Thainá Sanches Paixão AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA ISOTRETINOÍNA ORAL EM PACIENTES COM ACNE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Monografia de conclusão do Programa de Aprimoramento Profissional, área de Análises Clínicas/Laboratório de Saúde Pública, credenciado pela Secretaria de Estado da Saúde, no Instituto Lauro de Souza Lima – Bauru – SP. Bauru - SP 2016 Thainá Sanches Paixão AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA ISOTRETINOÍNA ORAL EM PACIENTES COM ACNE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Monografia de conclusão do Programa de Aprimoramento Profissional, área de Análises Clínicas/Laboratório de Saúde Pública, credenciado pela Secretaria de Estado da Saúde, no Instituto Lauro de Souza Lima – Bauru – SP. Orientadora: Ms. Patrícia Gigliotti Bauru - SP 2016 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO DE BIBLIOTECA DO INSTITUTO “LAURO DE SOUZA LIMA” P167a PAIXÃO, Thainá Sanches. Avaliação dos efeitos da isotretinoína oral em pacientes com acne: revisão bibliográfica / Thainá Sanches Paixão, Bauru, 2016. 45 f.: il. Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional em Análises Clínicas da Secretaria de Estado da Saúde do Instituto Lauro de Souza Lima, sob orientação da Ms. Patrícia Gigliotti. 1. Isotretinoína. 2. Acne. 3. Alterações laboratoriais I. Gigliotti, Patrícia. II. Título. WR430 AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA ISOTRETINOÍNA ORAL EM PACIENTES COM ACNE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA BANCA EXAMINADORA Orientadora: Ms. Patrícia Gigliotti Divisão de Pesquisa e Ensino – Instituto Lauro de Souza Lima Primeiro Titular: - Segundo Titular: - Data da Defesa: 29/02/2016 “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.” Edmund Burke Dedicatória A Deus Por me dar força e coragem; Pelo ensinamento diário; E por diante de tantas dificuldades não me deixar cair. Com carinho especial À minha família, em especial ao meu pai Moacyr, a minha mãe Rosana, minha irmã Thauana e ao meu noivo Neto pela paciência, companheirismo principalmente pelo amor incondicional. e Agradecimento especial À minha orientadora Ms. Patrícia Gigliotti, pela amizade, carinho, ensinamento e motivação durante todo o aprimoramento e no decorrer do trabalho. Às minhas preceptoras PqC. Elaine Valim Camarinha Marcos e PqC. Suzana Madeira, por toda ajuda, compreensão e ensinamento. Ao Instituto Lauro de Souza Lima, pelo acolhimento e pela oportunidade de me aprimorar profissionalmente. Aos funcionários dos Laboratórios de Análises Clínicas, Micologia, Microbiologia e Imunologia, que contribuíram para meu crescimento pessoal e profissional minha enorme gratidão. Espero levá-los comigo durante toda a vida. Aos amigos do aprimoramento, Bruna Gimenez, Bruna Freitas, Dayane e Rodrigo agradeço pelos dias de amizade, felicidade e por toda ajuda no decorrer do aprimoramento. A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que tudo acontecesse, desde a realização desse trabalho até a conclusão do aprimoramento profissional. Resumo Paixão, T. S. Avaliação dos efeitos da isotretinoína oral em pacientes com acne: Revisão bibliográfica. [monografia]. Bauru: Instituto Lauro de Souza Lima; 2016. A acne é uma doença inflamatória que acomete principalmente os folículos sebáceos presentes no rosto, tórax e costa. Seu tratamento inicialmente limita-se ao uso de soluções desengordurantes, antissépticas e esfoliantes tópicas, capazes de controlar a oleosidade. No entanto, os casos mais graves requerem o uso de drogas farmacológicas como antibiótico sistêmico, terapias hormonais e administração de isotretinoína oral. Visto a efetividade deste medicamento, reunimos informações atuais sobre a isotretinoína e relatamos as principais alterações laboratoriais encontradas. Palavras chave: Hepatotoxidade. Isotretinoína, Acne, Alterações laboratoriais e Abstract Paixão, T. S. Assessment of the effects of oral isotretinoin in patients with acne: Literature review. [monograph]. Bauru: Instituto Lauro de Souza Lima; 2016. Acne is an inflammatory disease that affects the sebaceous follicles present on the face, chest and coast. His treatment was initially limited to the use of degreasing solutions, antiseptic and topical exfoliants, can control the oiliness. However, more