UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA CAROLINA AGUIAR DE ARAÚJO MACHADO Avaliação da atividade da zidovudina (AZT) no metabolismo de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis. Goiânia 2013 CAROLINA AGUIAR DE ARAÚJO MACHADO Avaliação da atividade da zidovudina (AZT) no metabolismo de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para obtenção do Título de Doutor em Medicina Tropical e Saúde Pública. Orientadora: Profª. Drª. Marina Clare Vinaud Co-orientador: Prof. Dr. Ruy de Souza Lino Junior Goiânia 2013 i Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO Aluna: Carolina Aguiar de Araújo Machado Orientadora: Profª. Drª. Marina Clare Vinaud Co-orientador: Prof. Dr. Ruy de Souza Lino Junior Membros: 1. Profª. Drª. Adelair Helena dos Santos – IPTSP/UFG 2. Prof. Dr. Cirano José Ulhoa – ICB/UFG 3. Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra - IPTSP/UFG 4. Profª. Drª. Roseli Aparecida da Silva Gomes – UFTM /MG 5. Prof. Dr. Éverton Kort Kamp Fernandes (Suplente) - IPTSP/UFG 6. Prof. Dr. Luiz Carlos da Cunha (Suplente) – FF/UFG 7. Prof. Dr. Milton Adriano Pelli de Oliveira (Suplente) – IPTSP/UFG 8. Drª. Tatiane Luiza da Costa (Suplente) - HC/UFG Data:03/07/2013. ii DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu esposo Rodolpho Teles Machado, companheiro e intercessor. A ele minha gratidão e amor. iii AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por me conceder saúde para realizar este trabalho. Ao meu esposo Rodolpho Teles Machado por, junto comigo, seguir minha vocação e ser meu melhor amigo, companheiro e exemplo de dedicação. A meus pais Valdeina Barbosa Aguiar de Araujo e Rubens Pereira de Araujo, minhas maiores referências de vida. A meus irmãos Aline Aguiar de Araujo e Marcos Alexandre Araujo Pinheiro que além de grandes amigos me presentearam com minha sobrinha Valentina Aguiar Araujo Pinheiro, o amor da titia. Ao meu irmão Arpuim Aguiar de Araujo por ser um grande incentivador da minha vocação. Ao carinho da minha irmã Flanders Auxiliadora e sua família: Demilson Bose, Nayara Carvalho e meu afilhado Demilson Junior . As primas-irmãs Aurenice Milhomens de Araujo e Lorena Siqueira de Araujo. Ao sogro Alcides Machado e ao cunhado Pablo Teles Machado pelas orações e torcida. A minha orientadora e amiga Profª Drª Marina Clare Vinaud por sempre fazer além do que se propôs ao me orientar. Aos professores que contribuíram com minha história: ao meu co-orientador Dr. Ruy de Souza Lino Junior, Dr. José Clecildo Barreto Bezerra, Drª. Ana Maria de Castro, Dr. Milton Adriano Pelli de Oliveira. Aos colegas que fazem parte da equipe do Laboratório de estudos da relação parasito-hospedeiro (LAERPH): Aline Almeida Barbaresco, Carolina Miguel Fraga, Nayana Ferreira de Lima, Flávia Martins Nascente, Hânstter Hállisson, Juliana Boaventura Avelar, Letícia de Almeida Leandro, Luciana Damascena, Lilian Cristina Morais de Andrade, Liliane Siriano, Tatiane Luiza da Costa. Aos amigos: Camilla Luiza Batista, Carlos Antônio Pereira, Pe. David Pereira de Jesus, Djones Ribeiro, Eliene Santos, Flávia Ikeda e Araujo, Kaique Batista, Kamilla Gomes Camargo, Kleber Moreira, Luana Neres, Maria Neide Mota, Rodrigo Rodrigues Vaz. A todos os irmãos do Seminário São João Maria Vianney. iv A todos os professores e funcionários do Programa de Pós Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública. v SUMÁRIO Pág. 1 RESUMO xiv ABSTRACT xv INTRODUÇÃO 1 1.1- Leishmania sp 1 1.2- Ciclo biológico 2 1.3- Fatores epidemiológicos 3 1.4- Leishmanioses 4 1.5- Coinfecção Leishmania/HIV 8 1.6- Metabolismo de Leishmania spp 9 a) Via glicolítica 10 b) Ciclo do ácido tricarboxílico 11 c) Catabolismos de ácidos graxos 13 d) Cadeia respiratória 15 1.7- Fármacos de escolha para o tratamento das leishmanioses 15 1.8- Zidovudina (AZT) 17 1.9- Toxicidade mitocondrial da zidovudina (AZT) 19 2 JUSTIFICATIVA 21 3 OBJETIVOS 22 4 MÉTODOS 23 4.1- Cultivo de formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis 23 4.2- Atividade anti-Leishmania 23 4.3-Análise espectrofotométrica 24 4.4- Análise cromatográfica da concentração de ácidos orgânicos 24 4.5- Análise estatística 25 5 MANUSCRITOS 26 Manuscrito 1– EFEITO DA ZIDOVUDINA (AZT) NAS TAXAS DE CRESCIMENTO DE FORMAS PROMASTIGOTAS DE Leishmania 27 (Viannia) braziliensis. Manuscrito 2 – EFEITO DA ZIDOVUDINA (AZT) NAS VIAS METABÓLICAS DE FORMAS PROMASTIGOTAS DE Leishmania Viannia 35 braziliensis vi 6 DISCUSSÃO 50 7 CONCLUSÕES 53 8 REFERÊNCIAS 54 ANEXOS 65 vii TABELAS, FIGURAS E ANEXOS Pág. Figura 1: Ciclo Biológico da Leishmania sp 3 Figura 2: Distribuição de espécies de Leishmania responsáveis pela transmissão da leishmaniose tegumentar americana, Brasil – 2005 Figura 3: Metabolismo central do carbono em Leishmania spp. Figura 4 : Mapa metabólico de Leishmania sp para geração de acetil Co-A a partir dos ácidos graxos. Figura 5: Estrutura química da zidovudina (3’-azido-2’,3’deoxitimidina) 7 13 14 17 MANUSCRITO 1 Figura 1: Crescimento in vitro de formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis submetidas a diferentes 31 concentrações de AZT. Figura 2: Crescimento in vitro de formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis submetidas a 10µM e 30 µM de 31 AZT. MANUSCRITO 2 Tabela 1: Concentração de ácidos orgânicos (nM/105 leishmanias) secretados/excretados por formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis in vitro, submetidas a diferentes concentrações 40 de AZT (µM). Tabela 2: Concentração de glicose e uréia (g/dL/ 105 leishmanias) secretados/excretados por promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis in vitro, submetidas a diferentes concentrações de AZT 41 (µM). viii ANEXOS Cromatograma 1: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, 65 controle de leishmanias do 3º dia da curva de crescimento Cromatograma 2: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, 65 controle de leishmanias do 6º dia da curva de crescimento Cromatograma 3: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 1µM de AZT, 3º dia da curva de 66 crescimento Cromatograma 4: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 1µM de AZT, 6º dia da curva de 66 crescimento Cromatograma 5: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia.) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 10µM de AZT, 3º dia da curva de 67 crescimento Cromatograma 6: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 10µM de AZT, 6º dia da curva de 67 crescimento Cromatograma 7: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 20µM de AZT, 3º dia da curva de 68 crescimento ix Cromatograma 8: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia.) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 20µM de AZT, 6º dia da curva de 68 crescimento Cromatograma 9: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia.) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 30µM de AZT, 3º dia da curva de 69 crescimento Cromatograma 10: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (V.) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 30µM de AZT, 6º dia da curva de 69 crescimento Cromatograma 11: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 40µM de AZT, 3º dia da curva de 70 crescimento Cromatograma 12: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 40µM de AZT, 6º dia da curva de 70 crescimento Cromatograma 13: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 50µM de AZT, 3º dia da curva de 71 crescimento Cromatograma 14: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 50µM de AZT, 6º dia da curva de 71 crescimento x Cromatograma 15: Cromatograma de ácidos orgânicos, controle do meio Carta de submissão de artigo 72 73 xi SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS Acetil-CoA Acetil coenzima A ADP Adenosina difosfato AIDS Acquired immunodeficiency syndrome (Síndrome da imunodeficiência adquirida) ATP Adenosina trifosfato AZT 3’ azido-2’-3’ – dideoxitimidina, zidovudina Ciclo do Ciclo do ácido tricarboxílico ATC CLAE Cromatografia líquida de alta eficiência CO2 Dióxido de carbono DHAP Dihidroxiacetona fosfato DL Dose letal e- Elétrons FAD Flavina adenina dinucleotídeo FADH2 Flavina adenina dinucleotídeo reduzida GPDH Glicerolfosfato desidrogenase HAART Highly active antiretroviral therapy (Terapia antirretroviral altamente ativa) Human immunodeficiency vírus (Vírus da imunodeficiência HIV humana) IPTSP Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública kDNA Kinetoplast desoxyribonucleic acid (DNA do cinetoplasto) LC Leishmaniose cutânea LCD Leishmaniose cutâneo-difusa LMC Leishmaniose muco-cutânea LV Leishmaniose visceral mt-DNA Mithocondrial desoxyribonucleic acid (DNA mitocondrial) NAD Nicotinamida dinucleotídeo + NAD Nicotinamida dinucleotídeo oxidada NADH Nicotinamida dinucleotídeo reduzida NADP Nicotinamida dinucleotídeo fosfato xii O2 Oxigênio OMS Organização Mundial de Saúde PEP Fosfoenolpiruvato S/E Secretado e/ou excretado Succinil-CoA Succinil Coenzima A xiii RESUMO As leishmanioses são um grande problema de saúde pública, representando um complexo de doenças com importante espectro clínico e diversidade epidemiológica. São causadas por protozoários do gênero Leishmania e, no Brasil, são transmitidas pela picada de vetores infectados do gênero Lutzomya. As leishmanioses visceral e tegumentar vêm surgindo como coinfecções com o vírus da imunodeficiência humana/ síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS). A zidovudina (AZT) que é um análogo nucleosídico, vem sendo utilizado no tratamento de HIV-positivos inibindo a transcriptase reversa em competição com o trifosfato de timidina, com grande seletividade antiviral. É descrito, em diversos tipos celulares, que o AZT promove lesão mitocondrial e estudos prévios realizados têm demonstrado atividade antileishmania deste fármaco e de outros derivados nucleosídicos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a sobrevivência e metabolismo in vitro de formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis expostas a diferentes concentrações de AZT. A avaliação da sobrevivência foi realizada por análise quantitativa das formas promastigotas de L. (V.) braziliensis cepa M2903 ao microscópio óptico após exposição a diferentes concentrações de AZT (1µM, 10µM, 20µM, 30µM, 40µM e 50µM) mostrando diferença na taxa de crescimento nas concentrações de 10µM e 30µM na fase proliferativa do parasito comparado aos grupos controle. A avaliação do metabolismo foi realizada pela técnica de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), quantificando-se a presença de ácidos orgânicos como: piruvato, lactato, citrato, αcetoglutarato, succinato, fumarato, malato, oxaloacetato, β-hidroxibutirato, acetoacetato, acetato e propionato. Foi demonstrada a redução na secreção/excreção (S/E) de fumarato e aumento da S/E de piruvato em grupos expostos ao AZT na fase estacionária de crescimento das formas promastigotas. Em seguida foi realizada a dosagem espectrofotométrica de glicose e uréia nas promastigotas de 3º e 6º dias de crescimento, submetidas ao AZT. A concentração de glicose aumentou no 6º dia de crescimento. O fármaco testado demonstrou ter atividade sobre as vias mitocondriais do parasito. Portanto, observou-se que as promastigotas utilizam como principal fonte de energia o catabolismo de proteínas e ácidos graxos, vias que não foram alteradas devido a presença do fármaco. Palavras chave: Leishmania (Viannia) braziliensis, metabolismo energético, AZT xiv ABSTRACT Leishmaniasis are a great public health problem and represent a complex of diseases with an important clinical spectrum and with epidemiological diversity. They are caused by protozoans from the Leishmania genus and in Brazil are transmitted through the bite of infected vectors from the Lutzomya genus. The visceral and tegumentar Leishmaniasis have acquired an important role as co-infections with the human immunodeficiency virus/ acquired immunodeficiency syndrome. Zidovudine (AZT) which is a nucleosidic analogue and has been used in the HIV-positive treatment. AZT inhibits the reverse transcriptase acting as a competitor with the timidine triphosphate with great antiviral selectivity. It has been described that several types of cells are affected by AZT resulting in mitochondrial injury. Also, previous studies have shown that this drug has an anti-leishmania activity. The aim of this study was to in vitro evaluate the survival and the metabolic alterations of promastigotes from Leishmania (Viannia) braziliensis exposed to different concentrations of AZT. The evaluation of survival was performed through the quantitative analysis of the promastigotes forms of L. (V.) braziliensis M2903 strain under the optic microscope and which were exposed to different concentrations of AZT (1µM, 10µM, 20µM, 30µM, 40µM and 50µM) which demonstrated significant difference on the concentrations of 10µM and 30µM in the proliferative phase of growth when compared to the control group. The evaluation of the metabolism was performed through chromatographic (HPLC) and spectrophotometric methods which allowed the quantification of the following organic acids: pyruvate, lactate, citrate, α-ketoglutarate, succinate, fumarate, malate, oxaloacetate, βhidroxybutyrate, acetoacetate, acetate