Em busca da pele sem marcas

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Em busca da pele sem marcas
Mais de 80% de jovens entre 15 e 25 anos no país sofrem com a
acne. Orientação médica é o melhor caminho para o tratamento
Um rosto sem manchas ou pontos avermelhados. O que parece ser objeto
de desejo de milhares de adolescentes é uma realidade na vida de apenas 20%
dos jovens brasileiros. Estima-se que a acne esteja presente em mais de 80% de
pessoas com idade entre 15 e 25 anos. Embora a doença não ofereça riscos à
saúde, afeta a auto-estima. Especialistas alertam que a orientação médica
representa o melhor caminho para o tratamento, uma vez que os medicamentos
oferecem riscos de reações adversas. Quem apresenta formas graves de acne
pode buscar o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
A acne é um termo genérico para designar uma série de problemas que
atingem a pele, como as espinhas (pústulas), cravos (comedões), nódulos ou
cistos. De origem genética e hormonal, atinge indiscriminadamente homens e
mulheres. Embora predomine entre jovens, alguns estudos apontam sua
incidência em 30% dos adultos.
O aparecimento da doença depende de fatores como aumento da produção
de sebo e presença de bactérias que vivem normalmente sob a pele. Na fase da
puberdade, entre 14 e 17 anos, o organismo intensifica a produção de hormônios.
Quando esses hormônios atingem a pele, provocam aumento das glândulas
sebáceas e, conseqüentemente, da quantidade de sebo sobre a pele. “Esse é o
principal motivo da acne atacar um número tão grande de adolescentes”, explica a
especialista e mestre em dermatologia, Gladys Aires Martins. Apesar da ação
hormonal, herda-se a tendência para desenvolver a acne. Segundo a especialista,
essa herança também determina o tamanho das glândulas sebáceas, a
quantidade de sebo (seborréia) e a tendência para poros abertos.
Arsenal – A acne não atinge órgãos internos e jamais leva à morte. Apesar
disso, pode ser fatal para a auto-estima de quem busca um rosto sem marcas.
Registros arqueológicos mostram que no túmulo do rei egípcio Tutmés existiam
fórmulas e receitas para tratar das espinhas. Assim como ele, nossos avós
utilizavam pomadas e ungüentos para diminuir a inflamação ou esconder os
insistentes pontinhos vermelhos. Hoje, os adolescentes contam com um arsenal
de soluções bem mais avançadas, como a utilização de ácidos retinóides ou a
isotretinoína, substância análoga à vitamina A, que apresenta cerca de 90% de
eficácia no tratamento da acne.
Utilizado como um poderoso supressor da produção de sebo e redutor do
tamanho da glândula sebácea – um dos maiores causadores da acne – a
isotretinoína é um dos medicamentos que integram o Programa de Medicamentos
de Dispensação em Caráter Excepcional, do Ministério da Saúde. Na lista desse
programa constam remédios para o tratamento de mais de 100 outros problemas
crônicos de saúde, como osteoporose, asma, insuficiência renal e hepatite.
Tratamento caro – O investimento de R$ 1 bilhão para custeio dos
medicamentos excepcionais indica a força do programa. A isotretinoína entrou na
lista em 2001 e tem sua utilização normatizada pelo Protocolo Clínico e pelas
Diretrizes Terapêuticas. Os pacientes que recorrem ao tratamento possuem
formas graves da doença e não podem deixar de usar o remédio.
Em 2004, o ministério financiou a aquisição de 3,3 milhões de cápsulas de
isotretinoína, a um custo de R$ 7,5 milhões. A estimativa é de que em 2005 esse
valor chegue a R$ 10 milhões. Segundo o Ministério da Saúde, essa política tem
enorme alcance em todas as classes sociais. Isso porque, se não fossem
distribuídos gratuitamente, tais medicamentos seriam acessíveis a poucas
pessoas, em função do alto custo do tratamento.
Maquiagem - Para pacientes que recorreram a clínicas particulares, em alguns
casos, o tratamento, com duração de seis meses, chega a custar R$ 2,4 mil. Com
a advogada Márcia Costa, não foi diferente. Aos 21 anos e incomodada com a
quantidade de espinhas e cravos no rosto, procurou um dermatologista e resolveu
recorrer à isotretinoína. O tratamento durou seis meses. Tempo necessário para a
pele se renovar e expulsar todas as inflamações que tanto a incomodavam. Hoje,
quase dez anos depois, ela não hesita em tirar fotos e dispensar a maquiagem.
“Não tenho mais nada para esconder”, brinca.
No SUS o tratamento é gratuito, mas os pacientes precisam passar por uma
avaliação rígida e têm de se enquadrar em uma série de critérios exigidos pelo
Ministério da Saúde. Isso acontece por causa dos efeitos colaterais do remédio. O
principal risco pelo uso da substância são as chances de causar defeitos
congênitos graves no corpo do bebê, se for consumido pela mãe durante a
gravidez. Segundo informações de um dos fabricantes, desde que a medicação foi
autorizada para venda já nasceram mais de 250 bebês com deformações na face,
orelhas, coração ou sistema nervoso, decorrentes da utilização da isotretinoína.
Mulheres que fazem uso da substância não podem engravidar até dois meses
depois do término do tratamento.
Além desse problema, a pele e as mucosas se ressecam em todos os
pacientes tratados com a substância. O ressecamento acontece em 100% dos
casos porque a substância possui efeito anti-secretor sobre as glândulas
sebáceas, o que leva a uma diminuição de seu tamanho e a uma inibição da
produção de gordura.
Entre os efeitos colaterais da isotretinoína existem ainda registros de dor
nas articulações, dor de cabeça, queda de cabelo, aumento do colesterol e
triglicerídeos. Quem toma a substância necessita de acompanhamento freqüente
e realização de testes mensais de gravidez, no caso das mulheres, além de
exames bimensais das taxas de colesterol e enzimas hepáticas.
Brasil controla consumo de substância
A isotretinoína foi isolada em laboratório pela primeira vez no início dos
anos 70. Em 1982, foi aprovada pelo FDA – Food and Drug Administration –,
órgão regulador de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos – e começou a
ser vendida nas farmácias pelo laboratório Roche, que deteve a patente do
medicamento durante 20 anos. Em outubro de 1993, a substância chegou ao
Brasil. Apenas em 2002, os genéricos desse produto entraram no mercado
nacional.
No país, a comercialização da substância é controlada. Para se adquirir o
medicamento é necessário o preenchimento de formulários especiais, com testes
de gravidez e exames completos de saúde. O paciente só compra a medicação,
disponível nas farmácias credenciadas pela Vigilância Sanitária, se apresentar um
receituário especial, obtido em hospitais credenciados pelas secretarias estaduais
de Saúde.
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