19057 ATELIÊ DE CIRANDA: O BRINCAR EM COMPANHIA AMBRÓS, Tatiane Medianeira Baccin1 - ULBRASM DIEHL, Amanda Hoenisch2 - ULBRASM Grupo de trabalho - Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Um ateliê de brincadeira consiste em brincar em companhia, o trabalho com o brincar nos remete a indagar sobre os efeitos da brincadeira na vida das crianças. O nosso trabalho se propõe a fazer um questionamento sobre as diversas formas de brincar, bem como a importância da mesma para a formação destes sujeitos. O trabalho com o ateliê de ciranda propõe que este brincar seja uma forma onde a criança possa expressar este saber-fazer-sobresi-mesmo em companhia. O ateliê de ciranda endereça fantasia às crianças, sendo uma forma suportável de falar sobre si mesmo em companhia. É no momento da brincadeira que as crianças tem a oportunidade de criar um espaço de elaboração para seus medos, angústias e sofrimentos. Espaço este singular, onde através do brincar a criança vai ressignificando sua história e inventando o presente. Um ateliê de ciranda é um espaço aberto a produção de um oficio de estilo, campo das histórias, das ficções, onde o passado e o futuro são esculpidos no ato da brincadeira. É no brincar que entendemos o valor da inclusão é nele que as crianças não percebem suas diferenças, se tem uma diferença eles não notam, eles se divertem , brincam e jogam e vão interagindo sem perceber as outras competências e habilidades dos seus colegas. Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos podemos avaliar o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-se suas potencialidades e ao observá-las poderemos enriquecer sua aprendizagem, fornecendo através dos brinquedos os nutrientes ao seu desenvolvimento. PALAVRAS-CHAVE: Ateliê. Ciranda. Brincar. Companhia. Grupos. Introdução Um ateliê de ciranda consiste em brincar em companhia, onde cada integrante do grupo poderá confeccionar um olhar sobre o seu fazer, dilemas, angústias que apontem para uma caminhada do sujeito, ou seja, um sujeito fazedor com seu ato, indagando a si sobre a arte que lhe concerne. O que é o ato de brincar, que não uma das muitas maneiras de brincar? Esse ateliê, aparentemente tão singelo será um operador, um dispositivo entre o sujeito e sua questão de formação, é fazer surgir uma série de rastros que apontem para um sujeito vivente 1 2 Acadêmica de Psicologia na ULBRA Santa Maria; [email protected] Acadêmica de Psicologia na ULBRA Santa Maria; [email protected] 19058 com a brincadeira, um momento doloroso onde o brincar nos interroga nos indica uma decisão inevitável frente a vir a ser no desafio da criação de um saber-fazer-sobre-si-mesmo. Um ateliê de ciranda é um espaço aberto a produção de um oficio de estilo, campo das histórias, das ficções, onde o passado e o futuro são esculpidos no ato da brincadeira. Esse ato de construir histórias, de produzir inscrições, apresentam os limites dos registros do Real, imaginário e o simbólico, sendo a relação preponderante para o momento, desse projeto, a borda do brincar e do imaginário. O imaginário em Lacan é um constructo que existirá entre o sujeito e o mundo, abrindo as portas da percepção e outros canais. O imaginário seria aquilo que provém da imaginação, tendo aspectos representativos, que independem da realidade, ou melhor, algo passível de ser simbolizado. A definição dessa terminologia criada por Lacan (1998), juntamente com o real e o simbólico, constituiria o registro do engodo e da identificação. O campo do imaginário é o campo do sentido. Segundo Diatkine (1999), para que venhamos a entender o imaginário seria indispensável compreendermos a fase do espelho, pois, para Lacan, ela é uma fase constitutiva do ser humano, uma fase de diferenciação e de reconhecimento. Para tanto, identificamos uma captura constante do imaginário em relação a nós, algo que nos estremece, que desarticula no sentido de que somos cada vez mais capturados por uma imagem análoga a nossa. O par imaginário do eu e seu outro-duplo bailam e brigam na cena visual que constitui uma barreira para a Outra cena. O espelho é um anteparo ao inconsciente; o imaginário do olho da consciência, uma cortina à determinação do simbólico. A relação Eu-outro desconhece que o espelho é o Outro do inconsciente, o Outro da escritura feita em nosso próprio corpo. Já Deleuze (1992) diz que é imprecisa a noção de imaginário. Porém, se refere a esse conceito