ATELIÊ DE CIRANDA: O BRINCAR EM COMPANHIA

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ATELIÊ DE CIRANDA: O BRINCAR EM COMPANHIA
AMBRÓS, Tatiane Medianeira Baccin1 - ULBRASM
DIEHL, Amanda Hoenisch2 - ULBRASM
Grupo de trabalho - Diversidade e Inclusão
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Um ateliê de brincadeira consiste em brincar em companhia, o trabalho com o brincar nos
remete a indagar sobre os efeitos da brincadeira na vida das crianças. O nosso trabalho se
propõe a fazer um questionamento sobre as diversas formas de brincar, bem como a
importância da mesma para a formação destes sujeitos. O trabalho com o ateliê de ciranda
propõe que este brincar seja uma forma onde a criança possa expressar este saber-fazer-sobresi-mesmo em companhia. O ateliê de ciranda endereça fantasia às crianças, sendo uma forma
suportável de falar sobre si mesmo em companhia. É no momento da brincadeira que as
crianças tem a oportunidade de criar um espaço de elaboração para seus medos, angústias e
sofrimentos. Espaço este singular, onde através do brincar a criança vai ressignificando sua
história e inventando o presente. Um ateliê de ciranda é um espaço aberto a produção de um
oficio de estilo, campo das histórias, das ficções, onde o passado e o futuro são esculpidos no
ato da brincadeira. É no brincar que entendemos o valor da inclusão é nele que as crianças não
percebem suas diferenças, se tem uma diferença eles não notam, eles se divertem , brincam e
jogam e vão interagindo sem perceber as outras competências e habilidades dos seus colegas.
Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos podemos avaliar o
nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-se suas
potencialidades e ao observá-las poderemos enriquecer sua aprendizagem, fornecendo através
dos brinquedos os nutrientes ao seu desenvolvimento.
PALAVRAS-CHAVE: Ateliê. Ciranda. Brincar. Companhia. Grupos.
Introdução
Um ateliê de ciranda consiste em brincar em companhia, onde cada integrante do
grupo poderá confeccionar um olhar sobre o seu fazer, dilemas, angústias que apontem para
uma caminhada do sujeito, ou seja, um sujeito fazedor com seu ato, indagando a si sobre a
arte que lhe concerne. O que é o ato de brincar, que não uma das muitas maneiras de brincar?
Esse ateliê, aparentemente tão singelo será um operador, um dispositivo entre o sujeito e sua
questão de formação, é fazer surgir uma série de rastros que apontem para um sujeito vivente
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Acadêmica de Psicologia na ULBRA Santa Maria; [email protected]
Acadêmica de Psicologia na ULBRA Santa Maria; [email protected]
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com a brincadeira, um momento doloroso onde o brincar nos interroga nos indica uma
decisão inevitável frente a vir a ser no desafio da criação de um saber-fazer-sobre-si-mesmo.
Um ateliê de ciranda é um espaço aberto a produção de um oficio de estilo, campo das
histórias, das ficções, onde o passado e o futuro são esculpidos no ato da brincadeira. Esse ato
de construir histórias, de produzir inscrições, apresentam os limites dos registros do Real,
imaginário e o simbólico, sendo a relação preponderante para o momento, desse projeto, a
borda do brincar e do imaginário. O imaginário em Lacan é um constructo que existirá entre o
sujeito e o mundo, abrindo as portas da percepção e outros canais.
O imaginário seria aquilo que provém da imaginação, tendo aspectos representativos,
que independem da realidade, ou melhor, algo passível de ser simbolizado. A definição dessa
terminologia criada por Lacan (1998), juntamente com o real e o simbólico, constituiria o
registro do engodo e da identificação. O campo do imaginário é o campo do sentido.
Segundo Diatkine (1999), para que venhamos a entender o imaginário seria
indispensável compreendermos a fase do espelho, pois, para Lacan, ela é uma fase
constitutiva do ser humano, uma fase de diferenciação e de reconhecimento. Para tanto,
identificamos uma captura constante do imaginário em relação a nós, algo que nos estremece,
que desarticula no sentido de que somos cada vez mais capturados por uma imagem análoga a
nossa. O par imaginário do eu e seu outro-duplo bailam e brigam na cena visual que constitui
uma barreira para a Outra cena. O espelho é um anteparo ao inconsciente; o imaginário do
olho da consciência, uma cortina à determinação do simbólico. A relação Eu-outro
desconhece que o espelho é o Outro do inconsciente, o Outro da escritura feita em nosso
próprio corpo.
