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer às três mulheres da minha vida, Alda, Duda e Leti, que entenderam meu afastamento em muitos finais de semana e apoiaram esse desafio de buscar o conhecimento. Não poderia deixar de agradecer a todos os colegas “Mbianos” pelo conhecimento compartilhado nos entusiasmados debates e trabalhos realizados durante o curso, demonstrando a todo o momento a riqueza de suas experiências adquiridas na extensão rural. Gostaria parabenizar a nossa EMATER/RS-ASCAR pela iniciativa e agradecer pela oportunidade de realizar esse curso. Agradecimentos à coordenadora do curso, Professora Gisele Spricigo, e a todos os demais professores. Agradecimentos aos tomadores de decisão das agroindústrias e especialistas entrevistados pela colaboração prestada no levantamento de dados para a realização deste trabalho. Em especial, gostaria de agradecer ao meu orientador, Professor Jean Philippe Révillion, que desde nosso primeiro contato demonstrou interesse no projeto e uma dedicação incrível durante todas as etapas de desenvolvimento da monografia. RESUMO O pólo de produção de pequenas frutas na região de Vacaria está em construção, vislumbramse muitos desafios para todos os atores envolvidos no desenvolvimento e no aperfeiçoamento da cadeia de produção. Este trabalho apresenta como principal objetivo a identificação dos direcionadores e das atividades de valor críticos para o atendimento das características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas que processam pequenas frutas oriundas do município de Vacaria, da região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul. O método utilizado nesta pesquisa foi o de estudos de caso selecionados (YIN, 1994) a partir da proposta de intervenção nas cadeias ou sistemas de valores, desenvolvida por PORTER (1989). Todos os tomadores de decisão das agroindústrias entrevistados demonstraram interesse na aquisição de pequenas frutas para utilização em agroindústrias diversas. Entre as características intrínsecas desejadas pelos tomadores de decisão destacam-se a qualidade e a integridade das frutas. Também foram levantadas necessidades como: divulgação das propriedades nutricionais/"funcionais" das pequenas frutas; interesse em diversificação dos produtos; padronização em termos de tamanho; aparência, sabor, cor e o conteúdo nutricional dos produtos; selo de indicação geográfica. Os principais direcionadores de valor levantados foram: diminuição do tempo de entrega; seleção dos canais de distribuição empregados; seleção dos compradores atendidos; embalagens diferenciadas de acordo com o tipo de fruta e cliente; ganhos em qualidade, valorização do produto; produtos com rastreabilidade; produtos limpos e com preservação ambiental; escolha de novas tecnologias; atuação sobre as características, desempenho e configuração do produto; mercado solidário; aumento do índice de gastos com atividades de marketing; melhora na gestão da produção; escolha da tecnologia de processo; ampliação no mix e variedade de produtos oferecidos; incremento no nível de serviço oferecido; seleção de matérias-primas e insumos; escolha da tecnologia de processo; características de identificação e diferenciação do produto. Palavras-Chave: Pequenas frutas. Direcionadores. Cadeia de valor. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APPEFRUTAS – Associação dos Produtores de Pequenas Frutas de Vacaria EMATER/RS – Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural ASCAR – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais SAMA – Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente de Vacaria APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle CERTIFICAÇÃO ISO – International Organization for Standardization SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 07 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................ 08 1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 09 1.3 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 09 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................... 10 2.1 O CONCEITO DE CADEIAS PRODUTIVAS E SISTEMAS DE VALOR ... 10 2.2 AS CADEIAS CURTAS DE PRODUÇÃO DE PEQUENAS FRUTAS ......... 12 2.2.1 O segmento de produção de matérias-primas ............................................ 12 2.2.1.1 Amora-preta ................................................................................................. 13 2.2.1.2 Framboesa.................................................................................................... 14 2.2.1.3 Mirtilo ....................................................................................................... 15 2.2.1.4 Morango ...................................................................................................... 17 2.2.2 O segmento de processamento de pequenas frutas ................................... 18 2.2.2.1 Processamento de frutas frescas resfriadas .................................................. 18 2.2.2.2 Despolpa ...................................................................................................... 19 2.2.2.3 Produção de sucos ....................................................................................... 19 2.2.2.4 Desidratação e Liofilização ......................................................................... 20 2.2.2.5 Produção de doces ....................................................................................... 21 2.2.2.6 Congelamento .............................................................................................. 22 2.2.3 Distribuição de produtos .............................................................................. 22 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS ................................................................. 25 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .............................................. 28 4.1 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS DESEJÁVEIS PELO MERCADO DE AGROINDÚSTRIAS INTEGRANTES DE CADEIAS CURTAS ................................................................................................................. 28 4.2 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE VALOR E OS DIRECIONADORES DE VALOR PERTINENTES PARA O ATENDIMENTO DESSAS NECESSIDADES ........... 34 5 CONCLUSÃO..................................................................................................... 49 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 51 APÊNDICES .......................................................................................................... 53 7 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, as pequenas frutas - como a amora (blackberry), a framboesa (raspberry), o morango (strawberry), o mirtilo (blueberry), a physalis, ou ainda frutas nativas, como a pitanga, o araçá, a cereja e a guavirova - têm chamado a atenção dos consumidores em função da sua qualidade (funcional) sensorial e nutricional. Amora, framboesa, morango e mirtilo apresentam uma expressiva expansão de cultivo, assumindo importância social e econômica na região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul – com destaque para os municípios de Vacaria, Campestre da Serra e Ipê, onde estima-se que cerca de 400 famílias trabalhem diretamente nas cadeias produtivas desses alimentos. Já as frutas nativas representam alternativas potencialmente importantes em função de sua adaptação às condições climáticas locais e particularidades sensoriais, dependente do desenvolvimento de tecnologia de produção e processamento adequados. É natural, frente às oportunidades emergentes nesse setor, que associações de produtores se mobilizem para integrar as etapas produtivas à jusante da cadeia produtiva de maneira a garantir uma remuneração adequada pela matéria-prima. O pólo de produção de pequenas frutas na região de Vacaria está em construção; vislumbram-se muitos desafios para todos os atores envolvidos no desenvolvimento e no aperfeiçoamento da cadeia de produção, esse processo de desenvolvimento é muito dinâmico e exige de todos os interessados muita atenção, principalmente em relação ao mercado. Este trabalho apresenta como objetivos: i) detalhar os diversos tipos de cadeias de produção envolvidas no processamento de pequenas frutas frescas ou processadas no município de Vacaria, região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul; ii) identificar as características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelas agroindústrias integrantes de cadeias curtas que processam pequenas frutas; iii) identificar os direcionadores de valor críticos para o atendimento dessas necessidades; e iv) identificar as atividades de valor pertinentes para a sustentação desses direcionadores. 8 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA A agroindustrialização representa uma etapa de destaque na agregação de valor aos produtos agroindustriais e os tomadores de decisão nas agroindústrias detêm um papel importante na coordenação dos complexos agroindustriais (BATALHA, 1997). De fato, a agroindústria representa o ponto de encontro entre as necessidades do consumidor final, as exigências da distribuição, as particularidades de transformação de matérias-primas em alimentos e a adoção de novas tecnologias de processo e produto. Neste estudo, agroindústria é qualquer organização que processe matérias-primas oriundas da agricultura, incluindo produção vegetal e animal e, também, que responda pelas atividades de seleção de tecnologias de processo e produto, logística e marketing dos produtos (AUSTIN, 1981). Apesar da relevância da perspectiva de alinhamento entre as atividades produtivas com as necessidades dos clientes, são escassos os trabalhos científicos que hajam testado ou desenvolvido abordagens ou ferramentas eficazes para tanto. Em particular no setor agroindustrial, em que as características demandadas, de produtos ou processos, podem apresentar um caráter intrínseco (como atributos físicos dos produtos) ou extrínseco (como características de inocuidade dos alimentos, desempenho ambiental dos processos, etc.), é desafiadora a aplicação de abordagens que permitam traduzir essas necessidades em atividades ou etapas produtivas. Este trabalho apresenta como principal objetivo identificar os direcionadores e as atividades de valor críticos para o atendimento das características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas que processam pequenas frutas oriundas do município de Vacaria. Esse exercício serve para avaliar a adequação da proposta de intervenção nas cadeias ou sistemas de valores desenvolvida por PORTER (1989) para incrementar o desempenho das cadeias produtivas e organizações. 9 1.2 OBJETIVOS Este trabalho apresenta como objetivos: i) detalhar os diversos tipos de cadeias de produção envolvidas no processamento de frutas frescas ou processadas na região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul; ii) identificar as características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas que processam pequenas frutas; iii) identificar os direcionadores de valor críticos para o atendimento dessas necessidades; e iv) identificar as atividades de valor pertinentes para a sustentação desses direcionadores. 