recusando atribuir-lhe irrealidade, pois o entende como um conjunto de trocas entre uma imagem real e uma virtual, não havendo distinção entre elas - o que coincide com sua noção de falso. A ultrapassagem do imaginário se daria em direção há um tempo dissociado do movimento, só possível como imagem-cristal, imagem-tempo. O imaginário seria a potência do falso; o tempo substituiria o verdadeiro pela potência do devir. Portanto, a ligação entre imaginário e a escrita se faz pela polivalência de conceitos, abrindo caminho para a potência de criação e suas janelas para o mundo. O trabalho se justifica na medida em que a brincadeira encontra a companhia em um ato único, onde o brincar produz uma brecha no tempo, um hiato para o aparecimento de 19059 histórias, sendo assim, a criatividade vai lentamente descortinando um fazer e esculpindo o campo da arte. Portanto, a criança pode problematizar o seu fazer ao confrontá-lo diante da experiência das brincadeiras, e diante do grupo que faz parte, olhando para seu ato de brincar, seu fazer, sua arte. O sujeito que bem diz sobre seu fazer se joga no campo do questionamento em uma perspectiva que apenas a testemunha/leitor pode compreender o desafio e a importância deste brincar em companhia. Portanto, a função do brinquedo é a brincadeira. O brinquedo tem como princípio estimular a brincadeira e convidar a criança para esta atividade. A brincadeira é definida como uma atividade livre, que não pode ser delimitada e que, ao gerar prazer, possui um fim em si mesmo. Nos relatos sobre a brincadeira infantil Vygotsky (1991) afirma que esta é uma situação imaginária criada pela criança e onde ela pode, no mundo da fantasia, satisfazer desejos até então impossíveis para a sua realidade. O autor afirma também a brincadeira nasce da necessidade de um desejo frustrado pela realidade, e que a brincadeira, mesmo sendo livre e não estruturada, possui regras. Para o autor todo tipo de brincadeira está embutido de regras, até mesmo o faz-de-conta possui regras que conduzem o comportamento das crianças. Uma criança que brinca de ser a mamãe com suas bonecas assume comportamentos e posturas pré-estabelecidas pelo seu conhecimento de figura materna. Grupos e o brincar em companhia O brincar é uma forma de comportamento característico da infância, pertencem a um conjunto de atividades que compõem a noção do jogo. O brincar e os brinquedos, não constituem apenas uma necessidade biológica destinada a descarregar energia, as crianças brincam porque pensam sobre suas experiências emocionais e torna (re) conhecível suas potencialidades. É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança produz e conquista sua liberdade de criação. Winnicott (1975), nos fala enfaticamente que “é no brincar que o indivíduo criança ou adulto pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)”. O autor afirma também que a brincadeira é universal, uma forma básica de viver. O referido autor nos diz que “viver criativamente constitui um estado saudável, e a submissão é uma base doentia para a vida”. 19060 De acordo com Vygotsky (1989), os objetos cotidianos envolvidos em situações concretas, podem ser recriados e transformados nesse processo, já que a ressignificação faz parte da capacidade de simbolizar que está presente na brincadeira. O brincar contribui para o desenvolvimento da capacidade de pensar, refletir e comunicar todas essas capacidades são fundamentais para que a criança cresça saudável. Na escola observamos com frequência este espaço proporcionado pelos professores, em casa os pais tem um papel fundamental de incentivarem as crianças possibilitando espaços e momentos para as brincadeiras. Bettelheim (1988) escreve que a brincadeira tem uma motivação interna, que corresponderia a uma ansiedade ou desejo, se configurando como um exercício de entendimento do mundo. Por isso entende a brincadeira compulsiva como representação de uma luta da criança para superar uma situação de dificuldade. Segundo o autor, a brincadeira é tão importante no desenvolvimento da criança, que sem ela o intelecto não se desenvolveria, pois a brincadeira possui uma função cognitiva e outra pulsional. Winnicott (1975) chama este espaço de espaço potencial, que deverá ser preenchido, num primeiro momento, por um objeto transicional. Esse espaço potencial é o espaço do imaginário, do jogo. É nesse espaço criado pelo bebê para aceitar estar sozinho que virá