Já Deleuze (1992) diz que é imprecisa a noção de imaginário. Porém, se refere a esse
conceito recusando atribuir-lhe irrealidade, pois o entende como um conjunto de trocas entre
uma imagem real e uma virtual, não havendo distinção entre elas - o que coincide com sua
noção de falso. A ultrapassagem do imaginário se daria em direção há um tempo dissociado
do movimento, só possível como imagem-cristal, imagem-tempo. O imaginário seria a
potência do falso; o tempo substituiria o verdadeiro pela potência do devir. Portanto, a ligação
entre imaginário e a escrita se faz pela polivalência de conceitos, abrindo caminho para a
potência de criação e suas janelas para o mundo.
O trabalho se justifica na medida em que a brincadeira encontra a companhia em um
ato único, onde o brincar produz uma brecha no tempo, um hiato para o aparecimento de
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histórias, sendo assim, a criatividade vai lentamente descortinando um fazer e esculpindo o
campo da arte. Portanto, a criança pode problematizar o seu fazer ao confrontá-lo diante da
experiência das brincadeiras, e diante do grupo que faz parte, olhando para seu ato de brincar,
seu fazer, sua arte. O sujeito que bem diz sobre seu fazer se joga no campo do questionamento
em uma perspectiva que apenas a testemunha/leitor pode compreender o desafio e a
importância deste brincar em companhia.
Portanto, a função do brinquedo é a brincadeira. O brinquedo tem como princípio
estimular a brincadeira e convidar a criança para esta atividade. A brincadeira é definida como
uma atividade livre, que não pode ser delimitada e que, ao gerar prazer, possui um fim em si
mesmo. Nos relatos sobre a brincadeira infantil Vygotsky (1991) afirma que esta é uma
situação imaginária criada pela criança e onde ela pode, no mundo da fantasia, satisfazer
desejos até então impossíveis para a sua realidade.
O autor afirma também a brincadeira nasce da necessidade de um desejo frustrado pela
realidade, e que a brincadeira, mesmo sendo livre e não estruturada, possui regras. Para o
autor todo tipo de brincadeira está embutido de regras, até mesmo o faz-de-conta possui
regras que conduzem o comportamento das crianças. Uma criança que brinca de ser a mamãe
com suas bonecas assume comportamentos e posturas pré-estabelecidas pelo seu
conhecimento de figura materna.
Grupos e o brincar em companhia
O brincar é uma forma de comportamento característico da infância, pertencem a um
conjunto de atividades que compõem a noção do jogo. O brincar e os brinquedos, não
constituem apenas uma necessidade biológica destinada a descarregar energia, as crianças
brincam porque pensam sobre suas experiências emocionais e torna (re) conhecível suas
potencialidades.
É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança produz e conquista sua
liberdade de criação. Winnicott (1975), nos fala enfaticamente que “é no brincar que o
indivíduo criança ou adulto pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente
sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)”. O autor afirma também que a brincadeira
é universal, uma forma básica de viver. O referido autor nos diz que “viver criativamente
constitui um estado saudável, e a submissão é uma base doentia para a vida”.
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De acordo com Vygotsky (1989), os objetos cotidianos envolvidos em situações
concretas, podem ser recriados e transformados nesse processo, já que a ressignificação faz
parte da capacidade de simbolizar que está presente na brincadeira. O brincar contribui para o
desenvolvimento da capacidade de pensar, refletir e comunicar todas essas capacidades são
fundamentais para que a criança cresça saudável. Na escola observamos com frequência este
espaço proporcionado pelos professores, em casa os pais tem um papel fundamental de
incentivarem as crianças possibilitando espaços e momentos para as brincadeiras.
Bettelheim (1988) escreve que a brincadeira tem uma motivação interna, que
corresponderia a uma ansiedade ou desejo, se configurando como um exercício de
entendimento do mundo. Por isso entende a brincadeira compulsiva como representação de
uma luta da criança para superar uma situação de dificuldade. Segundo o autor, a brincadeira
é tão importante no desenvolvimento da criança, que sem ela o intelecto não se desenvolveria,
pois a brincadeira possui uma função cognitiva e outra pulsional.