and propionate. It was possible to observe the decrease in the secretion/excretion (S/E) of fumarate and increase in the S/E of pyruvate in the groups exposed to AZT in the stationary phase of growth. Afterwards, the spectrophotometric analysis of glucose and urea showed an increase in the glucose concentrations on the 6th day of growth. This drug presented a mitochondrial activity on the parasite therefore the glycossomal and cytosolica metabolic pathways were not disturbed. It was possible to determine that promastigotes preferentially use the catabolism of proteins and fatty acids as primary energy sources. Key words: Leishmania (Viannia) braziliensis, energetic metabolism, AZT xv 1 INTRODUÇÃO 1.1. Leishmania sp Os agentes etiológicos das diferentes formas clínicas da leishmaniose são os protozoários parasitos intracelulares obrigatórios pertencentes ao gênero Leishmania. Descrito em 1903 por Leishman e Donovan na Índia e simultaneamente por Wright, como um protozoário flagelado pertencente à classe Zoomastigophora, filo Sarcomastigophora, ordem Kinetoplastida e família Trypanosomatidae. Como todos os pertencentes à ordem Kinetoplastida, este parasito apresenta cinetoplasto, uma estrutura especializada que contém grande quantidade de material genético, essencial para a sobrevivência do parasito (Blum et al. 2004; Garcia-Almagro 2005; Souza et al. 2009). Os parasitos do gênero Leishmania têm ciclo de vida heteroxeno, necessitando de hospedeiros invertebrado e vertebrado para completar seu desenvolvimento e apresentando duas formas evolutivas: a forma amastigota, que é intracelular e sem movimentos e a promastigota, que é flagelada e extracelular (Rey 2008). Formas amastigotas se multiplicam dentro dos fagolisossomos de macrófagos de vertebrados. Enquanto que as formas promastigotas, flageladas e móveis, se multiplicam extracelularmente no trato alimentar (intestinal) do vetor invertebrado e em culturas axênicas (Shaw 1982; Sacks 1985; Alexander 1999). A forma amastigota têm corpo ovóide, medindo entre 2 a 6 µm de comprimento por 1,5 a 3 µm de largura, flagelo interno em uma invaginação da membrana chamada bolso flagelar e cinetoplasto próximo ao núcleo. Por outro lado, a forma promastigota apresenta corpo alongado, medindo entre 14 e 20 µm de comprimento por 1,5 a 4 µm de largura, flagelo livre, núcleo no terço médio da célula e cinetoplasto em forma de bastonete curvo situado anteriormente ao núcleo (Rey 2008). Existem formas distintas de promastigotas, que são as formas infectantes aos mamíferos, na qual a promastigota metacíclica é a fase final de desenvolvimento no vetor com diferenças morfológicas e bioquímicas que determinam a capacidade infectante (Gossage 2003). A transformação da forma promastigota procíclica, que é pouco infectante, em promastigota metacíclica, altamente infectante, ocorre em um processo denominado metaciclogênese, que dura aproximadamente 6 a 10 dias. Na natureza, a metaciclogênese, ocorre no inseto vetor. Esta transformação é acompanhada por um 1 aumento na capacidade de infectar e sobreviver no hospedeiro vertebrado, onde o parasito é atacado pelo sistema imune do hospedeiro (Sacks 1989; Zakai 1998; GarciaAlmagro 2005). As promastigotas crescem em meio de cultura em duas fases, logarítmica (crescimento exponencial) e estacionária. As promastigotas de fase estacionária apresentam maior concentração de formas metacíclicas e maior virulência do que as que crescem progressivamente (Gossage 2003). No subgênero Leishmania (Viannia) as formas promastigotas se desenvolvem no intestino posterior do hospedeiro invertebrado (desenvolvimento peripilário) (Gossage 2003). 1.2. Ciclo biológico As fêmeas do gênero Lutzomya e/ou Phlebotomus, realizam o repasto sanguíneo no hospedeiro humano ou mamífero a fim de obter proteínas necessárias para o desenvolvimento de seus ovos. Cerca de 30 espécies conhecidas foram positivamente identificadas como vetores da doença (CDC 2013; WHO 2013). Os hospedeiros invertebrados podem ser infectados pela ingestão de células repletas de amastigotas durante o repasto sanguíneo. No vetor, as amastigotas transformam-se em promastigotas, desenvolvem-se no trato intestinal pelo processo de metaciclogênese e migram para a probóscide (CDC 2013; WHO 2013). O vetor infectado apresenta uma obstrução de seu proventrículo, levando à regurgitação das formas infectantes (ou seja, promastigotas metacíclicas) durante o repasto sanguíneo. No hospedeiro vertebrado, as formas promastigotas inoculadas no local da picada são fagocitadas pelos macrófagos e outros tipos de células mononucleares fagocitárias. Após a internalização, a promastigota metacíclica é localizada em um vacúolo parasitóforo. Os vacúolos parasitóforos de Leishmania são acidificados, ricos em enzimas lisossomais e suas membranas mostram os marcadores fagolisossomais. A promastigota transforma-se em amastigota, capaz de se desenvolver e multiplicar no meio ácido encontrado no vacúolo digestivo (Neves 2005). As amastigotas são uma fase tissular do parasito que se multiplicam até romperem a célula hospedeira, quando apresentam a capacidade de continuar a infectar outras células mononucleares fagocitárias (Figura 1) (CDC 2013; Real 2008; WHO 2013). 2 Figura 1: Ciclo Biológico da Leishmania sp (Adaptado de CDC 2013). 1.3- Fatores epidemiológicos A leishmaniose é classificada pelo Ministério da Saúde do Brasil e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença negligenciada, caracterizada por possuir diferentes formas clínicas: Leishmaniose Tegumentar Americana que inclui a Leishmaniose Cutânea, Leishmaniose Cutâneo-difusa e Leishmaniose Mucocutânea; e Leishmaniose Visceral (Desjeux 2004; Ngure et al. 2009; Hiro Goto & Lindoso 2012). As leishmanioses são um grande problema de saúde pública, representando um complexo de doenças com importante espectro clinico e diversidade epidemiológica. A OMS estima que 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco de infecção com registro aproximado de dois milhões de novos casos da doença em suas diferentes formas clínicas ao ano (Ministério da Saúde 2007). A leishmaniose é uma zoonose de distribuição mundial, atingindo 88 países, dos quais 72 são países em desenvolvimento e 13 são países desenvolvidos. A incidência 3 anual está estimada em 1 a 1,5 milhão de casos de leishmaniose cutânea (LC) e 500.000 de leishmaniose visceral (LV). Grande parte dos casos não é diagnosticada ou não notificada, em especial nos casos em que os pacientes não possuem acesso aos serviços de saúde, em apenas 33 dos 88 países é considerada uma doença endêmica (Desjeux 2004; Ministério da Saúde 2007). Em muitas áreas do mundo, ocorre um aumento no número de casos de leishmaniose. A estimativa é de que a incidência de leishmaniose do tipo tegumentar é de 1,5 milhões de casos por ano sendo que 90% dos casos ocorrem no Afeganistão, Brasil, Irã, Peru, Arábia Saudita e Síria (Desjeux 2004; Hiro Goto & Lindoso 2012). Outro fator epidemiológico importante é que as leishmanioses visceral e tegumentar vêm surgindo como coinfecções com o vírus da imunodeficiência humana/ síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS), adquirindo um caráter de doença oportunista (Desjeux 2004). Na África, principalmente Etiópia e Sudão, estima-se que 70% dos adultos com leishmaniose visceral também têm a infecção pelo HIV (Ngure et al. 2009) As perspectivas de controle das leishmanioses são altamente dependentes do progresso científico, para obtenção de melhorias das ferramentas que as controlem e uma melhor estratégia de custo efetivo para manejo e controle de vetores (Desjeux 2004). 1.4- Leishmanioses A leishmaniose é uma doença grave que envolve a inter-relação entre três participantes centrais do ponto de vista biológico: o parasito, o inseto (hospedeiro invertebrado) e o ser humano (hospedeiro vertebrado) (Almeida 2003). Os dípteros da subfamília Phlebotominae são os únicos vetores das várias espécies de Leishmania, sendo os gêneros Phlebotomus vetor das espécies no Velho mundo (Europa e Ásia) e Lutzomyia vetor das espécies de Leishmania nas Américas. Ambos são conhecidos por preferirem viver em florestas e áreas de rochas calcárias. Suas adaptações em proximidades de habitações têm facilitado a transmissão da doença e provocado a sua urbanização (Almeida 2003; Amóra 2009). No Brasil as espécies de vetores mais encontradas são: Lutzomyia (Lutzomyia) Longipalpis, L. (Ny.) whitmani, L. (Trichophoromyia) ubiquitalis, L. (Pf.) nuneztovari, L. (Ps.) ayrozai (Ready 2013). 4 No Brasil, a leishmaniose é uma doença endêmica e mostra um padrão de transmissão peridomiciliar principalmente porque algumas espécies de vetores se adaptaram às alterações ambientais. Além disso, a ocupação humana desordenada de áreas florestais possibilita a disseminação da doença em um ciclo extra-florestal. Essa redução do espaço ecológico dos vetores facilita a ocorrência das epidemias (Amóra 2009). Os flebotomíneos têm hábitos crepusculares e noturnos permanecendo abrigados em seus nichos durante o dia. A sua ocorrência em algumas áreas também pode estar relacionadas a fatores climáticos como temperatura, precipitação e umidade relativa. Estes dípteros se beneficiam de moderada precipitação durante a estação chuvosa, mas inundações são prejudiciais, porque destroem suas áreas reprodutoras e matam a pupa no solo. Além disso, as temperaturas mais baixas e maior disponibilidade alimentar para as larvas, como as folhas caídas no outono, podem estimular pupação em massa (Amóra 2009). No Brasil, os vetores participam do ciclo de transmissão das leishmanioses humanas principalmente em zonas rurais, peridomicílios, incluindo os subúrbios, áreas silvestres e arbóreas (Ready 2013). A leishmaniose humana pode ser totalmente inaparente ou subclínica ou pode apresentar um espectro de manifestações de envolvimento cutâneo, das mucosas até destruição generalizada sistêmica na forma visceral da doença com evolução fatal (Balaña-Fouce 1998). As leishmanioses são divididas em dois grupos de doenças: leishmaniose visceral (LV) e leishmaniose tegumentar americana (LTA) que ocorre somente nas Américas. A LV pode ser fatal se não tratada e existem aproximadamente 500.000 casos de LV por ano em todo o mundo. A falta de sistemas de vigilância e o frequente subdiagnóstico tornam difícil estimar a real incidência e a taxa de letalidade da LV (Desjeux 2004). A leishmaniose tegumentar americana (LTA) distribui-se amplamente no continente americano, estendendo-se desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. No Brasil tem sido assinalada em todos os estados, constituindo, portanto, uma das afecções dermatológicas de causa parasitária que merece maior atenção, devido ao risco de ocorrência de deformidades, como também pelo envolvimento psicológico 5 do doente, com reflexos no campo social e econômico, uma vez que, na maioria dos casos, pode ser considerada uma doença ocupacional (Ministério da Saúde 2007). A LTA inclui várias formas clínico-epidemiológicas relacionadas a diferentes subgêneros e espécies de Leishmania : 1- Leishmaniose cutânea (LC): As espécies relacionadas no Novo Mundo são principalmente do complexo L. (Leishmania) mexicana (L. amazonensis, L. mexicana e L. venezuelensis) e do subgênero Viannia (L. (V.) braziliensis, L. (V.) panamensis, L. (V.) peruviana e L. (V.) guyanensis). As manifestações clínicas são caracterizada por úlceras crônicas na pele, desenvolvidas no local da picada do inseto vetor e que podem levar meses para cicatrizar. É geralmente autoresolutiva, mas que se apresenta como uma forma grave quando há lesões múltiplas (Desjeux 2004; Rey 2008). 2- Leishmaniose cutâneo-difusa (LCD): relacionada com o complexo L. mexicana, no Novo Mundo. É caracterizada como uma doença crônica e poliparasitária, por lesões não ulcerativas, resistência a quimioterapia e anergia das células T Leishmania específicas. Não possui cura espontânea e é uma doença que surge devido à deficiência na resposta imune mediada por células. As lesões disseminadas se assemelham macroscopicamente à hanseníase (Desjeux 2004; Azeredo-Coutinho 2007; Rey 2008). 3- Leishmaniose muco-cutânea (LMC): causada pelo subgênero Viannia, sendo as principais espécies representadas por L. (V.) braziliensis e L. (V.) guyanensis. Caracterizada, no início, por úlceras na pele que, entretanto, cicatrizam para depois reaparecerem, principalmente, nas mucosas do nariz e da boca, geralmente esta forma é acompanhada por infecções secundárias. Provoca a destruição das cartilagens e mucosas oro-nasal e faríngea se apresentando de forma mutilante (Desjeux 2004; Rey 2008). Segundo o Ministério da Saúde em 2007, no Brasil, as espécies de Leishmania responsáveis pela transmissão da leishmaniose tegumentar americana são: L. (V.) braziliensis, L. (V.) lainsoni, L. (V.) naiffi, L. (V.) shawi, L. (V.) guyanensis, L. (L.) amazonensis, L. (V.) lindenberg (Figura 2). A leishmaniose visceral (LV) possui a L. donovani como a principal espécie causadora desta doença na Índia e Leste da África. A L. (L.) infantum chagasi é responsável pelos casos de LV na região mediterrânica e L. chagasi nas Américas. Esta é forma mais grave da leishmaniose, sendo freqüentemente fatal na ausência de 6 tratamento. Os sintomas começam após um período longo de incubação (1-3 meses). O conjunto da doença é geralmente insidioso, caracterizada por febre irregular, acompanhada de sudorese, fraqueza e perda de peso gradual e perceptível. Em casos avançados podem desenvolver esplenomegalia, hepatomegalia, linfoadenopatia e anemia. Edema e ascite podem desenvolver-se e, em casos não tratados, as mortes são comuns devido a doenças causadas por infecções bacterianas secundárias, como pneumonia, tuberculose ou disenteria (Balaña-Fouce 1998; Desjeux 2004). No Brasil, a L. chagasi é a espécie mais comumente implicada em casos de leishmaniose visceral. A L. amazonensis é amplamente reconhecida como agente causador da leishmaniose cutânea na América Latina, mas também pode promover a leishmaniose visceral atípica com hepatite e linfadenopatia em indivíduos imunocomprometidos (Aleixo et al. 2006). Figura 2: Distribuição de espécies de Leishmania responsáveis pela transmissão da leishmaniose tegumentar americana, Brasil – 2005 (Ministério da Saúde 2007). 