imunologia biologia molecular CITOMEGALOVÍRUS Antigenemia pp65 PCR qualitativa 1. Introdução O Citomegalovírus (CMV) é um vírus DNA, que pertence à família dos herpesvírus e infecta indivíduos em qualquer idade, em todo o mundo, independentemente das condições sociais e culturais. Estudos soroepidemiológicos demonstram que, no Brasil, mais de 70% da população adulta já foi infectada pelo CMV (1). É encontrado na saliva, leite materno, urina e outros fluidos corpóreos como o sêmen, secreções vaginais, podendo, portanto, ser transmitido pelas vias aéreas superiores e nas relações sexuais. Embora raramente, transfusão sangüínea também é implicada como forma de transmissão (2). 2. Importância clínica Em adultos saudáveis, o CMV normalmente não produz nenhum sintoma ou sinal. Às vezes, a infecção pode determinar quadro clínico auto-limitado semelhante à mononucleose infecciosa. Como os outros herpesvírus, o CMV, após a infecção, permanece em estado inativo, podendo ser reativado em determinadas situações. A importância da infecção pelo CMV é maior nas seguintes situações: 1- Transmissão vertical do CMV: a transmissão da gestante para o feto pode interferir na formação de órgãos e tecidos fetais. O CMV é considerado a principal causa de infecção congênita, ocorrendo em 0,3 a 2% dos nascimentos. Dos infectados, 15% têm sinais e sintomas ao nascimento (calcificações cerebrais, microcefalia, corioretinite, hepatoesplenomegalia e icterícia), sendo que a maioria se desenvolve com retardamento mental, cegueira, surdez, paralisia cerebral ou epilepsia. Mais de 15% das crianças assintomáticas ao nascimento desenvolverão seqüelas tardiamente, geralmente deficiências neurológicas ou auditivas (4,5). 2- Pacientes imunocomprometidos: a grande expansão da técnica de transplante de órgãos (rim, coração, fígado, medula óssea), a introdução de novos quimioterápicos para tratamento de neoplasias, bem como o advento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), tiveram como conseqüência o aumento do número de pacientes imunodeprimidos passíveis de sofrerem infecções oportunistas, como é o caso do CMV. Em imunodeprimidos o quadro pode advir de infecção primária, entretanto, mais comumente decorre de reativação de infecção latente. Pode se manifestar como (3,6): quadros febris prolongados com hepatoesplenomegalia, febre, mialgia, artralgia e alterações hematológicas que configuram a “Síndrome do CMV”, de grande incidência em transplantados renais; pneumonia intersticial (comum em receptores de transplante de medula); retinite; ulcerações gastrointestinais e neuropatia (comum em aidéticos); hepatite (complica transplantes hepáticos). ANTIGENEMIA pp65 Detecção do antígeno do CMV A disseminação do CMV no sangue é importante fator na patogênese da doença durante infecção primária e reativação. Durante infecção ativa, a disseminação no sangue ocorre na maioria dos imunodeprimidos. Atualmente, encontra-se definido que a disseminação do CMV (grau de viremia) no sangue é fator de risco de progressão à doença invasiva pelo CMV. 1 imunologia biologia molecular Embora a profilaxia anti-viral tenha levado à redução na mortalidade e morbidade do CMV em imunossuprimidos, a toxicidade do tratamento permanece como um problema. Assim, esforços são realizados para a identificação dos pacientes que apresentam risco de aquisição da doença para que se possa dirigir o tratamento a estes. Com esse fim são utilizados a detecção da antígeno do CMV e a Reação em cadeia da polimerase (PCR). Níveis elevados de antigenemia têm valor preditivo positivo alto para doença invasiva pelo CMV. Estudos mostram que antigenemia apresenta sensibilidade superior à cultura e comparável à PCR quantitativa (7,8,9,10,11,12,13). 1. Método Detecção rápida do CMV, presente no núcleo dos neutrófilos do sangue periférico que fagocitaram o vírus. São utilizados anticorpos monoclonais para a proteína pp65 do CMV, que é um marcador precoce e específico de infecção ativa. A coloração da lâmina é realizada pela técnica de imunofluorescência e o resultado liberado como número de células positivas em 2 x 106 neutrófilos analisados. A modificação do ensaio inicialmente utilizado para determinação da antigenemia, permitiu diminuição do tempo de realização do exame, mantendo-se a eficiência do teste (7,9,10,14,15,16,17). 2. Amostra Utiliza-se 5 ml de sangue total em EDTA. O exame deve ser realizado até 6 horas após a coleta. O processamento das amostras após esse período resulta na diminuição da sensibilidade do teste. Em casos de neutropenia (contagem de neutrófilos < 500/mm3) enviar 10 ml de sangue total. O valor de referência é a ausência de células positivas (ou de núcleos corados) para o CMV por 2 x 106 neutrófilos analisados (7-13). 