Winnicott (1975) chama este espaço de espaço potencial, que deverá ser preenchido,
num primeiro momento, por um objeto transicional. Esse espaço potencial é o espaço do
imaginário, do jogo. É nesse espaço criado pelo bebê para aceitar estar sozinho que virá
alojar-se a experiência cultural e artística. Segundo o autor o brincar adquiriu novo colorido a
partir dos estudos sobre os fenômenos transicionais, remontando-os em todos os seus sutis
desenvolvimentos, desde o emprego primitivo de um objeto ou técnica transicional, aos
estádios supremos da capacidade de um ser humano para a experiência cultural.
A brincadeira é universal e faz parte da saúde da criança, o autor diz:
...o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde: o brincar conduz aos
relacionamentos grupais: o brincar pode ser uma forma de comunicação na
psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi desenvolvida como forma altamente
especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros.
(Winnicott, 1975, pg. 63).
Quando a criança brinca esta dando sinais claros de sua vivacidade, ao mesmo tempo
em que se socializa com outras crianças ao mesmo tempo, pois como disse Winnicott há uma
comunicação consigo (eu) e com os outros, gerando assim uma relação. Ao mesmo tempo em
que a criança brinca ela cria relações, ao passo que ela interage com os objetos de sua
brincadeira ela revela relatos íntimos, em um trabalho terapêutico são falas reveladoras.
Ainda segundo Winnicott a brincadeira é extremamente excitante. Compreenda-se que
é excitante não primariamente porque os instintos se acham envolvidos; isso está implícito. A
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importância do brincar é sempre a precariedade do interjogo entre a realidade psíquica pessoal
e a experiência de controle de objetos reais. É a precariedade da própria magia, magia que se
origina na intimidade, num relacionamento que está sendo descoberto como digno de
confiança. Para ser digno de confiança, o relacionamento é necessariamente motivado pelo
amor da mãe, ou pelo seu amor- ódio ou pela sua relação de objeto, não por formações
reativas.
O brinquedo e sua importância para a socialização
O brinquedo é uma oportunidade de desenvolvimento. Brincando a criança
experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a
curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do
pensamento e da concentração e atenção. Brincar é indispensável à saúde física, emocional e
intelectual da criança. Irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto.
Brincar é um momento de auto-expressão e auto-realização.
Quando a criança brinca em grupo esta exercitando sua capacidade de socialização
com as demais crianças, seja na troca de brinquedos ou aprendendo com as regras do jogo.
Para que o brinquedo seja significativo para a criança é preciso que tenha pontos de contato
com a sua realidade. Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos
podemos avaliar o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-se
suas potencialidades e ao observá-las poderemos enriquecer sua aprendizagem, fornecendo
através dos brinquedos os nutrientes ao seu desenvolvimento.
Vygotsky (1998) assinalou que uma das funções básicas do brincar é permitir que a
criança aprenda a elaborar resolver situações conflitantes que vivencia no seu dia-a-dia; usará
capacidades como observação, a imitação e a imaginação.Através desta imitação
representativa, a criança vai também aprendendo a lidar com regras e normas sociais. O
brincar é uma atividade específica da infância em que a criança recria a realidade usando
sistemas simbólicos. É uma atividade humana criadora, na qual a imaginação, fantasia e
realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão, de
ação pelas crianças, possibilitando o surgimento de relações sociais com outras crianças e
adultos.
Só existe brincadeira se alguém for desejante da mesma, desde o início de nossa
constituição aprendemos a brincar. Nossos pais são os pioneiros neste processo, é no brincar
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que a criança tem a oportunidade de desenvolver sua criação. De acordo com Fantin (2000), o
ser humano necessita do contato com outras pessoas, pois é através da interação social que se
desenvolve a linguagem, reconhecem-se as habilidades e ampliam-se os conhecimentos. Para
a criança, o contato físico, social e a comunicação são fundamentais no seu desenvolvimento
e uma das maneiras de manter este contato é brincando seja na escola, em casa ou nos espaços
de recreações em geral.