7 1.5- Coinfecção Leishmania/HIV Com o advento da Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), a ocorrência de leishmaniose visceral em indivíduos infectados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) aumentou em alguns países africanos, da região do Mediterrâneo e no Brasil (Matos et al. 1998, Rabello et al. 2003, Ngure et al. 2009). No Brasil, as espécies identificadas nesses casos foram L.(V.) braziliensis e L. (V.)guyanensis (Ministério da Saúde 2011). Após relacionamento dos bancos de dados das leishmanioses e da AIDS no Brasil em 2006, foi possível identificar 176 casos com coinfecção LV/AIDS e 150 casos com coinfecção LT/aids, o que representa 1,1% dos casos de LV e 0,1% dos casos de LT (Ministério da Saúde 2011). Nessa correlação é possível observar alto risco de desenvolvimento de leishmaniose visceral, de forma rápida e grave. A coinfecção AIDS/leishmaniose se inclui num ciclo vicioso de reforço mútuo no qual as enfermidades produzem uma diminuição sinérgica da resposta imunitária ao destruírem as mesmas células (GarciaAlmagro 2005). Na associação entre leishmaniose tegumentar e infecção pelo HIV, as lesões podem ser encontradas em áreas expostas ou não expostas do indivíduo, tal como a região genital. Também surgem múltiplas lesões cutâneas com maior envolvimento das mucosas caracterizando o quadro clínico na maioria dos casos (Matos et al. 1998; Ministério da Saúde 2011). Nestes casos observam-se manifestações clínicas atípicas da leishmaniose como consequência da imunodeficiência, variando de casos anérgicos a grande profundidade das lesões ulcerativas, padrão esporotricóide e envolvimento cutâneo-mucoso, assim como uma resposta pobre a terapia padrão (Rosatelli et al. 1998; Padovese et al. 2009). Em pacientes com LV e HIV observa-se maior frequência de recidivas. As características clínicas incluem a tríade clássica da LV (hepato-esplenomegalia, febre e pancitopenia) podendo ainda ocorrer manifestações pouco usuais como o encontro de Leishmania spp em pele íntegra e sobrepondo lesão de sarcoma de Kaposi ou em lesões de Herpes simplex e Herpes zoster. Pode ainda haver acometimento do trato gastrointestinal e do trato respiratório para ambas as coinfecções, LV/aids e LT/aids. (Ministério da Saúde 2011). 8 O uso de agulhas hipodérmicas em usuários de drogas permite a transmissão direta pessoa a pessoa, constituindo um novo padrão de transmissão da leishmaniose em um ciclo não convencional em pacientes coinfectados (Garcia-Almagro 2005). O diagnóstico da coinfecção apresenta dificuldades específicas devido a falsa negatividade sorológica em pacientes coinfectados com outras doenças como toxoplasmose e tuberculose e dificuldade em diagnóstico parasitológico (GarciaAlmagro 2005). O tratamento apresenta as mesmas dificuldades, por redução na eficácia dos medicamentos, recidivas por resistência ao tratamento e acúmulo de efeitos secundários (Garcia-Almagro 2005). Daí a grande importância na busca de fármacos com alvos específicos contra o parasito e com baixa toxicidade para o hospedeiro. 1.6- Metabolismo de Leishmania spp Leishmania sp, assim como todos os organismos pertencentes a família Trypanosomatidae são caracterizados por alta flexibilidade de seu metabolismo energético. Eles possuem mitocôndria em todas as fases de desenvolvimento e a geração global de ATP varia significantemente de uma fase de ciclo de vida para outra (Opperdoes & Coombs 2007). Estudos em formas promastigotas demonstraram que os aminoácidos e a glicose podem ser utilizados como fontes de energia. A geração de energia ocorre em níveis glicossomal, citoplasmático e mitocondrial e o processo de glicólise ocorre inicialmente no interior dos glicossomos e visa a geração de acetil-CoA, seguida do metabolismo mitocondrial, o que inclui uma cadeia transportadora de elétrons ativa (Opperdoes & Coombs 2007). Durante seu ciclo de vida, os parasitos adaptam seu metabolismo energético de acordo com o hospedeiro visando à disponibilização de substratos (Cazzulo et al. 1985). Amastigotas e promastigotas respondem de maneiras diferentes em termos metabólicos como por exemplo a variação na disponibilidade de oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2) e devido a diferenças de ambientes que residem já que a amastigota reside em um ambiente ácido e as promastigotas em um ambiente mais próximo do neutro (Burchmore & Barrett 2001; Opperdoes & Coombs 2007). Na ausência de glicose o crescimento de todos os estágios de Leishmania é severamente restringido, quando então fontes alternativas de carbono são utilizadas, como por exemplo lipídeos e proteínas (Saunders et al. 2010). 9 A glicose é metabolizada por parasitos do gênero Leishmania e outros tripanossomatídeos por meio da via glicolítica e a via da pentose fosfato (Tielens & Van Hellemond 1998; Maugeri 2003). Foi demonstrado que L. mexicana possui todas as enzimas da via glicolítica e do ciclo do ácido tricarboxílico. A maioria dos produtos é parcialmente oxidada, como o acetato, piruvato e succinato que também são encontrados em análise de produtos de secreção/excreção do metabolismo da glicose. O piruvato é metabolizado na mitocôndria, a este processo deu-se o nome de “fermentação aeróbia” (Martin et al. 1976; Cazzulo 1992; Tielens & van Hellemond 1998; Louassini et al. 1999). Desta maneira, em Leishmania spp, é possível detectar a secreção/excreção (S/E) de succinato, acetato e pequenas quantidades de piruvato e D-lactato. O CO2 produzido é resultante de vias que produzem acetato e succinato. Alanina, amônia e uréia também são liberadas (Opperdoes & Coombs 2007; Creek et al. 2012). a) Via glicolítica Nos estudos com Trypanosomatidae, a glicólise ocorre por meio da via EmbdenMeyerhoff dos quais as primeiras etapas ocorrem no interior de uma organela: o glicossomo. A ordem Kinetoplastida, a que a família Trypanosomatidae pertence, possui organismos em que se encontram esse tipo de compartimentalização (Opperdoes & Coombs 2007). As enzimas presentes no glicossomo são: hexoquinase que é a primeira enzima da via glicolítica ATP-dependente e responsável pela fosforilação dos açúcares internalizados no glicosssomo, fosfofrutoquinase, frutose-1,6-bifosfatase, gliceraldeido3-fosfato desidrogenase que possui dois tipos de isoenzimas, uma no citosol e uma no glicossomo que está diretamente envolvida na glicólise, entretanto a função das isoenzimas citosólicas ainda não está clara. Encontra-se ainda a glicerol-3-fosfato desidrogenase que é uma enzima NAD-dependente, gliceroquinase, fosfoglicerato quinase que têm descritas duas isoenzimas para as espécies de Leishmania (Galbraith 1991; Urbina 1994; Verlinde 2001; Opperdoes & Michels 2001). A Leishmania constitutivamente expressa um número de transportadores de açúcares que medeiam a incorporação de hexoses comuns (glicose, galactose, manose), açúcares aminados (glucosamina, N-acetilglucosamina) e pentoses (ribose, xilose). estes transportadores movem substratos por gradiente de concentração ao invés de usar o transporte ativo 10 Após internalizados, os açúcares são subsequentemente transportados para o interior dos glicossomos. Em alguns organismos pertencentes à família Trypanosomatidae, incluindo a Leishmania, pode ocorrer importação do fosfoenolpiruvato (PEP) para dentro dos glicossomos e sua fermentação para succinato, ou ainda descarboxilação para piruvato. Como resultado, o succinato é o produto final secretado em maior quantidade na presença de glicose (Figura 3) (Galbraith 1991; Cazzulo 1992; Lehninger 2006; Rodriguez-Contreras et al. 2007; Landfear 2008; Saunders et al. 2010). A enzima glicossomal gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase (gGAPDH) exerce grande controle sobre fluxo glicolítico e tem mostrado ser um bom alvo para o planejamento de fármacos contra tripanossomatídeos (Cazzulo 1992; Verlinde 2001). O produto final da glicólise, piruvato, pode também ser secretado depois da transaminação para alanina ou ser importado para a mitocôndria e ser convertido em acetil-CoA, participando assim do ciclo do ácido tricarboxílico (Saunders et al. 2010). b) Ciclo do ácido tricarboxílico As formas promastigotas e amastigotas de Leishmania expressam todas as enzimas envolvidas no ciclo do ácido tricarboxílico (ATC) sugerindo que a acetil-CoA pode ser completamente oxidado na mitocôndria. Entretanto, estudos em estágios procíclicos de Trypanosoma brucei têm demonstrado que as enzimas do ATC são primeiramente envolvidas em vias não cíclicas, como na redução do malato a succinato, com inversão do parcial do ATC, formação do citrato para usar na biossíntese de ácidos graxos e no catabolismo de aminoácidos (Saunders et al. 2010). As promastigotas de Leishmania possuem um metabolismo energético no qual pequena parte do carboidrato é oxidado completamente em CO2, via ciclo do ácido tricarboxílico, mas grande parte é oxidado em produtos como acetato e succinato. Uma parte do piruvato é transaminado em alanina que é excretada (Cazzulo 1992; Blum 1993). No parasito, a NADH fumarato-redutase age sobre o fumarato gerando succinato, revertendo dessa forma o ciclo do ácido tricarboxílico (Urbina 1994; Turrens 2004). Nas formas promastigotas de Leishmania spp, o succinato é um dos principais produtos gerado pelo ciclo do ácido tricarboxílico (Tielens & Van Hellemond 1998). A maioria dos tripanossomatídeos produz lactato a partir da glicose embora muitas vezes como menor produto final. As formas promastigotas de L. (V.)braziliensis realizam uma via de desintoxicação celular baseado no sistema glioxalase para proteger 11 a célula dos danos do metilglioxal, um composto citotóxico e mutagênico formado principalmente como um subproduto da glicólise. Esse sistema é composto de duas enzimas, glioxalase I e glioxalase II, que convertem o metilglioxal em D-lactato usando a tripanotiona como cofator (Bringaud et al 2006, Saunders et al 2010, Wyllie & Fairlamb 2011). 12 Figura 3: Metabolismo central do carbono em Leishmania spp. Os produtos finais secretados em maior quantidade (succinato, alanina e acetato) são demonstrados em lilás (adaptado de Saunders et al. 2010). c) Catabolismo de ácidos graxos O catabolismo de ácidos graxos, em diversos organismos tem como objetivo a geração de acetil-CoA que será, consequentemente, utilizada para a produção de corpos cetônicos (acetato, acetoacetato e β-hidroxibutirato) ou servir como precursor biossintético do ciclo do ácido tricarboxílico. Portanto, pode-se dizer que a detecção de corpos cetônicos está intimamente relacionada ao catabolismo de ácidos graxos (Lehninger, 2006). 13 Os ácidos graxos não são conhecidos como importantes substratos energéticos usados no metabolismo de indivíduoas da família Trypanosomatidae. No entanto, a geração de acetil Co-A pode ser proveniente do catabolismo de ácidos graxos (Tielens & Hellemond 2009; Tielens et al. 2010). Testes realizados em formas procíclicas de T. brucei demonstraram que a treonina é convertida em quantidades equimolares de glicina e de acetato e é considerada como sendo a principal fonte de acetil-CoA para a biossíntese de ácidos graxos (Riviere et al. 2009; Bringaud et al. 2010). Em leishmanias, a geração de acetil-CoA pode ser a partir da β-oxidação de ácidos graxos ou por biossíntese de ácidos graxos via malonil CoA (Figura 4) (Kidnt et al. 2010). Figura 4: Mapa metabólico de Leishmania sp para geração de acetil Co-A a partir dos ácidos graxos. A: β-oxidação de ácidos graxos; B: biossíntese de ácidos graxos. metabólito. (Adaptado de Kidnt et al. 2010). 14 d) Cadeia respiratória A Leishmania possui uma cadeia transportadora de elétrons convencional compreendendo os complexos enzimáticos I,II, III e IV; citocromo C. Esses complexos reoxidam o NADH e o succinato (Figura 3) (Saunders et al. 2010). Nas promastigotas, parte dos produtos finais oxidados são resultados do metabolismo aeróbio envolvendo uma cadeia transportadora de elétrons. O succinato produzido durante incubações de promastigotas em condições aeróbias é principalmente produzido pela via oxidativa envolvendo parte do ciclo do ácido tricarboxílico (de oxalacetato via citrato até succinato) e oxidação de NADH via cadeia respiratória que é uma via já bem estudada em vertebrados (Van Hellemond & Tielens 1997). As formas amastigotas são intracelulares e possuem uma mitocôndria reduzida denominada pró-mitocôndria. Isto sugere um metabolismo aeróbio ou anaeróbio facultativo, semelhante nas promastigotas, porém ambos os estágios são dependentes da atividade do ciclo do ácido tricarboxílico e da cadeia respiratória semelhante aos mamíferos (Hart & Coombs 1982). 