severe cases require the use of pharmaceutical drugs such as systemic antibiotics, hormonal therapy and administration of oral isotretinoin. Since the effectiveness of this product, we gather current information about isotretinoin and report the main laboratory abnormalities found. Keywords: Isotretinoin, Acne, laboratory abnormalities and hepatotoxicity. Abreviaturas LISTA DE ABREVIATURAS ALT Alanina aminotransferase AST Aspartato aminotransferase HDL High Density Lipoproteins LDL Low Density Lipoproteins VLDL Very Low Density Lipoprotein Figuras LISTA DE FIGURAS Figura 1: Fisiopatologia da acne. 17 Figura 2: Graus da acne. 18 Figura 3: Acne Grau V. 19 Figura 4: Propionibacterium acnes. 20 Sumário 1. INTRODUÇÃO ................................................................ 14 1.1. Epidemiologia .................................................................... 15 1.2. Etiopatogenia ..................................................................... 15 1.3. Classificação da acne........................................................ 17 1.4. Propionibacterium acnes .................................................. 19 1.5. Modificações comportamentais ....................................... 20 1.6. Isotretinoína ....................................................................... 21 1.7. Metabolização do medicamento ....................................... 22 1.8. Alterações laboratoriais .................................................... 23 1.9. Regressão/Cura ................................................................. 23 2. OBJETIVOS .................................................................... 25 3. CASUÍSTICA E MÉTODOS ............................................ 27 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................... 29 5. CONCLUSÃO ................................................................. 34 6. REFERÊNCIAS ............................................................... 36 7. ANEXOS ......................................................................... 43 Introdução 15 1. Introdução A acne trata-se de uma doença genético-hormonal inflamatória que acomete principalmente os folículos sebáceos presentes no rosto, tórax e costas. Considerada atualmente como uma enfermidade autolimitante e multifatorial, seu tratamento justifica-se pela possibilidade de evitar lesões cutâneas permanentes, bem como transtornos psicológicos, oriundos do abalo à autoestima1. 1.1 . Epidemiologia Dados epidemiológicos posicionam a acne como a 8ª doença mais comum no mundo, e esta junto a demais dermatoses causam um grande impacto no contexto global de saúde. A população mais afetada é a China com mais de 82 milhões de casos. Nos Estados Unidos, estima-se que 17 milhões de americanos possuem acne e no Brasil esse número chega a aproximadamente 12 milhões2. A acne pode acometer tanto homens quanto mulheres, mas geralmente o curso mais grave da doença ocorre no sexo masculino, devido a influências androgênicas3,4. Estudos demonstram que os fatores genéticos possuem importante papel na patogenia da acne e que de fato atuam na severidade da doença5,6. Goulden et al.7 relataram que o histórico familiar possui um papel fundamental na suscetibilidade a acne em adolescentes. Porém, as relações entre os fatores genéticos são pouco investigadas. 1.2. Etiopatogenia A etiopatogenia da acne está relacionada à: 1) estímulos das glândulas sebáceas pela hipersecreção de andrógenos, 2) produção excessiva de sebo, 3) alteração da descamação do epitélio, que consequentemente leva ao estreitamento e obstrução do folículo piloso, 4) colonização bacteriana 16 pelo Propionibacterium acnes (P. acnes), e 5) respostas inflamatórias e imunológicas do indivíduo8,9,10. Na acne, os andrógenos contribuem para a secreção de sebo pelas glândulas sebáceas11. Estes hormônios são derivados do colesterol, e têm como alvos a pele e a região pilossebácea12. A superfície cutânea é constituída por lípides da queratinização e sebo, o qual é composto por triglicerídeos, ácidos graxos livres, ésteres de cera, escaleno, ésteres esteróides e colesterol 13. Os ésteres e o colesterol presente no sebo são produzidos na porção epidérmica e liberados pela glândula. Os ácidos graxos livres são obtidos a partir da hidrólise dos triglicerídeos, e são diretamente proporcionais