3. Indicações da Antigenemia para CMV Identificar, entre os pacientes imunodeprimidos, quais seriam aqueles com maior risco de desenvolver doença por CMV. Esse teste positivo aponta para o início do tratamento preemptivo, ou seja, uso de terapêutica estratégica para eliminar a possibilidade de doença nos indivíduos de risco. Geralmente, a antigenemia torna-se positiva com 7 a 14 dias antes do início das manifestações da doença. Em geral, quanto maior o nível de antigenemia, maior o valor preditivo positivo do teste (15,16,17,18). Útil para avaliar a resposta ao tratamento anti-viral. O nível da antigenemia diminui logo após o início da terapia, porém aumentos intermitentes podem ocorrer (7,8,9,10). 4. Limitações do teste: Pacientes podem desenvolver doença por CMV com antigenemia negativa e nem todos pacientes com teste positivo irão apresentá-la (13). 2 imunologia biologia molecular Em pacientes com supressão medular importante, o resultado pode ser falsamente negativo devido à ausência de neutrófilos no sangue periférico. Nesta situação, o ideal é realizar a reação em cadeia da polimerase (PCR) para o CMV. Em transplantados de medula, estudo mostrou que em 2,8% de 570 amostras não foi possível realizar a antigenemia devido à baixa contagem de granulócitos. Estes resultados negativos, entretanto, ocorrem principalmente nas primeiras três semanas após o transplante, quando o risco de reativação do CMV é baixo (713). Ressalta-se que a comparação de resultados, ao longo do tempo, deve ser idealmente realizada apenas com ensaios realizados em um mesmo laboratório, e que as amostras devem ser preparadas até 6 horas após a coleta (14,15, 16). REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE QUALITATIVA DO CMV Pesquisa do DNA viral O CMV pode ser detectado através de métodos de biologia molecular como a reação em cadeia da polimerase (PCR). Para atribuir ao CMV uma determinada manifestação é fundamental a detecção do DNA viral no órgão acometido. A PCR é uma técnica rápida com alta sensibilidade e especificidade para a detecção do CMV em fluidos biológicos e tecidos (19-22). 1. Método Reação em Cadeia da Polimerase aninhada (Nested PCR) – são realizadas duas PCRs, sendo que a segunda reação se dá em uma região interna à primeira, o que aumenta a sensibilidade desse procedimento. A região do DNA amplificada é o gene IE, que dá origem a proteína imediatamente precoce (1,19,20). 2. Amostra Pode ser realizada em diversos materiais: urina, sangue total, plasma, líquor, líquido amniótico, material de biópsia, outros fluidos orgânicos. Deve-se enviar o material congelado ao laboratório em 24 horas (exceto o sangue total: 4 dias). 3. Indicações da PCR Meningoencefalite ou outras alterações neurológicas: raras em indivíduos sadios. O acometimento neurológico pode atingir mais de 50% dos casos de SIDA, sendo responsável pelo complexo de demência, neuropatia periférica dolorosa, paralisia ascendente devido à mielite e quadro similar à síndrome de Guillain-Barré. A PCR pode ser realizada no líquor com sensibilidade de 80 a 92% e especificidade de 98% (19). Infecção congênita - diagnóstico pré-natal: útil quando a gestante apresenta um quadro de infecção aguda e se pretende afastar a possibilidade de infecção intra-uterina. A PCR pode ser realizada no líquido amniótico e é mais sensível que os métodos convencionais (21). Infecção congênita - diagnóstico pós-natal: detecção do CMV na urina ou no sangue de recém nascido nas três primeiras semanas de vida define a infecção congênita. Nas crianças com PCR-CMV negativas ao nascimento que tornam-se positivas entre a 4ª e 12ª semana de vida, é caracterizado o diagnóstico de infecção perinatal. A sensibilidade e especificidade são de 98% e 100%, respectivamente (21). Infecção localizada em órgão-alvo: a PCR-CMV pode ser realizada em líquidos corporais ou material de biópsia de lesões ou órgãos suspeitos (20). 4. Limitações do teste Por ser um método qualitativo, não há distinção entre infecção aguda ou reativação de uma forma latente. A presença de pequenas quantidades de DNA do CMV no sangue periférico (após o período neonatal) não está associado à presença de doença. Para essa finalidade, recomenda-se a antigenemia (19-22). Reações falso-negativas ocorrem quando a quantidade de DNA está abaixo da sensibilidade de detecção do teste ou na presença de inibidores da PCR na amostra (19-22). 3 imunologia biologia molecular O Instituto de Patologia Clínica Hermes Pardini disponibiliza para diagnóstico da infecção pelo CMV: IgM CMV - métodos: Imunoensaio enzimático ELFA (enzyme linked fluorescent assay) - captura IgG CMV - métodos: Imunoensaio enzimático ELFA (enzyme linked fluorescent assay) IgG avidez CMV – método: ELFA (enzyme linked fluorescent assay) Antigenemia para CMV - método: Imunofluorescência PCR qualitativo do CMV Pesquisa de Células de Inclusão Citomegálica em urina IgM CMV Neonatal: imunoensaio enzimático (em papel filtro) 5. Referências: 12. Tong CYW, Cuevas L, Willians H, et al. 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