1.7- Fármacos de escolha para o tratamento das leishmanioses Os antimoniais pentavalentes, estibogluconato de sódio (Pentostam) e antimoniato de meglumina (Glucantime®) são os fármacos de primeira linha em casos de diferentes tipos de leishmanioses (visceral e cutânea). A depleção de níveis de ATP intracelular pela interferência do fluxo glicolítico e β-oxidação dos ácidos-graxos em amastigotas é o principal modo de ação dos antimoniais pentavalentes. Estes medicamentos, embora façam parte do tratamento de escolha, apresentam elevada toxicidade e dificuldade de administração (Balaña-Fouce 1998; Berman 2003; Blum et al. 2004). A miltefosina foi estabelecida como o primeiro fármaco de administração oral contra a leishmaniose visceral. Outros alquil-fosfolípideos, como edelfosina foram testados contra a Leishmania mostrando uma atividade antiparasitária in vitro. A atividade in vitro da perifosina tem sido demonstrada previamente contra diferentes espécies de Leishmania incluindo L. amazonensis, sendo uma grande possibilidade dentro dos alquil-fosfolipídeos (Cabrera-Serra et al. 2008). O tratamento da leishmaniose visceral com fármacos convencionais como os antimoniais, anfotericina B, pentamidina, alopurinol, dão poucos resultados em pacientes com HIV, visto que mais de 40% deles apresentam persistência das infecções 15 crônicas, demonstrando a importância da resposta imune durante a quimioterapia (Balaña-Fouce 1998). O maior avanço na quimioterapia da leishmaniose é o uso das formulações lipídicas de anfotericina B. Este antifúngico é considerado como segunda linha no tratamento devido a seus efeitos secundários negativos. Seu mecanismo de ação é baseado no peculiar metabolismo de esteróis de Leishmania. Em contraste com o hospedeiro, a 24-ergosterol é o principal esterol sintetizado presente na membrana deste protozoário. A anfotericina B liga-se a essas moléculas, criam poros que permitem o vazamento de íons, ou seja, muda a composição do esterol, altera sua permeabilidade e mata o parasito. É o fármaco de escolha nos casos de resistência aos antimoniais (Balaña-Fouce 1998; Gontijo & Carvalho 2003; Ouellette et al. 2004; Murray 2005). A azitromicina é um macrolídeo e foi desenvolvido no final dos anos 80 e é utilizada no tratamento de infecções bacterianas também utilizada no tratamento de protozoários como Leishmania sp, Plasmodium sp e Toxoplasma gondii. É uma boa opção terapêutica no tratamento das leishmanioses, pois é bem tolerada pelos pacientes, de baixo custo e simples administração, entretanto sua resposta é mais lenta quando comparada aos antimoniais pentavalentes. Além de processos patológicos presentes, como a inflamação, fatores como a diminuição do pH, podem interferir na ação da azitromicina (Prata et al. 2003). Também é relatado como agente antiparasitário, a aminosidina (paramomicina) no qual o mecanismo de ação contra protozoários ainda é desconhecido. É de uso parenteral, podendo ser administrado em associação com os antimoniais (Croft 1997; Armijos et al. 2004). A pentamidina e outras diamidinas aromáticas, não são de uso comum no Brasil, foram sintetizadas como fármacos hipoglicemiantes quando seu perfil terapêutico antiprotozoários foi descoberto. Possuem alta estabilidade química, fácil administração e baixa toxicidade (Balaña-Fouce 1998). Entram nas formas promastigotas e amastigotas de Leishmania pelo qual as diamidinas com alta afinidade são reconhecidas. A mitocôndria é um alvo importante das pentamidinas e este fármaco está envolvido na ligação e desintegração do DNA do cinetoplasto (kDNA) (Coelho et al. 2008). O alopurinol atua inibindo a síntese de purinas do parasito, geralmente é utilizado em associação com outros fármacos (Balaña-Fouce 1998). A utilização de fármacos simbióticos, que são aqueles capazes de atuar em mais de um alvo terapêutico têm se mostrado uma alternativa ao tratamento anti-Leishmania, 16 como por exemplo, antibióticos (azitromicina), vasodilatadores (nimodipina), análogos curcuminóides e antifúngicos (anfotericina B) (Sinagra et al. 2007; Tempone et al. 2009; Changtam et al. 2010). 1.8- Zidovudina (AZT) O tratamento de primeira escolha para indivíduos imunocomprometidos portadores de HIV é baseado na terapia antiretroviral (HAART). O objetivo da terapia antiretroviral é o de impedir a progressão da doença e, assim, prolongar e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos. Em termos práticos, isto implica a utilização de esquemas de terapia tripla combinação de fármacos para reduzir a carga viral no plasma (Montaner et al. 1999) Os derivados nucleosídicos são fortes aliados para esse tipo de tratamento. A zidovudina (3’ azido-2’-3’ – dideoxi-timidina; azidotimidina; AZT) é um análogo da timidina e pertence à classe de fármacos chamada de análogo-nucleosídeo inibidor da transcriptase reversa e tem sido utilizada no tratamento de indivíduos HIV-positivos nos últimos anos (figura 5). Ele passa por reações intracelulares de fosforilação e atua inibindo a enzima transcriptase reversa do HIV que, por sua vez, é antagônico à DNApolimerase humana (Veal 1995; Lynx 2006). Figura 5: Estrutura química da zidovudina (3’-azido-2’,3’-deoxitimidina) (Retirado de http://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/summary/summary.cgi?cid=35370 acessado em: 1502-2013). 17 A zidovudina é estruturalmente relacionada com o nucleosídeo endógeno timidina do qual difere apenas na substituição do grupo hidroxila na posição 3’ do anel de ribose por um grupo azido não-reativo (Veal 1995). Quanto à farmacocinética, o AZT é absorvido passivamente e biotransformado em compostos ativos trifosforilados. Primeiramente, no interior da célula do hospedeiro, a zidovudina é fosforilada pela timidina quinase. Em seguida é transformada pela difosfato timidilato cinase, de modo que níveis elevados de monofosfato e níveis muito mais baixos de difosfato e trifosfato são encontrados nas células. O fármaco não pode ser administrado na forma fosforilada, porque a fosforilação evita absorção celular. Uma vez fosforilado, a zidovudina se torna um substrato para a síntese de DNA (Lipsky 1996). O trifosfato de zidovudina, que tem uma meia-vida intracelular de eliminação de 3-4 horas. É amplamente distribuída e penetra livremente nos tecidos a partir da circulação sistêmica. O principal caminho metabólico do AZT é a glicuronidação, cerca de 60 a 70% do fármaco é inativado por essa via. (Souza & Storpirtis 2004; Graham 2009). A transcriptase reversa transcreve as cadeias infectantes de RNA dos vírus em moléculas complementares de DNA que se integram no genoma da célula hospedeira. Esta usa RNA ou DNA como moldes genéticos. A enzima é codificada pelo RNA viral e se encontra alojada no interior de cada capsídeo viral, durante a produção de novas partículas virais (Graham 2009). A seletividade antiviral da zidovudina se deve à sua maior afinidade pela transcriptase reversa do HIV do que pelas DNA polimerases humanas (Graham 2009). Como a zidovudina carece do grupo hidroxil na posição 3’, outro nucleotídeo não pode ser adicionado a ele, porque a ligação fosfodiéster 3’-5’ na cadeia de DNA não pode ser formada. Assim, são conhecidos como análogos nucleosídicos terminadores de cadeia, uma vez que a cadeia de DNA é encerrada com a incorporação do dideoxinucleotídeo. O término da síntese viral impede a replicação do vírus (Lipsky 1996). Alguns derivados nucleosídicos têm demonstrado propriedades antiparasitárias. Por exemplo, a sinefugina, um antibiótico nucleosídeo natural produzido por Streptomyces griseolus, é estruturalmente relacionado para S-adenosil-L-metionina, exibe forte atividade antifúngica e antiparasitária tanto in vitro quanto in vivo (Peyron et al.2005). 18 Outro derivado é a 5’-substituido-2’-deoxiuridina que apresenta boa atividade anti-leishmania in vitro contra formas promastigotas e amastigotas de L. donovani (Peyron et al.2005). O AZT demonstrou ter atividade anti leishmania causando alterações morfológicas em formas promastigotas de Leishmania (Leishmania) amazonensis (Araújo et al. 2011). No caso da coinfecção Leishmania-HIV, o início do tratamento antirretroviral está indicado para a maioria dos pacientes adultos com LV, já que a doença constitui um agravo sugestivo de imunodeficiência. Neste caso, a terapia antirretroviral deve ser iniciada após o final do tratamento para a leishmaniose e a estabilização clínica e hematológica do paciente. No entanto, existe a possibilidade de apresentação de LV como única manifestação em indivíduos que não apresentam imunodeficiência que justificaria o início imediato do tratamento antirretroviral. A introdução oportuna do tratamento antirretroviral dependerá de considerações relativas ao comportamento clínico da LV, à presença de citopenias que limitam a tolerância aos medicamentos e ao risco de toxicidade das interações medicamentosas. Na LT, a decisão de introdução do tratamento antirretroviral deverá considerar a presença de outros sinais de imunodeficiência. A terapêutica antirretroviral deve ser mantida para os pacientes que já estão em tratamento e a possibilidade de falha terapêutica deve ser considerada (Ministério da Saúde 2011). 1.9- Toxicidade mitocondrial da zidovudina (AZT) Durante as décadas de uso do AZT como fármaco antirretroviral, foi possível observar sua atividade em diversos tipos celulares que, consequentemente, demonstraram diferentes sensibilidades às concentrações terapêuticas desse fármaco, detectando-se na maioria das vezes toxicidade mitocondrial (Ferraresi et al. 2004). O AZT promove cardiotoxicidade envolvendo múltiplos mecanismos como: inibição da DNA polimerase mitocondrial, alterações na pirimidina deoxirribonucleotídeo por inibição da timidina quinase, aumento do stress oxidativo por aumento de superóxidos e disfunção mitocondrial (Kohler & Lewis 2007; Kohler et al.2009; Koczor & Lewis 2010; Yue Gao et al. 2011). 19 Kline et al. 2009 avaliaram o stress oxidativo promovido pelo AZT em células hepáticas humanas e verificaram que o mesmo provoca disfunção mitocondrial por depleção do mtDNA e altera o potencial redox. Este fármaco também induz dano endotelial, impede o crescimento de epitélio gengival modificando a diferenciação e proliferação celular (Jiang et al. 2006; Jiang et al. 2007 e Mitchel et al. 2011) Lund et al 2007, demonstraram que o AZT interage diretamente com o complexo I da cadeia transportadora de elétrons e pode causar o aumento de lactato extracelular e superóxido mitocontrial em células hepáticas in vitro. Portanto, a atividade mitocondrial deste fármaco está comprovada ocasionando lesão por diversos mecanismos, capazes de levar a morte celular. 20 2 JUSTIFICATIVA A leishmaniose é uma doença que tem aspectos clínicos agravantes e afeta muitas pessoas em todo mundo, sendo considerada uma doença negligenciada. Por isso, é de grande importância o estudo de todas as características do parasitismo causado pelas espécies do gênero Lesihmania. Os casos de coinfecção Leishmania-HIV em países da Europa e África estão cada vez mais frequentes. No Brasil, a concomitância das duas doenças é crescente e nesse país é importante ressaltar que a terapia antiretroviral é disponível para distribuição ao público por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1991 (Desjeux 2004; Ngure et al. 2009; Rabello et al. 2003). Foi demonstrado em trabalhos com outras formas celulares que a zidovudina promove diversas alterações nas mitocôndrias de vários tipos celulares, pois eles têm diferentes sensibilidades às concentrações terapêuticas dos fármacos antirretrovirais (Ferrarezi et al. 2004). O AZT pode promover, por exemplo, cardiotoxicidade, danos em células endoteliais, disfunção mitocondrial em células hepáticas, envolvendo múltiplos mecanismos como: inibição da DNA polimerase-γ-mitocondrial, alterações na pirimidina deoxiribonucleotídeo por inibição da timidina quinase, aumento do stress oxidativo e disfunção mitocondrial (Jiang et al. 2006; Jiang et al.2007; Kline et al. 2009; Liya Wang et al. 2011; Yue Gao et al.2011). Alguns derivados nucleosídicos têm demonstrado propriedades anti-Leishmania como, por exemplo, contra formas promastigotas e amastigotas de L. donovani (Peyron et al. 2005). Além disso, foi demonstrado que o AZT promove alterações morfológicas em promastigotas de Leishmania Leishmania amazonensis, principlamente na fase de intensa atividade mitocondrial do parasito (Araújo et al. 2011). Não se sabe, entretanto, seu efeito sobre o metabolismo energético e respiratório destes parasitos. Devido a esse novo perfil epidemiológico das leishmanioses, devemos compreender as suas características, analisando a influência da terapia antiretroviral (HAART) nas formas parasitárias. Com isso, é proposto neste trabalho avaliar o efeito do AZT, um dos principais fármacos usados nas HAART, no metabolismo de formas promastigotas da espécie de maior prevalência no Brasil, Leishmania Viannia braziliensis. 