ao tempo de exposição cutânea do sebo14. Em indivíduos acnéicos a produção de sebo é alterada quando comparado a indivíduos normais. Estudos realizados na Nigéria demonstraram que indivíduos acnéicos apresentam um aumento significativo nos níveis de triglicérides e colesterol total e uma diminuição dos lípides cutâneos indeterminados15. Foi visto que gravidade comedogênica pode estar associada com a atuação do escaleno na secreção sebácea, e esta se torna aumentada quanto maior for o tamanho da glândula 16. No entanto, a comedogênese, é o resultado da hiperqueratinização folicular, um dos fatores importantes para a etiopatogenia da acne17,18. O ácido linoleico é um ácido graxo essencial que possui grande importância na manutenção da barreira epidérmica e, é necessário para a síntese de ácidos graxos de cadeia longa ω-6. Nos comedões esse apresenta-se reduzido19, 20. Sugere-se que a deficiência de ácido linoleico, acompanhados dos efeitos da IL- 1α e a produção excessiva de andrógenos sejam fatores predisponentes para a hiperqueratinização folicular, com consequente cornificação dos queratinócitos, escamações e entupimento do folículo com formação de comedões8,21, 22. Assim, qualquer alteração na barreira epidérmica e sob a ação da produção de ácidos graxos pró-inflamatórios presentes no sebo, há o desenvolvimento de processos inflamatórios23. A figura abaixo demonstra a 17 fisiopatologia da acne. Em A. há o início dos comedões com acúmulo de células epiteliais e queratina nos folículos pilosebáceos, em B. ocorrerá acúmulo de queratina e sebo levando a formação dos comedões tardios, em C. ocorrerá à proliferação do P. acnes e uma leve inflamação, a formação de pápulas e pústulas estão presentes. Em D. temos a acne nódulo-cística, caracterizada por uma inflamação acentuada com formação de cicatrizes. Fisiopatologia da Acne. Fonte: Dr. Rinaldi Acupuntura. Acne vulgar e acupuntura, 2012. 1.3. Classificação da acne O quadro clínico da acne é caracterizado por um conjunto de lesões cutâneas fechadas e/ou abertas, as quais são chamadas de comedões, pápulas, pústulas, nódulos e abcessos. Tais lesões são analisadas de forma isolada ou em conjunto, o que define o tipo e a gravidade da doença24. Os sinais clínicos acompanhados dos sintomas classificam a acne em grau I ou não-inflamatória e grau II, III, IV e V as acnes inflamatórias, as quais se diferenciam de acordo com o número, intensidade e características das lesões presentes. A acne grau I ou não-inflamatória é caracterizada pela presença de comedões abertos, que são definidos pela hiperceratose de retenção no folículo pilosebáceo, acompanhados de algumas pápulas e pouquíssimas pústulas. A acne inflamatória grau II ou acne pápulo- 18 pustulosas caracteriza-se pela presença de pápulas inflamatórias ou pústulas associadas à comedões abertos com ou sem eritema inflamatório. Neste caso a seborreia está sempre presente. A acne inflamatória grau III ou acne nódulo-cística é caracterizada pela presença de comedões abertos, pápulas, pústulas e seborreia. Com o rompimento da parede do folículo há uma reação inflamatória dos corneócitos, além da presença de bactérias que atingem a profundidade do folículo até chegarem ao pêlo, e então são formados os nódulos furunculóides. A acne grau IV ou acne conglobata é considerada a forma grave da acne e caracteriza-se pela presença de lesões anteriores associadas a nódulos purulentos numerosos e grandes, formando abcessos e fístulas que drenam o pus. A acne grau V ou acne fulminans é raramente encontrada em nosso meio, e caracteriza-se por apresentar o quadro de acne nódulo-cística ou conglobata acompanhado de febre, leucocitose, poliartralgia, eritema inflamatório ou necrose e hemorragia em algumas lesões3. Graus da Acne Fonte: Espaço José Marcos. Acne, 2013. 