1.3 JUSTIFICATIVA O cultivo das pequenas frutas representa uma atividade econômica de crescente importância na região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul – com destaque para os municípios de Vacaria, Campestre da Serra e Ipê, onde estima-se que cerca de 400 famílias trabalhem diretamente nas cadeias produtivas desses alimentos. Para crescer de forma sustentável, os agentes envolvidos nas cadeias de pequenas frutas nessa região devem avaliar as necessidades, existentes e potenciais, dos consumidores desses produtos e, a partir dessas exigências, reavaliar as atividades desenvolvidas em cada elo da cadeia produtiva, de maneira a identificar quais delas realmente contribuem para a satisfação dos consumidores e quais não são pertinentes para esse objetivo. Essa análise é fundamental para desenvolver estratégias setoriais e subsidiar políticas públicas que visem a desenvolver os pólos de produção de pequenas frutas na região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul. 10 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O CONCEITO DE CADEIAS PRODUTIVAS E SISTEMA DE VALOR A estratégia competitiva de diferenciação é aquela em que a empresa (ou setor) procura ofertar produtos singulares em alguns aspectos, ou seja, com certo grau de diferenciação em relação aos produtos concorrentes, para mercados amplos ou restritos (de nicho) esperando o pagamento de valores superiores a esses produtos diferenciados (PORTER 1989). Ainda segundo PORTER (1989), a implementação das estratégias competitivas é realizada através da análise e intervenção sobre sua cadeia de valor. Cadeia de valor é o conjunto de atividades primárias (logística, produção, marketing e vendas) e de apoio (gestão, pesquisa e desenvolvimento, compras) de uma empresa, necessárias à oferta de seus produtos e serviços. A cadeia de valor (conjunto de atividades) de uma empresa encaixa-se em uma corrente maior de atividades denominada de sistema de valor, em que são consideradas também as cadeias de valor de fornecedores e distribuidores (PORTER, 1989). Essa perspectiva é convergente com o conceito de cadeia produtiva, originário do estudo da Economia Industrial. Uma cadeia de produção é o conjunto de atividades de produção e distribuição estreitamente interligadas, e relacionadas verticalmente, por pertencerem a um mesmo produto ou a produtos semelhantes (MONTIGAUD, 1991). Segundo MORVAN (1991), o conceito de cadeia de produção envolve três abordagens: i) como uma sucessão de operações de transformação de matérias-primas em produtos finais, capazes de ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico; ii) como um conjunto de relações comerciais entre fornecedores e clientes; e iii) como um conjunto de ações econômicas que presidem a valoração dos meios de produção. A desagregação de um sistema de valor (ou de uma cadeia produtiva), ponderando as atividades de relevância estratégica, permite compreender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação. As atividades de valor são, portanto, os blocos de construção distintos da vantagem competitiva das organizações e dos setores. O modo 11 como cada atividade de valor é executada irá determinar sua contribuição para as necessidades do comprador e, assim, para a diferenciação dos produtos ofertados pela empresa ou pela cadeia produtiva. Por sua vez, cada atividade de valor é influenciada pelo que PORTER (1989) chama de direcionadores. Direcionadores (de valor) são as razões subjacentes pelas quais uma atividade é singular. A exploração dos direcionadores na busca da diferenciação depende da capacidade que uma organização possui para influenciá-los a seu favor. Nesta pesquisa, a abordagem de cadeia produtiva será explorada como arcabouço teórico para a descrição das tecnologias aplicadas e das características dos agentes produtivos e dos produtos intermediários e finais, bem como para a descrição dos tipos de ligações que se estabelecem entre eles. Sem ônus teórico, os conceitos de atividades e direcionadores de valor também são úteis, dentro desse mesmo recorte analítico, para identificar os direcionadores e as atividades de valor que lhes dão sustentação para atender as demandas de mercado da categoria de produtos considerada. O principal direcionador de diferenciação é o que PORTER (1989) chama de políticas arbitrárias. As escolhas de políticas arbitrárias envolvem escolhas em relação às seguintes questões: a) características, desempenho e configuração do produto; b) mix e variedade de produtos oferecidos; c) nível de serviço oferecido; d) índice de gastos com atividades de marketing; e) tempo de entrega; f) seleção dos compradores atendidos; g) canais de distribuição empregados; h) escolha da tecnologia de processo; i) seleção de matérias-primas e insumos; j) política de recursos humanos; e k) gestão da produção. Considerando-se que esta pesquisa trata de produtos alimentícios, é importante detalhar um pouco mais as dimensões de qualidade envolvidas com essa categoria de produtos. Nesse sentido, a literatura existente, de maneira geral, identifica dois grupos de indicadores ou sinais de qualidade em alimentos (sinais intrínsecos e extrínsecos de qualidade) que estão, de acordo com o consumidor, relacionados com a qualidade do produto, e podem ser verificados através dos sentidos antes do consumo - como expectativa de qualidade – ou depois do consumo – como experiência de qualidade (OUDE OPHUIS & VAN TRIJP, 1995); (POULSEN, 1996). Sinais intrínsecos de qualidade referem-se a atributos do produto que não podem ser alterados ou manipulados sem alterar as características físicas do produto em si (OLSON & JACOBY, 1972). Nos alimentos, alguns exemplos de sinais intrínsecos são: cor, textura, 12 aparência e consistência (STEENKAMP & VAN TRIJP, 2006). Os sinais extrínsecos de qualidade referem-se a atributos que não fazem parte da estrutura físico-química do produto, como, por exemplo, marca, publicidade, preço e o local de venda (OLSON & JACOBY, 1972); (GRUNERT, 2002). Existem também alguns atributos intrínsecos e extrínsecos que representam uma “qualidade de confiança”, particularidades ou características que não podem ser comprovados pelo consumidor nem antes, nem após a compra (o consumidor precisa confiar na informação transmitida na embalagem, por selos e certificados, ou por outras formas de comunicação) (DARBY, KARNI. 1973). Para assegurar o consumidor sobre a confiabilidade de atributos “de confiança”, são desenvolvidos certificados (SPERS e col., 1999). Porém, a percepção de qualidade de produtos “de confiança” depende de um processo de comunicação que envolve tanto a credibilidade da fonte, quanto a habilidade de percepção do consumidor (GRUNERT e col., 1997). 2.2 AS CADEIAS CURTAS DE PRODUÇÃO DE PEQUENAS FRUTAS O tamanho de uma cadeia agroalimentar é determinado pelo número de operadores (LUGLI, 2005). A autora define cadeia curtíssima como aquela em que o produtor e o consumidor entram em contato direto e cadeia curta aquela que apresenta um número reduzido de operadores, de dois a quatro. Nesta pesquisa, serão consideradas (e descritas) as cadeias curtas de produção de pequenas frutas, pois é nelas que se observam as condições para uma melhor remuneração dos produtores. Essas cadeias apresentam características peculiares no elo de produção (de acordo com o tipo de fruta considerado), mas compartilham uma ou mais etapas de processamento ou industrialização e logística (em particular as cadeias logísticas 3 e 4 descritas no item 2.2.3). 2.2.1 O segmento de produção de matérias-primas 13 2.2.1.1 Amora-preta A produção de amora-preta na região de Vacaria é realizada, preponderantemente, por agricultores familiares, com o uso de mão-de-obra familiar e contratação de trabalhadores eventuais no momento da colheita. Os pomares são relativamente pequenos, com área média em torno de 0,5 ha. Os cultivos são manejados com o mínimo uso de agroquímicos, sem agrotóxicos, apenas com aplicações eventuais de caldas alternativas (calda sulfocálcica e bordalesa), de fertilizantes minerais no solo ou via foliar. Alguns pomares estão em processo de certificação orgânica, visando a um mercado diferenciado (PAGOT, 2006). Também existe no município de Vacaria o cultivo de amora-preta em uma escala empresarial, na qual o manejo do cultivo e a colheita são realizados totalmente com mão-deobra contratada. A única empresa que apresenta essa característica comercializa tanto as suas frutas e como também as de produtores integrados no mercado interno e externo. A principal cultivar plantada na região é a Tupi, resultado do cruzamento (Uruguai x Comanche) realizado na EMBRAPA de Pelotas. Frutos grandes (7 a 9 gramas), coloração preta uniforme, sabor equilibrado entre acidez e açúcar, consistência firme, sementes pequenas, película resistente e aroma atrativo são suas características. Esse produto é recomendado para o consumo in natura por sua baixa acidez e tamanho (PAGOT, 2006). A planta dessa variedade é muito produtiva, chegando a produzir em condições ótimas 3,8 kg por planta/ano. O porte é ereto, com muitos espinhos (PAGOT, 2006). A colheita da amora-preta na região acontece a partir da metade do mês de novembro estendendo-se até início de janeiro do ano seguinte. A Tabela 1 detalha a situação do cultivo de amora nos principais municípios da região dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não publicados, 2010). 14 Tabela 1: Produção de amora-preta na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima da Serra (RS). Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores Campestre da Serra 100 1100 11 120 Ipê 11,6 72,0 6,2 37 Vacaria 100,0 800 8,0 122 Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010). 2.2.1.2 Framboesa O cultivo de framboesa na região dos Campos de Cima da Serra concentra-se principalmente no município de Vacaria. A introdução dessa espécie é mais recente que a da amora-preta e sua tecnologia de produção está em desenvolvimento (PAGOT, 2006). As áreas cultivadas na agricultura familiar, nessa região, são muito pequenas, ficando em torno de 0,2 ha por propriedade, principalmente devido à alta exigência de mão-de-obra para o manejo e colheita. A framboesa é a espécie das pequenas frutas cultivadas na região mais sensível a doenças fúngicas e mais exigente em cuidados no manejo fitossanitário, na colheita e póscolheita. Os pomares são manejados à base de caldas alternativas e outros produtos recomendados para a agricultura orgânica, já que não existem produtos fitossanitários registrados para essa espécie. Em alguns momentos do cultivo, os produtores enfrentam dificuldades para controlar algumas doenças e pragas em função da falta de opções de produtos registrados para ações curativas e, conforme as condições climáticas, a qualidade das frutas é prejudicada e as perdas são significativas (PAGOT, 2006). Existe no município de Vacaria, assim como para a amora-preta, o cultivo de framboesa em uma escala empresarial, no qual o manejo do cultivo e a colheita são realizados totalmente com mão-de-obra contratada, utilizando uma tecnologia de cultivo protegido, sob túneis plásticos, o que proporciona melhor qualidade de frutas devido à redução do molhamento das plantas. A cultivar mais plantada na região é a Heritage, de hábito reflorescente ou bífera, que produz após duas floradas distintas. Os frutos são de formato ligeiramente cônico, de tamanho 15 médio a pequeno (2,5 a 3,2 g), vermelhos brilhantes, atrativos, com polpa muito firme, de excelente qualidade e com facilidade de separação do receptáculo. É uma cultivar que pode ser considerada de dupla aptidão, ou seja, para o mercado in natura ou para processamento industrial (PAGOT, 2006). A colheita da framboesa na região acontece a partir da metade do mês de novembro estendendo-se até mês de abril do ano seguinte. A Tabela 2 detalha a situação do cultivo de framboesa nos principais municípios da região dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não publicados, 2010). Tabela 2: Produção de framboesa na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima da Serra (RS). Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores Campestre da Serra 0,3 1,2 4,0 1 Ipê 0,1 0,0 0 1 Vacaria 10,7 80 7,48 11 Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010). 2.2.1.3 Mirtilo O cultivo de mirtilo na região apresenta uma produção com área concentrada em investimentos empresariais, exigindo um maior investimento dos produtores para implantação dos pomares. A tecnologia de produção para essa espécie exige a implantação de um sistema de irrigação e preparo do solo diferenciado das demais pequenas frutas. Porém, nos últimos anos, alguns produtores familiares implantaram pequenas áreas buscando a diversificação dos cultivos, apostando nessa nova alternativa. Contudo, grande parte dos pomares localizados nas propriedades familiares foi implantada recentemente e ainda estão em fase de formação. Assim como a amora e a framboesa, não dispõem de agroquímicos registrados para o manejo fitossanitário, dificultando o controle de algumas doenças em condições climáticas adversas. Os produtores estão manejando os pomares com aplicações preventivas com 16 produtos alternativos (calda viçosa, bordalesa, ou sulfocálcica e outras) recomendados para cultivos orgânicos (PAGOT, 2006). Outra tecnologia utilizada nos pomares é a fertirrigação, que permite uma nutrição adequada através da irrigação localizada que é utilizada em grande parte dos pomares (PAGOT, 2006). Em relação às cultivares utilizadas nos cultivos, na região de Vacaria existe uma grande diversidade. Nos primeiros cultivos que aconteceram em Vacaria, no início da década de 90, predominaram as cultivares do grupo northern highbush, mais exigentes em relação ao frio, de colheita mais tardia; dentre essas cultivares, as principais são: bluecrop, duke, elliot e coville. Posteriormente, foram introduzidas as cultivares do grupo rabbiteye, com exigência em relação ao frio e colheita intermediária, destacando-se as cultivares bluegem, clímax, powderblue e, mais recentemente, brightwell e outras ainda em estudo de adaptação. As últimas cultivares introduzidas na região foram as do grupo southern highbush, com baixa exigência em relação ao frio e produção precoce, necessitando de sistema de controle antigeada, devido à floração ocorrer em períodos de risco de ocorrência desse fenômeno na região. A produção dessas cultivares mais precoces, apesar do aumento de custos para instalação do controle antigeada, parece compensar pela produção fora de época, resultando em melhores preços pela fruta. O sistema utilizado para evitar os danos pelas temperaturas baixas é a aspersão de água sobre as plantas em noites de ocorrência do fenômeno (PAGOT, 2006). A Tabela 3 detalha a situação do cultivo de mirtilo nos principais municípios produtores da região dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não publicados, 2010). Tabela 3: Produção de mirtilo na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima da Serra (RS). Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores Campestre da Serra 2,5 1,0 0,40 5 Ipê 1,8 1,3 0,72 1 Vacaria 16,4 60,0 5,77 12 Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010). 17 2.2.1.4 Morango A região dos Campos de Cima da Serra tornou-se o mais novo pólo de produção de morango, apresentando um crescimento expressivo da área de cultivo nos últimos quatro anos, já que produtores de áreas tradicionais de produção do Rio Grande do Sul, principalmente da Serra Gaúcha, atraídos pelas condições de solo, relevo e clima, migraram para a região. O sistema de produção predominante na região é de parceria com famílias de agricultores que moram nas áreas, em grande parte arrendadas, e têm participação de acordo com o rendimento do cultivo. As principais variedades cultivadas na região dos Campos de Cima da Serra são do grupo de dias neutros ou reflorescentes, aromas e albion, que não sofrem influência do fotoperíodo, o que permite estender a produção até períodos de desabastecimento do principal mercado brasileiro, que é o estado de São Paulo, onde predomina a demanda por frutas frescas. A tecnologia de produção utilizada conta com mulch (plástico preto cobrindo o solo) e túneis baixos (feitos com plásticos transparentes). O manejo convencional envolve o uso intensivo de agroquímicos. A cultura passa por experiências na área de certificação, com perspectivas de avançar na produção integrada, visando a reduzir e adequar o uso dos agroquímicos para ganhar mais confiança do consumidor. A Tabela 4 apresenta a situação do cultivo de morango nos principais municípios produtores da região dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não publicados, 2010). Tabela 4: Produção de morango na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima da Serra (RS) Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores Campestre da Serra 2,5 87,5 35,0 8 Ipê 55,0 2.750,0 50,0 55 Vacaria 23,0 1.104,0 48,0 43 Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010). 18 2.2.2 O segmento de processamento de pequenas frutas A seguir são detalhados os principais processos agroindustriais aplicados nas pequenas frutas no sentido de agregar qualidade e valor e/ou diversificar a linha de produtos – além das frutas in natura. 2.2.2.1 Processamento de frutas frescas resfriadas O resfriamento é a operação unitária na qual a temperatura do alimento é reduzida para entre -1ºC e 8ºC. É usada para reduzir as taxas de variações biológicas e microbiológicas e, assim, prolongar a vida de prateleira de alimentos frescos e processados. Isso causa mudanças mínimas nas características sensoriais e nas propriedades nutricionais dos alimentos e, como resultado, os alimentos resfriados são percebidos pelos consumidores como convenientes, fáceis de preparar, de alta qualidade, “saudáveis”, “naturais” e “frescos” (FELLOWS, 2006). No pólo de Vacaria, a colheita e preparação (ou processamento) de pequenas frutas frescas para mercado é muito semelhante para as principais espécies abordadas nesta pesquisa. A operação de colheita é realizada manualmente por agricultores familiares e/ou trabalhadores contratados eventualmente. As frutas podem ser colhidas diretamente nas embalagens em que serão comercializadas (cumbucas de 125g ou 250 g), com seleção no momento da colheita, posteriormente acerto de peso em balança eletrônica e revisão da qualidade em local adequado na propriedade, ou em packing house de empresas especializadas. Finalmente, as embalagens são fechadas, recebem etiquetas e são destinadas para a refrigeração, onde ficam armazenadas até a comercialização. Esse tipo de colheita e preparação das frutas é muito comum em propriedades familiares, principalmente na produção de framboesas e amoras, que são muito sensíveis à manipulação. Outra possibilidade é a colheita ser efetuada em embalagens plásticas de maior volume, que posteriormente serão classificadas, embaladas, pesadas e etiquetadas em packing house de empresas especializadas, armazenadas em câmaras frias até a comercialização. Essa segunda opção é mais utilizada em produção de mirtilo e morango. O fluxo pode ter outras variações de acordo com a espécie de fruta, a escala de produção, a infra-estrutura disponível e o destino no mercado. 19 2.2.2.2 Despolpa A transformação das frutas em polpas é um processo utilizado por agroindústrias para separar partes indesejáveis das frutas, como sementes, cascas e outras. Esse processo permite a redução do volume para armazenagem, proporciona um produto que pode ser comercializado como polpa natural congelada em embalagens pequenas para preparação de sucos, ou ainda em embalagens maiores para o uso de indústria de alimentos (FELLOWS, 2006). Essa polpa pode passar posteriormente por uma etapa de retirada de parte da água, reduzindo ainda mais o volume, concentrando o produto, formando a chamada polpa concentrada, que também é armazenada na forma de congelado para utilização na fabricação de muitos alimentos, como sorvetes, lácteos e outros. As frutas destinadas para essa finalidade podem ser provenientes do descarte na classificação de frutas destinadas ao mercado de frutas frescas, ou ainda, de pomares especializados na produção de frutas para a indústria. No caso das pequenas frutas do pólo de Vacaria, uma grande parte da produção de amora-preta e framboesa é destinada para essa finalidade. A produção de morango e demirtilo na região tem como principal objetivo o fornecimento de frutas frescas para o mercado, sendo as frutas desclassificadas destinadas para esse processamento. 2.2.2.3 Produção de sucos O processo de extração de sucos de pequenas frutas ainda é pouco explorado pelas agroindústrias no Brasil. Na região de Vacaria existem experiências de pequenas agroindústrias familiares na elaboração de suco de amora-preta e mirtilo através do método de arraste de vapor. Esse método é muito utilizado por agroindústrias familiares da serra gaúcha para extração de suco de uva. O método de arraste de vapor é efetuado em equipamento denominado “extrator de sucos”, que foi desenvolvido empiricamente, em 1988, por produtores e técnicos do Centro Ecológico do município de Ipê-RS e vem sendo aperfeiçoado no decorrer de sua utilização. Esse método é bastante simples e permite o envase do suco diretamente em embalagens de 20 vidro esterilizadas, possibilitando a armazenagem desse produto por um período longo sem o uso de conservantes artificiais. (VENTURIN, 2004). Um aspecto crítico em relação a esse método diz respeito ao controle de temperaturas durante o aquecimento dos frutos para evitar alterações no sabor e na cor do suco e ainda degradação de substâncias desejadas. Segundo RIZZON (1998), o aquecimento da uva ou do suco não deveria passar dos 85ºC - 90ºC, por um período superior a 15 segundos, para evitar um princípio de caramelização e consequente gosto de cozido conferido ao suco de uva. Venturin (2004) realizou diversos tratamentos com controle de temperatura e sem controle de temperatura na extração de suco de uva pelo método de arraste de vapor e concluiu: à temperatura mais baixa (60ºC) e acima de 85ºC, os sucos apresentam aromas desagradáveis e gosto chato, com pouca acidez; o tratamento a 80ºC apresentou os melhores resultados na análise sensorial. Nas experiências empíricas desenvolvidas na extração de suco de amora e mirtilo pelo método de arraste de vapor por agroindústrias do pólo de Vacaria, observa-se convergência ao que acontece com a uva. Nas pequenas frutas de cor vermelha mais viva, como o morango e a framboesa, as alterações de cor são mais perceptíveis quando utilizada a extração de suco pelo método de arraste de vapor. Porém, estudos mais detalhados ainda são necessários para o grupo de pequenas frutas em relação ao uso do método de extração por arraste de vapor. 2.2.2.4 Desidratação e Liofilização A desidratação (ou secagem) é definida como “a aplicação de calor sob condições controladas para remover, por evaporação, a maioria da água normalmente presente em alimento”. O objetivo principal da secagem é prolongar a vida de prateleira dos alimentos por meio da redução da atividade de água. Isso inibe o crescimento microbiano e a atividade enzimática, mas a temperatura de processamento costuma ser insuficiente para provocar sua inativação. Portanto, qualquer aumento no teor de umidade durante a estocagem, resultará em uma rápida deterioração. A redução no peso e no volume do alimento do alimento também diminui os custos de transporte e armazenagem (FELLOWS, 2006). Na liofilização obtém-se um efeito conservante semelhante pela redução da atividade da água sem o aquecimento do alimento e, como resultado, uma maior retenção das 21 características sensoriais. O primeiro estágio da liofilização é congelar o alimento em equipamento de congelamento convencional. O próximo estágio é remover a água durante a secagem subsequente e, assim, secar o alimento. A pressão do vapor d’água do alimento é mantida baixa com a água congelada e, quando o alimento é aquecido, o gelo sólido sublima diretamente para vapor sem se fundir. O vapor d’água é continuamente removido do alimento, mantendo-se a pressão na câmara do liofilizador abaixo da pressão de vapor na superfície do gelo pela remoção do vapor com uma bomba de vácuo e condensação em uma serpentina de refrigeração. O calor necessário para promover sublimação é conduzido através do alimento ou produzido por microondas. A liofilização é uma operação comercialmente importante e é usada para secar alimentos caros, que tenham aromas ou texturas delicadas (FELLOWS, 2006). A desidratação ou liofilização, retirada de água das pequenas frutas, pode ser feita através de processos diversos com maior ou menor intensidade, com maior ou menor custo, dependendo da finalidade do produto final. Entre os produtos resultantes de processos de desidratação e liofilização estão as passas, os flocos em diversas granulometrias, os pós (muito utilizados em mix de frutas vermelhas, com amora, morango e framboesa) e as frutas liofilizadas inteiras ou em pedaços. Algumas de suas aplicações são: barras de cereais, chocolates, cookies, cereais matinais, pães, cucas, recheios diversos, mistura de bolos, sorvetes, lácteos, flocos de arroz, snacks, chás e outros. 2.2.2.5 Produção de doces O processamento de doces a partir de pequenas frutas é muito difundido nos seus países de origem. Na região de Vacaria, com o crescimento da área de cultivo das pequenas frutas, a fabricação artesanal de geleias e chimias para consumo das famílias e para comercialização em feiras diretamente ao consumidor tem se intensificado. Os produtores da APPEFRUTAS já comercializam diretamente para agroindústrias desse setor há vários anos e, em breve, poderão contar com sua própria agroindústria, que está em fase de aquisição de equipamentos. 22 2.2.2.6 Congelamento O congelamento é a operação unitária na qual a temperatura de um alimento é reduzida abaixo de seu ponto de congelamento e uma proporção da água sofre uma mudança no seu estado, formando cristais de gelo. Quando são utilizados os procedimentos corretos de congelamento e estocagem, ocorrem apenas pequenas mudanças na qualidade nutricional ou sensorial. Alimentos congelados e resfriados têm uma imagem de alta qualidade e “frescor”, particularmente no setor de carnes, frutas e hortaliças, que superam as vendas de produtos enlatados ou desidratados. A distribuição de produtos congelados tem um preço relativamente alto devido à necessidade de manter uma temperatura baixa constante (FELLOWS, 2006). O congelamento de pequenas frutas é um processo muito utilizado pelos produtores para armazenar pequenas quantidades de frutas na propriedade para venda direta aos consumidores ou para agroindústrias diversas. Durante o período inicial da colheita, e também no final, quando a escala de produção não viabiliza o transporte, os produtores armazenam as frutas em freezers na propriedade. Porém, essa prática é utilizada preponderantemente por agroindústrias: a maior parte da produção de amora-preta e framboesa é congelada em túneis de congelamento a temperaturas de -20ºC e, depois de classificadas, embaladas e armazenadas em câmaras de congelamento, podem ser comercializadas ao longo do ano – e não somente na safra. Já a produção de mirtilo e morango é destinada em maior quantidade para o mercado de frutas frescas, sendo apenas as frutas descartadas para esse mercado destinadas ao congelamento. 2.2.3 Distribuição dos produtos A distribuição dos produtos derivados das pequenas frutas produzidas no pólo de Vacaria apresenta características diversas em relação ao tipo e fluxo dos produtos, desde as propriedades produtoras até os consumidores, em função da crescente diversificação dos cultivos. 