alojar-se a experiência cultural e artística. Segundo o autor o brincar adquiriu novo colorido a partir dos estudos sobre os fenômenos transicionais, remontando-os em todos os seus sutis desenvolvimentos, desde o emprego primitivo de um objeto ou técnica transicional, aos estádios supremos da capacidade de um ser humano para a experiência cultural. A brincadeira é universal e faz parte da saúde da criança, o autor diz: ...o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde: o brincar conduz aos relacionamentos grupais: o brincar pode ser uma forma de comunicação na psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi desenvolvida como forma altamente especializada do brincar, a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros. (Winnicott, 1975, pg. 63). Quando a criança brinca esta dando sinais claros de sua vivacidade, ao mesmo tempo em que se socializa com outras crianças ao mesmo tempo, pois como disse Winnicott há uma comunicação consigo (eu) e com os outros, gerando assim uma relação. Ao mesmo tempo em que a criança brinca ela cria relações, ao passo que ela interage com os objetos de sua brincadeira ela revela relatos íntimos, em um trabalho terapêutico são falas reveladoras. Ainda segundo Winnicott a brincadeira é extremamente excitante. Compreenda-se que é excitante não primariamente porque os instintos se acham envolvidos; isso está implícito. A 19061 importância do brincar é sempre a precariedade do interjogo entre a realidade psíquica pessoal e a experiência de controle de objetos reais. É a precariedade da própria magia, magia que se origina na intimidade, num relacionamento que está sendo descoberto como digno de confiança. Para ser digno de confiança, o relacionamento é necessariamente motivado pelo amor da mãe, ou pelo seu amor- ódio ou pela sua relação de objeto, não por formações reativas. O brinquedo e sua importância para a socialização O brinquedo é uma oportunidade de desenvolvimento. Brincando a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção. Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança. Irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto. Brincar é um momento de auto-expressão e auto-realização. Quando a criança brinca em grupo esta exercitando sua capacidade de socialização com as demais crianças, seja na troca de brinquedos ou aprendendo com as regras do jogo. Para que o brinquedo seja significativo para a criança é preciso que tenha pontos de contato com a sua realidade. Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos podemos avaliar o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-se suas potencialidades e ao observá-las poderemos enriquecer sua aprendizagem, fornecendo através dos brinquedos os nutrientes ao seu desenvolvimento. Vygotsky (1998) assinalou que uma das funções básicas do brincar é permitir que a criança aprenda a elaborar resolver situações conflitantes que vivencia no seu dia-a-dia; usará capacidades como observação, a imitação e a imaginação.Através desta imitação representativa, a criança vai também aprendendo a lidar com regras e normas sociais. O brincar é uma atividade específica da infância em que a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. É uma atividade humana criadora, na qual a imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão, de ação pelas crianças, possibilitando o surgimento de relações sociais com outras crianças e adultos. Só existe brincadeira se alguém for desejante da mesma, desde o início de nossa constituição aprendemos a brincar. Nossos pais são os pioneiros neste processo, é no brincar 19062 que a criança tem a oportunidade de desenvolver sua criação. De acordo com Fantin (2000), o ser humano necessita do contato com outras pessoas, pois é através da interação social que se desenvolve a linguagem, reconhecem-se as habilidades e ampliam-se os conhecimentos. Para a criança, o contato físico, social e a comunicação são fundamentais no seu desenvolvimento e uma das maneiras de manter este contato é brincando seja na escola, em casa ou nos espaços de recreações em geral. O (re) instaurar o desejo, o significado e o prazer de ensinar e aprender nas escolas através da brincadeira, também chegamos à inclusão social, pois o sucesso escolar assim obtido é uma das condições da inclusão escolar que é, por sua vez , um modo de inclusão social. Afinal, a Educação também é um direito a garantir. Além do