21 3 3.1. OBJETIVOS Objetivo geral Avaliar o efeito in vitro das diferentes concentrações de zidovudina (AZT) no metabolismo energético, respiratório e oxidação de ácidos graxos de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis. 3.2. Objetivos específicos Avaliar o efeito in vitro das diferentes concentrações de zidovudina (AZT) nas taxas de crescimento de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis. Avaliar o efeito in vitro das diferentes concentrações de zidovudina (AZT) no metabolismo da glicose de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis. Avaliar o efeito in vitro das diferentes concentrações de zidovudina (AZT) no ciclo do ácido tricarboxílico de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis Avaliar a oxidação de ácidos graxos realizada por formas promastigotas de L. (V.) braziliensis in vitro submetidas a diferentes concentrações de zidovudina (AZT). 22 4. MÉTODOS 4.1- Cultivo de formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis As formas promastigotas de L. (V.) braziliensis (MHOM/BR/1975/M2903) foram cedidas pelo Leishbank do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. O cultivo destes parasitos foi realizado em meio liquido Grace (Grace’s Insect Medium – Gibco®) acrescido de 20% de soro fetal bovino estéril e inativado, 2 mM de L-glutamina, 100 U/mL de penicilina e 100 μg/mL de estreptomicina (Sigma Chemical Co.) mantidos em placas de poliestireno de 24 poços em estufa de 26ºC. Dessa forma, estas amostras serviram para avaliar as formas promastigotas sob tensão normal de O2. 4.2- Atividade anti-Leishmania As formas promastigotas L. (V.) braziliensis foram submetidas às concentrações de 1; 10; 20; 30; 40 e 50 μM de AZT que foram previamente diluídos em dimetilsulfóxido (DMSO). O ensaio foi realizado em placas de 24 poços no qual em cada poço continha leishmanias na concentração de 2 X 105 Leishmania/mL e as concentração de AZT a serem testadas bem como um grupo controle contendo somente os parasitos e outro grupo contendo leishmanias e DMSO, nas concentrações utilizadas para diluição do fármaco. As placas foram mantidas nas condições descritas anteriormente e realizada a contagem de leishmanias presentes em cada poço diariamente, separando amostras no 3º dia (fase logarítmica) e 6ºdia (fase estacionária) para realização de testes bioquímicos. Para a contagem, as amostras foram diluídas em formaldeído tamponado a 0,2% (diluição 1:10) e então realizada a contagem em câmara de Newbauer. A curva foi realizada em oito vezes e o crescimento das formas promastigotas foi acompanhado diariamente durante 7 dias consecutivos. As amostras do 3º e 6º dias de crescimento foram coletadas para análise espectrofotométrica e análise cromatográfica. 23 4.3- Análise espectrofotométrica As amostras coletadas nas fases logarítmica e estacionária de crescimento de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis foram analisadas por meio de métodos de espectrofotometria enzimática e colorimétrica no aparelho Architect plus C8000 Abbott® para as dosagens de: glicose pela metodologia da hexoquinase (340-380 nm); uréia pelo ensaio cinético de uréia nitrogenada (340 nm). 4.4- Análise cromatográfica da concentração de ácidos orgânicos A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) foi realizada para avaliar a concentração dos ácidos orgânicos excretados ou secretados ou consumidos no cultivo das formas promastigotas de Leishmania (V.) braziliensis.As amostras do meio de cultura foram coletadas no 3º e 6º dia da curva de crescimento, com pipetas automáticas no volume de 1 mL, foram congeladas em nitrogênio líquido e armazenadas a -8ºC. Posteriormente, submetidas a cromatografia líquida (HPLC – Varian ProStar) com uma coluna de exclusão BIORAD-Aminex ion exclusion HPX – 87H (300 X 7,8 mm). A coluna de separação é protegida por uma coluna de proteção BIORAD Aminex HPX – 85. O eluente utilizado na fase móvel foi o ácido sulfúrico (5 mMol/L) à temperatura de 30ºC, com vazão de 0,6 mL/min, acoplado a um detector UV/visível em comprimento de onda de 210nm. Cada amostra injetada corresponde a um volume de 50µL (Bezerra et al. 1999, Vinaud et al. 2007). O tempo de retenção dos ácidos orgânicos e as áreas dos picos das substâncias detectadas foram calculadas por um programa computadorizado acoplado ao cromatógrafo: Star Chromatography Workstation 5.0 Varian, fornecendo sua concentração nas amostras. Os ácidos orgânicos foram identificados de acordo com o tempo de retenção e com calibração previamente realizada no CLAE para piruvato e lactato, indicadores da glicólise, citrato, αcetoglutarato, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato, substâncias do ciclo do ácido tricarboxílico; β-hidroxibutirato, acetoacetato, acetato e propionato, relacionados ao catabolismo de ácidos graxos (Bezerra et al. 1999; Vinaud et al. 2007). 24 4.5- Análise estatística Foi realizada por meio do programa Sigma Stat 3.2. Todas as variáveis foram testadas quanto à distribuição normal e variância homogênea. Quando a distribuição foi considerada normal e com variância homogênea foram utilizados testes paramétricos. Em casos em que a distribuição não foi normal ou que a variância não foi homogênea foram utilizados testes não paramétricos. As proporções e as correlações também foram avaliadas. As diferenças observadas foram consideradas significantes quando p<0,05. 25 5.MANUSCRITOS Manuscrito 1– EFEITO DA ZIDOVUDINA (AZT) NAS TAXAS DE CRESCIMENTO DE FORMAS PROMASTIGOTAS DE Leishmania (Viannia) braziliensis. Manuscrito 2 – EFEITO DA ZIDOVUDINA (AZT) NAS VIAS METABÓLICAS DE FORMAS PROMASTIGOTAS DE Leishmania (Viannia) braziliensis. 26 Manuscrito 1 EFEITO DA ZIDOVUDINA (AZT) NAS TAXAS DE CRESCIMENTO DE FORMAS PROMASTIGOTAS DE Leishmania (Viannia) braziliensis Resumo Nas últimas décadas é crescente o número de casos de coinfecção Leishmania/HIV em vários países incluindo o Brasil. O tratamento de primeira escolha para indivíduos imunocomprometidos portadores de HIV é baseado na terapia antirretroviral (HAART). O AZT é um derivado nucleosídico importante no tratamento desses indivíduos. Este trabalho teve por objetivo avaliar a ação do AZT em formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis, espécie mais prevalente no Brasil. Após exposição das formas promastigotas in vitro à diferentes concentrações de AZT, foi possível verificar que o fármaco atua principalmente na fase logarítmica de crescimento do parasito. Tal fase de crescimento é conhecida por ser uma fase de intensa atividade mitocondrial, sendo a mitocôndria o provável alvo deste fármaco em relação às formas promastigotas. Palavras-chave: Leishmania (V.) braziliensis, zidovudina, inibição do crescimento Abstract In the last decades it is crescent the number of Leishmania/HIV co-infection in several countries throughout the world including Brazil. The first choice treatment for the immunocompromised patients carriers of HIV is based upon a antiretroviral therapy (HAART). AZT is one of the most important nucleosidic derivative used in this treatment. This study aimed the evaluation of the effect of AZT on promastigotes forms Leishmania (Viannia) braziliensis the most prevalent species in Brazil. After the in vitro exposure of the promastigotes to the different concentrations of AZT it was possible to observe the decrease in the growth rate of the parasites, especially on the logarithmic. This phase of growth is known to have an intense mitochondrial activity which explains the observed effect of the drug on the parasites as the mitochondria is its target of action. Key words: Leishmania Viannia braziliensis, zidovudine, inhibition of growth 27 Introdução Com o aumento do número de casos de AIDS no mundo e a crescente urbanização das leishmanioses nas últimas décadas, observou-se o surgimento de um novo perfil epidemiológico, a coinfecção Leishmania/HIV, a maioria dos casos ocorre em alguns países africanos, na região do Mediterrâneo e no Brasil (Matos et al. 1998, Rabello et al. 2003, Ngure et al. 2009). Na coinfecção Leishmania/HIV, independente da espécie de Leishmania em questão, é possível observar alto risco de desenvolvimento de leishmaniose visceral de forma rápida e grave. Nessa correlação as enfermidades produzem uma diminuição sinérgica da resposta imunitária (Garcia-Almagro 2005). Wolday et al. (1998) relataram que a presença do HIV em cultura com L. donovani induziu um aumento da quantidade de parasitos, indicando que a interação dos dois microorganismos pode intensificar os quadros provocados por ambos. Na associação entre leishmaniose tegumentar e infecção pelo HIV, nos pacientes coinfectados com imunossupressão severa, as lesões podem ser encontradas não só em áreas expostas, mas também em áreas não expostas, tal como a região genital. Também surgem múltiplas lesões cutâneas com maior envolvimento das mucosas caracterizando o quadro clínico na maioria dos casos (Matos et al. 1998, Ministério da Saúde 2011). Manifestações atípicas variando de casos anérgicos paradoxais, profundidade das lesões ulcerativas, padrão esporotricóide e envolvimento cutâneo-mucoso, assim como uma resposta pobre a terapia padrão é observado como consequência da imunodeficiência em vários casos (Rosatelli et al. 1998; Padovese et al. 2009). O tratamento de primeira escolha para indivíduos imunocomprometidos portadores de HIV é baseado na terapia antiretroviral (HAART). O objetivo da HAART é o de impedir a progressão da doença e, assim, prolongar e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos. Em termos práticos, isto implica a utilização de esquemas de terapia tripla combinação de fármacos para reduzir a carga viral no plasma (Montaner et al. 1999) Os derivados nucleosídicos são fortes aliados para esse tipo de tratamento. A zidovudina (3’ azido-2’-3’ – dideoxi-timidina; azidotimidina; AZT) é um análogo da timidina e pertence à classe de fármacos chamada de análogo-nucleosídeo inibidor da transcriptase reversa e tem sido utilizada no tratamento de indivíduos HIV-positivos nos últimos anos. (Veal 1995; Lynx 2006). 28 Para compreender melhor a ação de um derivado nucleosídico em parasitos, foi proposto neste trabalho avaliar o efeito do AZT nas taxas de crescimento de formas promastigotas na espécie de maior prevalência no Brasil: L. (V.)braziliensis. Material e métodos Cultivo de formas promastigotas As formas promastigotas de L. (V.) braziliensis (MHOM/BR/1975/M2903) foram cedidas pelo Leishbank do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. O cultivo destes parasitos foi realizado em meio liquido Grace (Grace’s Insect Medium – Gibco®) acrescido de 20% de soro fetal bovino estéril e inativado, 2 mM de L-glutamina, 100 U/mL de penicilina e 100 μg/mL de estreptomicina (Sigma Chemical Co.) mantidos em placas de poliestireno de 24 poços em estufa de 26ºC. Dessa forma, estas amostras serviram para avaliar as formas promastigotas sob tensão normal de O2. Atividade anti-Leishmania As formas promastigotas de L. (V.) braziliensis foram submetidas às concentrações de 1; 10; 20; 30; 40 e 50 μM de AZT que foram previamente diluídos em dimetilsulfóxido (DMSO). O ensaio foi realizado em placas de 24 poços no qual em cada poço continha leishmanias na concentração de 2 X 105 Leishmania/mL e as concentração de AZT a serem testadas bem como um grupo controle contendo somente os parasitos e outro grupo contendo leishmanias e DMSO, nas concentrações utilizadas para diluição do fármaco. As placas foram mantidas nas condições descritas anteriormente e realizada a contagem de leishmanias presentes em cada poço diariamente. Para a contagem, as amostras foram diluídas em formaldeído tamponado a 0,2% (diluição 1:10) e então realizada a contagem em câmara de Newbauer. A curva foi realizada em cinco repetições e o crescimento das formas promastigotas foi acompanhado diariamente durante 7 dias consecutivos. Análise estatística Foi realizada por meio do programa Sigma Stat 3.2. Todas as variáveis foram testadas quanto à distribuição normal e variância homogênea. Quando a distribuição foi 29 considerada normal e com variância homogênea foram utilizados testes paramétricos. Em casos em que a distribuição não foi normal ou que a variância não foi homogênea foram utilizados testes não paramétricos. As proporções e as correlações também foram avaliadas. As diferenças observadas foram consideradas significantes quando p<0,05. Resultados Foram estabelecidos dois grupos controle, o primeiro somente com formas promastigotas em meio de cultura e o segundo com esses parasitos acrescidos de DMSO na maior concentração de diluição dos fármacos em meio de cultura. O DMSO utilizado para a diluição das concentrações de AZT não teve influência no crescimento das formas promastigotas. Não se observou diferença no crescimento das formas promastigotas entre os grupos controles, ou seja, não expostos ao fármaco. Quando se comparou o grupo controle das curvas de crescimento de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis com os testes sob ação das diferentes concentrações de zidovudina foi possível observar que houve diferença nas taxas de crescimento dos seguintes grupos teste: dia 1 AZT 40 µM e 50 µM; dia 2 AZT 10 µM e 40 µM; dia 3 AZT 30 µM e 50 µM; dia 4 AZT 30 µM e 40 µM; dias 5,6 e 7 AZT 40 µM e 50 µM (Figura 1 e 2). 