23 A APPEFRUTAS, principal organização dos produtores da região, tem experimentado diversas possibilidades de comercialização, mas ainda fornece a maior parte da produção de pequenas frutas com baixo valor agregado para indústrias da região. Porém, a emergência crescente de canais de comercialização diferenciados, sofisticados, que demandam produtos com maior valor agregado, tem incrementado novas alternativas de mercado – ainda limitadas pelas deficiências de infra-estrutura para a classificação, resfriamento, congelamento, processamento, embalagem e armazenagem. As cadeias de produção existentes apresentam-se nas seguintes combinações: PRODUÇÃO DE PEQUENAS FRUTAS – PRODUTORES Frutas frescas e congeladas na propriedade AGROINDÚSTRIAS(1) Frutas congeladas Polpas Sucos Frutas desidratadas Geleias ATACADISTAS Distribuidores AGROINDÚSTRIAS(2) Sorveterias Confeitarias Latícinios Outras VAREJO CONSUMIDORES O fluxo de comercialização tem acontecido em diferentes cadeias detalhadas na sequência deste estudo: - Cadeia logística 1: Produtores comercializam frutas frescas diretamente para os consumidores. Os produtores embalam as frutas na propriedade e vendem na feira do produtor, que acontece todos os sábados, ou ainda, na Feira de Pequenas Frutas, Artesanato e Mel, que é realizada todos os anos no mês de dezembro em Vacaria. - Cadeia logística 2: Produtores comercializam frutas frescas para o varejo, que as comercializa para os consumidores. 24 - Cadeia logística 3: Produtores comercializam frutas frescas para atacadistas ou intermediários, que distribuem no varejo para fruteiras e redes de supermercados. As frutas que são embaladas nas propriedades em cumbucas são entregues a intermediários, que colocam selo com sua marca, ou são entregues a granel em caixas plásticas para intermediários que classificam, pesam, embalam e vendem a fruta para um distribuidor ou para o varejo. - Cadeia logística 4: Produtores comercializam frutas para agroindústrias (sorveterias, confeitarias e outras), que as comercializam para os consumidores. - Cadeia logística 5: Produtores comercializam frutas para agroindústrias, que fazem polpas, sucos e frutas desidratadas, que são distribuidas para o varejo, que as vende aos consumidores. - Cadeia logística 6: Produtores comercializam frutas para agroindústrias, que congelam, fazem polpas e frutas desidratadas e as comercializam para outras agroindústrias, que as processam e distribuem para o varejo, que vende aos consumidores. 25 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS O método utilizado nesta pesquisa é o de estudos de caso selecionado (YIN, 1994). O caso considerado nesta pesquisa é o polo de pequenas frutas da região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul. A questão que permite escolher essa abordagem metodológica é: “Como os agentes desse pólo de produção podem reconfigurar suas atividades, de maneira a desenvolver e cativar o mercado potencial para as frutas por eles produzidas?” Para tanto, é necessário, em um primeiro momento, tanto detalhar os diversos tipos de cadeias curtas de produção envolvidas no processamento de frutas frescas ou processadas nessa região, quanto identificar as características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas para, em um segundo momento, identificar as atividades de valor e os direcionadores de valor pertinentes para o atendimento dessas necessidades. Para o detalhamento dos diversos tipos cadeias curtas de produção envolvidas na oferta de frutas frescas ou processadas no município de Vacaria, foram utilizados dados secundários oriundos de publicações especializadas (relatórios técnicos de órgãos públicos e entidades privadas) e coletadas informações primárias com os próprios agentes produtivos de cada elo das cadeias produtivas. Essas informações foram apresentadas no item 2.2. A identificação das características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado para esses produtos foi realizada a partir de entrevistas semi-estruturadas com especialistas representantes de agroindústrias integrantes de cadeias curtas. O roteiro de entrevistas é detalhado no Anexo A. As agroindústrias, cujos representantes responderam a esta pesquisa, são de pequeno a médio porte e estão instaladas em grandes e médias cidades brasileiras, com características diversas em relação ao tipo de matéria-prima demandada e ao tipo de produto processado. Os entrevistados são tomadores de decisão, gerentes ou proprietários que estão envolvidos na administração das agroindústrias e possuem conhecimento sobre a matéria-prima utilizada e o processamento dos produtos. Nesse universo pesquisado, foi entrevistada a proprietária de uma confeitaria sofisticada, tradicional de Porto Alegre, que elabora diversos tipos de doces, utilizando as pequenas frutas para recheios e coberturas de bolos e tortas. Essa agroindústria fornece os doces para duas lojas em Porto Alegre e tem propostas para ampliação de seu negócio através de franquias em outras cidades. A segunda entrevistada foi a proprietária de 26 uma sorveteria do tipo frozen yogurt, sorvete cuja massa é preparada à base de leite e iogurte. As frutas podem ser utilizadas no preparo da massa do sorvete ou disponibilizadas na forma fresca ou congelada para cobertura. Essa entrevistada possui uma loja em Fortaleza/CE, que está em atividade, e pretende abrir mais duas lojas que estão em reforma e devem entrar em funcionamento em breve. O terceiro entrevistado é proprietário de uma padaria e confeitaria situada em Novo Hamburgo/ RS, que utiliza principalmente pequenas frutas em recheios de cucas. A quarta entrevistada é proprietária de uma empresa em Porto Alegre que fornece chocolates finos para eventos e para presentes, a principal utilização das frutas é na decoração dos doces. O quinto entrevistado é o proprietário de uma agroindústria de alimentos que fabrica geleias, situada em Itaquaquecetuba/SP, e utiliza frutas congeladas como matériaprima no processamento. Finalmente, para a identificação das atividades de valor e dos direcionadores pertinentes para o atendimento das necessidades de mercado estabelecidas no item anterior, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com especialistas setoriais. O roteiro de entrevistas é detalhado no Anexo B. Os especialistas setoriais que responderam a esta pesquisa são técnicos, produtores, empresários e pesquisadores que atuam no setor. Nesse universo pesquisado, foi entrevistado um produtor de pequenas frutas de Vacaria/RS, agricultor familiar, representante da APPEFRUTAS, importante organização que agrega mais de cem produtores de pequenas frutas na região de Vacaria. O segundo especialista é um empresário, sócio-proprietário de uma agroindústria localizada em Antônio Prado/RS, que é uma importante compradora e absorve um volume significativo de amora, morango e framboesa produzidos na região de Vacaria. Essa agroindústria fez importantes investimentos em infra-estrutura recentemente e processa frutas congeladas, polpas e suco concentrado. O terceiro especialista é técnico em agropecuária e estudante de agronomia da Universidade de Caxias do Sul – Campus de Vacaria, extensionista da EMATER-ASCAR de Vacaria, instituição que tem um importante trabalho no setor das pequenas frutas, e atua no apoio da organização dos produtores e assessoria técnica no manejo dos pomares de mirtilo, amora-preta, morango e framboesa. O quarto especialista é engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia, atua na área de manejo a tratos culturais em pequenas frutas como pesquisador da EMBRAPA Clima Temperado, importante centro de pesquisa em pequenas frutas, localizada em Pelotas/RS. O quinto especialista é engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia, atua na área de pesquisa de póscolheita de pequenas frutas na EPAMIG. O sexto especialista, engenheiro agrônomo, Mestre 27 em Desenvolvimento Rural, e atualmente exerce o cargo de Secretário Municipal da Agricultura e Meio Ambiente do município de Vacaria, secretaria essa, que tem um papel fundamental no apoio ao desenvolvimento do setor das pequenas frutas. 28 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 4.1 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS DESEJÁVEIS PELO MERCADO DE AGROINDÚSTRIAS INTEGRANTES DE CADEIAS CURTAS Todos os tomadores de decisão das agroindústrias entrevistados demonstraram interesse na aquisição de pequenas frutas para utilização em pratos agridoces, caldas para tortas, geleias, frozen yogurt, chocolataria e recheios de bolos e cucas. Em especial, predomina o interesse pela framboesa e pelo morango. Entretanto, a maioria demonstrou interesse por todas as pequenas frutas vermelhas (morango, framboesa, amora e mirtilo) e pelas frutas nativas, apesar de afirmarem não haver disponibilidade dessas no mercado. A fabricante de frozen, quando perguntada se tinha interesse em adquirir pequenas frutas afirmou: “Sim, pois a comercialização de frozen está crescendo assustadoramente no nordeste e a procura por essas frutas é cotidiana. Temos interesse em amora (blackberry), framboesa (raspberry), morango (strawberry), mirtilo (blueberry). Utilizamos frutas in natura”. A proprietária da confeitaria afirmou: “Sim, tenho muito interesse, utilizo em pratos agridoces, em caldas para tortas” e ainda demonstrou interesse em expor frutas frescas nos pontos de venda. Ela utiliza todas as frutas vermelhas em seus produtos e percebe um aumento de consumo de todas elas. Porém, em reação às nativas, ela afirma não haver disponibilidade. “Temos interesse nas seguintes frutas: amora, framboesa e morango para confecção de geleias” - representante da agroindústria de geleia. “Tenho interesse em amora, framboesa, physalis e cereja. Talvez mirtilo, pitanga e morango. Guavirova não conheço” - fabricante de chocolates. Já o proprietário da padaria respondeu que tem interesse por framboesa e outras frutas exóticas para recheio de cucas e até pretende preparar geleias sem uso de aditivos químicos para venda direta ao consumidor. 29 Sobre as características que seriam importantes em relação à qualidade na definição da compra de pequenas frutas frescas ou congeladas (por exemplo, cor, aroma, aparência geral, consistência, conteúdo nutricional preservado) e o(s) tipo(s) de apresentação desejado(s) (polpa, desidratada na forma de passa ou in natura), a maioria dos tomadores de decisão apontou a necessidade de conservação e manutenção da integridade das frutas inteiras como fator crítico. Quanto ao tipo de preferência, por frutas frescas, congeladas, desidratadas ou polpa, observou-se uma variação de acordo com a finalidade, com certa preferência por frutas frescas. “Prefiro comprar frutas frescas, dão mais consistência às receitas. No caso de morango, tenho preferido comprar frutas congeladas, pois as frescas têm apresentado problemas de qualidade – frutas boas por cima da cumbuca e frutas verdes e podres embaixo” - representante da confeitaria. Ela ainda demonstrou interesse por passas de pequenas frutas, mas não as encontra com facilidade no mercado. “O importante é que o fruto esteja preservado, com importância para a cor e consistência, poderiam ser em polpa ou fruta inteira congelada” - representante da fábrica de geleias. A representante da chocolataria disse: “Essas frutas de interesse deveriam ser fornecidas in natura. A necessidade é que elas tenham padronização em termos de tamanho. A fruta deve estar intacta, no ponto ideal de maturação, com cor, aroma, consistência e aparência preservada. Os physalis precisam ter tamanho grande com as palhas preservadas”. A representante da sorveria tipo frozen afirmou: “Seria importante a cor, a aparência em geral (ex: se a fruta está inteira e conservada), conteúdo nutricional e sabor”. O representante da padaria somente observou que prefere em forma de polpa ou fruta in natura. Em relação à frequência de pedidos e quantidades requeridas, variam conforme a agroindústria, sendo que as que trabalham preferentemente com frutas frescas fazem aquisições mais frequentes, variando entre 0,5 kg a 5 kg de mirtilo, de 4 kg a 20 kg de morango, e de 4 a 5 kg de amora e framboesa por semana. O representante da fábrica de geleia, que trabalha preferentemente com polpa ou frutas congeladas, compra em torno de 3.000 kg por mês, somando todas as frutas. 