O (re) instaurar o desejo, o significado e o prazer de ensinar e aprender nas escolas
através da brincadeira, também chegamos à inclusão social, pois o sucesso escolar assim
obtido é uma das condições da inclusão escolar que é, por sua vez , um modo de inclusão
social. Afinal, a Educação também é um direito a garantir. Além do mais, brincando,
propiciamos o acesso ao patrimônio cultural da humanidade, particularmente o patrimônio
lúdico, o que é, igualmente, um direito.
Na brincadeira somos exatamente quem somos e, ao mesmo tempo, todas as
possibilidades de ser estão nela contidas. Ao brincar exercemos o direito à diferença e a
sermos aceitos mesmo diferentes ou aceitos por isso mesmo. Como brincar associa
pensamento e ação, é comunicação e expressão, transforma e se transforma continuamente, é
um meio de aprender a viver e de proclamar a vida.
Qualquer semelhança entre a brincadeira e as novas formas de sociabilidade, de
subjetividade e mesmo a nova epistemologia características da globalização contra
hegemônica propugnadas por Santos (2006) não é mera coincidência. Cremos que a
brincadeira pode ensejar a vivência de relações na escola e na sociedade mais justas, mais
humanas, mais solidárias, concorrendo para a construção de um novo padrão de relações
locais, nacionais e transnacionais, baseadas simultaneamente no princípio da redistribuição
(igualdade) e no princípio do reconhecimento (diferença), como Santos preconiza para
enfrentar a expansão do fascismo social em um mundo globalizado.
Na brincadeira somos exatamente quem somos e, ao mesmo tempo, todas as
possibilidades de ser estão nela contidas. Ao brincar exercemos o direito à diferença e a
sermos aceitos mesmo diferentes ou aceitos por isso mesmo. Como brincar associa
pensamento e ação, é comunicação e expressão, transforma e se transforma continuamente, é
um meio de aprender a viver e de proclamar a vida.
Deparamos-nos com a relação entre a cultura e o brincar, ou seja, a brincadeira e seu
representante material (brinquedo) com a cultura é visto por Benjamim atrelada à função da
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imaginação no desenvolvimento da criança, na sua relação com os brinquedos. Por este
motivo, afirmará que, quanto mais a imitação se anuncia nos brinquedos, tanto mais estes se
desviam da brincadeira viva: “A essência do brincar não está no 'fazer como se', mas um
'fazer sempre de novo', transferência da experiência mais comovente em hábito” (Benjamim,
1984, pg.75).
A brincadeira é uma atividade que estimula o desenvolvimento global das crianças,
incentiva a interação entre os pares, a resolução de conflitos contribuindo para a formação de
um cidadão crítico e reflexivo. O brincar é desenvolvido pela criança para seu prazer e
recreação, além de permitir a interação da mesma com outras pessoas, bem como, possibilita
explorar o meio ambiente. Além disso, o brincar favorece o desenvolvimento da autonomia,
da criatividade e responsabilidade da criança em relação a suas próprias ações.
As brincadeiras e os grupos
O desenvolvimento social é um fator de extrema importância em todos os segmentos
da vida, especialmente no que tange à criança e seu processo de aprendizagem, o fator da
qualidade do relacionamento interpessoal é primordial. A brincadeira que é universal e que é
própria da criança conduz aos relacionamentos grupais. Conforme Zimerman (1997) o ser
humano é gregário por natureza e somente existe, ou subsiste, em função de seus interrelacionamentos grupais. Desde o nascimento, o indivíduo participa de diferentes grupos,
numa constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a necessidade de uma
identidade grupal e social. Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um conjunto de
grupos comstitui uma comunidade e um conjunto interativo das comunidades configura uma
sociedade.
Conforme Zimerman (2000) pode-se falar do grupo como representante de uma zona
intermediária que recebe contribuição tanto da realidade interna como da vida exterior. Este
conceito, aplicado aos grupos, corresponde com o formulado por Winnicott em relação aos
'objetos transicionais e os fenômenos transicionais' já que, se encontram na base das primeiras
experiências de vida da criança. Podemos pensar no grupo como um local muito especial
onde o brincar pode ocorrer mais do que em qualquer outro lugar, as crianças através da
identificação tem a oportunidade de brincar em companhia. A capacidade de integração
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presume a possibilidade de suportar a frustração e de se sentir responsável pelos seus atos e
sentimentos e, portanto exige trabalho ao psiquismo.