30 100000000 10000000 Controle Leishmanias AZT 1 µM AZT 10 µM AZT 20 µM 1000000 AZT 30 µM AZT 40 µM AZT 50 µM 100000 Dia 0 Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7 Figura 1: Crescimento in vitro de formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis submetidas a diferentes concentrações de AZT(µM). Figura 2: Crescimento in vitro de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis submetidas a 10µM e 30 µM de AZT. * diferença estatística (p<0,05; ANOVA) 31 Discussão Foi demonstrado por Araújo et al. (2011), que a DL50 de zidovudina para células humanas é de 30 µM , isso pode ser claramente observado nas curvas teste realizadas em formas promastigotas de L. (V.) braziliensis em nosso estudo. A curva de crescimento de promastigotas é marcada pela fase proliferativa ou logarítmica e fase estacionária. Na fase proliferativa há um crescimento exponencial da quantidade de parasitos e intensa atividade metabólica. Foi possível observar que há uma redução da taxa de crescimento de formas promastigotas na fase logarítmica (Figuras 1 e 2). Alguns trabalhos indicam que o AZT induz significantemente possíveis alterações na membrana mitocondrial isoladas, atuando na biogênese do DNA mitocondrial (mtDNA) causando alterações morfológicas e depleção do mt DNA em tratamentos a longo prazo ou em testes in vitro e também na translocação do ATP mitocondrial (Cazzalini 2001; Dias 2005). O AZT pode causar insuficiência no metabolismo do mtDNA levando a uma redução dele a nível celular e citotoxidade. Alguns análogos nucleosídicos (similares ao AZT) são capazes de reduzir o mtDNA através da inibição da síntese DNA polimerase δ mitocondrial e da replicação do mtDNA. Embora estes análogos nucleosidicos tenham propriedades in vitro em células de mamíferos esgotando mtDNA levando à perda, retardamento do crescimento e viabilidade celular, o exato papel da mitocôndria no mecanismo de ação dessas fármacos deve ser esclarecido. Além de prejudicar a função da mtDNA polimerase δ, o AZT também é conhecido por inibir a telomerase, o translocador das atividades ADP / ATP mitocondrial e enzimas da fosforilação oxidativa (Dias 2005). Esta atividade do fármaco no funcionamento mitocondrial pode explicar a baixa sobrevivência de promastigotas em fase logarítmica expostas ao AZT. Em testes realizados com promastigotas, na fase proliferativa de L. (L.) amazonensis submetidas a diferentes concentrações de AZT, foram descritas alterações morfológicas como por exemplo, formação de vacúolos na região citoplasmática (Araújo et al. 2011). Com este trabalho concluimos que devido ao processo de intensa multiplicação das formas promastigotas de L.(V.)braziliensis no terceiro dia de cultivo e à sua grande atividade celular decorrente desse processo o fármaco se mostrou mais ativo nesta fase. 32 Referências Bibliográficas Araújo CA, Araujo AA, Batista CL, Oliveira MAP, Oliveira V, Lino Junior RS, Vinaud MC, Bezerra JCB 2011. Morphological alterations and growth inhibition of Leishmania (L.)amazonensis promastigotes exposed to zidovudine (AZT). Parasitol Res 108:547– 551. Cazzalini O, Lazze MC, Iamele L, Stivala LA, Bianchi L, Vaghi P, Cornaglia A, Calligaro A, Curti D, Alessandrini A, Prosperi E, Vannini V 2001. Early effects of AZT on mitochondrial functions in the absence of mitochondrial DNA depletion in rat myotubes. Biochem Pharmacol 62:893–902. Dias N, Bailly C 2005. Drugs targeting mitochondrial functions to control tumor cell growth. Biochem Pharmacol 70:1–12. García-Almago D 2005. Leishmaniases cutânea. Actas Dermosifiliogr 96(1):1-24. Lynx MD, McKee EE 2006. 3’-Azido-3’-deoxythymidine (AZT) is a competitive inhibitorof phosphorylation thymidine in isolated rat heart and liver mitochondria.Biochem Pharm 72:239-243. Matos M, Caiza A, Fernandes O, Gonçalves AJS, Pirmez C, Souza CSF, Oliveira-Neto MP 1998. American cutaneous leishmaniasis associated with HIV infection: report of four cases. J Eur. Acad. Derm Vener. 10: 218–225. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de recomendações para diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com a coinfecção Leishmania-HIV – 1 ed – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2011. Montaner JSG, Montessori V, Harrigan R, O’Shaughnessy M, Hogg R 1999. Antiretroviral therapy: ‘the state of the art’. Biomed & Pharmacother 53: 63-72. Ngure PK, Kimutai A, Ng’ang’a ZW, Rukunga G, Tonui WK 2009. A review of Leishmaniasis in Eastern Africa. Journ. Nanj. Med. Univ. 23(2):79-86. 33 Padovese V, Terranova M, Toma L, Barnabas G, Morrone A 2009. Cutaneous and mucocutaneous leishmaniasis in Tigray, northen Ethiopia clinical aspects and therapeutic concerns. Trans. Royal Soc. Trop. Med. Hyg.103: 707—711. Rabello A, Orsinni M, Disch J 2003. Leishmania/HIV co-infection in Brazil: an appraisal. Annals of Tropical Medicine & Parasitology, Vol. 97, Supplement No. 1, 17– 28. Rosatelli JB, Souza CS, Soares FA, Foss NT, Roselino AMF 1998. Generalized cutaneous leishmaniasis in acquired immunodeficiency syndrome. Journ. Eur. Acad. Derm. Ven.10: 229–232. Veal GJ, Back DJ. Metabolism of Zidovudine 1995. Gen. Pharmac. 26: 1469-1475. Wolday D, Akuffo H, Fessahaye G, Valantine A, Britton S 1998. Live and killed human immunodeficiency virus type-1 increases the intracellular growth of Leishmania donovani in monocyte-derived cells. Scand J Infect Dis 30(1):29-34. 34 Manuscrito 2 EFEITO DA ZIDOVUDINA (AZT) NAS VIAS METABÓLICAS DE FORMAS PROMASTIGOTAS DE Leishmania Viannia braziliensis Resumo A situação das leishmanioses têm se agravado cada vez mais, pois, têm crescido o número de casos de coinfecção Leishmania-HIV, não havendo um perfil clínico característico desta coinfecção. A Leishmania (Viannia) braziliensis é a espécie de maior prevalência no Brasil e este parasito possui alta flexibilidade do seu metabolismo energético e respiratório. Devido à ampla utilização de derivados nucleosídicos, como a zidovudina (AZT), nas terapias antiretrovirais este estudo teve como objetivo avaliar a ação desse fármaco no metabolismo de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis nas duas fases de crescimento (logarítmica e estacionárias). As promatigotas de L. (V.) brasiliensis (MHOM/BR/1975/M2903) foram cultivadas em meio líquido de Grace com 1,10, 20, 30, 40, e 50 μM de AZT. Os grupos controle foram feitos com promastigotas sem o fármaco. As amostras do meio de cultura foram coletadas no 3º e 6º dia da curva de crescimento e em seguida a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) foi realizada para avaliar a concentração dos seguintes ácidos orgânicos excretados ou consumidos no cultivo das formas promastigotas: piruvato, lactato, citrato, α-cetoglutarato, succinato, fumarato, malato, oxaloacetato, βhidroxibutirato, acetoacetato, acetato e propionato. Foi demonstrada a redução na secreção/excreção (S/E) de fumarato e aumento da S/E de piruvato em grupos expostos ao AZT na fase estacionária de crescimento das formas promastigotas. Em seguida foi realizada a dosagem espectrofotométrica de glicose e uréia nas promastigotas de 3º e 6º dias de crescimento, submetidas ao AZT. A concentração de glicose aumentou no 6º dia de crescimento. O fármaco testado demonstrou ter atividade sobre as vias mitocondriais do parasito. Portanto, observou-se que as promastigotas utilizam como principal fonte de energia o catabolismo de proteínas e ácidos graxos, vias que não foram alteradas devido a presença do fármaco. Palavras chave: Leishmania (Viannia) braziliensis, metabolismo energético, AZT 35 Introdução Os parasitos pertencentes ao gênero Leishmania, assim como os outros Trypanosomatidae, são caracterizados por possuírem alta flexibilidade do seu metabolismo energético, respiratório e por realizarem parte da glicólise nos glicossomos (Opperdoes & Coombs 2007; Gualdrón-López et al. 2012). Foi demonstrado que L. mexicana possui todas as enzimas da via glicolítica e do ciclo do ácido tricarboxílico. A maioria dos produtos é parcialmente oxidada, como o acetato, piruvato e succinato que são produtos finais do metabolismo da glicose (Martin et al. 1976; Cazzulo 1992; Tielens e van Hellemond 1998; Louassini et al. 1999; Bringaud et al. 2010). Formas promastigotas também podem realizar o catabolismo de ácidos graxos, como via alternativa de geração de energia. A acetil-CoA, importante precursor das principais vias metabólicas, também pode ser gerada a partir da β-oxidação de ácidos graxos ou por biossíntese de ácidos graxos via malonil CoA (Kidnt et al. 2010). A treonina pode ser convertida em quantidades equimolares de glicina e de acetato e é considerada como sendo a principal fonte de acetil-CoA para a biossíntese de ácidos graxos em Leishmania spp (Bringaud et al. 2010). Com o aumento gradativo do número de casos coinfecção Leishmania-HIV nos últimos anos percebeu-se uma nova situação epidemiológica, não havendo um perfil clínico característico desta coinfecção, pois a imunodepressão causada pelo HIV facilita a progressão tanto da forma visceral quanto da tegumentar da leishmaniose (Catorze et al. 2006; Jawhar 2011; Ministério da Saúde 2011). O sucesso do programa brasileiro de distribuição gratuita e universal de medicamentos anti-retrovirais, diminuiu a prevalência das infecções oportunistas mais comuns entre os HIV-positivos (Rabello et al. 2003). Alguns derivados nucleosídicos, utilizados na terapia antirretroviral (HAART), têm demonstrado propriedades anti-Leishmania como, por exemplo, contra formas promastigotas e amastigotas de Leishmania donovani (Peyron et al. 2005). Segundo Araújo et al.2011 o AZT tem efeitos em promastigotas de Leishmania (L.) amazonensis promovendo alterações morfológicas neste protozoário. Devido a esse novo perfil epidemiológico das leishmanioses, devemos compreender melhor as suas características, analisando a influência da terapia antiretroviral (HAART) nas formas parasitárias. É necessário compreender a diversidade metabólica dessa população patogênica para maior entendimento da relação parasito-hospedeiro. 36 Por isso é proposto neste trabalho avaliar a ação do AZT em formas promastigotas da espécie de maior prevalência no Brasil, L. (V.) braziliensis. Avaliando o efeito das concentrações de AZT no catabolismo da glicose, ciclo do ácido tricarboxílico e metabolismo de ácidos graxos das formas promastigotas. Material e métodos Cultivo de formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis As formas promastigotas de L. (V.) braziliensis (MHOM/BR/1975/M2903) foram cedidas pelo Leishbank do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás. O cultivo destes parasitos foi realizado em meio liquido Grace (Grace’s Insect Medium – Gibco®) acrescido de 20% de soro fetal bovino estéril e inativado, 2 mM de L-glutamina, 100 U/mL de penicilina e 100 μg/mL de estreptomicina (Sigma Chemical Co.) mantidos em placas de poliestireno de 24 poços em estufa de 26ºC. Dessa forma, estas amostras serviram para avaliar as formas promastigotas sob tensão normal de O2. Atividade anti-Leishmania As formas promastigotas L. (V.) braziliensis foram submetidas às concentrações de 1; 10; 20; 30; 40 e 50 μM de AZT que foram previamente diluídos em dimetilsulfóxido (DMSO). O ensaio foi realizado em placas de 24 poços no qual em cada poço continha leishmanias na concentração de 2 X 105 Leishmania/mL e as concentração de AZT a serem testadas bem como um grupo controle contendo somente os parasitos e outro grupo contendo leishmanias e DMSO, nas concentrações utilizadas para diluição do fármaco. As placas foram mantidas nas condições descritas anteriormente e realizada a contagem de leishmanias presentes em cada poço diariamente, separando amostras no 3º dia (fase logarítmica) e 6ºdia (fase estacionária) para realização de testes bioquímicos.. As amostras do 3º e 6º dias de crescimento foram coletadas para análise espectrofotométrica e análise cromatográfica. Os testes foram realizados em oito repetições. 