30 “A quantidade semanal utilizada depende muito da época, mas gira em torno de 200 a 500 unidades de physalis. Cereja também é em torno dessa quantidade. As frutas vermelhas (amora e framboesa) talvez precise um pouco menos. Tenho um doce com essas frutas que é bastante requisitado, mas como essas frutas estão disponíveis em período muito curto do ano, acaba que as pessoas desistem de solicitar esse modelo, pois raramente tem disponível. Mirtilo e pitanga ainda não utilizo. Morango utilizo em menor quantidade, devido à fragilidade e falta de padronização de tamanho” - representante da chocolataria. A proprietária de sorveteria tipo frozen afirmou: “A loja que está em funcionamento consome por semana: 4 kg de amora (blackberry), 4 kg de framboesa (raspberry), 20 kg de morango (strawberry) e 5 kg de mirtilo (blueberry)”. O representante da padaria afirma: “Atualmente usamos somente morango e gastamos em torno de 4 a 5 kg por semana; achamos que poderíamos oferecer mais opções se tivéssemos frutas diferentes para aumentar este consumo”. “Compro frutas a cada três semanas, principalmente frutas congeladas, se tiver frutas frescas, tenho preferência, mas aí a compra é semanal. Mirtilo compro 0,5 kg/semana, outras, como morango, amora, cereja e framboesa, compro 5 kg/semana” - representante da confeitaria. Considerando-se as preferências pelo tipo embalagem e peso líquido, os tomadores de decisão das agroindústrias entrevistadas registraram a seguinte opinião: as agroindústrias que trabalham com as frutas congeladas inteiras tomam suas decisões em relação a esse aspecto em função da diferente escala de produção e utilização. Por exemplo, o representante da agroindústria de geleia registrou sua preferência por embalagens grandes em sacos plásticos hermeticamente fechados com 30 kg. Já a representante da confeitaria prefere embalagens menores e diz o porquê: “Prefiro os sacos de 1 a 2 kg de frutas congeladas, embalagem que permite uma utilização mais adequada e, para frutas frescas, cumbucas de 125 g e 250 g, mas não tenho comprado”. “Atualmente compro physalis em caixas com 80 a 100 g de produto. As embalagens de framboesa e amora acredito que tenham um peso um pouco maior (150 a 200 g). A cereja normalmente compro a granel. Na verdade, a embalagem para mim não é determinante. O importante mesmo é a conservação da integridade das frutas. Todas elas são bastante frágeis. Dessa forma, acredito que embalagens maiores talvez possam acarretar prejuízo à integridade 31 da fruta. Pode ser que seja por essa razão que as empresas atualmente trabalhem com embalagens menores” - representante da chocolataria. Tanto a entrevistada da sorveteria tipo frozen quanto o representante da padaria preferem embalagens de 300 a 500 g, pois “seria um tamanho que serviria para fracionar os recheios” e “embalagens pequenas facilitam na arrumação e conservação das frutas”. Em relação à importância da marca e sua influência na comercialização, as opiniões foram unânimes: o mais importante é que a qualidade corresponda à expectativa dos clientes. “A marca se constrói com qualidade e com o tempo” - representante da confeitaria. “A importância da marca na comercialização diferencia na identificação do produto na hora da compra e no consumo (sabor), pois a vida útil dos mesmos varia de acordo com a originalidade do produto” - representante da sorveteria tipo frozen. A representante da confeitaria, quando entrevistada, disse que confia na marca, que já compra do mesmo fornecedor há mais de cinco anos, mas que já comprou mirtilo e outras frutas diretamente de um produtor e não notou diferença; ela ainda ressalta a importância da entrega frequente. Para o representante da agroindústria de geleia: “o importante é preço e qualidade”. Em relação à importância de sistemas de qualidade e certificação (APPCC na agroindústria, boas práticas de fabricação, certificação orgânica, produção integrada de frutas, certificação ISO séries 9000, 14000, 22000, ou sistema próprio), a maioria dos entrevistados apontou como mais importante a adoção de boas práticas de fabricação e, no caso de produtores de frutas frescas, a adoção de boas práticas agrícolas, com seus respectivos controles e rastreabilidade. “Alguma especificação de controle de qualidade dos produtos utilizados para o plantio e informações nutricionais seria de grande valia” - representante da sorveteria tipo frozen. A representante da chocolataria afirma: “Acredito que os sistemas de qualidades citados são todos importantes, visto que mostra a preocupação da empresa pela qualidade de seus produtos. Programas de boas práticas de fabricação são fundamentais. A utilização de método de produção com menos aditivos químicos seria interessante também. De qualquer forma, volto a salientar que o mais importante é a integridade da fruta e padronização”. 32 Já o entrevistado da confeitaria apresenta uma posição diferenciada: “A confiança do consumidor é na confeitaria, certificações não importam, o importante é qualidade do produto. Porém, para a agroindústria seria importante certificação”. “Acredito que, para iniciantes, o item boas práticas de fabricação seja o melhor dos sistemas. Não conheço os requisitos dos sistemas avançados de certificação, mas deve se ter o cuidado para não buscar o top em certificação, cujo nível para ser atendido exige um investimento muito alto, que pode gerar problemas de caixa para a empresa cujo retorno demora” - representante da padaria. “Tendo em vista serem pequeno produtores, as boas práticas agrícolas atenderiam a empresa, com seus respectivos controles e rastreabilidade” - representante da indústria de geleias. Sobre os sistemas de controle de origem (selo de indicação geográfica), se agregariam valor aos produtos aos olhos dos clientes, sob ponto de vista comercial, as respostas foram distintas e particulares. A representante da chocolataria tem a seguinte visão: “No meu caso, não vejo tanta importância. Acredito que esses selos são mais importantes em produtos de maior prazo de validade, no caso de vinhos, por exemplo, ou até mesmo no setor cárneo”. “No ponto de vista comercial, produção em grande quantidade, pouco agrega, a menos que fosse certificação orgânica” - representante da fábrica de geleias. Já o representante da padaria diz: “Isto sim é uma pequena prática que pode dar um bom resultado”. Em relação à importância da identificação dos produtos oriundos da agricultura familiar, os tomadores de decisão tiveram opiniões divergentes. A representante da sorveteria tipo frozen demonstra desconhecimento sobre essa possibilidade, afirmando simplesmente: “Não conheço”. “Não vejo grandes vantagens nesse tipo de diferencial para essa linha de produtos” representante da chocolataria. O entrevistado da padaria tem uma posição mais positiva sobre a identificação de produtos oriundos da agricultura familiar, afirmando: “Com certeza isso agrega quando o sistema de produção tem os controles acima citados” (referindo-se aos outros sistemas de inocuidade dos alimentos). 33 “Como nossa produção é em grande quantidade, não poderíamos informar, a menos se tivéssemos garantia do recebimento total de matéria-prima” - representante agroindústria de geleia. A representante da confeitaria tem alguma preocupação e afirma: “Produtos da agricultura familiar, falta de higiene pode ser problema. Seria importante ter uma organização sólida, tipo cooperativa, por trás dos produtores.” O interesse da divulgação setorial de propriedades funcionais/nutricionais das pequenas frutas é evidente: todos os entrevistados afirmaram que essas características interessam e influenciariam muito os clientes, devendo, portanto, ser mais bem divulgadas junto aos consumidores finais. Dessa maneira, seria provável um aumento do consumo e de agregação de valor ao produto. A representante da chocolataria diz: “Acredito que esse tipo de divulgação seria interessante. Essas frutas são ricas em nutrientes e possíveis atividades funcionais. Os clientes gostam desse tipo de informação”. O representante da agroindústria de geleias foi menos enfático, mas afirma: “Seria interessante”. A representante da confeitaria disse: “Sobre as propriedades funcionais e nutracêuticas, existe potencial. Deveriam ser mais divulgadas junto aos consumidores finais”. Sobre o preço atual desse grupo de frutas, as opiniões foram diversas. A representante da sorveteria tipo frozen, localizada em Fortaleza, afirmou: “O acesso a essas frutas aqui no nordeste é muito difícil e, quando conseguimos comprá-las, na maioria das vezes o preço é inviável para utilizarmos em nossa loja. Mas como o diferencial conta muitos pontos para o ponto de venda, temos que abrir exceções e adquirir tais produtos”. “Essas frutas têm um custo bastante elevado. Nos doces que utilizo frutas in natura, o custo do produto se torna bastante significativo. Daí a exigência da qualidade das mesmas, pois, para se tornar viável sua utilização, o desperdício deve ser bastante reduzido. Acredito que o surgimento de novas empresas nesse setor contribuiría para a maior concorrência e, possivelmente, tornaria a utilização do produto mais viável” - representante da chocolataria. “Não acho que o preço é o único fator que deve ser levado em consideração. O preço sempre é resultado de uma planilha de custo e margem de lucro, isso deve ser balanceado para conseguir manter as vendas, a qualidade e a produção” - representante da padaria. 34 O representante da agroindústria de geleia, que possui a maior escala de produção das empresas entrevistadas, comenta: “O preço destas frutas está entre 10 a 15% do preço do morango (fruta mais comercial)”. A representante da confeitaria, apesar de trabalhar com consumidores mais sofisticados, afirma: “Considero os preços elevados”. 4.2 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE VALOR E OS DIRECIONADORES DE VALOR PERTINENTES PARA O ATENDIMENTO DESSAS NECESSIDADES Como identificado no item anterior, é evidente o interesse de processamento de pequenas frutas pelos tomadores de decisão das agroindústrias de cadeias curtas. Porém, o atendimento das necessidades levantadas exige, tanto o desenvolvimento de ações integradas pelos atores envolvidos na cadeia produtiva das pequenas frutas do pólo de Vacaria, quanto demanda investimentos em infra-estrutura, capacitação dos atores e estruturação logística do setor. De fato, seria necessário investir no fortalecimento desse pólo de produção de pequenas frutas emergente em Vacaria, mobilizando as instituições públicas e privadas envolvidas no apoio aos produtores, mobilizando recursos para financiamento das ações necessárias. Conhecer melhor o cenário e as relações produtivas e comerciais que interagem nessas cadeias é fundamental. As considerações dos especialistas do setor são muito importantes para a definição e o planejamento dessas ações, por isso, na sequência do trabalho, apresentaremos as considerações apresentadas por especialistas que atuam no setor das pequenas frutas. Sobre as adequações importantes para manter as caraterísticas intrínsecas (cor, textura, aparência e consistência) das pequenas frutas, os especialistas fizeram as seguintes considerações: “Primeiro precisamos de um acompanhamento correto na lavoura desde a adubação, poda, tratamentos, até a colheita. A colheita deve ser feita em períodos do dia menos quentes, evitando assim que o produto na caixa sofra um processo de aquecimento e, com isso, perca qualidade. O ponto de maturação também é muito importante que seja observado na hora da colheita. O acondicionamento da fruta, bem como a temperatura de conservação,também 35 fazem parte do processo onde se pode ter um produto de qualidade” - representante da agroindústria de congeladas, polpas e sucos. O representante da APPEFRUTAS destacou que o manejo da fertilidade através do suprimento das necessidades nutricionais da planta via fertirrigação (considerando o suporte das análises foliares e do solo onde está estabelecida a cultura) é importante para produzir frutas de qualidade. Para esse mesmo especialista, o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de novas cultivares, uso de mão-de-obra qualificada e utilização correta de irrigação, representam alternativas potencialmente importantes para colheita de frutas com um elevado padrão e qualidade. O representante da EMBRAPA Clima Temperado destacou os cuidados na précolheita, na prevenção de doenças; cuidados na colheita, como período mais adequado para a operação; treinamento dos colhedores; caixas adequadas para colheita; e manipulação mínima das frutas como fatores muito importantes para preservar qualidade das pequenas frutas. O representante da EPAMIG destacou que, para mercado de fruta fresca: “Primeiramente devemos considerar que estas frutas apresentam uma taxa respiratória muito alta, além de serem muito delicadas do ponto vista morfológico do fruto, o que requer dos colhedores treinamento e cuidados na higiene, principalmente das mãos. Também em relação ao treinamento dos catadores, deve-se deixar bem claro que os mesmos deverão descartar em outro recipiente as frutas de descarte (frutas podres, machucadas e mal-formadas) e não colocá-las junto das sadias, bem como evitar que vão junto na embalagens outros materiais estranhos, tais como galhos, restos de folhas e também resíduo de terra, e que possam causar ferimento nos frutos. Outro ponto a ser destacado na manutenção da qualidade das mesmas, seria a colheita diretamente nas embalagens, evitando o excesso de manipulação do fruto. Também, sob meu ponto de vista, estas frutas, após serem retiradas das plantas e serem colocadas nas embalagens, deverão ser dispostas, as embalagens, imediatamente em um isopor com gelo para iniciar o pré-resfriamento ainda no campo. Em casos onde o produtor tenha acesso a túneis de pré-resfriamento, deverá também utilizá-lo antes da manipulação final do produto, ou seja, da homogeneização do peso, o qual