As brincadeiras em grupo segundo Oliveira(2000), consistem na melhor experiência
de sociabilização, já que para fazer parte do grupo é necessário aprender a controlar os
próprios impulsos de hostilidade e desagregação, pois esses comportamentos podem ser
identificados pelas outras crianças que poderão vir a excluir ou menosprezar aquele que não
se integra bem.
A essência de todo e qualquer indivíduo consiste no fato dele ser portador de um
conjunto de sistemas: desejos, identificações, valores, capacidades, mecanismos defensivos e,
sobretudo, necessidades básicas, como sujeito da dependência e a de ser reconhecido pelos
outros, com os quais ele é compelido a conviver. Assim, como o mundo interior e o exterior
são a continuidade um do outro, da mesma forma o individual e o social não existem
separadamente, pelo contrário, eles se diluem, interpenetram, complementam e confundem
entre si.
Um grupo não é um mero somatório de indivíduos; pelo contrário, ele se constitui
como nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos; todos os integrantes do
grupo estão reunidos, face a face, em torno de uma tarefa e de um objetivo comuns ao
interesse deles; a dinâmica grupal de qualquer grupo se processa em dois planos, tal como nos
ensinou Bion: um é o da intencionalidade consciente (grupo de trabalho), e o outro é o da
interferência de fatores inconscientes (grupos de supostos básicos). É claro que, na prática,
esses dois planos não são rigidamente estanques, pelo contrário, costuma haver certa
flutuação e superposição entre eles.
O Grupo: É no grupo que os efeito do ateliê serão visualizados e identificados através
do brincar em companhia.
Zimerman (1997) descreve seis fenômenos importantes que definem o campo grupal:
1) A ressonância, que é um fenômeno comunicacional, no qual a fala trazida por um
membro do grupo vai ressoar em outro, transmitindo um significado afetivo
equivalente, e assim, sucessivamente.
2) O fenômeno do espelho, conhecido como galeria dos espelhos, onde cada um pode
ser refletido nos, e pelos outros; o que nada mais é, do que a questão da
identificação, onde o indivíduo se reconhece sendo reconhecido pelo outro, e
assim vai formando a sua identidade;
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3) A função de "continente", ou seja, o grupo coeso exerce a função de ser continente
das angústias e necessidades de cada um de seus integrantes.
4) O fenômeno da pertencência, chamado por Zimerman de vínculo do
reconhecimento, que é "o quanto cada indivíduo necessita, de forma vital, ser
reconhecido pelos demais do grupo como alguém que, de fato, pertence ao grupo.
E também alude à necessidade de que cada um reconheça o outro como alguém
que tem o direito de ser diferente e emancipado dele" (1997, p. 39);
5) A discriminação, que é a capacidade de fazer a diferença entre o que pertence ao
sujeito e o que é do outro;
6) A comunicação, seja ela verbal ou não-verbal, fenômeno essencial em qualquer
grupo onde mensagens são enviadas e recebidas, podendo haver distorção e
reações da parte de todos os membros do grupo.
Ateliê: um espaço de criação
A escolha do nome do espaço do qual tratamos tem influência na forma pela qual o
trabalho é conduzido. O uso do nome atelier, que, em francês condensa acte (ato) e lier (ligar)
remete à ideia de um tecido que se borda: “bordar (escrever) sobre uma superfície (folha,
corpo), delimita e demarca as bordas pelas quais se dá, ao mesmo tempo, a separação do outro
(fazendo um) e a união com o outro (compondo o corpo coletivo)” (Trevisan, 2007).
O que se produz neste espaço onde a criança brinca em companhia está sustentado em
uma relação transferencial que dá suporte a uma possibilidade de criação de uma rede
simbólica de compartilhamento, brincar em companhia uma passagem do simbólico ao real.
O ateliê de ciranda endereça fantasia às crianças, sendo uma forma suportável de falar
sobre si mesmo em companhia. É no momento da brincadeira que as crianças tem a
oportunidade de criar um espaço de elaboração para seus medos, angústias e sofrimentos.
Espaço este singular, onde através do brincar a criança vai ressignificando sua história e
inventando o presente.