37 Análise espectrofotométrica As amostras coletadas nas fases logarítmica e estacionária de crescimento de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis foram analisadas por meio de métodos de espectrofotometria enzimática e colorimétrica no aparelho Architect plus C8000 Abbott® para as dosagens de: glicose pela metodologia da hexoquinase (340-380 nm); uréia pelo ensaio cinético de uréia nitrogenada (340 nm). Análise cromatográfica da concentração de ácidos orgânicos A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) foi realizada para avaliar a concentração dos ácidos orgânicos excretados ou secretados ou consumidos no cultivo das formas promastigotas de Leishmania (V.) braziliensis.As amostras do meio de cultura foram coletadas no 3º e 6º dia da curva de crescimento, com pipetas automáticas no volume de 1 mL, foram congeladas em nitrogênio líquido e armazenadas a -8ºC. Posteriormente, submetidas a cromatografia líquida (HPLC – Varian ProStar) com uma coluna de exclusão BIORAD-Aminex ion exclusion HPX – 87H (300 X 7,8 mm). A coluna de separação é protegida por uma coluna de proteção BIORAD Aminex HPX – 85. O eluente utilizado na fase móvel foi o ácido sulfúrico (5 mMol/L) à temperatura de 30ºC, com vazão de 0,6 mL/min, acoplado a um detector UV/visível em comprimento de onda de 210nm. Cada amostra injetada corresponde a um volume de 50µL (Bezerra et al. 1999, Vinaud et al. 2007). O tempo de retenção dos ácidos orgânicos e as áreas dos picos das substâncias detectadas foram calculadas por um programa computadorizado acoplado ao cromatógrafo: Star Chromatography Workstation 5.0 Varian, fornecendo sua concentração nas amostras. Os ácidos orgânicos foram identificados de acordo com o tempo de retenção e com calibração previamente realizada no CLAE para piruvato e lactato, indicadores da glicólise, citrato, αcetoglutarato, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato, substâncias do ciclo do ácido tricarboxílico; β-hidroxibutirato, acetoacetato, acetato e propionato, relacionados ao catabolismo de ácidos graxos (Bezerra et al. 1999, Vinaud et al. 2007). Análise estatística Foi realizada por meio do programa Sigma Stat 3.2. Todas as variáveis foram testadas quanto à distribuição normal e variância homogênea. Quando a distribuição foi considerada normal e com variância homogênea foram utilizados testes paramétricos. Em casos em que a distribuição não foi normal ou que a variância não foi homogênea 38 foram utilizados testes não paramétricos. As proporções e as correlações também foram avaliadas. As diferenças observadas foram consideradas significantes quando p<0,05. Resultados: Ao analisar a secreção/excreção (S/E) dos ácidos orgânicos, por CLAE, observou-se que o controle de DMSO, utilizado para diluir o fármaco, não teve diferença estatística na S/E dos ácidos comparado com o controle de formas promastigotas. Observou-se que o oxalato, α-cetoglutarato, acetato e propionato não foram detectados em nenhuma das amostras analisadas. Em relação a S/E de citrato, não houve diferença estatística entre os grupos controle, somente nas promastigotas expostas a 30µM de AZT de terceiro dia de crescimento. A dosagem de oxaloacetato do controle contendo somente o meio Grace’s foi menor do que a S/E nos controles de formas promastigotas de ambos dias. O piruvato foi detectado no meio de cultura sem a presença de parasitos entretato não foi detectado no grupo controle de terceiro dia de crescimento, no sexto dia de cultivo o piruvato voltou a ser detectado em concentração estatisticamente superior ao controle de meio Grace ‘s. No meio Grace’s não foi detectado malato e nos grupos controle houve a S/E deste ácido orgânico somente no terceiro dia de crescimento. Os grupos controle de promastigotas tiveram maior concentração de succinato do que havia no meio de cultura. O lactato foi detectado no meio de cultura e permaneceu sendo detectado no grupo controle de promastigotas de terceiro dia sem diferença estatística entre eles e não foi detectado no controle de sexto dia. No meio de cultura e nos grupos controle de promastigotas foram detectados concentrações de β-hidroxibutirato entretanto não houve diferença estatística entre esses grupos. O fumarato foi detectado em meio Grace’s em menor concentração que as secretadas e excretadas pelas formas promastigotas sem exposição ao AZT. As diferenças estatísticas na S/E dos ácidos orgânicos analisados podem ser vistas na Tabela 1. 39 Tabela 1: Concentração de ácidos orgânicos (nM/105 leishmanias) secretados/excretados por formas promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis in vitro, submetidas a diferentes concentrações de AZT (µM). 3º dia Citrato 6º dia 3º dia Oxaloacetato 6º dia 3º dia Piruvato 6º dia 3º dia Controle AZT AZT AZT AZT AZT AZT promastigotas 1µM 10µM 20µM 30µM 40µM 50µM 0,06 0,10 ± 0,05 ± 0,05 0,07 0,10 0,05 0,06 0,05 0,05 0,09 ± 0,04 ± 0,05 ± 0,03 ± 0,03 ± 0,06 3º dia Succinato 6º dia 3º dia 0,04 0,02 0,02 0,03 ± 0,07 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,04 ± 0,04 0,11 0,14 0,09 0,12 0,40 0,23 0,25 ± 0,09 ± 0,11 ± 0,08 ± 0,10 ±0,35 ± 0,21 ± 0,22 b b b 0,15 0,27 b ± 0,15 ± 0,16 0,10 0,07 ± 0,09 ± 0,08 N.D. 3º dia β-hidroxibutirato 6º dia 3º dia Fumarato 6º dia 0,02 ± 0,01 0,04 ± 0,04 0,07 ± 0,06 a 0,10 0,16 0,15 0,15 0,03 ± 0,07 ± 0,09 ± 0,11 ± 0,09 ± 0,05 a ± 0,16 0,17 0,15 0,12 0,14 ± 0,06 ± 0,07 ± 0,06 ±0,05 ± 0,10 ± 0,04 a a,b 15,67 b 7,07 6,46 5,77 ±2,35 ± 2,4 ± 3,14 N.D. a,b 7,04 ±0,13 ± 3,30 ± 8,54 ± 2,28 ± 2,27 a a a 12,03 6,49 1,35 ± 3,26 ± 5,57 ± 1,19 ± 2,20 ± 2,09 ± 4,14 0,34 0,33 0,44 0,30 0,24 ± 0,24 ± 0,17 ± 0,31 ± 0,23 ± 0,06 0,48 0,30 0,29 0,28 0,23 ± 0,18 ± 0,17 ± 0,07 0,40 0,73 a ±0,54 ±0,17 ± 0,3 a b a 0,31 ± 0,15 ± 0,22 a 0,64 0,58 ± 0,31 ± 0,15 ± 0,14 ± 0,15 b b b a ±0,06 8,81 0,15 8,46 0,24 0,19 18,59 0,33 0,35 0,24 Lactato 6º dia a 0,08 Malato 6º dia a 0,31 ± 0,22 0,27 ± 0,08 0,40 ± 0,24 0,94 a, b ± 0,14 ± 0,12 ± 0,05 ± 0,15 ± 0,23 ±0,06 0,14 0,18 0,08 0,20 0,16 0,24 0,19 ± 0,11 ± 0,13 ± 0,09 ± 0,19 ± 0,21 ± 0,20 ± 0,29 0,06 0,13 0,001 b ± 0,16 ± 0,21 0,09 0,16 ± 0,04 ± 0,04 0,13 0,10 0,03 ± 0,11 ± 0,09 ± 0,04 ± 0,04 ± 0,06 a a a a 0,06 0,07 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,06 a a a a 0,07 0,06 ± 0,01 ± 0,01 0,07 0,04 0,05 ± 0,01 0,08 0,04 ± 0,01 0,23 0,07 ± 0,01 0,49 0,46 a, b 0,24 b 0,29 13,45 0,25 N.D. 0,15 a, b 4,48 0,12 0,11 ± 0,03 ± 0,05 a- diferença estatística, em promastigotas de dias diferentes submetidas à mesma concentração de AZT (p<0,05; ANOVA) b- diferença estatística, em promastigotas do mesmo dia submetidas às diferentes concentrações de AZT (p<0,05; ANOVA) 40 Ao realizarmos as dosagens espectrofotométricas de glicose e uréia observamos os resultados descritos na Tabela 2. Tabela 2: Concentração de glicose e uréia 105 (mg/dL/ leishmanias) secretados/excretados por promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis in vitro, submetidas a diferentes concentrações de AZT (µM). 3º dia Glicose 6º dia 3º dia Uréia 6º dia Controle AZT AZT AZT AZT AZT AZT promastigotas 1µM 10µM 20µM 30µM 40µM 50µM a b 1,06 0,99 ± 1,29 1,28 3,08 ± 0,82 0,65 ± 0,85 ± 1,0 ± 2,78 3,6 b 3,41 a, b 1,79 2,63 ± 1,43 ± 1,72 ±1,70 ± 1,69 ± 1,01 b b 0,07 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,02 b b b 0,07 ± 0,02 0,07 ± 0,01 a 2,95 b 0,06 ± 0,54 3,23 ± 1,79 0,07 1,09 a, b 0,06 ± 0,01 0,09 a, b ± 0,03 0,05 a, b ± 0,01 0,24 a, b ± 0,11 0,07 a ± 0,01 0,09 a, ± 0,01 0,13 a, b ± 0,01 1,23 ± 0,30 1b ± 0,21 0,13 a, b ± 0,01 0,11 a, b ± 0,01 a- diferença estatística, em promastigotas de dias diferentes submetidas à mesma concentração de AZT (p<0,05; ANOVA) b- diferença estatística, em promastigotas do mesmo dia submetidas às diferentes concentrações de AZT (p<0,05; ANOVA) Em relação às dosagens espectrofotométricas de glicose o grupo controle de meio Grace’s teve menor concentração que o controle de promastigotas no terceiro e no sexto dia e não foi detectado uréia no meio de cultivo. Discussão Apesar do acetato ser considerado um importante produto final da degradação de glicose em formas amastigotas e promastigotas de várias espécies de Leishmania, como: L. pifanoi, L. mexicana, L. donovani e L. major (Hart & Coombs 1982; Rainey & Mackenzie 1991; Van Hellemond & Tielens 1998; Opperdoes & Coombs 2007; Rosenzweig et al. 2008; Tielens & Hellemond 2009, Tielens et al. 2010) em nosso trabalho não foi possivel detectar a produção de acetato. Nossos resultados estão de acordo com os trabalhos de Costa et al.(2011) que também analisou o metabolismo de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis da cepa M2903. 41 O mecanismo de ação do AZT está relacionado ao controle da proliferação celular, foi demonstrado em trabalhos com outras formas celulares que a zidovudina promove diversas alterações nas mitocôndrias de vários tipos celulares, pois eles têm diferentes sensibilidades às concentrações terapêuticas dos fármacos antirretrovirais (Ferrarezi et al. 2004). O AZT pode promover, por exemplo, cardiotoxicidade, danos em células endoteliais, disfunção mitocondrial em células hepáticas, envolvendo múltiplos mecanismos como: inibição da DNA polimerase-γ-mitocondrial, alterações na pirimidina deoxiribonucleotídeo por inibição da timidina quinase, aumento do stress oxidativo e disfunção mitocondrial (Cazzalini et al. 2001; Dias & Bailly 2005; Jiang et al. 2006 ; Jiang et al. 2007; Kline et al. 2009; Liya Wang et al. 2011; Yue Gao et al.2011). Analisando queratinócitos gengivais in vitro expostos ao AZT, Mitchel et al.2011 verificaram que o fármaco modificou a diferenciação e proliferação dessas células. Kohler et al. 2009 estudando cardiomiócitos verificaram que o AZT induz a redução na respiração mitocondrial, reduz a biogênese mitocondrial e promove anomalias na morfologia mitocondrial. Ferraresi et al. 2004 avaliaram a toxicidade mitocondrial dos HAART por citometria de fluxo para avaliar o potencial de membrana mitocondrial e verificaram danos mitocondriais promovidos pelo fármaco. Em testes realizados com formas promastigotas, na fase proliferativa po de L. (L.) amazonensis submetidas a diferentes concentrações de AZT, foram descritas alterações morfológicas como por exemplo, formação de vacúolos na região citoplasmática, tal fase de crescimento é conhecida por ter alta atividade mitocondrial (Araújo et al. 2011). O piruvato, é produzido no citosol a partir do fosfoenolpiruvato (PEP) e entra na mitocôndria para ser convertido em acetil CoA (Van Hellemond et al.1998; Tielens & Van hellemond 2009). Em nossos testes, com as formas promastigotas, a S/E de piruvato não foi detectada no terceiro dia mostrando que este ácido é consumido para gerar energia na fase logarítmica. As concentrações do AZT podem induzir lesão mitocondrial fazendo com que o piruvato que estava na mitocôndria fosse excretado, resultando na detecção deste ácido orgânico nos grupos teste. Em relação ao grupo 42 controle do sexto dia, devido ao aumento de glicose provavelmente ocorreu maior produção de PEP e, consequentemente, de piruvato, sendo possivel a sua detecção. Nos grupos controle e testes submetidos às concentrações do AZT observou-se que formas promastigotas apresentam uma tendência ao maior aproveitamento energético, o que resulta em maior S/E de succinato. O succinato, além de metabólito intermediário do ciclo do ATC é o produto final do glicossomo (Saunders et al.2010) este ácido orgânico e seu precursor fumarato, foram detectados em todos os grupos teste. Sabe-se que o succinato pode ser produzido tanto por uma via mitocondrial quanto por uma glicossomal, da seguinte maneira: o PEP é produzido no citosol onde fica localizado em um ponto de ramificação da via metabólica, ele pode tanto voltar aos glicossomo quanto ir para a mitocôndria e em ambos ser convertido a succinato (Besteiro et al.2002; Bringaud et al.2010). Portanto, nas formas promastigotas submetidas às concentrações do fármaco a produção do succinato e fumarato detectados provavelmente é proveniente dos glicossomos, visto que o AZT atua lesando a mitocôndria. O fumarato tendeu a ter maior S/E no terceiro dia de crescimento das formas promastigotas nos grupos testes expostos ao AZT, nas concentrações até de 30µM, tal concetração foi descrita por Araújo et al. 2011 como sendo a DL 50 do AZT. O Aumento na S/E de fumarato também pode ter ocorrido devido ao ciclo da uréia, onde se observa consumo de aminoácidos com produção de fumarato e uréia como produtos finais (Lehninger 2006). Foi possivel observar resultados semelhantes na S/E de uréia e fumarato quando as promastigotas foram expostas às diferentes concentrações de AZT. É importante ressaltar que não foi detectada a presença da uréia no controle do meio de cultura. Com a lesão mitocondrial causada pelo fármaco o citrato que estava presente na mitocôndria foi liberado para o citoplasma sendo possível a sua detecção por CLAE nos grupos expostos ao AZT. De acordo com os resultados obtidos por Costa et al. (2011) que detectou citrato em promastigotas de L. (V.) braziliensis. O oxaloacetato e o malato foram detectados em todas as amostras e estão de acordo com os achados de Costa et al. (2011), mesmos expostos ao fármaco continuaram sendo detectados. Nas promastigotas de Leishmania spp em meios de cultura ricos em glicose, o lactato pode ser proveniente da dihidroxiacetona fosfato (DHAP) que é um metabólito 43 da glicólise, o DHAP sai do glicossomo e, no citosol, se converte em lactato via metilglioxal (Saunders et al.2010). Como o lactato está no citosol, não sofreu quaisquer influência do AZT na fase logarítmica, por isso foi detectado em todas as amostras e os grupos testes de terceito dia de crescimento das promastigotas tiveram maior S/E que os grupos de sexto dia. Provavelmente a não detecção de S/E de lactato no grupo controle de sexto dia ocorreu devido a menor produção de DHAP com desvio da via metabólica para síntese de piruvato, que é energeticamente mais rentável. A S/E de oxalato e α-cetoglutarato não foi detectada em nenhuma das amostras analisadas pela técnica de CLAE. O α-cetoglutarato além de fazer parte do ciclo do ATC também pode ser produzido a partir do catabolismo protéico (Lehninger 2006). Provavelmente, estes dois ácidos orgânicos estão sendo utilizados intracelularmente, não sendo portanto secretados o que justifica a sua ausência em nossas análises. Os ácidos graxos não são conhecidos como importantes substratos energéticos do metabolismo de indivíduos pertencentes à família Trypanosomatidae, com exceção em amastigotas de L. donovani e T. cruzi (Opperdoes &Coombs 2007; Tielens & Hellemond 2009; Tielens et al. 2010). Nas formas promastigotas em meio de cultura, a Leishmania utiliza preferencialmente hexoses (glicose, galactose e manose) para a geração de energia. Ela expressa numerosos transportadores de hexoses, amino açúcares (glicosamina, Nacetilglicosamina) e pentoses (ribose e xilose). Os açúcares internalizados são transportados ao glicossomos até a geração de glicose-6-fosfato por meio da via glicolítica e a fase final é realizada no citosol (Saunders et al.2010). Durante o período de proliferação parasitária a glicose é metabolizada no glicossomo e o excesso de hexoses pode ser exportado ao citoplasma e catabolizado em manógenos, esses são acumulados extracelularmente durante a fase estacionária de crescimento (Costa et al.2011). Também foi possível observar que esses parasitos são capazes de utilizar de outras fontes energéticas como proteínas e lipídios, visto que foi possível detectar seus produtos finais, como uréia e β-hidroxibutirato. Em nossos estudos com formas promastigotas de L. (V.) braziliensis não foi detectado por CLAE a S/E de acetato nos grupos controle e nem nos grupos submetidos ao AZT. Costa et al.