deverá também ser realizado, de preferência, em ambiente climatizado com temperatura em torno de 5ºC a 7ºC; portanto, a existência de uma cadeia de frio é indispensável para manutenção da integridade da parede celular do fruto, bem como a manutenção de suas características de sólidos solúveis (SS) e acidez titulável (AT), bem como os composto antioxidantes que se deterioram em função das 36 condições de temperatura onde ocorra aumento de respiração, pois, dependendo da espécie a respiração, poderá triplicar a cada aumento de 5ºC”. “A qualidade começa desde a implantação do pomar, seguindo as recomendações técnicas na escolha do local para plantio, evitando terrenos mal drenados e sujeitos a ventos fortes. A escolha da cultivar adaptada à região, o preparo do solo recomendado para cada espécie, o plantio adequado, o uso de espaçamento adequado, cuidados no manejo de doenças, pragas e fertilização, todas essas ações e práticas integradas podem resultar na produção de frutas de qualidade. No entanto, o produtor tem que ter especial atenção no momento da colheita e pós-colheita, seguindo as recomendações preconizadas pela assistência técnica no que se refere às boas práticas agrícolas para manter a qualidade obtida na produção” representante da EMATER/RS-ASCAR. “É necessário um correto manejo da fruta na etapa da produção, especialmente no que se refere à colheita na época adequada ao fim que se destina. Ou seja, caso a fruta seja comercializada in natura, deverá ser colhida em um ponto de maturação que, mesmo após todo o período necessário à classificação e logística, chegue até o consumidor com boa qualidade. Além do ponto adequado de colheita, tem-se também os cuidados necessários durante a colheita e classificação para não danificar a fruta. Por fim, é muito importante a etapa de logística, no sentido de transportar a fruta em condições adequadas e o mais rápido possível, a fim de evitar problemas relativos à sua perecibilidade - representante da SAMA. Em relação às atividades de marketing, a maioria dos entrevistados reconhece a importância desse tema para que o consumidor conheça o produto e, consequentemente, aumente o consumo das pequenas frutas. O representante da APPEFRUTAS relata que a associação desenvolveu algumas atividades de marketing por meio de site na internet, participação em feiras, eventos, jornais e revistas. Como essa associação ainda não dispõe de uma infra-estrutura de produção adequada (para permitir o armazenamento e industrialização de pequenas frutas), existe cautela para não incentivar a demanda além de suas capacidades de oferta. Mesmo assim, o representante dessa organização considera que o incremento das iniciativas de comunicação e promoção das pequenas frutas é necessário para o desenvolvimento de segmentos de mercados capazes de valorizar e demandar esses produtos de forma continuada. 37 O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos, quando perguntado se realiza atividades de marketing, afirma: “Muito pouco, normalmente se faz degustações em pontos de vendas e feiras, e se divulga o mix de produtos através de folders e cartazes”. O representante da EMBRAPA considera que não são realizadas campanhas de estímulo ao consumo. Em relação à importância do marketing, afirma: “O marketing é fundamental para que o consumidor conheça - perca o medo do produto - e, consequentemente, aumente o consumo”. “Não se evidenciou até o momento no mercado nenhuma atividade de conscientização do consumidor em relação às propriedades nutracêuticas e funcionais das frutas vermelhas, a não ser em programas pontuais da TV, ou em publicações de revistas especializadas na área agrícola e de saúde. Sob meu ponto de vista, o apelo pelas frutas vermelhas está se dando principalmente quando vamos a supermercado e vemos, nas gôndolas de doces, as geleias de morango, de amora-preta, de framboesa e de mirtilo, bem como, em algumas boutiques sofisticadas de doces, as geleias de physalis. Outro setor no qual já se observa a utilização da frutas vermelhas é o setor de medicamentos, com a utilização das mesmas como suplementos vitamínicos, e também no setor de alimentos, em sorvetes, biscoitos recheados e, até mesmo, sachê de chás de frutas vermelhas, barras de cereais. Uma sugestão de marketing para estas frutas, seria apresentar as mesmas para o consumidor, ou seja, realizar campanhas em supermercados, montando bancas de degustação de framboesa, amora, mirtilo, physalis e outras. Também promover o marketing em programas de TV, novelas e programas de culinária” - representante EPAMIG. O representante da EMATER/RS-ASCAR afirma que já existem algumas iniciativas na área de marketing, no entanto, com abrangência limitada. Com uma visibilidade regional, um exemplo é a realização da Feira de Pequenas Frutas, que acontece anualmente em Vacaria, e promove a divulgação das pequenas frutas através da comercialização, oficinas de culinária, exposição e comercialização de frutas frescas e produtos processados. Também já foram realizadas matérias em revistas especializadas e programas de televisão de alcance nacional. “As pequenas frutas são saudáveis, saborosas, aromáticas, coloridas, por si só possuem qualidades suficientes para atraírem os consumidores. Me parece que falta disponibilizar mais essas frutas em expositores estratégicos nos pontos de venda, com adequada distribuição e fornecimento contínuo EMATER/RS-ASCAR). para aproximá-las dos consumidores” - representante da 38 O representante da SAMA afirma que se realizam feiras e eventos voltados à divulgação das pequenas frutas no cenário regional. Tem-se incentivado a Associação de Produtores de Pequenas Frutas a divulgar seu trabalho e produtos na internet. Em relação às adequações necessárias nos aspectos logísticos, gargalos e necessidade de investimentos, os especialistas fizeram as seguintes considerações: O representante da APPEFRUTAS considera que hoje não existem muitas dificuldades logísticas, pois a maioria da fruta é comercializada em empresas da região, sem maiores preocupações com transporte ou investimento em logística, infra-estrutura para classificação, processamento, refrigeração e congelamento das frutas. Para a comercialização de frutas in natura, foi feita uma parceria com empresas maiores, que já dispõem de transporte refrigerado adequado e rotas para distribuição das frutas. Porém, esse especialista reconhece o desafio potencial do sistema logístico com o desenvolvimento do negócio: “A partir do momento que ampliarmos nosso mercado e fizermos os investimentos necessários em transporte próprio da empresa, adquirindo caminhões e furgões refrigerados, será necessário fazer um estudo detalhado de todos os principais clientes, suas necessidades semanais ou quinzenais de frutas, sua localização e formarmos assim uma rede de distribuição, disponibilizando nossos produtos no maior número de clientes possível, sempre atentos para manter frequência e qualidade na distribuição dos produtos. Fazer parcerias com distribuidores em outras regiões também será uma necessidade para explorarmos um mercado mais distante. Dessa forma, teremos produtos com preços mais competitivos, atingindo um maior público. Com essas parcerias na distribuição e representantes localizados em pontos estratégicos, mesmo estando localizados no sul do Brasil, podemos explorar mercados como o litoral nordestino, com grande potencial turístico, que considero um público-alvo.” O representante da EMBRAPA considera a ausência de uma cadeia integra de frio, a existência de estradas mal conservadas e o uso de caminhões impróprios para o transporte de frutas como gargalos. Alguns investimentos citados como necessários envolvem os investimentos públicos na adequação da malha viária e de aeroportos para o transporte de frutas. O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos considera que maiores gargalos ainda são o congelamento e a armazenagem durante o período de entressafra. A necessidade de investimento nessa etapa é constante em virtude do aumento da demanda: “Este ano mesmo, estamos investindo em um túnel de congelamento contínuo para melhorar ainda mais a qualidade do produto”. 39 O representante da EPAMIG considera que os gargalos são a carência de infraestrutura do setor de produção e do setor de comercialização e distribuição, pois eles estão adequados para outros tipos de frutas. Quanto às adequações necessárias, afirma: “Existe necessidade de investimentos e adequações no setor de distribuição das frutas, setor aeroportuário e setor marítimo (pensando principalmente em exportação), estradas de escoamento de produção, investimento por parte dos produtores em veículos climatizados para distribuição da frutas, investimentos por parte do setor varejista na cadeia de frio, bem como em câmaras frigoríficas e gôndolas refrigeradas”. O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que houve avanços importantes na questão logística, no que diz respeito ao transporte de pequenas frutas para as agroindústrias da região de Vacaria, mas ainda existem melhorias em relação ao transporte adequado, que, mesmo para a fruta destinada para a indústria, deveria ser refrigerado. Em relação à logística, para a comercialização de frutas frescas existem estruturas privadas especializadas na região, contudo, têm dificuldades para absorver o potencial de produção dos produtores da APPEFRUTAS. “É necessário estruturar o sistema de armazenagem para, posteriormente e/ou concomitantemente, organizar um sistema de logística que possibilite ao nosso público-alvo, os agricultores familiares de Vacaria, um maior e melhor alcance aos mercados. Com isso, o gargalo, a capacidade de armazenamento, está sendo contemplado com um projeto da SAMA. Iniciou-se também um trabalho no setor de logística, mas que deverá ter mais investimentos” representante da SAMA. Quanto aos canais de distribuição empregados, o representante da APPEFRUTAS afirma que, atualmente, a produção está sendo entregue a empresas locais, relativamente próximas à maioria das propriedades, e está funcionando bem. A partir do momento que a associação passar a processar os produtos e buscar mercados novos em outras regiões, sem dúvida precisará trabalhar muito nessa questão de distribuição. O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos diz que a empresa vende diretamente para mercados na região sul, para distribuidores em boa parte do país, e também para outras indústrias do mesmo segmento de alimentação. Ressalta que sempre tem o que melhorar, e a tendência para reduzir custos seria conseguir vender direto para as lanchonetes, restaurantes, etc., mas “se emperra na logística de distribuição”. 40 “Os canais de distribuição empregados são aqueles que o produtor procura para vender seu produto, muitas vezes ficando refém de determinados intermediários que compram frutas para revender para outros mercados, geralmente atacadistas especializados. Quanto à adequação da distribuição, uma das saídas seria associação ou cooperativas onde, com um volume maior de frutas dos mesmos, poderiam encontrar mercados que valorizem mais o produto” - representante EPAMIG. O representante da EMATER/RS-ASCAR afirma que existem experiências constituídas na região de Vacaria que possuem canais de distribuições adequados e abrangentes, principalmente para o morango, que os produtores de pequenas frutas da APPEFRUTAS ainda dependem desse canais para colocar suas frutas frescas no mercado, no entanto, o volume comercializado ainda é pequeno considerando o potencial existente. “São necessários investimentos em estruturas próprias de classificação, resfriamento e processamento, para construir, posteriormente, parcerias na distribuição dos produtos que permitam uma maior participação dos produtores na comercialização com maior remuneração”. “Para o público atendido pela SAMA, os canais de comercialização atuais, na sua maior parte, são um tanto quanto convencionais. Buscamos, contudo, através de um trabalho mais ligado à divulgação via internet, atingir novos mercados” - representante da SAMA. Em relação aos recursos humanos, para o elo de processamento e produção, foi ressaltada pelo representante da EMBRAPA a importância do treinamento de pessoal para o desenvolvimento e produção de novos produtos. “Já se foi o tempo em que apenas a tecnologia era suficiente para um sistema produtivo eficiente. Hoje é preciso muito mais. Hoje, para ter um produto com qualidade diferenciada, produtividade e competitividade, é preciso investir muito em recursos humanos. A partir do momento que trabalharmos mais diretamente com processamento de pequenas frutas, será fundamental dar o treinamento adequado para nossos funcionários, bem como condições de higiene, segurança, remuneração e benefícios para desenvolvimento adequado de suas atividades, adequando as necessidades de nossa empresa” - representante da APPEFRUTAS. O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos considera que a mãode-obra está cada vez mais escassa, “tanto na lavoura como para a indústria”. Ele acredita que 41 a