mais, brincando, propiciamos o acesso ao patrimônio cultural da humanidade, particularmente o patrimônio lúdico, o que é, igualmente, um direito. Na brincadeira somos exatamente quem somos e, ao mesmo tempo, todas as possibilidades de ser estão nela contidas. Ao brincar exercemos o direito à diferença e a sermos aceitos mesmo diferentes ou aceitos por isso mesmo. Como brincar associa pensamento e ação, é comunicação e expressão, transforma e se transforma continuamente, é um meio de aprender a viver e de proclamar a vida. Qualquer semelhança entre a brincadeira e as novas formas de sociabilidade, de subjetividade e mesmo a nova epistemologia características da globalização contra hegemônica propugnadas por Santos (2006) não é mera coincidência. Cremos que a brincadeira pode ensejar a vivência de relações na escola e na sociedade mais justas, mais humanas, mais solidárias, concorrendo para a construção de um novo padrão de relações locais, nacionais e transnacionais, baseadas simultaneamente no princípio da redistribuição (igualdade) e no princípio do reconhecimento (diferença), como Santos preconiza para enfrentar a expansão do fascismo social em um mundo globalizado. Na brincadeira somos exatamente quem somos e, ao mesmo tempo, todas as possibilidades de ser estão nela contidas. Ao brincar exercemos o direito à diferença e a sermos aceitos mesmo diferentes ou aceitos por isso mesmo. Como brincar associa pensamento e ação, é comunicação e expressão, transforma e se transforma continuamente, é um meio de aprender a viver e de proclamar a vida. Deparamos-nos com a relação entre a cultura e o brincar, ou seja, a brincadeira e seu representante material (brinquedo) com a cultura é visto por Benjamim atrelada à função da 19063 imaginação no desenvolvimento da criança, na sua relação com os brinquedos. Por este motivo, afirmará que, quanto mais a imitação se anuncia nos brinquedos, tanto mais estes se desviam da brincadeira viva: “A essência do brincar não está no 'fazer como se', mas um 'fazer sempre de novo', transferência da experiência mais comovente em hábito” (Benjamim, 1984, pg.75). A brincadeira é uma atividade que estimula o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução de conflitos contribuindo para a formação de um cidadão crítico e reflexivo. O brincar é desenvolvido pela criança para seu prazer e recreação, além de permitir a interação da mesma com outras pessoas, bem como, possibilita explorar o meio ambiente. Além disso, o brincar favorece o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e responsabilidade da criança em relação a suas próprias ações. As brincadeiras e os grupos O desenvolvimento social é um fator de extrema importância em todos os segmentos da vida, especialmente no que tange à criança e seu processo de aprendizagem, o fator da qualidade do relacionamento interpessoal é primordial. A brincadeira que é universal e que é própria da criança conduz aos relacionamentos grupais. Conforme Zimerman (1997) o ser humano é gregário por natureza e somente existe, ou subsiste, em função de seus interrelacionamentos grupais. Desde o nascimento, o indivíduo participa de diferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social. Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um conjunto de grupos comstitui uma comunidade e um conjunto interativo das comunidades configura uma sociedade. Conforme Zimerman (2000) pode-se falar do grupo como representante de uma zona intermediária que recebe contribuição tanto da realidade interna como da vida exterior. Este conceito, aplicado aos grupos, corresponde com o formulado por Winnicott em relação aos 'objetos transicionais e os fenômenos transicionais' já que, se encontram na base das primeiras experiências de vida da criança. Podemos pensar no grupo como um local muito especial onde o brincar pode ocorrer mais do que em qualquer outro lugar, as crianças através da identificação tem a oportunidade de brincar em companhia. A capacidade de integração 19064 presume a possibilidade de suportar a frustração e de se sentir responsável pelos seus atos e sentimentos e, portanto exige trabalho ao psiquismo. As brincadeiras em grupo segundo Oliveira(2000), consistem na melhor experiência de sociabilização, já que para fazer parte do grupo é necessário aprender a controlar os próprios impulsos de hostilidade e desagregação, pois esses comportamentos podem ser identificados pelas outras