19 Grade V Fonte: http://gptraining.dundee.ac.uk/modules/Dermatology/Clinical/Case3.aspx 1.4. Propionibacterium acnes O P. acnes é uma bactéria gram-positiva em forma de bastonete, imóvel, anaeróbica, que reside principalmente à flora normal da pele e coloniza as glândulas sebáceas e folículos pilosos25. É considerado o principal microrganismo envolvido na patogênese da acne 3,25. Análises microbiológicas realizadas em várias partes do corpo demonstram uma alta associação entre o P. acnes e os níveis de produção de sebo26. Estudos de Bojar & Holland em 2004, revelaram que em superfícies cutâneas de indivíduos acnéicos podem ser encontrados até 120.000 espécimes/cm2 27. Esta bactéria contribui no desenvolvimento do processo inflamatório da acne através da liberação de enzimas, as quais estão envolvidas no processo de ruptura folicular e inflamação da derme. Concomitantemente, anticorpos específicos são produzidos contra o P. acnes, os quais fragilizam a parede epitelial infundibular28. Sugere-se que a patogenicidade do P. acnes seja devido à produção de tais enzimas e produtos exocelulares bioativos capazes de produzir 20 fatores quimiotáxicos, os quais recrutam diferentes tipos celulares acentuando a processo inflamatório local29. Propionibacterium acnes Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/microbiologia 1.5. Modificações comportamentais A acne pode causar um forte impacto psicossocial em indivíduos acometidos pela doença. Devido à insatisfação corporal e baixa autoestima, observa-se modificações nas atividades cotidianas e nas relações sociais com uma diminuição da valorização pessoal. Alguns indivíduos podem apresentar sintomas de depressão, e em alguns casos ideação suicida 30. Relatos demonstram que o período da adolescência é o mais crítico. Os distúrbios psicológicos ocorrem devido às modificações e descontentamento corporal, e se agrava quando há necessidade de agradar o outro, uma vez que o físico muitas vezes assume grande relevância 8,30. Nota-se que os pacientes com acne apresentam constantes episódios de problemas emocionais, e os sinais e sintomas dependem da severidade da doença30,31. A ansiedade e depressão estão entre os sintomas mais encontrados32, 33, 34. 21 1.6. Isotretinoína A escolha do tratamento da acne depende da gravidade das lesões presentes em cada indivíduo. Para alguns pacientes o tratamento irá se limitar ao uso de soluções desengordurantes, antissépticas e esfoliantes tópicos, capazes de controlar a oleosidade. No entanto, os casos mais graves requerem o uso de drogas farmacológicas como antibiótico sistêmico, terapias hormonais e administração de isotretinoína oral35. Conhecida quimicamente como ácido 13-cis-retinóico, a isotretinoína é um derivado ativo sintético da vitamina A (retinol), obtido pela modificação química da mesma. Tal fármaco representa a única opção apta a levar a remissão prolongada ou cura da acne, pois é capaz de diminuir a formação do sebo através da redução do tamanho da glândula sebácea, combater a flora anaeróbica da pele, agir sobre o padrão de queratinização folicular e desenvolver uma potente ação anti-inflamatória36. Promove a cura clínica em 85% dos casos, e é considerada a medicação mais efetiva nos casos de acne37. Introduzida em 1979, a isotretinoína teve sua utilização aprovada em 1982. Três anos depois, foram publicados excelentes resultados sobre o uso deste medicamento no Brasil, o que se comprovou assim os benefícios da isotretinoína. E então, em 1993, iniciou-se a comercialização do fármaco no nosso país36,38. Segundo o Ministério da Saúde, pacientes que fazem o uso de isotretinoína devem receber acompanhamento clínico-laboratorial. Antes de iniciar o tratamento, os pacientes passam por uma avaliação, com dosagem das enzimas hepáticas (AST e ALT), glicemia de jejum, avaliação do tempo de protrombina (TAP) e por fim é avaliado o perfil lipídico (dosagem de colesterol total, HDL colesterol, LDL colesterol e triglicérides). Para pacientes do sexo feminino é solicitado ainda à dosagem do β-HCG, pois o risco de gravidez deve ser sempre excluído, uma vez que este fármaco é teratogênico35. 22 1.7. Metabolização do medicamento O fígado é o órgão responsável pela metabolização de praticamente todos os medicamentos. Além disso, é capaz de regular o metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios, armazenar, degradar e excretar algumas substâncias, contribuir para a manutenção da hemostasia, auxiliar a resposta imune, e produzir os de plaquetas39, 40, 41. A partir de ações enzimáticas os fármacos sofrem modificações químicas, o qual torna a molécula mais reativa para uma posterior conjugação e consequente eliminação. A grande maioria dos fármacos é excretada pela via urinária, no entanto, alguns são eliminados através da bile, de modo que quantidades significativas do