É no brincar que entendemos o valor da inclusão é nele que as crianças não percebem
suas diferenças, se tem uma diferença eles não notam, eles se divertem , brincam e jogam e
vão interagindo sem perceber as outras competências e habilidades dos seus colegas. Assim
sendo o brincar é um ponto chave para que aconteça a inclusão. O brincar infantil não
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determina as diferenças, pelo contrário ela cria uma ponte para a inclusão e convida cada um
para fazer parte do processo.
Segundo Larrosa, Connelly e Clandinin (1995), a investigação narrativa tece seus
olhares sobre a experiência educativa. Uma das razões de sua utilização na educação é a
assertiva de que os seres humanos são elementarmente organismos contadores de histórias.
Relatamos histórias de modo individual e social. Portanto, o estudo das narrativas é o estudo
das formas como o homem experiencia o mundo. Tanto os professores como os alunos são
contadores e também personagens de tais histórias. Quando trabalhamos os dispositivos, da
avaliação qualitativa, observamos que precisamos articular conceitos, teorias, os quais são de
diferentes campos do saber, tais como: filosofia, psicanálise, antropologia, arte, educação, etc.
Construímos, assim, novas trilhas, caminhos transversais, possibilidades, perspectivas, de um
olhar, de um fazer ciência.
Essas reflexões apontam para os seguintes caminhos:
-
O que o brincar em companhia pode produzir no que toca o campo da invenção de
si e sobre um saber fazer sobre si mesmos?
-
Qual a representação da brincadeira sobre o “ser criança”?
-
Qual o impacto do ateliê de ciranda para um fazer compartilhado em um grupo de
experiência?
Pesquisa e psicanálise
Segundo Birman (1994), a Psicanálise, diferentemente da Psicologia, funda sua
pesquisa nos pressupostos do inconsciente, ou seja, ultrapassa o registro da consciência e se
aproxima do funcionamento pulsional. Esse modo de pesquisa pretende ser uma analítica do
sujeito, centrando suas atenções na palavra (escrita) e na escuta. O discurso freudiano operou,
efetivamente, um ato de interpretação, baseado na atividade da escuta. Esse saber, então,
começa a ter um reconhecimento no que tange à dimensão atual de ciência. Portanto, a
Psicanálise se constitui como um saber da interpretação.
Para a ciência, depositar um saber na interpretação seria depositar um saber no
discurso meramente especulativo da filosofia, ou seja, seria uma forma que poderia se
transformar a qualquer momento em forma delirante de interpretação. Não se pode pensar na
psicanálise dissociada da interpretação. Assim, no final do século XIX, a psicanálise foi
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levada pela ciência a se aproximar da filosofia pelos padrões impostos pelas regras vigentes
da ciência (Birman, 1994).
Resultados
A criança, ao brincar, tem a oportunidade de relacionar-se e perceber-se na relação
com o outro, pois ao participar de uma brincadeira a criança se socializa. A brincadeira é
prazerosa para toda a criança e necessária para a integração dos alunos com necessidades
educativas especiais no contexto escolar. É uma maneira de integrar todas as crianças através
de um ambiente saudável, lúdico e divertido. O ateliê de ciranda é um espaço onde as crianças
podem expressar suas opiniões, dúvidas e sentimentos encorajando-as a interagir no mundo
que as cerca, percebendo- se como sujeito.
Conclusão
O trabalho apresentado buscou demonstrar a importância do brincar para o
desenvolvimento humano, sendo assim destacamos a importância das pessoas que estão em
contato direto com a criança em propiciar estes momentos. Assim sendo, as crianças têm
através do prazer, do brincar e da ressignificação do contexto que as cerca, a possibilidade de
desenvolver-se integralmente nos âmbitos social, afetivo, físico e cognitivo.
É acreditando em um ateliê de brincadeira e nos efeitos do brincar em companhia, que
propomos um espaço onde a criança através do brincar possa resignificar seus medos,
angústias e sofrimentos. Portanto, fica posto neste projeto de pesquisa que, o semelhante, por
estar em uma posição de testemunha de uma brincadeira, confere uma presença ao que se
constitui como perda e, é nessa condição que é permitido que o ato de brincar possa produzir
um saber-fazer-sobre-si-mesmo, que se da pela brincadeira e pelo corpo como uma produção
sobre si mesmo como se fosse uma nova construção.
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