crianças que poderão vir a excluir ou menosprezar aquele que não se integra bem. A essência de todo e qualquer indivíduo consiste no fato dele ser portador de um conjunto de sistemas: desejos, identificações, valores, capacidades, mecanismos defensivos e, sobretudo, necessidades básicas, como sujeito da dependência e a de ser reconhecido pelos outros, com os quais ele é compelido a conviver. Assim, como o mundo interior e o exterior são a continuidade um do outro, da mesma forma o individual e o social não existem separadamente, pelo contrário, eles se diluem, interpenetram, complementam e confundem entre si. Um grupo não é um mero somatório de indivíduos; pelo contrário, ele se constitui como nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos; todos os integrantes do grupo estão reunidos, face a face, em torno de uma tarefa e de um objetivo comuns ao interesse deles; a dinâmica grupal de qualquer grupo se processa em dois planos, tal como nos ensinou Bion: um é o da intencionalidade consciente (grupo de trabalho), e o outro é o da interferência de fatores inconscientes (grupos de supostos básicos). É claro que, na prática, esses dois planos não são rigidamente estanques, pelo contrário, costuma haver certa flutuação e superposição entre eles. O Grupo: É no grupo que os efeito do ateliê serão visualizados e identificados através do brincar em companhia. Zimerman (1997) descreve seis fenômenos importantes que definem o campo grupal: 1) A ressonância, que é um fenômeno comunicacional, no qual a fala trazida por um membro do grupo vai ressoar em outro, transmitindo um significado afetivo equivalente, e assim, sucessivamente. 2) O fenômeno do espelho, conhecido como galeria dos espelhos, onde cada um pode ser refletido nos, e pelos outros; o que nada mais é, do que a questão da identificação, onde o indivíduo se reconhece sendo reconhecido pelo outro, e assim vai formando a sua identidade; 19065 3) A função de "continente", ou seja, o grupo coeso exerce a função de ser continente das angústias e necessidades de cada um de seus integrantes. 4) O fenômeno da pertencência, chamado por Zimerman de vínculo do reconhecimento, que é "o quanto cada indivíduo necessita, de forma vital, ser reconhecido pelos demais do grupo como alguém que, de fato, pertence ao grupo. E também alude à necessidade de que cada um reconheça o outro como alguém que tem o direito de ser diferente e emancipado dele" (1997, p. 39); 5) A discriminação, que é a capacidade de fazer a diferença entre o que pertence ao sujeito e o que é do outro; 6) A comunicação, seja ela verbal ou não-verbal, fenômeno essencial em qualquer grupo onde mensagens são enviadas e recebidas, podendo haver distorção e reações da parte de todos os membros do grupo. Ateliê: um espaço de criação A escolha do nome do espaço do qual tratamos tem influência na forma pela qual o trabalho é conduzido. O uso do nome atelier, que, em francês condensa acte (ato) e lier (ligar) remete à ideia de um tecido que se borda: “bordar (escrever) sobre uma superfície (folha, corpo), delimita e demarca as bordas pelas quais se dá, ao mesmo tempo, a separação do outro (fazendo um) e a união com o outro (compondo o corpo coletivo)” (Trevisan, 2007). O que se produz neste espaço onde a criança brinca em companhia está sustentado em uma relação transferencial que dá suporte a uma possibilidade de criação de uma rede simbólica de compartilhamento, brincar em companhia uma passagem do simbólico ao real. O ateliê de ciranda endereça fantasia às crianças, sendo uma forma suportável de falar sobre si mesmo em companhia. É no momento da brincadeira que as crianças tem a oportunidade de criar um espaço de elaboração para seus medos, angústias e sofrimentos. Espaço este singular, onde através do brincar a criança vai ressignificando sua história e inventando o presente. É no brincar que entendemos o valor da inclusão é nele que as crianças não percebem suas diferenças, se tem uma diferença eles não notam, eles se divertem , brincam e jogam e vão interagindo sem perceber as outras competências e habilidades dos seus colegas. Assim sendo o brincar é um ponto chave para que aconteça a inclusão. O brincar infantil não 19066 determina as diferenças, pelo contrário ela cria uma ponte para a inclusão e convida cada um para fazer parte do processo. Segundo Larrosa, Connelly e Clandinin (1995), a investigação narrativa tece seus olhares sobre a