medicamento são reabsorvidas no intestino e outra parte eliminadas junto com as fezes 41. As peculiaridades farmacocinéticas da isotretinoína são semelhantes à da vitamina A. Após a ingestão do medicamento, a concentração plasmática máxima do fármaco ocorrerá em torno de 2 a 4 horas36. De acordo com Diniz e colaboradores, cerca de quase 20% da isotretinoína é absorvida quando administrada com estômago vazio, e aumenta para 40% na presença de alimento42. Através do processo de oxidação, ocorre a metabolização da isotretinoína pelas enzimas do citocromo P450 dando origem a vários metabólitos. O principal é conhecido como 4-oxo-isotretinoína e se acumula na corrente na sanguínea por administrações seguintes. A excreção deste medicamento pela bile ocorre após sua conjugação com ácido glicurônico43. Porém, os outros metabólitos depositam-se lentamente no plasma e possui meia-vida de eliminação em média de 25 horas, a da isotretinoína é de 7 a 39 horas. O equilíbrio dinâmico se estabelece em 5 a 7 dias, conforme administrações seguintes 41,42. 23 1.8. Alterações laboratoriais Os pacientes que fazem o uso contínuo da isotretinoína podem apresentar algumas alterações laboratoriais como: aumento dos níveis de triglicerídeos, colesterol, transaminases e diminuição no valor absoluto dos glóbulos brancos e vermelhos43. A redução da taxa das hemácias está associada com o aumento da velocidade de hemossedimentação, bem como a diminuição dos níveis de hemoglobina, devido a episódios de sangramento, muito comum em pacientes hemofílicos42. Estudos sugerem que 25% dos pacientes que fazem uso da isotretinoína apresentam aumento dos níveis de triglicerídeos, e que este pode estar associado ao aparecimento de pancreatite aguda. Além disso, pode ocorrer queda da concentração plasmática do HDL e aumento de LDL e VLDL colesterol. A elevação das transaminases (Aspartato aminotransferase ou AST e Alanina aminotransferase ou ALT) pode ocorrer em 6% dos casos42. As dosagens das enzimas hepáticas, perfil lipídico, glicemia de jejum e avaliação do tempo de protrombina devem ser reavaliados após 30 dias do início do tratamento com a isotretinoína e repetido a cada 3 meses. Tal medida é tomada a fim de avaliar a resposta terapêutica esperada, bem como avaliar a função hepática, e se necessário interromper o uso do medicamento em caso de hepatotoxidade44. É importante salientar que após o término de tratamento, todas as alterações retornam a sua normalidade 42. 1.9 Regressão/Cura Apesar de a isotretinoína ser um fármaco que apresente efeitos colaterais indesejáveis em determinados pacientes, este continua sendo o mais efetivo para o tratamento da acne, já que possui eficácia na diminuição dos nódulos e fistulas inflamatórias. A regressão da doença ocorre em torno de 16 a 24 semanas de tratamento e a duração do mesmo irá se adequar conforme a resposta terapêutica de cada paciente42. No caso de persistência 24 das lesões ou recidivas é necessário prolongar o tratamento dentro de dois meses após o término anterior45. Objetivos 26 2. OBJETIVOS O objetivo deste estudo foi realizar uma breve revisão de literatura sobre os efeitos da isotretinoína em pacientes portadores de acne, além de exibir as principais medicamento. alterações clinico-laboratoriais do uso deste Casuística e Métodos 28 3. CASUÍSTICA E MÉTODOS Foi realizada uma busca sistematizada nas principais bases de dados em medicina, como: MedLine, PubMed, LILACS e SciElo. As palavras chaves utilizadas foram: Isotretinoína, Acne, Alterações laboratoriais e Hepatotoxidade. Entre o período de 2005 a 2015. Incluindo todos os artigos que relatem investigações originais sobre o assunto. Resultados e Discussão 30 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A acne trata-se de uma doença dermatológica que acomete indivíduos preferencialmente na puberdade, e pode persistir na vida adulta. Nos dias atuais, diante do avanço da medicina diversos medicamentos tópicos e de via oral foram desenvolvidos a fim de evitar lesões permanentes na pele daqueles que as desenvolve. Muitas vezes o uso de loções tópicas é capaz de controlar a progressão da acne. No entanto, em alguns casos é necessário o uso de medicamentos por via oral para combater a doença. Baseados em publicações cientificas evidenciamos os benefícios da isotretinoína para a população