alternativa é mecanizar o máximo possível e incentivar o plantio nas pequenas propriedades, onde o trabalho é familiar e, com isso, se consegue uma renda satisfatória para as famílias. O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que a disponibilidade de mão-deobra é dos principais limitantes do crescimento do cultivo de pequenas frutas, pois são cultivos que exigem intensivo uso de trabalho humano. A questão da capacitação dos recursos humanos é o primeiro passo para se ter sucesso em qualquer atividade. O mesmo afirma: “já foram desenvolvidas muitas atividades de formação dos recursos humanos na região de Vacaria, principalmente como os produtores da APPEFRUTAS, podemos citar capacitação em manejo dos pomares, boas práticas agrícolas e gestão da propriedade, no entanto, muitas atividades ainda são necessárias para melhorarmos a qualidade da produção.” “É substancialmente necessário e importante qualificar mão-de-obra para atender a essa etapa” - representante da SAMA. Em relação à gestão da produção, o representante da EMBRAPA aponta que apenas os grandes produtores possuem uma noção de gestão, os pequenos não fazem gestão da produção. “Sempre buscamos junto às entidades parceiras cursos de capacitação para melhorar e aprimorar conhecimentos. Mas, sem dúvida, alguns produtores têm sim dificuldade na gestão da produção, principalmente quando não têm essa atividade como carro-chefe dentro da propriedade” - representante da APPEFRUTAS. O entrevistado da agroindústria de congelados, polpas e sucos acredita que a maior dificuldade ainda é com relação à conscientização do produtor de que é preciso produzir alimentos saudáveis, com uso adequado de pesticidas e que, para se obter lucro, mesmo em uma propriedade agrícola, se precisa ter uma organização, com planilhas de gastos, caderno de campo e procedimentos corretos. “Estamos implementando uma ferramenta de apoio à gestão nas propriedades dos produtores associados da APPEFRUTAS: é o caderno de campo, que conta com tabelas onde são registrados os insumos utilizados, práticas efetuadas nos pomares, produção colhida, o que vai permitir uma análise simples de despesas e receitas” - representante da EMATER/RSASCAR. “Existe a necessidade de se avançar no sentido de qualificar o produtor para empregar um sistema de boas práticas de produção” - representante da SAMA. 42 Em relação à qualidade das matérias-primas e insumos (para produção e processamento), o representante da EMBRAPA afirma que a matéria-prima ainda está aquém do ideal, sendo utilizadas frutas com pouca qualidade, o que deprecia o produto final. O da APPEFRUTAS, afirma que em relação aos insumos que existe uma dificuldade, principalmente quando se trata da aquisição de embalagens para frutas frescas; além da má qualidade, algumas vezes existe oferta insuficiente desses produtos próximo à safra, quando é feita a aquisição. O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos afirma que a empresa já está trabalhando nisso, e afirma ter certeza que esse vai ser o diferencial em um futuro bem próximo. Ele percebe que o consumidor está cada vez mais exigente e mais preocupado com a saúde e, com isso, observa mais o tipo de alimento que consome: “acredito que uma alternativa de produção, seria através de produtos orgânicos ou, no mínimo, através de produção integrada, com acompanhamento técnico, observando as regras, tanto na lavoura, como na indústria”. “Não importa se é processamento ou em distribuição em fresco, a colheita deverá obedecer todos os parâmetros que permitam obtenção de uma fruto com qualidade. Em relação aos agroquímicos utilizados na produção de pequenas frutas, a não ser para o morango, não existe nada registrado, portanto, não deverão ser utilizados, a não ser para ao morango e, mesmo assim, dentro dos limites e carências permitidos” - representante da EPAMIG. O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que a matéria-prima produzida para o processamento, pelo menos pelos produtores da APPEFRUTAS, é de boa qualidade, principalmente no que se refere à isenção de resíduos de agroquímicos, pois os produtores não utilizam agrotóxico na produção da maioria das espécies, já que não existem produtos registrados, com exceção do morango. O mesmo complementa: “sempre tem o que melhorar, principalmente no que se refere à colheita, pós-colheita e transporte, são momentos fundamentais para manter a qualidade obtida na produção, sem contaminantes microbiológicos e sujidades”. O representante da SAMA acredita que se deve trabalhar no sentido de buscar uma produção mais limpa, ou seja, ecológica, orgânica ou integrada; é necessário tecnologia de produção para que o produtor possa conduzir sua atividade com tranquilidade e tenha à mão a possibilidade de resolver facilmente problemas de ordem sanitária. 43 Em relação aos principais aspectos técnicos (atividades na produção e processamento) pertinentes para atender às exigências da demanda, o representante da APPERFRUTAS considera que o principal aspecto técnico está ligado diretamente à atividade de produção. A produção de uma matéria-prima de qualidade diferenciada, frutas com sabor, de consistência firme, produzidas muitas vezes de forma orgânica ou com o mínimo de uso de agrotóxicos, é uma condição básica para se processar um produto de qualidade diferenciada, até mesmo superando as exigências da demanda. O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos afirma que o mais importante é ter um produto padronizado, passar credibilidade ao comprador e ao consumidor final. “A principal exigência da demanda de pequenas frutas é ter um produto isento de resíduos de agrotóxicos e de contaminações microbiológicas que poderão atingir a saúde do consumidor, sendo este ponto o mais importante para assegurar ao consumidor um produto inócuo” - representante da EPAMIG. O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que os aspectos técnicos necessários por parte da produção estão relacionados a todo o processo produtivo adequado dentro da tecnologia recomendada para cada espécie, que resulte em uma fruta inteira, sem defeitos, sem danos por doenças ou pragas, bonita e saborosa, mas ainda, com a mesma importância, estão as boas práticas agrícolas na produção e as boas práticas de fabricação no processamento. O representante da SAMA considera importante disponibilizar um padrão de tecnologias ecológicas/orgânicas certificadas, em que, ao mesmo tempo em que o produtor produz um alimento mais saudável, também possa receber o devido certificado. Sobre a importância dos sistemas de qualidade (rastreabilidade, indicação geográfica, APPCC, boas práticas de fabricação, certificação orgânica, produção integrada de frutas, Certificação ISO ou outro sistema próprio) para valorizar ou diferenciar o sistema produtivo: “É fundamental para que se valorize o produto regional, que dê ao consumidor segurança para o consumo de um produto seguro, sem contaminantes químicos ou biológicos. Desta forma, certificando sua produção, o produtor terá assegurada a venda de seu produto e a valorização deste através do ganho econômico” - representante da EMBRAPA. “Acho importantíssimo, principalmente porque grande parte de nossos produtores são agricultores familiares que, na sua grande maioria, já seguem os padrões exigidos por esses 44 sistemas de qualidade, faltando apenas um trabalho de regulamentação dos mesmos. Isso sem dúvida agrega valor ao produto e até mesmo abre alguns nichos específicos de mercado” representante da APPEFRUTAS. O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos afirma que os sistemas de qualidade são fundamentais para o crescimento da empresa e para a manutenção da produção no campo. Aponta que, no mínimo, deveriam implementar um sistema de produção integrada, com boas práticas agrícolas e boas práticas de fabricação na indústria. Mesmo que a adoção desses sistemas de qualidade “não reflita ainda em preço no mercado interno, com certeza é uma forma de se manter no mercado”. “São programas que visam certificar o produto e o processo, assegurando ao consumidor final uma maior segurança na aquisição do produto. Portanto, são fundamentais para garantir o mercado” - representante da EPAMIG. O representante da EMATER/RS-ASCAR considera importantes os sistemas de certificações, mas pondera: “Os sistemas de qualidade devem ser implementados de acordo com as características das produções agrícolas, possibilidades econômicas dos produtores e condições estruturais das propriedades, seguindo etapas de acordo com o mercado alvo. Podemos citar como exemplo os produtores da APPEFRUTAS, muitos já estão utilizando boas práticas agrícolas, alguns já possuem a certificação orgânica, ou estão em processo de transição, e outros ainda não se adequaram a nenhum sistema”. O extensionista da EMATER acrescenta: “Quanto aos sistemas de qualidades para as agroindústrias, o BPF é imprescindível, os demais dependem das condições econômicas, estruturais e mercados a serem atingidos”. “Os sistemas de certificação são fundamentais no avanço da valorização do trabalho do agricultor, da qualidade do produto e para a obtenção de um preço diferenciado. Contudo, ainda deve-se avançar muito no registro de um maior número de produtos para serem utilizados nas pequenas frutas. É difícil buscar um selo de qualidade quando não se tem base de sustentação para isso” - representante da SAMA. Sobre a evolução do consumo de pequenas frutas e a tendência em relação aos produtos processados dessas frutas, o representante da EMBRAPA considera que, para o morango, há uma demanda reprimida, uma vez que há uma sombra em relação à utilização de agrotóxicos. As demais frutas têm consumo reprimido pelo desconhecimento do consumidor em relação ao seu sabor e à sua qualidade nutricional. Além disso, os preços praticados 45 atualmente impedem que haja maior consumo de classes sociais com poder aquisitivo mais modesto. “Acredito que o consumo de pequenas frutas em poucos anos vai se multiplicar muitas vezes. Afirmo isso, pois mesmo aqui em Vacaria, onde o cultivo de pequenas frutas começou já na década de 90, a maior parte da população ainda não conhece todas as pequenas frutas. Uma minoria até já tornou hábito consumir pequenas frutas, outros já ouviram falar das propriedades funcionais das mesmas, também das propriedades antioxidantes e anticancerígenas, embora nunca tenham consumido. Isso ocorre porque o mercado brasileiro foi pouco explorado até então. Como a oferta de pequenas frutas até poucos anos era muito pequena, basicamente toda ela tinha mercado garantido no exterior, conseguindo preços altos. Agora, com o aumento da produção, a redução e a estabilização do preço, está ficando acessível a praticamente todas as classes sociais, notamos um aumento no consumo, não só no mercado in natura, como também nas indústrias. Falta ainda muito trabalho de divulgação a nível nacional, mas, sem dúvida, o consumo de pequenas frutas é uma tendência e, assim como é em outros países, aqui também será muito consumida e valorizada. Quanto aos produtos processados, vejo um futuro promissor. O produtor consegue agregar valor ao seu produto e o consumidor poderá desfrutar das propriedades dessas frutas na forma de sucos, barras de cereais, iogurte, passas, chocolates, sorvetes, polpas, chás, ou muitos outros artigos que ainda serão lançados, com a vantagem de ter disponível durante qualquer época do ano para aquisição” - representante da APPEFRUTAS. O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos percebe que, entre as pequenas frutas, o morango é que se destaca, pois a empresa importa boa parte do que é processado em virtude da oferta insuficiente dessa fruta. A empresa está iniciando projetos com o objetivo de comprar somente o produto nacional nos próximos anos. Ainda afirma que a amora tem o seu mercado limitado ainda, mas que também tem sua representatividade no mix de produtos. A framboesa e o mirtilo ainda precisam de uma maior divulgação para atingir um volume satisfatório de comercialização. “A pequena fruta mais consumida no Brasil é o morango devido também a um marketing muito grande realizado em cima do mesmo, as outras precisam ser melhor divulgadas. Teríamos condições, se organizados, de suprir mercados onde estas frutas já são consumidas; em relação a produtos processados, temos condições de desenvolver produtos que atendam o mercado consumidor, como iogurtes, bombons, chás, frutas liofilizadas, sucos, extratos concentrados dessas frutas e outros produtos” - representante da EPAMIG. 