experiência educativa. Uma das razões de sua utilização na educação é a assertiva de que os seres humanos são elementarmente organismos contadores de histórias. Relatamos histórias de modo individual e social. Portanto, o estudo das narrativas é o estudo das formas como o homem experiencia o mundo. Tanto os professores como os alunos são contadores e também personagens de tais histórias. Quando trabalhamos os dispositivos, da avaliação qualitativa, observamos que precisamos articular conceitos, teorias, os quais são de diferentes campos do saber, tais como: filosofia, psicanálise, antropologia, arte, educação, etc. Construímos, assim, novas trilhas, caminhos transversais, possibilidades, perspectivas, de um olhar, de um fazer ciência. Essas reflexões apontam para os seguintes caminhos: - O que o brincar em companhia pode produzir no que toca o campo da invenção de si e sobre um saber fazer sobre si mesmos? - Qual a representação da brincadeira sobre o “ser criança”? - Qual o impacto do ateliê de ciranda para um fazer compartilhado em um grupo de experiência? Pesquisa e psicanálise Segundo Birman (1994), a Psicanálise, diferentemente da Psicologia, funda sua pesquisa nos pressupostos do inconsciente, ou seja, ultrapassa o registro da consciência e se aproxima do funcionamento pulsional. Esse modo de pesquisa pretende ser uma analítica do sujeito, centrando suas atenções na palavra (escrita) e na escuta. O discurso freudiano operou, efetivamente, um ato de interpretação, baseado na atividade da escuta. Esse saber, então, começa a ter um reconhecimento no que tange à dimensão atual de ciência. Portanto, a Psicanálise se constitui como um saber da interpretação. Para a ciência, depositar um saber na interpretação seria depositar um saber no discurso meramente especulativo da filosofia, ou seja, seria uma forma que poderia se transformar a qualquer momento em forma delirante de interpretação. Não se pode pensar na psicanálise dissociada da interpretação. Assim, no final do século XIX, a psicanálise foi 19067 levada pela ciência a se aproximar da filosofia pelos padrões impostos pelas regras vigentes da ciência (Birman, 1994). Resultados A criança, ao brincar, tem a oportunidade de relacionar-se e perceber-se na relação com o outro, pois ao participar de uma brincadeira a criança se socializa. A brincadeira é prazerosa para toda a criança e necessária para a integração dos alunos com necessidades educativas especiais no contexto escolar. É uma maneira de integrar todas as crianças através de um ambiente saudável, lúdico e divertido. O ateliê de ciranda é um espaço onde as crianças podem expressar suas opiniões, dúvidas e sentimentos encorajando-as a interagir no mundo que as cerca, percebendo- se como sujeito. Conclusão O trabalho apresentado buscou demonstrar a importância do brincar para o desenvolvimento humano, sendo assim destacamos a importância das pessoas que estão em contato direto com a criança em propiciar estes momentos. Assim sendo, as crianças têm através do prazer, do brincar e da ressignificação do contexto que as cerca, a possibilidade de desenvolver-se integralmente nos âmbitos social, afetivo, físico e cognitivo. É acreditando em um ateliê de brincadeira e nos efeitos do brincar em companhia, que propomos um espaço onde a criança através do brincar possa resignificar seus medos, angústias e sofrimentos. Portanto, fica posto neste projeto de pesquisa que, o semelhante, por estar em uma posição de testemunha de uma brincadeira, confere uma presença ao que se constitui como perda e, é nessa condição que é permitido que o ato de brincar possa produzir um saber-fazer-sobre-si-mesmo, que se da pela brincadeira e pelo corpo como uma produção sobre si mesmo como se fosse uma nova construção. REFERÊNCIAS BETTELHEIM , B. Uma vida para seu filho: pais bons o bastante. (M. Sardinha & M. H. Geordane, Trads). Rio de Janeiro: Campus, 1988. BIRMAN, Joel. Psicanálise, ciência e cultura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1994. 19068 BENJAMIN, W. (1984) Reflexões: A criança, o brinquedo e a educação. (M.V. Mazzari, Trad). São Paulo: Summus. DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. DIATKINE, Gilbert. Jacques Lacan. Porto Alegre: Artemed, 1999. FANTIN, M.. No mundo da brincadeira: Jogo, brinquedo e cultura na educação infantil. Florianópolis, SC: Cidade Futura, 2000. 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