(2011) ao estudar as formas promastigotas in vitro de L. (V.) braziliensis cepa M2903 verificou que não houve detecção do referido ácido orgânico. 44 O β-hidroxibutirato e o acetoacetato foram detectados em todas as amostras e o fármaco não influenciou na S/E desses ácidos orgânicos. Em estudos in vitro com promastigotas de L.(V.) braziliensis da cepa M2903 realizados por Costa et al. 2011 o βhidroxibutirato também foi detectado por CLAE. O propionato, que pode ser produzido via succinato ou via acetil Co-A, não foi detectado em nenhum dos grupos testados nem nos grupos controle. Com base nos ácidos orgânicos analisados, provavelmente, os parasitos não utilizam glicose como fonte energética, fazendo uso de vias catabólicas de proteínas e de ácidos graxos que não foram influenciadas pela exposição ao AZT. Concluimos que o AZT ao promover lesão mitocondrial altera as vias metabólicas da mitocôndria mas não causa nenhuma influência nos outros mecanismos de geração de energia como as vias glicossomais, citosólicas ou vias alternativas de produção de energia de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis. Referências bibliográficas Araújo CA, Araujo AA, Batista CL, Oliveira MAP, Oliveira V, Lino Junior RS, Vinaud MC, Bezerra JCB 201. 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Também em ensaios realizados com promastigotas na fase proliferativa de L. (L.) amazonensis submetidas a diferentes concentrações de AZT foram descritas alterações morfológicas como por exemplo, formação de vacúolos na região citoplasmática (Araújo et al. 2011). Neste estudo foi possível observar uma redução da taxa de crescimento de promastigotas no segundo dia da curva, na concentração de 10 µM de AZT, demonstrando ação do fármaco na fase de intensa atividade mitocondrial da célula parasitária . Quando o fármaco lesa a mitocôndria, o parasito passa a utilizar de outros mecanismos para preservar a geração de energia e a secreção/excreção de ácidos orgânicos que estão em outros locais, além da mitocôndria, permanece bem estabelecida quando as promastigotas in vitro são expostas às diferentes concentrações de AZT . Depois de observarmosa atividade do AZT na proliferação de formas promastigotas, analisamos por CLAE, a S/E de: piruvato, lactato, succinato, fumarato, malato, oxaloacetato, β-hidroxibutirato, acetoacetato, acetato, propionato e oxalato. Também foram dosados, por espectrofotometria, as concentrações de glicose e uréia das formas promastigotas de fase logarítmica e estacionária. Em nosso estudo, assim como os trabalhos de Costa et al.(2011) que também analisaram o metabolismo de formas promastigotas de L. (V.) braziliensis da cepa M2903, não foi possível detectar o acetato por CLAE. O acetato é considerado um importante produto final da degradação da glicose em amastigotas e promastigotas de de várias espécies de Leishmania, como: L. pifanoi, L. mexicana, L. donovani e L. major (Hart & Coombs 1982; Rainey & Mackenzie 1991; Van Hellemond & Tielens 1998; 50 Opperdoes & Coombs 2007; Rosenzweig et al.2008; Tielens & Hellemond 2009, Tielens et al. 2010). O piruvato em nossos testes com as formas promastigotas teve a S/E não detectada no terceiro dia mostrando que ele pode ter sido consumido para gerar energia nessa fase de intensa multiplicação parasitária, no sexto dia como houve aumento de glicose no meio de cultura, provelmente ocorreu aumento na produção de fosfoenolpiruvato (PEP) que é o precursor do piruvato resultando em sua detenção pela técnica de CLAE (Van Hellemond et al.1998; Tielens & Van hellemond 2009). O succinato é um metabólito do ciclo do ATC e também um produto final do glicossomo como descrito por Saunders et al.2010, este ácido orgânico e seu precursor fumarato, foram detectados em todos os grupos teste e grupos controle. Nas formas promastigotas submetidas às concentrações do fármaco a produção do succinato e fumarato detectados provavelmente é proveniente dos glicossomos, visto que o AZT atua lesando a mitocôndria. O aumento na S/E de fumarato na fase estacionária, também pode ter ocorrido devido ao ciclo da uréia, onde se observa consumo de aminoácidos com produção de fumarato e uréia como produtos finais (Lehninguer 2006). Foi possivel observar resultados semelhantes na S/E de uréia e fumarato quando as promastigotas foram expostas às diferentes concentrações de AZT. É importante ressaltar que não foi detectada a presença da uréia no controle do meio de cultura. Com a lesão mitocondrial causada pelo fármaco o citrato que estava presente na mitocôndria foi liberado para o citoplasma sendo possível a sua detecção por CLAE nos grupos expostos ao AZT. De acordo com os resultados obtidos por Costa et al. (2011) que detectou citrato em promastigotas de L. (V.) braziliensis. O oxaloacetato e o malato foram detectados em todas as amostras e estão de acordo com os achados de Costa et al. (2011), mesmos expostos ao fármaco continuaram sendo detectados. Nas promastigotas de Leishmania spp em meios de cultura ricos em glicose, o lactato pode ser proveniente da dihidroxiacetona fosfato (DHAP) que é um metabólito da glicólise, o DHAP sai do glicossomo e, no citosol, se converte em lactato via metilglioxal (Saunders et al.2010). Como o lactato está no citosol, não sofreu quaisquer influência do AZT na fase logarítmica, por isso foi detectado em todas as amostras e os grupos testes de terceito dia de crescimento das promastigotas tiveram maior S/E que os grupos de sexto dia. Provavelmente a não detecção de S/E de lactato no grupo controle 51 de sexto dia ocorreu devido a menor produção de DHAP com desvio da via metabólica para síntese de piruvato, que é energeticamente mais rentável. A S/E de oxalato e α-cetoglutarato não foi detectada em nenhuma das amostras analisadas pela técnica de CLAE. O α-cetoglutarato além de fazer parte do ciclo do ATC também pode ser produzido a partir do catabolismo protéico (Lehninger 2006). Provavelmente, estes dois ácidos orgânicos estão sendo utilizados intracelularmente, não sendo portanto secretados o que justifica a sua ausência em nossas análises. Os ácidos graxos não são conhecidos como importantes substratos energéticos do metabolismo de indivíduos pertencentes à família Trypanosomatidae, com exceção em amastigotas de L. donovani e T. cruzi (Opperdoes &Coombs 2007; Tielens & Hellemond 2009; Tielens et al. 2010). Em nossos testes observou-se um aumento da S/E de glicose no meio de cultura das formas promastigotas no sexto dia de crescimento, isso é explicado pois a Leishmania sp quando cultivada utiliza preferencialmente hexoses (glicose, galactose e manose) para a geração de energia (Saunders et al.2010). Durante o período de proliferação parasitária a glicose é metabolizada no glicossomo e o excesso de hexoses pode ser exportado ao citoplasma e catabolizado em manógenos, esses são acumulados extracelularmente durante a fase estacionária de crescimento (Costa et al.2011). Foi possível detectar uréia e β-hidroxibutirato indicando que os parasitos podem utilizar de outras fontes energéticas como proteínas e lipídios. O β-hidroxibutirato e o acetoacetato foram detectados em todas as amostras e o fármaco não influenciou na S/E desses ácidos orgânicos. Em estudos in vitro com promastigotas de L.(V.) braziliensis da cepa M2903 realizados por Costa et al. 2011 o βhidroxibutirato também foi detectado por CLAE. O propionato, que pode ser produzido via succinato ou via acetil Co-A, não foi detectado em nenhum dos grupos testados nem nos grupos controle. Com este trabalho observamos que as vias glicossomais e vias alternativas de produção de energia estão bem conservadas permitindo que o parasito continue gerando energia para sua sobrevivência apesar de exposto ao fármaco. 52 7.CONCLUSÕES Neste trabalho foi possível avaliar o efeito in vitro das diferentes concentrações de zidovudina (AZT) no metabolismo energético, respiratório e oxidação de ácidos graxos de promastigotas de L. (V.) braziliensis. O AZT, ao promover lesão mitocondrial, alterou as taxas de crescimento in vitro de promastigotas em fase proliferativa de L. (V.) braziliensis, especialmente nas concentrações de 10 e 30 µM. Os ácidos orgânicos que fazem parte do metabolismo da glicose que se localizam no glicossomo e citosol das promastigotas: succinato, piruvato, lactato de L. (V.) braziliensis permanecem sendo secretados e excretados nos grupos teste submetidos às diferentes concentrações de zidovudina. A secreção/excreção de acetato não foi detectada nas amostras analisadas. Com base nos achados dos ácidos orgânicos pertentes às vias mitocondriais, podemos concluir que o AZT tem influência na mitocôndria de promastigotas de L. (V.) braziliensis, os achados nas concentrações de citrato, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato são indicativos que o fármaco atua nestas vias. Com base nos ácidos orgânicos analisados, as formas promastigotas provavelmente fazem uso de vias catabólicas de proteínas e de ácidos graxos que não foram influenciadas pela exposição ao AZT. 53 8 REFERÊNCIAS Aleixo JA, Nascimento ET, Monteiro GR, Fernandes MZ, Ramos AMO, Wilson ME, Pearson RD, Jeronimo SMB 2006. Atipical american visceral leishmaniasis caused by disseminated Leishmania amazonensis infection presenting with hepatitis and adenopathy. Trans.Royal Soc. Tropic. Med. Hyg. 100: 79-82. Alexander J, Satoskar AR, Russel DG 1999. Leishmania species: models of intracellular parasitism. 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Parasitol. 116:305-309. 64 ANEXOS Cromatogramas Cromatograma 1: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, controle de leishmanias do 3º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H2SO4) Cromatograma 2: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, controle de leishmanias do 6º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H2SO4). 65 Cromatograma 3: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 1µM de AZT, 3º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). Cromatograma 4: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 1µM de AZT, 6º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). 66 Cromatograma 5: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 10µM de AZT, 3º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). Cromatograma 6: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 10µM de AZT, 6º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). 67 Cromatograma 7: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 20µM de AZT, 3º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). Cromatograma 8: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 20µM de AZT, 6º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). 68 Cromatograma 9: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 30µM de AZT, 3º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). Cromatograma 10: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 30µM de AZT, 6º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). 69 Cromatograma 11: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 40µM de AZT, 3º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). Cromatograma 12: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 40µM de AZT, 6º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). 70 Cromatograma 13 : Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 50µM de AZT, 3º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). Cromatograma 14: Cromatograma de ácidos orgânicos de promastigotas de Leishmania (Viannia) braziliensis M2903, promastigotas submetidas a 50µM de AZT, 6º dia da curva de crescimento (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H 2SO4). 71 Cromatograma 15: Cromatograma de ácidos orgânicos, controle do meio Grace’s (HPLC, fluxo de 0,6 mL/min, fase líquida H2SO4) 72