46 “O consumo de pequenas frutas e produtos processados cresce em todos os cantos do mundo, no Brasil passamos por um momento aonde o consumo de frutas em geral vem crescendo a cada ano, resultado do crescimento do poder aquisitivo da população, atingimos em 2010 uma população de quase 200 milhões de habitantes, com 53% na classe média com renda entre R$ 2.000,00 a 10.0000,00 mensais, segundo pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas; são cem milhões de consumidores potenciais para as pequenas frutas. Acredito que, a partir da organização das cadeias de produção, poderemos gradativamente vencer os gargalos de infra-estrutura, logística e distribuição, e promover um aumento considerável no consumo de pequenas frutas; e ainda temos o mercado externo para expandir, pouco explorado pelos produtores e agroindústrias brasileiras” - representante da EMATER/RS-ASCAR. “Eu percebo que está crescendo. Isso se deve tanto pelo resultado dos trabalhos de marketing/divulgação da qualidade das pequenas frutas, quanto à melhoria econômica da população brasileira, que está tendo cada vez mais acesso a produtos diferenciados, que lhe confiram melhor qualidade de vida” - representante da SAMA. Quadro1: Necessidades intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas que processam pequenas frutas e os respectivos direcionadores e atividades de valor críticos para o atendimento dessas necessidades. Necessidades do mercado: Direcionadores críticos: Atividades críticas: - Atendimento ágil dos - Diminuir o tempo de - Investimentos em infrapedidos entrega estrutura, capacitação dos -Selecionar os canais de atores e estruturação logística distribuição empregados do setor -Selecionar os compradores - Estudo detalhado de todos atendidos os principais clientes, suas necessidades semanais ou quinzenais de frutas, sua localização - Transporte próprio, caminhões e furgões refrigerados - Construção de redes de distribuição, parceria com produtores de morango já estruturados - Oferta de produtos com -Embalagens diferenciadas - Padronização de embalagens adequadas e com de acordo com o tipo de fruta embalagens de 125 g e 250 g quantidades líquidas e cliente para frutas frescas demandadas -Padronização de embalagens de frutas congeladas: 15 a 20 kg para agroindústrias com 47 escala maior (ex.: polpas, geleias, sucos) e de 1 a 2 kg para agroindústrias menores (ex.: padarias, chocolatarias sorveterias) - Produtos certificados com sistema de qualidade - Boas práticas de fabricação e boas práticas agrícolas - Ganhos em qualidade, valorização do produto - Produtos com rastreabilidade - Produtos com certificação orgânica - Produtos limpos e com preservação ambiental - Escolher novas tecnologias - Atuar sobre as características, desempenho e configuração do produto - Produtos com marca conhecida - Capacitação dos recursos humanos para implementação dos sistemas de qualidade - Implementação de caderno de campo nas propriedades - Capacitação dos produtores em agricultura orgânica - Selecionar cultivares com melhor sabor e consistência - Ponto de colheita adequado - Produtos com selo da agricultura familiar - Mercado solidário - Valorização do produto através da indicação de procedência da agricultura familiar no rótulo - Realizar campanhas de divulgação das qualidades nutricionais e funcionais junto aos consumidores - Realização de feiras e eventos voltados à divulgação das pequenas frutas - cuidados no manejo de doenças, pragas, fertilização e irrigação adequadas - Cuidados na colheita e póscolheita - Manutenção da cadeia de frio - Divulgação das propriedades nutricionais/funcionais das pequenas frutas - Aumentar o índice de gastos com atividades de marketing - Qualidade e integridade das frutas - Melhorar a gestão da produção - Escolha da tecnologia de processo - Interesse em diversificação dos produtos - Ampliar o mix e variedade de produtos oferecidos - Incentivo à agroindústria de processamento - Disponibilizar as demais pequenas frutas ao mercado em forma de frutas frescas e nos mais diferentes produtos processados (polpas, sucos, passas e outros) - Padronização em termos de tamanho - Incrementar o nível de serviço oferecido - Classificação das frutas em termos de tamanho 48 - Manter aparência, sabor, cor e o conteúdo nutricional dos produtos - Seleção de matérias-primas e insumos - Escolha da tecnologia de processo - Ponto de colheita adequado - Resfriamento rápido e manutenção da cadeia de frio - Selo de indicação geográfica - Características de identificação e diferenciação do produto - Elaboração de logomarca própria com identidade regional - Relacionar com o turismo rural 49 5 CONCLUSÃO A metodologia utilizada nesta pesquisa foi adequada e contribuiu para detalhar os diversos tipos de cadeias curtas de produção envolvidas no processamento de pequenas frutas frescas ou processadas na região de Vacaria e identificar as características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias que as integram; em um segundo momento, permitiu identificar as atividades de valor e os direcionadores de valor pertinentes para o atendimento dessas necessidades. As cadeias estudadas no pólo de Vacaria apresentam características diversas em relação ao tipo e fluxo dos produtos, desde as propriedades produtoras até os consumidores. Porém, a emergência crescente de canais de comercialização diferenciados, sofisticados, que demandam produtos com maior valor agregado, tem incrementado novas alternativas de mercado – ainda limitadas pelas deficiências de infra-estrutura para a classificação, resfriamento, congelamento, processamento, embalagem e armazenagem. A maioria dos representantes das agroindústrias apontou a necessidade de conservação e manutenção da integridade das frutas inteiras como fator crítico, havendo uma variação, conforme a utilização, quanto ao tipo de preferência: frutas frescas, congeladas, desidratadas ou polpa, com certa preferência por frutas frescas. Em relação à frequência de pedidos e quantidades requeridas, variam conforme a agroindústria, sendo que as que trabalham preferentemente com frutas frescas fazem aquisição mais frequentes em pequenas quantidades semanalmente. O tipo embalagens preferido pelas agroindústrias varia de acordo com a utilização, predominando o uso de embalagens menores para as que consomem frutas frescas e maiores para as que consomem frutas congeladas. A qualidade é mais importante que a marca para esse tipo de produto. Em relação a sistemas de qualidade e certificações, a maioria dos tomadores de decisão apontou como mais importante a adoção de boas práticas de fabricação e, no caso de produtores de frutas frescas, a adoção de boas práticas agrícolas, com seus respectivos controles e rastreabilidade. 50 Sobre os sistemas de controle de origem (selo de indicação geográfica), sob ponto de vista comercial, não houve convergência, mas a maioria dos tomadores de decisão não considera importante. A identificação dos produtos oriundos da agricultura familiar não foi considerada importante pela maioria dos tomadores de decisão. Há um interesse convergente para a divulgação setorial de propriedades funcionais/nutricionais das pequenas frutas. Quanto ao preço das pequenas frutas, nota-se que tomadores de decisão de agroindústrias que trabalham com frutas frescas e produtos sofisticados, de maior valor agregado, atribuem maior importância à qualidade, enquanto que as agroindústrias que trabalham com frutas congeladas e processamento em maior escala consideram o preço das pequenas frutas elevado. A metodologia utilizada no trabalho também permitiu identificar as atividades de valor e os direcionadores pertinentes para o atendimento das necessidades de mercado através das considerações de especialistas setoriais. A preservação das qualidades intrínsecas apontadas pelos tomadores de decisão somente são atingidas quando são aplicadas tecnologias de produção adequadas, cuidados na colheita e pós-colheita. As atividades de marketing ainda são tímidas no setor, embora sejam apontadas pelos especialistas setoriais como importantes para que o consumidor conheça o produto e, consequentemente, aumente o consumo das pequenas frutas. A logística para distribuição de pequenas frutas precisa contar com melhor infraestrutura, cadeia de frio e transporte adequado. Existem poucos canais de distribuições especializados para as exigências das pequenas frutas. Há necessidade de capacitação dos recursos humanos para o elo de processamento e produção. A gestão da produção ainda é pouco entendida e aplicada pelos produtores de pequenas frutas. A implementação de boas práticas agrícolas e boas práticas de fabricação são importantes para melhorar a qualidade da matéria-prima e dos produtos. O aumento do consumo das pequenas frutas é evidenciado por todos entrevistados, existe uma tendência dos consumidores de optar por produtos com qualidades funcionais. 51 REFERÊNCIAS DARBY, M. R.; KARNI, E. Free competition and the optimal amount of fraud. Journal of Law and Economics, Chicago, v. 16, n. 1, p. 67-88, 1973. EMATER/RS-ASCAR. Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural. Diagnóstico de Fruticultura. Vacaria: EMATER/RS-ASCAR, 2010 (Dados não publicados). FELLOWS, P.J. Tecnologia de processamento de alimentos: princípios e prática. P.J. Fellows; tradução Florencia Cladera...[- et al.]. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. GRUNERT, K. G. Current issues in the understanding of consumer food choice. Trends in Food Science & Technology, n. 13, p. 275-285, 2002. GRUNERT, K. G.; HARMSEN, H.; MEULENBERG, M.; KUIPER, E.; OTTOWITZ, T.; DECLERK, F.; TRAIL, B. GÖRANSSON, G. A framework for analysing innovation in the food sector. 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VENTURIN, Leandro. Influência da temperatura de extração na elaboração de suco de uva Isabel (Vitis labusca) pelo método de arraste de arraste de vapor. Trabalho de conclusão apresentado como um dos requisitos para obtenção do título de Tecnólogo em Viticultura Enologia. Bento Gonçalves/RS, 2004. 53 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM TOMDORES DE DECISÃO DAS AGROINDÚSTRIAS DA CADEIA DE PEQUENAS FRUTAS EM VACARIA/RS 1. Você teria interesse na utilização, como ingrediente ou comercialização direta, de pequenas frutas - como a amora (blackberry), framboesa (raspberry), morango (strawberry), mirtilo (blueberry), a physalis, ou ainda frutas nativas, como a pitanga, o araçá, a cereja e a guavirova? Qual seria a utilização? 2. Que características são importantes em relação à qualidade na definição da compra de pequenas frutas frescas ou congeladas (por exemplo, cor, aroma, aparência geral, consistência, conteúdo nutricional preservado)? Quais delas seriam de maior interesse? Qual(is) o(s) tipo(s) de apresentação desejado(s) (polpa, desidratada na forma de passa ou in natura)? 3. Qual a freqüência previsível de pedidos? Em que quantidades? 4. Que tipos de embalagens seriam convenientes? Que quantidades líquidas de produto? 5. Seria importante que os produtos tivessem uma marca conhecida (para comercialização in natura, por exemplo)? A marca é importante? Na sua opinião, existe diferença entre marcas nesse mercado? 6. Que tipos de sistemas de qualidade seriam interessantes? APPCC na agroindústria? Boas práticas de fabricação? Certificação orgânica? Produção integrada de frutas? Certificação ISO (séries 9000, 14000, 22000)? Sistema próprio (dos produtores ou agroindústria) de controle de qualidade? Rastreabilidade? Que informações são importantes nas embalagens? Em relação à confiança do consumidor no produto, que características são importantes (selos, certificações)? 7. Você acha que sistemas de controle de origem (como o selo de indicação geográfica) agregariam valor ao produto aos olhos dos clientes? 8. Você acha que produtos oriundos da agricultura familiar, com essa identificação no rótulo, agradam aos consumidores? 9. Você acha que a divulgação das propriedades nutricionais/"funcionais" dessas frutas agregaria valor ao produto aos olhos dos clientes? 10. Que sobrepreço (em relação a outras frutas que você já utiliza) você acha adequado? Por exemplo, 25% a mais do que a maçã... Que comentário você faria em relação ao preço atual das pequenas frutas? 54 APÊNDICE B - ROTEIRO DE QUESTÕES SEMI-ESTRUTURADAS DAS ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS SETORIAIS PARA A IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE VALOR E DOS DIRECIONADORES PERTINENTES PARA O ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES DE MERCADO. 1. Adequabilidade das características intrínsecas das frutas? 2. São realizadas atividades de marketing? Como? Qual sua importância? 3. Adequação dos aspectos logísticos? Gargalos? Necessidade de investimentos? 4. Adequação dos canais de distribuição empregados? 5. Adequação dos recursos humanos para o elo de processamento e produção? 6. Existem restrições relacionadas a aspectos de gestão da produção? 7. Adequação das matérias-primas e insumos (para produção e processamento)? 8. Quais seriam os principais aspectos técnicos (atividades na produção e processamento) pertinentes para atender às exigências da demanda? 9. Na sua opinião, qual a importância dos sistemas de qualidade (rastreabilidade, indicação geográfica, APPCC, boas práticas de fabricação, certificação orgânica, produção integrada de frutas, Certificação ISO ou outro sistema próprio ) para valorizar/diferenciar o sistema produtivo? 10. Como vê a evolução do consumo de pequenas frutas, qual a tendência em relação aos produtos processados dessas frutas?