acnéica, e descrevemos as alterações laboratoriais encontradas em cada estudo. Em 2005, Leite et al.46 analisaram 11 pacientes com Síndrome do Ovário Policístico que apresentavam acne nodular na face. Estas foram submetidas a exames laboratoriais iniciais e então foram encaminhadas ao tratamento com isotretinoína por 143 dias. Observou-se uma progressão significativa no segundo mês de tratamento. Seis delas apresentaram melhora da acne. Foi encontrado alterações das enzimas hepáticas (AST e ALT) em apenas uma paciente, a qual foi orientada a deixar o tratamento e optar por outro tipo de medicação. Assim, verificaram-se os benefícios do uso da isotretinoína para o tratamento da acne nódulo cística. Foi notado uma melhora significativa nas áreas acometidas em todas as pacientes, bem como no humor e na autoestima. Júnior et al.47 avaliaram 20 pacientes com acne por oito meses com isotretinoína. Observaram a melhora da acne em todos os indivíduos. As alterações laboratoriais ocorreram em cerca de 30% dos pacientes, e as mais frequentes foram o aumento do colesterol seguido do aumento dos triglicerídeos e glicose. Diante disso, as doses terapêuticas foram reduzidas. Os autores concluíram a importância de uma monitorização minuciosa para se obter uma resposta terapêutica esperada e com o mínimo de risco para o paciente. Estudos realizados por Brito et al.48 atentaram-se a tolerabilidade da isotretinoína em pacientes que faziam tratamento para a acne. O estudo 31 contemplou 150 pacientes, sendo estes submetidos a avaliações clínicas e laboratoriais após um mês e a cada três meses até o final do tratamento. Os parâmetros analisados mostraram variações discretas, principalmente quando avaliadas as enzimas hepáticas. Os níveis de colesterol e suas frações e fosfatase alcalina também tiveram variações insignificantes. Já os níveis de triglicerídeos apresentaram variações relevantes, corroborando com o que já é encontrado na literatura. Nenhum paciente teve que suspender o tratamento ou alteração da dose do fármaco. Pode-se concluir que a isotretinoína é um medicamento seguro e proporciona excelente resultado. Borges et al.49 avaliaram os efeitos da isotretinoína oral sobre o perfil lipídico e a lesão hepatocelular dos pacientes com acne vulgar na população de Alagoas. O estudo transversal atentou-se a revisão de 721 prontuários de pacientes que faziam o uso do fármaco e continha dados sobre os níveis de colesterol total e frações, triglicerídeos e as enzimas hepáticas de cada indivíduo antes e depois do tratamento. Foi verificado que dentre os pacientes avaliados, 15,27% apresentaram elevações nos níveis de triglicerídeos, 19,71% hipercolesterolemia, 12,55% elevação de ALT e 3,26% evoluíram com aumento de AST. No entanto, mesmo após ter sido encontrado um aumento relativo nas taxas séricas lipídicas e das enzimas hepáticas nos pacientes que se submeteram ao tratamento, apenas um pequeno número de pacientes desenvolveu níveis sanguíneos que levaram a descontinuidade do tratamento ou diminuição da dose do fármaco. Isto corroborou com a segurança da terapia se avaliada periodicamente, demonstrando assim a capacidade deste medicamento em solucionar o problema da acne nesta população. No início de 2013, Bergler-Czop e Wcisto50 a fim de avaliar os benefícios da isotretinoína, agruparam 155 pacientes com diferentes formas clínicas da acne. Eles foram submetidos a testes laboratoriais como, avaliação do perfil hepático (ALT e AST) e perfil lipídico (colesterol total e frações acompanhado dos triglicerídeos) dosagem de glicemia de jejum, amilase e citocinas pró-inflamatórias (interleucina-α, interlecina-1β, 32 interleucina-8 e fator de necrose tumoral-α) antes e depois da administração da isotretinoína oral. O uso dos testes imunoenzimático (ELISA) permitiu verificar uma diminuição considerável dos níveis de IL-1α, IL-1β e TNF-α após o uso do medicamento. Tais achados confirmaram o potencial antiinflamatório do medicamento e a melhora do quadro clínico destes pacientes. Kotori51 avaliou a eficácia de baixas doses de isotretinoína em pacientes com acne. O estudo foi prospectivo, e contemplou 50 pacientes de ambos os sexos divididos em dois grupos com faixa etária de 12 a 20 anos (grupo 1) e de 21 a 35 anos (grupo 2), que estavam sob tratamento de acne moderada, com