Brincadeira e movimento (contribuições da Psicomotricidade para o

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Brincadeira e movimento
(contribuições da Psicomotricidade para o desenvolvimento da criança)
O universo do brincar cada vez mais tem recebido atenção especial por pais e
especialistas. Sabe-se que, enquanto uma criança brinca, está aprendendo o tempo todo.
Mas o que podemos fazer para proporcionar vivências corporais que favoreçam
melhores condições de aprendizagem?
É aí que entra a Psicomotricidade, uma ciência relativamente nova que, por ter o
homem como objeto de estudo, engloba várias áreas: educacionais, psicopedagógicas e
de saúde. Envolve o desenvolvimento global e harmônico do indivíduo desde o
nascimento e, por este motivo, pode contribuir para o desenvolvimento da criança.
O desenvolvimento psicomotor acontece num processo conjunto de todos os
aspectos: motor, intelectual, emocional e expressivo. Estimular brincadeiras que
envolvam todos estes aspectos é de fundamental importância para o desenvolvimento
pleno da criança, uma vez que os conceitos básicos da aprendizagem necessitam ser
experimentados primeiramente no corpo para depois poderem ser representados
mentalmente.
Por exemplo, quando um bebê começa a brincar de
encaixar formas geométricas, ele primeiro pega as
formas, sente suas características curvas ou retas,
percebe as cores e os formatos, para depois fazer
uso da habilidade mental de associar a forma que
está segurando ao local correto de encaixe.
Toda brincadeira pode parecer simples aos olhos de um adulto, mas para a
criança é sempre desafiadora, aguça a curiosidade, possibilita experiências variadas,
enfim, ensina conceitos.
A Psicomotricidade não está interessada somente na execução correta dos
movimentos, na aquisição de gestos automáticos. O interesse maior encontra-se no
pensamento que está por trás dessas ações. Com este foco, conhecer as áreas
psicomotoras pode ajudar os adultos envolvidos em propiciar o maior número de
vivências, e as mais diversificadas ações às suas crianças.
A primeira área é chamada Tonicidade. Postura, gestos, emoções e atenção
fazem parte desta área fundamental para o suporte de qualquer resposta motora. Uma
brincadeira bastante simples é utilizar um boneco articulado, que dobre as pernas e
braços, para criar posturas corporais. A criança é desafiada a imitar as posturas do
boneco e manter seu corpo nessa posição por alguns minutos.
A segunda área é a Equilibração. Constitui o controle postural, sem o qual
nenhuma atividade pode ser realizada. É essencial para as ações coordenadas e
intencionais, que nada mais são do que a base dos processos de aprendizagem.
A tradicional brincadeira do pé-de-lata rende
movimento e brincadeira para várias idades. Para as
crianças menores, se equilibrar sobre ele já é um
desafio. Para as maiores, apostar corrida e até dançar
usando o pezão equilibrista são variações desta
brincadeira simples, mas que ajuda na percepção do
próprio corpo.
A terceira área é chamada noção de corpo, ou Esquema e imagem corporal. Para
a sua construção é necessário o conhecimento e percepção de onde se encontram os
distintos membros do nosso corpo e sua conscientização.
Envolve a sensibilidade postural, a conexão com a capacidade de
localização, a imagem visual do corpo, a simetria do corpo que se
adquire fisiológica e psicologicamente. Brincar de nomear as
partes do corpo de uma boneca já é uma maneira simples de
desenvolver as habilidades relacionadas a esta área. E, claro, antes
disso, nomear no próprio corpo da criança, por exemplo na hora
do banho: “onde está a mãozinha da Júlia?”.
A quarta área é a Lateralização, que integra os dois lados do corpo, chamada de
especialização hemisférica. Divide-se em duas funções: dominância lateral motora e
sensorial (das mãos, pés, olhos e ouvidos) e lateralidade (conhecer direita e esquerda em
si, no outro e nos objetos). É importante ressaltar que esta última aquisição pode ocorrer
até os 7 anos de idade, não havendo necessidade de preocupação antes disso. Aos 5 anos
a criança precisa ter uma preferência por um dos lados, não uma definição.
O simples movimento de passar objetos de uma mão para outra,
ou de chutar uma bola variando o pé utilizado, já são atividades
que estimulam o uso dos dois lados do corpo.
A quinta área é a Noção espaço-temporal. Reconhecer, interferir e agir sobre os
espaços e dentro deles é um dos desafios desta área. A noção espacial vai além da
dimensão física: paredes e portas. Está ligada à percepção de tudo aquilo que está ao
redor de seu corpo e suas relações com este espaço. A autonomia de ir e voltar a algum
lugar dentro da escola ou locais próximos à sua casa diz respeito à noção espacial.
Delimitar o espaço para a criança brincar – por exemplo, na quadra do prédio, hoje só
vale correr até a linha branca – é uma fora simples de brincar com o espaço.
As noções e o domínio do tempo são importantes no desenvolvimento de hábitos
do cotidiano, além de envolverem noções matemáticas como antes, durante, depois,
entre, horas, dias, meses, anos, entre outras. Ter um calendário no quarto da criança e
marcar datas especiais é uma forma de aproximá-la da aquisição desta noção. Contar
quantos dias faltam para determinado evento também auxilia nesse processo.
A sexta e última área psicomotora são as praxias, popularmente conhecidas
como coordenação motora ampla e fina. São atos motores coesos, econômicos,
organizados e intencionais.
A praxia ampla apura os movimentos dos membros superiores e
inferiores, que permite a construção de uma grande organização
corporal. Pular corda é um ótimo exemplo de brincadeira que
estimula esta área, além de exigir da criança um ritmo na
execução.
Entende-se por praxia fina a capacidade de coordenar
movimentos mais refinados, aqueles que podem ser executados
com o auxílio das mãos e dos dedos, especificamente aqueles
com grande importância entre mãos e olhos. Quebra-cabeças e
jogos de encaixe são exemplos de brinquedos que auxiliam na
aquisição desta habilidade indispensável tanto na escola como
fora dela, no nosso dia-a-dia.
Quando uma criança percebe os estímulos do meio valendo-se de seus sentidos,
de suas sensações e seus sentimentos, e quando age sobre o mundo e sobre os objetos
que o compõem por meio do movimento do seu corpo, está experimentando, ampliando
e desenvolvendo suas funções intelectuais.
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