administração de 20 mg/dia, ou seja, cerca de 0,3-0,4 mg/kg por dia, durante 3 meses. Os pacientes passaram por avaliações clínicolaboratoriais com intervalos de 2 a 2 meses. Foi observado cura da acne em 90,8% dos pacientes do grupo 1 e 89,6% do grupo 2. Os casos de recidiva foram encontrados em 3,9% e 5,9%, nos grupos mencionados acima respectivamente. Dados laboratoriais revelaram que apenas 4,2% do total dos pacientes apresentaram níveis lipídicos séricos maiores que valores de referência. E 4,8% destes apresentaram elevação das enzimas hepáticas. Assim, foi concluído que o tratamento com baixas doses de isotretinoína é eficaz no tratamento de acne moderada, o que permite diminuir os efeitos colaterais indesejáveis causados pelo medicamento, já que essas complicações são dose-dependentes. Estudos comprovaram que 20% dos pacientes que fazem uso da isotretinoína apresentam elevações nos níveis séricos de colesterol. Os níveis de LDL e triglicerídeos tendem a aumentar e o níveis de HDL a diminuir, isso devido a um aumento da absorção de gordura durante a dieta, o que resulta em alterações dos níveis de quilomícrons, aumento da síntese do colesterol e triglicerídeos no fígado e alterações no metabolismo do LDL44,52. Os valores séricos devem ser avaliados dentro de 2 a 4 semanas sem orientação dietética inicialmente. Estima-se que a normalização ocorra somente com o término do tratamento52. No entanto, se os valores não se aproximarem aos de referência, é aconselhável modificar os hábitos 33 alimentares com prescrição de dieta. Caso o valor do colesterol ultrapasse 300 mg/dl deve ser realizada uma redução da dosagem da droga e monitorização frequente com exames laboratoriais. Se o valor do colesterol ultrapassar 400 mg/dl o tratamento deverá ser interrompido 5,53. O tratamento com isotretinoína deve ser excluído em casos de pacientes que antes do tratamento apresentarem alteração no metabolismo de gorduras com valores de triglicerídeos maiores de 500 mg/dl53,54. Nos dois primeiros meses de tratamento também é comum encontrarmos aumento das transaminases hepáticas em pacientes que fazem o uso da isotretinoína, mas esses parâmetros não devem permanecer alterados após este período. As alterações nas transaminases hepáticas são descritas em 5 a 35% dos pacientes sendo essas anormalidades reversíveis após a interrupção do tratamento49. Uma atenção especial deve ser dada a pacientes que apresentarem maior risco de hepatotoxicidade como o consumo de álcool, doenças hepáticas antecedentes e terapia medicamentosa concomitante55,56. Não se sabe qual o mecanismo exato para que essas alterações ocorram. Acredita-se que os ácidos retinóides livres alterem a síntese de glicoproteínas ou a expressão genômica acarretando em lesões na membrana celular dos hepatócitos56. Assim, exames laboratoriais devem ser solicitados a fim de se obter informações sobre a resposta terapêutica dos pacientes. E é importante ressaltar que as alterações laboratoriais citadas nos diferentes estudos são predominantemente benignas, visto que permanecem dentro dos limites permitidos na maioria dos indivíduos. No caso de haver alterações significativas, o medicamento deverá ser suspenso até normalização ou procurar outros métodos para tratar a doença57. que haja Conclusão 35 5. Conclusão Após a seleção minuciosa de alguns artigos que abordavam os benefícios da isotretinoína na patologia da acne, o uso deste medicamento permanece como a melhor forma de tratamento, sendo de fato seguro quando bem utilizado e acompanhado periodicamente. Referências 37 6. REFERÊNCIAS 1. Zouboulis CC, Eady A, Philpott M, Goldsmith LA, Orfanos C, Cunliffe WC et al. What is the pathogenesis of acne? Exp Dermatol. 2005;14:143–52 2. Right Diagnosis from healthgrades [Internet]. [place unkown]: Health Grades Inc.; c2014. [updated 2015 Aug 13; cited 2016 Feb 18]. Statistics by Country for Acne; [about 1 screens]. Available from: http://www.rightdiagnosis.com/a/acne/stats-country.html. 3. Sampaio SAP, Rivitti E. Foliculoses. São Paulo: Artes Médicas; 2007. 4. Jappe UTA. Pathological mechanisms of acne with special emphasis on propionibacterium acnes and related therapy. Acta Derm Venereol. 2003;83: 241–8 5. Costa A, Alchorne M. Fatores etiopatogênicos da acne vulgar. 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